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Introdução
Entretanto, os estudos feitos até aqui se limitam em alistar os factores culturais sem
um estudo profundo dos mesmos, colocando assim desafios aos investigadores
sócio-culturais para intervir. É desta forma que o ARPAC – Instituto de Investigação
Sócio-Cultural, Delegação de Manica realizou no mês de Outubro de 2017, uma
mesa redonda no Distrito de Guro para auscultar as várias sensibilidades da
sociedade civil e outros intervenientes para melhor perceber o entendimento dos
casamentos prematuros e gravidezes precoces por parte das comunidades que são
detentores de várias práticas culturais. O Distrito de Guro foi escolhido por ser um
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dos mais afectados pelo fenómeno dos casamentos prematuros e gravidezes
precoces ao nível da Província de Manica.
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Distrito de Guro, localização e divisão administrativa. Fonte: ARPAC 2012
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Casamento no Distrito de Guro
O casamento nesta etnia é ulorilocal onde a mulher é retirada da sua aldeia e vai
viver na casa da família do marido. O acto de casamento é um ritual de passagem
que garante a transformação de jovens adolescentes para a vida de adultos
carregada de muitas responsabilidades. A importância dada a esta instituição de
casamento verifica-se pelo envolvimento das famílias na escolha de quem
constituirá nora ou genro de uma determinada família.
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casamentos tradicionais, ainda verifica-se a sua pratica nas zonas mais recônditas
deste Distrito. Os contactos para estabelecer uma relação de casamento eram feitos
pelas duas famílias, sendo a do noivo que tomava a iniciativa. Quando, por motivos
de afinidades, uma família desejasse que um dos seus filhos pudesse casar com a
filha de uma determinada família, não precisava esperar que a tal menina crescesse
para tomar a decisão. Competia aos seus pais, através dos tios ou avôs avaliar a
potência económica e cultural do genro em cuidar da menina e seus familiares.
Assim que o genro fosse avaliado positivamente, automaticamente a menina
tornaria comprometida mesmo que seja recém-nascida.
Sendo já uma menina comprometida, a criança crescia com o seu marido a espera.
A família do rapaz neste caso tratava de todas as necessidades para o crescimento
da miúda. Depois de primeiros sinais de adolescência, considerava-se que a miúda
já podia se casar.
A idade não era posta muito em conta na decisão de casamento. O que interessava
eram as competências no cumprimento de deveres de esposa como fazer limpeza,
cuidar do marido e dos filhos, procriar e satisfazer o marido sexualmente. Para
garantir tais competências, a rapariga logo após primeira menstruação, era
acompanhada naturalmente de ritos de iniciação que lhe fazia entender dos seus
deveres e direitos como mãe e esposa. Note-se que diferentemente de outros
pontos do País onde os ritos de iniciação têm o tempo e lugar específico, no Distrito
de Guro esses ritos constituem uma prática permanente passada de pais para filhos
até ao casamento.
Sabe-se que quando uma mulher atinge a menopausa jamais nascerá filhos.
Querendo mais filhos, o seu esposo pode casar de novo fora da família da sua
esposa ou pela iniciativa da esposa juntos aos seus familiares pode-se oferecer a
irmã mais nova dessa esposa para nascer mais filhos. Em alguns casos as meninas
oferecidas podem não ter uma idade aceitável para se casar o que geralmente é
ignorado bastando existir os sinais de que a mesma já pode fazer filhos.
O mesmo cenário acontece quando uma mulher não consegue gerar filhos. Para
garantir a dignidade e a afinidade estabelecida entre as duas famílias no
casamento, oferece-se ao genro a irmã mais nova para procriar em nome da sua
irmã mais velha.
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Já quando morre uma esposa dentro de um lar, o esposo não pode ficar sozinho
havendo assim uma necessidade de lhe oferecer uma irmã mais nova da falecida
esposa para cuidar dos filhos e ainda garantir a procriação de outros. Este acto
antropologicamente é designado sororato. Raras vezes se olha na idade numérica
da menina oferecida, bastando ter a postura física de nascer.
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Contrariamente aos casamentos prematuros resultantes de senhores de idade com
as meninas prematuras, o grande número desta problemática acontece entre jovens
na idade escolar. Os jovens começam a namorar primeiro, sem que os pais saibam,
relacionam-se sexualmente e sem prevenção alguma. Quando aparece uma grávida
primeiro usam os seus meios para a retirada desta grávida, e quando conseguem a
situação continua como estava, mas quando não conseguem fazer o aborto é
quando a situação aparece para os encarregados de educação.
