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Abikum é um orixá de uma pessoa que morreu (vodunce) e por herança passou para
outra pessoa.
Este orixá constitui, portanto um orixá feito. Neste caso a pessoa não precisa raspar,
qualquer obrigação feita na cabeça desta pessoa é feito colocando uma cuia na
cabeça e feita a baixo dela.
O Abiku
Abikus são uma comunidade (Egbé) de crianças que vivem no Orun e GOSTAM de
viver lá.
Às vezes uma destas crianças nasce no Ayê (nossa terra), mas ao chegar é
continuamente chamada para voltar (NADA de inimigos, espíritos que querem se
vingar, etc).
A maneira de se fazer um abiku ficar, é faze-lo esquecer "este chamado", seja ao dar-
lhe um nome que o faça desligar-se deste grupo, seja por faze-lo querer ficar no Ayê
por outras formas, esquecendo do chamado de seus amigos do egbé... Não tem nada
a ver com alimentar o Orixá da pessoa, descarregos, etc.
Este conceito de reencarnar para evoluir, débitos kármicos não é um conceito Yorubá.
Tanto que na África se toma medida drástica para um Abiku que fica vindo e voltando
(tal como separa partes do corpo do abiku que faleceu, queima-lo e enterrar as cinzas
em lugares diferentes).
Voltar a viver e estar no Ayê (terra em que vivemos) é visto como um prazer, não um
local para cumprirmos penas para nos evoluirmos.
Abiku é que a palavra abiku quer dizer: (nascido da morte ou nascido para morrer), e,
que podemos identificar os Abikus de varias formas, uma delas é que quando a mãe
perde um filho espontaneamente durante a sua gravidez, a próxima gravidez gerará
uma criança abiku, a mesma devera passar por ebós específicos, outra maneira de
identificarmos alguns abikus são pelos sinais que carregam no corpo um exemplo
pessoas que têm seis dedos nas mãos ou pés. Os abikus após os ebós que são feitos
nas matas a beira de rio, são chamados a partir desde momento por outro nome como
exemplo Omodunte (aquele que voltou) para assim o pacto que existe entre o aiyê e
orum seja interrompido e não acha mais perigos. Os abikus geralmente são cargos
pois os mesmos não rodam de orixá.
O que é Abiku?
Sucessivos abortos em uma mesma mulher, partos seguidos da morte da criança
recém nascida, morte de crianças ou jovens repentinas e associadas a estágios
significativos de vida, tais como mudanças nas fases de crescimento, aniversários,
casamento ou nascimento do primeiro filho, são identificados como acontecimentos
ligados aos Abiku.
Irossun - Esse texto faz referência explícita à questão do Abiku. Afinal de contas, o
que é "Abiku"?
A tradução literal é: "nascido para morrer" (a bi ku) ou "o parimos e ele morreu" (a bi o
ku), designando crianças ou jovens que morrem antes de seus pais. Há, portanto, dois
tipos de Abiku:
o primeiro, Abiku - omode, designando crianças e o segundo, Abiku - agba,
referindo-se a jovens ou adultos que morrem, via de regra, em momentos significativos
de suas vidas e sempre antes dos pais, apresentando nisso uma alteração da ordem
natural que socialmente é aceita e entendida como: aqueles que chegaram ao aiyê
(mundo físico) primeiro voltam primeiro ao orun (mundo espiritual).
Nessa questão, além da logicidade natural, está presente a garantia da continuidade
no aiyê e a certeza da lembrança e do culto ao ancestral que deixa descendentes que
recontarão sua história ao longo dos tempos, garantindo sua "sobrevivência" na
comunidade.
No orun vive um grupo de crianças chamadas Emere ou Elegbe e este grupo constitui
o Egbé orun Abiku, ou seja, sociedade das crianças que nascem para morrer. Contam
os mitos que a primeira vez que os Abiku vieram para a terra foi em Awaiye e
constituíam um grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, chefe deles no
orun. Na encruzilhada que une o orun ao aiyê, ikorita meta, todos pararam e vários
pactos foram feitos, definindo o momento particular do retorno de cada um ao orun.
Alguns voltariam quando vissem pela primeira vez o rosto da mãe, outros quando
casassem, um terceiro grupo voltaria quando completassem determinado tempo de
vida, um quarto grupo voltaria quando tivesse o primeiro filho, e assim por diante. E o
carinho dos pais, o amor que recebessem ou os presentes não seriam capazes de
retê-los no aiyê. Alguns assumiram o compromisso de que nem nasceriam. Esse pacto
deveria ser cumprido e seus companheiros no orun se manteriam presentes em sua
vida, interagindo no seu dia a dia, para que não o esquecessem e retornassem ao
orun tão logo o momento pactuado ocorresse.
"Okin nibonranja Igba gbogbo ni tekun” é a cobra que corre com seu veneno atrás do
ser humano.
Foram esses seres míticos que adivinharam para Tite que é filho de Agbonmiregun
(Orunmilá).
Todos diziam que Tite iria morrer.
Orunmilá respondeu à eles que Tite não morreria.
Perguntaram à Orunmilá o que ele faria para evitar a morte de Tite.
Orunmilá respondeu à eles dizendo:
“Ewe-mfowo-kan-omo-ni, Ki nje oruko meji”.
A folha sagrada não-pense-em-fazer-mal-a-meu-filho. Não-encoste-a-mão-no-meu-
filho. Não tem outro nome (não tem outra finalidade senão essa).
