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FACULDADE MACIÇO DE BATURITÉ

CURSO DE BACHAREL EM TEOLOGIA

FRANCISCO ADRIANO DOS REIS RIBEIRO

FILIPENSES 2.5-11
UMA DEFESA DA DIVINDADE DE JESUS NA PERSPECTIVA PAULINA

FORTALEZA - CEARÁ

2019
FRANCISCO ADRIANO DOS REIS RIBEIRO

FILIPENSES 2.5-11
UMA DEFESA DA DIVINDADE DE JESUS NA PERSPECTIVA PAULINA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em
Teologia, pelo curso de Teologia da
Faculdade do Maciço de Baturité - FMB.
Orientador: Prof. Helyannai Herysson
Baptista dos Santos.

FORTALEZA - CEARÁ

2019
FRANCISCO ADRIANO DOS REIS RIBEIRO

FILIPENSES 2.5-11
UMA DEFESA DA DIVINDADE DE JESUS NA PERSPECTIVA PAULINA

Monografia apresentada, objetivando a


obtenção do grau de Bacharel em
Teologia à banca examinadora do
Instituto da Faculdade do Maciço de
Baturité - FMB.

Aprovada em: / /

_______________________________________________________
Prof. Helyannai Herysson Baptista dos Santos. (Membro interno)

_______________________________________________________

Prof. Ms Hermano Moura Campos. (Presidente)

_______________________________________________________
Prof. Ms. Humberto Duarte de Medeiros. (Membro externo)

_______________________________________________________
Observações
AGRADECIMENTOS

Ao Deus trino que por todo esse tempo em sua presença, nos agraciou com muitas
bençãos.

A minha esposa Renata que nos compreendeu nas ausências e horas


empreendidas para essa graduação. O incentivo e ajuda financeira também nos
encheu de admiração e alegria.

Aos meus primos de Boa Vista/Roraima, Cláudio e Sandra Damasceno que nos
ajudou financeiramente.

Para o Prof. Helyannai Herysson Baptista dos Santos pela paciência e orientação.

A Turma Hermano Campos que nos presenteou com amigos formidáveis e


exemplares, e que em vários momentos ajudou-nos de forma singular. Em particular
quero ressaltar colegas: Pastor Sérgio, Filipe Rodrigues, Pastor Onésimo e Marcos.

À Igreja Assembléia de Deus Ministério Montese na pessoa do Pr. Ozires Teixeira


Pessoa, Pr. Ozires Teixeira Pessoa Junior e Pr. Alexandre Pessoal que ajuda
financeira.

Ao Prof. João Evangelista Vieira Júnior nosso diretor executivo do SETADEM pelo
convite e motivação para fazer essa graduação.

Aos membros da banca, Prof. Ms Hermano Moura Campos e Prof. Ms. Humberto
Duarte de Medeiros pelas sábias observações, indagações e análises.
“Há apenas quatros coisas que
contribuem para tornar completa toda a
condição de nosso Senhor Jesus Cristo: a
sua divindade, a sua humanidade, a
conjunção de ambas, e a distinção entre
elas como sendo parte de uma única
coisa.”

Richard Hooker
RESUMO

A abordagem sobre a divindade de Jesus em Filipenses 2.5-11 é de fundamental


importância para a cristologia, no intuito de fazer frente aos ataques das
Testemunhas de Jeová, o arianismo de hoje, que deputam o texto bíblico e
qualificam Cristo como uma mera criatura. Inicialmente levanta-se a biografia do
autor da carta, sua trajetória, experiencia pessoal com Cristo e seu legado para a
igreja. Conhecida a história da cidade de Filipos, a introdução da carta paulina fez-se
necessário analisar o hino cristológico, fundamentado nos comentaristas bíblicos de
renome, que comprovam Jesus pleno em sua divindade e humanidade, destacando
ainda uma refutação de equívocos a respeito do esvaziamento do Senhor e um
informe que ocorreu em Calcedônia no 5º século. Por fim, verificou-se que as
ameaças das controvérsias cristológicas são desde os primeiros séculos e que
algumas delas reapareceram com as Testemunhas de Jeová, como já abordado,
não se sustentaram com uma explanação aprofundada de Filipenses 2.5-11, uma
irrefutável defesa da divindade do Senhor.

Palavras-chave: divindade, cristologia, Filipenses 2.5-11, heresias.


ABSTRACT

The approach to the deity of Jesus in Philippians 2: 5-11 is of fundamental


importance to Christology in countering the attacks of Jehovah's Witnesses, today's
Arianism, who make up the text and qualify Christ as a mere creature. Initially, the
biography of the author of the letter, his career, his personal experience with Christ
and his legacy for the church is raised. Knowing the history of the city of Philippi, the
introduction of the Pauline letter, it was necessary to analyze the Christological
hymn, based on the renowned biblical commentators, who prove Jesus full in his
divinity and humanity, and there is still a refutation of misunderstandings about the
emptying of the Lord and a report that took place in Chalcedon in the 5th century.
Finally, since the threats of the Christological controversies have been from the
earliest centuries and some of them reappeared as Jehovah's Witnesses, it did not
hold up with an in-depth explanation of Philippians 2.5-11 as an irrefutable defense of
the Lord's divinity.

Keywords: divinity, christology, Philippians 2: 5-11, heresies.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO. ................................................................................................... 100


2 VIDA E OBRA DE PAULO. .................................................................................. 12
2.1 DO NASCIMENTO A SUA CHAMADA ......................................................................... 122
2.1.1 Saulo: Nascimento e Educação .................................................................... 122
2.1.2 Saulo: Perseguidor ........................................................................................ 144
2.1.3 Saulo: Sua conversão na estrada de Damasco ............................................ 155
2.2.1 A primeira viagem missionária (At 13 – 14) ..................................................... 17
2.2.2 De Antioquia a Chipre (At 13.1-12).................................................................. 18
2.2.3 De Chipre a Antioquia da Pisídia (At 13.13-52)................................................18
2.2.4 De Icônio ao regresso a Antioquia (At 14.1-28) ............................................... 19
2.3 A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (AT 15.36 – 18.28) ............................................ 19
2.3.1 Em direção à Ásia (15.36–16.8) ...................................................................... 19
2.3.2 Em direção à Europa (16.12–18.18) ................................................................ 20
2.3.3 Regresso (18.18-22) ....................................................................................... 21
2.4 A TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA E VIAGEM ROMA (AT 18.23 – 28.31) ...................... 21
2.4.1 De Antioquia a Macedônia (18.23 – 20.3) ....................................................... 21
2.4.2 De Filipos a Jerusalém (20.6 – 21.17) ............................................................. 22
2.4.3 Viagem a Roma (23.31-33; 27 – 28.31) .......................................................... 22
2.5. A OBRA LITERÁRIA DE PAULO............................................................................... 23
2.5.1 A literatura epistolar paulina ............................................................................ 23
2.5.2 As epístolas paulinas ...................................................................................... 24

3 A DIVINDADE DE JESUS NA PERSPECTIVA PAULINA EM FILIPENSES 2.5-11


................................................................................................................................. 30
3.1. CONTEXTO HISTÓRICO DE FILIPENSES ................................................................... 30
3.1.1 A cidade de Filipos e Paulo ............................................................................. 30
3.1.2 Autoria............................................................................................................. 32
3.1.3 Data e local ..................................................................................................... 32
3.1.4 O propósito da carta ........................................................................................ 33
3.2 FILIPENSES 2.5-11, UMA DEFESA DA DIVINDADE E HUMANIDADE DE JESUS E
PROMULGAÇÃO DA UNIÃO HIPOSTÁTICA EM CALCEDÔNIA ................................................. 34
3.2.1 A síntese de filipenses 2.5-11 ......................................................................... 34
3.2.2 Promulgação da união hipostática em Calcedônia .......................................... 42

4 A IMPORTÂNCIA DE FILIPENSES CONTRAS AS HERESIAS .......................... 46


4.1 BREVE HISTÓRIA DE ALGUMAS HERESIAS CRISTOLOGICAS ......................................... 46
4.2 AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ: ARIANOS DOS DIAS MODERNOS ................................... 51
4.3 A RESPOSTA DE FILIPENSES 2.5-11 PARA O MOVIMENTO TESTEMUNHAS DE JEOVÁ ..... 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 61


REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 63
ANEXO 1 - MAPA DA PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA DE PAULO ................. 66
ANEXO 2 - MAPA DA SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA DE PAULO ................ 67
ANEXO 3 - MAPA DA TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA DE PAULO ................ 68
10

1 INTRODUÇÃO.

Em vários momentos do cristianismo em seus mais de dois mil anos de


história, houve crises, debates e hostilidades dentro e fora de suas igrejas. Essas
instabilidades foram surgindo já nos primeiros séculos, em muitos casos oriundos de
interpretações equivocadas a respeito da natureza divina e humana de Jesus.
Assim, vários questionamentos a respeito da pessoa de Cristo tiveram que ser
refutados e nisso foi estabelecida uma ortodoxia cristológica padrão, afirmando uma
vez por todas que Jesus é Deus.

Contudo, vivemos hoje em uma época que essa cristologia tem sido
distorcida e deturpada por tendências modernas, porém, por questionamentos
antigos, assim como antes, originárias de visões teológicas heréticas, sendo,
algumas delas, o ebionismo, gnosticismo, monarquianismo, arianismo,
apolinarianismo, nestorianismo e eutiquismo. Essas heresias tiveram um papel
preponderante no passado, reforçando a igreja criar credos cristológicos. Agora,
com ousadia, sutilidade, aparato gráfico e uma multidão de adeptos, as
Testemunhas de Jeová, que são os arianos contemporâneos, estão anunciando que
Jesus não é Deus, e sim, uma criatura. Fazendo-se necessário criarmos um ponto
específico de defesa para rebater essa heresia em nossos dias.

Achamos importante delimitarmos em Filipenses 2.5-11 por se tratar de


um dos textos mais importante para a defesa da divindade de Jesus. Nesta
perspectiva, Paulo nos apresenta uma resposta sobre quem é Jesus, demonstrando
tanto sua deidade e humanidade.

O objetivo geral é analisar o texto bíblico em destaque, acompanhado


com a exegese de vários eruditos da tradição cristã. Mas, para reforçar mais esse
objetivo geral, traçaram-se os seguintes objetivos específicos: conhecer a vida e
obra de Paulo: apontar a divindade de Cristo no hino de Filipenses 2, a teologia
kenótica e promulgação do Credo da Calcedônia; verificar resumidamente as
controvérsias cristológicas antigas; e refutar as das Testemunhas de Jeová,
mostrando em Filipenses 2.5-11 uma defesa incontestável da divindade do
Redentor.
11

O método do estudo é bibliográfico, reunidos em livros e artigos


teológicos. O papel desta pesquisa, de fato, é agregar o que temos em apologética,
mas o estimulo veio ao percebermos que poucos utilizam o texto paulino para uma
elaborada obra em frente às ameaças das controvérsias cristológicas.

Partindo dessas premissas, as heresias sobre a natureza de Cristo se


intensificam nesses últimos tempos com os russellitas, em particular. Daí indagar-se:
Qual a importância de Filipenses 2.5-11 para a defesa da divindade de Jesus em
consonância com a sua humanidade compreendida por Paulo?

Levando-se em conta o que foi observado, torna-se importante o


enfrentamento junto a essas heresias, que arriscam interpretar o texto paulino
equivocadamente e menosprezar Cristo e sua divindade revelada na Bíblia. Por isso,
o objetivo é ressaltar a verdade contida no pensamento de Paulo contra essas
investidas heterodoxas.

O tema desse trabalho se torna marcante por evidenciar uma verdade


teológica imprescindível para todos os cristãos, os quais são abordados
constantemente a responderem de forma convincente e didática a doutrina cristã da
divindade de Jesus.
12

2 VIDA E OBRA DE PAULO.

Paulo constitui na historicidade do cristianismo um papel fundamental na


defesa da divindade e humanidade de Jesus, Filipenses 2.5-11 integra um dos
textos mais importante para esse tema. Ao longo da história, a igreja enfrentou
debates e controvérsias cristológicas das quais perduram até hoje. Contudo antes
de abordar o tema central desse trabalho, é interessante falar desse Apóstolo; sua
trajetória e literatura se confundem, as experiências adquiridas em seu contexto de
vida, sua origem cultural e religiosa contribuiu para o legado teológico da
cristandade, e posteriormente a sua conversão. Assim, inicialmente abordaremos
esses aspectos de sua vida e obra.

2.1 Do nascimento a sua chamada

O seu nascimento é comprometido por uma data imprecisa, aprovam


alguns na primeira década do século I d.C, tornando-o um pouco mais novo que
Jesus Cristo. (RAMOS, PIMENTEL, FIALHO, RODRIGUES, 2012, p. 7). Quase
todas as referências e fontes da vida de Paulo são encontradas no Livro de Atos dos
Apóstolos e em suas cartas, posicionando sua biografia praticamente no Novo
Testamento.

2.1.1 Saulo: Nascimento e Educação

Em Tarso num bairro judeu, nascia Saulo, aproximadamente no ano 5


d.C (ZIBORDI, 2015, p.25). Filho de uma família judia da tribo de Benjamim
extremamente zelosos nas tradições judaicas, não sabemos os nomes de seus pais,
tinha uma irmã segundo o relato no livro de Atos e outros parentes como afirma em
sua Epístola aos Romanos. Charles Ferguson acrescenta no aspecto religioso do
patriarca da casa: “O pai de Saulo era muito severo. Sendo fariseu, acreditava que
os mandamentos de Moisés, como interpretados pelos rabinos e escribas, deveriam
ser observados à risca.” (BALL, 1998, p.12).

Seu nome Saulo tem origem hebraica, vem de Saul que passa a ser
Saulo na literatura grega, seu significado é: “Aquele que foi conseguido por meio de
13

orações”. A educação de Saulo começou nos seus cincos anos de idade, os rabinos
ensinavam que o pai seria o principal educador, como salienta em sua obra, Charles
Ferguson (BALL, 1998, p.13).

Ao passar do tempo, estudou filosofia, poesia antiga, falava o grego


desde cedo e possivelmente em sua casa falassem aramaico e conhecesse latim,
hebraico. A educação helenística que Saulo adquiria o tornava um notável
argumentador entre os não judeus, seu pai expressava preocupação por causa das
filosofias pagãs vindas da Cilícia, o escritor Ciro Sanches diz:

Haja vista a preocupação com o aumento do contato de Saulo com os


costumes helênicos-orientais de Tarso – onde habitavam cilicianos nativos,
hititas, persas, gregos, macedônios e assírios – , seu pai o enviou à
Palestina, possivelmente no ano em que o imperador César Augusto
morreu, em 14 d.C. ao chegar ali, pelo mar, o rapaz subiu os montes e
chegou a Jerusalém, a fim de receber a educação rabínica, durante seis
anos, aos pés do célebre fariseu Gamaliel (Atos 22.3). (ZIBORDI, 2015,
p.27)

O pai de Saulo um judeu em uma nação estrangeira, conseguira


cidadania romana, talvez por um serviço prestado pelo seu bisavô, avô ou seu pai,
por um feito ao império, dando-lhe o título honorífico de cidadão romano. Assim
também podemos resolver equívocos acerca do segundo nome de Saulo por assim
dizer: Paulo como origem romana e não pelo fato de sua conversão ao Cristo,
houvesse sido a causa da mudança. F.F. Bruce sugere:

Como cidadão romano, Paulo tinha três nomes: pronome(praenomen),


nome de família (nomen gentile) e nome adicional (cognomen). Destes,
conhecemos apenas seu congnomen, Paullus. Se soubéssemos o seu
nomen gentile, poderíamos ter um indício das circunstâncias em que a
família adquiriu a cidadania, já que novos cidadãos costumavam adotar o
nome da família do seu patrono – mas não temos nenhuma indicação neste
sentido. (BRUCE, 2003, p.34)

O fato é que Paulo em alguns momentos de sua vida adulta usaria esse
privilégio de cidadão romano. Tarso era capital da província Ciliciana que hoje é
território da moderna Turquia, uma região marítima relativamente pequena e estreita
14

da Ásia Menor. Um fator importante de Tarso era o seu polo cultural e intelectual,
Ball diz:

Os filósofos e eruditos de Tarso já ensinavam retórica, matemática, ética,


gramática e música. Paulo ainda não brincava nas ruas da cidade, quando
grandes poetas, médicos, oradores e filósofos, treinados nas escolas de
Tarso, levavam-lhe o nome para outras terras. (BALL, 1998, p.7)

Tarso “cidade não insignificante” como Saulo relatou em Atos capitulo 21


e verso trinta e nove (ALMEIDA, 1993), era um centro de cultura grega, equiparava-
se como Atenas e Alexandria em relevância educacional como grandes centros,
tinha a sede de uma renomada universidade, dentro seus alunos o famoso
Atenodoro, tutor e confidente do Imperador Augusto (ZIBORDI, 2015, p.26).

