Você está na página 1de 6

A utilização do fogo na agricultura, na pratica do preparo de área, é uma das técnicas

utilizadas na faze inicial da atividade, bastante utilizada, sendo uma técnica mais
rudimentar, comparada a outras alternativas, como a utilização de maquinários e
implementos agrícolas, como roçadeira, trator de esteira e arador, que realizam a pratica
de limpeza e preparo inicial da área, de forma mais rápida e uniforme e também com o
valor econômico mais elevado.

Historicamente uma das práticas mais utilizadas na agricultura, está relacionada ao fogo,
conhecida como agricultura do roçado. Na região Amazônica está técnica vêm sendo
utilizada desde a pré-história, principalmente por se tratar de uma estratégia rápida de
preparo de área (SHUBART, 1983; GLIESSAM, 2012).

Mesmo com outras alternativas de limpeza e preparo de área disponíveis dentro do meio
agrícola, a pratica do fogo na agricultura mostra-se bastante forte e muito usada no campo
brasileiro, despertando estudos e reflexões sobre, ocasionando assim vários contrapontos
acerca da atividade.

Apesar disto, no que se refere a nutrição, está técnica acarreta na mineralização acelerada
dos nutrientes do solo e da vegetação queimada para a cultura cultivada, isto acaba por
ocasionar improdutividade da área a médio e longo prazo, tornando necessário que haja
sempre uma expansão da área a ser cultivada, já que inviabiliza as condições físico-
químicas do solo nas áreas queimadas (JUO; MANU, 1996; HOLSCHER et al, 1997).

O fogo é uma prática que divide opiniões, mas de maneira geral, tem sido condenada no
contexto da agroecologia, desde que destrói parte da matéria orgânica que participa na
formação de um solo fértil e bem estruturado. Ao mesmo tempo, o uso do fogo afeta a
vida animal local de forma geral. Por outro lado, acredita-se ser importante o estudo
detalhado desta prática (SOUZA e MEDRADO, 2015)

Essa utilização do fogo pela agricultura, dentro da lógica atual produtivista, se põe a
assumir um caráter a tornar essa etapa inicial do preparo de área, mais ágil e
nutricionalmente eficaz, entretanto exerce essas funções apenas a um curto e médio
período, pois observa os recursos naturais envolvidos na produção agrícola com um olhar
simplesmente quantitativo da produção, desconsiderando assim, o futuro e a manutenção
do ambiente.
Apesar disto, no que se refere a nutrição, está técnica acarreta na mineralização acelerada
dos nutrientes do solo e da vegetação queimada para a cultura cultivada, isto acaba por
ocasionar improdutividade da área a médio e longo prazo, tornando necessário que haja
sempre uma expansão da área a ser cultivada, já que inviabiliza as condições físico-
químicas do solo nas áreas queimadas (JUO; MANU, 1996; HOLSCHER et al, 1997).

Essa utilização do fogo funciona como uma nutrição imediata, no que se refere aos
nutrientes fundamentais para que o plantio tenha uma boa resposta agronômica inicial,
como Nitrogênio, Fósforo e Potássio, porém não considera a diminuição da matéria
orgânica do solo, a microfauna existente na área, e simultaneamente a manutenção
nutricional desse solo cultivado, e isso pode ser facilmente observado quando o a resposta
agronômica da produção entra em declínio após o primeiro ano de cultivo, caracterizando
assim essa pratica como uma alternativa que visa a nutrição da planta e não do solo para
a planta.

No cenário da Amazônia isto é extremamente prejudicial visto que na região a retirada da


cobertura vegetal para fins econômicos vêm crescendo em larga escala, este processo está
diretamente ligado a danos ambientais, como diminuição na taxa de sequestro de carbono,
aumento do efeito estufa e interferência no ciclo da água, além de problemas sociais,
como o prejuízo a dinâmica do modo de vida de povos tradicionais (DIAZ et al,2003).

É utilizado na maioria das vezes devido a desassistência técnica e consequentemente a


falta de tecnologias para substituir a pratica, e também a falta de linhas de credito
equivalentes aos aspectos socioeconômicos, muito comum na região do Nordeste
paraense, por exemplo.