Orunmilá disse que Tite, o filho dele, não morreria e que Oyeku - Aquele que afasta a
Morte - afastará a morte prematura do destino de seu filho.
Ele conduzirá essa morte ao destino dos filhos de outros.
Se um Abiku que entrou em uma criança não tivesse que suprir os desejos dos demais
Abiku que não conseguiram ainda um corpo, não haveria grande problema para a
criança já que os alimentos que a ela são dados seriam suficientes para sustentar
tanto ela como o seu "inquilino". São as intermináveis demandas feitas pelos famintos
Abikus de fora e que o Abiku que penetrou tem que atender que destroem a criança já
que toda a comida não é suficiente para satisfazer suas necessidades. Quando uma
criança é rabugenta e irritável, acredita-se que os Abiku de fora estão machucando-a
de modo a fazer com que o Abiku de dentro lhes dê mais comida, pois tudo que é feito
à criança é também sentido pelo Abiku. O Abiku de dentro é desta forma, praticamente
confundido com a própria criança e é possível que toda essa superstição possa ser
uma corrupção da crença que existe na Costa do Ouro (ver: os Povos que falam Tshi
da Costa do Ouro, capítulo XI).
A mãe que vê seu filho gradualmente ser consumido sem causa aparente, conclui que
um Abiku entrou em seu corpo ou, como se diz freqüentemente entre os nativos, ela
deu à luz um Abiku e ele está sempre faminto porque um Abiku está roubando tudo
que é oferecido para a sua nutrição. Para livrar-se do intruso e de seus companheiros
de fora a mãe ansiosa oferece um sacrifício de comida e enquanto os Abiku estão
comendo a parte espiritual da comida e, portanto com sua atenção divertida ela coloca
anéis de ferro e pequenos sinos nos tornozelos da criança e pendura correntes de
ferro em torno de seu pescoço. Os ruídos dos ferros e dos sinos supõem-se manterão
os Abiku à distância. Dessa forma, explica-se o numero de crianças que se vê com os
pés carregados de ornamentos de ferro.
Algumas vezes a criança se recupera e acredita-se que o procedimento descrito foi
efetivo e os Abiku foram expulsos para longe. Caso, todavia, nenhuma melhora ocorra,
ou a criança piore, a mãe tenta expulsá-los fazendo pequenas incisões no corpo da
criança e colocando neles pimenta verde ou temperos, pensando que isso causará,
dessa forma, dores no Abiku, fazendo-o fugir. A pobre criança grita de dor, mas a mãe
endurece seu coração na crença de que o Abiku está sofrendo da mesma forma.
Caso a criança morra, ela é enterrada (isso se for enterrada) sem nenhuma cerimônia
de funeral, longe da cidade ou vila, no mato. A maioria dos outros enterros é feita nos
chãos das casas.
Freqüentemente, o corpo é simplesmente atirado no mato, para punir o Abiku dizem os
nativos. Algumas vezes, a mãe, para amedrontar o Abiku que matou seu filho e evitar
que entre em outra criança que ela possa ter no futuro, bate, soca e mutila o pequeno
corpo, enquanto amaldiçoa e invoca todos os demônios sobre o Abiku que lhe causou
a calamidade. Acredita-se que o Abiku sinta os golpes e as feridas infringidas no corpo
da criança e ouça as maldições e fique terrificado pelas ameaças e pragas.
Comentamos esta história com alguns detalhes porque ilustra bem o mecanismo das
oferendas e de sua função. Não é o seu lado anedótico (de lenda) que nos interessa
aqui, mas a tentativa de demonstração de que em país yorubá, a sorte (destino) pode
ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos.
Entre as oferendas que os retêm aqui, na terra, figuram, em primeiro plano, as plantas
litúrgicas. Cinco delas são citadas nestas histórias:
- Abíríkolo (crotalaria lachnophera, papilolionacaae);
- Agídímagbayin (não identificada);
- Ídí (terminalia ivorensis, combretacae);
- Ijá àgborin (não identificada);
- Lara pupa (ricinus communis - mamona vermelha);
- Ainda mais duas plantas são freqüentemente utilizadas para reter os abikú e
que não figuram nessas histórias:
- Olobutoje (jatropha curcas, euphorbiaceae)
- Òpá eméré (waltheria americana, sterculiaceae).
-
A oferta dessas folhas constitui uma espécie de mensagem e é acompanhada por ofó
(encantamentos).
Em país yorubá, os pais para proteger seus filhos abikú e tentar retê-los no mundo,
podem se dedicar a certas práticas, tais como fazer pequenas incisões nas juntas da
criança e aí esfregar atin (um pó preto feito com osun, favas e folhas litúrgicas para
esse fim) ou ainda ligar à cintura da criança um ondè, talismã feito desse mesmo pó
negro, contido num saquinho de couro.
A ação protetora buscada nas folhas expressa nas fórmulas de encantamento, é
introduzida no corpo da criança por pequenas incisões e fricções, e a parte do pó
preto, contida no saquinho do ondé, representa uma mensagem não verbal, uma
espécie de apoio material e permanente da mensagem dirigida pelos elementos
protetores contra os elementos hostis, sendo essa forma de expressão menos efêmera
do que a palavra.