2.1.2 Saulo: Perseguidor

Ao ensinar sua profissão de fabricante de tendas a seu filho Saulo, como


era costume do pai passar sua profissão ao filho, planejou a mudança do jovem para
Jerusalém, para protegê-lo das influências pagãs e imorais da cidade de Tarso e
tornasse um profundo conhecedor da lei judaica e um fariseu exemplar. Ao chegar
em, Jerusalém ingressou na escola de famoso rabino Gamaliel, este tinha uma
reputação dentro o povo, neto do fundador da escola de formadores de mestres da
lei judaica, Hillel. O professor Odalberto em seu artigo cita:

Entrou na Escola de Gamaliel, (conf. Atos 22,3) considerada uma escola de


interpretação moderada da Lei Judaica, não era uma escola rígida quanto a
pratica da Lei. Assim aos pés de Gamaliel ele foi instruído com muita
sabedoria no conhecimento da Lei dos Pais; conheceu a Bíblia, o zelo pela
observância da Lei, as tradições judaicas e o farisaísmo na interpretação da
lei. A hermenêutica dos textos paulinos, muitas vezes aparentam traços do
rabinismo, que vieram desta formação em Jerusalém. (CASONATTO apud
ZEDDA 2014)

Dessa forma o jovem Saulo se tornaria um grande mestre e defensor da


lei. No início de perseguição da igreja, Estevão e Saulo teriam quase a mesma
idade, aproximadamente 40 anos (ZIBORDI 2015, p.30). O fervoroso fariseu foi um
15

dos responsáveis pela morte de Estevão, o primeiro mártir daquela empreitada. Nos
dias posteriores ao esse apedrejamento, a caçada continuava, e Saulo realmente se
tornara um perseguidor ferrenho da igreja.

2.1.3 Saulo: Sua conversão na estrada de Damasco

Capítulo 9 de Atos, registras os acontecimentos que mudaria a vida desse


fariseu, no verso 1 e 2 (ALMEIDA, 1993), estava em plena atividade assassina e
repressiva aos seguidores de Jesus, o plano seria que a perseguição se expandisse
para outros lugares, haja vista que alguns convertidos estavam se escondendo em
outras cidades e Damasco foi sua primeira expedição. Com uma carta do sumo
sacerdote, dando lhe autoridade, John Stott diz:

Então, esse inquisidor auto-nomeado deixou Jerusalém armado com a


autorização escrita às sinagogas de Damasco para que, caso achasse
alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres os levassem
presos para Jerusalém (v. 2). Em linguagem moderna, o sumo-sacerdote
lhe concedeu uma ordem de extradição. “o que sobressai na narrativa é a
graça soberana de Deus através de Jesus Cristo” (STOTT, 1994, p.188)

Saulo empreende a viagem para Damasco, Charles Ferguson esclarece


que a distancia seria de 240 km de Jerusalém, (BALL, 1998, p.36). No livro de Atos
dos Apóstolos 9.3-5, Lucas relata:

E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco,


subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra,
ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele
disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. (ALMEIDA, 1993)

O marco inicial da conversão de Saulo, o perseguidor encontra-se no


chão e cego. Sobre essa conversão tão repentina Jonh Scott escreveu a respeito:
“...só existe uma resposta possível. o que sobressai na narrativa é a graça soberana
de Deus através de Jesus Cristo” (STOTT, 1994, p.188). O velho Saulo não seria
capaz de mudar sua vida drasticamente, se Jesus não tivesse se relevado. Segundo
Swindoll, descreve o momento que Jesus responde sua pergunta “Eu sou Jesus, a
quem tu persegues” dessa forma:
16

Devem ter se passado vários segundos de silêncio profundo, enquanto


Saulo digeria essas palavras. No instante em que ouviu, ele deixou de
acreditar que Jesus estava morto. Sua vontade rebelde fora conquistada.
Sua viagem mudou de direção. Suas ideias passaram por tamanha
revolução que acabaram transformando o homem de dentro para fora.
(SWINDOLL, 2003, p.42)

Esse momento ele na carta aos Filipenses 3.12b escreveu: “fui


conquistado por Cristo Jesus.” (ALMEIDA, 1993). Depois dessa experiência com
Jesus, Saulo foi levado para dentro da cidade de Damasco, e ficou por três dias sem
comer e beber. Sua vida estava agora nas mãos do Senhor, naquele momento
confuso, Deus fala com um discípulo chamado Ananias, para que fosse ao seu
encontro; obedecendo a ordem, chegando na casa impôs as mãos sobre Saulo e
imediatamente voltou enxergar e foi batizado com Espirito Santo, Atos capítulo 9 o
versículo 17 diz:

“Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo:
Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu
no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do
Espírito Santo.” (ALMEIDA, 1993)

A cidade de Damasco foi a primeira experiência de Saulo como pregador,


capitulo 9 e verso vinte está escrito: “E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus,
afirmando que este é o filho de Deus.” (ALMEIDA, 1993). Paulo antes de viajar para
Jerusalém, passou um período de três anos na Arábia na carta aos Gálatas 1.17-18,
estava registrado:

“nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas
parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco.
Decorridos três anos, então, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e
permaneci com ele quinze dias” (ALMEIDA, 1993).
Retirou-se para Arábia, dessa lacuna temporal, o teólogo F.F. Bruce
afirma: “Uma resposta comum é que ele foi para o deserto, para refletir sobre sua
nova situação, talvez para ter comunhão com Deus nas proximidades de ‘Horebe, o
monte de Deus’, onde Moisés e Elias tinham estado com ele tempos atrás”.
(BRUCE, 2003, p.76). O Jonh Scott acrescenta:
17

Alguns acham que ele foi pregar, mas outros são convincentes em sugerir
que ele precisava de tempo para meditar, e que Jesus teria revelado a ele
aquelas verdades característica da solidariedade judaico-gentia no corpo de
Cristo que ele depois chamaria de “o mistério” dado a conhecer através de
“revelação”, “ meu evangelho” e “ o evangelho...(que) recebi... mediante
revelação de Jesus Cristo” (STOTT, 1994, p.197)

Em retorno a Damasco Saulo intensifica a sua pregação levando a


mensagem de Cristo. Disso começou a incomodar, como relata Lucas no capitulo 9
de Atos e verso 22. “E passando os dias judeus, furiosos ao ouvirem isso,
começaram a pensar em mata-lo,” (ALMEIDA, 1993) os discípulos damascenos
tiveram que mandar ele de volta para Jerusalém, numa noite desceram Saulo em
um cesto pela muralha, já que os seus opositores em Damasco estavam vigiando as
entradas. Chegando procurou os discípulos, temerosos não creram em sua
conversão, novamente Deus levanta um homem chamado Barnabé como
testemunha e abrindo as portas para Saulo entre eles.

Nos quinze dias em Jerusalém, Saulo falava corajosamente a respeito de


Jesus Cristo e levando novamente aqueles que teriam lhe tirar a vida.
Posteriormente os irmãos se reuniram e mandaram ele para sua cidade natal Tarso.

2.2 Viagens missionária de Paulo

2.2.1 A primeira viagem missionária (At 13 – 14)

Saulo tendo passado anos no anonimato em Tarso, estava pronto. O


período em Antioquia com Barnabé lhe abriu a porta definitiva para o seu trabalho
itinerante de missões gentílicas, pelo menos em quatros províncias do Império
Romano: Galácia, Macedônia (norte da Grécia), Acaia (sul da Grécia) e Ásia, no
período de cerca de dez, esteve levando a mensagem do Evangelho e abrindo
igrejas. (ZIBORDI, 2015, p. 61).
18

Em Atos capitulo 13 e versículo 2, registra a convocação para a primeira


viagem missionária1: “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo:
Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.”
(ALMEIDA, 1993). A partir desse capítulo 13 temos com clareza o desdobramento
de Saulo em suas empreitadas ao anuncio do Evangelho ao mundo gentílico, tem
um fato curioso que no verso 9, Lucas começa-se a chamar Saulo nome hebraico,
pelo seu segundo nome romano, Paulo. Segundo Halley: “Essa mudança foi feita
possivelmente para assinalar o início de seu ministério aos gentios.” (HALLEY, 2001,
589).

Depois que a liderança da igreja de Antioquia, dirigida pelo o Espirito Santo


libera Barnabé, Paulo e levando o auxiliar João Marcos, desceram a Selêucia e
embarcando para Chipre.

2.2.2 De Antioquia a Chipre (At 13.1-12)

Saindo do porto marítimo de Antioquia da Síria, Paulo parte em direção à


Ásia Menor. Ao chegar a Chipre, cidade natal de Barnabé, desembarcam em
Salamina, e anunciam a Palavra do Senhor aos judeus na sinagoga. Indo em
direção à ilha de Pafos, Paulo enfrentou opressões malignas nessa cidade cipriota
ao pregar o Evangelho. O governador da província se converteu. Em Atos 13 e
verso 12 diz: “Então, o procônsul, vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a
doutrina do Senhor.“ (ALMEIDA, 1993).

2.2.3 De Chipre a Antioquia da Pisídia (At 13.13-52)

Seguindo viagem de Pafos, chegaram em Perge, Região da Panfília.


Estando na cidade, Lucas menciona a atitude de João Marcos de voltar para
Jerusalém. Em Antioquia da Pisídia, o escritor de Atos fornece o resumo completo
de um sermão de Paulo, estando ele numa sinagoga. Entretanto alguns judeus
irritados incentivaram algumas pessoas e expulsaram Paulo da cidade.

1
Mapa da Primeira Viagem Missionária de Paulo - Anexo
19

2.2.4 De Icônio ao regresso a Antioquia (At 14.1-28)

Em Icônio, leste de Antioquia da Pisídia, Paulo e Barnabé mais uma vez


pregaram em uma sinagoga local, uma multidão creram e dentro esses tinham
judeus e gregos. Novamente judeus incrédulos fizeram campanha difamatória,
contra os apóstolos.

Posteriormente foram para Listra, ao sul de Icônio, nessa cidade Paulo


cura um coxo de nascença, trazendo um constrangimento, foram confundidos com
deuses. Depois de um livramento de morte por apedrejamento Paulo partiu com
Barnabé para Derbe. Lucas não registra com detalhes o que aconteceu essa cidade,
é dito que eles anunciaram o evangelho e muitos se converteram. Chegando em
Antioquia da Síria, reuniram com a igreja e contaram tudo que tinha acontecido.

2.3 A segunda viagem missionária (AT 15.36 – 18.28)

2.3.1 Em direção à Ásia (15.36–16.8)

Essa segunda viagem2 é registrada no capítulo 15 de Atos, porém, nos


primeiros versículos Lucas nos chama atenção para um momento crucial da igreja
cristã, o primeiro concílio em Jerusalém, ou melhor, uma reunião das principais
lideranças das comunidades cristãs da cidade, esses eram: Paulo, Barnabé, Tiago,
Simão, os apóstolos e presbíteros.

O objetivo era discuti e resolver a questão da conversão dos gentios e


esses deveriam ou não submeterem a todas as exigências descritas no Antigo
Testamento. Alguns Judeus convertidos sustentavam que esses deveriam ser
circuncidados e observar a lei ou não seriam salvos. (STOTT, 1994, p.273). Lucas
nos faz compreender que houve um respeitoso debate entre os apóstolos e
chegando à conclusão. Stott ressalva:

2
Mapa da Segunda Viagem Missionária de Paulo - Anexo
20

Podemos dizer, então, que o concilio de Jerusalém conseguiu uma dupla


vitória – uma vitória da verdade ao confirmar o evangelho da graça, e uma
vitória do amor ao preservar a comunhão através de concessões
compassivas aos escrúpulos dos judeus conscienciosos. (STOTT, 1994, p.
288-289)

Dando como encerrado o concílio de Jerusalém. No versículo 36 de Atos


capitulo 15, continua a empreitada missionária de Paulo convidando a Barnabé, que
de antemão aconselhou que levasse seu sobrinho João Marcos, causando um
discursão com Paulo, que não aceitou. Então Barnabé e João Marcos foram para
Chipre e Paulo escolhendo seu novo companheiro Silas, viajaram em direção a Ásia.

Nesse ponto da viagem o Espirito Santo estava mudando os planos de


Paulo para Ásia, o proposito do apóstolo era continuar a anunciando a Palavra
nessas terras, Deus não permitiu, o alvo seria a Europa. (ZIBORDI, 2015, p. 81)

2.3.2 Em direção à Europa (16.12–18.18)

Em Trôade, Paulo tem uma visão, indicando que o seu destino seria
pregar o Evangelho em Macedônia. Atos 16:9 registra: “E Paulo teve de noite uma
visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa
à Macedônia, e ajuda-nos.” (ALMEIDA, 1993). Alguns escritores corroboram que
essa foi a mais importante viagem de Paulo, e a sua primeira vez que pregou em
terras europeias. Jonh Stott diz:

Foi da Europa que, no seu devido tempo, o evangelho se espalhou pelos


grandes continentes: África, Ásia, América do Norte, América Latina e
Oceânia, alcançando assim os confins do mundo. Paulo e seus
companheiros tinha consciência de que estavam estabelecendo, durante a
segunda viagem missionária, novas igrejas em três províncias romanas que
não tinham alcançado na primeira viagem. (STOTT, 1994, p. 291)

O Apóstolo dos gentios, pisa pela primeira vez nessas terras e segue
imediatamente para Filipos. Apesar de humilhações e maltratos em Filipos,
prosseguiram a viagem rumo a Tessalônica, depois partem para Beréia, sendo
perseguidos e temendo confusões Paulo viaja para Atenas. Ao chegar prega para os
atenienses, O pastor Esdras Costa escreve seu artigo diz:
21

O discurso de Paulo no Areópago é um dos mais belos e cultos sermões


cristãos. Contudo, a vaidade cultural, a corrupção dos costumes, e a falta de
compreensão a respeito da ressurreição impediram os atenienses de
responderem positivamente à fé cristão; poucos converteram-se. (BENTHO,
2011, n.p)

Em Atenas, Lucas mencione o nome de dois convertidos, Atos dos


apóstolos 17.34 “Todavia, chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais foi
Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros.” (ALMEIDA,
1993)

2.3.3 Regresso (18.18-22)

Depois de Atenas, Paulo percorre setenta e dois quilômetros para Corinto.


