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Notas de Aula
Fı́sica Geral I (F 128)

Prof. Rickson C. Mesquita


Prof. Pedro C. de Holanda

Instituto de Fı́sica “Gleb Wataghin”


Universidade Estadual de Campinas
IFGW - UNICAMP
Copyright © 2019
Prof. Rickson C. Mesquita
Prof. Pedro C. de Holanda

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Art. No 0317
ISBN 978–11–3991–71–9
Edition 0.1

Cover design by Cover Designer

Published by Instituto de Fı́sica “Gleb Wataghin”


Universidade Estadual de Campinas
IFGW - UNICAMP
Printed in Campinas, SP (Brasil)
Sumário

1 Introdução à Fı́sica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1 O método cientı́fico 7
1.2 Grandezas Fı́sicas 8
1.2.1 Grandezas fı́sicas fundamentais 8
1.2.2 Unidades 9
1.2.3 Notação Cientı́fica 9
1.3 Algarismos significativos 10
1.4 Estimativas e ordem de grandeza 11
1.5 Análise Dimensional 11
1.6 Questões de revisão 12
1.7 Problemas 12

2 Movimento em 1 dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 Descrição do movimento 14
2.1.1 Representação gráfica 15
2.1.2 Representação matemática 15
2.2 Posição, deslocamento e distância percorrida 16
2.3 Velocidade média e velocidade escalar média 16
2.4 Velocidade instantânea 17
2.5 Movimento com velocidade constante 17
2.6 Posição, deslocamento e velocidade como vetores 18

3
2.7 Variações na velocidade: aceleração 18
2.7.1 Movimento com aceleração constante 18
2.8 Questões de revisão 20
2.9 Problemas 21

3 Momento linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.1 Atrito 24
3.2 Inércia 25
3.3 Quantidade de movimento ou momento linear 27
3.4 Sistemas 27
3.5 Conservação do momento 29
3.6 Outras questões de revisão 30
3.7 Problemas 31

4 Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.1 Classificação de Colisões 35
4.2 Energia Cinética 36
4.3 Colisões Elásticas 37
4.4 Colisões Inelásticas 37
4.5 Energia Interna 37
4.6 Conservação de Energia 39
4.7 Separações Explosivas 40
4.8 Outras questões de revisão 41
4.9 Problemas 42

5 Interações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1 Os efeitos das interações 44
5.2 Energia potencial 46
5.3 Dissipação de energia 47
5.4 Fontes de energia 49
5.5 Tipos de interações 49
5.5.1 Interações não-dissipativas 49
5.5.2 Interações dissipativas 50
5.6 Um exemplo de interação não-dissipativa: queda livre 51
5.7 Outras questões de revisão 52
5.8 Problemas 52
6 Revisão 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6.1 Problemas 55

7 Forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
7.1 Força e momento 58
7.2 A reciprocidade das forças 60
7.3 Equilı́brio translacional 61
7.4 Diagrama de corpo livre 62
7.5 Tipos de forças 62
7.6 A força gravitacional 63
7.6.1 A força gravitacional próxima da superfı́cie da Terra 63
7.7 Forças de contato 64
7.7.1 Molas 64
7.7.2 Força de tensão 64
7.7.3 Força de compressão ou normal 65
7.8 Impulso 66
7.9 Sistemas de objetos interagindo entre si 66
7.9.1 Sistemas de dois objetos 66
7.9.2 Sistemas de vários objetos interagindo entre si 68
7.10 Centro de massa 68
7.10.1 Generalização para um sistema com vários objetos 69
7.11 Outras questões de revisão 69
7.12 Problemas 70

8 Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
8.1 Força e deslocamento 73
8.2 Trabalho positivo e negativo 74
8.3 Trabalho realizado sobre uma única partı́cula 75
8.4 Escolha do sistema 76
8.5 Trabalho realizado sobre um sistema de várias partı́culas 78
8.6 Forças variáveis 79
8.7 Potência 80
8.8 Outras questões de revisão 81
8.9 Problemas 82

9 Movimento no Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
9.1 O termo “em linha reta” é relativo 85
9.2 Vetores num plano 86
9.3 Movimento de um objeto em duas dimensões 88
9.4 Colisões e momento em duas dimensões 90
9.5 Decomposição de forças 90
9.6 Trabalho como produto de dois vetores 91
9.7 Atrito 92
9.8 Trabalho e atrito 94
9.9 Problemas 94

A Respostas dos Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

Literature . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
1. Introdução à Fı́sica

Muito provavelmente você está fazendo esta disciplina de Fı́sica porque ela é obrigatória para
o seu curso, e talvez não esteja claro porque você deveria fazer esta disciplina. Um primeiro
bom motivo para fazer uma disciplina de Fı́sica é que, primeiramente e mais importante, a
Fı́sica fornece um conhecimento fundamental do mundo. Além disto, independente de você
estudar Engenharia, Geologia, Licenciatura, Biologia, Quı́mica ou Fı́sica, ou qualquer outra
formação, disciplinas de Fı́sica são uma excelente oportunidade para você adquirir habilida-
des de raciocı́nio lógico. Saber Fı́sica significa se tornar um melhor resolvedor de problemas
(independentemente do tipo de problema!), e se tornar um bom resolvedor de problemas leva
a um benefı́cio impagável no longo prazo: permite que você tenha uma metodologia clara de
como abordar um problema desconhecido, o que vai lhe dar mais confiança (e aqui quero di-
zer qualquer problema real, não problemas de livro texto). Portanto, antes de começar nossa
jornada vamos mapear questões fundamentais da Fı́sica como ciência, para que você entenda
com o que estará lidando nos próximos meses.
Referências para leitura: Halliday (capı́tulo 1) e Bauer (capı́tulo 1).

1.1 O método cientı́fico

Definição 1.1 (Método Cientı́fico) O método cientı́fico é um processo iterativo baseado


na observação, que permite formular uma hipótese e uma teoria validada experimen-
talmente (Figura 1.1). Se as predições feitas pela hipótese provam ser precisas após a
realização de testes experimentais, a hipótese é chamada de teoria ou lei, mas sempre
está sujeita a novos testes experimentais. Consequentemente, toda hipótese cientı́fica
deve ser testada experimentalmente.

Um modelo é uma representação conceitual de um fenômeno. Uma teoria é uma explicação


bem testada de um fenômeno natural em termos de processos e relações mais básicas. Uma
lei é uma descrição de uma relação entre quantidades observáveis que se manifesta em even-
tos recorrentes.

7
8 1.2. Grandezas Fı́sicas

Figura 1.1: O método cientı́fico é um processo iterativo na qual uma hipótese, que foi inferida
a partir de observações, é utilizada para fazer uma predição, que é então testada fazendo
novas observações.

1.2 Grandezas Fı́sicas


A Fı́sica se baseia na medição de grandezas fı́sicas. Uma grandeza fı́sica é uma propriedade
fı́sica que pode ser medida e expressa como o produto de um valor numérico e uma unidade.

1.2.1 Grandezas fı́sicas fundamentais


Algumas grandezas fı́sicas, como comprimento, tempo e massa, foram escolhidas como gran-
dezas fundamentais. Cada uma foi definida por meio de um padrão e recebeu uma unidade
de medida (como metro, segundo e quilograma). Outras grandezas fı́sicas são definidas em
termos das grandezas fundamentais e de seus padrões e unidades.
O tempo mede a duração entre dois eventos, e historicamente sempre foi definido em
termos de um evento periódico (medindo a duração de um mesmo evento acontecer subse-
quentemente). A unidade padrão de medição do tempo é o segundo (s), hoje definido em
termos de oscilações do núcleo de um elemento quı́mico (133 Cs).
O comprimento é definido como a medição de distâncias entre dois pontos no espaço. O
metro (m) é a unidade padrão de comprimento, definido como a distância percorrida pela
luz durante um intervalo de tempo especificado.
A massa é a quantidade de matéria em um objeto. Até o ano passado, o quilograma (kg)
era definido a partir de um padrão de massa de platina-irı́dio mantido em um laboratório
nas vizinhanças de Paris. A partir de maio deste ano, utiliza-se a constante de Planck para
sua definição. Para medições em escala atômica, é comumente usada a unidade de massa
atômica, definida a partir do átomo de carbono (12 C).
Capı́tulo 1. Introdução à Fı́sica 9

1.2.2 Unidades
O sistema de unidades mais usado atualmente é o Sistema Internacional de Unidades (SI, do
francês, Système International). Os padrões internacionais para essas unidades foram defini-
dos através de acordos internacionais. Esses padrões são usados em todas as medições.
É possı́vel obter múltiplos reconhecidos pelo SI das unidades de base multiplicando-os
por vários fatores de 10. Esses fatores tem abreviações com letras universalmente aceitas que
são usadas como prefixos (Figura 1.2).

Figura 1.2: Prefixos padrão do SI.

A conversão de unidades de uma mesma grandeza fı́sica pode ser feita usando o método
de conversão em cadeia, no qual os dados originais são multiplicados sucessivamente por
fatores de conversão unitários, e as unidades são manipuladas como quantidades algébricas
até que apenas as unidades desejadas permaneçam.

Exemplo 1.1 Converta 2 min em segundos.

Solução:
60s
 
2min = 2
min


 = 120s
min
1 

1.2.3 Notação Cientı́fica


Se você quer relatar um número relativamente grande ou pequeno, fica entediante ter de
escreve-lo. Por exemplo, o corpo humano contém aproximadamente 7.000.000.000.000.000.000.000.000.000
de átomos. Se você usasse esse número com frequência, certamente gostaria de ter uma
notação mais compacta para ele. A notação cientı́fica é exatamente isso. Os valores numéricos
de qualquer grandeza fı́sica podem ser representados através de uma notação que consiste
em uma mantissa e uma potência de dez:

número = mantissa × 10expoente . (1.1)


10 1.3. Algarismos significativos

Portanto, o número de átomos no corpo humano pode ser escrito de forma compacta como
7 × 1027 .
Outra vantagem da notação cientı́fica é que ela facilita multiplicar ou dividir números
muito grandes ou muito pequenos, pois podemos fazer estas operações de forma indepen-
dente para a mantissa e o expoente.

1.3 Algarismos significativos


Quando certas quantidades são medidas, os valores medidos não são absolutos; eles são
conhecidos dentro dos limites da incerteza experimental. O número de algarismos signi-
ficativos em uma medição pode ser utilizado para expressar algo sobre incerteza. Ele está
relacionado com o número de dı́gitos numéricos para expressar a medida.
O número de dı́gitos que você escreve na mantissa especifica a precisão com que você
alega conhece-la. Quanto mais dı́gitos forem especificados, mais precisão está implicada (Fi-
gura). Portanto, ao computar um resultado de vários números medidos, cada um tendo certa
precisão, você deve fornecer a resposta com o número correto de algarismos significativos.
Ao multiplicar várias quantidades, o número de algarismos significativos na resposta final é
o mesmo que o número de algarismos significativos na quantidade que tem o número menor
de algarismos significativos. A mesma regra se aplica à divisão. Quando valores são adi-
cionados ou subtraı́dos, o número de casas decimais no resultado deve ser igual ao menor
número de casas decimais de qualquer termo na soma ou diferença.

Figura 1.3: Exemplo da importância dos algarismos significativos: dois termômetros me-
dindo a mesma temperatura. (a) O termômetro está marcado em décimos de grau e pode
ser lido com quatro algarismos significativos (36, 85o C); (b) o termômetro está marcado em
graus, então pode ser lido com apenas três algarismos significativos (36, 8o C).
Capı́tulo 1. Introdução à Fı́sica 11

1.4 Estimativas e ordem de grandeza


Suponha que perguntem a você o número de grãos de areia na praia de Ubatuba. Como
resposta, geralmente não se espera um número exato, mas uma estimativa, que pode ser ex-
pressa em notação cientı́fica. A estimativa pode ser ainda mais aproximada se expressa como
ordem de grandeza, isto é, como uma potência de 10 determinada da seguinte maneira:
1. Expresse o número estimado em notação cientı́fica, com o multiplicador da potência
de 10 entre 1 e 10 e uma unidade;
2. Se o multiplicador for menor que 3,162 (a raiz quadrada de 10), a ordem de grandeza
do número é a potência de 10 na notação cientı́fica. Se o multiplicador for maior que
3,162, a ordem de grandeza é uma vez maior que a potência de 10 na notação cientı́fica.
Utilizamos o sı́mbolo ∼ para expressar “é da ordem de”.

Exemplo 1.2 Com base no procedimento acima, verifique as ordens de grandeza dos
seguintes comprimentos: (a) 0, 0086 m ∼ 10−2 m; (b) 0, 0021 m ∼ 10−3 m; (c) 720 m
∼ 103 m.

1.5 Análise Dimensional


Em fı́sica, a palavra dimensão denota a natureza fı́sica de uma quantidade. A distância entre
dois pontos, por exemplo, pode ser medida em metros, pés ou polegadas, que são formas
diferentes de expressar a dimensão comprimento (metros e quilômetros são a mesma forma,
apenas com prefixos diferentes).
Em muitas situações é útil verificar uma equação especı́fica para descobrir se ela satisfaz
as expectativas. O procedimento de análise dimensional pode ser utilizado, pois é possı́vel
tratar as dimensões como quantidades algébricas. Por exemplo, quantidades podem ser adi-
cionadas ou subtraı́das somente se tiverem as mesmas dimensões. Seguindo estas regras
simples você pode utilizar a análise dimensional para determinar se uma expressão tem a
forma correta.
Exemplo 1.3 Determinar quais devem ser n e m para que a expressão

x ∝ an t m
faça sentido. Na expressão acima, x, a e t representam, respectivamente, a posição, a
aceleração e o tempo.

Solução: Sabemos que a relação é correta somente se os dois lados da equação tiverem
a mesma dimensão. Como a equação do lado esquerdo é comprimento, a do lado
direito também deve ser comprimento. Logo,
[an t m ] = L = L1 T 0 .
Como as dimensões de aceleração são L/T 2 e a dimensão do tempo é T , então:
 n
L
T m = L1 T 0 −→ Ln T m−2n = L1 T 0
T2
Logo, n = 1 e m − 2n = 0 −→ m = 2. Portanto, a expressão deve ter a forma x ∝ at 2 .
12 1.6. Questões de revisão

1.6 Questões de revisão

Questão 1.1 Quais das seguintes sentenças são hipóteses?


(a) Na Terra, objetos mais pesados caem mais rápido que objetos mais leves.
(b) O planeta Marte é habitado por seres invisı́veis que são capazes de fazer qualquer
observação.
(c) Planetas distantes abrigam alguma forma de vida.
(d) Manipular sapos causa verrugas.

Questão 1.2 Escreva os seguintes números:


a) 3,873 com 2 algarismos significativos.
b) 0,8533 com 2 algarismos significativos.
c) 17,5493 com 2 algarismos significativos.
d) 11,9955 com 3 algarismos significativos.
e) 0,593 com 2 algarismos significativos.

1.7 Problemas

Atividade 1.1 O raio médio da Terra é 6370 km. Pressupondo que existam 7 bilhões
de habitantes no planeta, qual é a área de superfı́cie disponı́vel por pessoa? Escreva
todos os números em notação cientı́fica.

Atividade 1.2 Uma calculadora exibe o resultado 1, 3652480×107 kg. A incerteza esti-
mada neste resultado é ±2%. Quantos dı́gitos devem ser incluı́dos como significativos
quando o resultado é escrito?

Atividade 1.3 (a) A distância entre duas cidades é 100 milhas. Em quilômetros, qual
é a distância entre as cidades? (b) Em uma rodovia interestadual numa região rural
norte-americana, um carro viaja a 38 m/s. O motorista está excedendo o limite de
velocidade de 75 mi/h?

Atividade 1.4 Dada a equação w = xyz e x = 1, 1 × 103 , y = 2, 48 × 10−2 e z = 6, 000,


determine o valor de w, em notação cientı́fica e com o número correto de algarismos
significativos.

Exercı́cio 1.1 O modo mais comum de medir o consumo de combustı́vel de um carro


no Brasil é quantos quilômetros o carro consegue andar com um litro de combustı́vel
(km/l). Digamos que um carro faça 10 km/l. Calcule este consumo no Sistema Interna-
cional de Unidades.

Exercı́cio 1.2 Suponha que a aceleração a de uma partı́cula movendo-se com veloci-
dade v em um cı́rculo de raio r seja proporcional a alguma potência de r, digamos r n ,
Capı́tulo 1. Introdução à Fı́sica 13

e alguma potência de v, digamos v m . Determine os valores de m e n, e escreva a forma


mais simples de uma equação para a aceleração.

Exercı́cio 1.3 Um átomo de hidrogênio tem diâmetro de 1, 06 × 10−10 m. O núcleo


deste átomo tem diâmetro de aproximadamente 2, 40 × 10−15 m. Encontre a relação
entre o volume do átomo de hidrogênio e o do seu núcleo.

Exercı́cio 1.4 (a) Considere que a equação x = At 3 + Bt descreve o movimento de um


objeto, com x tendo a dimensão de comprimento e t, a dimensão de tempo. Determine
as dimensões das constantes A e B. (b) Determine as dimensões da derivada dx/dt =
3At 2 + B.

Problema 1.1 Determine quantos algarismos significativos na latitude e na longitude


são necessários para localizar o Ciclo Básico.

Problema 1.2 O fı́sico italiano Enrico Fermi era famoso por fazer perguntas com esti-
mativas. Segundo Fermi, “é melhor estar aproximadamente certo do que exatamente
errado.” Não por acaso, Fermi estimou a energia liberada pela explosão nuclear Trinity
em 16/07/1945, no Novo México (EUA), observando a que distância um pedaço de
papel foi soprado pelo vento com a explosão.
Uma das perguntas famosas de Fermi foi usar a estimativa para determinar a ordem
de grandeza de afinadores de piano em Nova York. Seguindo esta inspiração, estime a
ordem de grandeza de dentistas na cidade de Campinas.

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Atividade 1.2, Atividade 1.4, Exercı́cio 1.1, Exercı́cio 1.3, Exercı́cio 1.4
2. Movimento em 1 dimensão

O ramo da fı́sica que lida com representações quantitativas do movimento é chamado de ci-
nemática. A cinemática não considera as causas e os efeitos do movimento; seu objetivo é
somente fornecer uma descrição matemática do movimento. Nesta aula, nós seguimos uma
abordagem cinemática; ou seja, nós representamos o movimento em um gráfico e quantifica-
mos o movimento sem nos preocuparmos com suas causas. Em aulas futuras começaremos
a olhar para as causas do movimento, mas por ora somente nos importaremos com o mo-
vimento enquanto ele está acontecendo. Ao descrever o movimento como representado em
um clip de vı́deo, começamos a desenvolver as qualidades mais básicas na fı́sica: construir
representações simplificadas de situações do mundo real. Você aprenderá como usar tabe-
las, gráficos e funções matemáticas para representar dados do movimento. Finalmente, você
aprenderá a fazer a distinção entre posição e deslocamento.

Referências para leitura: Halliday (capı́tulo 2) e Bauer (capı́tulo 2).

2.1 Descrição do movimento

Para analisar o movimento de um objeto, nós temos que medir a posição do objeto em dife-
rentes instantes de tempo. Se a posição do objeto muda conforme o tempo passa, o objeto
está se movendo. Se a posição não está mudando, o objeto está em repouso.
Considere o movimento de uma pessoa
que anda em linha reta (Figura 2.1). Uma
forma de registrar o movimento desta pes-
soa é tirar fotos da posição desta pessoa em
relação a um ponto especı́fico (digamos, por
exemplo, o canto esquerdo da Figura 2.1),
e anotar todos estes dados numa tabela (Fi-
gura 2.2(A)). A mesma informação pode ser
mostrada graficamente, onde a posição em
relação ao canto esquerdo é graficada em
Figura 2.1: Representação do movimento de uma
função do número da foto (Figura 2.2(B)). pessoa que caminha em linha reta.

14
Capı́tulo 2. Movimento em 1 dimensão 15

Figura 2.2: (A) Tabela com a posição da pessoa em cada foto tirada. (B) Representação gráfica
dos dados da tabela.

2.1.1 Representação gráfica

A Figura 2.2(B) mostra a posição em ape-


nas alguns instantes de tempo. Mas se repe-
tirmos as medidas em intervalos de tempo
cada vez menores, a distância entre os pon-
tos se torna cada vez menor, e eventual-
mente o gráfico vai parecer mais uma curva
contı́nua do que um conjunto discreto de
pontos. Se assumirmos que o movimento
ocorre de forma suave de ponto a ponto no
tempo, podemos obter o mesmo resultado
interpolando os pontos da Figura 2.2. Em
outras palavras, desenhando uma curva su-
ave através dos pontos, como na Figura 2.3. Figura 2.3: Através da interpolação dos pontos
na Figura 2.2, podemos obter uma curva contı́nua
e suave que representa o movimento.
2.1.2 Representação matemática

A curva da Figura 2.3 é chamada de uma


curva x(t) porque ela pode ser representada
por uma função matemática x(t). A curva e a função especificam onde o objeto está num
dado instante. Note que x(t) é um único sı́mbolo que significa “posição x no instante t”; não
é o produto de x por t, e também não deve ser confundido com a unidade em gráficos, x(m),
que significa “posição x em unidades de metros”.
Assim, para encontrar a posição de um objeto num instante de tempo especı́fico, pode-
mos ler a posição diretamente do gráfico ou substituir o instante de tempo numa função. Por
exemplo, x(t = 0, 2s) dá a posição do objeto em t = 0, 2s.
16 2.2. Posição, deslocamento e distância percorrida

2.2 Posição, deslocamento e distância percorrida

A posição x de uma partı́cula em um eixo x mostra a que distância a partı́cula se encontra


de um determinado ponto (que denominamos a origem, ou ponto zero) do eixo. Matemati-
camente, a posição pode ser positiva ou negativa, dependendo do lado em que se encontra a
partı́cula em relação à origem. O sentido positivo de um eixo é o sentido em que os números
que indicam a posição da partı́cula aumentam de valor; o sentido oposto é o sentido negativo.
Quando uma partı́cula se move ao longo
de um eixo, partindo de uma posição inicial
xi até uma posição final xf (Figura 2.4), o
deslocamento ∆x da partı́cula é dado por:

∆x = xf − xi .

A distância percorrida é a distância


acumulada por um objeto ao longo da
trajetória de movimento, independente da
direção. Matematicamente, a distância per-
corrida d entre dois pontos x1 e x2 é dada
por: Figura 2.4: Representação do meu movimento, de
um ponto inicial a um ponto final.
d = |x1 − x2 |.

2.3 Velocidade média e velocidade escalar média

Quando uma partı́cula se desloca de uma posição x1 para uma posição x2 durante um in-
tervalo de tempo ∆t, a velocidade média da partı́cula durante esse intervalo é dada por:

∆x
vmed ≡ .
∆t
Na representação gráfica, a velocidade
média em um intervalo de tempo ∆t é igual
à inclinação da curva que representa as duas
extremidades do intervalo (Figura 2.5).
A velocidade média não depende da
distância que uma partı́cula percorre, mas
apenas das posições inicial e final. A
escalar
velocidade escalar média vmed de uma
partı́cula durante um intervalo de tempo ∆t
depende da distância total percorrida pela
partı́cula nesse intervalo: Figura 2.5: Representação gráfica do movimento
em duas velocidades diferentes. Caminhar com
escalar d metade da velocidade leva o dobro do tempo para
vmed ≡ .
∆t se deslocar na mesma distância.
Capı́tulo 2. Movimento em 1 dimensão 17

2.4 Velocidade instantânea


Frequentemente precisamos saber a velocidade de uma partı́cula num instante especı́fico no
tempo t, em vez da velocidade média por um intervalo de tempo finito ∆t. Podemos fazer isso
calculando a velocidade média em intervalos de tempo ∆t cada vez mais curtos (Figura 2.6).
Quando tomamos um intervalo de tempo ∆t muito curto, muito próximo de zero, estamos
calculando a velocidade média num intervalo tão pequeno que podemos aproxima-lo para a
velocidade no instante t, ao redor de ∆t.
Matematicamente, a velocidade instantânea, geralmente referida simplesmente como
velocidade, no tempo t é:
∆x dx
v ≡ lim = , (2.1)
∆t→0 ∆t dt
d
onde a notação dt representa a derivada de uma função em relação ao tempo. Na representação
gráfica, a velocidade instantânea num tempo t é equivalente à curva tangente no ponto t.

