Você está na página 1de 10

Comportamentos audodestrutivos, subprodutos da pós-modernidade?

COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS, SUBPRODUTOS


DA PÓS-MODERNIDADE?

Self-destructive behaviors, postmodernity byproducts?

Liza Fensterseifer1
Blanca Susana Guevara Werlang2

Resumo
O presente artigo aborda, por meio de uma exposição teórica, o quanto a forma de vida pós-moderna pode
propiciar, ainda mais, a exacerbação de um sentimento de vazio e desesperança no homem contemporâneo,
contribuindo para o aumento nas taxas de comportamentos desviantes e patológicos, como os voltados à
autodestruição. Para isso, apresenta-se brevemente a idéia e o conceito de pós-modernidade, momento
histórico e cultural que se vive hoje, caracterizado, dentre outras coisas, pelo sentimento de desamparo, perda
de identidade e exacerbação do narcisismo, demarcando a influência disso nas formas de subjetivação do
ser humano inserido neste contexto. A elevada incidência de psicopatologias, tais como a depressão, os
quadros narcisistas e borderline, o uso e abuso de drogas e os transtornos de ansiedade, assim como atos
violentos auto e hetero-infligidos, apontam para sintomas típicos do mundo pós-moderno. Discute-se
também até que ponto a sociedade contemporânea pode ser responsabilizada por estas manifestações, no
momento em que tantos comportamentos desviantes, e inclui-se aqui os atos terroristas, a corrupção, os
índices de suicídio, a busca por alívio e satisfação com de substâncias químicas, são tão freqüentes atualmente
como nos tempos passados. Serão estes os subprodutos da pós-modernidade? Destaca-se, ainda, o lugar e
o papel da Psicologia neste contexto, no sentido de mostrar o seu compromisso com a promoção da saúde
e do bem-estar dos indivíduos.
Palavras-chave: Pós-modernidade; Psicopatologias; Comportamentos autodestrutivos; Subprodutos; Psico-
logia.

1
Psicóloga Clínica. Mestre em Psicologia Clínica pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS. Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS. Professora Assistente do Instituto de Psicologia da Pontifícia Universida-
de Católica de Minas Gerais – PUC-MG, Endereço para contato: Rua Júlio Diniz, 257, ap. 205, Bairro Santa Branca, Belo
Horizonte, MG, Brasil, CEP: 31565-180, E-mail: pxl@terra.com.br
2
Psicóloga Clínica. Especialista em Diagnóstico Psicológico. Doutora em Ciências Médicas – Saúde Mental – UNICAMP. Professo-
ra Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul – PUCRS, Endereço para contato: Av. Ipiranga, 6681 Prédio 11 – 9o andar sala 924 PUCRS, CEP 90619-900 – Caixa
Postal 1429 – Porto Alegre, RS, Brasil, E-mail: bwerlang@pucrs.br

Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006. 35


Liza Fensterseifer; Blanca Susana Guevara Werlang

Abstract
This article discusses, within a theoretical approach, how postmodern lifestyle can exacerbate loneliness and
hopelessness feelings in contemporary man, contributing to increase rates of deviant and pathological
behaviors, such as self-destruction. The paper briefly presents the idea and concept of postmodernity, the
historical and cultural moment we currently live, characterized by feelings of helplessness, lost of identity and
exacerbation of narcissism, outlining their influence on the subjectivation of the human being within this
context. The high incidence of psychopathologies such as depression, narcissism and borderline narcissistic
make-ups, drug use and abuse and anxiety disorders, as well as violent acts – self-inflicted or not - indicate
typical symptoms of the postmodern world. It is also discussed whether contemporary society could be
considered responsible for these manifestations, as deviant behaviors such as terrorism, corruption, suicide
and the search for relief and satisfaction through chemicals are as frequent as they were in the past. Would
they be postmodernity byproducts? The role of Psychology within this context is also highlighted, intending
to show its commitment to promote individuals’ health and wellbeing.
Keywords: Postmodernity; Psychopathologies; Self-destructive behaviors; Byproducts; Psychology.