Uma grande metrópole da época para a Grécia, se destacava por seu centro
comercial de reconhecimento mundial. (ZIBORDI, 2015, p.93).

Chegando em Corinto Paulo, conheceu um casal de Judeus Áquila e sua


esposa Priscila, um ano e seis meses, Paulo esteve entre os Coríntios. Despedindo
dos irmãos, em direção a Éfeso, passou por algum tempo nessa cidade, o seu plano
era chegar em Jerusalém. Deixando Éfeso, nessa viajem rápida, segue em direção a
província da Lídia, passando por Cesareia e Jerusalém até chegar a Antioquia da
Síria.

2.4 A terceira viagem missionária e viagem Roma (At 18.23 – 28.31)

2.4.1 De Antioquia a Macedônia (18.23 – 20.3)

Havendo passado um ano depois que esteve em Éfeso, Paulo se


despede da igreja de Antioquia rumo3 a cidade dos Efésios. Após a chegada Paulo
continuou seu trabalho de pregar nas sinagogas como de costume. Porém,
levantando alguns os expulsou da Sinagoga, diante desse constrangimento,
consegue um lugar para fazer as reuniões na escola de um homem chamado Tirano.

3
Mapa da Terceira Viagem Missionária de Paulo - Anexo
22

Num período de três anos Paulo esteve em Éfeso, tornando a maior igreja fundada
pelo apóstolo. Agora Paulo, estava planejando uma nova missão, chegar à capital
do Império, Roma. O texto de Atos 19.21b diz: “importa-me ver também Roma”.
(ALMEIDA, 1993). Ao despedir dos irmãos de Éfeso, Paulo viaja à Macedônia.

2.4.2 De Filipos a Jerusalém (20.6 – 21.17)

Em regresso de sua terceira viagem, Paulo faz uma longa viagem a


Macedônia afim de encorajar os irmãos dessa província, percorrendo Grécia numa
estadia de três meses, logo após, navega para Filipos, também para Trôede onde
fica por sete dias. Depois em Mileto Paulo se despede de alguns líderes, traz uma
palavra de exortação e advertindo que seria a ultima vez que os via. Lucas registra a
comoção da despedida em Atos 20.37: “Então, houve grande pranto entre todos, e,
abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam”. (ALMEIDA, 1993). E segue para
Jerusalém.

2.4.3 Viagem a Roma (23.31-33; 27 – 28.31)

Agora em Jerusalém, a vida de Paulo vai tomar proporções judiciais


incansáveis, a prisão o colocará fora de combate fisicamente. Antes o
desdobramento rumo a capital do império, começa em Jerusalém. Estando no
Templo é tomado pela fúria de seus acusadores que estavam a ponto para mata-lo,
se não houve uma intervenção da tropa de segurança, que conseguiram a tempo
evitar o linchamento. Paulo estava preso e ousadamente pede para falar, faz sua
defesa a qual vai do verso 1 até o 21 do capitulo 22 de Atos, quando a multidão
interrompe e manda o tirar dali.

O Plano de Deus eram levar Paulo para Roma. Nesse processo de


julgamentos Paulo ficou por dois anos preso em Cesaréia, ate que em Atos capitulo
20 e 7 ao 28 descreve a viagem a Roma. Jonh Stott faz uma conclusão em seu livro
que pontua o restante da vida de Paulo em Roma diz:
23

Será que Paulo foi libertado depois dos dois anos mencionados por Lucas
(v.30)? é certo que ele esperava por isso. As cartas pastorais dão evidencia
nesse sentido, pois ele reassumiu suas viagens por mais dois anos, antes
de ser preso novamente, julgado, condenado e executado em 64 d.C.
(STOTT, 1994, p. 456-457)

Assim, a trajetória missionária de Paulo é compilada, os registros que


temos são esses, juntos com seus escritos.

2.5. A Obra Literária De Paulo

2.5.1 A literatura epistolar paulina

A vida ministerial de Paulo descrita em Atos dos Apóstolos e suas 13


cartas, nos concebem várias informações do seu tempo: a cultura, a política, e a
religião. Esses elementos estruturais do período bíblico trazem sugestões para
fundamentar a veracidade histórica de Paulo e seus escritos. (CARSON, MOO,
MORRIS, 1997, p. 258)
Testificando a sua originalidade e também considerando que a literatura e
o pensamento de Paulo que percorreram esses dois milênios, não ficou suplantado
em seu tempo. Em seu livro Paulo e Sua Teologia o pastor Lourenco Stelio Rega
salienta essa questão:

Não teria sido Paulo apenas um vulto que ajudou a firmar a igreja e a
expandir o evangelho, mas que ficou para trás neste nosso mundo de tantas
concessões, sabendo-se principalmente de seu rigorismo e ascetismo?
Talvez alguns assim pensem, no entanto entendemos que Paulo é
extremamente atual. Não apenas isso. É relevante e contemporâneo, pois
alguns aspectos que ele focaliza são vividos hoje pela igreja. A ênfase
antropocêntrica de nosso tempo torna imperioso para a igreja atual o estudo
dos escritos paulinos. [...] Paulo, ao contrário, é contemporâneo porque
seus princípios não permaneceram confinados ao contexto cultural da
época e é relevante porque suas palavras ainda têm valor no mundo de
hoje. Há uma questão mais a mencionar. Não consideramos os escritos de
Paulo registrados no Novo Testamento simples opiniões pessoais, teses
sociológicas ou mesmo conceitos culturais restritos, todos, a uma época.
Nós os entendemos como Palavra de Deus, e é nessa direção que
caminhamos. Os escritos de Paulo integram as Escrituras Sagradas, são
parte da Bíblia e, portanto, inspirados por Deus. (REGA, 2009, p. 18-19)
24

Esse entendimento, torna-se imprescindível para adentrar no universo


literário de Paulo. O ponto de partida é a sua contribuição ao cânon
neotestamentário com 13 livros de sua autoria, tornando o principal escritor. Sendo
importante ressaltar a forma literária que foram escritos, como cartas ou epístolas,
métodos muito populares de comunicação no mundo grego-romano na época de
Paulo, segundo Robert H. Gundry, ressalta em sua obra, que uma carta tinha em
média noventa palavras e que aqueles escritos por pessoas importantes tinham
duzentas palavras. Continuando Robert salientar que Paulo eleva essa forma de
escrever a outro nível:

Todavia, as dimensões médias das epístolas de Paulo se elevavam a cerca


de 1.300 palavras, variando desde 335 palavras em Filemom até 7.101
palavras em Romanos. É óbvio, portanto, que as epístolas de Paulo são
várias vezes maiores do que as cartas médias da antiguidade, pelo que
também, em certo sentido, Paulo foi o inventor de uma nova forma literária,
a epístola - uma novidade por ser carta tão prolongada, devido à sua
natureza teológica, e, usualmente, na natureza comunitária dos
endereçados. (GUNDRY, 1998, p. 188)

O doutor Robert H. Stein em sua obra Guia básico para a interpretação da


Bíblia, faz uma distinção das duas formas literárias:

Tecnicamente, carta é uma forma de comunicação menos literária e mais


pessoal, cuja finalidade é manter o relacionamento entre o remetente e o
destinatário. Surge sempre de uma situação determinada e fala para uma
realidade especifica. Uma epistola é mais artística na forma e é projetada
como um tratado auto-explicativo para um público bem extenso. Contudo, a
distinção entre ambas pode ser obscura. Os escritos de Paulo parecem
colocar-se entre as duas formas. Assemelha-se a uma carta em Filemom, e
em Romanos, a uma epístola. (STEIN, 2009, p. 179)

Em síntese, as cartas e epístolas se diferenciam em um pequeno


detalhe, a primeira tem um caráter restritivo a uma pessoa ou lugar e a segunda
envolve um alcance maior e não tem um destinatário específico. Paulo bem como os
outros autores bíblicos do Novo Testamento precisamente utilizaram essa forma em
21 livros dos 27 que o compõe.

2.5.2 As epístolas paulinas


25

Roy B. Zuck (2010) em seu livro a Teologia do Novo Testamento, faz uma
definição da importância do legado literário de Paulo para as igrejas que fundara e,
por conseguinte, sobressaindo no cânon posteriormente, segundo ele: “Paulo
escreveu essas epístolas por ser pastor fundador e estar preocupado com o bem-
estar das igrejas plantadas por meio de seu ministério.” (ZUCK, 2010, p. 271).
Salientamos que a ordem que segue na Bíblia está relacionada a
extensão, o tamanho do volume e não a sua data cronológica que foram escritas.

Romanos:

Considerada a principal epístola paulina, alguns são categóricos em dizer


que é maior tratado teológico do Novo Testamento. Sua autoria é incontestável
Paulo a escrevera por volta do ano 57-58 d.C. (HELLEY, 2001, p. 606), quando
estive na cidade de Corinto, precisamente na sua terceira viagem. Aproveitando a
viagem de uma mulher chamada Febe para Roma, escreve para os cristãos da
capital do Império, anunciando seus planos de viajar até eles. Sua apresentação e
defesa ao longo dos dezesseis capítulos é declaradamente explicar o evangelho da
graça e a fé irrestrita em Cristo Jesus.

1 Coríntios:

Aproximadamente três anos depois que partiu de Corinto, Paulo recebe


uma comitiva de líderes em Éfeso, os quais relataram sérios problemas e desordens
que a igreja em Corinto estava enfrentando. Nessa condição, foi preciso escrever
por volta do ano 55 d.C. (HELLEY, 2001, p. 615) a primeira epístola aos Coríntios.
O conteúdo da carta é pormenorizado nos dezesseis capítulos, respondendo as
questões levantadas: as divisões na igreja, questões relacionais no seio da família,
tratando dos dons espirituais e o amor, a relevância da ressurreição, contribuições
voluntárias e várias mensagens de ânimos no encerramento.

2 Coríntios:
26

Considerada a epístola paulina mais autobiográfica de todas, sua


importância envolve principalmente a reivindicação do seu apostolado que alguns
irmãos estavam colocando em dúvida perante a igreja. Escrita em 57 d.C. na
Macedônia (ZIBORDI, 2015, p.21), Paulo expressa detalhes de sua vida, atribui a
Deus a consolação diante das aflições, encoraja os crentes de corinto que amem e
perdoem uns aos outros e que permaneçam firmes nas promessas de Jesus.

Gálatas:

Considerada uma das cartas mais expressiva de Paulo, sua destinação


abrangia as cidades da região da Galácia que tinham igrejas das quais o apóstolo
em suas viagens missionárias estabeleceu. Foram bem-sucedidas as pregações de
Paulo, trazendo gentios e judeus para Cristo. Depois de sua ausência da Galácia,
começaram a aparecer os legalistas na igreja, esses conhecidos por judaizantes,
ensinavam que os gentios convertidos, precisariam obedecer às leis de Moisés para
serem cristãos. Agora Paulo no ano 57 d.C. possivelmente em “Éfeso, na
Macedônia, ou em Corinto, pouco antes de escrever a epistola aos Romanos.”
(HELLEY, 2001, p. 633), ou sugerem outros no ano 49 d.C. em Antioquia escreve
essa carta, no intuito de contrapor essas questões, enfatizando que o caráter do
evangelho é pela graça e não pela observância da lei.

Efésio:

Uma das quatros cartas escritas por Paulo na prisão em Roma no ano 62
ou 63 (ZIBORDI, 2015, p.22). Sua abordagem tem temas fundamentais, a unidade
da igreja, tornando os judeus e gentios um só em Cristo, a importância de viver
diferente e ser blindado com a armadura de Deus. Seu versículo chave é Efésios 1.3
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com
toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (ALMEIDA, 1993).

Filipenses:
27

A igreja de Filipos entrou na história do cristianismo como a primeira igreja


europeia fundada por Paulo, período que escreveu a carta no ano 62 ou 63 d.C na
capital do Império, ele estava preso (ZIBORDI, 2015, p.23). Seu caráter pastoral e
pessoal é evidenciado na carta da alegria, Paulo tratou de várias questões dentre
elas a humilhação de Cristo como exemplo, o contentamento de viver para Cristo em
todas as ocasiões.

Colossenses:

Escrita no mesmo período de prisão domiciliar em Roma por volta do 61


ou 62 d.C (ZIBORDI, 2015, p.22). Paulo foi avisado que uma heresia estava
progredindo na igreja de Colossos, Henry Hampton escreveu: “Parece ter sido a
mistura de religiões gregas, judaicas e orientais, um tipo de culto ao “pensamento
superior” que se apresentava como filosofia (2.8)” (HELLEY, 2001, p. 651). E mais
adiante Henry resume o livro “Enfatiza a divindade e a plena suficiência de Cristo,
em contraste como o vazio da filosofia humana. (HELLEY, 2001, p. 652).

1 Tessalonicenses:

Existem alguns teólogos que divergem a respeito da primeira carta


escrita por Paulo, seja de Gálatas em 55 d.C. ou 49 d.C. Mas alguns consideram
que “as duas cartas à Tessalônica teriam sido os primeiros livros do Novo
Testamento, escritos em 51 ou 52 d.C., em Corinto” (ZIBORDI, 2015, p.21). A
abordagem principal do apóstolo nessa carta é segunda vinda de Jesus.

2 Tessalonicenses:

Seguindo a mesma data da primeira carta os irmãos de Tessalônica, 51


ou 52 d.C., essa segunda tem uma continuidade a respeito do ensino da vinda de
Jesus. Paulo corrige uns erros acerca do advento da vinda de Cristo que estavam
perturbando os irmãos. Citando evidencias indicativas para o retorno do Senhor,
bem como as características do Anticristo e seu poder que operará no mundo, está
escrito em 2 Tessalonicenses 2.9: “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a
28

eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira” (ALMEIDA,


1993).

1 Timóteo:

Uma das três cartas pastorais de Paulo, as outras são: 2 Timóteo e Tito.
Essa primeira carta ao jovem Timóteo, o qual estava pastoreando a Igreja de Éfeso,
teve um caráter instrutivo para sua liderança pastoral. O Apóstolo Paulo escreve
essa carta no ano 64 ou 65 d.C., na Macedônia (ZIBORDI, 2015, p.21). Diante do
desafio de combater as falsas doutrinas ensinadas por algumas pessoas naquela
igreja, encorajando Timóteo, ao ensinar que evitasse os discursões vãos e que
visasse “ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem
hipocrisia.” 1 Timoteo 1.5 (ALMEIDA, 1993).

2 Timóteo:

Nessa segunda carta, ao seu amado filho na fé, Timóteo. Paulo encontra-
se na prisão em Roma em 67 d.C. Ciro Sanches salienta: “trate-se da derradeira
carta de Paulo e contém suas ultimas palavras escritas e muitas instruções valiosas”
(ZIBORDI, 2015, p.23). Agora o velho soldado estava fortalecendo o jovem que o
sucederia, no decorrer dos quatros capítulos, Paulo pontua várias incumbências a
Timóteo e finaliza citando algumas pessoas que eram próximas a ele naqueles
momentos finais.