Figura 2.6: Velocidade instantânea como limite da razão entre deslocamento e intervalo de
tempo: (a) velocidade média sobre um intervalo de tempo longo; (b) velocidade média sobre
um intervalo de tempo mais curto; (c) velocidade instantânea em um tempo especı́fico, t3 .

2.5 Movimento com velocidade constante


Para um objeto que se move com velocidade constante, se tomarmos qualquer intervalo de
tempo ∆t a velocidade média será sempre a mesma. Logo, a velocidade em qualquer instante
de tempo t deste objeto será sempre igual à velocidade média, de forma que:

∆x xf − xi
vmed = v = = −→ xf = xi + v∆t
∆t ∆t
18 2.6. Posição, deslocamento e velocidade como vetores

2.6 Posição, deslocamento e velocidade como vetores


Algumas grandezas fı́sicas são totalmente especificadas por um número, que pode ser po-
sitivo ou negativo, e uma unidade de medida. Estas grandezas são chamadas de grandezas
escalares, e obedecem às regras da aritmética e da álgebra elementar. Exemplos de grande-
zas fı́sicas escalares são a temperatura e o tempo.
Outras grandezas, como a posição, o deslocamento e a velocidade, não são totalmente
descritas por um único valor numérico e unidade. Para especifica-las totalmente, é ne-
cessário também dar a direção destas grandezas (por exemplo, 5 m para cima, ou 3 m/s
para a direita). Grandezas que são especificadas por um número, uma direção e a unidade
são grandezas vetoriais, e obedecem às regras da álgebra vetorial.
Vamos discutir melhor as regras da álgebra vetorial ao longo do curso, quando anali-
sarmos movimentos em mais de uma dimensão. Até lá, vamos analisar movimentos que
acontecem em uma única dimensão (não necessariamente na horizontal ou na vertical, mas
sempre para frente ou para trás ao longo de uma linha reta). Neste momento, a diferença en-
tre escalares e vetores não é um problema muito grande porque em uma dimensão a direção
de qualquer vetor pode ser totalmente especificada por um sinal algébrico.

2.7 Variações na velocidade: aceleração


Na seção anterior consideramos o movimento de objetos que se movem com velocidade cons-
tante, onde não há mudança nem do valor da velocidade nem da direção de movimento do
objeto. No entanto, a maioria dos movimentos acontecem mudando aumentando ou dimi-
nuindo o valor da velocidade ou a direção do movimento. Se a velocidade de um objeto está
mudando, o objeto está acelerando. De forma similar ao que fizemos com a velocidade, po-
demos definir a aceleração média de uma partı́cula durante um intervalo de tempo ∆t como
a variação na velocidade, ∆v, durante este intervalo:

∆v vf − vi
amed ≡ = .
∆t ∆t
Também de forma similar, para determinar a aceleração de um objeto num dado instante de
tempo t, calculamos a aceleração média num intervalo de tempo ∆t muito curto, próximo de
zero. Desta forma, a aceleração instantânea (ou simplesmente aceleração) no tempo t é:

d 2x
!
∆v dv d dx
a ≡ lim = = = 2,
∆t→0 ∆t dt dt dt dt

onde a expressão à direita representa a segunda derivada (a derivada da derivada) da posição


x em relação ao tempo t.

2.7.1 Movimento com aceleração constante


Se um objeto se move com aceleração constante (isto é, a velocidade sempre varia a mesma
quantidade num intervalo de tempo ∆t), então em qualquer instante a = amed , de forma que:

∆v
amed = a = −→ vf = vi + a∆t.
∆t
Capı́tulo 2. Movimento em 1 dimensão 19

A equação acima nos permite calcular a aceleração de um


objeto a partir de sua posição. No entanto, muitas vezes es-
tamos interessados no procedimento inverso: qual é o deslo-
camento do objeto durante o intervalo de tempo entre ti e tf ,
quando a aceleração muda conforme a Figura 2.7? Podemos
responder a esta pergunta considerando intervalos de tempo
pequenos o suficiente para assumir que a aceleração é cons-
tante neste intervalo.
Começamos dividindo o intervalo de tempo entre ti e tf em
intervalos de tempo menores δt e aproximando a aceleração
como constante em cada um destes intervalos δt, conforme
mostra a Figura 2.7(a). Em cada intervalo δt podemos escre-
ver que:
(∆v)n = a(tn )δt,
onde n = 1, 2, ..., 7 e a(tn ) é a aceleração no instante tn . Con-
forme pode ser visto na Figura 2.7(b), o produto a(tn )δt é a
área do retângulo escuro. Assim, a variação da velocidade du-
rante todo o intervalo entre ti e tf é aproximadamente igual à
soma de (∆v)n para todos os intervalos δt entre ti e tf :
X X
∆v ≈ (∆v)n = a(tn )δt,
n n
P
onde n a(tn )δt representa a soma de todas as áreas dos
retângulos entre ti e tf (toda a área sombreada na Figura
2.7(b)).
O resultado exato é obtido fazendo δt ser um intervalo
muito próximo de zero (de forma que o número de intervalos
tenda a infinito):
X
∆v = lim a(tn )δt,
δt→0
n
Figura 2.7: Determinação da
que é precisamente a definição da integral da aceleração em variaçõa da velocidade para
relação ao tempo, de ti até tf : um objeto acelerado.
Z tf
∆v = a(t)dt.
ti

Graficamente, a integral representa a área sob a curva a(t) entre ti e tf na Figura 2.7(c).
Uma vez que temos a velocidade, podemos fazer a mesma abordagem para obter o des-
locamento a partir da velocidade. Matematicamente,
Z tf
∆x = v(t)dt.
ti

Geometricamente, o deslocamento do objeto no intervalo compreendido entre ti e tf é dado


pela área sob a curva v(t) entre ti e tf .
20 2.8. Questões de revisão

2.8 Questões de revisão

Questão 2.1 Descreva o movimento representado por cada um dos gráficos da figura
abaixo:

Questão 2.2 Suponha que você caminhe numa linha reta do ponto P ao ponto Q, a 2 m
de P, e depois retorne ao ponto P pela mesma trajetória. (a) Qual é a componente x do
seu deslocamento durante toda a caminhada? (b) Qual foi a distância percorrida du-
rante toda a caminhada? (c) A distância percorrida é a mesma coisa que a componente
x do deslocamento?

Questão 2.3 (a) Qual das linhas 1-8 nos gráficos da figura da questão 2.1 representa
a maior velocidade escalar média? (b) E para qual das linhas a velocidade média é
negativa?

Questão 2.4 Cada uma das fotografias estroboscópicas (a), (b) e (c) na figura abaixo
foi tirada de um disco único movimentando-se para a direita, que consideramos como
a direção positiva. Para cada fotografia, o intervalo de tempo entre imagens é cons-
tante. (a) Qual fotografia mostra movimento com aceleração zero? (b) Qual fotografia
mostra movimento com aceleração positiva? (c) Qual fotografia mostra movimento
com aceleração negativa?
Capı́tulo 2. Movimento em 1 dimensão 21

2.9 Problemas

Atividade 2.1 Um ou mais dos gráficos da figura abaixo representam movimentos


impossı́veis. Identifique quais, e explique porque o movimento é impossı́vel.

Atividade 2.2 A velocidade de um impulso nervoso no corpo humano é de aproxi-


madamente 100 m/s. Se você está no escuro e por acidente bate seu dedão, calcule o
tempo que leva para o impulso nervoso chegar ao seu cérebro.

Atividade 2.3 Uma partı́cula se move ao longo do eixo x de acordo com o gráfico
abaixo. (a) Encontre a velocidade média no intervalo de tempo t = 1, 50 s a t = 4, 00 s.
(b) Determine a velocidade instantânea em t = 2, 00 s. (c) Em qual valor de t a partı́cula
para?

Atividade 2.4 As placas da crosta terrestre da América do Norte e da Europa estão


se afastando com velocidade relativa de aproximadamente 25 mm/ano. Considere a
velocidade como constante e descubra quando a fenda entre elas começou a se abrir
até chegar à largura atual de 2, 9 × 103 milhas.

Atividade 2.5 A figura abaixo mostra uma sequência de fotos (visto de cima) de um
objeto se movendo da esquerda para a direita ao longo de uma trilha. Os interva-
los de tempo entre as fotos são todos iguais. Durante que instantes do movimento o
objeto está (a) acelerando (aumentando o módulo de sua velocidade) e (b) freando (di-
minuindo o módulo de sua velocidade)? Explique como você chegou a esta conclusão.
(c) Como suas respostas mudariam se o objeto estivesse se movendo da direita para a
esquerda?
22 2.9. Problemas

Exercı́cio 2.1 A posição de uma partı́cula se movendo pelo eixo x varia com o tempo
segundo a expressão x = 4t 2 , onde x está em metros, e t está em segundos. Avalie a
posição da partı́cula
(a) em t = 2,00 s
(b) em 2,00 s + ∆t
(c) Avalie o limite de ∆x/∆t conforme ∆t se aproxima de zero, para encontrar a veloci-
dade em t = 2, 00 s.

Exercı́cio 2.2 Você tem que viajar de Campinas a Bauru, que fica a 300 km de
distância. Você precisa chegar em Bauru às 11:15. Você planeja dirigir a 100 km/h
e parte às 8:00 para ter algum tempo de sobra. Você dirige à velocidade planejada du-
rante os primeiros 100 km, mas, em seguida, um trecho em obras o obriga a reduzir a
velocidade para 40 km/h por 40 km. Qual é a menor velocidade que você deve manter
no resto da viagem para chegar a tempo?

Exercı́cio 2.3 Você está dirigindo numa rua de Campinas a 60 km/h quando avista um
semáforo que acabou de ficar amarelo. A maior desaceleração que seu carro é capaz
é 5,18 m/s2 , e seu tempo de reação para começar a frear é de 750 ms. Para evitar
que a frente do carro invada o cruzamento depois que o sinal mudar para vermelho,
sua estratégia deve ser frear até parar ou prosseguir a 60 km/h se a distância até o
cruzamento e a duração da luz amarela forem, respectivamente, 40 m e 2,8 s? As
respostas podem ser frear, prosseguir, tanto faz (se as duas estratégias funcionarem),
ou não há jeito (se nenhuma das estratégias funcionar).

Exercı́cio 2.4 Uma motocicleta parte do repouso e acelera conforme mostra a figura.
Determine (a) a velocidade escalar da motocicleta em t = 4, 0 s e em t = 14, 0 s, e (b) a
distância percorrida nos primeiros 14,0 s.
Capı́tulo 2. Movimento em 1 dimensão 23

Problema 2.1 A posição de uma partı́cula como função do tempo é dada por

1
x(t) = x0 e3αt ,
4
onde α é uma constante positiva.
(a) Em que tempo a partı́cula está em 2x0 ?
(b) Qual é a velocidade escalar da partı́cula como função do tempo?
(c) Qual é a aceleração da partı́cula como função do tempo?
(d) Quais são as unidades do SI para α?

Problema 2.2 A prefeitura de São Paulo implementou em 2015 uma diminuição da


velocidade máxima em vias muito movimentadas como medida para melhorar o fluxo
de veı́culos. Analise quantitativamente esta ideia, a partir do seguinte roteiro:
- Considere que a distância mı́nima que um veı́culo deve manter do veı́culo à frente é
a distância necessária para parar completamente o carro no caso de uma interrupção
instantânea do fluxo de veı́culos;
- que a desaceleração máxima de um veı́culo é de 3 m/s2 ;
- que o tempo de reação média de um condutor é de 0, 5 s;
- que o tamanho médio de um veı́culo é de 3 m;
Calcule a velocidade que maximiza o fluxo de veı́culos em uma via.
(dica: para encontrar o máximo de uma curva, utilize alguma ferramenta gráfica en-
contrável na internet, por exemplo, https://tinyurl.com/y3e7j9fm )

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Atividade 2.3, Exercı́cio 2.1, Exercı́cio 2.2, Exercı́cio 2.3, Exercı́cio 2.4 e Problema 2.1
3. Momento linear

No capı́tulo anterior desenvolvemos uma abordagem matemática para descrever o movimento


ao longo de uma trajetória retilı́nea. Neste capı́tulo, vamos continuar o estudo do movimento
analisando a inércia, uma propriedade dos objetos que afeta o movimento. Os experimentos
que vamos discutir ao estudar a inércia nos leva a descobrir uma das leis mais fundamentais
da fı́sica: a conservação de momento linear.

Referências para leitura: Halliday (seções 5.1, 6.1, 9.2-9.5) e Bauer (seções 4.7, 7.1-7.3).

3.1 Atrito
A Figura 3.1 mostra o movimento de um bloco de ma-
deira deslizando sobre três superfı́cies diferentes. A
diminuição da velocidade é devido ao atrito - a re-
sistência ao movimento que uma superfı́cie ou um ob-
jeto encontra ao tentar se mover sobre outra. Note que a
forma como a velocidade do bloco diminui quando este
desliza sobre o gelo é bem diferente do que quando o
bloco desliza sobre o concreto. O efeito do atrito é tra-
zer o bloco ao repouso. Quanto menos atrito há entre
o bloco e a superfı́cie, mais tempo vai demorar para o
bloco parar. Na ausência de atrito, objetos que se mo-
vem ao longo de uma trajetória horizontal continuam
se movendo sem diminuir sua velocidade.
Na realidade, não há nenhuma superfı́cie total-
mente livre de atrito na qual objetos podem deslizar
para sempre, mas há formas de minimizar o atrito.
Figura 3.1: Velocidade em função do
Questão 3.1 As acelerações dos movimentos tempo para um bloco de madeira des-
mostrados na Figura 3.1 são constantes? Para lizando sobre 3 superfı́cies diferentes:
qual superfı́cie a aceleração tem o maior módulo? gelo, madeira polida e concreto.

24
Capı́tulo 3. Momento linear 25

3.2 Inércia
Podemos descobrir um dos princı́pios mais fundamen-
tais da fı́sica estudando como as velocidades de dois
carros com pouco atrito mudam quando os carros coli-
dem. Vamos primeiro analisar o que acontece com dois carros idênticos, quando colocamos
eles num trilho de ar (onde o atrito será praticamente nulo). A figura 3.2 ilustra o nosso
arranjo experimental. O primeiro carro fica parado; depois, colocamos o segundo carro no
trilho há uma certa distância e se movendo em direção ao primeiro carro. Os dois carros
colidem, e a colisão altera a velocidade de ambos.

Figura 3.2: Experimento com carros se movendo num trilho de ar.

A colisão faz o carro 1 se mover para a direita, e o carro 2 parar. A figura 3.3(a) mostra
as velocidades dos dois carros em diferentes instantes de tempo. A região em cinza mostra
o intervalo de tempo no qual a colisão ocorreu. Embora a colisão pareça “instantânea,” dela
demora aproximadamente 10 ms para o movimento dos carros se ajustar.
Podemos repetir este experimento várias vezes, dando um empurrão cada vez maior no
carro 2. Vamos descobrir que não importa qual é a velocidade do carro 2, a colisão sempre troca
as duas velocidades.

Figura 3.3: Gráfico da velocidade em função do tempo para (a) dois carros idênticos e (b) um
carro simples e um carro duplo, antes e depois de uma colisão num trilho de ar (isto é, com
atrito desprezı́vel).
26 3.2. Inércia

Para determinar se a quantidade de matéria afeta o movimento, podemos colar dois car-
ros para ter o carro 1 com o dobro da massa do carro 2. Desta vez o carro 2 não para comple-
tamente; a colisão reverte a direção de movimento, de forma que depois da colisão o carro
2 se move para a esquerda, conforme mostra a Figura 3.3(b). Após a colisão, o carro duplo,
sendo mais difı́cil para se colocar o movimento do que um único carro, se move para a direta
como anteriormente, mas desta vez com uma velocidade menor. É mais fácil mover uma
pedra pequena do que uma pedra grande!
Podemos repetir o mesmo experimento variando as velocidades iniciais e as direções de
movimento, e vamos observar que não importa como os carros se movem (ou nem se movem)
inicialmente, a variação da velocidade do carro duplo é sempre metade da velocidade do carro
simples. Além disso, as variações das velocidades são sempre em direções opostas, o que
significa que o módulo da velocidade de um carro aumenta enquanto a do outro diminui.
Podemos perceber que é mais difı́cil mudar o movimento dos objetos mais pesados do
que o movimento de objetos mais leves. Objetos mais pesados têm maior resistência quando
tentamos mudar a velocidade deles. Esta tendência de um objeto a resistir a uma mudança
na sua velocidade é o que chamamos de inércia. A inércia de um objeto é determinada pelo
tipo de material na qual o objeto é feito e pela quantidade de material contida no objeto.
Quantitativamente, a inércia de um objeto é representada pelo sı́mbolo m (m vem de
massa, uma grandeza escalar que está relacionada com a inércia e que vamos estudar pos-
teriormente). Matematicamente, podemos usar os experimentos de colisões mencionados
acima para definir a inércia de qualquer objeto, pois a razão da inércida de dois objetos u e s
está relacionada com o inverso da razão da variação do módulo das velocidades dos objetos:

mu ∆v
=− s (3.1)
ms ∆vu

Questão 3.2 Verifique que


|∆vu | 1

|∆vs | 3
para os dois carros na figura abaixo.

Questão 3.3 A inércia do carro desconhecido (unknown) é maior ou menor do que a


inércia do carro padrão (standard)?
Capı́tulo 3. Momento linear 27

3.3 Quantidade de movimento ou momento linear


A definição de inércia acima leva à definição de outra quantidade fı́sica importante: o mo-
mento ou quantidade de movimento. Podemos reescrever a equação acima como:

mu ∆vu + ms ∆vs = 0 −→ mu vu,f − mu vu,i + ms vs,f − ms vs,i = 0.

O produto da inércia pela velocidade de um objeto é chamado de momento: p ≡ mv. A


unidade no SI para o momento é kg·m/s. A partir desta definição, a relação acima pode ser
reescrita como:
∆pu + ∆ps = 0. (3.2)
Esta equação significa que, sempre que um objeto colide com outro objeto, as variações nos
momentos dos dois objetos se somam para dar zero.

3.4 Sistemas
No capı́tulo 2 analisamos o movimento de um único objeto. Mas a situação da seção anterior
coloca uma situação mais realista, onde um número de objetos interagem uns com os outros.
Para analisar estas situações, temos que focar em um ou mais objetos principais - uma pessoa
escalando uma montanha, dois carros colidindo, átomos de um gás num recipiente. O pri-
meiro passo de qualquer análise que fizermos é então separar o(s) objeto(s) de interesse do
resto do Universo. Qualquer objeto, ou grupo de objetos, que podemos separar, na nossa
cabeça, de todo o resto que está ao redor é um sistema.
Por exemplo, quando consideramos uma colisão entre dois carros, podemos considerar
ambos os carros como o nosso sistema. Quando alguém joga uma bola e nós estamos inte-
ressados somente no movimento da bola, a escolha lógica de sistema é a bola; todo o resto -
o lançador, o ar ao redor da bola, a Terra - está fora do sistema e constitui a vizinhança.
Ao analisar qualquer problema, a escolha
do sistema deve ser bastante clara. Há sem-
pre mais de uma forma de separar um sistema.
Para os dois carros colidindo numa trilha, como
ilustrado na Figura 3.4, podemos definir nosso
sistema contendo ambos os carros (como fize-
mos) ou apenas um carro. Decidir o que incluir
no sistema vai quase sempre ser definido pela
informação que você quer aprender. Geralmente
a escolha é óbvia; algumas vezes você vai preci-
sar de experiência para fazer a decisão. Mais im-
portante: uma vez definido o sistema, este deve
permanecer o mesmo durante toda a sua análise.
Falhar ao fazer uma escolha consistente de sis-
tema é uma fonte frequente de erro. Figura 3.4: Duas escolhas para sistema de
carros colidindo numa trilha.
28 3.4. Sistemas

Em particular, estamos interessados em


quantidades extensivas, cujo valor é proporci-
onal ao tamanho do sistema. De forma mais especı́fica, se dividirmos o sistema em partes
menores, então a soma de uma quantidade extensiva para todas as partes separadas é igual
ao valor da quantidade para todo o sistema. O número de árvores num parque, por exemplo,
é uma grandeza extensiva. O preço por litro de gasolina não é uma quantidade extensiva:
se dividirmos o tanque do carro em duas partes e adicionarmos o preço do litro para as
duas partes, vamos obter o dobro do preço por litro do tanque inteiro. Quantidades que
não dependem do tamanho do sistema, como o preço de gasolina por litro, são chamadas de
quantidades intensivas.

Questão 3.4 As seguintes quantidades são extensivas ou intensivas: (a) inércia, (b)
velocidade, (c) o produto da inércia com a velocidade?

Apenas quatro processos podem alterar o va-


lor de uma quantidade extensiva: entrada, saı́da,
criação e destruição. Para entender isso, con-
sidere a Figura 3.5, que representa esquemati-
camente as condições inicial e final de um par-
que durante um certo intervalo de tempo. No
parque, o número de árvores pode mudar ao
longo do tempo porque novas árvores crescem
Figura 3.5: Diagrama de um parque como
(criação), árvores velhas morrem ou são des- sistema. O número de árvores no parque é
matadas (destruição). Alternativamente, novas uma quantidade extensiva.
árvores podem ser trazidas para o parque (en-
trada) enquanto outras árvores são retiradas do parque (saı́da). Desta forma,

variação = entrada − saı́da + criação − destruição.

Sob certas circunstâncias nós podemos excluir os processos de criação ou destruição.


Qualquer quantidade extensiva que não pode ser criada ou destruı́da é chamada de conser-
vada. O valor de uma quantidade conservada só pode mudar através da transferência da
quantidade para dentro/fora do sistema (Figura 3.6).

Figura 3.6: Os efeitos de entrada, saı́da, criação e destruição sobre as quantidades extensivas
de um sistema.
Capı́tulo 3. Momento linear 29

Para uma quantidade conservada num sistema no qual não há a possibilidade de trans-
ferência, as coisas são ainda mais simples: o valor da quantidade não pode mudar. Quan-
tidades conservadas têm um papel importante na fı́sica porque sua contagem é muito sim-
plificada. Nos sistemas nos quais não há transferência de uma quantidade conservada, a
quantidade não muda independente dos processos que ocorrem dentro ou fora do sistema.

3.5 Conservação do momento


O momento é uma propriedade extensiva - podemos adicionar o momento de cada objeto
num sistema para obter o momento total do sistema. Nos exemplos dos carrinhos, podemos
pensar nos dois carros como nosso sistema, de forma que

psistema ≡ pu + ps ,

e a equação 3.2 pode ser reescrita como:

∆psistema = 0. (3.3)

Logo, quando consideramos os dois carros como um sistema, podemos dizer que a colisão
não altera o momento do sistema.
Podemos nos perguntar o que faz o momento de um sistema se alterar. Para isso, vamos
voltar a pensar no movimento do bloco de madeira sobre o piso de concreto da Figura 3.1.
Se considerarmos o bloco como nosso sistema, vemos que há uma interação entre o sistema
(bloco) e o exterior (no caso, o piso). Vamos definir o conceito de interação mais adiante
no curso; por ora, por interação queremos dizer dois objetos tocando um ao outro de forma
que um deles (ou ambos) é acelerado. As interações entre objetos dentro de um sistema
são chamadas de interações internas. As interações entre um objeto do sistema e qualquer
outro objeto fora do sistema são interações externas. No caso do objeto se movendo no piso de
concreto, considerando o objeto como nosso sistema, há ao menos uma interação externa.

Definição 3.1 (Sistemas isolados) Um sistema no qual não há interações externas é
chamado de sistema isolado. Para sistemas isolados, não há nada que possa alterar o
momento do sistema, de forma que

∆psistema = 0 (sistema isolado). (3.4)

Experimentos mostram que qualquer interação entre dois objetos - não apenas colisões -
transfere momento de um objeto a outro. Contudo, a soma dos momentos dos objetos inte-
ragentes nunca muda. Até hoje, nenhuma interação ou outro fenômeno no qual momento
é criado do nada ou destruı́do foi observado. Podemos com isso concluir que o momento
pode ser transferido de um objeto para outro, ou de um sistema para a vizinhança, mas
não pode ser criado ou destruı́do. Esta afirmação é um dos princı́pios mais fundamentais
da fı́sica, e geralmente é referido como conservação do momento. Para qualquer sistema
isolado, a conservação do momento significa que ∆psistema = 0. Para um sistema que não é
isolado, temos que
∆p = J, (3.5)
onde J representa a transferência de momento do ambiente externo para dentro do sistema.
A quantidade J é chamada de impulso entregue ao sistema. Como o momento, o impulso é
30 3.6. Outras questões de revisão

um vetor (ou seja, tem módulo e direção) e tem unidades de kg·m/s. Dependendo da direção
em relação ao momento, o impulso pode aumentar ou diminuir a quantidade de momento
do sistema.
A equação 3.5 é chamada de lei do momento, e vamos usa-la extensivamente neste curso.
A equação engloba a conservação do momento porque ela nos diz que o momento de um
sistema pode mudar somente devido à transferência de momento para o sistema (J). Para
um sistema isolado, o impulso é zero (J = 0) e a lei do momento toma a forma da equação
3.2.