Em outra história, são feitas alusões aos xaorôs, anéis providos de guizos, usados nos
tornozelos pelas crianças abikú, para afastar os companheiros que tentam vir buscá-
los no mundo e lembrar-lhes suas promessas. De fato seus companheiros não aceitam
assim tão facilmente a falta de palavra dos abikú, retidos no mundo pelas oferendas,
encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o conselho dos
babalawos. Nem sempre essas precauções e oferendas são suficientes para reter as
crianças abikú sobre a terra. Íyájanjàsá é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o
que as pessoas fazem para os reter e porá tudo a perder o que as pessoas tiverem
preparado. Contra os abikú não há remédios. Yiájanjàsá os atrairá à força para o céu.
Os corpos dos abikú que morrem assim são freqüentemente mutilados. A fim de que,
dizem, eles percam seus atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar
com eles, sobretudo para que o espírito do abikú, maltratado deste modo, não deseje
mais vir ao mundo.
Essas crianças abikú recebem no seu nascimento, nomes particulares.
Alguns desses nomes são acompanhados de saudações tradicionais. Eles podem ser
classificados: quer nomes que estabeleçam sua condição de abikú; quer nomes que
lhes aconselham ou lhe suplicam que permaneçam no mundo; quer em indicações de
que as condições para que o abikú volte não são favoráveis; quer em promessas de
bom tratamento, caso eles fiquem no mundo. A freqüência com que se encontram, em
país yorubá, esses nomes em adultos ou velhinhos que gozam de boa saúde, mostra
que muitos abikú ficam no mundo graças, pensam as almas piedosas, a todas essas
precauções, à ação de Òrúnmìlà, e à intervenção dos babalawos.
Para Òrìsà Egbé se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos;
Acaçá; Iyan; Acará; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces
- em um número de 1 ou 6. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num
rio, com acompanhamento de rezas e cantigas:
ITAN’S de IFÁ
- É preciso cuidar dos abikú, senão eles voltam para o céu
- Oferendas podem reter abikú no mundo
- Subterfúgios para reter os abikú no mundo
- Mosetán fica no mundo
- Olóìkó é o chefe da sociedade dos abikú
- Asejéjejaiyé fica no mundo na décima sexta vez que ele vem
- Os abikú chegam pela primeira vez em awaiye
- Íyájanjàsá não deixa os abikú ficar no mundo.
Estes itens completos são descritos numa edição da revista Afro-Ásia, 14 - 1983, sob
o título:
A SOCIEDADE EGBÉ ÒRUN DOS ÀBÍKÚ, AS CRIANÇAS NASCEM PARA
MORRER VÁRIAS VEZES
As cerimônias para os abikú parecem ser pouco freqüentes, entre os yorubá, a única
assistida por Pierre Verger, a cerimônia foi feita pela tanyinnon encarregada do culto
aos deuses protetores de uma família tradicional do bairro Houéta. Num canto da peça
principal, oito estatuetas de madeira com 20 centímetros de altura e eram colocadas
sobre uma banqueta de barro.
Portanto, ao contrário que muitos falam, nada tem a ver com a criança que já nasce
"feita" no santo.
Nos dias de hoje, quando morre uma criança ainda nova, há muita possibilidade de ser
um abikú que está voltando ao "céu", bem como persiste a probabilidade de voltar em
um próximo filho, ainda na mesma geração ou na próxima; quando uma criança fica
muito doente e corre risco de vida, pode averiguar na família se já há caso de aborto
ou morte prematura, é bem possível. As reações, mais da mãe que do pai, em caso de
aborto, porque muitas vezes o pai não fica sabendo e não participa da decisão, na sua
vida, no seu dia a dia são sintomáticas: desequilíbrio generalizado, na vida pessoal, no
trabalho, em casa, nos estudos, nada dá certo, nada vai bem, angustia, depressão,
pessimismo, falta de ânimo, aparentemente tudo deveria estar bem, mas as coisas
não "vão"; É a influência daquele "ser", que contrariando as leis da natureza foi
"fisicamente" eliminado, o qual fica gravitando num outro plano próximo aos pais,
afetando suas vidas com estes sintomas.
Até mesmo por uma questão de justiça, não poderá um abikú que foi "gerado" por uma
família, aparecer em outra, que nada tem a ver com o ato irresponsável de outros, e
percebemos que uma criança que já nasce deformada de alguma forma, ou uma
doença grave com morte, quem sofre realmente na sua plenitude são os pais, porque
a dor interna é maior que a dor física, a criança já nasceu daquela forma, para ela que
não sentiu e não sabe ser saudável, não percebe e não imagina como se sente
alguém normal, portanto a sua dor ou problemas, para si é normal.
Esta situação pode e deve ser tratada no seu campo espiritual, os antigos nos legaram
instrumentos dentro da religião Yorubá, para fazê-lo, através de ebós e oferendas
específicas, que se vale do mesmo princípio aplicado nos países Yorubá, quer seja:
"enganar" os abikus; Muito se pode melhorar e modificar, evidente que em alguns
casos é irreversível após o nascimento, mas se detectado ou informado o babalorixá
ou yalorixá competente, pelo que foi descrito, a mãe que poderia vir a ter um filho
abikú, por meio desses ebós e oferendas pode-se evitar a vinda de um ser deformado
ou com problemas sérios, que na realidade, nada mais é que um "retorno sob forma de
castigo" de atos nossos ou de gerações passadas, de um processo que nunca foi
tratado ou interrompido.
Desta forma vê-se que o aborto é uma situação que transcende a ingerência das
pessoas, pois é algo ligado diretamente à natureza, e conseqüentemente ao Seu
Criador, modifica-se ou escapa da lei dos homens, mas não à Divina. Este é o fato
porque nenhuma religião da terra permite o aborto.