Tito:

Acreditam alguns eruditos que Tito e 1 Timóteo são cartas escritas no


mesmo ano 65 d.C., (HELLEY, 2001, p. 674). Ambas as cartas têm caráter pastoral,
Tito líder em Creta e Timóteo em Éfeso. Os problemas doutrinais ocasionados por
falsos mestres têm semelhanças nas duas igrejas. Por conseguinte, Paulo, tem
plena confiança em Tito para fazer o trabalho de buscar e qualificar líderes na igreja
seguindo os seus conselhos.
29

Filemom:

A menor carta de Paulo, destinada ao cristão que era dono de escravos


ou um escravo por nome Onésimo. Esse escravo fugindo teve contato com Paulo
possivelmente em Roma. Em 61 ou 62 d.C. (ZIBORDI, 2015, p.22). na capital do
império escreve essa carta solicitando a Filemom que perdoasse o fugitivo, o qual
agora era convertido. Segundo a lei romana a sentença para Onésimo seria a pena
capital. Por essas e talvez outras razões Paulo se comprometesse a advogar em
Filemom 6 diz: “Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse
a mim mesmo.” (ALMEIDA, 1993)

Desse modo, conseguimos adentrar na história do maior pregador do


cristianismo; percebe-se em sua chamada e literatura que o mesmo buscou
configurar sua vida na pessoa de Cristo. Por isso, a importância de Paulo como o
precursor e defensor da pessoa de Jesus, colocando-o também como o primeiro
expoente da teologia cristológica.

No próximo capitulo, nos deteremos a respeito da divindade e


humanidade de Jesus na perspectiva paulina na carta endereçada aos irmãos de
Filipos, o texto clássico da cristologia referida em Filipenses 2.5-11, compreende
uma importante defesa contra as heresias. Ressaltaremos a união hipostática que
foi ratificada no concílio de Calcedônia em 451 que reforça essa defesa.
30

3 A DIVINDADE DE JESUS NA PERSPECTIVA PAULINA EM FILIPENSES 2.5-11

Propusemos no capitulo anterior, em mostrar a trajetória do maior Apóstolo do


cristianismo, a experiencia de sua conversão em Damasco, tornou-se o marco
divisor de sua vida, o Jesus ressurreto, o Deus homem-divino, o escolheu para ser
um grande pregador. Conhecemos os lugares que Paulo passou, suas alegrias,
tribulações e amor pelo Evangelho. Vimos em seus livros está a evidencia de amar a
Igreja de Cristo e zelar pelo que Deus confiou em suas mãos.

Neste capítulo, vamos de encontro com um dos textos mais importante para a
defesa de Cristo, em Filipenses 2.5-11. Mas antes conheceremos a história da
cidade de Filipos, a chegada de Paulo na primeira cidade europeia, estabelecendo
anos depois como uma igreja muito importante para o Apóstolo; de sua prisão em
Roma escreve uma carta da qual tem esse texto que decorremos. Abordaremos, o
hino cristológico que alguns defende que Paulo incluiu e até mesmo seja o próprio
autor, através de uma síntese textual, mostraremos que a divindade e humanidade
de Jesus está contida em suas linhas. Ressaltaremos uma discursão sobre a
kenosis nos séculos XIX e XX, um entendimento equivocado do esvaziamento de
Cristo e finalizaremos trazendo um relato do que aconteceu em Calcedônia que
promulgou a União Hipostática.

3.1. Contexto histórico de Filipenses

3.1.1 A cidade de Filipos e Paulo

Inicialmente é importante citar o texto de Atos 16:9 “À noite, sobreveio a


Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo:
Passa à Macedônia e ajuda-nos.” (ALMEIDA,1993). Agora os planos de Paulo
estavam tomando outra direção, a Ásia Menor para essa segunda viagem
missionária foi interrompida por Deus nessa visão. Entendendo o chamado, partiu
ruma a Macedônia uma província do império romano, ao desembarcar no porto de
Neápolis, seguiu alguns quilômetros, chegando a Filipos no ano 51 ou 52 d.C
(CABRAL, 2013, p. 15).
31

A cidade de Filipos, que teve como seu fundador Filipe II, pai do
Alexandre o Grande, que ano 360 a tirou do domínio tracianos. (LOPES, 2007, p.
14). Sua história está registrada num dos acontecimentos mais significativos para o
Império Romano, a vitória dos comandantes Otávio e Marcos Antônio contra os
rebeldes Brutus e Cassius, posteriormente tornando uma colônia e
consequentemente usufruindo de direitos legais como qualquer cidadão de Roma.
De acordo com William em seu livro aponta que:

“Não obstante, eles desfrutavam de todos os direitos de cidadãos romanos


por toda parte, tais como a isenção de açoites, de prisão, exceto em casos
extremos, e o direito de apelar para o imperador. Seus nomes permaneciam
nos róis das tribos romanas.” (HENDRIKSEN, 2005, p. 357)

O contexto de Filipos na época de Paulo encontrava-se como uma cidade


de grande prestigio da região, novamente William cita: “Além da importância política,
Filipos era muito significativa geográfica e comercialmente.” (HENDRIKSEN, 2005,
p. 360). No que cerne a religiosidade o sincretismo era presente, e fazia o imaginário
da maioria da população. Elienai Cabral menciona: “os arqueólogos descobriram
que Filipos era uma cidade idólatra com vários deuses gregos e romanos, além de
várias divindades orientais, como Baal e Astarote e outros.” (CABRAL, 2013, p. 14).

No relato bíblico, posterior a sua chegada à cidade, Paulo ao pregar para


um grupo de mulheres, uma chamada Lídia, que se converte e juntamente com sua
família são batizados. Outro fato importante no início da igreja em Filipos é a
conversão do carcereiro, depois que Paulo expulsou o demônio de uma jovem
escrava que praticava adivinhações, os seus senhores ficam indignados por
perderem sua fonte de renda.

Paulo e Silas são causados de perturbar a ordem pública e impor outros


costumes a cidade, por conseguinte são presos e estando no cárcere começaram a
orar e a cantar e as estruturas se moveram e as portas se abriram, ocasionando a
fugas de presos, desesperado o carcereiro tenta se matar, que de imediato Paulo
intervêm e prega a Palavra e o carcereiro se converte em seguida. Daí
compreendemos no relato de Filipenses 1.1 “a todos os santos em Cristo Jesus,
32

inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos” (ALMEIDA,1993), que igreja


prosperou, e existia vários líderes no contexto que a carta fora escrita.

3.1.2 Autoria

Existe uma ampla maioria de comentaristas renomados da Bíblia que


aprovam a autoria de Paulo. Por outro lado, um teólogo e historiador Alemão
Ferdinand Christian Baur em 1845 questionou essa autenticidade, bem como outras
cartas paulinas (HENDRIKSEN, 2005, p. 388). Mesmo que Baur e outros deixaram
dúvidas em suas obras a esse respeito; existem um vasto testemunho histórico
literário de escritores cristãos dos primeiros séculos, como Policarpo que escreveu
para os irmãos de Filipos. Ralph E. (MARTIN, 2011, p. 24) traz esse trecho:

“Ele ensinou acurada e resolutamente, enquanto esteve entre vós, na


companhia dos homens daquele tempo e, também, quando longe de
vós, ele escreveu cartas, pelas quais, se vós as estudardes
cuidadosamente, sereis capazes de edificar a vós mesmos na fé que
vos foi concedida.”

No caso de mencionar outros nomes: Eusébio de Cesareia, Clemente de


Alexandria, Irineu citaram em suas obras, referências e declarações que validam a
autoria paulina. Os eruditos modernos como: F.F Bruce, William Hendriksen, Ralph
E. Martin concordam também com essa afirmação em seus livros. O Pastor Elienai
em seu comentário aos Filipenses reforça: “os elementos autobiográficos colocados
na Carta a tornam genuína e autêntica” (CABRAL, 2013, p. 17).

3.1.3 Data e local

A carta aos Filipenses, juntamente com a de Efésios, Colossenses e


Filemom foram escritas na prisão de Paulo em Roma. A tradição recomenda a
datação em 62 ou 63 d.C (ZIBORDI, 2015, p.23). Esse período prisional do apóstolo,
a Bíblia descreve que durou 2 anos. Ainda convêm lembrar que Paulo esteve preso
em mais duas cidades Cesaréia e Éfeso de acordo com livro de Atos dos Apóstolos,
33

trazendo assim, nesses últimos tempos, questionamentos que as colocam como


outros prováveis locais que a carta aos irmãos de Filipos foi escrita. Por outro lado,
Hernandes Dias Lopes avigora que: “Há evidencias abundantes de que Paulo
escreveu de Roma, essa carta no final de sua primeira prisão”. (LOPES, 2007, p.
22).

3.1.4 O propósito da carta

Em decorrência da visita de Epafrodito, enviado pelos irmãos da igreja de


Filipos, levando para o apóstolo uma oferta. Essa atitude deixou Paulo muito alegre,
a ponto que, por escrito viesse à expressão a sua gratidão. Provavelmente
Epafrodito trouxe informações de como estava a igreja ou talvez por outras fontes
como William Hendriksen supõe (HENDRIKSEN, 2005, p. 372). Ao analisarmos a
carta, indicam que realmente Paulo estava ciente dos problemas locais. O renomado
escritor Hernandes Dias Lopes, enumera dois propósitos pelas quais a carta aos
Filipenses foi escrita:

Para agradecer à igreja de Filipos sua generosidade. Essa é a carta de


gratidão à igreja pelo seu envolvimento com o velho apóstolo em suas
necessidades. Essa igreja foi a única que se associou a Paulo desde o
início para sustenta-lo (4.15). Para alertar a igreja sobre os perigos que
estava enfrentando. A igreja de Filipos enfrentava dois sérios problemas:
um interno e outro externo. Primeiro, a quebra da comunhão. A desunião
dos crentes era um pecado que atacava o coração da igreja. Ralph Martin
diz que a igreja filipense sofria com problemas de presunção (2.3), de
vaidosa superioridade (2.3), que induziam ao egoísmo (2.4), quebrando a
koinonia, espirito de boa vontade para com a comunidade. Isso gerava
pequenas disputas (4.2) e espirito de reclamação (2.4). Havia um espírito
individualista e elitista em alguns membros da igreja de Filipos que colocava
em risco a harmonia na igreja. Havia partidarismo e vanglória.

Na mesma sequência o escritor brasileiro, menciona o segundo problema


que Paulo combate ao escrever a carta, as heresias:

A igreja estava sob ataque também pelo perigo dos falsos mestres (3.2). O
judaísmo e o perfeccionismo atacavam a igreja. Paulo os chama de
adversários (1.28), inimigos da cruz de Cristo (3.17). Os judeus buscavam e
esperavam obter justiça; Paulo fixa os seus olhos em alvos diferentes e
34

anseia por ganhar a Cristo. Esses falsos mestres viviam como inimigos da
cruz - em seu comportamento, deificando seus apetites, honrando valores
vergonhosos, só pensando nas coisas deste mundo. (3.19). Paulo tem que
lidar também com missionários gnósticos perfeccionista. (LOPES, 2007, p.
23-24).

Dessa forma, os quatros capítulos que compõem a carta aos Filipenses


se resumem. É importante dizermos que diferente das cartas aos Romanos, Efésios
e Colossenses as quais foram escritas como tratado teológico, a igreja de Filipos
recebeu uma carta de caráter pessoal, o sentimento de Paulo em expressar sua
alegria, gratidão, admoestações, encorajamentos configuram essa análise, em
contrapartida, alguns questões dão estrutura para pensar de modo teológico
(LOPES, 2007, p. 25). Por assim dizer, Paulo indiretamente em Filipenses 2.5-11,
faz uma defesa teológica as duas naturezas de Cristo, no intuito de ensinar os
cristãos de Filipos a se inspirarem no exemplo de Jesus. Por essa importância
decorremos esse texto valioso para cristologia.

3.2 Filipenses 2.5-11, uma defesa da divindade e humanidade de jesus e


promulgação da união hipostática em calcedônia

3.2.1 A síntese de filipenses 2.5-11

Alguns eruditos arriscam em afirmar que especificamente dos versos 6 ao


11 é uma composição de um louvor de cristãos da época e que Paulo anexou na
carta. Segundo o teólogo F.F Bruce: “tem sido reconhecido amplamente como um
hino cristão primitivo acerca da humilhação e da exaltação de Cristo.” (BRUCE,
2008, p. 2006), mais adiante em seu comentário, Frederick considera a hipótese que
o próprio Paulo tenha sido o compositor.

O fato importante desse texto de Filipenses é sua abordagem quanto a


pessoa de Cristo, demonstrando tanto a sua divindade como a humanidade, ainda,
segundo Bruce escreve: “Em todo caso, o hino pode bem ser a afirmação mais
antiga remanescente da divisão tríplice da carreira de Cristo: a preexistência, a vida
na terra e a subsequente exaltação.” (BRUCE, 2008, p. 2006). O reverendo
35

Hernandes ainda sintetiza como: “a encarnação, o esvaziamento, humilhação, a


obediência, a morte e a exaltação de Cristo.” (LOPES, 2007, p. 117).

A carta aos Filipenses 2. 5-11 diz:

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,


pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser
igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de
cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que
está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho,
nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus
Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. (ALMEIDA, 1993)

Os versículos anteriores 1-4, o apóstolo estava tratando um problema


sério de divisão naquela igreja. No pensamento paulino, promover a unidade era
essencial para vida prática daqueles irmãos, Hernandes Dias Lopes nota que Paulo:
“corrige os problemas internos da igreja de Filipos não apenas lhes oferecendo
conceitos doutrinários, mas lhes mostrando o exemplo de Cristo. “(LOPES, 2007, p.
122). Sobre esses 4 versículos o pastor Elienai comenta: “Ele convida os cristãos
filipenses a que examinem todas as coisas comparando-as com aquilo que ele havia
ensinado do autêntico evangelho de Cristo.” (CABRAL, 2013, p. 54-55).

O verso 6 é a continuação do versículo anterior que Paulo advertindo os


Filipenses, usa uma palavra grega phroneo, “referindo-se a “sentimento,
pensamento”, trazendo um aspecto exortativo para que a igreja tenha “o mesmo
sentimento” ou que tenha a mesma “atitude” de Cristo Jesus.” (CABRAL, 2013, p.
62). Ralfh comenta que: “é tanto um apelo para que se adote a atitude correta, como
uma exortação para que tal atitude seja posta em prática. A palavra sugere a
existência de uma combinação de disposição mental e funcionamento prático.”
(MARTIN, 2011, p. 104). Jonas Madureira fecha bem essa questão: “é a combinação
da atitude correta com a consciência correta e a vontade correta.” (MADUREIRA,
2017, p.150).

Assim os filipenses são encorajados a fazerem o mesmo que Cristo, que


abnegou sua glória nos céus se humilhando, tornando-se homem. A demonstração
36

está na expressão “subsistindo em forma de Deus” (v.6), esse trecho temos a


informação da sua divindade, Hernandes cita um comentário de William Barclay:

“a palavra “subsistindo”, hyparquein, descreve aquilo que é essencial e que


não pode ser mudado; aquilo que possui uma forma inalienável. Descreve
características inatas, imutáveis e inalteráveis. Assim, pois, Paulo começa
dizendo que Jesus é Deus em forma essencial, inalterável e imutável”
(BARCLAY, 1973 apud LOPES, p, 23).

O texto ainda evidencia a palavra forma, sugerindo ser aquilo que tem
um aspecto, uma semelhança. Por outro lado, em relação a Deus, sua definição de
fato, refere-se à forma imprescindível da divindade, ao continua seu raciocínio
escritor Hernandes Dias descreve:

“Logo Paulo continua dizendo que Jesus “subsistia em forma de Deus”. há


duas palavras gregas para forma: morphe e schema. Elas podem ser
traduzidas por “forma”. Todavia, elas não têm o mesmo significado. Morphe
é a forma essencial de algo que jamais se altera; schema é a forma externa
que muda de tempo em tempo e de circunstancia em circunstância. A
palavra que Paulo usa com referência a Jesus é morphe. Jesus está de
maneira inalterável na forma de Deus; a Sua essência e o Seu ser imutável
são divinos. Werner de Boor faz referencia à bela formulação de Lutero: “O
Filho do Pai. Deus por natureza...”.’’ (LOPES, p, 23).