3.6 Outras questões de revisão

Questão 3.5 Os gráficos abaixo mostram diferentes situações dos efeitos dos carros A
e B colidindo com um carro S. Comparando (a) com (b), e depois (c) com (d), liste os
carros A, B e S em ordem crescente de inércia.

Questão 3.6 Suponha que você esteja contando o número de cabeças de gado numa
fazenda. O que você escolhe como seu sistema? Quais são os processos corresponden-
tes à entrada, saı́da, criação e destruição? É possı́vel ter transferência para dentro/fora
do sistema? A contagem é uma grandeza conservada?

Questão 3.7 Considere as colisões representadas na Figura 3.3. Quanto de momento


é transferido em cada uma das colisões? O momento é transferido do carro 1 para o
carro 2, ou na direção oposta?
Capı́tulo 3. Momento linear 31

3.7 Problemas

Atividade 3.1 Considere os dois gráficos da velocidade por tempo mostrados abaixo,
que descrevem um objeto deslizando livre sobre uma superfı́cie plana.
a) Em qual dos dois casos houve uma maior variação do módulo da velocidade?
b) Em qual dos dois casos o módulo da aceleração é maior?
c) O efeito do atrito no movimento é mais pronunciado em qual dos dois casos?

Atividade 3.2 A figura abaixo representa o gráfico da velocidade por tempo para dois
objetos, A e B, antes e após eles colidirem entre si. O objeto B está inicialmente em
repouso.
a) Estime a variação da velocidade dos objetos A e B.
b) Com base na sua resposta para o item anterior, qual objeto deve ter maior inércia?
c) Qual é a razão entre as inércias dos objetos A e B?

Atividade 3.3 Você está andando num ônibus e pensando sobre o número de passa-
geiros dentro do ônibus.
a) O número de passageiros se mantém constante?
b) O número de passageiros dentro do ônibus é uma quantidade extensiva ou inten-
siva?
c) Em termos de número de passageiros, o ônibus pode ser considerado um sistema
isolado?

Atividade 3.4 Um garoto de 65,0 kg e a irmã de 40,0 kg, ambos utilizando patins,
estão de frente um para o outro em repouso. A garota empurra o garoto com força,
mandando-o para trás com velocidade 2,90 m/s em direção ao oeste. Despreze o atrito.
a) Descreva o movimento subsequente da garota.
32 3.7. Problemas

b) O momento do sistema garoto-garota é conservado no processo de empurrar-afastar-


se?
c) Se sim, explique como isso é possı́vel considerando que não há movimento anterior
nem muito movimento posteriormente.
d) Calcule a velocidade da garota após o empurrão.

Atividade 3.5 Um carro de massa m movendo-se a uma velocidade escalar v1 colide


e se une à traseira de um caminhão de massa 2m movendo-se inicialmente na mesma
direção que o carro a uma velocidade escalar menor v2 . Para calcular a velocidade es-
calar, vf , dos dois veı́culos imediatamente após a colisão, siga o seguinte roteiro:
a) Defina um sistema isolado para tratar o problema.
b) Calcule o momento linear total do seu sistema imediatamente antes e imediata-
mente após a colisão.
c) Calcule vf .

Exercı́cio 3.1 A figura abaixo mostra a posição em função do tempo para uma colisão
entre dois carros numa pista onde o atrito pode ser ignorado. O carro 1 tem uma
inércia de 1,0 kg; o carro 2 tem uma inércia de 4,0 kg. (a) Quais são as velocidades
iniciais e finais de cada carro? (b) Qual é a variação na velocidade de cada carro? (c)
Esboce o gráfico da velocidade em função do tempo para a colisão. (d) O carro 1 tem
aceleração diferente de zero? Se sim, quando, e qual é o sinal da aceleração? (e) O carro
2 tem aceleração diferente de zero? Se sim, quando, e qual é o sinal da aceleração? (f)
Verifique que a conservação de momento se aplica neste caso.

Exercı́cio 3.2 Uma bala de inércia mb é atirada horizontalmente com velocidade vb,i
contra um bloco de madeira de inércia mm inicialmente parado numa superfı́cie sem
atrito. A bala atravessa o bloco e sai com velocidade vb,f . Determine a velocidade final
do bloco, vm,f , seguindo o seguinte roteiro:
a) É possı́vel definir um sistema isolado para tratar o problema? Em caso positivo, de-
fina tal sistema.
b) Calcule o momento linear total do seu sistema imediatamente antes e imediata-
mente após a interação da bala com o bloco.
c) Calcule vm,f . Deixe sua resposta em termos das quantidades dadas.
Capı́tulo 3. Momento linear 33

Exercı́cio 3.3 Uma bola de futebol de massa m = 200 g é chutada em direção a uma
vidraça, atingindo-a quando está se deslocando horizontalmente, a uma velocidade de
3 m/s. A bola atravessa a vidraça, diminuindo sua velocidade para 1 m/s. Determine
o impulso transferido para a bola pela vidraça através do seguinte roteiro:
a) É possı́vel definir um sistema isolado para tratar o problema? Em caso positivo, de-
fina tal sistema.
b) Calcule o momento linear total do seu sistema imediatamente antes e imediata-
mente após a interação da bala com a vidraça.
c) Calcule o impulso.

Exercı́cio 3.4 Em um perı́odo de seis meses a Terra realiza meia revolução em torno
do Sol. A massa da Terra é de ∼ 6 × 1024 kg e sua velocidade de translação é de ∼ 105
km/h.
a) Calcule a variação do momento linear da Terra nestes seis meses.
b) Um sistema isolado pode ser definido como contendo a Terra e o Sol. O momento
linear é conservado neste sistema? Justifique.
c) Calcule a variação da velocidade do Sol nestes seis meses. A massa do Sol é de
∼ 2 × 1030 kg.

Exercı́cio 3.5 Um vagão de trem move-se a uma velocidade vi em uma linha em


direção a três outros vagões parados. Todos os vagões são idênticos, e estão separados
a uma certa distância um do outro. O vagão em movimento atinge o primeiro vagão
parado, e se acopla a ele. Em seguida os dois vagões atingem o terceiro, acoplando-se a
este, e assim sucessivamente. Calcule a velocidade final do comboio de vagões através
de duas formas:
a) Calculando a velocidade final dos vagões depois de cada colisão, e utilizando seu
resultado como condição inicial para a próxima colisão.
b) Definindo um sistema isolado que contenha todos os vagões, e aplicando
conservação de momento.

Problema 3.1 Um carro de 1 kg colide com um carro A de inércia desconhecida num


trilho. Ambos os carros parecem sofrer atrito significante devido ao movimento das
rodinhas porque as velocidades dos carros mudam com o tempo conforme mostrado
na figura abaixo. (a) Quais são as velocidades dos carros em t = 0, t = 5, 0 s, t = 6, 0
s, e t = 10 s? (b) Quando os carros não estão colidindo, os carros estão acelerando ou
desacelerando? (c) A aceleração/desaceleração de cada carro é a mesma antes e depois
da colisão? (d) Qual é a inércia do carro A?
34 3.7. Problemas

Problema 3.2 Considere uma molécula de um gás monoatômico de inércia m, que está
preso numa caixa e se move para frente e para trás com velocidade constante v entre
as paredes A e B, opostas uma a outra e distantes l uma da outra. A cada colisão com a
parede, a molécula muda a direção do movimento sem mudar seu módulo. Em termos
das variáveis do problema, escreva (a) a variação do momento da molécula quando
ela colide com a parede B, (b) o intervalo de tempo entre colisões com a parede B, (c)
o número de colisões por segundo da molécula com a parede B, e (d) a variação no
momento, por segundo, como resultado destas colisões.

Problema 3.3 Um canhão é rigidamente fixado a uma base, que pode se mover ao
longo de trilhos horizontais. A massa do canhão e da base é de M = 5000 kg. O canhão
dispara um projétil de massa m = 200 kg a uma velocidade de v0 = 125 m/s fazendo
um ângulo de 45° acima da horizontal.
a) Considerando somente a dinâmica na direção horizontal, o sistema definido pelo
canhão, base e projétil define um sistema isolado? E considerando a dinâmica na
direção vertical?
b) Encontre a velocidade de recuo do canhão.
c) Encontre o impulso exercido no canhão pelo chão.

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Exercı́cio 3.1, Exercı́cio 3.2, Exercı́cio 3.4, Problema 3.2 e Problema 3.3
4. Energia

Agora que conhecemos a conservação de momento, podemos determinar a velocidade final


de dois objetos colidindo se conhecemos somente as velocidades iniciais e sabendo que o mo-
mento se conserva? A resposta é não se nossa única ferramenta for a lei de conservação do
momento. Apenas saber que o momento linear é constante não é suficiente. Precisamos de
informações adicionais para predizer as posições e velocidades futuras. No processo de buscar
tais informações adicionais, desenvolvemos outra lei de conservação - a conservação de ener-
gia.

Referências para leitura: Halliday (seções 7.1, 8.2, 8.5, 9.6-9.7) e Bauer (seções 5.1-5.2, 6.5,
7.4-7.7).

4.1 Classificação de Colisões


Podemos ressaltar nas colisões que discutimos até aqui que a diferença da velocidade entre
dois carros, v~2 − v~1 , na maioria dos casos tem a mesma amplitude antes e depois da colisão. A
diferença da velocidade do carro 2 em relação ao carro 1 é chamada de velocidade relativa
do carro 2 em relação ao carro 1, v~12 ≡ v~2 − v~1 . Logo, podemos dizer que nas colisões que
discutimos até aqui a velocidade relativa entre os carros não muda depois da colisão, com-
parado com a velocidade relativa entre os carros antes da colisão. A Figura 4.1 mostra duas
situações onde o módulo desta velocidade relativa não se modifica com a colisão. A estas
colisões onde o módulo da velocidade relativa não se altera chamamos de colisão elástica.
Uma colisão onde o módulo desta velocidade relativa é menor após a colisão do que
antes da colisão é chamada de colisão inelástica. Um exemplo particular de colisão inelástica
ocorre quando os objetos se grudam após a colisão, seguindo juntos com a mesma velocidade,
e portanto com velocidade relativa nula. A esta colisão denominamos de colisão totalmente
inelástica.
Como você pode imaginar, se uma colisão vai ser elástica, inelástica ou totalmente inelástica
vai depender das propriedades dos objetos envolvidos. Contudo, se soubermos o que acon-
tece com a velocidade relativa numa colisão, podemos usar esta informação junto com a
conservação do momento para determinar as velocidades finais.

35
36 4.2. Energia Cinética

Figura 4.1: Velocidade em função do tempo duas colisões, uma com dois carros idênticos, e outra
com carros de inércias diferentes. Em ambas as colisões a velocidade relativa dos carros antes e depois
da colisão não se altera.

4.2 Energia Cinética


A velocidade relativa não é uma variável extensiva, portanto não podemos desenvolver uma
abordagem similar à que fizemos para o momento no capı́tulo anterior. Precisamos buscar
uma variável extensiva que nos permita descrever as colisões elásticas, de forma que tal
variável seja a mesma antes que depois da colisão. Esta variável, como veremos a seguir, é a
Energia Cinética, K = mv 2 /2.

Questão 4.1 Justifique porque a energia cinética é uma quantidade extensiva.

Na figura 4.2 temos dois exemplos de colisão onde as condições iniciais são idênticas. A
primeira colisão é elástica, e a segunda totalmente inelástica. Para a colisão elástica, onde
a velocidade relativa não muda, a soma das energias cinéticas dos dois carros antes e de-
pois da colisão é a mesma. Para a colisão totalmente inelástica, tanto a velocidade relativa
como a soma das energias cinéticas dos dois carros mudam. De forma geral, observamos que
numa colisão elástica, a soma das energias cinéticas dos objetos antes e depois da colisão
é sempre a mesma.

Figura 4.2: Velocidade em função do tempo duas colisões, .


Capı́tulo 4. Energia 37

4.3 Colisões Elásticas


Em uma colisão elástica, temos que o módulo das velocidades relativas permanece constante
(a menos de um sinal, por causa da inversão de sua direção):

v2i − v1i = −(v2f − v1f )


Considerando também a equação que descreve conservação de momento:

m1 v1i + m2 v2i = m1 v1f + m2 v2f

podemos, após um pouco de manipulação algébrica, chegar no resultado que a energia


cinética permanece constante:

1 2 1 2 1 2 1 2
m1 v1i + m2 v2i = m1 v1f + m2 v2f
2 2 2 2
ou seja,
∆K = 0
onde K = K1 + K2 = 21 m1 v12 + 12 m2 v22 é a energia cinética total do sistema.
Supondo que conhecemos as velocidades iniciais de duas partı́culas que colidem elasti-
camente, com as equações de conservação de momento e conservação de energia, podemos
determinar suas velocidades finais. Após um pouco de manipulação algébrica, encontramos:

m1 − m2 2m2 2m1 m − m2
v1f = v1i + v2i ; v2f = v1i − 1 v
m1 + m2 m1 + m2 m1 + m2 m1 + m2 2i

4.4 Colisões Inelásticas


Em uma colisão totalmente inelástica, a velocidade relativa final entre os dois objetos é zero.
Portanto se pode obter a velocidade final dos objetos:
m1 v1i + m2 v2i
vf =
m1 + m2

A maioria das colisões ocorre em uma situação que é um meio termo entre uma colisão
elástica e uma colisão totalmente inelástica. Podemos parametrizar esta situação definindo
um coeficiente de restituição, , como a razão das velocidades relativas finais e iniciais:
v12,f v2,f − v1,f
≡− =−
v12,i v2,i − v1,i

4.5 Energia Interna


Em colisões inelásticas a velocidade relativa dos objetos muda, e portanto a energia cinética
total também muda. Podemos fazer a pergunta: a energia desaparece, ou vai para algum
lugar?
O que ocorre é que é possı́vel associar uma forma de energia ao estado do sistema. Aqui,
o significado de estado é a condição de um ou mais objetos do sistema especificado por um
conjunto de parâmetros fı́sicos: forma, temperatura, ou qualquer outra variável fı́sica que
38 4.5. Energia Interna

define o objeto. Após uma colisão inelástica, o estado do sistema muda de alguma forma, ao
contrário de uma colisão elástica, onde o estado do sistema permanece inalterado.
A transformação de um sistema de um estado inicial para um estado final é chamada de
processo. Processos causam mudança no sistema, por isso na Fı́sica queremos entende-los.
As colisões inelásticas envolvem mudanças que não podemos desfazer: dois carros ficam
danificados após uma colisão inelástica, e não é possı́vel “desfazer” esta mudança simples-
mente separando os carros. Os processos causados por estas colisões inelásticas são proces-
sos irreversı́veis, o que significa que as mudanças nos objetos envolvidos no processo não
podem ser desfeitas de forma espontânea.
De forma oposta, colisões elásticas são processos reversı́veis, o que significa que não há
mudanças permanentes no estado do sistema. Os objetos parecem os mesmos antes e depois
da colisão.
Suponha que pudéssemos associar uma quantidade com a mesma unidade da energia
cinética (kg·m2 /s2 ) com o estado de um sistema - vamos chamar esta quantidade de ener-
gia interna, Eint . Desta forma poderı́amos arrumar as coisas de forma que numa colisão
inelástica o aumento da energia interna do sistema é igual à diminuição da energia cinética
dos objetos do sistema. Isto significa que numa colisão inelástica uma forma de energia é
convertida em outra forma (cinética para interna) mas a soma das energias cinética e interna
- coletivamente chamadas de energia do sistema - não muda. A energia pode ser convertida
de uma forma para outra, mas não pode ser criada ou destruı́da. É portanto uma variável
extensiva conservada.

Questão 4.2 Um pedaço de massa é jogado contra uma parede e gruda na parede. A
energia interna do sistema massa-parede aumenta, diminui ou permanece a mesma?

Há várias formas possı́veis de energia interna:


energia quı́mica, energia térmica, energia elástica etc.
Mais adiante na disciplina vamos especificar o estado
de um sistema e como calcular a energia interna cor-
respondente. Mas podemos estender a ideia da ener-
gia interna para outras interações. Considere, por
exemplo, um carro inicialmente em repouso num tri-
lho de ar que é colocado em movimento por uma
mola, como na Figura 4.3(a). Conforme o carro é ace-
lerado pela mola, a energia cinética do carro aumenta
mas o seu estado não muda, de forma que sua ener-
gia aumenta (Figura 4.3(b)). De onde a energia veio?
A mola coloca o carro em movimento, logo é razoável
assumir que a mola transfere energia para o carro. De
fato, a mola se expande - seu estado muda - e portanto
sua energia interna muda.
Se nós incluirmos a mola no sistema (Figura
4.3(c)) e atribuir o aumento da energia cinética do
carro à diminuição da energia interna da mola, po-
demos novamente arranjar as coisas de forma que
a energia do sistema carro-mola não muda (∆E = Figura 4.3: Energias inicial e final para
∆Kcarro + ∆Emola = 0). duas escolhas de sistemas diferentes.
Capı́tulo 4. Energia 39

Questão 4.3 (a) O momento do sistema carro-


mola é constante? (b) O sistema está isolado?

Definição 4.1 (Sistemas fechados) O sistema contendo a mola e o carro na Figura 4.3
não está isolado. Contudo, nenhuma energia é transferida para o sistema, de forma
que a energia do sistema é constante.a Qualquer sistema no qual nenhuma energia
é transferida é chamado de um sistema fechado. Um ponto importante é que um
sistema fechado não precisa ser isolado (e, de forma análoga, um sistema isolado não
necessariamente é fechado).
a Como eu sei que nenhuma energia é transferida para o sistema carro-mola? A expansão da mola e a
aceleração do carro não causam nenhuma mudança no estado ou movimento da vizinhança (o trilho, a
Terra, etc.). Consequentemente, a energia da vizinhança não muda, o que significa que nenhuma energia
foi transferida da vizinhança para o sistema.

Quando analisamos variações na energia, é conveniente escolher um sistema no qual


nenhuma energia é transferida para ou do sistema (um sistema fechado). Podemos fazer isso
fazendo um esboço das condições inicial e final dos objetos em consideração, identificando
as mudanças no estado ou no movimento que ocorrem durante o intervalo de tempo de
interesse, e escolhendo um sistema que inclui todos os objetos sob mudança de estado ou
movimento. Ao verificar que nada na vizinhança do sistema passa por uma mudança no
movimento ou no seu estado podemos ter certeza que o sistema que escolhemos é um sistema
fechado.

4.6 Conservação de Energia


Um sistema fechado é definido como aquele onde nenhuma energia entra ou sai do sistema.
Portanto em um sistema fechado, qualquer mudança de energia cinética deve ser acompa-
nhada por uma mudança equivalente da energia interna, de modo que a soma das energias
não mude:
Ki + Eint,i = Kf + Eint,f (sistema fechado). (4.1)
A equação 4.1 é válida para qualquer sistema fechado (não só para colisões entre carros). Se
escrevemos a soma das energias cinética e interna de um objeto ou sistema como a energia
(total) do sistema,
E ≡ K + Eint ,
podemos reescrever a equação 4.1 como

Ei = Ef

ou
∆E = 0.
Mesmo que ainda não sabemos calcular a energia interna, Eint , a equação acima nos permite
chegar a conclusões importantes. Primeiro, se a energia cinética de um sistema fechado
muda, então o estado do sistema também deve mudar de

∆Eint = −∆K.
40 4.7. Separações Explosivas

Figura 4.4: Dois exemplos de conservação de energia num sistema fechado. (a) A energia
cinética da bola é convertida em energia interna no colchão deformado. (b) Energia quı́mica
armazenada na bateria é convertida em energia térmica.

Como exemplo, considere a bola que cai sobre o colchão e eventualmente fica em re-
pouso (Figura 4.4(a)). Até a bola parar, o movimento da mola muda, assim como a forma
do colchão. A bola e o colchão constituem um sistema fechado, e a diminuição da energia
cinética da bola deve estar acompanhada do aumento da energia interna no sistema.
A segunda conclusão é que se a energia cinética de um sistema não muda, então a energia
interna do sistema também não muda. Mas como Eint é a soma das energias internas de todas
as partes que compõem o sistema, ∆Eint = 0 não significa que nenhuma mudança ocorreu.
Tome, por exemplo, a Figura 4.4(b). Quando a bateria é utilizada, se torna muito quente.
Como não há movimento antes ou depois do processo de utilizar a bateria, não há mudança
na energia cinética no sistema. No entanto, a energia quı́mica na bateria é convertida em
energia térmica, de forma que
∆Equim + ∆Eterm = 0.

4.7 Separações Explosivas


É possı́vel também haver processos onde a energia cinética do sistema aumenta, recebendo
energia a partir de uma diminuição da energia interna. Denominamos estes processos de
separações explosivas (ou explosões). A Figura 4.5 mostra uma separação explosiva que pode
ser feita num trilho de ar. Dois carros, com inércias m e 3m, são seguros contra uma mola
comprimida. Quando os carros são liberados, eles se movem em direções opostas enquanto a
mola expande. A expansão da mola muda o estado da mola e, consequentemente, sua energia
interna; a diminuição da energia interna da mola causa um aumento na energia cinética dos
carros. Note como o gráfico da Figura 4.5(c) é o inverso das figuras de colisão totalmente
inelástica que discutimos anteriormente.
Capı́tulo 4. Energia 41

Figura 4.5: Exemplo de separação explosiva.

Para determinar as velocidades finais dos carros precisamos saber quanta energia Eint a
mola libera (vamos discutir isto mais adiante no curso). Uma vez que obtermos ∆Eint , temos
duas equações que nos permite obter as duas velocidades finais, uma como consequência da
conservação de momento
0 = m1 v1,f + m2 v2,f

e outra como consequência da conservação de energia

1 2 1 2
∆K + ∆Eint = m1 v1,f + m2 v2,f + ∆Eint = 0.
2 2

4.8 Outras questões de revisão

Questão 4.4 Um carro em movimento colide com um carro idêntico inicialmente em


repouso num trilho de ar sem atrito, e ambos se “grudam”. Qual fração da energia
cinética inicial do sistema permanece nesta colisão totalmente inelástica?

Questão 4.5 Considere um objeto isolado em repouso no espaço. O objeto contém


energia interna de alguma forma. Em princı́pio, é possı́vel converter a energia interna
em energia cinética, de forma que o objeto comece a se mover?

Questão 4.6 Um galão de gasolina contém aproximadamente 1, 2 × 108 J de energia.


Se toda essa energia fosse convertida em energia cinética num carro de 1.200 kg, quão
rápido o carro poderia ir?
42 4.9. Problemas

4.9 Problemas

Atividade 4.1 (a) Você está dirigindo um carro a 25 m/s quando ultrapassa um ca-
minhão viajando na mesma direção a 22 m/s. Se a direção na qual os dois carros estão
viajando é tida como positiva do sistema de coordenadas, qual é a velocidade do ca-
minhão em relação a você? (b) Agora uma motocicleta ultrapassa você a 29 m/s. Qual
é a velocidade da motocicleta em relação a você?

Atividade 4.2 Dois blocos de massa m1 e m2 e velocidades iniciais v1 e v2 sofrem


uma colisão. Em qual situação o impulso exercido entre os carrinhos é maior, em uma
colisão elástica ou em uma colisão totalmente inelástica? Justifique.

Atividade 4.3 Um átomo de urânio-238 pode se desintegrar num átomo de tório-234


e uma partı́cula chamada de partı́cula alfa, α-4 (os números indicam as inércias dos
átomos e da partı́cula α em unidades de massa atômica, onde 1 u.m.a. = 1, 66 × 10−27
kg). Quando um átomo de urânio inicialmente em repouso se desintegra, um átomo
de tório recua com velocidade −2, 5 × 105 m/s. Quanto da energia interna do átomo de
urânio é liberada durante o processo de desintegração?