IWORI-WOSA
O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar.
Não se pode permitir que sua intenção se concretize.
Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane).
Que estava vindo do Céu para a Terra.
Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício.
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte?
Carneiro
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença?
Carneiro
EJIOGBE
O olho da agulha não goteja pus
No banheiro não se põe uma canoa a navegar
Ifá foi consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria morrer logo na flor da idade
O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num
grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no
Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram
feitos. Eles voltariam ao Òrun quando:
Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;
Casassem;
Completassem 7 dias de vida;
Tivessem novo irmão;
Construíssem uma casa;
Começassem a andar.
As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú,
em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para
alegrar os Àbíkú, que seriam untados com òsun, e não voltariam mais ao Òrun,
rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.
Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas
e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais
terem consultado Ifá e feito os Ebós determinados por Òrúnmìlà, trocando ou
acrescentando um nome que os desanimasse de morrer novamente, usando folhas
sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú,
colocando em seus tornozelos Sawooro, fazendo em seus corpos pequenas incisões,
e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este
mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado
Óndè que seria preso à cintura da criança.
Estes Ebós possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam
mais.
Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e
Íyájanjàsá insistissem em vir à Terra em busca de suas crianças, e conseguissem levá-
las de volta ao Òrun, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo
mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou
aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem à
Terra e não quereriam mais nascer.
Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois
do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Babalawo e
descobre estar dando à luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras
vezes impedindo-a também de ter filhos normais.
Até que a criança complete nove anos, sempre próximo à data do seu aniversário,
determinadas oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar
dezenove anos. A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores
específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule
sua volta ao Òrun.
Guizos em quantidade devem ser presos a seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso,
pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu.
A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás,
pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la. As folhas são
usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se
protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida.
O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não
atraia uma nova criança Àbíkú.
Se a mãe tiver também problemas com Egbé, chamada Eleeriko, uma deusa
considerada o feminino de Egúngún, que atormenta as crianças, marcando-lhes o
corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbé, entregando-lhe
cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia. Também um altar com
símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitos festas
com sacrifícios de animais, tambores e dança.
Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbé que também pode dar filhos às mães
que a louvam.
Há alguns Orìkí de Egbé que demonstram bem esta ligação. Este que damos a seguir
é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbé envie crianças sadias que não sejam
Àbíkú ou Emere.
No Brasil, porém, o termo: Àbíkú; dito "Abikum" tem significado totalmente diverso. A
mãe que entra grávida para o processo de iniciação, dá a luz à uma criança que já
nasce "feita pronta", sem necessidade da tonsura ritual. Quando esta criança completa
sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsà, sua cabeça é recoberta por uma
cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança
"Abikum" o sangue não deve correr.
Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsà, a ela estará
vetada a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo
tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de "feita sem ter sido raspada", e é tido
com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la.
O modo de encarar a pessoa "Abikum" muda de casa para casa, podendo ser
acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação. Os pais e mães de Òrìsà
brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes
nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no
Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser
realizado dentro da problemática Àbíkú.
Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa têm a mesma crença nos Àbíkú, embora
dêem a eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama.
Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa
Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a
mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.
Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução
de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia nº
14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual farei
citações literais mais adiante.
Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado
da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebó. Nada porém dever ser
feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em
nossas dificuldades e dúvidas. As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para
fazer fricções no corpo, ou na feitura de pós-mágicos que serão esfregados nas
incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para
banhos rituais. Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu
poder de atuação no Ebó.
Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni, nwon ba ri Opa Emere
(Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere) [2].
O Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, tendo verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar
preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e
mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto, é crer
que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e
perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende
a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas
que isso não é verdade, por quaisquer meios.
Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo
tempo soluções adequadas, que se cite casos e exemplos, naturalmente sem falar em
nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser
totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que
oferendas "podem" reter o Àbíkú na Terra, se feitas corretamente, mas antes que
tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsà é de
grande valia.
Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de
oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz
crianças normais. Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode
abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos "nunca" devem
ser abandonados. Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação
com o tratamento espiritual. Os pais não devem considerar isso com "castigo",
"karma", "feitiço" ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento. Para
isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus
argumentos. Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será
contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus
filhos.
Este trabalho pode ser copiado, divulgado, reproduzido, desde que na íntegra, e que
sejam mantidas suas características religiosas e divulgada a fonte.
BIBLIOGRAFIA
[1] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University
Press.
[2] - Afro-Asia NO. 14, 1983, A Sociedade Egbé orun dos Àbíkú, as crianças nascem
para morrer várias vezes, Pierre Verger, pg. 138 a 160.
[3] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University
Press.
As outras informações foram obtidas através da tradição oral, com os anciãos da
família Epega, em Ode Remo e Lagos.
GLOSSÁRIO
Àbíkú - nós nascemos para morrer, classificação espiritual em terra yorùbá.
Ìyá - Mãe.
Orun - mundo paralelo onde moram Ancestrais e Òrìsà, terceira dimensão que nos
rodeia, mundo espiritual.
Egbé - grupo, comunidade.
Emere - o mesmo que ábiku.
Itan Ifá - versos do Oráculo sagrado, sabedoria ancestral.
Odú - resposta do Ifá, traduzido por - você se manifesta.
Ifá - nome do Oráculo sagrado yorùbá. Por vezes Òrúnmìlà também é chamado
assim.
Osun - substancia vegetal vermelha, usada em rituais.