Millard J. Erickson descreve que morphe "refere-se ao: Conjunto de


características que fazem com que uma coisa seja o que é" (ERICSON, 1992, p.
280). Entendendo assim, que Paulo está afirmando que Cristo nunca deixou sua
natureza divina, ele sempre foi Deus. No evangelho de João 1.1, confirma as
palavras paulinas ao dizer: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e
o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.” e em Colossenses 1.15a
“Este é a imagem do Deus invisível,” (ALMEIDA, 1993).

Outra verdade encontrada versículo 6 é, “não julgou como usurpação o


ser igual a Deus”, a natureza divina de Jesus nunca lhe foi tirada, mas “não a
considerou a sua igualdade com Deus como “ algo que deveria reter
egoisticamente”.” (LOPES, p, 24). A palavra usurpação ocorre somente nesse verso
em toda a Bíblia, que no grego é harpagmos, significando que:
37

Ela provém de um verbo que significa arrebatar ou aferrar-se. Jesus não se


agarrou aos privilégios de Sua igualdade com Deus; antes, abriu mão dela
por amor aos homens. Ralph Martin afirma que para Cristo pré-encarnado,
em vez de imaginar que igualdade com Deus significa obter, ao contrário
Ele deu – deu até tornar-se vazio. (LOPES, p, 24).

Dessa maneira, Jesus com os atributos e a natureza de Deus, não


considerou a arrancar a igualdade com Ele. Elienai Cabral verifica-se que: “Ele não
exigiu nem se apegou a seus direitos de divindade, mas colocou de lado seu poder e
glória, ocultando-se sob a forma de homem.” (CABRAL, 2013, p. 64). F.F. Bruce em
seu comentário bíblico cita o seguinte:

Não existe a questão de Cristo tentar arrebatar, ou apoderar-se da


igualdade com Deus; ele é igual a Deus, porque o fato de ele ser igual a
Deus não é usurpação; Cristo é Deus em sua natureza. Tampouco existe a
questão de Cristo tentar reter essa igualdade pela força. A questão
fundamental é, antes, que Cristo não usou sua igualdade com Deus como
desculpa para auto-afirmação, ou autopromoção; ao contrário, ele a usou
como ocasião para renunciar a todas as vantagens ou privilégios que a
divindade lhe proporcionava, como oportunidade para auto-empobrecimento
e auto-sacrifício sem reservas. (BRUCE, 1992, p. 78)

O versículo 7 continua verberar as verdades da pessoa de Cristo, dentro


desse texto Ralfh Martin separa a expressão, “a si mesmo se esvaziou” ao referindo-
a: “Esta é a outra parte do cenário, no drama do tribunal celestial. Falando-se
estritamente, a “decisão” refere-se à encarnação” (MARTIN, 2011, p. 110). Paulo
utiliza a figura do servo, Fyvie cita:

Cristo “esvaziou-se” ou “despojou-se” mais especificamente, e assumiu a


forma de servo (lit. “a forma de escravo”). Isto não significa que ele trocou
sua natureza (ou forma) divina pela natureza ( ou forma) de um escravo:
significa que ele demonstrou a natureza (ou forma) de Deus na natureza (ou
forma) de um escravo. (BRUCE, 1992, p. 78)

No evangelho do apóstolo João 3.3-5 está escrito um ponto significativo


da vida de Jesus, que ao lavar os pés dos seus discípulos, exemplificou a sua
abnegação, Bruce escreve a respeito:
38

“lavou-os e enxugou-os com a toalha que se havia cingido, e ele o fez


plenamente consciente de sua origem e destino, totalmente cônscio da
autoridade que lhe fora conferida pelo pai. Sua natureza divina foi
demonstrada, e de modo mui digno, naquele ato de serviço humilde.”
(BRUCE, 1992, p. 78)

A expressão “esvaziou-se” vem de uma termologia grega ekenosen


transliterando Kenosis, que por sua vez significa esvaziar, Paulo a utiliza para
designar o esvaziamento de Jesus. De acordo com Ed René Kivitz esse termo em
filipenses 2.7: “esta relacionado a sua divindade, mas precisamente ao deixar de
lado seus atributos divinos sem perder sua natureza divina. Jesus deixa de
depender de seu poder divino para depender do Espírito Santo” (KIVITZ, 2007, n.p).

É importante ressaltarmos nesse ponto, que nos séculos XIX e XX


trouxeram algumas discussões de teólogos ao que se refere a kenosis de Cristo.
Assim marcando o surgimento da Teologia Kenótica, propondo uma equivocada
leitura interpretativa da expressão, afirmando que Cristo se esvaziou de seus
atributos divinos ao encarnar (FERREIRA, MYATT 2007, p. 500). Afirmando possuir
apenas a natureza humana, negando a divina enquanto esteve na terra, Donald
Macleod expõe:

O primeiro expoente notável desta teoria foi o teólogo alemão [Gottfried]


Thomasius, cujo Christi Person und Werk [A pesssa e obra de Cristo] foi
publicado em Erlangen entre 1853 e 1861. Thomasius argumentava que, ao
encamar-se, Cristo abandonou os atributos relativos à divindade, tais como
onipotência e onisciência, embora retendo os atributos essenciais de
santidade e amor. Como resultado dessa limitação, sua vida sobre a terra
foi vivida inteiramente dentro das condições da humanidade. [Wolfgang
Friedrich] Gess, compatriota de Thomasius, foi além, argumentando que o
kenosis era absoluto, envolvendo um abandono dos atributos essenciais,
bem como dos relativos. Essa auto-redução afetou até as relações internas
da Trindade: durante a vida terrena de Cristo, tanto a geração eterna do
Filho pelo Pai como as funções cósmicas do próprio Filho passaram por
uma interrupção temporária. (MACLEOD 2007, p. 221-222)

Franklin menciona que: “essa abordagem cristológica foi criticada na


mesma época, por outro teólogo luterano, Issak August Domer, que percebeu que
esta teoria introduziria mudanças na natureza de Deus”. (FERREIRA, MYATT 2007,
39

p. 500). Ao prosseguindo no relato Ferreira evidencia a aceitação dos ingleses


dessa teoria:

“Como se argumentou, a doutrina da imutabilidade de Deus, por exemplo,


seria comprometida por esta abordagem. Só que as teorias kenóticas se
tomaram bem populares, não só na Alemanha, mas também na Inglaterra.”
(FERREIRA, MYATT 2007, p. 500).

Silas Daniel ao tratar a respeito: “Essa teoria não erra ao afirmar que
houve ekenosen, mas erra ao tentar definir o que teria sido a ekenosen.” (DANIEL,
2010, n.p). Salienta ainda que a Kenosis aconteceu, mas não como os teólogos
kenoticistas dizem. Nas palavras de Macleod: “Na verdade, muito da linguagem do
kenoticismo é monofisita, partindo da premissa de que a ideia de duas consciências
e duas mentes e duas vontades em uma pessoa são simplesmente absurdas.”
(MACLEOD 2007, p. 226). Também decorrendo sobre as críticas a essa corrente
teológica:

“A teoria kenótica colocaria uma cunha fatal entre o Jesus da história e o


Cristo da fé. O Jesus terreno não teria nenhum dos atributos divinos, não
realizaria nenhuma função divina, não desfrutaria de nenhuma prerrogativa
e não possuiria nenhuma percepção divina. Para os kenóticos, como Ritschl
coloca,"Cristo, pelo menos em sua existência terrena, não possuía
nenhuma divindade".” (MACLEOD 2007, p. 227)

Retomando a discussão sobre a kenosis propriamente do texto bíblico o


qual Paulo de fato quiser dizer, o pastor Elienai Cabral, de forma peculiar profere:

Ele a si mesmo esvaziou-se, despojou-se, privou-se da glória de divindade


para tomar a forma de homem. Ele não se esvaziou da essência da sua
divindade, mas esvaziou-se dos atributos de sua divindade para poder
manifestar-se como “homem”. Esse esvaziamento não significou abdicação
ou rejeição àquilo que sempre lhe pertenceu. Ele tão somente fez sua
kenosis sem perder o direito de reassumir sua divindade depois de sua
conquista maior: a salvação do homem pecador. A cruz foi o marco maior
de sua humilhação como homem, porque Ele entendeu que o mistério do
amor divino seria revelado plenamente quando Ele, sendo Deus, se
tornasse igual ao homem, entrasse na sua estrutura pessoal e moral, para
sentir o seu sofrimento e poder salvá-lo mediante sua obra expiatória.
(CABRAL, 2013, p. 64-65).
40

Outro autor importante, Wilian Hendriksen em sua obra, enumera quatros


pontos das quais ele chama de inferências naturais que Jesus se esvaziou. “(1) Ele
renunciou a sua relação favorável à lei divina, (2) Ele renunciou suas riquezas (3)
Ele renunciou sua glória celestial, (4) Ele renunciou o livre exercício de sua
autoridade.” (HENDRIKSEN, 2005, p.p 477-478). A Kenosis de Jesus precisa ser
entendida que seu estado de humilhação, em nenhum momento, Ele perdeu sua
divindade. Acrescenta ainda o escritor Elianai Cabral:

Ele não trocou a sua natureza divina pela natureza humana, mas renunciou
às prerrogativas inerentes de sua divindade para assumir 100% as
prerrogativas humanas. Ele não fez de conta que era homem. Ele foi 100%
homem, como era 100% Deus. (CABRAL, 2013, p.65).

Prosseguindo no hino de filipenses, a expressão “assumindo a forma de


servo, tornando-se em semelhança de homens” subsequente ao termo Kenosis,
Hernandes cita:

Ele assumiu a forma de servo, Ele serviu.[...] Ele, de fato, foi servo! A única
pessoa no mundo que tinha razão de fazer valer os Seus direitos, os
renunciou.[...] Jamais algum servo serviu com mais imutável lealdade,
abnegação, devoção e irrepreensível obediência do que Jesus.[...]. O que
Paulo quer dizer quando afirmou que Cristo Jesus se tornou em
semelhança de homens e foi reconhecido em figura humana? Aquele que
era em forma de Deus e era igual a Deus desde toda a eternidade tomou a
forma de um homem num particular momento da história.[...] Ele continuou
subsistindo em forma de Deus em Sua natureza essencial a despeito de
Sua encarnação. Ele conservou a natureza essencial de Deus mesmo
depois de se tornar à semelhança de homens. (LOPES, p, 130).

Levando-se em conta o que foi observado, o escritor Jonas acrescenta o


seguinte: “Paulo não diz que Deus se esvaziou e depois exaltou, mas diz que Cristo
Jesus “esvaziou-se a si mesmo” e que, depois de ele ter sido obediente até a morte
e morte de Cruz.” (MADUREIRA, 2017, p.145).
41

O estudioso Hendriksen, faz duas perguntas: “Quando Jesus veio em


carne, como foi considerado pelos homens? E o que viram nele ou como o
classificaram?” (HENDRIKSEN, 2005, p.481). Ele retoma respondendo:

em sua apreciação, não viram nele mais que um mero ser humano, igual a
eles em muitos aspectos[...] Mas, ainda que estivessem certos em
reconhecer sua humanidade, estavam errados em dois aspectos:
Rejeitaram a. sua humanidade impecável e b. sua deidade. E ainda que
toda sua vida, particularmente suas palavras e atos poderosos,
manifestasse “a divindade velada na carne”, todavia, de um modo geral,
rejeitaram suas reivindicações e o odiaram ainda mais por causa delas (Jo
1.11; 5.18; 12.37). Cumularam-no de escárnio, de forma que “era
desprezado e o mais rejeitado entre os homens ...” (Is 53.3).[...] Além do
mais, sua obediência não conheceu limites: até à morte. Nessa morte ele,
atuando tanto como Sacerdote quanto como a oferta pela culpa, deu-se a si
mesmo como um sacrifício expiatório pelo pecado (Is 53.10). Por isso, essa
morte não foi uma morte comum, mas foi como disse Paulo: morte numa
cruz. (HENDRIKSEN, 2005, p.481-482).

Por todos esses aspectos é importante citar 1 Pedro 2.24 que diz:
carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para
que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes
sarados. (ALMEIDA, 1993). “A morte de cruz foi o clímax da humilhação que Jesus
suportou, constituindo-se na vergonha maior que um condenado podia passar.”
(CABRAL, 2013, p.66). Ao enfrentar o calvário e a dolorosa morte na cruz, Jesus
desceu o ponto mais baixo da humilhação, mas Paulo faz uma transição ao terminar
o hino com a sua exaltação nos versículos 9 a 11, vale destacar o que Hernandes
diz a respeito:

“Fica claro que essa elevação de Jesus não foi a restituição da natureza
divina, porque Ele jamais a perdeu, mas foi a restituição da gloria eterna
que tinha com o Pai antes que houve mundo, da qual voluntariamente havia
se despojado (Jo 17.5,24)” (LOPES, p, 135).

Ainda nesse contexto da exaltação de Cristo, posterior a sua kenosis


também o renomado comentarista William escreve:
42

E assim ele completa a menção do nome que está acima de todo nome: e
toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus o
Pai. Conferir Isaías 45.23; Romanos 14.11. Não só renderão plena
reverência, mas, ao agirem assim, também reconhecerão e proclamarão
publicamente o soberano senhorio de Jesus. Confessarão que JESUS
CRISTO (é) SENHOR, KYPIOS IHSOYS XPISTOS. (HENDRIKSEN, 2005,
p.488).

O pastor Elienai conclui: “O cristianismo só tem valor por aquilo que crê. A
confissão de que Jesus Cristo é o Senhor se constitui no ponto convergente da
igreja” (CABRAL, 2013, p. 70). Conseguinte, Hendriksen traz algumas questões
conclusivas das quais destacamos essa:

As duas naturezas de Cristo, ainda que unidas em sua pessoa, são e


permanecerão sempre claramente distintas. Ele, que existe eternamente
como Deus, tomou sobre si a natureza humana, e agora possui ambas. A
rejeição da doutrina das duas naturezas está em franca contradição com o
claro ensino de Filipenses 2.5-11. (HENDRIKSEN, 2005, p.502).

A importante defesa da divindade de Jesus em consonância a sua


humanidade é compreendida nessa inspiração de Paulo, o qual deixou registrado na
mente dos irmãos filipenses para uma vida prática tomando o exemplo do Senhor e
que ultrapassou os séculos para também nos reverti, contra as heresias que são
“meras fantasias ou a especulações extravagantes”. (HENDRIKSEN, 2005, p.502).