Exercı́cio 4.1 Um rio flui com velocidade constante v. Um estudante nada rio acima
uma distância d e depois volta ao ponto de partida. O estudante consegue nadar a
uma velocidade c em água parada. (a) Em termos de d, v e c, que intervalo de tempo é
necessário para o percurso completo? (b) Que intervalo de tempo seria necessário se a
água fosse parada? (c) Qual intervalo de tempo é maior? Explique se é sempre maior.

Exercı́cio 4.2 Dois blocos de massa m1 e m2 e velocidades iniciais v1 e v2 colidem elas-


ticamente. Suponha que possamos ajustar as massas de m1 e m2 livremente. Encontre
em que situação o bloco 2 dobra sua velocidade devido à colisão.

Exercı́cio 4.3 Dois blocos de massa m1 = 0.25 kg e m2 = 0.40 kg se deslocam em uma


linha reta em um trilho sem atrito a velocidades v1i = 0.20 m/s e v2i = −0.050 m/s. Os
blocos sofrem uma colisão totalmente inelástica.
a) Escreva as equações de conservação de momento linear. A energia cinética se con-
serva?
b) Calcule as velocidades finais dos dois blocos.
c) Faça um gráfico das velocidades dos blocos em função do tempo, ressaltando em seu
gráfico as velocidades relativas dos blocos antes e depois da colisão.

Exercı́cio 4.4 Dois blocos de massa m1 = 0.25 kg e m2 = 0.40 kg se deslocam em uma


linha reta em um trilho sem atrito a velocidades v1i = 0.20 m/s e v2i = −0.050 m/s. Os
blocos colidem elasticamente.
a) Escreva as equações de conservação de momento linear e conservação de energia
cinética.
b) Calcule as velocidades finais dos dois blocos.
Capı́tulo 4. Energia 43

c) Faça um gráfico das velocidades dos blocos em função do tempo, ressaltando em seu
gráfico as velocidades relativas dos blocos.

Exercı́cio 4.5 Um carro de 1000 kg viajando em linha reta com velocidade de +20
m/s colide de frente com uma caminhonete de 1500 kg viajando com velocidade de
−10 m/s. (a) Se 10% da energia cinética do sistema é convertida em energia interna
durante a colisão, quais são as velocidades finais do carro e da caminhonete? (b) Se o
carro tivesse batido na traseira da caminhonete que estaria se movendo com +10 m/s,
como a resposta do item (a) mudaria?

Exercı́cio 4.6 Dois blocos de massa m1 e m2 e velocidades iniciais v1 e v2 sofrem uma


colisão completamente inelástica.
a) Calcule a perda de energia cinética do sistema.
b) Repita seu cálculo quando a colisão é parcialmente inelástica, com um coeficiente
de restituição .

Exercı́cio 4.7 Um sistema consiste de um carrinho de 4,0 kg e um carrinho de 1,0


kg conectados um com outro por uma mola comprimida. Inicialmente, o sistema está
em repouso num trilho de ar, com atrito desprezı́vel. Quando a mola é relaxada, uma
separação explosiva ocorre às custas da energia interna armazenada na mola compri-
mida. Se a mudança na energia interna da mola durante a separação é de 1,0 kJ, qual
é a velocidade de cada carrinho logo após a separação?

Problema 4.1 Um mito urbano diz que é possı́vel escapar com vida de uma queda de
elevador pulando para cima instantes antes do elevador tocar no chão. Supondo uma
queda de 5 metros de altura, calcule o impulso que você deve dar ao elevador para
que este plano funcione. Quanto de energia você deve gastar neste processo? Avalie
criticamente os valores encontrados. Suponha um elevador de 500 kg de massa e que
você tenha 70 kg.

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Atividade 4.3, Exercı́cio 4.1, Exercı́cio 4.3, Exercı́cio 4.4, Exercı́cio 4.7
5. Interações

Na semana anterior vimos como as interações podem alterar a energia cinética de objetos bem
como suas energias internas. Todo evento que ocorre neste universo é o resultado de alguma
interação entre objetos. As interações determinam a estrutura do universo, desde a escala
subatômica até a escala cosmológica. Neste capı́tulo vamos estudar como as interações con-
vertem energia de uma forma para outra. No processo vamos aprender mais sobre o conceito
de energia interna introduzido na semana anterior.

Referências para leitura: Halliday (cap. 8) e Bauer (cap. 6).

5.1 Os efeitos das interações


No sentido mais amplo, interações são in-
fluências mútuas entre dois objetos que
produzem mudança (tanto mudança fı́sica
quanto no movimento). Como exemplo,
considere um carro parado numa pista ho-
rizontal. A única forma de fazer o carro se
mover é fazer ele interagir com alguma ou-
tra coisa. Poderı́amos, por exemplo, dar um
empurrão ou fazer o carro colidir com outro
carro, ou colar um imã no carro e puxa-lo ou
empurra-lo com outro imã.
Uma interação que acelera um objeto Figura 5.1: Uma interação entre dois carros pre-
pode ser tanto repulsiva quanto atrativa. sos por uma mola.
Uma interação repulsiva é tal que os corpos
que interagem aceleram na direção de se afastarem um do outro; numa interação atrativa
os corpos aceleram um em direção a outro. Algumas interações são repulsivas sob certas
condições, e atrativas sob outras condições. Um exemplo está na Figura 5.1, que mostra
a interação entre dois carrinhos ligados por uma mola. Quando a mola está esticada, a
interação é atrativa; quando a mola está comprimida, a interação é repulsiva.

44
Capı́tulo 5. Interações 45

A Figura 5.2 representa as componentes x das velocidades, os momentos, as acelerações e


as energias cinéticas de dois carrinhos antes e depois de uma interação. O carro 1, de inércia
0,12 kg e inicialmente no repouso, é batido pelo carro 2, de inércia 0,24 kg e inicialmente
com velocidade de 0,55 m/s.
Note que a interação que causa as mudanças na velocidade e no momento não é ins-
tantânea; ela acontece num certo intervalo de tempo (representado pela região em cinza nos
gráficos). Como a variação da velocidade do carro 1 é o dobro da variação do carro 2, o
módulo da aceleração média do carro 1 é o dobro do carro 2. Este resultado é uma con-
sequência direta da conservação de momento, e esta relação também vale para acelerações
instantâneas. Desta forma, quando dois objetos interagem, a razão das componentes x de
suas acelerações é igual a menos o inverso da razão de suas inércias:
a1 m
= − 2.
a2 m1

A equação acima é válida para todas as interações num sistema de dois objetos isolado, in-
dependente do que acontece com a energia durante a interação.

Figura 5.2: Conservação de momento e energia cinética numa colisão elástica entre dois
carrinhos num trilho de ar.
46 5.2. Energia potencial

Questão 5.1 (a) Use a Figura 5.2 para calcular o momento dos dois carros em t = 30, 60
e 90 ms. (b) O momento é o mesmo em cada um destes instantes? (c) Use a Figura 5.2
para calcular as energias cinéticas dos dois carros em t = 30, 60 e 90 ms. (d) A energia
cinética do sistema se mantém constante?

A Figura 5.2(d) mostra a energia cinética dos dois carros. Assim como o momento, a ener-
gia cinética de cada carro muda, mas como a colisão é elástica, a energia cinética do sistema
é a mesma antes e depois da interação. Note, no entanto, que a energia cinética do sistema
não se mantém constante durante a colisão! Ao contrário do momento, a energia cinética de
um sistema de objetos colidindo muda durante a colisão - mesmo quando a colisão é elástica.
O desaparecimento da energia cinética não está em contradição com a conservação de
energia. A energia cinética faltante durante a interação foi temporariamente convertida em
energia interna. Após a interação, a energia cinética convertida em energia interna durante a
interação reaparece como energia cinética. Porque o sistema é fechado, a energia do sistema
se mantém constante durante a colisão.
Em colisões inelásticas, nem toda a energia cinética do sistema antes da colisão conver-
tida em energia interna durante a colisão reaparece como energia cinética depois da colisão.
Parte da energia cinética inicial é convertida em energia interna de forma irreversı́vel.

Questão 5.2 Considere uma bola que é atirada contra a parede numa trajetória ho-
rizontal com velocidade v0 . (a) Qual é o momento da bola durante a colisão? (b) O
momento da bola é constante antes, durante e após a colisão? Se sim, por que? Se não,
por que não, e para qual sistema o momento é constante?

Podemos resumir as caracterı́sticas de uma interação:

1. dois objetos são necessários;

2. o momento de um sistema de objetos que interagem é o mesmo antes, durante e após a


colisão (desde que o sistema esteja isolado).

Além disto, para as interações que afetam o movimento dos objetos:

1. a razão das acelerações dos objetos é inversamente proporcional à razão de suas inércias;

2. a energia cinética do sistema muda durante a interação. Parte desta energia é con-
vertida para alguma forma de energia interna durante a colisão. Numa colisão elástica
toda a energia convertida reaparece como energia cinética após a colisão. Numa colisão
inelástica apenas parte da energia convertida é convertida como energia cinética após
a colisão; numa colisão totalmente inelástica nenhuma energia convertida reaparece
como energia cinética após a colisão.

5.2 Energia potencial


Numa interação, a parte da energia cinética que é temporariamente armazenada em mudanças
reversı́veis no estado do sistema é chamada de energia potencial, representada por U . Ener-
gia potencial é uma forma de energia interna; o termo potencial se refere ao fato que a energia
tem potencial para ser convertida de volta em energia cinética.
Capı́tulo 5. Interações 47

Na Figura 5.3, o carro comprime a mola, e toda a


energia cinética do carro antes da interação é tem-
porariamente convertida em energia potencial ar-
mazenada na mola. Conforme a mola retorna ao
seu estado inicial (isto é, à sua forma original), essa
energia potencial é convertida de volta a energia
cinética do carro. Durante a interação entre o carro
e a mola, a soma das energias cinética e potencial é
constante, uma vez que o sistema carro-mola é fe-
chado.
Definição 5.1 (Energia Potencial) De forma
geral, energia potencial é a forma de energia
interna associada com mudanças reversı́veis
na configuração do estado de um objeto ou
sistema. Energia potencial pode ser total-
mente convertida em energia cinética.

Há várias formas de energia potencial, todas re-


lacionadas com a forma na qual os objetos intera-
gentes se arranjam espacialmente. Se você joga um
Figura 5.3: Conversão de energia durante
bloco para cima, você muda a configuração espa- a interação entre um carro e uma mola.
cial do sistema bloco-Terra. Conforme o bloco sobe,
a forma de energia potencial chamada de energia
potencial gravitacional é armazenada no sistema
bloco-Terra. Se olharmos ao nı́vel atômico, quando
você pressiona uma bola ou uma mola, você troca a
configuração do arranjo dos átomos que constituem
a bola ou a mola. Deformações reversı́veis corres-
pondem à mudanças na energia potencial elástica.

Questão 5.3 Na Figura 5.3, a velocidade inicial do carro é vi . Assumindo que não há
nenhuma energia potencial armazenada na mola inicialmente, quanta energia poten-
cial é armazenada na mola (a) na terceira situação da figura e (b) na última situação da
figura? Dê suas respostas em termos de m, vi e v.

5.3 Dissipação de energia


A parte da energia cinética convertida que não reaparece depois numa colisão inelástica é
dista ter sido dissipada (em outras palavras, convertida de forma irreversı́vel). Para entender
o que ocorre com a energia que é dissipada, pense num experimento simples com uma folha.
Se você dobrar (sem marcar) uma folha com um dos extremos em direção ao outro, uma
vez que você tirar a mão a folha volta ao seu estado original. Mas se você amassar a folha e
depois tirar sua mão, a folha pode se expandir um pouco mas não volta à sua forma original.
Há uma diferença crucial nestas duas situações: na primeira a deformação ocorre de uma
maneira coerente, o que significa que no nı́vel atômico há um padrão no deslocamento dos
átomos; eles se movem de forma ordenada em linhas, cada linha sucessiva experimentando
48 5.3. Dissipação de energia

um pequeno deslocamento na mesma direção. Conforme você dobra a folha, você armazena
energia potencial na folha; quando você solta a folha, a energia potencial aparece como
energia cinética.
Na segunda situação, a mudança na forma é incoerente porque os átomos são deslocados
em direções aleatórias. A folha não pode voltar à forma original porque o deslocamento
aleatório deixou os átomos uns no caminho dos outros.
Podemos então dar uma classificação completa da energia. Toda energia pode ser divi-
dida em duas classes fundamentais: energia associada ao movimento e energia associada
com a configuração dos objetos interagentes. Cada classe de energia vem em duas formas:
coerente e incoerente (Figura 5.4).
Quando todos os átomos num objeto se movem de forma coerente na mesma direção -
o que significa que o objeto se move nesta direção - a energia de movimento é chamada de
energia cinética. Energia armazenada em mudanças coerentes numa configuração é chamada
de energia potencial. A soma das energias potencial e cinética de um sistema é chamada de
energia mecânica ou energia coerente do sistema.
Além da energia coerente, um sistema pode ter energia incoerente associada ao movi-
mento incoerente e à configuração de seus objetos. Uma parte importante da energia inco-
erente de um sistema é sua energia térmica. Quanto maior a energia térmica de um objeto
maior sua temperatura. A soma da energia incoerente e da energia potencial de um sistema
é a energia interna do sistema.

Figura 5.4: Classificação da energia.


Capı́tulo 5. Interações 49

5.4 Fontes de energia


Por causa da inevitável dissipação de energia mecânica, precisamos de uma fonte de energia
- combustı́vel, alimento, etc. - para gerar ou manter a energia mecânica de um sistema. Por
exemplo, a energia da gasolina é necessária para manter um carro em movimento. Sem for-
necimento de energia o carro desacelera conforme sua energia cinética se dissipa por causa
do atrito.
De forma geral, há quatro tipos de fontes de energia: energia quı́mica (energia associada
com a configuração dos átomos dentro das moléculas) liberada em reações quı́micas como
a queima de óleo, carvão, gás, madeira e a metabolização de comida; energia nuclear (as-
sociada com a configuração do núcleo dos átomos) liberada em reações nucleares; energia
solar entregue via radiação pelo sol; e energia solar armazenada na forma de vento e energia
hidroelétrica.
Para facilitar a nomenclatura, vamos dividir a energia em quatro categorias:

1. energia cinética, K;

2. energia potencial, U ;

3. fontes de energia Es , e;

4. energia térmica Eth .

As interações convertem energia de uma categoria para outra, mas a conservação de energia
requer que, para um sistema fechado, a energia E do sistema se mantenha constante. Logo,
para um sistema fechado,
∆E = ∆K + ∆U + ∆Es + ∆Eth = 0 (5.1)

5.5 Tipos de interações


A Figura 5.5 ilustra os vários tipos de conversão de ener-
gia que podem ocorrer. Interações que convertem ener-
gia para energia mecânica ou térmica e interações que
convertem energia mecânica em energia térmica são ir-
reversı́veis. Interações irreversı́veis mudam a energia
térmica do sistema e são chamadas de interações dis-
sipativas; interações reversı́veis não mudam a energia
térmica do sistema e são chamadas de interações não-
dissipativas.

5.5.1 Interações não-dissipativas


Para interações não-dissipativas, não há mudança na
fonte de energia ou na energia térmica do sistema. As
únicas conversões de energia permitida neste caso são
transformações reversı́veis entre a energia cinética e a
energia potencial. Para estes tipos de interações,

∆E = ∆K + ∆U = 0. (5.2) Figura 5.5: Processos de conversão


de energia.
50 5.5. Tipos de interações

Se introduzirmos a energia mecânica, Em = K + U ,

∆Em = 0.

Como exemplo, vamos considerar novamente a interação de um carro, andando para a


direita, com uma mola, como na Figura 5.3. O carro interage com a mola, que está presa na
Terra. O sistema contendo o carro, o trilho de ar, a mola e a Terra é fechado. Porque KT erra
não muda, a equação 5.2 nos diz que

∆Kcarro = −∆Umola ,

onde ∆Umola é a energia potencial elástica associada com a forma da mola. Conforme a mola
vai sendo comprimida (ou alongada), a energia potencial deve mudar. Portanto, Umola deve
ser função da posição, isto é, Umola deve ter um valor definido em cada posição x. De forma
geral, a energia potencial de qualquer sistema pode ser escrita na forma

U = U (x), (5.3)

onde U (x) é função da posição x que quantifica a configuração do sistema. Uma consequência
direta desta dependência da energia potencial com a posição é que a mudança na energia
cinética de um objeto que se move de uma posição x1 para uma posição x2 durante uma
interação não-dissipativa depende somente das posições x1 e x2 , e não do caminho percor-
rido pelo objeto.
Também podemos deduzir um ponto muito im-
portante do fato da energia potencial depender da
posição. Considere um sistema fechado com uma
função de energia potencial como a da Figura 5.6. Se
não há dissipação, então a energia mecânica deste sis-
tema fechado se conserva. Porque a energia potencial
aumenta com x, a energia cinética deve diminuir com
x. Isto significa que o objeto tende a ser acelerado na
direção de menor energia potencial, independente da
sua direção original de movimento.

5.5.2 Interações dissipativas


Uma interação dissipativa é aquela na qual há
variações na energia térmica. Estas interações são ir-
reversı́veis. Um exemplo simples é um bloco andando
sobre uma superfı́cie de madeira e perdendo veloci-
dade até parar. O atrito entre a superfı́cie e o bloco Figura 5.6: Aceleração num sistema fe-
é dissipativo: se tentarmos reverter o movimento, chado que não tem dissipação de ener-
irı́amos obter uma situação impossı́vel. O atrito gia.
agindo sobre o bloco converte sua energia cinética em
energia térmica. O sistema contendo o bloco, a su-
perfı́cie e a Terra (que mantém a superfı́cie no lugar)
é fechado, de forma que
∆E = ∆K + ∆U + ∆Es + ∆Eth = 0.
Capı́tulo 5. Interações 51

Mas ∆U = 0 porque não há mudança na posição do bloco em relação à Terra e não há molas
envolvidas; ∆Es também é zero neste caso, de forma que

∆Kbloco = −∆Eth .

Embora a expressão acima seja muito similar à equação do sistema bloco-mola, o lado direito
é conceitualmente muito diferente. Em particular, a energia térmica não é uma função da
posição.

5.6 Um exemplo de interação não-dissipativa: queda livre


Vamos considerar uma interação bastante familiar: a
integração gravitacional próxima à superfı́cie da Terra.
Sabemos que, se desprezarmos a resistência do ar, to-
dos os objetos próximos à superfı́cie da Terra caem com
aceleração constante g = 9, 8 m/s2 . Se ignorarmos o atrito,
esta interação é não-dissipativa.
Se liberarmos uma bola de uma certa altura acima do
chão, a bola ganha energia cinética. Quando a bola cai,
a distância entre a bola e o chão diminui, de forma que
a configuração (gravitacional) do sistema bola-Terra (e,
consequentemente, a energia potencial associada a esta
configuração) muda. Porque a bola e a Terra constituem Figura 5.7: Queda livre de uma
um sistema fechado, bola, considerando o sistema fe-
chado bola-Terra.
∆Ug + ∆Kb = 0,

onde ∆Ug é a variação na energia potencial gravitacional do sistema Terra-bola e ∆Kb é a


variação na energia cinética da bola. Como a aceleração é constante, temos que
∆v
a= = −g,
∆t
de forma que
!2
1 ∆v 1 ∆v
∆x = vi ∆t − g(∆t)2 = −vi − g − .
2 g 2 g
Expandindo as notações delta, rearranjando os termos e multiplicando os dois lados da
equação pela inércia da bola, mb , chegamos a
1
mb g(xf − xi ) + mb (vf2 − vi2 ) = 0
2
Comparando a equação acima com a equação 5.6, vemos que

∆Ug = Ug,f − Ug,i = mg(xf − xi ) = mgxf − mgxi ,

o que nos leva a deduzir que a energia potencial gravitacional do sistema Terra-bola próxima
à superfı́cie da Terra é
Ug (x) = mgx, (5.4)
onde x é a coordenada vertical do objeto (com o eixo x apontando para cima).
52 5.7. Outras questões de revisão

5.7 Outras questões de revisão

Questão 5.4 (a) Você está segurando uma bola a uma certa altura do chão. Se você
solta a bola, ela acelera para baixo. A interação que causa a aceleração da bola é devido
a que outro objeto? (b) Esta interação é atrativa ou repulsiva? (c) Quando a bola bate
no chão, a direção do seu movimento é revertida. Esta reversão é resultado de uma
interação atrativa ou repulsiva?

Questão 5.5 Por causa do atrito, um bloco de 100 g inicialmente deslizando sobre o
gelo a 8,0 m/s diminui sua velocidade a uma taxa de 1,0 m/s2 até parar. (a) Em gráficos
separados, esboce a velocidade do bloco e sua energia cinética como função do tempo.
(b) A energia cinética do bloco é convertida em que forma de energia?

Questão 5.6 Para cada um dos processos seguintes, determine qual conversão de ener-
gia ocorre e classifique a interação como dissipativa ou não-dissipativa: (a) lançamento
de uma bola pela expansão de uma mola comprimida, (b) queda de uma bola liberada
a partir de uma certa altura acima do solo, (c) o freamento de uma bicicleta até parar,
(d) a aceleração de um carro.

5.8 Problemas

Atividade 5.1 Duas crianças estão empurrando uma a outra numa pista de gelo, ambas
segurando um corrimão no canto da pista. As inércias das crianças são 30 kg e 25 kg.
(a) Se num instante a criança de 30 kg está acelerando a 1,0 m/s2 para a esquerda, qual
é a aceleração da outra criança nesse instante? (b) O que acontece com as acelerações
se a criança de 25 kg para de empurrar?

Atividade 5.2 A energia potencial de uma interação é dada por U (x) = ax2 , onde
a = +6, 4 J/m2 . (a) Se a velocidade inicial de um objeto de 0,82 kg nesse sistema é de
2,23 m/s em x = 0, quão longe o objeto viaja até parar? (b) A sua resposta no item (a)
depende se o objeto está viajando na direção positiva ou negativa do eixo x?

Atividade 5.3 Você joga uma bola de uma janela 12 m acima do chão, a partir do
repouso, e pouco antes da bola atingir o chão sua velocidade é medida a 14,6 m/s.
Qual a fração da energia cinética da bola é dissipada devido à resistência do ar?

Exercı́cio 5.1 Dois carros de brinquedo (m1 = 0, 200 kg e m2 = 0, 250 kg) são mantidos
juntos um ao outro por uma mola comprimida entre eles. Quando o sistema é liberado,
os carros estão livres para se mover. Se você medir a aceleração do carro de 0,200 kg
como 2, 25 m/s2 para a direita, qual é a aceleração do outro carro?
Capı́tulo 5. Interações 53

Exercı́cio 5.2 Quando um carro compacto de 800 kg acelera do repouso até 27 m/s,
consome 0,0606 l de gasolina, e 1 l de gasolina contém aproximadamente 3, 2 × 107 J
de energia. Qual é a eficiência do carro?

Exercı́cio 5.3 Um tı́pico avião comercial carregado tem uma inércia de 2, 1 × 105 kg.
(a) Quanta energia é necessária para levar o avião até a velocidade de vôo de 270 m/s?
(Ignore a resistência e o arraste do ar.) (b) Quanta energia é necessária para levar o
avião até a altitude de 10.400 m de altura se o avião viaja a esta altitude com velocidade
de vôo (constante)?

Exercı́cio 5.4 Em uma brincadeira no gelo, um jogador de 90 kg arremessa uma bola


de 1,0 kg a uma velocidade de 15 m/s. A bola é apanhada por um segundo jogador
de 80 kg. Qual a velocidade final dos atletas? Qual a energia total dissipada quando o
segundo atleta pega a bola?

Exercı́cio 5.5 Uma bola de basquete de 700 g cai no piso de uma quadra e retorna a
65% da sua altura original. (a) Se a bola cai de uma altura de 1,5 m, quanta energia é
dissipada na primeira batida no chão? (b) Quanta energia é dissipada na quarta batida
no chão? (c) A energia dissipada é convertida em que tipo de energia incoerente?

Exercı́cio 5.6 Uma corda uniforme de inércia m e comprimento l está esticada sobre
uma mesa escorregadia. Quando sua ponta é colocada para fora da mesa, ela começa
a escorregar. Calcule a velocidade de queda da corda quando ela abandona de vez a
mesa.