Introdução moderno demarca uma cultura do narcisismo, do


ser só e de transformar apenas a própria existência
Não é difícil perceber como a violência em uma finalidade fundamental da vida.
está presente na vida das pessoas. E faz-se refe- Quando Souza (2000) usa a palavra mô-
rência aqui a todas as formas de violência, usando nada para se referir aos indivíduos da cultura capi-
a palavra em seu sentido amplo. Pode-se pensar o talista e pós-industrial, leia-se, pós-moderna, é
quanto se é violentado por um tempo que passa possível pensar que ele o faz justamente motivado
depressa demais, arrebatando todo o “tempo” que pela idéia do encapsulamento em si mesmo, em
se tem; o quanto se é violentado pela cultura do princípio, tão comum nos dias de hoje. Basta pen-
belo, pelo imperativo do prazer, pela solidão que sar na grande incidência das patologias ditas do
vem da superficialidade das relações, enfim, por “vazio”, como a depressão, os quadros narcisistas
algumas das coisas que têm sido chamadas de ca- e borderline. Enfim, será que é possível sobrevi-
racterísticas do pós-moderno. Neste sentido, Har- ver a essas mudanças, que demarcam uma nova
vey (2004) aponta justamente a heterogeneidade, cartografia do funcionamento da vida?
a fragmentação, a descontinuidade, o efêmero, a Parece possível pensar que sim, mas cer-
indeterminação, a indiferença e a desconfiança nos tamente com um alto preço, que não se sabe ain-
discursos universais como marcos importantes do da se a sociedade realmente está disposta a pagar.
pensamento pós-moderno. A depressão (apontada por muitos como o mal ou
No seu artigo “Mal-estar na civilização”, a doença do século passado), o uso e abuso de
publicado em 1929, Freud (1974) já apresentava sua drogas, a violência auto e hetero-infligida são sin-
preocupação com o estatuto do sujeito no mundo tomas típicos do mundo pós-moderno. Segundo
moderno, circunscrevendo-o a um mal-estar típico Sisto (2003), a ocorrência prognosticada de catás-
da modernidade. É como se já soubesse da angús- trofes naturais, a manutenção de guerras intermi-
tia moderna a que os sujeitos estão submetidos hoje, náveis, o terrorismo político/religioso anunciam um
e da qual fala Souza (2000), ao destacar a solidão possível retorno a um estágio primitivo de socie-
que demarca a vida do homem pós-moderno. Bir- dade, sem normas, sem limites, sem justiça, afas-
man (2003) acredita que o que se “perdeu” na pas- tando-se profundamente do ideal de um mundo
sagem da modernidade para a pós-modernidade é seguro. A sociedade atual, para esta autora, en-
algo, sem dúvida, da ordem do desejo do sujeito, contra-se ameaçada pelo medo das ações de vio-
que “não consegue mais acreditar, como anterior- lência auto-infligida (comportamento suicida), in-
mente, que pode transformar a si mesmo e ao mun- terpessoal (familiar, do casal, comunitária) e cole-
do com seu desejo, de maneira a poder reinventar a tiva (social, política, econômica, religiosa), pela falta
si mesmo e a ordem social” (p. 82). Assim, a crença de expectativas das novas gerações, pelos ambici-
em uma possibilidade de reinvenção é que foi per- osos objetivos de desenvolvimento, pela terrível e
dida, impossibilitando o homem de hoje a crer em constante falta de afeto, ausência de vida amoro-
seu poder de mudar. Por tudo isso é que o pós- sa, falta de apego e respeito ao próximo.

36 Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006.


Comportamentos audodestrutivos, subprodutos da pós-modernidade?

Assim, constata-se altíssimo consumo de zio, uma crise. A relação do moderno e do pós-
medicamentos (calmantes, relaxantes, sedativos...), moderno é contraditória, sendo, em alguns mo-
ações alarmantes de tráfico de drogas, atos de in- mentos, de ruptura, e em outros, de continuidade.
justiça e corrupção, mortes violentas acontecidas Esta idéia é parcialmente compartilhada por Har-
por acidentes graves (meios de transporte), por vey (2004), quando aponta que há mais continui-
agressões fatais e por suicídios, que explicitam e dade do que diferença ou ruptura entre a história
tornam flagrante a realidade em que se vive. Espe- do modernismo e do pós-modernismo.
cificamente sobre o comportamento suicida, os Muitos autores apontam características
dados epidemiológicos nacionais e internacionais responsáveis pelas feições desse período. Para
(Barros, Oliveira & Marín-León, 2004; Bertolote & Lourenço (2004), foi a indecisão a respeito da es-
Fleischnann, 2004a, 2004b) apontam que em su- sência do homem e da verdade que produziu re-
jeitos com idade entre 15 e 34 anos, o suicídio flexos nos comportamentos do homem contem-
figura como um importante e incidente aconteci- porâneo, que se concretizam na efemeridade dos
mento, que tem preocupado autoridades, sendo relacionamentos, em tantas formas de violência,
considerado uma questão de saúde pública. En- no consumismo, no narcisismo exagerado. Con-
tão, o que se propõe abordar, por meio de uma forme Santos (2001), outra importante característi-
exposição teórica, no presente artigo, é o quanto ca da pós-modernidade é a rapidez e a intensida-
a forma de vida pós-moderna pode propiciar a de com que as coisas acontecem, o que, assim
exacerbação de um sentimento de vazio e deses- como torna a realidade “hiper-real”, também a
perança, contribuindo para o aumento nas taxas banaliza e a torna trivial, o que diminui sua capa-
de comportamentos desviantes e patológicos, como cidade de entusiasmar, surpreender e empolgar os
os voltados à autodestruição. Para isso, fez-se uma indivíduos. As relações são desterritorializadas,
breve explanação a respeito do que é compreen- ultrapassando fronteiras policiadas pelos idiomas,
dido como pós-modernidade, as conseqüências, pelos costumes, pelas tradições, pelas ideologias.
em termos psíquicos, desta na constituição do su- O autor aponta a utopia como única solução para
jeito e, enfim, o lugar e o papel de comportamen- enfrentar a mudança paradigmática proposta pela
tos patológicos neste contexto. pós-modernidade, uma vez que é a partir dela que
novas possibilidades e vontades humanas são ex-
ploradas. É necessário que o futuro possa ser rein-
Mas, afinal, o que é a pós-moderni- ventado e que um novo horizonte de alternativas
dade? possa ser vislumbrado. O status adquirido pela ci-
ência na modernidade, com a extrema valorização
Para Bauman (1999), a idéia da pós-mo- da razão, fez com que o pensamento utópico fos-
dernidade representa algo que se determina e de- se praticamente esquecido. E, será que a morte da
fine pelo fato de ser ‘pós’, posterior, e esmagada utopia não é, também, a morte do futuro? Para
pela consciência dessa condição. Destaca igual- Santos (2001), a utopia funciona como a esperan-
mente que não há, necessariamente, rejeição às ça, pois é por meio dela que o indivíduo recusa o
idéias da modernidade, e sim, uma reflexão sobre fechamento das possibilidades, cria novas alterna-
elas, o que propiciou a percepção da necessidade tivas e, principalmente, a vontade de lutar por elas.
de uma mudança. Assim, a pós-modernidade é, No entanto, o que parece de mais impor-
para este autor, a “modernidade que atinge a mai- tante e contundente em relação a este momento,
oridade, a modernidade olhando-se a distância, e que tem sido (adequadamente ou não) denomina-
não de dentro, fazendo um inventário completo do de pós-modernidade, é o impacto que suas
de ganhos e perdas, psicanalisando-se, descobrin- características têm causado nos sujeitos e em seu
do as intenções que jamais explicitara, descobrin- modo de viver. À medida que a rejeição das plura-
do que elas são mutuamente incongruentes e se lidades e diferenças se intensificou, a solidão pas-
cancelam” (p. 288). sou de um sentimento esporádico para uma con-
Por outro lado, Santos (2001) sustenta que dição padrão. Cabe lembrar que os horrores co-
o nome pós-modernidade não é adequado, uma metidos contra os judeus, durante a Segunda Guer-
vez que ela demarca uma fase de transição, que se ra, deflagram a intolerância com que era tratado
apresenta superficialmente como um grande va- aquele que fosse considerado diferente. Neste con-

Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006. 37


Liza Fensterseifer; Blanca Susana Guevara Werlang

texto, a solidão era algo a que o sujeito deveria se Conseqüências inevitáveis da contem-
ajustar. Bauman (1999), fundamentando-se em poraneidade
Wasserman, descreve muito bem o sentimento de
não pertencença e de solidão, fruto das novas car-
A sociedade pós-moderna ameaça o eu
tografias da pós-modernidade, quando refere que
dos indivíduos com a desintegração, uma vez que
ninguém mais considera o outro seu afim, e que
o sentimento de vazio é uma constância. Lasch
hoje, a grande incerteza não diz respeito a qual
(1990) fala de uma cultura do narcisismo, justa-
grupo eu pertenço, e sim à dúvida de realmente
mente para pontuar as estratégias de sobrevivên-
pertencer a algum.
cia que tiveram de ser adotadas: apatia seletiva,
A pós-modernidade iluminou o fato de que
descompromisso emocional frente aos outros. Além
o mundo é regido pela incerteza, e não mais pela
disso, destaca a necessidade de os indivíduos, em
certeza e pela existência de uma verdade única,
sua vida cotidiana, assumirem características bas-
como prometia a ciência, e fez com que o homem
tante indesejáveis, típicas dos comportamentos ado-
tomasse consciência disso. Então, parece possível
tados em situações extremas. O mesmo autor cita
dizer segundo Bauman (1999), que o desconforto
Victor Frankl, que salientou muito o assalto come-
causado pela certeza de que não há saída nem so-
tido ao significado, uma vez que é característica
lução para a incerteza que pauta e ordena a vida é
da sociedade moderna frustrar as buscas pelo sig-
a fonte de mal-estares típicos e específicos.
nificado das coisas e, em última instância, da vida.
A grande incerteza frente às coisas, mar-
A automação nas indústrias e empresas privou os
ca registrada da pós-modernidade, advém da su-
sujeitos de um trabalho útil, gerando o tédio e a
peração do estatuto da ciência como algo onipo-
insatisfação. O advento da ciência e da cientifici-
tente, onipresente e onisciente. No século passa-
dade fez ruir a crença na religião. Tudo isso pare-
do, por exemplo, a aposta foi muito alta na crença
ce ter criado um vazio existencial, uma falta de
de que a ciência progrediria a ponto de poder
significado para a existência dos homens, que quan-
dominar cada vez mais a natureza e, sem dúvida,
do ficam privados de significado, sua vontade de
todos os avanços contribuíram em grande parte
viver e de sobreviver ficam ameaçadas.
nessa direção, por constantes desafios aos limites
Cada época ou momento histórico tem
do conhecimento, principalmente no que diz res-
formas particulares e específicas de patologias, que,
peito ao aumento da duração média de vida. Nes-
de certa forma, expressam de maneira exacerbada
se contexto, em que o mundo volta-se para o pro-
uma estrutura de caráter subjacente. Isso fica bas-
gresso e para a produtividade, as mortes não natu-
tante claro quando se pensa que a histeria e as
rais, as banais e, principalmente, as por suicídio,
neuroses obsessivas, patologias típicas e freqüen-
irrompem como uma afronta, estabelecendo um
tes na época de Freud, representavam a sociedade
paradoxo, um contra-senso. Neste sentido, a pós-
daquele tempo, que vivia uma fase prematura da
modernidade deflagra o fato de que a ciência, por
ordem capitalista, marcada pela avidez, pelo fer-
tudo o que se sabe e o que se pode saber, é ape-
vor e devoção fanática pelo trabalho e, o princi-
nas uma versão dentre muitas. Logo, passa a ser
pal, uma repressão feroz da sexualidade (Macedo,
na pluralidade e não na sobrevivência dos mais
2003).
aptos que reside a esperança.
Não parece que a própria pós-moderni-
O pesadelo do homem contemporâneo
dade seja responsável pelo mal-estar que o ho-
é, então, para os teóricos da pós-modernidade, fi-
mem vem sentindo e no qual vem vivendo, mas
car sozinho, alienado, à deriva, sem raízes. A mai-
sim, os efeitos dela sobre a subjetividade. Na ativi-
or cicatriz emocional deixada pela pós-moderni-
dade clínica é possível observar as demandas que
dade foi o temor do vazio, representado pela falta
esses efeitos vêm gerando, tornando as pessoas
daquele padrão inequívoco, obrigatório e univer-
queixosas, insatisfeitas, vazias, desesperançosas,
sal. Além disso, numa sociedade que prioriza o
desmotivadas, agressivas, impulsivas. Além disso,
consumo, o fracasso gera culpa e vergonha, a frus-
elas têm dificuldade para entrar em contato com
tração alimenta o embaraço e a apatia, fato que,
seus sentimentos, uma vez que parece mais fácil
conseqüentemente, gera manifestações importan-
e, com certeza, menos doloroso, buscar em práti-
tes, e por que não pensar, inevitáveis, na vida e
cas alienantes formas de não enfrentar ou não ter
nas formas de subjetivação dos indivíduos.
que se deparar com suas próprias dores e feridas.