Òrúnmìlà - Òrìsà que responde no Oráculo Ifá, testemunha do destino do homem.
Ebó - oferenda, presente, sacrifício.
Sawooro - pequenos guizos ou sinos de metal.
Óndè - pequeno saco de couro que contém elementos mágicos, amuleto.
Yorùbá - língua falada em parte da Nigéria, povo que habita o Golfo de Guinéa, etnia
africana.
Babalawo - Pai do segredo, Sacerdote do Òrìsà Òrúnmìlà.
Èérù - fava africana.
Efun - substancia vegetal branca, usada em rituais.
Egbé - Òrìsà feminino, que é dona do ouro e da riqueza, também dá filhos às
mulheres.
Egúngún - Ancestral.
Orìkí - frase ou verso de louvor.
Ibadan - cidade da Nigéria.
Nupe - etnia africana.
Ibo - etnia africana.
Haussa - etnia africana.
Akan - etnia africana.
Fanti - etnia africana.
Ofo - palavra ou frase mágica.
Iyan - Massa de cará cozido e pilado.
Akara - bolo de feijão fradinho, conhecido no Brasil como acarajé.
Ekuru - bolo de feijão fradinho, enrolado em folha de bananeira e cozido no vapor.
Eko - Bolo de milho branco, acaçá.
Obi - Cola Acuminata, fruto africano, utilizado em rituais, presente no quotidiano dos
yorùbá.
Ekodide - pena do pássaro Odide, utilizado em rituais.
Àádun - Bolo de milho amarelo.
Ojá - pano que as mães usam para amarrar os filhos nas costas.
Bàbálòrìsà - Pai que têm os Òrìsà, Sacerdote.
Ìyálòrìsà - Mãe que têm os Òrìsà, Sacerdotisa.
Transcrevo abaixo uma parte do artigo "Os gêmeos e a morte: notas sobre os mitos
dos Ibeji e dos abiku na cultura afro-brasileira", da autoria de Monique Augras,
publicado em "As senhoras do pássaro da noite", coletânea organizada por Carlos
Eugênio Marcondes de Moura.
...Entre os iorubá, quando muitas crianças de uma mesma família nascem e morrem
sucessivamente, considera-se que, na realidade, trata-se da mesma criança que morre
e renasce continuamente. Ela não tem a menor intenção de permanecer neste mundo,
pois pertence a uma confraria de espíritos astuciosos que se divertem demais juntos e
que, desde seu nascimento, anseiam por regressar para junto de seus amigos e com
eles se entreterem. Quando são chamados para nascer, despedem-se, marcando um
encontro para o dia de seu retorno.
É por isso que são denominados Abiku, que, muito literalmente, significa "aqueles-que-
nascem-para-morrer". O "filho substituto", portanto, é necessariamente um abiku, pois
nasce após a morte de um irmão. É preciso multiplicar as precauções mágicas para
impedir essa criança de voltar a brincar com seus companheiros. Amarram-se guizos
em seus tornozelos ou então pulseiras de metal que se entrechocam.
Diz-se que, assustados com esse barulho, os espíritos travessos não viriam relembrar
à criança a promessa por ela feita e, talvez, ela a esqueça. Oferecem-se também
sacrifícios, alimentos que agradam aos espíritos Abiku, a fim de os tornar benfazejos.
Dá-se, sobretudo à criança um nome cuja virtude deve permitir-lhe resistir ao apelo da
morte:
"A-criança-voltou" (Omotunde),
"A-vida-é-suave" (Aiyédun),
"Não-morra" (Maaku),
"Aquele-que-vem-do-céu-voltou" (Ayorunbó),
"A-morte-o-esqueceu" (Kuforijin),
"Não-se-deixe-morrer" (Kojeku),
Para citar apenas alguns, entre tantos outros nomes levantados por R.C. Abraham e P.
Verger (1968).
Se, apesar de tudo, ele morrer, considera-se que é uma prova da maldade da
confraria. Os autores que realizaram investigações de campo na Nigéria e no Benin
(Abraham, 1962, Bascom, 1980, Verger, 1968) informam que, segundo o costume, o
pequenino cadáver é mutilado ou mesmo queimado, para privar o abiku de qualquer
vontade de recomeçar. Nada disto ocorre no Brasil, pelo menos no estágio atual de
nossos conhecimentos. Se, ao contrário, a criança sobreviver, tornar-se adulta e até
mesmo alcançar uma idade avançada, ela, entretanto, será tratada diferentemente das
outras pessoas.
Sabe-se que no candomblé brasileiro os sacerdotes e sacerdotisas têm a cabeça
raspada por ocasião da iniciação. A cabeça é, com efeito, o receptáculo do deus ao
qual o noviço é consagrado e que irá manifestar-se por meio da possessão. Ao longo
de toda a sua vida de iniciado, sua cabeça receberá um tratamento ritual que objetiva
fortalecê-la. Por ocasião dos aniversários religiosos, após um, três, sete e vinte e um
anos de iniciação, ou então por ocasião do acesso a cargos eminentes, a cabeça do
sacerdote será novamente raspada, entre outras manipulações destinadas à
construção simbólica do corpo do iniciado (Augras, 1986). Na linguagem dos fiéis do
candomblé, "ser raspado" tornou-se sinônimo de iniciação, e a navalha é um dos
instrumentos entregues com grande pompa à mãe-de-santo de um terreiro por ocasião
de sua investidura, como emblema de suas novas funções.