3.2.2 Promulgação da união hipostática em Calcedônia

Além do texto bíblico de Filipenses 2.5-11 o qual expusemos um fato


relevante para cristologia e que precisamos brevemente é relevante destacar, foi o
que aconteceu na cidade grega de Calcedônia. De acordo com a história do
cristianismo, os primeiros séculos da Igreja foram responsáveis por formulação e
promulgação de credos cristológicos importantes e que até hoje são aceitos. Nesse
período as questões e debates sobre Cristo, alcançaram níveis de compreensões
controversas. (GRUDEM, 2001, p. 263). A realidade da natureza humana e divina
em uma única pessoa trouxe em alguns líderes da igreja um entendimento errôneo,
dos quais foram rebatidos e rejeitados aos longos dos concílios de Niceia em 325
43

d.C, Constantinopla no ano 381 d.C, Éfeso em 431 e Calcedônia 451. ( SHELLEY,
2018, p.137). Franklin Ferreira ratifica:

Nos primeiros cinco séculos, os pais da igreja lutaram para entender quem
é Jesus Cristo, como revelado nas Escrituras. Ele é Deus? Ele é humano de
fato? Como Jesus pode ser tanto humano como divino? Como essas duas
naturezas se relacionam na pessoa de Cristo? Em vários concílios ocorridos
nesta época, a igreja chegou a conclusões que se tomaram padrão para a
fé cristã. (FERREIRA apud MYATT, 2007, p. 486)

Continuando a avaliação desse período, “mostrou-se decisivo, formulando


diretrizes para a discussão da pessoa de Cristo” (MCGRATH, 2005, p. 412).
Seguindo essa sua análise Alister compreende que:

O desafio para os escritores patrísticos era basicamente o desenvolvimento


de um esquema cristológico unificado, que reuniria e integraria as várias
sugestões, declarações, imagens e modelos cristológicos encontrados no
Novo Testamento. (MCGRATH, 2005, p. 412)

Diante desse cenário, inúmeras heresias foram desenvolvidas até chegar


ao Concilio de Calcedônia o qual vai definir a união hipostática ou união mística de
Cristo. Em sua Teologia Sistemática Franklin e Alan enumeras em grupos essas
controvérsias da seguinte forma: o primeiro grupo fazem parte dos que negavam a
humanidade de Cristo, os docetistas, apolinarianismo e o eutiquianismo, nos
segundo grupo o ebionismo, o adocionismo e o arianismo eram contra a divindade
de Jesus, no terceiro o nestorianismo recusou a união pessoal de Cristo e o último
grupo negam a distinção entre o pai e o filho, são eles sabelianismo e o modalismo.
(FERREIRA; MYATT, 2007, p. 487-488)

Partindo dessas premissas, as crises cristológicas se desenrolaram e


intensificaram no século V, precisando então que Imperatriz Pulquéria e o Imperador
Marciano instituísse um novo concílio, agora na cidade de Caldedônia, em 8 de
outubro de 451, na Basílica de Santa Eufêmia, contando com a presença de 520
bispos, deu-se o início. ( (FERREIRA; MYATT, 2007, p. 487-488). Nesse contexto a
discursão estava em volta de dois pensadores Nestório e Êutico, o Dr. Heber C.
Campos enfatiza que:
44

Calcedônia não pendeu para nestorianismo, que ensinava haver duas


pessoas em Cristo, nem a fusão monofisita de uma só natureza no
Redentor. A Solução viria a mostrar um Cristo verdadeiramente divino e
verdadeiramente humano, mas o segredo estaria na doutrina da unio
personalis, que foi a força da cristologia de Calcedônia. (CAMPOS, 2005, p.
54).

O termo união hipostática, foi pela primeira vez, mencionado na Segunda


carta de Cirilo refutando Nestório escrevendo o Logos uniu a carne a si próprio.
Donald Macked aborda:

Ele escreve, " demonstra que a Palavra de Deus foi kath’ hypostasin, unida
à carne. Contudo, há dúvida sobre se Cirilo dava muita importância a esse
termo. Um dos seus editores mais recentes, Lionel R. Wickham, argumenta,
por exemplo, que embora ele tenha inventado, "o termo não era para ele um
termo técnico, ele o abandonou rapidamente. É certamente duvidoso se
Cirilo o usou com a precisão que ele veio a possuir mais tarde. Wickham,
por exemplo, traduz kath' hypostasin como "substancialmente" na
passagem da Segunda carta a Nestório citado anteriormente, e isso é
justificado pelo fato de que Cirilo não esboçou uma distinção exata entre
hypostasis e physis. Se a união era uma kath' hypostasin ela tambem era,
como vimos, uma união de mia physis. ( MACLEOD, 2007, p. 203 )

Mesmo que o termo tenha contribuído para o monofisismo dentre alguns


discípulos de Cirilo, e perdurar dúvidas concernente a sua origem, é inegável que a
ideia dentro do termo união hipostática, firmou como uma expressão importante na
teologia cristológica. Compreende-se então que em 25 de outubro de 451, mesmo
diante de deliberações, o imperador Marciano faz a leitura da formulação da pessoa
de Cristo diante das controversas e tornando um dos credos mais importante para a
igreja cristã, assim leu:

Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que
se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo,
perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade;
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma
racional e de corpo, consubstancial (homoousios) ao Pai, segundo a
divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo
semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo
Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a
humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria,
Theotokos [“mãe de Deus”]; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor,
45

Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis,


imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo
algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada
natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência;
não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho,
o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas
desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus
nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu. (451 aput JONES,
2018, p. 74-75)

Fazendo uso desse credo de calcedônia, daquele momento em diante se


firmou uma definição clara que contribuiu para cristologia ortodoxa, "o conceito de
que duas naturezas completas foram unidas na Pessoa do Senhor Jesus. A parte
divina era idêntica à divindade do Pai. A parte humana, idêntica à nossa."
(HORTON,1996, p. 157). Diante dessas considerações, acrescentemos o Donald
Macleod em seu livro escreve:

O termo "união hipostática" resume três verdades: que Cristo é uma pessoa;
que a união entre suas duas naturezas surge do fato de que elas pertencem
a uma e mesma pessoa; e que essa pessoa, o Filho de Deus, é o agente
por detrás de todas as ações do Senhor, o Locutor de todas suas elocuções
e o Sujeito de todas as suas experiências.

Apesar da complexidade do tema desse capítulo e sentimos que


poderíamos escrever mais a respeito, porém, propusemos que a objetividade
acompanhasse a proposta desse trabalho. Ao delimitar em Filipenses 2.5-11, para
uma defesa da pessoa de Cristo, estamos somente olhando para um ponto da
imensidão de testemunhas que escreveu a respeito da sua natureza humana e
divina alguns evidenciou filho do homem, outros como o Verbo de Deus. Mas
poucos como Paulo conseguiu descrever tão bem nesse hino isso tudo, e
posteriormente homens iluminados pelo Espirito Santo fizeram obras memoráveis
comentando esse texto valioso para a fé cristã.

Achamos importante terminar essa parte do capítulo, evidenciando de


forma rápida o evento de Calcedônia, que promulgou o credo cristológico diante das
heresias, das quais iremos abordar no capítulo seguinte.
46

4 A IMPORTÂNCIA DE FILIPENSES CONTRAS AS HERESIAS

Nesse capítulo, de forma breve recordaremos algumas heresias históricas


da Igreja Cristã, no período dos 5 primeiros séculos, alguns líderes e grupos
entendiam de forma desvirtuada a pessoa do Senhor Jesus quanto a suas duas
naturezas, das quais trouxeram divisões e trabalhosos debates em concílios como
salientamos em páginas anteriores. Mostraremos que as heresias sobreviveram ao
tempo e na atualidade possuem novas roupagens em vários segmentos religiosos
pelo mundo e que algumas se intitulam cristãs, sendo que destacaremos os arianos
modernos que estão enrustidos nas Testemunhas de Jeová. Por fim, mostraremos
que Paulo em Filipenses 2 5-11 se dispõe como uma indiscutível defesa para a
Igreja, contra esse movimento herético rusellita.

4.1 Breve história de algumas heresias cristologicas

Durante o período apostólico, já existiam sinais de controvérsias quanto a


pessoa de Cristo. Bruce L. Shelley aborda um exemplo no Evangelho de João, é
possível afirmar que o apóstolo esteja respondendo a dois grupos distintos os
ebionitas e os gnósticos:

Um grupo de leitores que ele tem vista não convencido de que Jesus era
Deus em sentido pleno. Para esse grupo, o autor destaca que a vida de
Jesus só pode ser explicada pelo fato de que, em Cristo, o verbo eterno de
Deus foi encarnado.[...] no entanto, João tinha outros leitores que
precisavam ser convencidos da plena humanidade de Cristo, e estes
evidentemente consideravam Cristo uma aparição de Deus sobre a terra em
forma humana, mas sem carne e sangue reais. (SHELLEY, 2018, p.p, 66-
67).

Levando-se em consideração esses aspectos, um grupo se baseava que


Jesus era um ser meramente humano e o outro consistia em um Ser celestial
apenas. Em ambos os casos, são os primeiros questionamentos ou entendimentos
controversos acerca da identidade de Jesus que estavam sendo combatidos pelos
escritos de Joaninos. Alister McGrath (2014) vai assegurar que um dos desafios da
igreja primitiva seria estruturar a suas crenças em meio ao surgimento dessas
47

controvérsias, salienta que “um dos exemplos mais importantes do desenvolvimento


doutrinal é encontrado na doutrina cristã da encarnação” (MCGRATH, 2014,p.p, 33-
35). Afirma ainda:

a igreja sempre reconheceu que Jesus de Nazaré era Deus encarnado[...]


Contudo, a exploração intelectual do que isso implicava levou mais de três
séculos, envolvendo o exame crítico de uma gama extensiva de trabalho
intectual para dar sentido ao que a igreja já havia descoberto ser
verdadeiramente.[...] O problema era construir um embasamento intectual
que fizesse justiça ao que já era conhecido sobre ele. E desse modo,
inevitavelmente, caminhos errados foram tomados. (MCGRATH, 2014, p.p,
35-36).

Nesse trabalhoso e demorado desdobramento que a história da igreja


passou em responder intelectualmente suas crenças e formar suas doutrinas, adveio
as heresias como já salientamos. McGrath nota que: “A heresia deve, assim, ser
entendida como uma visão intectualmente defeituosa da fé cristã, tendo suas
origens dentro da igreja”. (MCGRATH, 2014, p. 108). Desse pressuposto mais
adiante em seu livro vai dizer ainda “ pode-se mostrar que a igreja primitiva via a
heresia como perigosa e potencialmente destrutiva para a fé.” (MCGRATH, 2014, p.
125).

Como destacamos o Evangelho Joanino, já tinha essa disposição de


refutar heresias. Seguindo um quadro de algumas controvérsias no decorrer dos
primeiros séculos da igreja é importante mostrar como essas compreendiam a
respeito de Cristo. Os ebionitas eram um grupo de judeus-cristãos do primeiro
século que achavam ser necessário a obediência das Lei Mosaicas, posteriormente
a conversão dos gentios a Cristo. Desse modo esses cristãos eram ensinados a
colocar Jesus no contexto do judaísmo. A pessoa de Jesus para eles não passava
de um profeta hebreu reformador. (MACGRATH, 2014, p.141). O pastor Esequias
Soares em seu livro traz alguns aspectos importantes:

O nome "ebionita", segundo Tertuliano, veio de um certo Ebion, gnótico que


sucedeu Cerinto (Contra todas as heresias,III), mas Eusébio de Cesaréia
afirma que o nome veio por causa da manifestação da "pobreza de seu
intelecto".[...] Pois pregavam a pobreza com base em Mateus 5.3. Eusébio
de Cesaréia afirma que eles criam em Jesus como o seu Messias, mas
negavam a sua deidade, e eles havia os que negavam a concepção virginal
de Jesus, no ventre de Maria, por obra do Espirito Santo. Viviam o ritual da
48

lei e os costumes judaicos, eram hostilizados tanto por judeus quanto pelos
cristãos. (SOARES, 2008, p. 64)

Esse movimento até o final do primeiro século, eram numerosos, mas ao


decorrer do tempo foram subsistindo até o século V e tornando insignificantes para a
história, devemos considerar ainda que os ebionistas se dividiam em três grupos:
ebionismo farisaicos, os gnósticos ou essênios e os nazarenos. (SOARES, 2008, p.
64).

Outra controvérsia que se desenhava em frente a integridade da fé em


Cristo, o gnosticismo; um termo oriundo da palavra grega gnosis, que é definida por
conhecimento. Os seus adeptos afirmavam que a matéria era má e que Jesus nunca
poderia ter assumido um corpo humano, por essa causa. A encarnação de Cristo é
negada e bem como a salvação dos homens pela sua morte e ressureição, sendo
que a salvação é por uma ação de um conhecimento místico. (SOARES, 2008, p.
61). Erudito em heresiologia Pastor Esequias comenta também sobre os gnósticos:

Eles eram grupos muito diversificados em suas doutrinas, pois diferiam de


lugar para lugar, e em seus periodos. Essa doutrinaera nada mais que um
enxerto das filosofias pagãs nas doutrinas vitais do cristianismo. Negavam o
cristianismo histórico, pois segundo essa doutrina, o Senhor Jesus não teve
um corpo, isto é não veio em carne, o seu corpo seria uma mera aparencia,
que chamavam de corpo docético. Seu período áureo foi entre 135-160
d.C., mas o gnosticismo já dava trabalho às igrejas da época dos apóstolos.
. (SOARES, 2008, p.p 61-62).

Em meados do segundo século, aparecia outro movimento herético o


monarquianismo, que se imponha ao monoteísmo cristão. Duas divisões faziam
parte dos monarquialistas: os dinâmicos diziam que Jesus era filho de Deus por
adoção; e os modalistas tinham a Cristo como uma forma temporal de Deus.
(SOARES, 2008, p.64). Em linhas gerais, o escritor Soares apresenta:

os dinâmicos consideravam Jesus apenas como um homem que nasceu de


uma virgem, de vida santa, que sobre ele desceu o Espirito Santo por
ocasião do seu batismo no rio Jordão. Alguns dos seus discípulos rejeitam
qualquer direito divino em Jesus, mas outros afirmavam que Jesus teria se
tornado divino, em certo sentido, por ocasião da sua ressurreição.[...] Os
monarquianistas modais não negavam a divindade do Filho e nem do
Espirito Santo, mas sim a distinção dessas pessoas,[...] visto que esse
49

ensina a unidade composta de Deus em três pessoas distintas. Os


modalistas pregavam a unidade absoluta de Deus. [...] Por volta de 215,
Sabélio já ensinava suas doutrinas em Roma. Este bispo modalista
ensinava que o Pai, o Filho e o Espirito Santo não eram três pessoas
distintas, mas apenas os três aspectos do Deus único. (SOARES, 2008, p.p
65-66)

Mas adiante no século IV, Alister Mcgrath, compreende que foi um


momento particular para a igreja que teve que explorar mais, na defesa da pessoa
de Cristo em duas categorias: as religiosas e filosóficas. Sendo o arianismo que
tornou esse período importante (MACGRATH, 2014, p.179). Um presbítero da igreja
de Alexandria, Ário tinha posições teológicas controvertidas acerca de Jesus,
basicamente três declarações são resumidas, Alister comenta:

1.O Filho e o Pai não têm a mesma essência (ousia). 2. O Filho é um


ser criado ktisma ou poiema, embora, em termos de origem e grau, ele
deva ser reconhecido em primeiro lugar entre os seres criados. 3.
Embora o Filho seja o criador dos mundos, existindo, portanto, antes
deles e de qualquer coisa, houve um tempo quando o Filho não existia.
(MACGRATH, 2014, p.p.180-181).