38 Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006.


Comportamentos audodestrutivos, subprodutos da pós-modernidade?

A cultura do narcisismo estabelece justa- psíquico do sujeito da contemporaneidade é a ne-


mente a idéia de que eu me basto, precisando do cessidade de glorificar o eu e sua existência, e to-
outro apenas para, eventualmente, gratificar-me e dos aqueles que, por algum motivo, fracassam nes-
satisfazer-me. Então, as relações são pautadas na ta empreitada, sofrem. A manifestação deste sofri-
superficialidade, na rapidez, na avidez, logo, no mento caracteriza as patologias atuais, e elas con-
vazio. Até porque, a sociedade exige a competi- centram-se mais fortemente no que chamamos de
ção, que eu vença e seja melhor que o outro, que depressões, síndrome do pânico e dependências
eu tenha mais do que o outro, o que empobrece e químicas (toxicomanias), de acordo com Birman
acaba matando a capacidade do indivíduo de in- (2003). Numa cultura que exalta desmesuradamen-
vestir no outro. O sujeito pós-moderno preocupa- te o eu, os deprimidos e as pessoas que sofrem
se menos em ser amado, e mais em ser admirado. com o pânico, não têm vez nem lugar, pois estão
Parece que na contemporaneidade, espe- impossibilitados de serem personagens e cidadãos
ra-se que as pessoas construam e projetem sua da sociedade do espetáculo. Os toxicômanos en-
identidade a partir do princípio imediato da obso- tram neste contexto na medida em que por meio
lescência, o que faz com que possam descartar das drogas é que buscam alcançar o elan necessá-
identidades antigas e adotar novas como quem tro- rio para a inserção na sociedade da atualidade. O
ca de roupa. Ao mesmo tempo em que esta plasti- estado de inebriamento tóxico, proporcionado pelo
cidade pode ser fascinante, pode ser extremamen- uso e abuso de substância psicoativas, proporciona
te desestruturante, uma vez que tudo acontece aos indivíduos, nem que seja apenas por uma fra-
apenas no plano do imediato, tudo é mutante e ção de segundo ou por um tempo limitado, a sen-
mutável, desconcertante. O eixo da estratégia da sação de não mais estar de fora da cultura que tem
vida pós-moderna é, justamente, evitar que deter- no narcisismo o seu maior ícone. A droga oferece
minada identidade se fixe. É preciso saber ser plás- uma promessa de não-confronto com o desampa-
tico, versátil, tipo camaleão. Isso exige, de homens ro, sentimento típico da pós-modernidade. Na ver-
e mulheres pós-modernos, que cada dia da vida dade, a busca desesperada do sujeito é de proteção
seja vivido de cada vez, sem fixar-se em nada, sem face ao desamparo, de um mundo que possibilite
comprometer-se ou compromissar-se com nada, sua proteção frente ao medo do indeterminado e
nem com ninguém (Bauman, 1998). Parece que do acaso. As condutas violentas e autodestrutivas
isso significa, conseqüentemente, viver e estar só, podem ser entendidas, também, como formas de
vazio. Dar conta desses sentimentos é tarefa do deter o fluxo de desprazer, de sofrimento e de des-
indivíduo, que acaba, muitas vezes, refugiando-se conforto que circula no psiquismo do homem pós-
em “barricadas” pouco seguras. moderno. Vilhena e Maia (2002) destacam que a
cultura do narcisismo corresponde à exacerbação
da violência, uma vez que os mecanismos narcísi-
A busca de um refúgio: o papel das cos de relação com o outro potencializam os senti-
psicopatologias mentos de impotência e desamparo.
Vivemos, hoje, em uma sociedade que
Na atualidade, o autocentramento do su- apregoa a liberdade individual, e que estimula a
jeito atingiu limiares impensáveis, apresentando- busca constante de prazer, o que, freqüentemente,
se pela exagerada estetização da existência, onde acaba gerando experiências de fracasso e insufici-
a exaltação do próprio eu é o que mais importa – ências. Dessa forma, é possível pensar que as ma-
cultura do narcisismo. Aqui, o valor de cada sujei- nifestações de sofrimento psíquico, no momento
to é atribuído de acordo com a sua aparência, ins- atual, são mais motivadas pela exigência do prazer
tituindo-se, assim, a hegemonia da aparência, que do que por sua restrição (Garcia & Coutinho, 2004).
passa a ser o critério fundamental do ser e de sua O homem contemporâneo caracteriza-se pelas ex-
existência, conforme Birman (2003). Vive-se, en- periências de desenraizamento, de errância, vincu-
tão, como assinalou Debord (1997), na sociedade ladas a perdas de referências simbólicas. E isso se
do espetáculo, em que a exibição é o lema e a traduz em um sofrimento psíquico que denuncia a
razão da existência dos homens. insegurança e, principalmente, a instabilidade iden-
E como se situa a psicopatologia neste titária, e que pode ser chamado de desamparo.
contexto? O que está em pauta no funcionamento Quem está desamparado está à mercê.

Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006. 39


Liza Fensterseifer; Blanca Susana Guevara Werlang

As patologias da ansiedade, principalmen- ventar o mundo. As culturas do narcisismo e do


te o transtorno de pânico, ilustram a ênfase na espetáculo consolidam-se a partir de um modelo
exterioridade, sendo um fiel representante do que cala esta possibilidade. O que caracteriza a
modus vivendi que caracteriza a sociedade con- subjetividade do homem pós-moderno é a impos-
temporânea, afirmando, incontestavelmente, a dor sibilidade de perceber e admirar o outro, uma vez
do existir na pós-modernidade. A depressão, ao que se vive tão autocentrado, pensando sempre
contrário, manifesta o lado sombrio da contempo- apenas no próprio umbigo, que nada além de um
raneidade, configurando-se como sua herdeira le- palmo do nariz pode ser enxergado. E é neste ce-
gítima, representando uma resistência silenciosa nário que se instaura a violência, assumindo as
no cenário pós-moderno. mais diversas formas de manifestação.
Sobre a agressividade, Freud (1994a), em O desamparo sentido pelos indivíduos é
seu artigo “Além do princípio do prazer”, de 1920, um dos frutos da morte das utopias, aumentando
já apontava a existência de duas forças opostas no o desespero e a busca frenética das pessoas por
homem: amor e ódio. Além disso, parece importan- estratégias que aliviem suas individualidades. A
te lembrar que, pouco depois da Primeira Guerra idéia freudiana de que a felicidade jamais poderia
Mundial, este autor reconhecia (na construção de ser alcançada por uma fórmula universal, sendo
sua teoria) a existência da agressão e da destrutivi- uma tarefa individual e singular, possibilitada pela
dade nos seres humanos, introduzindo um novo economia psíquica e pulsional de cada sujeito, é o
dualismo pulsional: pulsão de vida/pulsão de mor- oposto do preconizado pelo discurso iluminista da
te. Os acontecimentos durante os anos de 1914 a ciência, que prometeu o bem-estar para todos.
1918, descritos por Gay (1989) como “o grande Segundo Birman (2003), o desamparo é o grande
morticídio”, trouxeram a Freud revelações sobre o responsável pela instauração do mal-estar típico
que postulou como selvageria humana, levando-o da pós-modernidade.
a atribuir um papel de destaque à agressão. De lá O suicídio ou as condutas autodestruti-
para cá estas explicações não se modificaram mui- vas em geral inserem-se aqui como uma saída
to. Então, que mecanismos atuam na sociedade possível para este sentimento, do qual fala Birman
contemporânea, ou não atuam, para que o homem (2003). Estes comportamentos têm grande impac-
não tenha conseguido renunciar às suas pulsões to e são, sem dúvida, soluções definitivas para pro-
agressivas, ou sublimá-las? Lourenço (2002) destaca blemas temporários, e o que tem se observado é
que a inibição da agressividade só se efetiva com que cada vez mais as pessoas têm, efetivamente,
promessas de felicidade e proteção, e que é justa- cogitado no suicídio como uma alternativa para
mente isso que está falido na civilização de hoje, dar fim à sua dor. No entanto, a preocupação fren-
comprometendo os limites dos impulsos de des- te a esta forma de manejar as dificuldades refere-
truição. Assim, a agressividade e a violência, e suas se, também, às repercussões do ato suicida, uma
tantas manifestações, entram neste contexto como vez que, segundo Kalina e Kovadloff (1983), quan-
mais um sintoma característico do momento atual do um sujeito comete o suicídio, morre com ele a
em que vive o homem de hoje. Os transtornos de proposta de um grupo, de uma comunidade. A
conduta, os transtornos de personalidade anti-soci- comunidade a que pertence o suicida passa a vi-
al, a autodestruição, descrita por Shneidman (1993, ver com o significado deste ato. Logo, isso denun-
1994, 1999, 2004) como uma fuga de uma situação cia o fato de que existe uma profunda correlação
de dor psicológica insuportável, um protesto contra entre a pessoa que se mata, a família dessa pessoa
o desespero e o sofrimento, demarcam, novamen- e, conseqüentemente, a sociedade da qual faz ou
te, o quanto o sentimento de desamparo causado fazia parte. O suicídio pode ser compreendido,
pela pós-modernidade pode fomentar a incidência então, como a conseqüência de um profundo de-
de determinadas psicopatologias. bilitamento da auto-estima do indivíduo, e no
momento em que a sociedade contribui para o
sentimento crescente de despersonificação de seus
Autodestruição como outra solução integrantes, é possível pensar que ela fomenta e
prolifera patologias suicidas ou autodestrutivas, tais
Na atualidade, o sujeito perdeu a crença como toda a gama de comportamentos de risco
de que, pelo desejo, poderia reinventar-se e rein- (dirigir alcoolizado, ter vida sexual promíscua...).

