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Trata-se de norma penal em branco em sentido amplo, que deve ser complementada
por outra norma de nível idêntico (da mesma fonte legislativa), qual seja: a Lei dos
Direitos Autorais (Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998), que teve por finalidade alterar,
atualizar e consolidar a legislação sobre direitos autorais.
A Constituição Federal já havia assegurado que “aos autores pertence o direito exclusivo
de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar” (CF, art. 5º, XXVII).
De acordo com a referida Lei 9.610/98, os direitos autorais possuem a natureza jurídica
de bens móveis (art. 3º). É considerado autor a pessoa física criadora de obra literária,
artística ou científica (art. 11). Ao autor pertencem os direitos morais e patrimoniais
sobre a obra que criou (art. 22), cabendo-lhe o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor
da obra literária, artística ou científica (art. 28). Entretanto, os direitos de autor poderão
ser total ou parcialmente transferidos a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a
título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de representantes com poderes
especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por outros meios admitidos
em Direito, obedecidas as seguintes limitações previstas no art. 49, da Lei 9.610/98. Os
direitos de autor podem ser: (1) morais – como o de ter o seu nome na obra, estão
previstos nos arts. 24 a 27 da Lei 9.610/98; e (2) patrimoniais – como os direitos de
exploração exclusiva, previstos nos arts. 28 a 45 da mesma lei.
2. Classificação doutrinária
Trata-se de crime comum quanto ao sujeito ativo (aquele que pode ser praticado por
qualquer pessoa), e crime próprio quanto ao sujeito passivo (somente pode ser o autor
da obra literária, artística ou científica, bem como seus herdeiros e sucessores, ou
qualquer outra pessoa titular do direito conexo ao de autor), plurissubsistente (costuma
se realizar por meio de vários atos), comissivo (decorre de uma atividade positiva do
agente “violar”) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (quando o resultado
deveria ser impedido pelos garantes – art. 13, § 2º, do CP), de forma livre (pode ser
cometido por qualquer meio de execução), formal (se consuma sem a produção do
resultado naturalístico, embora ele possa ocorrer), instantâneo(a consumação não se
prolonga no tempo), monossubjetivo (pode ser praticado por um único
agente), simples (atinge um único bem jurídico, a propriedade imaterial da vítima).
3. Objetos jurídico e material
O objeto jurídico do crime de violação de direito autoral é a propriedade imaterial (ou
intelectual), no sentido de proteger o interesse moral e econômico do autor de obra
literária, artística ou científica. Desta forma, como bem observa Rogério Sanches Cunha,
fica “garantido ao autor o direito à paternidade da obra, bem como dela retirar os
benefícios pecuniários advindos da sua reprodução, representação, execução, recitação,
adaptação, transposição, arranjos, dramatização, tradução e radiodifusão”.[3] Objeto
material é a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa do agente, ou seja, é a obra
literária, artística ou científica.
4. Sujeitos do delito
A violação de direito autoral é crime comum, assim, o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa, uma vez que o tipo penal não exige nenhuma qualidade especial do agente.
Sujeito passivo, entretanto, somente pode ser o autor da obra literária, artística ou
científica, bem como seus herdeiros e sucessores, ou qualquer outra pessoa titular do
direito conexo ao de autor sobre essa produção intelectual.
5. Conduta típica
O núcleo do tipo penal está representado pelo verbo violar (infringir, ofender,
transgredir), cuja conduta típica tem por objeto o direito de autor à sua produção
intelectual. Em regra, o crime é comissivo (praticado por meio de uma conduta positiva,
ou de uma ação), mas, excepcionalmente, também pode ser comissivo por omissão,
quando o resultado deveria ser impedido pelo sujeito que tem o dever de agir para
impedir o resultado, mas se omite dolosamente. Trata-se de crime de forma livre que
pode ser cometido por qualquer meio de execução. Como bem observa Guilherme de
Souza Nucci, “a transgressão ao direito autoral pode dar-se de várias formas, desde a
simples reprodução não autorizada de um livro por fotocópias até a comercialização de
obras originais, sem a permissão do autor. Uma das mais conhecidas formas de violação
do direito de autor é o plágio, que significa tanto assinar como sua obra alheia, como
também imitar o que outra pessoa produziu. O plágio pode dar-se de maneira total
(copiar ou assinar como sua toda a obra de terceiro) ou parcial (copiar ou dar como seus
apenas trechos da obra de outro autor)”.[4]
[1]. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direto Penal – Parte Especial – Volume 3.
São Paulo: Saraiva, 8ª ed., 2012, p. 390.
[2]. COSTA, Álvaro Mayrink da. Direito Penal – Parte Especial – Volume II. Rio de Janeiro:
Forense, 5ª ed., 2001, pp. 1221-1222.
[3]. CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal – Parte Especial. (Coleção ciências criminais;
v. 3 / Coordenação Luiz Flávio Gomes, Rogério Sanches Cunha). São Paulo: Revista dos
Tribunais, 3ª ed., 2010, p. 220.
[4]. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 11ª ed., 2012, p. 898.
[5]. De acordo com a Lei de Direitos Autorais, são obras intelectuais protegidas as
criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte,
tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro (Lei 9.610/98, art. 7º).
[6]. Artistas intérpretes ou executantes são todos os atores, cantores, músicos,
bailarinos ou outras pessoas que representem um papel, cantem, recitem, declamem,
interpretem ou executem em qualquer forma obras literárias ou artísticas ou expressões
do folclore (Lei 9.610/98, art. 5º, XIII).
[7]. Fonograma é toda fixação de sons de uma execução ou interpretação ou de outros
sons, ou de uma representação de sons que não seja uma fixação incluída em uma obra
audiovisual (Lei 9.610/98, art. 5º, IX).
[8]. ESTEFAM, André. Direito Penal – Parte Especial – Volume 3. São Paulo: Saraiva,
2011, p. 55.
[9]. JESUS, Damásio E. De. Direito Penal – Parte Especial –Volume 3. São Paulo: Saraiva,
20ª ed., 2011, p. 43.
[10]. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 11ª ed., 2012, p. 905.
[11]. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 11ª ed., 2012, p. 906.
[12]. MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal – Parte Especial – Volume 2. São Paulo:
Método, 4ª ed., 2012, p. 712.