O que tiramos das controvérsias ariana com maior relevância, é sua


afirmação que Jesus não era divino, mas um Ser criado. “Dizia que o Senhor Jesus
não era da mesma natureza do Pai, era criatura, criado do nada, uma classe divina
de natureza inferior, nem divina e nem humana, uma terceira classe entre a deidade
e a humanidade.” (SOARES, 2008, p.67). Héber Campos em seu livro as duas
naturezas do Redentor, cita uma carta de Ário que envia para o Bispo Alexandre de
Alexandria, nela evidencia as suas concepções, o que realmente pensava, assim
escreveu:

"Reconhecemos um Deus, que é o único não-gerado, o que é auto-


existente, único sem começo, o único verdadeiro, o único possuindo
imortalidade, o único sábio, o único bom, o único soberano, o único juíz de
todos etc. Visto que ele é singular, transcendente e indivisível, o ser ou
essência da divindade não pode ser compartilhada ou comunicada. Pois,
para comunicar sua substância a alguém outro ser, conquanto exaltado,
implicaria que ele é divisível e sujeito a mudança, o que é inconcebível.
Além disso, se qualquer outro ser fosse participar na natureza divina em
qualquer sentido válido, isso resultaria numa dualidade de seres divinos,
visto que a divindade por definição é singular. Portanto, qualquer coisa mais
que exista deve ter vindo à existência, não por qualquer comunicação do
50

ser de Deus, mas por um ato de criação de sua parte, i.e., deve ter sido
chamado à existência do nada" (CAMPOS, 2003, p. 143)

Apolinário nomeado bispo de Laodicéia em 361 d.C., foi o primeiro


teólogo a ensinar acerca das duas naturezas de Cristo. (SOARES, 2008, p.68). Ele
vai afirmar que Cristo teria um corpo humano, mais sua mente era unicamente
divina, dando uma ênfase na divindade e diminuindo a humanidade, assim surge a
heresia do Apolinarianismo. Wayne em seu Manual de Teologia Sistemática cita
que Apolinário “ensinou que a pessoa única de Cristo possuía um corpo humano,
mas não uma mente humana ou espírito humano, e que a mente e o espirito de
Cristo provinham da natureza divina do Filho de Deus.” (GRUDEM, 2001, p. 263).

O Nestorianismo é outra controvérsia que teve que ser combatida,


Nestório entre 428-431 serviu como bispo em Constantinopla. “ensinava a existência
de duas pessoas separadas em Cristo, uma humana e uma divina” (GRUDEM,
2001, p. 264). Franklin Ferreira vai dizer ainda:

Nestório, ensinou que Maria não era "Mãe de Deus" (theotokos), afirmando
que Maria não deu à luz o verdadeiro Deus. Antes, ela deu à luz o Jesus
humano, cuja humanidade - embora unida ao Logos divino - devia ser
entendida como separada e distinta de sua natureza divina. Para Nestório,
ocorreu em Cristo uma união mecânica de suas duas naturezas.
(FERREIRA; MYATT, 2007, p. 488)

Vale destacar também o monofisismo ou eutiquismo foram considerados


um ensinou herético no V século ao defender que Cristo havia somente uma
natureza, a divina. Monofisismo vem de duas palavras gregas monos e physis que
significa uma natureza. (GRUDEM, 2001, p. 265).O expoente dessa controvérsia foi
Êutico exercia liderança no monastério em Constantinopla. " Ele afirmava que a
natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana. Cristo teria somente uma
natureza após a união, a divina, revestida de carne humana." (FERREIRA, XXX, p.
487).

Convém dizermos que a cristologia dos primeiros concílios em frente as


heresias que Bruce L. resume: “ Em Jesus Cristo, a verdadeira divindade [em
oposição a ário] e a plena humanidade [ em oposição a Apolinário] estão
inseparavelmente unidas em uma única pessoa [ em oposição a Nestório] sem se
51

confundir [em oposição a Êutico]”. (SHELLEY, 2018, p. 137). E dentro essas


heresias que se levantaram contra a divindade de Jesus, nós enfatizaremos o
arianismo na atualidade.

4.2 As Testemunhas de Jeová: Arianos dos dias modernos

É necessário observar sobretudo o que Edmund Burke, filósofo irlandês


no século XVIII escreveu: “ Aqueles que ignoram a história estão destinados a
repeti-la”. (1700, MCGRATH ipud, BURKE, 2014, p. 5). A história da Igreja nos
mostra as extensas listas de desafios enfrentados no passado quanto a defesa da
cristologia. Atualmente não é diferente, a luta é mais acirrada, em encontra partida
ao observar o passado, são as mesmas heresias em novos grupos e que a igreja
não está observando. Dr. Rick Warren explica:

O fato de a maioria dos crentes ter pouco ou nenhum conhecimento da


história da igreja impede-os de reconhecer os erros do passado, que
reaparecem em cena após já terem sido refutados e rejeitados pelas antigas
gerações de cristãos ortodoxos. (MCGRATH, 2014, p. 5)

Salienta ainda “o que se passa numa geração, no final das contas, volta
aparecer em outra geração. O nome ou rótulo da heresia pode mudar, mas
provalvelmente o erro é o mesmo cometido...” (MCGRATH, 2014, p. 6).

As Testemunhas de Jeová uma seita que se auto intitula cristã, fundada


por um jovem americano Charles Taze Russell em 1870, sua cristologia se baseia
no arianismo. Assim como o “Ário afirmou até o último dia de vida que Jesus era
uma criatura, isto é, havia sido criado por Deus como todas as outras coisas”
(MENESES, 2009, p.158). Dessa forma, os russellistas são caracterizados em uma
nova roupagem dessa primitiva heresia.

Esse movimento herético por vezes se defende de acusações de que são


uma seita e que não são arianos. O escritor Aldo Menezes com base nas
publicações das Testemunhas de Jeová, formulou um credo com 10 pontos que
mostram as suas heresias, sendo que o segundo é o que nos mostram a natureza
do pensamento de Ário que Cristo foi criado, e assim mostrando a semelhança do
52

que movimento ensina em suas reuniões e nas suas milhares publicações,


vejamos:

Cremos em Jesus Cristo, seu Único Filho, nosso Senhor. Ele é o


primogênito de toda a criação, porque foi o primeiro a ser criado por Jeová;
portanto, não é eterno, de eternidade a eternidade, da mesma forma que o
Pai; ele é o unigênito, pois foi o único criado diretamente pelas mãos de
Jeová; ele é um deus, assim, como Satanás é um deus; ele é "Deus
poderoso", mas não todo-poderoso; ele é, desde que foi criado, inferior ao
Pai; ele é o arcanjo Miguel, que foi transferido para o ventre de Maria e se
fez homem; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi pregado numa estaca de tortura
(não numa cruz); desceu à sepultura, onde esteve inconsciente, em estado
de inexistência, e ao terceiro dia ressuscitou espiritualmente(não
fisicamente); subiu ao céu, está assentado à direita de Jeová e já voltou
invisivelmente em 1914, esperando o momento para começar a batalha de
Armagedom. (MENESES, 2009, p.p 23-24)

Dessa forma é chocante para os que conhecem os credos do cristianismo


a saber apostólico, o niceno-constantinopolitano, o atanasiano e o calcedônio em
comparação com dos russullistas. Aldo vai dizer: " Algumas de suas crenças são
estranhas à fé cristã; outras já bem conhecidas, pois não passam da ressurreição de
antigas heresias." (MENESES, 2009, p.25)

A sede mundial das Testemunhas de Jeová está localizada no Broklyn,


Nova Iorque nos Estados Unidos da América. Todas as suas doutrinas e ordenanças
são produzidas e distribuídas a partir dessa localização. Estão em 230 países, no
montante de mais de 7 milhões de adeptos, diante de seu intenso trabalho de porta
em porta em algumas localidades seu crescimento é considerável, Aldo vai dizer
ainda que:

Em seu principal evento anual, a Refeição Noturna do Senhor - na qual


celebram a morte de Cristo-, a assistência mundial ultrapassa o dobro de
seus seguidores, o que torna aqueles que visitam seus salões do reino
(locais de reunião) adeptos em potencial (as estatísticas oficiais de agosto
de 2008 indicam uma assistência de 17.790.631 pessoas; no Brasil, a cifra
atingiu 1.1646.123). (MENESES, 2009, p.45)

Percebemos nessa seita a força gigantesca do parque editorial, que


através da Editora Torre de Vigia produzem publicações em grande escala em sua
gráfica, totalizando mais de 15 mil toneladas anualmente para o todo o globo. Aldo
53

cita: " Contando com mais de 110 filiais e congêneres espalhadas mundo afora, a
Torre de Vigia imprime milhões de publicações, entre livros, revista, folhetos,
brocuras etc., em mais de 480 idiomas." (MENESES, 2009, p.46)

Com esse volume considerável de impressões, suas doutrinas antibíblicas


cada vez mais são disseminadas e a divindade de Jesus sendo negada em
centenas de pessoas, outro dado é que a tiragem da tradicional revista A Sentinela
quinzenalmente é de 37 milhões de exemplares para mais de 170 idiomas. Outra
revista que dever ser mencionada é A Despertai! mesmo sendo mensal sua
publicação passa de 36 milhões de unidades, distribuídas em mais de 80 idiomas.

A publicação a verdade que conduz à vida eterna, lançado em 1968,


entrou para o Guinness Book em 1994, atingindo uma marca de 107.619.787 de
exemplares em 117 idiomas, por circular em projeção mundial por canais não
comerciais. a Tradução do Novo Mundo, a versão da Bíblia que eles criaram e
adaptaram os textos para sustentar suas doutrinas, até 2008 tinham totalizado
aproximadamente 160 milhões de exemplares para mais de 70 idiomas.
(MENESES, 2009, p.p 46-47)

Diante desse contexto, ao redirecionar para a questão da divindade de


Cristo, convém destacar textos bíblicos que as testemunhas de Jeová utilizam para
negar que Jesus não é Deus. Conforme o pastor Esequias Soares em seu livro
testemunhas de Jeová: Comentário Exegético e Explicativo, vai mostrar 9
argumentos e os versículos para fundamentar essa negação, assim são
enumerados:

" 1. Os russelitas dizem que Jesus não é Deus porque existem coisas que
ele não sabe. Esse argumento da STV é com base em Mateus 24.36, que
diz: "Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o
Filho, mas unicamente meu Pai". Os melhores manuscritos não constam a
expressão: "nem o Filho, mas não pro isso que vamos deixar de acreditar
na autencidade do texto.[...] 2. Segundo os russelitas, Jesus disse ser
inferior ao Pai, logo não pode ser ele Deus. A STV ensina isso baseada em
João 14.28, que diz: Ouviste que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se
me amásseis, certamente exultarieis por ter dito: Vou para o Pai; porque o
Pai é maior do que eu". Os arianistas se apegaram com muita garra nesse
versiculo para negar a divindade de Cristo, [...] A humanidade de Cristo, ou
seja, está subordinação ao Pai dirigida pelo Espirito Santo, foi uma condição
para o seu messiado, e isso não neutraliza a sua deidade.[...] 3. Os
russelitas argumentam que Deus nunca foi visto por alguém, o Filho foi, logo
ele não pode ser Deus. As "testemunhas de Jeová" baseiam esse
argumento em João 1.18, que diz: "Deus Nunca foi visto por alguém. O
54

Filho Unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer". [...] e o texto
aqui diz que Deus nunca foi visto por homem algum.[...] 4. Como o Filho
pode ser Deus visto que a Bíblia diz que Deus é a Cabeça de Cristo? A STV
se utiliza desse argumento dando uma falsa e inconsistente interpretação
ao texto de 1 Corintios 11.3, que diz: "Mas quero que saibais que Cristo é a
cabeça de todo varão, e o varão a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de
Cristo" Este texto diz que o Pai dirigiu o Filho, e Cristo dirige o homem e o
homem a mulher.[...] 5. O próprio Filho se sujeitará ao Pai na eternidade. As
"testemunhas de Jeová", aqui se baseim num texto que a primeira vista
parece prejudicar a divindade do Filho, o texto diz: "E, quando todos as
coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará
aquele que todas as coisas lhe sujeitou, para deus seja tudo em todos"(1 Co
15.28).[...] A sujeição não é a do Filho como Filho, mas como Filho
encarnado e assim não envolve a desigualdade da essência e da
natureza.[...] (SILVA, 1991, p.p 143-147)

É interessante reiterar que esse movimento herético, adulterou as


Sagradas Escrituras. Para eles a única confiável e reconhecida, é a Tradução Novo
Mundo e as outras são questionáveis, por isso, tornando desafiador para a igreja a
defesa da cristologia, o apologista Aldo, atribui ainda que "No campo semânico, os
testemunhas de Jeová dão novo sentido aos títulos que Jesus recebeu nas
Escrituras" (MENESES, 2009, p.158). De fato, eles incidem nos significados das
palavras, quase todos os versículos que se utilizam para negar a deidade de Cristo,
tem uma adulteração do sentido original, através de uma palavra na frase eles
mexem e atribui um novo significado. Seguindo a lista do pastor Esequias identifica:

6. Dizem os russelitas que Jesus não pode ser Deus porque é chamado na
Bíblia de o "primogênito da criação de Deus", e assim não é eterno, mais
criatura. Esse pensamento está baseado numa interpretação errada de
Colossenses 1.15, que diz: "O qual é a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação". O texto diz que Jesus é o primogênito de
toda a criação e não o primogênito de Deus.[...] 7. Os russelitas dizem que
Jesus não é Deus porque é criatura.[...] A STV baseia essa doutrina
asquerosa em apenas dois versículos da Bíblia, um já vimos, que é
Colossenses 1.15,[...] e o outro é Apocalipse 3.14, que diz: "E ao anjo da
igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e
verdadeira, o princípio da criação de Deus". O texto aqui não diz que Jesus
é criatura, mas " o principio da criação de Deus".[...] 8. Os russelitas dizem
que Jesus não é Deus porque ele mesmo disse que ninguém é bom se não
o Pai.[...] Mas por que Jesus disse ao mancebo de qualidade: "Por que me
chamas bom?" Ora Jesus queria que o Pai fosse glorificado juntamente com
ele, foi por isso que Jesus disse: "Ninguem é bom, se não um, que é Deus"(
Lc 18.19).[...] 9. Os russelitas dizem que Jesus é distinto do Pai, logo ele
não pode ser Deus. Eles se baseiam em João 17.3, que diz: "E a vida
eterna é esta, que conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste".[...] O texto ensina o monoteísmo judaico-cristão
sem prejudicar em nada a doutrina da Trindade e da Deidade do Filho.
(SILVA, 1991, p.p 147-150)
55

Dado exposto, o Jesus da Sociedade Torre de Vigia é outro, suas


manipulações nos textos bíblicos evidencia a audácia dos seus teólogos. Pastor
Esequias salientar que " Essas passagens são conhecidas de todas as testemunhas
de Jeová e se encontram no livro Raciocínio à base das Escrituras e na brochura
Deve-se Crer na Trindade?" (SOARES, 2009, p. 119). Então, para os membros
dessa organização Jesus é diluído ao um ser memorável abaixo de Jeová.