Ora, é proibido raspar a cabeça de um abiku. Se isso fosse feito, ele morreria na hora.
É que o rito tem por função estabelecer, se assim se pode dizer, a permeabilidade da
cabeça às forças do além. Então nenhuma barreira deixaria de se opor aos
chamamentos da confraria (dos abiku). Os ritos de iniciação incluem uma experiência
de morte simbólica. Aquele a quem se subtrai cotidianamente à morte não deve,
portanto, se expor jamais a ela. O laço que o liga à vida é tão tênue que se deve evitar
toda tentação a essa pessoa. Além disso, a criança prometida à morte, que escapou
de várias tentativas de retorno ao não nascimento, é, de algum modo, mantida em
constante estado de liminaridade, que se opõe à delimitação instituída pelos ritos de
passagem. A iniciação, ao mesmo tempo em que abre uma brecha entre dois níveis de
existência, logo a fecha. Ritos preliminares e pós-liminares garantem respectivamente
a separação do estado anterior e a agregação do novo estado (Van Gennep, 1909). A
ordem do mundo é novamente afirmada. O abiku, ao contrário, é o morto-vivo, o
espírito que reencarna incessantemente, o ser marginal. A presença desse espírito
matreiro e teimoso cria um estado permanente de alteridade, que proíbe o acesso a
esse outro tipo de desdobramento que é a possessão ritual, pois o deus não pode
manifestar-se em uma cabeça que não foi preparada segundo o costume. No caso do
abiku tudo parece transcorrer como se ele, encarnando seu próprio duplo, não
estivesse mais disponível para a manifestação do Outro divino. O reino da morte,
Outro absoluto, opõe-se ao dos deuses e, nas comunidades de candomblé, o culto dos
orixás é totalmente separado do culto dos espíritos ancestrais. A iniciação opera, de
algum modo, uma domesticação da morte no plano simbólico, necessária à construção
ritual da dualidade que, no instante culminante da possessão, se faz síntese (Augras,
1983).
O abiku, ao contrário, já é dado como um ser dual. Mantido à força entre os vivos,
movimenta-se em um espaço não delimitado, em um presente vivido no modo do
passado. O "filho substituto", na tradição ioruba, não é usurpador, como nas famílias
descritas por B. Brusset, mas de modo semelhante, é o filho do desejo de abolir a
morte e, como tal, não encontra seu lugar em parte alguma. Sem espaço definido e
sem tempo próprio, seu ser é o de outro.
Formas de Abikú
1- Abikú Inã ou Izô ou Àbíkú Inòn - Abikú do Fogo: que come a cabeça da mãe
(mata-a) no nascimento, ou do pai posteriormente pôr acidente... Extremamente
violentos! É um dos mais difíceis de ser tratados, geralmente apresentam uma
depressão que quando não tratada se torna irreversível. Devido ao grande
desconhecimento por parte da maioria dos sacerdotes da tradição e culto aos
orixás, que desconhecendo preceitos básicos e não sabem identificar um abiku
e o "recolhem" sem saber como chamar seu companheiro igual para o pé de
Iroko, não determinando sua ligação com Ibeji e as Iyami, quando verificados
os odus do nascimento e impondo seu vinculo com Oyá Ìyágbalè , Iroko e
Obaluwaye.
2- Abikú Omí ou Azin - Abikú da Água: este é o tipo de abikú que nasceu de 6, 7
ou 8 meses de gestação. Geralmente explode a bolsa´d'água da mãe nesse
período vai para a incubadora. Morre precocemente ou cresce e sai desse
período critico. São mais ligados aos avós do que seus próprios pais,
geralmente seu retorno se da entre os 3 e 5 anos, na maioria das vezes por
afogamento, tuberculose, desidratação ou cólera. Para evitarmos este retorno
deve-se usar o nome contrario ao que o trouxe do útero, promovendo ebó para
ofertar aos odus (destinos).
3- Abikú Alé ou Àbíkú aiyê - Abikú da terra: este é o tipo de abikú, que estão mais
intimamente ligados aos seus companheiros da floresta que com freqüência o
chamam de volta. Este segundo as nossas tradições yorubás é o mais usado na
comunicação entre os sacerdotes e parentes com os outros Abikus, que
constantemente o chamam de volta. Nasce por cesarianas de emergência ou
partos normais complicados. São nervosos com tendências neuróticas, e
costuma como o abiku inón, comer cabeças, porém de outras pessoas e não de
seus parentes.
Seu retorno se da através de queda de alturas, doenças cutâneas ou nos
órgãos digestivos, entre os 4 e 8 anos.
4- Abikú Fefe ou Abiku fééfé - Abikú do Vento: este tipo difere um pouco dos
demais pôr ser de especial origem no meio do convívio das pessoas. Ele
destaca-se em todo ambiente desde seu nascimento que, em geral, foi
inesperado ou não planejado. São emocionalmente instáveis... São abiku com
características especiais no seu meio de convívio, sempre se destaca em
qualquer ambiente. É fácil de lidar e manter sua instabilidade emocional,
aproveita bem as delicias da vida, e devido a sua relação com Èsù e Oyá pode
ser salvo na hora de seu retorno.
É costume na cultura Yorubá considera-los pela ancestral cultura africana como
pertencentes a uma legião de eboras que moram nas florestas ou em torno das
árvores de Iroko.
É sabido que cada um desses abikus quando nascem já trazem consigo o dia e a hora
em que vão retornar para o "outro lado da vida", para a companhia dos seus
companheiros das florestas de Iroko. Geralmente este tempo é determinado entre o
nascimento e os sete anos de vida.