Problema 5.1 Num trilho de ar, um carrinho de 0,36 kg inicialmente se movendo para
a direita a 2,05 m/s colide elasticamente com um carrinho de 0,12 kg inicialmente se
movendo para a esquerda a 0,13 m/s. O carro de 0,12 kg bate no carro de 0,36 kg e
comprime uma mola que está à direita dos carros no final do trilho. (a) No instante
de máxima compressão da mola, quanta energia potencial elástica é armazenada na
mola? (b) Se a mola devolve toda essa energia para o carrinho, e os dois carrinhos
colidem novamente, qual é a velocidade final de cada carrinho?

Problema 5.2 Um instrumento de 2.2 kg está em um balão atmosférico. No ponto de


maior altura, o instrumento é solto do balão e cai livremente por grande parte da altura
antes que seu paraquedas se abra. Você sabe que a aceleração do instrumento é dada
por a = ge−t/τ , onde g é a aceleração da gravidade e τ é uma constante que depende da
forma do instrumento, e que neste caso vale 5.68 s. Você se preocupa com o quanto o
instrumento pode aquecer durante a queda por causa da resistência do ar. Qual a taxa,
em joules por segundo, que a energia é dissipada?
54 5.8. Problemas

Problema 5.3 Um carro de 1,00 kg tem anexado a sua frente um dispositivo explo-
sivo que, quando colide em algo, explode liberando uma quantidade de energia E.
Este carro está se movendo para a direita com velocidade v quando colide com outro
carro de massa 2,00 kg que viaja para a esquerda com a mesma velocidade. A ex-
plosão acontece quando os carros colidem, causando uma separação dos carros. Se um
quarto da energia da explosão se dissipa em uma mistura incoerente de energia sonora
e deformação dos carros, qual é a velocidade final de cada carro?

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Exercı́cio 5.1, Exercı́cio 5.4, Exercı́cio 5.6, Problema 5.1, Problema 5.2
6. Revisão 1

TODOS os problemas abaixo correspondem à lista de atividades que deverá ser feita para a
aula exploratória de 23/setembro/2019. Um dos exercı́cios será sorteado para entrega.

6.1 Problemas

Exercı́cio 6.1 Uma motocicleta parte do repouso e acelera conforme mostra a figura
abaixo.

(a) Determine a velocidade escalar da motocicleta em t = 8, 0 s.


(b) Determine a distância percorrida nos primeiros 14 s.

Exercı́cio 6.2 A velocidade de uma partı́cula se movendo pelo eixo x varia com o
tempo segundo a expressão v(t) = 6t 2 − 4, onde v está em metros por segundo, e t está
em segundos. Sabendo que a partı́cula sai da origem em t = 0 s:
(a) Determine a velocidade média da partı́cula entre t = 1 s e t = 2 s.
(b) Determine a aceleração da partı́cula em t = 2 s.

55
56 6.1. Problemas

Exercı́cio 6.3 A figura abaixo mostra a posição em função do tempo para uma colisão
entre dois carros numa pista onde o atrito pode ser ignorado. O carro 1 tem uma
inércia de 1,0 kg e o carro 2 tem uma inércia de 5,0 kg.

(a) Desenhe em um gráfico a velocidade em função do tempo para a colisão, indicando


claramente os valores numéricos das velocidades.
(b) A colisão é elástica ou inelástica? Justifique.

Exercı́cio 6.4 Na figura abaixo, são representadas as velocidades de dois carros, A e B,


que se deslocam em um trilho de ar sem atrito. O carro A está inicialmente parado, e é
atingido pelo carro B.

(a) Supondo que a inércia do carro B é de 200 g, calcule a inércia do carro A a partir
das informações do gráfico.
(b) Qual seria a velocidade final dos carros caso o carro B estivesse inicialmente parado,
e fosse atingido pelo carro A com a mesma velocidade inicial do item anterior?
Capı́tulo 6. Revisão 1 57

Exercı́cio 6.5 Num trilho de ar, um carrinho de m1 = 0, 30 kg inicialmente se movendo


para a direita a v1i = 2, 0 m/s colide com um carrinho de m2 = 0, 10 kg inicialmente se
movendo para a esquerda a v2i = 2, 0 m/s. Acoplado ao carrinho de 0, 30 kg está uma
mola que se comprime durante a colisão, voltando a ficar relaxada após a separação
dos carrinhos. Se a mola dissipa energia de forma que o coeficiente de restituição é de
75%, quais as velocidades finais de cada carrinho?

Exercı́cio 6.6 Um carro de 1000 kg viajando em linha reta com velocidade de 20 m/s
para a direita colide de frente com uma caminhonete de 1500 kg viajando com veloci-
dade de 10 m/s para a esquerda. Se 10% da energia cinética do sistema é convertida
em energia interna durante a colisão, quais são as velocidades finais do carro e da
caminhonete?

Exercı́cio 6.7 Dois carrinhos de massa 1,0 kg e 2,0 kg são mantidos nas extremida-
des de uma mola que está inicialmente comprimida. Num determinado momento o
conjunto é liberado, a mola fica numa posição relaxada, e o carrinho de 1,0 kg adquire
uma velocidade de +4, 0 m/s.
(a) Qual é a velocidade do carrinho de 2,0 kg após a mola ficar relaxada?
(b) Qual é a energia armazenada inicialmente na mola comprimida, sabendo que 70%
desta energia é dissipada após o conjunto se soltar.

Exercı́cio 6.8 Dois patinadores A e B estão ligados pela cintura por um elástico sobre
uma pista de gelo. Em um certo instante o patinador A empurra o patinador B, fazendo
que o patinador B adquira uma velocidade de 0,4 m/s. Quando o elástico se estica,
ele reverte o movimento de separação dos patinadores, que passam a se aproximar
novamente. Considere que as inércias dos patinadores A e B são, respectivamente,
mA = 48 kg e mB = 72 kg.
(a) Calcule a velocidade do patinador A após o empurrão.
(b) Qual a energia potencial armazenada pelo elástico, sabendo que 10% da energia
mecânica é dissipada pelo elástico em forma de energia térmica.
7. Forças

Neste estágio do curso, você já pode resolver uma quantidade grande de problemas usando
apenas as leis de conservação. Até agora temos aplicado estas leis apenas em sistemas iso-
lados ou fechados; mas nem sempre é possı́vel identificar tais sistemas. Por esta razão, você
também precisa saber uma abordagem para resolver problemas que é válida em sistemas que
estão interagindo com a vizinhança. Se você olhar para os capı́tulos anteriores, irá perceber
que muitas das interações que discutimos envolvem empurrar, puxar ou esfregar - todas ações
relacionadas com a noção comum de força. De forma a trabalhar com sistemas que não estão
isolados, devemos discutir o conceito de força.

Referências para leitura: Halliday (cap. 5) e Bauer (cap. 4).

7.1 Força e momento


O termo força é familiar - geralmente associado com a capacidade de mover objetos (por
exemplo, empurrar uma cadeira no chão) ou causar alguma mudança fı́sica (por exemplo,
amassar uma lata de refrigerante vazia). Para relacionar o conceito intuitivo de força com as
quantidades que já definimos, vamos considerar a seguinte situação: imagine que você está
descendo uma montanha de bicicleta a 30 km/h. De repente você descobre que os freios não
estão funcionando, de forma que você vai bater contra uma parede. A força do impacto vai
ser considerável, e seria pior ainda se você estivesse indo mais rápido. Se você estivesse mais
devagar, digamos, a 3 km/h, o impacto talvez não fosse tão ruim. Mas não é só a velocidade
que importa. Se você estive com uma mochila cheia de livros a força do impacto seria maior
do que se você não estivesse carregando nada.
O exemplo acima mostra que tanto a velocidade quanto a inércia governam a força do
impacto, de forma que a força deve estar relacionada com a mudança no momento, ∆p. Mas
não é só isso. Imagino que a parede estivesse coberta de colchões, e você certamente preferi-
ria bater nessa parede do que no concreto direto; afinal, a força do impacto com os colchões
é menor do que no concreto. Porém, em termos de variações no momento ou na energia, não
faz nenhuma diferença qual parede escolher, pois em ambos os casos sua velocidade vai di-
minuir pelo mesmo valor, de 30 km/h a zero. A diferença entre o concreto e o colchão é que

58
Capı́tulo 7. Forças 59

o colchão muda seu momento num perı́odo de tempo maior, pois a mudança do momento
ocorre numa taxa menor com o colchão.
Este exemplo ilustra dois pontos importantes. O primeiro é que forças são manifestações
de interações. A força exercida pelo colchão sobre você é uma parte da interação entre você
e o colchão (a outra parte é a força que você exerce sobre o colchão). O segundo ponto é que,
para um objeto que está participando de uma interação, a força exercida sobre o objeto é a
taxa de variação temporal do momento do objeto:

∆pobjeto dpobjeto
Fobjeto ≡ lim = .
∆t→0 ∆t dt

Como a força está relacionada com a mudança no momento, esta grandeza fı́sica é um vetor
e também tem direção. Sua unidade no SI é kg· m/s2 , que é definido como newton (N) em
homenagem ao cientista inglês Isaac Newton.

Questão 7.1 Imagine que você empurra um objeto ao longo de uma trajetória horizon-
tal sobre uma superfı́cie com velocidade constante de 1 m/s. Qual é a taxa temporal
da variação do momento do objeto?

Embora os argumentos da relação en-


tre força e variação temporal do momento
são bastante plausı́veis, esta relação às ve-
zes difere da nossa intuição sobre forças.
Considere, por exemplo, que você puxa um
objeto numa linha horizontal numa veloci-
dade constante de 1 m/s, como na Figura
7.1. Apesar de você estar puxando o ob-
jeto a taxa de variação do momento do ob-
jeto é zero. O problema é que o objeto não
está interagindo só com você mas também Figura 7.1: Quando você empurra um objeto ao
com a superfı́cie na qual ele está apoiado. longo de uma superfı́cie, duas forças opostas são
As direções e módulos das duas interações é exercidas sobre o objeto: uma por você e outra
tal que a ação combinada (ou resultante) não pela superfı́cie (atrito). Se estas forças têm módulo
causa variação no momento do objeto. igual, o objeto se move com velocidade constante.
Este resultado é geral: para um objeto A
interagindo com mais de um objeto, o efeito resultante no momento do objeto A é devido
à ação combinada de um número de forças, uma para cada interação. Experimentalmente,
as forças obedecem ao princı́pio de superposição: a soma vetorial das forças exercidas so-
bre A (denominada de Fres ) é igual à soma vetorial das forças causadas por cada interação
individual:
X dp
Fres ≡ Fobjeto = . (7.1)
dt
A equação 7.1 é chamada de equação de movimento para o objeto. Para uma dada força
resultante, a equação acima determina o movimento do objeto.
Para um objeto com inércia constante, a variação no momento implica uma variação na
velocidade. Desta forma,
dp d(mv) dv
Fres = = =m = ma.
dt dt dt
60 7.2. A reciprocidade das forças

7.2 A reciprocidade das forças


Um outro aspecto surpreendente da definição de força é que, por causa da natureza recı́proca
das interações, as forças sempre vêm em pares: quando dois objetos interagem, cada um
exerce uma força sobre o outro. Para ver isso, considere a Figura 7.2 que ilustra duas colisões
elásticas. Em ambas as colisões, o carrinho 1 tem inércia m1 = 0, 12 kg e está inicialmente em
repouso enquanto o carrinho 2 tem inércia m2 = 0, 24 kg e está inicialmente se movendo a
0,60 m/s. Em ambas as colisões, a velocidade final do carrinho 1 é 0,80 m/s e do carrinho 2
é 0,20 m/s, de forma que a variação do momento do carrinho 1 é compensada pela variação
de momento oposta do carrinho 2: ∆p1 = −∆p2 . Logo,

∆p2 ∆p
Fpor 2 em 1 = = − 1 = −Fpor 1 em 2 .
∆t(a) ∆t(a)

Em outras palavras, a força exercida pelo carrinho 1 sobre o carrinho 2 é igual em módulo à
força exercida pelo carrinho 2 sobre o carrinho 1, e na direção oposta.
A única diferença entre as duas colisões da Figura 7.2 é que na Figura 7.2(a) o impacto
é amortecido pela mola, de forma que o tempo no qual o momento muda é maior nesta
primeira colisão. Logo, para a colisão da Figura 7.2(b) o intervalo de tempo é muito menor,
e podemos esperar forças de interação muito maiores para esta segunda situação. Ainda
assim, a força exercida pelo carrinho 1 sobre o carrinho 2 é igual em módulo à força exercida
pelo carrinho 2 sobre o carrinho 1, e na direção oposta. †

Figura 7.2: Dois exemplos de colisões entre dois carrinhos num trilho de ar.
Capı́tulo 7. Forças 61

De forma geral, podemos concluir que quando dois objetos interagem, eles exercem
forças um sobre o outro que são iguais em módulo mas com direções opostas. O par de
forças que dois objetos exercem um sobre o outro é chamado de par de interação. Esta
conclusão é um resultado direto da conservação de momento e da nossa definição de força.

Questão 7.2 A conclusão acima também se aplica a colisões inelásticas?

7.3 Equilı́brio translacional

Um objeto ou um sistema no qual o movimento ou estado não está mudando é dito em


equilı́brio. Para um objeto em repouso ou com velocidade constante, dizemos que o mesmo
está em equilı́brio translacional. Mas isso não significa que não há forças exercidas sobre o
objeto. Significa apenas que todos os vetores de força se somam de forma a dar zero.
Um exemplo de um objeto em equilı́brio translacional é um livro sobre uma mesa (Figura
7.3). Nesse caso, o momento do livro não muda, de forma que a soma vetorial das forças
exercidas sobre o livro deve ser zero. No caso da Figura 7.3, há a força da gravidade puxando
o livro para baixo. Além da força da gravidade, há uma força de contato exercida pela mesa
sobre o livro - a força que “empura” o livro para cima. Estas são as únicas duas forças
exercidas sobre o livro. Porque a soma vetorial destas forças deve ser zero, concluı́mos que a
força de contato exercida pela mesa deve ser igual em módulo à força gravitacional exercida
pela Terra, mas em direção oposta.

Figura 7.3: Livro em repouso sobre uma mesa (a soma vetorial das forças exercidas sobre o
livro são zero).

Questão 7.3 Na Figura 7.3, a força de contato exercida pela mesa sobre o livro e a
força gravitacional exercida pela Terra sobre o livro são um par de interação?

Um objeto também está em equilı́brio translacional se estiver se movendo com veloci-


dade constante. É o caso da Figura 7.1. Velocidade constante implica em zero variação no
momento, e portanto a força resultante exercida sobre o objeto deve ser zero.
62 7.4. Diagrama de corpo livre

7.4 Diagrama de corpo livre


Conhecer as forças nos dá uma ferramenta poderosa para analisar as situações fı́sicas, pois se
a soma vetorial das forças exercidas sobre um objeto é conhecida, a variação temporal do
momento do objeto também é conhecida, e portanto o movimento subsequente do objeto
pode ser calculado.
Note que para calcular o movimento do
objeto você precisa saber as forças exerci-
das sobre o objeto. As forças exercidas pelo
objeto na vizinhança não entram na conta
porque elas não contribuem para a variação
do momento do objeto. Sempre que estiver-
mos interessados num objeto dentro de uma
coleção de vários objetos, devemos separar
o objeto e analisar as forças exercidas sobre
ele do resto dos objetos. Para facilitar esta Figura 7.4: Diagrama do corpo livre para um li-
separação, você deve usar o que chamamos vro em repouso sobre uma mesa.
de diagrama do corpo livre. O diagrama do
corpo livre para o livro sobre a mesa da Figura 7.3 está representado na Figura 7.4.
A importância de diagramas de corpo livre não pode ser menosprezada. Sem um bom
diagrama é muito difı́cil analisar corretamente qualquer problema envolvendo forças.

7.5 Tipos de forças


Na natureza vemos várias manifestações de forças exercidas sobre objetos, provenientes de
diferentes tipos de interações: planetas orbitam estrelas; uma folha “dança” com o vento;
carbono e oxigênio reagem para formam CO2 , etc. Apesar da variedade de efeitos das forças,
ao longo do século XX se tornou claro que todos os processos se devem a 4 interações dife-
rentes:

• A interação gravitacional é responsável pela atração entre objetos que têm massa;

• A interação eletromagnética é responsável pela atração ou repulsão entre objetos que


têm carga elétrica. São as forças elétricas que mantém os prótons e elétrons num átomo,
e são responsáveis pelas ligações quı́micas entre átomos nas moléculas. A força de uma
mola esticada ou comprimida também é devido às forças elétricas entre os átomos que
compõem a mola;

• A interação forte ou nuclear ocorre entre objetos feitos de quarks, como prótons e neu-
trons, e os mantém juntos no núcleo de um átomo (apesar da forte repulsão elétrica
entre os prótons);

• A interação fraca afeta todos os tipos de partı́culas elementares mas é muito mais fraca
que as interações forte e eletromagnética.

Nesta disciplina vamos nos focar primariamente nas interações gravitacional e eletro-
magnética, e nas forças que manifestam estas interações.
Capı́tulo 7. Forças 63

7.6 A força gravitacional

O movimento das estrelas e dos planetas


é de certa forma mais simples do que ou-
tros fenômenos mecânicos porque não pre-
cisamos nos preocupar com o atrito. Estes
corpos massivos interagem através da força
gravitacional, que é sempre atrativa. Ainda
no século XVI, Isaac Newton deduziu que
deve haver uma força atrativa associada à Figura 7.5: Força gravitacional exercida pelo ob-
jeto 1 sobre o objeto 2.
interação gravitacional, que age ao longo de
uma linha que conecta dois objetos, é pro-
porcional às massas dos objetos e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre
os objetos:
m m
Fgrav = −G 1 2 2 , (7.2)
r

onde G = 6, 7 × 10−11 N·m2 /kg2 é uma constante, dita “universal” porque é a mesma para
qualquer par de massas que interagem entre si. O valor de G foi medido pela primeira vez
por Cavendish entre 1797-1798.

7.6.1 A força gravitacional próxima da superfı́cie da Terra


A partir da equação 7.2 podemos calcular a
força exercida pela Terra sobre qualquer ob-
jeto de massa m próxima à sua superfı́cie.
Considerando a Figura 7.6,

ME m
Fg = G ,
(RE + y)2

onde y é a altura do objeto acima da su-


6
Figura 7.6: Força gravitacional exercida pela perfı́cie da Terra, RE = 6, 4 × 10 m é o raio
Terra sobre um objeto de massa m próximo à sua da Terra, e ME é a massa da Terra. Como nas
superfı́cie. proximidades da superfı́cie y  RE , então
podemos aproximar a equação acima como:
!
ME m ME
Fg = G ≈ G 2 m.
(RE + y)2 RE

O valor entre parênteses é uma constante e vale

ME 2 6 × 1024 kg
−11 N · m
G 2
= 6, 7 × 10 2 6 2
= 9, 8m/s2 .
RE kg (6, 4 × 10 m)

Definimos esta constante como g ≡ +9, 8m/s2 , de forma que a força exercida pela Terra sobre
um objeto de massa m tem módulo Fg = mg.
64 7.7. Forças de contato

7.7 Forças de contato


Sólidos exercem forças de contato em qualquer objeto devido às interações entre a superfı́cie
do objeto e a superfı́cie do sólido. Do ponto de vista fundamental, as interações de contato
são interações de origem eletromagnética e deformam as posições dos átomos ou moléculas
da superfı́cie que compõe o sólido.

7.7.1 Molas
Para melhor entender a origem das forças de
contato, vamos primeiro examinar o com-
portamento de uma mola. Considere por
exemplo a Figura 7.7, que ilustra o compor-
tamento de uma mola quando conectada a
um objeto. Na figura 7.7(a) o objeto com-
prime a mola e chega a uma posição de
equilı́brio abaixo do comprimento da mola
relaxada. No caso do objeto ser suspenso
pela mola, como na Figura 7.7(b), a mola
se distende ao “puxar” o objeto. De forma
Figura 7.7: Diagrama do corpo livre para um ob-
geral, a força exercida pela mola sempre
jeto no caso da mola (a) empurrar ou (b) puxar o
tende a retornar a mola para sua posição re- objeto.
laxada. Considerando x0 a posição relaxada
da mola, dentro da região elástica da mola, é um fato experimental que a força exercida pela
mola no objeto é linearmente proporcional ao deslocamento da mola em relação a x0 ,

Fmola no objeto = −k(x − x0 ), (7.3)

onde k é chamada a constante de mola. A equação acima é chamada de lei de Hooke, desco-
bridor desta relação.

7.7.2 Força de tensão


Considere uma bola pesada presa a um fio como mostra a Figura 7.8. Como a bola está
parada, e a Terra puxa a bola para baixo, então o fio deve estar puxando a bola para cima.
A força exercida pelo fio é geralmente chamada de tensão, FT . Microscopicamente, um fio
pode ser considerado uma cadeia de molas e pequenas bolas (representando átomos conec-
tados por ligações quı́micas). Quando o fio está em repouso em cima de uma mesa, por
exemplo, as “molas” que compõem o fio estão relaxadas. Mas quando prendemos uma bola
pesada na extremidade do fio, as molas se distendem de forma significativa. Podemos, por-
tanto, interpretar a força de tensão como a força macroscópica que surge quando as ligações
interatômicas do sólido (no caso, o fio) são distendidas.
Capı́tulo 7. Forças 65

Figura 7.8: (a) Uma bola pesada presa a um fio fino. (b) Modelo fı́sico representando as
ligações interatômicas num fio quando a massa é presa ao mesmo.

7.7.3 Força de compressão ou normal

Podemos voltar a analisar o caso de um


bloco em repouso sobre uma mesa. Nesta
situação, a mesa exerce uma força sobre o
bloco, de forma a evitar deixar que o mesmo
caia devido à ação da força da gravidade so-
bre o bloco. Mas como a mesa exerce uma
força sobre o bloco?
Microscopicamente, podemos pensar
nas moléculas que compõem a superfı́cie
da mesa, e no fato destas serem “em-
purradas” para baixo pelas moléculas que
compõem a superfı́cie do bloco. A mesa
de fato é deformada (em distâncias inte-
ratômicas) conforme as “molas” represen-
tando as ligações entre os átomos da su-
perfı́cie da mesa são comprimidas (Figura
7.9(c). Seria mais apropriado chamar a força
que a mesa exerce no bloco de força de
compressão, mas na prática chamamos esta
força de força normal, FN . A palavra nor-
mal é utilizada no seu sentido matemático,
Figura 7.9: Força gravitacional exercida pela significando que a força é perpendicular à
Terra sobre um objeto de massa m próximo à sua superfı́cie da mesa. Podemos, portanto, in-
superfı́cie. terpretar a força normal como a força ma-
croscópica que surge quando as ligações in-
teratômicas do sólido são comprimidas.
66 7.8. Impulso

7.8 Impulso
Na seção 3.5 definimos a mudança no momento de um sistema ou objeto como o impulso
realizado sobre o sistema ou objeto. Nesta seção vamos determinar a relação entre força e
impulso, que nos permite determinar o efeito que as forças têm sobre o momento.
Vamos considerar um caso simples: um objeto sujeito à forças constantes. Para calcular
o que acontece com o momento do objeto, vamos considerar seu movimento durante um
intervalo de tempo ∆t = tf − ti . As forças constantes exercidas sobre o objeto aceleram o
objeto com uma aceleração constante a. Como a aceleração é constante,

∆v
a= .
∆t
Multiplicando os lados da equação acima pela inércia m do objeto, temos

∆v ∆p X 
ma = m = −→ ∆p = ma∆t = F ∆t.
∆t ∆t
Comparando a equação acima com a lei do momento (∆p = J, equação 3.5), vemos que o
impulso exercido pelas forças no objeto é
X 
J= F ∆t (força constante). (7.4)

A equação 7.4 estabelece que o impulso exercido num objeto durante um intervalo de tempo
∆t é igual ao produto da força resultante exercida sobre o objeto e a duração do intervalo de
tempo.
A relação entre impulso e força é verdadeira mesmo quando a força resultante não é
constante. Neste caso, análogo ao que vimos na seção 2.7, que a área sob a curva a(t) de
um objeto nos fornece a variação na velocidade, podemos calcular o impulso exercida por
qualquer força resultante Fres (t) como:
Z tf
∆p = J = Fres (t)dt (força variando no tempo).
ti

7.9 Sistemas de objetos interagindo entre si


Até o momento consideramos somente o caso simples de um objeto sujeito a uma força. Para
o caso de dois objetos que interagem entre si é útil distinguirmos entre as forças exercidas
dentro do sistema e as forças exercidas sobre o sistema por objetos externos ao sistema. As
primeiras são genericamente chamadas de forças internas, enquanto as últimas são conheci-
das como forças externas.