Logo, é importante que se entenda sobre as ações que fundamentaram as características


do local e da região, os processos de colonização, formação do território, potencialidades
e limitações, tendo todos esses fatores ligados com a linha temporal da conjuntura que os
mesmos ocorreram.
A manutenção das interações e ciclos pertencentes a agricultura é fundamental, e
anteriormente se faz necessário o cuidado em relação aos instrumentos que permitem que
essas ciclos ocorram. Conhecimentos sobre a utilização da água, seleção de sementes,
utilização do fogo na agricultura, armazenamento de alimentos, conservação do solo,
entre outros, foram amplamente desenvolvidos de acordo com as características regionais.
Portanto, a agricultura foi construída a partir de uma relação de proximidade e integração
com a natureza (SOUZA e MEDRADO, 2015)

E assim é fundamental que se faça a análise crítica em relação a conjuntura e rumos que
agricultura vem tendo e simultaneamente avaliar e propor alternativas de se pensar,
produzir e de interagir com o meio ambiente, de forma a considerar as particularidades
de cada local.

Na agroecologia, a compreensão dos recursos naturais, como o solo, é feita de forma a


entender a importância da vida contida no mesmo, e a importância de sua conservação
para manutenção na produção de alimentos e da vida na terra. E já o modelo convencional
agrícola enxerga apenas de forma limitada, fornecendo de nutrientes e fertilizantes
sintéticos, caracterizando uma produção agrícola ofensiva.

A exemplo disso, Primavesi (1990), enraíza a discursão perante a análise:

Destruímos os solos pela aração profunda, que aliás libera enormes quantidades de gás
carbônico pela decomposição explosiva de matéria orgânica, e o trânsito de máquinas
pesadas, pela falta de matéria orgânica e especialmente pelas queimadas (que queimam o
alimento da vida no solo) com a consequente redução da vida do solo, pela adição de
somente três nutrientes, NPK, que desequilibram todos os outros nutrientes, pelas
monoculturas e herbicidas. Em solos decadentes as culturas ficam doentes e são atacadas
por pestes e pragas. E em lugar de recuperar os solos para criar plantas sadias, matam-se
os parasitas que atacam as plantas doentes, com defensivos cada vez mais tóxico.

Para além nas análises técnicas, existe outras problemáticas decorrentes da dependências
de pequenos agricultores e comunidades em relação ao comercio de insumos e
fertilizantes industrializados, criando uma relação de escravidão moderna do campo,
ocasionando na perda da segurança e autonomia alimentar e produtiva.

Atualmente, o que se observa em alternativas de produção sustentável, tem referência o


modo de produção indígena tradicional de manejar o roçado, não fazendo uso de
maquinas para a retirada das plantas nativas da áreas, que difere da lógica de produção
convencional, com a utilização de agrotóxicos, principalmente herbicidas, que
comprovadamente causam inúmeros problemas ambientais e a saúde humana. Sobre essa
pratica de uso exagerados de agrotóxicos Miranda (2007) afirma que como biocidas, os
agrotóxicos interferem em mecanismos fisiológicos de sustentação da vida que são
comuns também aos seres humanos, e, portanto são associados a uma ampla gama de
danos à saúde.

Logo, a agroecologia, através da roça sem fogo, vem como ferramenta e alternativa de
caráter antagônico ao modelo convencional agrícola, visando uma interação que
considere a conjuntura ambiental, cultural e social das comunidades tradicionais, logo o
campesinato brasileiro, mostrando o homem como parte integrante da natureza.

Na produção de base agroecológica, a propriedade é percebida como um ecossistema que


não está destacado do entorno, em que não há separação, mental e material, entre a
produção e a conservação, pois se combinam e se influenciam mutuamente. Essa
percepção facilita o reconhecimento da importância do meio ambiente do entorno e o
manejo do território como um ecossistema único, em que o construído e o natural se
complementam (LEROY, 2011).