Contudo, o professor pela sua função nunca deve aparecer a justificar ter mantido
relações sexuais com alunas alegando a sedução, muito pelo contrário, o professor
está em condições como educador e aquele que ensina a ciência de chamar uma
aluna ou mesmo dentro da sala de aulas a explicar os alunos de como devem se
comportar perante a sociedade, pois desta maneira estaria ajudar a moldar uma
sociedade fortemente preparada para o futuro.
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A pobreza dos pais encarregados de educação
O poder económico de alguns pais não satisfazem as necessidades das filhas, ao
ponto destas se envolverem com os rapazes para lhes dar aquilo que o pai não
consegue e como resultado os rapazes exigem relações sexuais para compensar os
seus gastos. Nem sempre usam preservativo e como resultado surge a grávida
precoce. Aliado ainda a pobreza dos pais, é o facto destes mesmos pais quando a
filha aparece grávida optarem por mandar casar a filha para garantirem obter os
valores de lobolo, e por via disso optarem uma negociação com os pais do rapaz
infractor e não apresentarem queixas as autoridades.
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Segundo depoimentos de algumas alunas, existem ao nível do distrito de Guro,
mães encarregadas de educação que agitam as suas filhas a se casarem,
mostrando-lhes algumas adolescentes vizinhas que já são mães e casadas. Este é
um grande indicador de que o analfabetismo pode e trás para o seio da família de
forma muito inocente um problema que pode comprometer toda uma geração. Se
essa mãe fosse no mínimo alfabetizada sabendo pelo menos ler e escrever, não
poderia colocar a sua família nesta situação, pois a única vantagem que ela poderia
estar a ver seria o status social ao nível da comunidade, mas com consequências
muito desastrosas para o futuro da família.
A alfabetização das classes sociais mais pobres, que por sua vez são as mesmas
famílias que enfrentam problemas de casamentos prematuros, seria um balão de
oxigénio para a redução dessa problemática, se todos formos unânimes de que a
instrução desperta a consciência, deve ter como resultado a mudança de atitude no
sentido positivo por parte do alfabetizando.
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gravidezes precoces, como em crise de valores morais no seu todo. Os mais novos
não sabem respeitar os mais velhos, não sabem quanto prestígio as comunidades
tem em educação partida dos mais velhos e muito pelo contrário, acabam acusando
os anciões de práticas supersticiosas.
Ainda prevalece tabu a conversa entre os pais e os filhos sobre a vida sexual
mesmo sabendo que mais cedo os filhos terão acesso dos transtornos em volta do
sexo através de amigos, redes sociais e media. Os filhos acabam valorizando o que
ouvem de fora sobre a sua vida sexual, e na medida em que os primeiros sinais de
adolescência aparecem o desejo de experimentar manter relações sexuais é maior.
Seria prudentes as mães terem conversas com suas filhas e os pais com seus filhos
para que os filhos mais cedo saibam que não é tudo que o corpo manda que deve
se fazer, havendo assim a possibilidade de esclarecimento de todos os riscos
associados a manter relações sexuais muito cedo.
Tal como se faz com as bebidas alcoólicas, em que até na embalagem do recipiente
aparece o desencorajamento do seu consumo para os menores de 18 anos, os
programas televisivos deviam também ter em conta o tipo de consumidores a uma
determinada hora. Por exemplo, os filmes ou novelas em que as acções estão
relacionadas com pessoas de maior idade, deveriam ser exibidos nas horas
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nocturnas depois que os adolescentes vão a cama, é verdade que poderão colocar
em questão os lucros no caso dos privados, mas se o desenvolvimento que
precisamos é sustentável, é preciso criar-se uma equidade entre ofertas e
demandas.
Os casamentos só podiam acontecer muita das vezes com o aval dos anciãos da
família e da comunidade, e quem não seguisse o recomendado tinha suas
consequências. Por exemplo dizem que, se uma menina se relacionasse
sexualmente e precocemente, acabava por consumir excrementos de galinha e era
logo um sinal de que ela teve relações sexuais com alguém, mas depois tratava-se.
Hoje essas forças de crenças já não se fazem sentir nas comunidades devido a
excessivas violações destas regras.
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Portanto, é um conjunto de vários factores que pede a participação do Governo e de
todas as camadas da sociedade civil para estancar este fenómeno, através de
acções concretas e que influenciem na vida das populações mais pobres.
Conclusão
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