7.9.1 Sistemas de dois objetos


Na Figura 7.10, dois carros com imãs que se repelem se movem num trilho de ar enquanto
o carro 1 é empurrado. Por causa da repulsão magnética os carros nunca se toca; o carro 2
acelera para a direita quando o carro 1 se aproxima. Se escolhermos os 2 carros como nosso
sistema, as forças que os carros exercem um no outro são internas, e o empurrão no carro 1 é
uma força externa.
Capı́tulo 7. Forças 67

Figura 7.10: Dois carros com imãs que se repelem movendo sob influência de uma força
externa exercida no carro 1.

O momento do sistema de dois carros é

psistema = p1 + p2 .

Diferenciando a equação acima em relação ao tempo temos que:

dpsistema dp1 dp2 X X


= + = F1 + F2 .
dt dt dt

A soma vetorial das forças exercidas sobre o carro 1 consiste de duas partes: a força externa
exercida no carro 1 e a força interna exercida pelo carro 2 sobre o carro 1 (devido à repulsão
magnética):
X
F1 = Fext,1 + F2,1 .
P
Como não há força externa no carro 2, F2 = F1,2 . Substituindo isto na equação 7.9.2,

dpsistema
= Fext,1 + F2,1 + F1,2 .
dt

Como F1,2 e F2,1 formam um par de interação, temos que F1,2 = −F2,1 . Logo,

dpsistema
= Fext,1 (7.5)
dt

A equação acima mostra que somente a força externa exercida sobre o carro 1 muda o mo-
mento do sistema. As forças internas não têm nenhum efeito sobre o momento do sistema.
68 7.10. Centro de massa

7.9.2 Sistemas de vários objetos interagindo entre si


Podemos generalizar o caso analisado acima para um sistema com vários objetos. Não é
complicado mostrar que
psistema = p1 + p2 + ...,
de forma que
dpsistema dp1 dp2 X X
= + + ... = F1 + F2 + ....
dt dt dt
A soma vetorial das forças exercidas sobre cada um dos objetos pode ser sempre dividida
numa parte força externa e uma parte interna, de forma que
dpsistema X  X 
= Fext,1 + Fext,2 + ... + Fint,1 + Fint,2 + ... .
dt
Pela mesma razão da seção anterior, todas as forças internas se cancelam, pois são sempre
pares de forças interagentes (ou pares de ação e reação). Uma outra forma de visualizar isso é
verificar que para um sistema isolado (onde não há forças externas) o momento se conserva.
Logo,
dpsistema X 
= 0 −→ Fint,1 + Fint,2 + ... = 0!
dt
Logo, a taxa de variação do momento do sistema é a soma das forças externas:
dpsistema X  X
= Fext,1 + Fext,2 + ... ≡ Fext
dt
Ou seja, num sistema de objetos que interagem entre si, somente a força externa exercida
sobre algum dos objetos é capaz de mudar o momento do sistema. As forças internas não
têm nenhum efeito sobre o momento do sistema.

7.10 Centro de massa


Podemos descrever o movimento de um sistema com mais de um objeto em relação a um
ponto especial chamado centro de massa do sistema. Podemos considerar que toda a massa
do sistema M = m1 + m2 + ... esteja concentrada neste ponto, e matematicamente “trocar” o
problema do movimento de vários objetos de um sistema pelo movimento de uma partı́cula
“fictı́cia” com massa M localizada no centro de massa.
Consideremos um sistema de dois objetos com massa m1 e m2 localizadas inicialmente
nas posições x1 e x2 , respectivamente. O centro de massa deste sistema é definido como
m1 x1 + m2 x2
xCM = .
m1 + m2
Ao derivar a equação 7.10 em relação ao tempo, temos,
dxCM 1 1
= vCM = (m1 v1 + m2 v2 ) = (p1 + p2 ).
dt M M
Logo, vemos que psistema = MvCM , com M = m1 + m2 . Como a inércia do sistema permanece
constante durante uma interação,
dpsistema d(MvCM ) dv
= = M CM = MaCM ,
dt dt dt
Capı́tulo 7. Forças 69

e podemos reescrever a equação 7.5 como

Fext,1 = MaCM . (7.6)

A equação 7.6 é a equação de movimento para o centro de massa de um sistema com 2


objetos. Em outras palavras, o centro de massa de um sistema com 2 objetos acelera como
se ambos os objetos estivessem localizados no centro de massa e uma força externa fosse
exercida neste ponto.
Vemos o poder do conceito do centro de massa. Embora não podemos determinar a
aceleração de cada um dos carros individualmente sem saber mais detalhes sobre a interação
magnética, a equação 7.6 nos permite calcular o movimento do centro de massa dos objetos,
independente dos detalhes da interação.

7.10.1 Generalização para um sistema com vários objetos


Podemos estender o conceito de centro de massa a um sistema de vários objetos:

1 X
xCM = mi xi ,
M
i
P
onde xi é a posição x da i-ésimo objeto, e a massa total é M = i mi . Neste caso, seguindo o
mesmo raciocı́nio da seção anterior, pode-se mostrar que
X
Fext = MaCM . (7.7)

Logo, a conclusão da seção anterior também é válida para um sistema com mais de 2 objetos:
independente das interações que ocorrem entre os objetos dentro do sistema e independente
de onde o sistema as forças externas são realizadas, podemos determinar o movimento do
centro de massa dos objetos.

7.11 Outras questões de revisão

Questão 7.4 Se você deixa um livro cair de uma certa altura, ele é acelerado durante
a queda por causa da força gravitacional exercida pela Terra sobre o livro. Porque as
forças sempre existem em pares de interação, o livro deve exercer uma força sobre a
Terra. (a) Como o módulo da força feita pelo livro sobre a Terra compara com o módulo
da força feita pela Terra sobre o livro? (b) A Terra está acelerando durante a interação?

Questão 7.5 Identifique todas as forças exercidas nos objetos destacados em cada uma
das situações: (a) um livro em cima de uma revista sobre uma mesa. (b) Uma bola se
movimento ao longo de uma trajetória através do ar. (c) Uma pessoa sentada em uma
cadeira sobre o chão de um quarto. (d) um imã levita em cima de outro imã que está
sobre uma mesa.
70 7.12. Problemas

7.12 Problemas

Atividade 7.1 Um caminhão está viajando com velocidade constante de 25 m/s


quando é ultrapassado por uma motocicleta com velocidade constante de 40 m/s. Em
qual veı́culo o módulo da força resultante sobre o veı́culo é maior?

Atividade 7.2 Durante uma partida de tênis, uma bola que chega a um jogador com 40
m/s é rebatida pela raquete de tênis e retornada a 40 m/s. O outro jogador, percebendo
que a bola está fora da área de jogo, pega a bola na mão. Assumindo que o intervalo de
tempo de contato é o mesmo nos dois casos, compare a força exercida pela raquete do
primeiro jogador sobre a bola com a força exercida pela mão do segundo jogador sobre
a bola.

Atividade 7.3 Dois carrinhos de 5,00 kg cada, um vermelho e outro verde, estão a 1,00
m de distância um do outro sobre uma superfı́cie na qual cada carrinho está sujeito à
uma força de atrito de 5,00 N quando se movem. O carrinho vermelho é puxado com
uma força constante de 12,0 N em direção ao carrinho verde. Qual é a aceleração (a)
do centro de massa antes dos dois carros colidirem? (b) do carrinho vermelho antes
da colisão, e (c) do centro de massa após a colisão? (d) Que conclusão você chega ao
comparar suas respostas para os itens (a) e (c)? Considere que a força de 12,0 N deixe
de atuar quando os carrinhos colidem.

Exercı́cio 7.1 Todos os blocos da figura abaixo são idênticos e você pode ignorar qual-
quer atrito nas polias. Coloque a tensão nas corda nas quatro situações em ordem
crescente.

Exercı́cio 7.2 Um estudante de 60 kg está num elevador se movendo para baixo com
velocidade constante. Ele usa uma balança de banheiro para medir a força exercida
sobre seus pés. Qual é a força lida pela balança (a) quando o elevador tem velocidade
constante, (b) quando o elevador desacelera com módulo de 2,0 m/s2 , e (c) quando o
elevador volta a descer acelerando a 2,0 m/s2 ?
Capı́tulo 7. Forças 71

Exercı́cio 7.3 A figura abaixo mostra dois blocos. Um dos blocos está em cima de uma
mesa sem atrito, e segura o outro bloco a partir de uma corda de massa desprezı́vel que
passa por uma polia de baixo atrito. O segundo bloco está suspenso no ar. (a) Se você
segura o bloco suspenso, e depois o libera, qual deve ser a inércia deste bloco para que
o sistema comece a deslizar? (b) Nesse caso, qual deveria ser a aceleração do sistema,
em termos de g, m e M?

Exercı́cio 7.4 Um martelo pneumático é coberto com um absorvedor de impacto com


o objetivo de diminuir o impacto sobre o usuário do martelo. O deslocamento vertical
do martelo como função do tempo é dado por x(t) = at 2 − bt 3 (durante o movimento
do martelo), onde a = 15 m/s2 e b = 20 m/s3 . O eixo x positivo está orientado para
cima. (a) Escreva uma expressão para a força resultante exercida sobre o martelo como
função do tempo. (b) Em quais valores de t a força resultante é positiva, negativa e
igual a zero?

Exercı́cio 7.5 Imediatamente antes de bater no chão, uma bola de basquete parcial-
mente cheia de 0,625 kg tem velocidade de 3,30 m/s. A bola perde metade de sua
energia cinética ao quicar no chão. (a) Qual é a velocidade da bola imediatamente após
quicar no chão? (b) Se a bola fica em contato com o chão por 9,25 ms, qual é o módulo
da força média exercida pelo chão sobre a bola?

Exercı́cio 7.6 Uma caminhonete de 1500 kg e um carro de 1000 kg estão estaciona-


dos com suas traseiras tocando uma a outra num estacionamento nivelado. Ambos
os veı́culos estão sem o freio de mão puxado de forma que podem se mover de forma
livre. Um homem sentado na parte de trás da caminhonete exercia uma força hori-
zontal constante sobre a parte de trás do carro com seu pé, e o carro acelera a 1,2
m/s2 . (a) Qual é a aceleração (módulo e direção) do centro de massa do sistema carro-
caminhonete? (b) Qual a força resultante exercida em cada um dos veı́culos? (c) Qual a
aceleração (módulo e direção) da caminhonete? Ignore qualquer atrito entre os pneus
e o chão.

Exercı́cio 7.7 Duas molas são conectadas conforme mostra a figura abaixo. Quando
um bloco de 4,0 kg é suspenso a partir da extremidade da combinação, o conjunto de
molas se estica 15 cm em relação ao seu ponto relaxado. (a) Qual é a constante de mola
do conjunto? (b) Se a mola de cima se alonga 10 cm, qual é a constante de mola de cada
mola?
72 7.12. Problemas

Exercı́cio 7.8 Um trem é composto de um vagão-motor de inércia M e 3 outros vagões


de inércias m1 , m2 e m3 , respectivamente. A aceleração do trem é a, e o atrito pode
ser ignorado. (a) Qual é a força resultante agindo sobre o trem? (b) Qual é a força no
contato que puxa o último carro (m3 )? (c) Qual é a força no contato entre o vagão-motor
e o primeiro vagão (m1 )?

Problema 7.1 Um carrinho de 2,34 kg num trilho de ar longo e nivelado, sem atrito,
está se movendo em direção a um ventilador elétrico com velocidade de 0,23 m/s. O
ventilador, que estava inicialmente desligado, é ligado. Enquanto o ventilador acelera,
o módulo da força que ele exerce sobre o carro é dado por at 2 , onde a = 0, 02 N/s2 .
(a) Qual é a velocidade do carro 3,5 s após o ventilador ter sido ligado? (b) Depois de
quantos segundos o carro pára?

Problema 7.2 Um livro vermelho de 5,0 kg é suspenso com uma mola presa ao teto
de um elevador que está acelerando para baixo. Ao prender o livro vermelho na mola,
a mola se alonga 71 mm em relação ao seu comprimento quando relaxada. Mas você
também tem um livro amarelo de inércia desconhecida. Quando você prende os livros
amarelo e vermelho na mola ao mesmo tempo, a mola se alonga 110 mm em relação ao
seu comprimento quando relaxada. Quando o elevador está em repouso, a combinação
dos dois livros faz a mola se alongar 140 mm em relação à posição relaxada. (a) Qual é
a constante da mola? (b) Qual é a inércia do livro amarelo? (c) Qual é a aceleração do
elevador?

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Exercı́cio 7.1, Exercı́cio 7.2, Exercı́cio 7.5, Exercı́cio 7.7, Exercı́cio 7.8, Problema 7.1
8. Trabalho

Como vimos no capı́tulo anterior, um sistema sujeito à forças externas - isto é, forças exerci-
das por objetos fora do sistema sobre os objetos do sistema - não está isolado. A relação entre
o momento de um sistema não isolado e a força resultante exercida sobre o sistema é simples:
a força resultante é igual à variação temporal no momento do sistema. Mas além de afetar o
momento, as forças externas podem alterar a energia do sistema. No caso mais simples, uma
única força exercida sobre um sistema consistindo de um único objeto faz o objeto acelerar, e a
força muda a energia cinética do sistema. As forças também podem mudar o estado fı́sico dos
objetos (comprimir ou alongar uma mola, ou amassar uma folha de papel). Como o estado
do sistema está relacionado com a energia interna, vemos que as forças podem mudar não só
a energia cinética mas também a energia interna do sistema. Para descrever essas mudanças
na energia, os fı́sicos usam o conceito de trabalho: o trabalho é a variação de energia num
sistema devido às forças externas.

Referências para leitura: Halliday (cap. 7) e Bauer (cap. 5).

8.1 Força e deslocamento


Considere um sistema composto por você e sua bicicleta. Se um amigo seu (parte da vizinhança)
empurra você sobre a bicicleta, e você acelera, a força exercida pelo seu amigo sobre você
transfere energia do corpo do seu amigo para você, aumentando sua energia cinética. Se
você comprime uma mola, você transfere energia do seu corpo para a mola, que é armaze-
nada na forma de energia potencial elástica. Em ambos os casos, a variação na energia do
sistema é causada por uma força externa.
Para entender porque a força deve ser externa para realizar trabalho sobre o sistema,
lembre-se que forças representam interações entre objetos. Qualquer interação entre objetos
dentro do sistema rearranja a energia entre estes objetos mas não muda a quantidade total de
energia no sistema. Mas as forças externas sempre causam variações na energia do sistema?

Questão 8.1 Imagine que você esteja empurrando uma parede, conforme a Figura
8.1(a). (a) Considerando a parede como o sistema, a força que você exerce sobre a
parede é interna ou externa? (b) A energia da parede muda com a força que você
exerce nela? (c) A força que você realiza na parede realiza trabalho sobre a parede?

73
74 8.2. Trabalho positivo e negativo

Figura 8.1: Uma força externa realiza trabalho sobre o sistema somente se a força faz o ponto
no qual ela é aplicada se mover.

Como o exemplo acima ilustra, as forças externas exercidas sobre um sistema nem sem-
pre realizam trabalho sobre o sistema. No caso da Figura 8.1(a) não há trabalho realizado
sobre o sistema. Já no caso da Figura 8.1(b) a força aplicada sobre algo que tem rodas faz
o objeto ser acelerado, alterando sua energia cinética. Por fim, se você empurra um objeto
deformável, como um colchão na Figura 8.1(c), o objeto muda sua forma e, com isso, sua
energia potencial. Nos dois últimos casos, há trabalho sendo realizado sobre o sistema.
A chave para entender a diferença entre a primeira e as duas últimas situações está no
ponto de aplicação da força (isto é, no ponto onde a força é exercida sobre o sistema). Nos dois
últimos casos da Figura 8.1, o ponto de aplicação da força é deslocado. Para que uma força
realize trabalho, o ponto no qual a força está sendo aplicada precisa se mover. Em 1D,
quando o deslocamento é diferente de zero, a força realiza trabalho sobre o sistema, fazendo
com que a energia do sistema mude. (Em mais de uma dimensão, veremos que o ângulo
entre a força e o deslocamento também é importante.) Para distinguir o deslocamento no
ponto onde a força é aplicada de qualquer outro deslocamento, vamos adicionar o subscrito
F no deslocamento: ∆rF .

8.2 Trabalho positivo e negativo


Quando a energia de um sistema aumenta
como resultado de uma força externa exer-
cida sobre o sistema, a variação na energia
do sistema é positiva, e portanto o trabalho
realizado pela força externa sobre o sistema
é positivo. Mas uma força externa também
pode diminuir a energia de um sistema.
Considere o exemplo do seu amigo tentando
parar você sobre uma bicicleta. Neste caso,
a energia cinética do sistema diminui, e a
variação da energia é negativa, de forma que
o trabalho realizado pela força externa (isto
é, pelo seu amigo sobre você) sobre o sistema
é negativo.

Figura 8.2: O trabalho realizado sobre um sistema


é positivo se o sistema ganha energia e negativo se
o sistema perde energia.
Capı́tulo 8. Trabalho 75

Dizemos que o trabalho realizado por


uma força sobre um sistema é positivo
quando a força e o deslocamento produ-
zido pela força estão na mesma direção, e
negativo quando eles apontam na direção
oposta um do outro.

8.3 Trabalho realizado sobre uma única partı́cula


Matematicamente, representamos o trabalho realizado por uma força sobre um sistema por
W . A unidade no SI para o trabalho é a mesma da enegia, J. Quando o trabalho é realizado
por forças externas sobre um sistema, a energia do sistema muda de forma que
∆Esist = W . (8.1)
Esta equação é chamada de lei da energia e engloba a conservação de energia; como energia
não pode ser criada ou destruı́da, a energia de um sistema somente muda se energia é trans-
ferida para dentro ou para fora do sistema. Para um sistema fechado, W = 0 e a energia do
sistema toma a forma já vista no capı́tulo 4: ∆Esist = 0.
Para ilustrar o uso da equação acima, vamos considerar uma partı́cula de inércia m como
nosso sistema; suponha que a partı́cula está sujeita a uma força constante F.

Definição 8.1 (Partı́cula) O termo partı́cula se refere a qualquer objeto que não tem
estrutura interna. Justamente por não ter estrutura interna, uma partı́cula não pode
mudar sua forma, e portanto sua energia interna é fixa (∆Eint = 0). Apenas a energia
cinética pode mudar numa partı́cula.

A aceleração imprimida à partı́cula pela força constante num intervalo de tempo ∆t =


tf − ti é dada por:
F
a= .
m
Ao final do intervalo ∆t, a velocidade da partı́cula é dada por:
vf = vi + a∆t
e o deslocamento da partı́cula pode ser descrito como:
1
∆x = vi ∆t + a(∆t)2 .
2
A partir destas equações, podemos avaliar a mudança na energia cinética da partı́cula:
1 1 h i
∆K = Kf − Ki = m(vf2 − vi2 ) = m (vi + a∆t)2 − vi2 = ma∆x = F · ∆x.
2 2
Mas como, pela definição de trabalho, ∆E = W , então chegamos à conclusão que:
W = F · ∆x (8.2)
para o caso de uma força constante exercida sobre uma partı́cula em 1D. Se a força externa e
o deslocamento apontam na mesma direção, então o produto F∆x é positivo, e consequente-
mente a energia cinética aumenta. Se a força e o deslocamento estão em direções opostas, o
trabalho realizado pela força sobre a partı́cula é negativo, e a energia cinética diminui.
A equação 8.2 é chamada de equação do trabalho. Junto com a lei de energia, equação
8.1, esta equação nos permite lidar com sistemas que não são fechados.
76 8.4. Escolha do sistema

Figura 8.3: Variações de momento e energia para sistemas.

Note o paralelo entre os tratamentos do momento/impulso e da energia/trabalho (Figura


8.3). A conservação de momento dá origem à lei do momento, ∆p = J, onde J é o impulso
feito no sistema. Para um sistema isolado, o impulso é zero e portanto o momento não varia.
P
Se o sistema não está isolado, podemos usar a equação do impulso, J = ( F)∆t, para calcular
a variação no momento do sistema. A conservação da energia dá origem à lei da energia,
∆E = W . O trabalho realizado sobre um sistema fechado é zero, e portanto a energia do
sistema não varia nestas condições. Se o sistema não é fechado, podemos usar a equação
P
do trabalho, W = ( F)∆x, para calcular a variação de energia no sistema. Ao resolver um
determinado problema, é possı́vel escolher um sistema fechado ou um sistema que não está
fechado; ambas as escolhas devem levar ao mesmo resultado.

8.4 Escolha do sistema


Como mencionado na seção anterior, podemos fazer diferentes escolhas para definir um sis-
tema. Cada escolha terá uma interpretação diferente, mas ao final qualquer escolha deve
fornecer o mesmo resultado. Para ilustrar este ponto, considere a situação mostrada na Fi-
gura 8.4, que mostra uma pessoa abaixando um balde com uma corda. O balde inicialmente
se move para baixo com velocidade vi , mas o atrito entre as mãos da pessoa e a corda faz o
balde diminuir sua velocidade de forma que ele termina em repouso no chão. Para simplifi-
car, vamos assumir que não há fonte de energia consumida, ou seja, a pessoa apenas deixa a
corda deslizar, sem demandar nenhum esforço fı́sico.
Vamos inicialmente considerar o balde e a Terra como sistema, Figura 8.4(a). Como o
balde termina em repouso, sua energia cinética diminui. Como a distância entre o balde e
a Terra diminui, a energia potencial do sistema Terra-balde diminui. Não há conversão de
fontes de energia ou qualquer dissipação de energia dentro do sistema. Mas a pessoa exerce
força sobre o sistema através da corda, que envolve deslocamento sobre o balde, então há
trabalho realizado sobre o sistema. Este trabalho é negativo porque a força exercida pela
corda sobre o balde é para cima, e o deslocamento do balde provocado pela força é para
baixo. De forma a obedecer a lei da energia, o trabalho realizado deve ser igual à soma
de ∆K e ∆Ug . O que esta equação nos diz é que a energia do sistema Terra-balde diminui
conforme a energia é transferida para fora do sistema. Porque a energia é transferida para
fora do sistema, o trabalho realizado pela pessoa sobre o sistema é negativo.
Capı́tulo 8. Trabalho 77

Figura 8.4: Diferentes escolhas para o sistema levam a diferentes situações.

Se incluirmos a pessoa e a corda no sistema, Figura 8.4(b), as variações nas energias


cinética e potencial são as mesmas de antes, mas agora a pessoa não exerce forças externas e
portanto não pode realizar trabalho sobre o sistema. De fato, incluı́mos todos os objetos no
sistema, então não há forças externas e portanto não há trabalho realizado por forças externas
- o sistema está fechado. Para esta escolha de sistema, devemos considerar a dissipação de
energia devido ao atrito entre as mãos da pessoa e a corda, de forma que ∆Eth é positivo. A
conservação de energia nos diz que a energia cinética inicial do baldo e a energia potencial
inicial do sistema são convertidas em energia térmica. Esta conclusão é consistente com a
primeira situação, mas no processo obtivemos mais informação de onde foi parar a energia
inicial do sistema.
Finalmente, vamos analisar a Figura 8.4(c) que considera o balde, a pessoa e a corda como
sistema. As variações nas energias cinética e térmica são as mesmas. No entanto, para esta
escolha de sistema não há variação na energia potencial gravitacional, pois, por definição,
a energia potencial se refere à configuração dos objetos do sistema, e a energia potencial
gravitacional se refere à configuração do balde e da Terra - mas a Terra não faz mais parte
do sistema. O que foi considerado como energia potencial gravitacional nas duas primeiras
situações aparece aqui como trabalho realizado pela força gravitacional sobre o sistema. A
Terra exerce uma força externa para baixo sobre o balde, e portanto realiza trabalho positivo
sobre o balde. (Note que a Terra também exerce uma força sobre a pessoa mas esta força não
envolve deslocamento.)
Todas as 3 escolhas de sistema levam a uma conclusão válida. Ao olhar para a situação
de diferentes pontos de vista, você ganha um melhor entendimento de quais conversões e
transferências de energia ocorrem. Além disso, olhar para a situação de diferentes formas e
verificar se suas respostas são consistentes vai lhe convencer de que você não está esquecendo
de nada.
78 8.5. Trabalho realizado sobre um sistema de várias partı́culas

8.5 Trabalho realizado sobre um sistema de várias partı́culas


Como já vimos, em várias situações temos objetos que não podem sempre ser tratados como
uma única partı́cula, ou um sistema com várias partı́culas que interagem entre si. Vimos
que a aceleração do centro de massa de um sistema é dada pela equação 7.7. A partir deste
resultado podemos avaliar o trabalho realizado pelas forças externas num sistema de várias
partı́culas.
Considere o movimento de um sistema de 2 partı́culas durante o intervalo de tempo
∆t = tf − ti . Se o centro de massa do sistema se move com velocidade vcm,i em algum instante
inicial ti e tem aceleração constante acm , então a velocidade do centro de massa ao final do
intervalo é
vcm,f = vcm,i + acm ∆t
e o deslocamento é
1
∆xcm = vcm,i ∆t + acm (∆t)2 .
2
Usando as equações acima podemos calcular a variação na energia cinética do sistema:

1 2 2
X 
∆Kcm = Kcm,f − Kcm,i = m(vcm,f − vcm,i = macm ∆xcm = Fext ∆xcm .
2
Embora a equação acima seja similar à equação que obtivemos para o caso de uma única
partı́cula, ∆Kcm não representa o trabalho realizado por uma força externa sobre o sistema.
O motivo para tal é que a energia cinética Kcm é apenas uma parte da energia cinética
do sistema; para um sistema com várias partı́culas que interagem entre si podem ocorrer
mudanças em outras formas de energia. Logo, ∆Kcm , ∆E. Como, pela definição, o trabalho
é o responsável pela variação de energia do sistema (equação 8.1, ∆E = W ), vemos que ∆Kcm
da equação 8.5 não pode ser igual a todo o trabalho realizado pela força externa sobre o sis-
tema com mais de um objeto. Nestes casos, quando uma força externa é exercida sobre uma
das partı́culas do sistema, sabemos que:

W = Fext,1 ∆x1 .