40 Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006.


Comportamentos audodestrutivos, subprodutos da pós-modernidade?

Se o contemporâneo é marcado pelo pre- A auto-agressão ou autodestruição pos-


domínio do imperativo do prazer, o consumismo sui os mais variados matizes, podendo traduzir-se
funciona como uma resposta social ao mal-estar no consumo abusivo de fumo, bebidas ou outras
próprio dos dias atuais, e assim como as toxico- drogas, no trabalho sem limite, do tipo “workaho-
manias, serve para silenciar a dor de se descobrir lic”, nos exageros alimentares, ou no ato letal de
sem referências. O desejo e o prazer passam a ser um disparo na própria cabeça, para citar apenas
a tônica do viver pós-moderno, constituindo-se alguns. O suicídio é o pólo máximo da manifesta-
como o novo ideal de felicidade e bem-estar, ou ção autodestrutiva, confirmando o “fracasso” da
seja, é preciso ter, satisfazer-se, gratificar-se (Sarai- inserção do sujeito na vida, aceitando o seu não
va, 2002). Portanto, a pessoa que fracassa ou per- lugar na sociedade, literalmente desistindo (Cas-
de algo na vida, pode voltar seu potencial agressi- sorla, 2004).
vo contra si mesmo, ação que demarca a completa Neste contexto, o maior esforço dos es-
dissolução da auto-estima do sujeito. O homem tudiosos que se ocupam das questões relaciona-
que se mata, busca a libertação de um sentimento das à autodestruição é identificar fatores de risco
profundo e intolerável de ausência, sendo a ex- ou variáveis preditoras deste evento. A depressão,
pressão mais radical de uma crise de despersonifi- a desesperança, o uso e o abuso de substâncias,
cação, uma vez que só é possível conceber o pró- tais como álcool e drogas, a presença de uma dor
prio fim quando o sujeito não se reconhece mais, psicológica – em inglês, psychache – insuportável,
identificando-se com o agressor introjetado. Freud caracterizada por Shneidman (1993, 1994, 1998,
(1994b), em seu artigo “Luto e melancolia”, de 1917, 1999, 2004, 2005) como emoções negativas que
já fazia esta interpretação das condutas suicidas, conduzem o indivíduo ao suicídio, são alguns dos
atribuindo a elas o estatuto de ataque à pessoa elementos mais importantes elencados pela litera-
amada que foi perdida, com quem o indivíduo tura. Na subjetividade do sujeito vive um mal-es-
havia se identificado. A melancolia faz com que o tar, uma dúvida profunda quanto ao verdadeiro
sujeito trate a si mesmo como objeto, direcionan- valor e sentido de sua existência.
do para dentro a hostilidade que deveria ser pro- Para Macedo (2003), no momento em que
jetada para o exterior, voltando contra si o impul- a modernidade prometeu um lugar de primazia à
so de destruição e morte. Como o ego está identi- razão, à racionalidade e à individualidade, o ho-
ficado com o objeto perdido, isto propicia que mem descuidou de sua subjetividade, afastando-
consinta a destruição de sua própria vida. se da noção de alteridade como valor. Além disso,
Esse despedaçamento da personalidade, a subjetividade produzida na pós-modernidade tem
a que se referem Kalina e Kovadloff (1983), é o seu centro no valor da exterioridade, assumindo
cenário sobre o qual se perfilam as formas con- uma configuração estetizante, em que o outro e o
temporâneas do progresso. Quando o suicídio seu olhar passam a ocupar um papel de grande
acontece, ele denuncia o fracasso dos paliativos importância na economia e na organização psí-
que tentam mascarar ou maquiar a impossibilida- quica do sujeito. Por isso é que tem se dito que
de de continuar vivendo e suportando o intenso existe uma cultura do narcisismo, que tem pauta-
vazio da sociedade e da vida pós-moderna. Justa- do as relações. As preocupações da pós-moderni-
mente por isso é que os autores ressaltam que é dade são com a superfície, e não com as raízes,
ingênuo e totalmente equivocado pensar que o com o significante, não com o significado, confor-
suicídio é o representante, apenas, de uma patolo- me Harvey (2004). E tudo isso tem uma grande
gia individual, ou mesmo pensar que os indivídu- conseqüência, uma vez que este retrato da pós-
os que aventam a possibilidade de se matar e aque- modernidade só se aplica e tem validade a partir
les que efetivamente consumam este pensamento de um determinado modo de pensar, experimen-
são raridades ou focos isolados. A sociedade em tar, interpretar e ser no mundo. Isso quer dizer
que vivemos, pelo contrário, é ou está em profun- que a pós-modernidade também moldou o sujeito
do conflito, institucionalmente debilitada e com quanto à sua personalidade, sua motivação e seu
uma identidade cultural bastante difusa. Assim, comportamento.
nada mais resta aos que vivem nela, senão buscar Na sociedade em que se prioriza o con-
saídas ou defesas para os sentimentos de desam- sumo, o valor de cada um é avaliado de acordo
paro e mal-estar que ela lhes causa. com o que se tem a oferecer como produto, com

Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006. 41


Liza Fensterseifer; Blanca Susana Guevara Werlang

o que se faz. Logo, a auto-estima do homem da blema foi que a corrida atrás deste sonho pós-mo-
atualidade fica totalmente subordinada ao êxito derno produziu alguns rejeitos: aqueles que fracas-
social. O sentimento do eu baseado na autoconfi- saram e não encontraram o prazer, o cenário belo,
ança e nas convicções e crenças pessoais a respei- uma vida brilhante e espetacular.
to de seu próprio valor não mais existe. O senti- Neste contexto é que se abre o espaço
mento que a pessoa tem referente a si mesmo e à para a psicopatologia, para os distúrbios psíqui-
sua importância depende do eco que encontra, ou cos, para as dores da alma. Depressão, dependên-
que não encontra, nos outros. Ninguém mais crê cia química, pânico, autodestruição, agressão, ter-
no seu valor, prescindindo de sua popularidade rorismo, corrupção: manifestações típicas e freqüen-
junto aos outros. Além disso, numa sociedade ca- tes dos dias atuais. A grande questão que se im-
pitalista, a produção do indivíduo também pauta e põe é o quanto a sociedade pós-moderna é res-
delimita seu valor, e a instabilidade deste processo ponsável pela produção de sujeitos psiquicamen-
pode ser igualmente apontada como outra das te doentes, tão descrentes e desesperançosos em
causas decisivas da despersonificação e, em últi- relação à vida e ao futuro que percebem o suicí-
ma instância, do suicídio contemporâneo. dio ou outros comportamentos de risco que, indi-
Dessa forma, não há como este processo retamente e inconscientemente levam o indivíduo,
de depauperação e esvaziamento do eu não inci- senão à morte, bem próximo dela, como saídas
dir na proliferação das patologias voltadas para a possíveis e, mais do que isso, prováveis.
destruição. Por meio delas o indivíduo encontra A psicologia se insurge aí como uma pos-
um alívio, pois atua, sem rodeios ou escrúpulos sibilidade de atender às demandas da contempo-
de consciência, alguns de seus impulsos mais pri- raneidade, oferecendo um espaço para que o su-
mitivos e, eventualmente, até psicóticos, tais como jeito possa olhar para tudo isso e pensar em si, na
as toxicomanias, o furto, o assassinato do outro, o sua dor, pautando sua existência em outros impe-
assassinato de si. Por isso, Kalina & Kovadloff rativos, que não os vigentes. No entanto, parece
(1983) dão ao comportamento suicida idéia que que também é marca registrada do homem pós-
se (re)atualiza na sociedade pós-moderna e no modern, o aprisionamento na impossibilidade de
modelo cultural vigente, um status de traço distin- parar para pensar, fazendo um movimento de vol-
tivo central, e não periférico, uma vez que não é tar-se para dentro, talvez com receio de olhar para
um lapso, não pertence à fronteira do processo si e se assustar com o que vai encontrar.
civilizatório, e sim ao seu núcleo. Tanto as formas Realmente, o mundo tradicional já não
“disfarçadas” de suicídio, quanto o suicídio pro- existe mais, e o que está aí adquiriu novas feições
priamente dito, são modos, mesmo que ilusórios, e dimensões. O sentimento de desamparo e o po-
que o homem encontrou de contestar os efeitos tencial de incerteza do sujeito aumentam bastante,
desastrosos de sua inconsistência pessoal, impor- demarcando a necessidade deste de inscrever-se
tante legado da pós-modernidade. num mundo que, ao mesmo tempo em que lhe
abre muitas possibilidades, aponta-lhe muitas im-
possibilidades existenciais. Então, não há nada a
Considerações finais fazer? Há, e muito. Há que se fazer com que as
pessoas possam redescobrir o valor de seu ser,
Ao passear pelo legado da pós-modernida- desatrelado ao valor de seu ter. Há que se fazer
de, fica evidente que o sujeito que vive este e neste com que aprendam que a dor e o sofrimento, em
momento histórico precisa adaptar-se. E esta adapta- alguma medida, fazem crescer, e que não devem
ção não é simplesmente de ordem prática, mas sim ser ferozmente combatidos. Há que se fazer com
de ordem funcional. O homem pós-moderno está que a busca do prazer, o individualismo e o narci-
vendo seu próprio funcionamento dar sinais de des- sismo retomem seus lugares na ordem do dia, dei-
gaste, de cansaço. Atrapalhadamente, maneiras de xando de ser os protagonistas da cena pós-moder-
não sucumbir ao sentimento de vazio e desamparo na. Se isto é utopia, que seja. Se isso é utopia, se
são freneticamente buscadas, no afã de efetivamente quer acreditar, assim como Santos (2001), que isso
encontrar o que todos falam que a pós-modernidade “não é tarefa fácil nem é uma tarefa individual.
veio trazer: o prazer sem limite, o estético, o desejo, Mas se é verdade que a paciência dos conceitos é
os espetáculos, enfim, a felicidade irrestrita. O pro- grande, a paciência da utopia é infinita” (p. 346).

42 Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006.


Comportamentos audodestrutivos, subprodutos da pós-modernidade?