Os òrìsà que tem fundamento com os àbíkú são: Iroko, Nàná, Èsù, Oyá, ODE,
Òòsààlà e à eles deverão ser feitas as oferendas conforme disser o oráculo de Ifá,
para desta forma Òrúnmìlà encontrar a melhor maneira de retê-los no aiyê.
Egbé
Se a mãe tiver também problemas com Egbé, chamada Eleeriko, uma deusa
considerada o feminino de Egúngún, que atormenta as crianças, marcando-lhes o
corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbé, entregando-lhe
cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia. Também um altar com
símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas
com sacrifícios de animais, tambores e dança.
No culto dos òrì s à no Brasil, no momento da iniciação o orí é raspado por ocasião da
iniciação. A cabeça é, com efeito, o receptáculo do òrì s à ao qual o noviço é
consagrado e que irá manifestar-se por meio da manifestação. Ao longo de toda a sua
vida de iniciado, sua cabeça receberá um tratamento ritual que objetiva fortalecê-la.
Por ocasião dos aniversários religiosos, após um, três, sete e vinte e um anos de
iniciação, ou então por ocasião do acesso a cargos eminentes, a cabeça do ELÉGÙN
será novamente raspada, entre outras manipulações destinadas à construção
simbólica do corpo do iniciado.
É que a Farí (raspagem) o rito tem por função estabelecer, se assim se pode dizer, a
permeabilidade da cabeça às forças do além. Então nenhuma barreira deixaria de se
opor aos chamamentos da Egbé -Àbiku (Sociedade dos abiku). Os ritos de iniciação
incluem uma experiência de morte simbólica. Aquele a quem se subtrai
quotidianamente à morte não deve, portanto, se expor jamais a ela. O laço que o liga à
vida é tão tênue que se deve evitar toda tentação a essa pessoa. Além disso, a criança
prometida à morte, que escapou de várias tentativas de retorno ao não nascimento, é,
de algum modo, mantida em constante estado de liminaridade, que se opõe à
delimitação instituída pelos ritos de passagem. A iniciação, ao mesmo tempo em que
abre uma brecha entre dois níveis de existência, logo a fecha. Ritos preliminares e
pós-liminares garantem respectivamente a separação do estado anterior
e a agregação do novo estado. A ordem do mundo é novamente afirmada.
O abiku, ao contrário, é o espírito que reencarna incessantemente, o ser marginal. A
presença desse espírito matreiro e teimoso cria um estado permanente de alteridade,
que proíbe o acesso a esse outro tipo de desdobramento que é a manifestação ritual,
pois o deus não pode manifestar-se em uma cabeça que não foi preparada segundo o
costume. No caso do abiku tudo parece transcorrer como se ele, encarnando seu
próprio duplo, não estivesse mais disponível para a manifestação do Outro divino. O
reino da morte, Outro absoluto, opõe-se ao dos deuses e, nas comunidades de culto
dos òrìsà é totalmente separado do culto dos espíritos ancestrais. A iniciação opera, de
algum modo, uma domesticação da morte no plano simbólico, necessária à construção
ritual da dualidade que, no instante culminante da possessão, se faz síntese.
Em um outro ìtòn, são feitas alusões aos Saworòs, anéis providos de guizos, usados
nos tornozelos pelas crianças abikú, para afastar os companheiros que tentam vir
buscá-los no mundo e lembrar-lhes suas promessas. De fato seus companheiros não
aceitam assim tão facilmente a falta de palavra dos abikú, retidos no mundo pelas
oferendas, encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o
conselho dos Babalawo. Nem sempre essas precauções e oferendas são suficientes
para reter as crianças abikú sobre a terra.
Ìyájanjàsa é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o que as pessoas fazem para
retê-los e porá tudo a perder o que as pessoas tiverem preparado. Contra os abikú não
há remédios. Ìyájanjàsá os atrairá à força para o céu. Os corpos dos abikú que
morrem assim são freqüentemente mutilados. A fim de que, dizem, eles percam seus
atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar com eles, sobretudo para
que o espírito do abikú, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo.
Texto de Eduardo Fonseca Junior - Professor de Teologia e Cultura Afro-Negra.
Preparação
A ó kó won sórí ara won.
Colocar as folhas uma sobre a outra.
A ó tefá lórí ìyèròsùn, a ó pe ofò rè. A ó dà gbogbo won sórí òwú.
Desenhar o odu em ìyèròsùn, pronunciando a encantação.
A ó fi òwú funfun àti dúdú wé e.
Amarrá-las com um fio de algodão branco e preto.
A ó so mó orùn àbíkú.
Pendurá-las no pescoço da criança.
Ofò
Canto ritual
Agidimagbáyin Olòrun mà tìnkùn.
Agidimagbáyin, Olòrun fechou mesmo a porta.
Olòrun mà tínún àwa ò wá mó.
Olòrun fechou mesmo a porta e nós não estamos vindo mais.
Agidimagbáyin Olòrun mà tìnkùn.
Agidimagbáyin, Olòrun fechou mesmo a porta.
O curioso é que o canto que se deve repetir para despertar o poder dos elementos é
pronunciado na primeira pessoa do plural, como se os próprios agentes da cura
fossem os supostos "demônios" que se deseja afastar. Essa é a natureza de Nanã
Burúkú: uma permanente conjunção de opostos, que se explicita ainda mais no cordão
de fios de algodão preto (funfun) e branco (dúdú) entrelaçados, sempre presentes nos
seus trabalhos.