Podemos generalizar o resultado acima para um sistema com várias partı́culas sujeitas a
diferentes forças constantes:

W = W1 + W2 + ... = Fext,1 ∆x1 + Fext,2 ∆x2 + ...,

ou X 
W= Fext,n ∆xn .
n
Note que para calcular o trabalho devemos tomar o produto de cada força externa e o
deslocamento realizado por esta força. Se o sistema é um objeto que se deforma, os valores
de deslocamento são diferentes em diferentes partes do sistema. Por esta razão, a equação
acima envolve uma soma sobra n.
Se a força é dissipativa, não podemos usar esta expressão porque a energia dissipada é
distribuı́da ao redor da extremidade do sistema.
Capı́tulo 8. Trabalho 79

8.6 Forças variáveis


Os resultados obtidos até aqui se aplicam somente a forças constantes e que são aplicadas
em locais bem definidos de um sistema. Se as forças não são constantes ou se não podemos
determinar o deslocamento produzido pela força então precisamos de uma outra abordagem.
Por exemplo, suponha que queremos calcular o
trabalho feito por uma força variável sobre um sis-
tema enquanto o ponto de aplicação da força se move
de xi até xf , como na Figura 8.5. Como já fizemos
inúmeras vezes, podemos dividir o deslocamento xf −
xi em N pequenos deslocamentos iguais δx de forma
que a força é aproximadamente constante ao longo de
cada δx. Desta forma, para cada pequeno intervalo o
trabalho realizado é dado por

Wn = Fx (xn )δx,

onde Fx (xn ) é a força em xn . Geometricamente, este


trabalho é a área do retângulo mais escuro na Figura
8.5(a).
O trabalho realizado pela força em todo o desloca-
mento é aproximadamente igual à soma de cada tra-
balho Wn entre xi e xf :
X X
W≈ Wn = Fx (xn )δx.
n n

O resultado exato é obtido se fizemos δx tender a


zero, que é precisamente a definição da integral da
Figura 8.5: Trabalho realizado por uma força externa em relação a x de xi a xf :
força variável F(x) sobre um sistema. Z xf
W= F(x)dx.
xi

Um exemplo de uma força que varia com a posição é a força exercida por uma mola, onde
Fmola = −k(x − x0 ). Através da equação 8.6 podemos facilmente calcular o trabalho realizado
por uma força como esta:
Zx Zx
1
W= F(x)dx = k(x − x0 )dx = k(x − x0 )2 .
x0 x0 2

No caso de forças dissipativas, como o atrito, a situação é um pouco mais complicada.


Primeiro, porque a energia dissipada pelo atrito acaba sendo dividida entre dois objetos;
segundo, porque não há um único ponto de aplicação da força nestes casos - a força é dis-
tribuı́da sobre duas superfı́cies que se movem uma em relação à outra.
80 8.7. Potência

Considere o bloco deslizando sobre uma su-


perfı́cie rugosa, como na Figura 8.6. O bloco está ini-
cialmente se movendo com velocidade v mas eventu-
almente vai parar por causa do atrito entre o bloco
e a superfı́cie. Como há processos irreversı́veis na
configuração e não há nenhuma fonte de energia,
toda a energia cinética do bloco será convertida em
energia térmica:

∆E = ∆K + ∆Eth = 0 −→ ∆Eth = −∆K = Ki .

Como estas variações na energia estão relacionadas


com o deslocamento δrcm sobre o qual o cloco desliza
até parar? Sabemos que a variação na energia cinética
do bloco deve ser igual ao produto da força externa Figura 8.6: Trabalho realizado por um
exercida Fatr sobre o bloco e o deslocamento do seu bloco sobre uma superfı́cie.
centro de massa:
∆Kcm = Fatr ∆xcm .
Porque a força de atrito e o deslocamento do bloco apontam em direções opostas, o lado
direita da equação acima é negativo. E porque o bloco é um objeto rı́gido, a energia cinética
translacional é toda a sua energia cinética, de forma que ∆Kcm = ∆K. Portanto, a partir das
equações acima podemos concluir que

∆Eth = Fatr ∆xcm . (8.3)

Quando usar esta equação, lembre-se que a energia é dissipada nos dois lados da superfı́cie
onde o atrito ocorre. Logo, embora o lado direito das duas últimas equações são o produto
de uma força constante e o deslocamento, não seria correto se referir a este produto como “o
trabalho realizado pela força de atrito exercida sobre o bloco.”. Além disso, a equação 8.3 só
funciona para o deslocamento em uma direção; se o bloco muda a direção do seu movimento,
você deve aplicar a equação 8.3 para cada direção separadamente.

8.7 Potência
Frequentemente estamos interessados não só em saber quanta energia é convertida dentro
de um sistema ou transferida para um sistema, mas também em saber quão rápida a energia é
convertida ou transferida. A taxa na qual a energia é transferida ou convertida é chamada de
potência. Se a energia de um sistema varia de uma quantidade ∆E ao longo de um intervalo
de tempo ∆t, a potência média é definida como:

∆E
Pmed = . (8.4)
∆t
A unidade no SI para a potência é o watt (W), que é igual a 1 J de energia por segundo: 1 W ≡
1 J/s. Uma pessoa em boa condição fı́sica pode entregar aproximadamente 75 W de trabalho
médio sobre um intervalo de tempo prolongado. Isto significa que uma pessoa saudável pode
realizar trabalho numa taxa de aproximadamente 75 J/s. Um atleta pode entregar aproxi-
madamente 400 W durante um intervalo de tempo longo, e até 1000 W durante intervalos
curtos de tempo.
Capı́tulo 8. Trabalho 81

A potência instantânea é
∆E dE
P = lim = . (8.5)
∆t→0 ∆t dt
A equação 8.5 dá a taxa na qual a energia do sistema varia. O conceito de potência pode ser
aplicado à taxa na qual qualquer tipo de energia varia. Por exemplo, a potência na qual a
energia térmica é gerada é dada por
dEth
P= .
dt
Numa situação onde a energia de um sistema é alterada por uma força externa constante
Fext , podemos escrever
!
∆E W ∆x
Pmed = = = Fext = Fext vmed ,
∆t ∆t ∆t

onde vmed é a velocidade média do ponto de aplicação da força. Para obter a potência ins-
tantânea tomamos o limite de ∆t indo a zero, chegando a

P = Fext v

8.8 Outras questões de revisão

Questão 8.2 Uma bola é jogada verticalmente para cima. (a) Enquanto a bola se
move para cima, e diminui sua velocidade sob influência da gravidade, o trabalho
realizado pela Terra sobre a bola é positivo ou negativo? (b) Depois de chegar na sua
altura máxima, a bola começa a descer, ganhando velocidade. Neste caso, o trabalho
realizado pela força gravitacional sobre a bola é positivo ou negativo?

Questão 8.3 (a) Um galão de gasolina contém aproximadamente 1, 4×108 J de energia


quı́mica. Um carro consome esta quantidade de gasolina em aproximadamente 30 min
quando viaja numa rodovia; um avião consome a mesma quantidade em 1 s quando
viajando a uma altura estável. Qual é a potência média da liberação de energia em
cada caso?
82 8.9. Problemas

8.9 Problemas

Atividade 8.1 A figura abaixo mostra a componente x da velocidade de uma partı́cula


em função do tempo. Em quais intervalos o trabalho realizado sobre a partı́cula é (a)
positivo, (b) negativo, (c) zero?

Atividade 8.2 Você está levantando uma bola com velocidade constante. (a) Quando
o sistema é a bola, há trabalho realizado sobre o sistema? Se sim, quem realiza o
trabalho? (b) Descreva a energia potencial deste sistema durante o levantamento. (c)
Quando tomamos a bola e a Terra como sistema, há trabalho realizado sobre o sistema?
Se sim, quem realiza o trabalho? (d) Descreva como a energia potencial do sistema
Terra-bola muda durante o levantamento.

Atividade 8.3 Qual é o trabalho realizado pela gravidade sobre uma gota de chuva de
2,0 mg quando a gota cai de uma nuvem a 2000 m de altura até o chão?

Atividade 8.4 Um carro de 1000 kg viajando a 5 m/s bate numa parede. A parede de
concreto da passagem não é afetada, mas o carro é amassado de forma que no intervalo
de tempo entre o impacto e o momento que o carro para seu centro de massa se desloca
0,50 m para frente. Qual é (a) a força média exercida sobre o carro, (b) o trabalho
realizado pela parede sobre o carro, e (c) a variação na energia cinética do centro de
massa do carro?

Atividade 8.5 Um corredor tem que fazer uma força de 25 N contra a resistência do ar
para manter uma velocidade de +5 m/s. A qual taxa o corredor está gastando energia?

Exercı́cio 8.1 No arranjo mostrado na figura abaixo, três segmentos de uma corda
c exercida por uma pessoa sobre
puxam o bloco. (a) Mostre que o módulo da força Fpr
a corda para levantar o bloco a uma velocidade constante é mg/3, onde m é a inércia
do bloco. (b) Um trabalhador usa este mesmo arranjo para levantar um bloco pesado,
enquanto outro trabalhador transporta um bloco idêntico com uma corda reta. Após
os dois blocos terrem sido levantados até a mesma janela do segundo andar, qual dos
dois trabalhadores realizou mais trabalho?
Capı́tulo 8. Trabalho 83

Exercı́cio 8.2 Dois carrinhos de 0,50 kg, um vermelho e um verde, estão a 0,5 m um
do outro num trilho de ar sem atrito. Você empurra o carrinho vermelho com uma
força constante de 2,0 N por 0,15 m e depois retira sua mão. O carrinho move 0,35
m no trilho até colidir com o carrinho verde. (a) Qual é o trabalho realizado por você
sobre o sistema dos dois carrinhos? (b) Quanto o centro de massa do sistema se move
enquanto você está empurrando o carrinho vermelho? (c) Qual é a variação da energia
cinética do centro de massa do sistema devido à força que você faz?

Exercı́cio 8.3 Num jogo, o jogador atira uma bola contra um palheiro. Para uma jogada
tı́pica, a bola deixa o palheiro com metade da velocidade de entrada. (a) Se a força de
atrito exercida pelo palheiro é constante e vale 6,0 N, e o palheiro tem espessura de 1,2
m, derive uma expressão para a velocidade de entrada como função da massa da bola.
Assuma que o movimento seja apenas na horizontal, e ignore os efeitos da gravidade.
(b) Qual é a velocidade de entrada tı́pica se a bola tem uma inércia de 0,50 kg?

Exercı́cio 8.4 Você desenvolve um carro a corda, que é impulsionado por uma mola,
para viagens até o supermercado. O carro tem 4,2 m de comprimento e uma inércia de
500 kg, e é capaz de ir do repouso a 20 m/s pelo menos 50 vezes antes de ser necessário
”dar corda”novamente, ou seja, comprimir novamente a mola. A corda tem o tamanho
do carro, e uma vez comprimida por completo tem metade deste tamanho. A fim de
ter a aceleração necessária, qual deve ser a constante de mola?

Exercı́cio 8.5 Um carro de 1000 kg se movendo a 7,0 m/s se aproxima da base de uma
montanha de 20 m de altura. Para economizar gasolina, o motorista usa uma média de
3,3 kW de potência do motor, percebendo que metade da energia proporcionada pelo
motor e metade da energia cinética inicial serão dissipadas. Qual é o menor intervalo
de tempo necessário para o carro ir da base ao topo da montanha?
84 8.9. Problemas

Problema 8.1 Um artista de circo de inércia m é lançado ao ar por um “canhão hu-


mano” que contém uma plataforma acionada por uma mola de constante elástica k. O
artista entra no canhão, comprimindo a mola. A mola é comprimida ainda mais de
forma que a posição inicial da plataforma está a uma distância d abaixo da posição da
plataforma quando a mola está relaxada. (a) Qual é a velocidade máxima adquirida
pelo artista após o lançamento? (b) Qual é a altura máxima alcançada pelo artista, em
relação à posição relaxada da plataforma?

Problema 8.2 Uma bala de inércia m e velocidade v é atirada contra um bloco de


madeira que tem inércia 4m e está parado sobre uma superfı́cie horizontal. A bala
atravessa o bloco e sai com velocidade v/3, levando um pedaço desprezı́vel de madeira
consigo. O bloco se move para a direita mas para depois de viajar uma distância d. (a)
Qual é o módulo da força de atrito entre o bloco e a superfı́cie enquanto o bloco está
se movendo? (b) Qual é a razão entre a energia dissipada conforme a bala atravessa o
bloco e a energia dissipada pelo atrito entre a superfı́cie e o bloco?

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Atividade 8.2, Atividade 8.4, Exercı́cio 8.1, Exercı́cio 8.2, Exercı́cio 8.5, Problema 8.2
9. Movimento no Plano

Até o momento, nos restringimos ao estudo de eventos na fı́sica que acontecem ao longo de
uma linha reta - ou seja, em uma dimensão (1D). Neste capı́tulo vamos desenvolver as fer-
ramentas que nos permite lidar com o movimento no plano - em outras palavras, movimento
que acontece em duas dimensões (2D). Como você vai ver, qualquer problema em duas di-
mensões pode ser reduzido a dois problemas em uma dimensão (que nós já sabemos resolver).
Após discutir as técnicas que nos permite lidar com quantidades vetoriais em duas dimensões,
vamos estudar a decomposição de vetores de força em duas dimensões. Esta decomposição nos
permite examinar mais de perto as forças de contato que ocorrem na superfı́cie entre dois ob-
jetos, que leva ao tema do atrito. Finalmente, vamos estender o conceito de trabalho de forma
que ele se aplique a situações onde a força e o deslocamento não estão na mesma direção.

Referências para leitura: Halliday (cap. 3, 4 e seção seção 7.2) e Bauer (seção 1.6, cap. 3 e
seção 5.2).

9.1 O termo “em linha reta” é relativo


No capı́tulo 2 discutimos que sempre quando falamos de movimento, devemos especificar
um eixo de referência no qual o movimento ocorre e sua origem. Combinados, o eixo e
a origem são chamados de um sistema de referência. Nos sistemas que analisamos até o
momento, assumimos que o movimento foi visto a partir de um sistema de referência em
repouso em relação à superfı́cie da Terra. O sistema de referência da Terra ou qualquer outro
sistema de referência se movendo com velocidade constante em relação à Terra é chamado
de um sistema de referência inercial.
Podemos verificar se um sistema de referência é ou não inercial a partir da lei da inércia:
num sistema de referência inercial, qualquer objeto isolado que está em repouso se mantém
em repouso, e qualquer objeto isolado em movimento se mantém em movimento com veloci-
dade constante. Este fato não ocorre se o sistema de referência estiver acelerando em relação
à Terra. Nos sistemas de referência inerciais as leis da Fı́sica devem ser as mesmas, indepen-
dente do sistema de referência estar em repouso ou se movendo com velocidade constante
em relação à superfı́cie da Terra.

85
86 9.2. Vetores num plano

Considere por exemplo o que ocorre


quando você deixa uma bola cair dentro de
um carro se movendo com velocidade cons-
tante. No sistema de referência do carro,
o movimento da bola é um movimento de
queda livre, como ilustrado na Figura 9.1(a).
A situação é diferente se você estiver parado
em algum lugar do lado de fora do carro - ou
seja, no sistema de referência da Terra. Por-
que o carro está se movendo para a direita,
a trajetória da bola não pode ser uma linha
vertical neste sistema de referência. A Fi- Figura 9.1: Movimento de uma bola como visto
gura 9.1(b) ilustra o movimento da bola no por (a) alguém se movendo junto com o carro e (b)
sistema de referência da Terra. em repouso.
A análise do problema acima sugere que
o problema do movimento da bola no sistema de referência da Terra pode ser quebrado em
duas partes: o movimento de queda livre na direção vertical (chamada de componente verti-
cal do movimento) e o movimento com velocidade constante na direção horizontal (chamada
de componente horizontal do movimento). Você já sabe como analisar cada um destes movi-
mentos separadamente. Portanto, tudo o que temos que fazer é desenvolver uma forma de
descrever ambos os movimentos ao mesmo tempo.

9.2 Vetores num plano


Para descrever o movimento da bola na Figura 9.1 preci-
samos generalizar nossa definição de vetores. Primeira-
mente, precisamos agora de não um, mas dois eixos de
referência - um para cada componente do movimento. A
Figura 9.2 mostra uma escolha possı́vel para o conjunto
de eixos de referência perpendiculares. Para distinguir os
dois eixos, vamos chamar o eixo horizontal de x e o ver-
tical de y. As origens dos dois eixos coincidem no ponto
onde o bola foi liberado.
Para especificar a posição da bola em cada instante de
tempo, precisamos de duas coordenadas: a coordenada x
e a coordenada y. Estas coordenadas especificam o vetor
Figura 9.2: Vetor posição para a posição da bola, que aponta da origem até a posição da
bola num determinado momento bola, como mostrado na Figura 9.2.
da Figura 9.1, usando eixos de re- Ao contrário dos vetores em uma dimensão (descre-
ferência no sistema de referência da vendo o movimento ao longo de uma linha reta), veto-
Terra.
res em duas dimensões (descrevendo o movimento num
plano) não necessariamente apontam ao longo do eixo.
Precisamos usar o princı́pio de adição e subtração de vetores para decompor um vetor em
suas componentes. Qualquer vetor A ~ pode ser decomposto em vetores componentes A~x
e A~y ao longo dos eixos escolhidos convenientemente, mutuamente perpendiculares, que
compõem um sistema de coordenadas retangulares (também chamado de sistema de coor-
denadas cartesianas.
Capı́tulo 9. Movimento no Plano 87

Figura 9.3: Decomposição de um vetor A ~ em três sistemas de coordenadas. Em cada sistema


de coordenadas as componentes do vetor A~x e A~y especificam completamente a posição do
ponto P em relação à origem. Qual sistema de coordenadas é mais conveniente depende do
problema em questão.

A Figura 9.3 mostra a deposição de um vetor A ~ em três sistemas de coordenadas dife-


rentes. Em cada sistema de coordenadas as componentes dos vetores A~x e A~y especificam
complementamente a posição do ponto P em relação à origem O. Na Figura 9.3(c) o sistema
de coordenadas é tal que o vetor A ~ se alinha com o eixo x. Agora a componente do vetor
ao longo do eixo x é A~ e a componente do vetor ao longo do eixo y é zero. Qual sistema de
coordenadas é mais conveniente depende do problema em questão.
Num sistema de coordenadas retangular, a posição de
um ponto P é especificado pelas coordenadas retangulares
x e y. Alternativamente, podemos especificar um ponto
usando coordenadas polares. A coordenada radial r dá a
distância do ponto a partir da origem e é sempre positiva.
A coordenada angular θ especifica o ângulo entre r e o
eixo x, e é medida na direção anti-horária a partir do eixo
x positivo (0 6 θ < 360o ). Qualquer ponto P é totalmente
especificado por (x, y) ou por (r, θ).
Como pode ser visto pela Figura 9.4(c), a componente
radial r é a hipotenusa de um triângulo retângulo com la-
dos x e y, logo: q
r = + x2 + y 2 .
O sinal positivo na frente da raiz indica que r nunca é
negativo. A trigonometria nos diz que tg θ = y/x, logo:
y
 
θ = arctg ,
x
onde os sinais de x e y determinam o quadrante de θ. As
equações acima nos permite determinar as coordenadas
polares a partir das coordenadas retangulares. Usando
trigonometria podemos também expressar as coordenadas
retangulares em termos das coordenadas polares:

x = r cos θ

y = r senθ. Figura 9.4: Sistemas de coordena-


das retangular e polar.
88 9.3. Movimento de um objeto em duas dimensões

Em coordenadas retangulares, o vetor posição de um


ponto P é
ˆ
~r ≡ xî + y j,
onde î e jˆ representam vetores unitários ao longo dos eixos x e y, respectivamente.
ˆ Ge-
Os vetores componentes de ~r são xî e y j.
nericamente, a decomposição de um vetor ar-
~ pode ser escrita como
bitrário A

ˆ
~ = A~x + A~y = Ax î + Ay j,
A

onde A~x e A~y são componentes do vetor A.


~
Usando o teorema de Pitágoras, podemos es-
crever o módulo de A ~ como
Figura 9.5: Decomposição de um vetor qual- q
quer em suas componentes. ~
A ≡ |A| = + A2x + A2y .