Para tanto, há que se pensar onde se in- Freud, S. (1994a). Além do princípio do prazer. In
sere a Psicologia neste cenário, com seu compro- J. Strachey (Ed. e Trad.). Edição Standard das
misso com a promoção da saúde, com a preven- Obras Psicológicas Completas de Sigmund
ção de quadros psicopatológicos, com a possibili- Freud (Vol. 18, pp. 17-90). Rio de Janeiro: Ima-
dade de se repensar e, até mesmo, reinventar for- go. (Obra Original publicada em 1920).
mas de viver numa sociedade forjada na descren-
Freud, S. (1994b). Luto e Melancolia. In J. Strachey
ça e na desesperança. Que novas formas de subje-
(Ed. e Trad.). Edição Standard das Obras Psi-
tividade foram produzidas pela nova ordem social
cológicas Completas de Sigmund Freud (Vol.
em que se vive, não há como negar. No entanto,
14, pp. 275-296). Rio de Janeiro: Imago. (Obra
parece possível pensar que a Psicologia, como ci-
Original publicada em 1917).
ência do comportamento, pode lançar um outro
olhar para a contemporaneidade, ocupando, as- Garcia, C. A., & Coutinho, L. G. (2004). Os novos
sim, um importante papel na e para a sociedade. rumos do individualismo e o desamparo do
sujeito contemporâneo. Psychê, 8(13), 125-140.
Gay, P. (1989). Freud: uma vida para nosso tem-
Referências
po. São Paulo: Companhia das Letras. (Obra
Original publicada em 1923).
Barros, M., Oliveira, H., & Marin-León, L. (2004).
Epidemiologia no Brasil. In: B. G. Werlang & N. Harvey, D. (2004). Condição Pós-moderna. (13a
J. Botega. Comportamento Suicida (pp. 45- ed.). São Paulo: Loyola.
58). Porto Alegre: Artmed.
Kalina, E., & Kovadloff, S. (1983). As cerimônias
Bauman, Z. (1998). O mal-estar da pós-moder- da destruição. Rio de Janeiro: Francisco Alves.
nidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Lasch, C. (1990). O mínimo eu: sobrevivência
Bauman, Z. (1999). Modernidade e ambivalên- psíquica em tempos difíceis. (5a ed.). São
cia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Paulo: Brasiliense.
Bertolote, J. M & Fleischmann, A. (2004a). Suicide Lourenço, L. C. d´Avila. (2004). Reflexões sobre a
and pychiatric diagnosis: A woldwide perspec- violência e o homem contemporâneo. Psicolo-
tive. World Psychiatry, 1(3), 181-185. gia: Ciência e Profissão, 24(1), 64-73.
Bertolote, J. M, & Fleischmann, A. (2004b). Suicí- Macedo, M. M. K. (2003). Uma leitura psicanalítica
dio e doença mental: Uma perspectiva global. sobre o sofrimento na pós-modernidade. In: P.
In: B. G. Werlang & N. J. Botega. Comporta- A. Guareschi, A. Pizzinatto, L. L. Krüger, & M.
mento Suicida (pp. 35-44). Porto Alegre: Art- M. K. Macedo (Orgs.). Psicologia em questão:
med. Reflexões sobre a contemporaneidade. (pp.
163-175). Porto Alegre: EDIPUCRS.
Birman, J. (2003). Mal-estar na atualidade: A psi-
canálise e as novas formas de subjetivação. Santos, B. de S. (2001). Pela mão de Alice: O so-
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. cial e o político na pós-modernidade. (8a
ed.). São Paulo: Cortez.
Cassorla, R. M. S. (2004). Suicídio e autodestruição
humana. In: B. G. Werlang & N. J. Botega. Com- Saraiva, J. E. M. (2002). Prazer do consumo ou
portamento Suicida (pp. 21-33). Porto Alegre: consumo do prazer? AIDS, consumismo e mal-
Artmed. estar contemporâneo. Revista Mal-estar e Sub-
jetividade, 2(1), 129-140.
Debord, G. (1997). A sociedade do espetáculo.
Rio de Janeiro: Contraponto. Shneidman, E. S. (1993). Suicide as psychache. The
Journal of Nervous and Mental Disease,
Freud, S. (1974). Mal-estar na civilização. In: J. Stra-
181(3), 145-147.
chey (Ed. e Trad.). Edição Standard das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud Shneidman, E. S. (1994). Definition of suicide.
(Vol. 21, pp. 75-171). Rio de Janeiro: Imago. New Jersey: Aronson.
(Obra Original publicada em 1929).

Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006. 43


Liza Fensterseifer; Blanca Susana Guevara Werlang

Shneidman, E. S. (1998). Further reflections on Sisto, N. (2003). Ventana a la violencia. Montevi-


suicide and psychache. Suicide and Life-Thre- deo: Matices.
atening Behavior, 28(3), 245-250.
Souza, R. T. de (2000). Sentido e alteridade: Dez
Shneidman, E. S. (1999). The psychological pain ensaios sobre o pensamento de Emmanuel
assessment scale. Suicide and Life-Threate- Levinas. Porto Alegre: EDIPUCRS.
ning Behavior, 29(4), 287-294.
Vilhena, J. de, & Maia, M. V. C. M. (2002). Agressi-
Shneidman, E. S. (2004). Autopsy of a suicidal vidade e violência: reflexões acerca do com-
mind. New York: Oxford University. portamento anti-social e sua inscrição na cultu-
ra contemporânea. Revista Mal-estar e subje-
Shneidman, E. S. (2005). How I Read. Suicide and
tividade, 2(2), 27-58.
Life-Threatening Behavior, 35(2), 117-120.

Recebido em/Received in: 07/08/2006


Aprovado em/Approved in: 28/09/2006

44 Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 35-44, out./dez. 2006.

Você também pode gostar