Assim, a alternativa da agroecologia, através da pratica da roça sem fogo, se contrapõe


ao modelo dominante de produção, agricultura convencional, apontando para um
desenvolvimento de fato, vinculando a produção de alimentos saudáveis com a
preservação do meio ambiente. Esta segurança socioambiental não se encontra no modelo
dominante de agricultura, e essas preocupações de respeito ao homem e ao meio
ambiente, os tornando apenas um, é facilmente observada em práticas e manejos agrícolas
indígenas, antigos e atuais.

E essa diferença, além de observada facilmente, é também comprovada por vários


estudos, que as áreas de reservas florestais em áreas indígenas estão bem mais
preservadas, e são áreas de maior riqueza em fauna e flora, conciliados a complexos
agrícolas dinâmicos e bem menos agressivos ao meio ambiente.

As Terras Indígenas, assim como outros tipos de Áreas Protegidas, além de exercerem
papel fundamental na conservação da biodiversidade, também atuam como barreiras
gigantes ao avanço do desmatamento. A perda de floresta dentro das Terras Indígenas foi
inferior a 2% no período 2000- 2014, enquanto a média de área desmatada na Amazônia
no mesmo período foi de 19%. Essa baixa taxa está relacionada aos modos tradicionais
de ocupação territorial dos povos indígenas, sua forma de uso dos recursos naturais,
costumes e tradições que, na maior parte dos casos, resultam na preservação das florestas
e da biodiversidade nelas contidas. O desmatamento que ocorre no interior dessas áreas
está geralmente associado às atividades desenvolvidas por não indígenas, como a invasão
para a retirada ilegal de madeira e atividade garimpeira, além da invasão de terras para o
uso agropecuário (CRISÓSTOMO, 2015).

Problemática

No município de Capitão poço – PA, mais especificamente na região do alto Rio Guamá,
encontra-se a aldeia sede dos indígenas Tembé-Tenetehara, que ao decorrer de sua
história de habitação e afirmação no território, passaram por períodos de risco em relação
a sua cultura, através de intervenções históricas e técnicas dos “homens brancos” com
implantações de políticas exógenas de “desenvolvimento”, pensadas de fora para dentro,
da comunidade.

Diante do cenário, encontra-se sérias problemáticas e entraves, como o enfraquecimento


cultural, incluindo além da língua e costumes, o modo de produção tradicional da roça,
em uma perspectiva da percepção da comunidade, ocasionando em um avanço da logica
agrícola convencional, e consequentemente em problemas socioambientais, como
aumento da área desmatada, e assim pondo em risco a permanência dos que vivem no
território hoje, e o futuro da aldeia.

A maioria da comunidade encontra-se em um processo de fortalecimento cultura, e surge


deles a necessidade de se refletir sobre os rumos que a aldeia vem tomando em relação a
sua cultura e a interação com o seu território, e isso inclui o manejo do roçado, que é a
base da alimentação e sustento da aldeia e sua terra. Assim, é importante a intervenção de
forma coletiva com a comunidade para traças estratégias que possa somar com o cenário
atual de fortalecimento cultural com o enfrentamento ao modo de produção agrícola atual.
CRISOSTOMO A.C; ALENCAR, A.; MESQUITA, I.; SILVA, I.C.; DOURADO,
M.F.; MOUTINHO, P; PEDRO DE CONSTANTINO, P.A.L.; PIONTEKOWSK, V.
Terras Indígenas na Amazônia Brasileira: Reservas de carbono e barreiras ao
desmatamento. Agência Alemã de Cooperação Internacional – GIZ, Brasília, 2015

LEROY, Jean Pierre. Territórios e bens comuns. Revista Agriculturas: experiências em


agroecologia, Rio de Janeiro, v.8, n. 4, p. 04-08, dezembro 2011

PRIMAVESI, A. O Solo: a base da vida em nosso globo. Fazenda Ecológica, Itaí/SP,


1990.

SOUZA, M.M.O. MEDRADO, J.S. Agricultura indígena e Agroecologia: reflexões a


partir dos conhecimentos tradicionais do Povo Karajá. Universidade Estadual de Goiás -
Campus Cora Coralina, 2015.

Você também pode gostar