Ìrosù'wòrì
(pequeno extrato de um itan deste Odu)
...Um dia, todos os tipos de pessoas, incluindo ladrões e outros praticantes de ações
ruins juntaram-se e foram consultar Òrúnmìnlà que estavam cansadas de ir e voltar
para a Terra.
Òrúnmìnlà! Permita que nos refugiemos para sempre no Orun!
Òrúnmìnlà disse-lhes que teriam que continuar a ir e voltar até que todos tivessem
atingido a boa posição que ele havia prescrito para todos os indivíduos.
Somente então poderiam residir no Orun...
As pessoas continuarão a ir para o Orun e retornar ao Ayê depois de sua morte até
que nosso mundo seja um bom mundo para todos. Muitas boas coisas do Orun que
ora não conhecemos serão trazidas para a Terra no seu devido tempo. Se você
pratica qualquer má ação, os bons espíritos voltarão as costas para você e farão
com que você sinta as repercussões de seus atos quando você retornar á Terra
depois de sua morte.
Os Abiku são espíritos que ocupam posição diferente perante o ciclo das
reencarnações a que se refere o Itan acima. Eles retornam para auxiliar o
cumprimento do Odu dos outros, estando ligados a Ayanmo. Daí, sua diferenciação no
que se refere à sua permanência no Ayê. Ela está relacionada à missão que se
propuseram a empreender. Dessa forma, apenas conhecendo-se essa missão pode-se
interferir em seus destinos. E seus destinos estão intimamente relacionados ao de
outras pessoas, de pouco adiantando tratá-los sem tratar as pessoas a que estão
ligados. O Ifá pode auxiliar a desvendar esses mistérios, mas apenas Olorun pode
sancionar tais ações. Infelizmente, Olorun retirou-se para o Orun... Por isso, os Abiku
não devem ser consagrados a nenhum Orixá específico, o que gerou o costume ritual
de não raspá-los (o que se compreende, já que as interpretações Yorubanas os ligam
a Ikú...)
Porém, toda regra tem exceções e, em alguns poucos casos, Olorun permite que
permaneçam mais tempo entre nós e, até mesmo, sejam consagrados a Orisá
específico, geralmente Orixalá. Às vezes, causam confusão no jogo, parecendo seu
Orí estar ligado a Ogiyan, Ogum, Erinlé, Oxossi ou Obaluwaye. Raspá-los, todavia,
pode ter graves conseqüências, já que estão, de fato, mais ligados a Olorun. Além
disso, é bom que tenhamos em mente que todos os seres humanos estão de fato
"mortos" para a vida espiritual, sendo que todos renascerão um dia (que espero esteja
bem distante). Os Yorubá diziam que o Ayê era o melhor dos Orun. Todavia, isso
carece de lógica, já que se correspondesse à verdade, todos os Orixás voltariam para
cá, pois quem pode mais, pode menos. A feitura é o renascer. Estando os Abiku não
mais sujeitos ao ciclo reencarnatório por já terem alcançado a boa posição citada em
Ìrosù'wòrì, a eles não pode ser dada a vida, pois já estão mortos para ela.
Mas, minha opinião pessoal não deve ser considerada, pois nada sei sobre o assunto,
sendo essas afirmações oriundas de intuição mediúnica.
Tabu que é muito discutido, é a polêmica "Abikú". Nas minhas leituras já vi tantas
desgraças relacionadas ao tabu abikú, que deixaria qualquer um de cabelo em pé, cito
aqui uma delas:
Outro dia lendo um jornal de Porto Alegre dedicado exclusivamente aos cultos afro-
descendentes li uma explanação de uma Iyalorixá sobre abikú que fiquei
"embasbacado" e até com vergonha de existirem pessoas assim em nossa religião,
pois a tal Iyalorixá afirmava com as seguintes palavras:
"- Abikú é filho do Demônio então tem que morrer para não atrapalhar os vivos".
Que me desculpem todos irmãos de culto, mas eu queria saber quem foi o Bàbá ou Iyá
que deu obrigação para essa pessoa e ensinou tamanha ignorância e falta de respeito
com os leitores do Jornal. Em toda minha vida de santo (que é pequena) eu nunca
ouvi falar em "Demônio" pois é um termo Cristianista e que eu saiba, não somos
Cristãos.
Gente, Abikú é um caso simples, e não um tabu nem um bicho de sete cabeças nem
uma desgraça e muito menos um "Demônio" como certas pessoas o fazem. Ao
contrário, um Abikú dentro de uma Ilê é uma benção, uma dádiva divina. Porque ele é
um espírito hiperevoluido que não tem mais necessidade de passar provações
terrenas, então o que fazemos a eles é pedir que fiquem conosco um "pouquinho"
mais, por isso fazemos oferendas com brinquedos para eles.
Morrer - todos morrem, uma hora ou outra. Abikú não é sinal de morte, mas sim de
vida e de evolução. Quanto ao que aquela Iyá de POA falou, prefiro esquecer, acho
que quando ela estava escrevendo a matéria, passava na TV "O Bebê de Rosemeire"
e o filme a influenciou.
Abraços fraternais.
Artur de Oxalufan.
Textos de Kànga, Artur de Oxalufan, Ekedji Paloma, Yá Maria Pimpa da Lista de Discussão Candomblé-Ketu. E do
Site Ijo-Orunmilá.