4.3 A resposta de Filipenses 2.5-11 para o movimento Testemunhas de Jeová

O apóstolo Paulo em 2 Co 11.4 adverte: "Porque, se alguém for pregar-


vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não
recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis."
(ALMEIDA, 1993). Esse alerta aos cristãos de igreja em Corinto tinha no radar
paulino a prevenção de ataques de ensinamentos errôneo acerca da pessoa de
Jesus que estava chegando naquela congregação.
As diligências nos nossos dias devem ser reforçadas e como
mencionamos as Testemunhas de Jeová tem um gigantesco aparato gráfico e uma
membresia atuante para espalhar as suas heresias. Mas em Filipenses 2.5-11 tem
uma resposta a divindade de Cristo, em contrapartida, as publicações da Torre de
Vigia especificamente nesse hino cristológico, eles utilizam da semântica como
expomos anteriormente, para adulteram também esse escrito, a versão Tradução
Novo Mundo diz:

Mantenham a mesma atitude que Cristo Jesus teve, embora ele existisse
em forma de Deus, não pensou numa usurpação, isto é, em ser igual a
Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo que tinha, assumiu a forma de
escravo e se tornou humano. Mais do que isso, quando veio como homem,
ele se humilhou e se tornou obediente a ponto de enfrentar a morte, sim,
morte numa estaca. Por essa razão, Deus o enalteceu a uma posição
superior e lhe deu bondosamente o nome que está acima de todo outro
nome, a fim de que, diante do nome de Jesus, se dobre todo joelho dos que
estão no céu, na terra e debaixo do chão e toda língua reconheça
abertamente que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai.
(TRADUÇÃO NOVO MUNDO, 2018, p. 1626, 1627)

Dentro desse texto as Testemunhas de Jeová utilizam muito, Filipenses


capítulo 2 e versículo 6. Ainda que esse texto de Paulo seja uma indicação forte
para fundamentar a deidade do Senhor Jesus, o Corpo Governante novamente
deturpa o sentido original, interpretando que: “Jesus jamais queria ser igual a Deus,
pois consideraria isso usurpação, ou seja, tomar para si o que não lhe era devido.”
56

(MENESES, 2009, p.112). Para reforçar alegam que a Tradução Novo Mundo é a
melhor no ponto de vista contextual, afirmam:

O contexto dos versículos circundantes (3-5,7,8,Dy) esclarece como o


versículo 6 deve ser entendido. Instou-se aos filipenses: “Em humildade,
que cada um considere os outros melhores do que a si mesmo.” Daí, Paulo
usa Cristo como notável exemplo dessa atitude: “Exista em vós esta mente,
que também existia em Cristo Jesus.” Que “mente”? “Achar não ser roubo
ser igual a Deus”? Não, isso seria exatamente o contrário do argumento que
estava apresentando! Ao contrário, Jesus, que reputava a Deus como
sendo melhor do que ele”, jamais “se apossaria da iguadade com Deus”,
mas, em vez disso, “humilhou-se, tornando-se obediente até a morte”.
(1989, ipud, MENEZES, 2009, p.p 112-113)

Observando esse argumento dos russellitas " afirmamos que o modo de a


Tradução do Novo Mundo verter o texto de Filipenses 2.6 é inadequado, [...] na
verdade, diz o contrário do que realmente Jesus afirma."(MENEZES, 2009, p. 113).
Aldo Menezes também faz uma lista de algumas versões em português desse
versículo que vale destacar:

O qual, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era
algo a que devia apegar-se (NVI). Pois ele, subsistindo em forma de Deus,
não julgou como usurpação o ser igual a Deus (ARA). Ele tinha a natureza
de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus (NTLH). Ele tinha a condição
divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar
ciosamente (BJ). Embora ele fosse Deus na sua natureza real, ele não
pensou que ser igual a Deus era algo para utilizar para seu próprio benefício
(VF). Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus
(BP). Ele, que é de condição divina, não considerou como presa a agarrar o
ser igual a Deus (TE). Pois ele, que por sua natureza sempre foi Deus, não
se apegou a seus privilégios como alguém igual a Deus (CH). Ele, existindo
na condição divina, não ambicionou o ser igual a Deus (CNBB). (MENEZES,
2009, p. 113)

Amparando-se nessas versões, Menezes traz uma explicação equivalente


ao sentido original, trazendo assim à tona a teologia enganadora da Sociedade
Torre de Vigia que corrompeu o texto afim de rebaixar Jesus em relação à sua
divindade, o apologista sustenta que:
57

De acordo com essas traduções, Jesus não consideraria ser usurpação


igualar-se a Deus, pois, sendo “em forma de Deus”, “subsistindo em forma
de Deus”, “sendo Deus” ou sendo “de condição divina”, certamente tinha tal
direito.[...] Ademais, aceitando-se a verdade de que Jesus é Deus, o
contexto torna-se claro e riquíssimo pela seguinte razão: Paulo insta aos
filipenses que sejam humildes, considerando os outros superiores a si
mesmos, não visando a interesses próprios, mas aos dos outros. Daí, ele
fala Jesus, o exemplo supremo, pois ele, mesmo sendo Deus, tornou-se
servo. [...] O argumento de Paulo pode ser resumido assim: se Deus se
humilhou, por que deveríamos nos exaltar? Ora, Jesus poderia ter se
exaltado, engrandecendo-se diante de todos, mas não o fez; [...] O exemplo
de Cristo, que “sendo [Deus] rico, se fez pobre [servo] por amor de
nós”(2Coríntios 8.9), põe fim a essa atitude soberba. (MENEZES, 2009, p.
114)

É importante ainda destacar que as Testemunhas de Jeová tem uma


outra argumentação equivocada nos versículos 9 ao 11. O escritor Soares aponta
que "O Corpo Governante argumenta: "Note que se mostra aqui que Jesus Cristo é
diferente de Deus, o Pai, e se sujeita a Ele" (SOARES, 2009, p. 139). Em seguida o
apologeta vai rebater essa interpretação:

Essa declaração é falsa porque nada menciona de sujeição do Filho ao Pai,


trata-se de duas Pessoas distintas, mas de mesma substancia, iguais em
poder, glória e majestade. O próprio texto afirma que todo o joelho dobrará
diante do Filho, e no Antigo Testamento essa profecia diz respeito ao Pai:
"Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu
sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado; saiu da minha
boca a palavra de justiça e não tornará atrás: que diante de mim se
dobrará todo joelho, e por mim jurará toda língua" (Is 45.22,23 - grifo
nosso) (SOARES, 2009, p.139,140).

É notório ainda que os teólogos dessa seita, esquecem de trabalhar nos


seus ensinamentos o contexto dos versos 9 e 11, o versículo 6 que mencionamos e
repetiremos novamente diz "que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação
ser igual a Deus" (ALMEIDA, 1993). Dando continuidade à sua defesa a divindade
de Jesus, Esequias expõe:

O termo "sendo", hyparchon, em grego, sua tradução mais precisa é


"subsistindo", como na Versão Atualizada de Almeida, na Tradução
Brasileira e na Versão Revisada Almeida, tem o sentido de um estado
permanente, expressa a continuação de um estado ou condição anterior:
Cristo existia e existe eternamente na forma de Deus. A palavra grega
morphe, "forma, manifestação visível", não diz respeito à mera aparência ou
figura interior, mas ao caráter essencial. (SOARES, 2009, p.140).
58

Walter Martin, um importante pesquisador de seita e um erudito


apologista cristão, vai confrontar também os argumentos dos russullitas nesse verso
6, "Nesse texto, Paulo defende a plena divindade de Cristo, [...] o termo igual no
original é isa, que é outra forma de ison, e que também significando absoluta
igualdade de natureza, o que confirma a verdadeira divindade de Cristo" (MARTINS,
1992, p. 77)

As abordagens sutis das Testemunhas de Jeová demonstradas na


interpretação do hino paulino, negando a deidade de Cristo, ilustra o potencial e os
riscos que a igreja leva em não conhecer as Escrituras e como ela encara alguns
mistérios da fé cristã, a saber a encarnação, Alister McGrath traz uma observação
“Os cristãos não somente creem em Jesus de Nazaré; eles também creem em
certas coisas sobre ele” (MCGRATH, 2014, p.33). Em outras palavras, o escritor
ressalta que além de uma fé relacional em Deus é conferida, o crente precisa ter o
senso cognitivo para sua fé, vai afirmar também que esse processo de adquirir o
conhecimento foi desenvolvido justamente no período de heresias e ao citar um
processo que os cristãos tiveram que entrar nessa área, foram justamente responder
quem era Jesus, a sua identidade e significância. (MCGRATH, 2014, p.33,35). Faz-
se necessário citar a sua conclusão:

Um dos temas a emergir da exploração da igreja primitiva sobre a


encarnação é a necessidade de desafiar as intepretações existente de fé
para assegurar que elas sejam capazes de acomodar de maneira adequada
e representar o mistério de Fé. Isso significa explorar opções intelectuais,
não simplesmente por curiosidade, mas por uma convicção profunda de que
a sobrevivência e a saúde da igreja dependem de assegurar a melhor
explicação possível de fé. (MCGRATH, 2014, p.37)

Salienta Dr. Walter, que as Testemunhas de Jeová em ataques à teologia


ortodoxa e assim a igreja "são os que o fazem com maior veemência, e como
manipulam ardilosamente os termos dentro de um contexto escriturístico, são
também os mais perigosos" (MARTINS, 1992, p. 70). O escritor vai afirmar que essa
seita utiliza um único método para viabilizar a doutrina bíblica, a razão. Conclui-se
que:
59

Tanto no período em que ela era dirigida pelo "pastor" Russell como
depois, e até hoje, a razão tem sido sempre o "grande deus" ante o qual
todos os seguidores do movimento "Estudante da Bíblia" dizem inclinar-se
com grande respeito. Aliás, o "grande parafraseador", como Russell certa
vez foi chamado, chegou ao ponto de afirmar que a razão, ou a capacidade
de pensar e tirar conclusões, podia desvendar ao intelecto do homem o
caráter do próprio Deus. [...] Russell afirma que Deus se acha sujeito ao
nosso raciocínio. (MARTINS, 1992, p. 70).

Pelo que constatamos nessa seita, não compreenderam ainda o que o


profeta Isaias 55.8 registrou, ”Porque os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.”
(ALMEIDA, 1993). Esse versículo nega, portanto, a capacidade ilimitada do homem
em seu raciocínio e que jamais entrará nas profundezas do conhecimento da criação
e do caráter de Deus. Walter Martins vai dizer:

Deus não está querendo dizer com isso que, no processo de busca do
conhecimento, o homem deva pôr de lado a razão e o intelecto. Ele afirma,
isso sim, que ninguém pode conhecer a plenitude da sua mente, da
natureza e dos pensamentos do Senhor, já que o homem é finito e Deus
infinito. (MARTINS, 1992, p. 71).

A heresia ariana do século IV, que falamos anteriormente, desencadeou


uma série de debates difusos, trazendo para o campo intelectual o mistério de
Cristo. A questão estava entorno de como construir e dar sentido de forma
apropriada a isso. Mcgrath levanta essa questão colocando como plano de fundo a
resolução no Concílio de Niceia “declarou que Jesus era "verdadeiramente Deus e
verdadeiramente homem" e que ele era "consubstancialmente” com o Pai, foi
simplesmente assegurado aquilo que os cristãos já sabiam ser verdadeiro.”
(MCGRATH, 2014, p.39)

Alister na mesma página vai costurar uma verdade que está fora do
espectro das Testemunhas de Jeová, ao invocarem a razão tudo que não se
consegue explicar, ele vai dizer: “A doutrina, então, de uma vez por todas preserva
os principais mistérios no cerne da fé e vida cristã, enquanto permite que sejam
examinados e explorados em profundidade. (MCGRATH, 2014, p.39)

Em Filipenses 2.5-11 o qual nos aprofundamos no capitulo anterior, e


refutamos as heresias da Torre de Vigia nesse, provém de um mistério e Jonas
60

Madureira vai chamar de o “Verbo encarnado” (MADUREIRA,2017, P. 144). Por


assim dizer, Mcgrath vai comentar ainda sobre o termo “mistério” como “alguma
coisa tão grandiosa que não pode ser captada pela mente humana” (MCGRATH,
2014, p.10). Vai ainda citar o que Agostinho escreveu, que Deus não pode ser
compreendido, se fosse, não seria Deus. Além disso, Alister diz: “Podemos buscar a
precisão teológica, contudo, nossas tentativas de lidar com a realidade de Deus e o
evangelho cristão serão sempre contrariados pelas limitações da mente humana.”
(MCGRATH, 2014, p.10).

Portanto, dentro desse raciocínio, o teólogo especialista na patrística


Andrew Louth, conclui-se que:

Em seu cerne está a compreensão de Cristo como o mistério divino: uma


ideia central às epístolas do apóstolo Paulo. Esse segredo é um segredo
que foi contado; mas apesar disso continua sendo um segredo, pois o que
foi declarado não pode ser simplesmente captado, uma vez que se trata do
segredo de Deus, e Deus está além de qualquer compreensão humana.
(2007, p. 205, apud MCGRATH, 2014, p. 40)

O reverendo Jonas Madureira, faz uma conclusão do hino de filipenses,


fechando toda a questão em volta da divindade de Cristo, ela nunca foi limita em sua
encarnação e a decisão de não usar as prerrogativas da sua natureza divina foi dele.
Diz o seguinte:

Perceba a profundidade disto: Cristo não se despojou de algo; ele


simplesmente se despojou de si mesmo, entregou-se a si mesmo, e não
seus atribuitos. Segundo Gorden Fee, o “esvaziamento” é uma metáfora.
Jesus não deixou de ser Deus, mesmo porque a humilhação de Cristo está
no fato de que a encarnação e a cruz foram enfrentadas por aquele que
permanece sendo Deus, e que durante todo o processo nunca deixou de
ser Deus. Se o fizesse, já não seria uma kénôsis. A kénôsis de Cristo não é
onipotência mitigada ou perdida; antes, é a decisão de Cristo de não fazer
uso de sua onipotência. (MADUREIRA,2017, p. 156).

Entendemos nesse final que as controvérsias cristologicas dos primeiros


séculos, tiveram papeis importantes para que a igreja construísse seus credos, as
promulgações e declarações em defesa de Cristo: sua natureza humana, divina e
sua união hipostática, foram vitais para as gerações futuras. Portanto, mesmo que
algumas heresias antigas estejam entre nós, a saber uma, as Testemunhas de
Jeová que seu rol doutrinal tem o arianismo como influente, as Escrituras Sagradas
61

como Filipenses 2.5-11 tem a defesa mais pungente, certeira e inspiradora que o
Apóstolo Paulo escreveu. Hino cristológico e os credos são merecedores de que
nossos estudiosos se comprometem em estuda-los cada vez mais em frente aos
inimigos de Cristo.
62

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se iniciou o trabalho de pesquisa, constatou-se que havia a


necessidade de criarmos um ponto específico para rebater as controvérsias do
movimento das Testemunhas de Jeová, que é uma ascensão do arianismo
moderno, que negam a deidade de Cristo, e que, por isso, era importante estudar
Filipenses 2.5-11 como uma defesa da divindade de Jesus na perspectiva paulina.

Ao refutarmos suas heresias através deste texto, procuramos provar em


uma apurada análise oriunda dos exegetas e apologistas renomados que
trabalharam com a língua original e extraíram a descrição de cada sentido
gramatical que Paulo usou para conferir a Jesus o que lhe é devido desde a
eternidade, a saber sua divindade.

Diante disso, a pesquisa teve como objetivo geral analisar o texto de


Filipenses 2.5-11. Constamos que esse proposito foi atendido, porque efetivamente
o trabalho conseguiu demonstrar que Jesus é Deus da mesma forma que o Pai.

O objetivo especifico inicial era descrever a trajetória de Paulo, e foi


atendido porque o exemplo de vida pós-conversão e seu amor por Jesus
evidenciaram que o apóstolo o tinha como Deus. O segundo objetivo era apontar a
divindade de Jesus no hino, sendo conseguido por uma síntese de cada versículo do
5-11. Mostramos ainda a promulgação do credo de Calcedônia. Já o terceiro objetivo
especifica era analisar as controvérsias cristológicas dos primeiros séculos e refutar
as Testemunhas de Jeová, sendo atendido ao mostrar que Filipenses 2.5-11 é uma
defesa da divindade de Jesus.

Ainda há outros textos paulinos que permeiam esse tema, que, para os
nossos dias, podemos defender essa verdade transcendente, real, necessária e
importante, a saber, que Jesus é plenamente Deus e plenamente homem.
63

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ANEXO 1 - Mapa da Primeira Viagem Missionária de Paulo

Fonte: Pequeno Atlas Bíblico (CPAD)


67

ANEXO 2 - Mapa da Segunda Viagem Missionária de Paulo

Fonte: Pequeno Atlas Bíblico (CPAD)


68

ANEXO 3 - Mapa da Terceira Viagem Missionária de Paulo

Fonte: Pequeno Atlas Bíblico (CPAD)

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