~ com respeito ao eixo x é especificado por


O ângulo de A

Ay
tgθ = .
Ax

9.3 Movimento de um objeto em duas dimensões


Podemos generalizar a descrição do movimento num plano começando com o vetor posição
de um objeto:
ˆ
~r = xî + y j. (9.1)
Como em uma dimensão, a velocidade instantânea de qualquer objeto é

d~r ∆~r ˆ
v~ ≡ = lim = vx î + vy j, (9.2)
dt ∆t→0 ∆t
onde
dx dy
vx = e vy = .
dt dt
O deslocamento, a velocidade instantânea e
a aceleração da bola da Figura 9.1 são mostra-
dos na Figura 9.6. Como a velocidade média da
bola é o deslocamento dividido pelo intervalo de
tempo durante o qual o deslocamento ocorre, a
velocidade média (não mostrada na Figura 9.6
aponta na mesma direção do deslocamento. A
velocidade instantânea da bola é a velocidade
média avaliada durante um perı́odo de tempo
infinitesimal, e como a bola não se move em li-
Figura 9.6: Deslocamento, velocidade ins- nha reta, a velocidade instantânea não necessa-
tantânea e aceleração da bola da Figura 9.1. riamente aponta na mesma direção do desloca-
mento.
Capı́tulo 9. Movimento no Plano 89

As componentes da aceleração são dadas genericamente por


dvx d 2 x dvy d 2 y
ax = = 2 e ay = = 2.
dt dt dt dt
Mas no caso da aceleração, por definição, a aceleração da bola aponta na direção da mudança
na velocidade. Como no caso da bola a componente horizontal da sua velocidade é igual à
velocidade do carro e é constante, não há aceleração na direção horizontal (ax = 0). Somente
a componente vertical da velocidade da bola muda, de forma que a aceleração da bola aponta
para baixo, e não na direção de v~.
O que significa a aceleração de um objeto
apontar numa direção diferente da sua veloci-
dade instantânea? Para responder esta questão,
precisamos decompor a aceleração em duas com-
ponentes: uma paralela à velocidade instantânea
e outra perpendicular à velocidade instantânea
(Figura 9.7). A componente paralela causa a
variação do módulo da velocidade instantânea.
Figura 9.7: Vetores velocidade e aceleração Assim como no movimento 1D, o módulo da ve-
da bola da Figura 9.1. Decomposição do vetor locidade aumenta quando a componente para-
a em vetores paralelos e perpendiculares a v~. lela da aceleração aponta na mesma direção da
~
velocidade instantânea e diminui quando apon-
tam em direções diferentes. A componente perpendicular da aceleração causa uma mudança
na direção da velocidade instantânea, que no nosso exemplo significa que a bola não se move
numa linha horizontal reta como o carro.
Para obter a posição da bola em qualquer instante arbitrário tf = ti +∆t, podemos escrever
a condição inicial para o movimento da bola no sistema de referência da Terra no instante
ti . Porque a aceleração da bola é sempre verticalmente para baixo, escolhemos um sistema
de coordenadas que tem o eixo x horizontal e o eixo y vertical. No sistema de referência da
Terra, a velocidade inicial da bola é
ˆ
v~i = vx,i î + vy,i j.
A velocidade da bola na direção horizontal é constante; na direção vertical, a bola tem
aceleração constante para baixo (ay = −g). A componente x da velocidade instantânea da
bola não muda. Podemos obter a componente y no instante tf como:
vx,f = vx,i
vy,f = vy,i − g∆t
A partir das equações acima podemos determinar as posições horizontal e vertical da bola
em qualqeur instante:
xf = xi + vx,i ∆t
1
yf = yi + vy,i ∆t − g(∆t)2 .
2
Estas equações determinam completamente a trajetória de um projétil lançado com veloci-
dade inicial v~i a partir do ponto (xi , yi ). As equações acima fornecem xf e yf como função
do tempo, ∆t. Ao eliminar ∆t das equações, obtemos uma função y(x) que depende quadra-
ticamente de x e descreve uma parábola. Por isso a trajetória de um projétil cuja velocidade
inicial não é vertical é uma parábola.
90 9.4. Colisões e momento em duas dimensões

9.4 Colisões e momento em duas dimensões


Como vimos no capı́tulo 4, as colisões em uma dimensão são completamente descritas por
p = ~0, que diz que o momento de um sistema isolado de objetos que colidem
duas equações: ∆~
não muda, e e ≡ v12,f /v12,i , que define o coeficiente de restituição. As mesmas duas equações
se aplicam a colisões em duas dimensões, mas como o momento é um vetor, a conservação
de momento leva a duas equações separadas: uma para o momento na direção x e outra para
o momento na direção y. Considere, por exemplo, uma colisão num sistema isolado de dois
objetos com inércia m1 e m2 . Para este sistema,

∆px = ∆p1,x + ∆p2,x = m1 (v1x,f − v1x,i ) + m2 (v2x,f − v2x,i ) = 0

∆py = ∆p1,y + ∆p2,y = m1 (v1y,f − v1y,i ) + m2 (v2y,f − v2y,i ) = 0.


Mesmo se soubermos as velocidades iniciais dos objetos, ainda temos quatro variáveis nes-
tas duas equações (v1x,f , v1y,f , v2x,f e v2y,f ). Para obter as quatro variáveis precisamos de
quatro equações. Mesmo se soubermos o coeficiente de restituição da colisão, somente tere-
mos 3 equações. Ao contrário das colisões em uma dimensão, não podemos determinar o
resultado da colisão em duas dimensões sem alguma informação adicional sobre as velo-
cidades finais.

9.5 Decomposição de forças


Agora que sabemos como decompor vetores em componentes, podemos aplicar o mesmo
princı́pio com forças. Considere, por exemplo, um tijolo sobre uma prancha de madeira e,
aos poucos, vamos inclinando a prancha. Inicialmente, o tijolo se mantém em repouso, mas
quando o ângulo de inclinação θ excede um valor máximo θmax , o tijolo começa a descer a
prancha.
Quando a prancha está na horizontal, as forças exercidas sobre o tijolo são a força gra-
vitacional exercida pela Terra e a força de contato exercida pela prancha. Mas quando a
prancha é inclinada a partir do ângulo θmax a situação muda, e sabemos que a soma vetorial
das forças exercidas sobre o tijolo devem apontar na mesma direção da aceleração do tijolo.
Como o tijolo está limitado a se mover ao longo da superfı́cie da prancha, sua aceleração
deve ser sempre paralela à prancha. Por esta razão, faz sentido analisar as forças em termos
das componentes paralelas e perpendiculares à prancha, apontando o eixo x ao longo da
superfı́cie que contem o movimento como na Figura 9.8. As componentes das forças perpen-
diculares à superfı́cie da prancha são chamadas de componentes normais; as componentes
paralelas à superfı́cie são chamadas de componentes tangenciais. Porque a aceleração do
tijolo deve ser paralela à prancha, as componentes normais dos vetores devem ser igual em
módulo - independente se o tijolo estiver parado ou se movendo.
Por outro lado, as componentes tangenciais das forças gravitacional e de contato só são
iguais em módulo quando o tijolo não está acelerando. Note na Figura 9.8 que conforme
o ângulo de inclinação vai aumentando, o módulo da componente tangencial da força da
gravidade aumenta. Para não permitir o tijolo descer, o módulo da componente tangencial
da força de contato exercida pela prancha sobre o tijolo deve aumentar. Quando o ângulo
de inclinação atinge θmax , a prancha não é mais capaz de segurar o tijolo; as componentes
tangenciais não são mais iguais, e a soma das forças exercidas sobre o tijolo são direcionadas
para baixo.
Capı́tulo 9. Movimento no Plano 91

Figura 9.8: Diagramas de corpo livre para um tijolo sobre uma prancha em diferentes
ângulos de inclinação da prancha.

9.6 Trabalho como produto de dois vetores


Vimos no capı́tulo 8 que o trabalho realizado por uma força constante sobre uma partı́cula é
igual ao produto da força pela deslocamento:

W = F∆x.

O trabalho é um escalar, mas a força e o deslocamento são vetores. Discutimos que o des-
locamento ∆x na equação acima deve ser provocada pelo trabalho. Logo, no caso da força e
o deslocamento não apontarem na mesma direção, podemos decompor a força nas direções
paralela e perpendicular ao deslocamento provocado. É possı́vel perceber que a componente
da força perpendicular ao deslocamento não causa nenhum deslocamento e portanto não
realiza trabalho sobre o objeto. Apenas a componente da força paralela ao deslocamento é
capaz de realizar trabalho sobre o objeto.
Este resultado pode ser escrito de forma mais
compacta usando a definição do produto escalar en-
~eB
tre dois vetores. Se o ângulo entre dois vetores A ~
é φ, o produto escalar é

~·B
A ~ ≡ AB cos φ.

Geometricamente, o produto escalar fornece a


~ sobre o vetor B.
projeção do vetor A ~ E como o produto
~·B
escalar é comutativo (i.e., A ~=B ~ a projeção de
~ · A),
~ ~ ~
A em B é igual a projeção de B em A.~ Figura 9.9: Produto escalar de dois ve-
Usando a definição do produto escalar, podemos tores.
escrever o trabalho como um produto escalar:

W =F ~
~ · ∆r. (9.3)
92 9.7. Atrito

Em uma dimensão, quando a força e o deslocamento apontam ao longo da mesma linha,


a equação acima se reduz para W = Fx ∆x. Note que se a força e o deslocamento estão em
direções opostas, φ = 180o e cos φ = −1, que faz o trabalho ser negativo.
Porque cos 90o = 0, o trabalho realizado por qualquer força perpendicular ao desloca-
mento ∆~r é zero, como havı́amos discutido acima.

9.7 Atrito
Considere novamente o caso de um tijolo sobre uma prancha horizontal. Suponha agora que
você tente empurrar o tijolo ao longo da prancha com a sua mão. Se não houvesse o atrito
o tijolo se moveria facilmente sobre a prancha. No entanto, você tem que fazer uma força
razoável para fazer o tijolo começar a se mover; uma vez que o tijolo começou a se mover,
você deve continuar empurrando para manter o movimento. Se você parar de empurrar, o
atrito vai fazer o movimento parar.
A interação entre o tijolo e a prancha se manifesta através da força de contato exercida
pela prancha sobre o tijolo. A componente normal desta força de contato é chamada de
força normal e já discutimos esta força no capı́tulo 7. A componente tangencial da força
de contato é chamada de força de atrito. Embora ambas são decomposições da força de
contato, o comportamento macroscópico destas componentes é bastante diferente, e por isso
são tratadas como duas forças separadas.
Para entender a diferença, considere a componente normal da força de contato do tijolo
com a prancha. Como o tijolo não se move nesta direção, o módulo da força normal deve
ser igual ao módulo da força gravitacional. Ao empurrar o tijolo para baixo você aumen-
tará a força total para baixo sobre o tijolo, e, como uma mola sob compressão, a prancha
pode começar a se entortar até a força normal que ela exerce sobre o tijolo iguala as forças
exercidas pela Terra e pela sua mão sobre o tijolo. Se você empurrar mais forte para baixo,
a prancha vai entortar ainda mais, e a força normal continua a aumentar até o ponto que
você excede a capacidade da prancha de dar suporte ao tijolo e se quebra, fazendo com que a
força normal desapareça. Logo, forças normais assumem qualquer valor necessário para não
deixar um objeto empurrado para baixo não se mover através da superfı́cie - até o ponto em
que a superfı́cie quebra.
Imagine agora que o empurrão seja feito na horizontal, para a direita, como na Figura
9.10. Se você não empurrar muito forte, o tijolo permanece em repouso, o que significa que
as forças horizontais exercidas sobre o tijolo se somam para obter zero, e portanto a prancha
deve fazer uma força que é igual em módulo a força do seu empurrão mas na direção oposta.
Esta força horizontal é causada pelas ligações microscópicas entre as superfı́cies em contato.
Quando dois objetos estão em contato, estas ligações se formam nas extremidades das su-
perfı́cies dos objetos. Quando você tentar empurrar o tijolo para a direita, estas pequenas
ligações microscópicas agem como pequenas molas, exercendo uma força para a esquerda.
O resultado macroscópico da força originada por estas ligações é segurar o tijolo no lugar.
Se você aumentar a força do seu empurrão, as superfı́cies resistem mais e a componente tan-
gencial da força de contato aumenta. Este atrito exercido pelas superfı́cies que não estão se
movendo uma em relação a outra é chamado de atrito estático.
Capı́tulo 9. Movimento no Plano 93

Figura 9.10: Base microscópica para as forças de atrito cinética e estática (b = tijolo, p =
prancha, h = mão).

Estas ligações microscópicas não conseguem aguentar forças muito grandes, de forma
que se você continuar aumentando a força do seu empurrão as ligações são quebradas e o
tijolo começa a se mover. Uma vez que o tijolo passa a se mover em relação a prancha,
o contato entre as superfı́cies ainda existe, e as superfı́cies continuam a formar e quebrar
ligações microscópicas. Esta constante formação e quebra das ligações microscópicas entre
as superfı́cies é chamada de atrito cinético ou dinâmico. Se você parar de empurrar o tijolo,
a força de atrito cinético vai desacelerar o tijolo. Se você quiser manter o tijolo se movendo,
a força necessária para manter o movimento é menor do que a força necessária para fazer o
tijolo começar a se mover.
Para descrever o movimento de objetos ao longo de superfı́cies precisamos de uma ex-
pressão quantitativa para a força de atrito. A partir do exemplo da Figura 9.10, vemos que
a força de atrito estática tem um valor máximo, uma vez que se você empurrar o tijolo com
uma força alta o suficiente ele vai começar a se mover. O valor máximo da força de atrito
estática exercida por uma superfı́cie sobre um objeto é proporcional à força normal exer-
cida pelo objeto sobre a superfı́cie, e não depende da área de contato. A constante de
proporcionalidade é adimensional, µs , e é chamada de coeficiente de atrito estático.
Uma vez que o objeto passa a se mover em relação à superfı́cie, a força de atrito cinético é
constante e também é proporcional à força normal, além de ser independente da velocidade
relativa entre as duas superfı́cies:
c n
F12 = µc F12 , (9.4)

onde µc é chamado de coeficiente de atrito cinético. O coeficiente de atrito cinético é sem-


pre menor do que µs . Note que, ao contrário da força de atrito estática, que pode assumir
qualquer valor até o seu valor máximo definido por µs , a força de atrito cinética é constante
e portanto sempre igual ao valor dado pela equação 9.4.
94 9.8. Trabalho e atrito

9.8 Trabalho e atrito


Assim como a força normal, a força de atrito estática é uma força elástica: ela não causa
mudanças irreversı́veis. Se você parar de puxar o tijolo antes do tijolo se mover, o tijolo não
arranha a prancha. Já o atrito cinético causa dano, mesmo que microscopicamente. A força
de atrito cinética não é uma força elástica e causa dissipação de energia.
A afirmação acima nos leva a perguntar se a força
de atrito estática pode realizar trabalho sobre um sis-
tema. Para responder esta pergunta, vamos conside-
rar duas situações equivalentes. Considere primeiro a
situação da Figura 9.11(a). Para determinar se a força
de atrito estática exercida pelo chão sobre a pessoa
realiza trabalho sobre a pessoa, devemos olhar para
o deslocamento causado pela força. Como a força de
atrito estático é aplicado no pé, que não se move em
nenhuma direção enquanto está sobre o chão, o des-
locamento causado pela força é zero. Portanto, a su- Figura 9.11: Duas situações equivalen-
perfı́cie não realiza trabalho sobre a pessoa. tes na qual um objeto é acelerado pelo
atrito estático.
Vamos agora olhar para a situação da Figura
9.11(b). O diagrama do corpo livre para esta situação
é o mesmo da situação anterior. As duas forças exercidas sobre o pacote são a força da gra-
vidade e a força de contato exercida pela esteira. O módulo da componente normal da força
de contato é igual ao módulo da força da gravidade; a componente tangencial (a força de
atrito estático) é o que faz o pacote acelerar. O ponto de aplicação da força de atrito estático
se move com o pacote, e portanto a força de atrito estático realiza trabalho sobre o pacote.

9.9 Problemas

Atividade 9.1 Dentro de um trem você percebe um garoto deixando cair uma bola de
tênis do telhado da casa dele. (a) Qual é a trajetória que você vê a bola fazendo se o
trem está se movendo com velocidade constante? (b) Você veria a trajetória como uma
linha reta se o trem estivesse acelerando? Justifique.

~ = 3, 0î + 2, 0jˆ e B
Atividade 9.2 Para os vetores A ˆ determine (a) A
~ = −2, 0î + 2, 0j, ~+B
~e
~ + B|.
(b) o módulo de |A ~

Atividade 9.3 Um rifle é posicionado a 100 m de um alvo, e a bala deixa o rifle a 650
m/s. Se o rifle e o alvo estão alinhados horizontalmente, e o rifle está posicionado para
atingir o centro do alvo, por quanto a bala erra o alvo? Qual seria a mudança no seu
cálculo se o rifle e o alvo seguissem alinhados porém com uma certa inclinação em
relação à horizontal?

ˆ com Fx = 50 N e Fy = 12 N, é exercida sobre


~ = Fx î + Fy j,
Atividade 9.4 Uma força F
uma partı́cula que se move ao longo do eixo x, de x = 1, 0 m a x = −5, 0 m. (a) Determine
Capı́tulo 9. Movimento no Plano 95

o trabalho realizado pela força sobre a partı́cula. (b) Qual é o ângulo entre a força e o
deslocamento da partı́cula?

Atividade 9.5 Ao mover uma caixa de 51 kg num piso, você descobre que precisa de
uma força de 200 N para conseguir fazer a caixa se mover, e 100 N para manter a caixa
em movimento com velocidade constante. Quais são os coeficientes de atrito estático e
cinético entre a caixa e o piso?

Exercı́cio 9.1 Um avião viaja em linha reta da posição A até a posição B em 65 min,
se movendo com velocidade média de 400 km/h. Em um carro viajando de A até B,
um motorista descobre que a viagem tem 600 km pelo caminho que ele é obrigado a
seguir, que é ir em linha reta para o sul por uma certa distância e depois em linha reta
para oeste por uma distância maior. Qual é o ângulo a sudoeste que o avião viaja?

ˆ
~ = (At−Bt 2 )î+C j,
Exercı́cio 9.2 A velocidade de um objeto é dada nas unidades SI por v
com A = 14m/s2 , B = 10m/s3 e C = 22m/s. (a) Se a posição inicial do objeto em t = 0
é a origem (xi = yi = 0), quando o objeto retorna a origem? (b) Quando a velocidade é
zero? (c) Quando o objeto tem aceleração zero?

Exercı́cio 9.3 Conforme um metal derretido respinga, uma gotı́cula voa para o leste
com velocidade inicial vi a um ângulo θi acima da horizontal, e outra gotı́cula voa para
o oeste com a mesma velocidade e ângulo acima da horizontal, como mostra a figura
abaixo. Em termos de vi e θi , encontre a distância entre as duas gotı́culas como função
do tempo.

Exercı́cio 9.4 Uma mola (k = 3800 N/m) é comprimida entre dois blocos: bloco 1, de
inércia 1,40 kg, e bloco 2, de inércia 2,00 kg. O conjunto se move na direção horizontal
numa pista de gelo a 2,90 m/s quando, de repente, a mola quebra, permitindo sua
expansão e a separação dos blocos. O bloco 2 passa a se mover num ângulo de 34o
em relação ao seu movimento inicial com velocidade de 3,50 m/s, enquanto o bloco
1 se move com velocidade e ângulo desconhecidos. Nenhum bloco roda, e você pode
ignorar a inércia da mola. (a) Determine a velocidade do bloco 1 após a separação. (b)
Determine a compressão original da mola em relação ao seu comprimento relaxado.
96 9.9. Problemas

Exercı́cio 9.5 Um plano inclinado que faz um ângulo de 30o com a horizontal tem
uma mola de constante elástica 4500 N/m no seu ponto mais baixo. Um bloco de 2,2
kg é liberado próximo ao topo do plano inclinado e se move para baixo, comprimindo
a mola de até 0,0240 m em relação ao seu tamanho relaxado. (a) Ignorando qualquer
efeito de atrito, calcule a distância que o bloco percorre do momento que é liberado até
o momento que ele para no ponto máximo de compressão da mola. (b) Suponha agora
há atrito entre o bloco e a superfı́cie do plano inclinado, com µc = 0, 10. Se o bloco é
novamente colocado em algum lugar do plano e permitido escorregar para baixo até
comprimir a mola pelos mesmos 0,0240 m, quão longe o bloco deve viajar agora?

Problema 9.1 A figura abaixo mostra um amigo em pé no topo de um prédio a 51,8
m de altura. O teto é quadrado e mede 20 m em cada lado. Você quer jogar uma bola
de forma que ela atinja o teto e usa para isso uma pistola de paintball que atira bolas a
42 m/s. O único problema é que há um painel publicitário de 67,5 m de altura entre
você e o prédio, a 20 m na frente do prédio. Você se posiciona na frente do painel
publicitário de forma que quando você segura a pistola a 1,5 m do chão e atira, a bola
passa raspando o painel, no ponto mais alto da trajetória. (a) Qual ângulo θ em relação
à horizontal você precisa atirar a bola para passar o painel publicitário? (b) Qual é
a distância que você precisa estar do painel publicitário? (c) Quanto tempo a bola
demora para chegar do ponto mais alto da sua trajetória até o telhado do prédio? (d) A
bola atinge o telhado? (e) Qual é a velocidade da bola quando ela atinge o telhado?
Capı́tulo 9. Movimento no Plano 97

Problema 9.2 Você sabe que você pode fornecer 500 W de potência para mover objetos
grandes. Você precisa mover um cofre de 50 kg para o andar de cima, a 10 m do chão.
(a) Com qual velocidade média você pude puxar o cofre na direção vertical para cima?
(b) Quanto trabalho você faz sobre o cofre para puxa-lo como no item anterior? (c)
Com qual velocidade média você pode puxar o cofre se puxa-lo com um ângulo de 30o
em relação à direção do seu movimento? (d) Quanto trabalho você faz sobre o cofre
nesta última situação?

Problema 9.3 Você empurra para baixo um livro de inércia m inicialmente parado
sobre uma mesa com uma força direcionada num ângulo θ com a vertical. O coeficiente
de atrito estático entre o livro e a mesa é µs . Se θ não for maior que um determinado
valor crı́tico, você não consegue fazer o livro deslizar sobre a mesa, não importa o quão
forte você empurra. Qual é este valor crı́tico?

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Atividade 9.4, Exercı́cio 9.2, Exercı́cio 9.3, Exercı́cio 9.4, Problema 9.3
A. Respostas dos Problemas

Aula 1
Atividades

1.1 1 × 104 m2 /habitante


1.2
1.3 (a) 161 km; (b) 38 m/s = 85 mi/h > 75 mi/h. Portanto, o motorista está excedendo o
limite de velocidade
1.4 w = 1, 6 × 102

Exercı́cios

1.1 107 m−2


1.2 n = −1, m = 2
1.3 8, 62 × 1013 h i
1.4 (a) [A] = TL3 , [B] = TL ; (b) dx
dt =
L
T

Problemas

1.1
1.2 Resposta depende dos valores estimados para o número de pessoas na cidade de
Campinas, o número de visitas ao dentista por pessoa e o tempo de cada consulta.

Aula 2
Atividades

2.1 (a) e (d)

98
Apêndice A. Respostas dos Problemas 99

2.2
2.3 (a) −2, 4 m/s; (b) −3, 8 m/s; (c) 4,0 s
2.4 1, 9 × 108 anos atrás
2.5 (a) Do primeiro ponto ao quinto ponto; (b) Do quinto ponto ao nono ponto; (c) As
respostas seriam as mesmas porque os pontos seriam designados “primeiro” até o “nono”
começando da extrema direita da sequência, ao invés da extrema esquerda.

Exercı́cios

2.1 (a) x(t = 2, 00s) = 16, 0 m; (b) x(t = 2, 00 + ∆t) = (16, 0 + 16, 0 · ∆t + 4(∆t)2 ) m; (c)
limDeltat→0 ∆x
∆t = 16, 0 m/s
2.2
2.3
2.4 (a) v(t = 4, 0s) = 20 m/s, v(t = 14, 0s) = 12 m/s; (b) 230 m.

Problemas

2.1
2.2

Aula 3

Atividades

3.1
3.2 (a) ∆vA = e ∆vB = ; (b) O objeto que tem menor variação de velocidade, ou seja, mB ;
(c) mA /mB = 2, 5
3.3 (a) Não, o número de passageiros muda quando as pessoas entram ou saem a cada
parada do ônibus. Em princı́pio, pessoas também podem nascer ou morrer no ônibus; (b)
Extensiva; (c) Não.
3.4
3.5

Exercı́cios

3.1
mb
 
3.2 (a) (b) (c) vm,f = mm vb,i − vb,f
3.3
3.4
3.5
100

Problemas

3.1
3.2
3.3

Aula 4
Atividades

4.1 (a) 3,0 m/s na direção negativa de x; (b) 4,0 m/s na direção positiva de x
4.2
4.3

Exercı́cios

2d/c 2d
4.1 (a) 1−v 2 /c2 ; (b) c (c) A viagem em água fluindo tem maior intervalo de tempo. O
nadador nada na corrente para cima por um intervalo de tempo mais longo, de modo que
sua velocidade média é reduzida para menos de c. Matematicamente, 1/(1 − v 2 /c2 é sempre
maior que 1. No extremo, conforme v → c, o intervalo de tempo torna-se infinito. Neste caso,
o estudante nunca pode retornar ao ponto de partida porque não consegue nadar rápido o
suficiente para superar a corrente do rio.
4.2
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7

Problemas

4.1
4.1

Aula 5
Atividades

5.1 a)a2 = 30/25 = 1, 2 m/s2 para a direita; b) o mesmo.


p
5.2 a)x = (mv 2 /2)/a = 0.56 m; b) não;
5.3 9.4%
Apêndice A. Respostas dos Problemas 101

Exercı́cios

5.1 1, 80 m/s2 , para a direita


5.2  = K/E = 66%
5.3 a) ∆K = mv 2 /2 = 7.6 × 109 J; b) ∆U = mgh = 2.2 × 1010 J
5.4 |pb | = 15kg.m/s = |pj1 | = |pj2 | → vj1 = 15/90 = 0.167m/s ; vj2 = 15/81 = 0.185kg.m/s
5.5 a) 0.35 × mgh = 3.675 J;pb) 0.35 × 0.653 × mgh = 1.009 J; c) energia térmica
5.6 mv 2 /2 = mgl/2 → v = gl

Problemas

5.1 (a) 0,59 J; (b) v0,36kg,f = 1, 1 m/s para a esquerda, v0,12kg,f = 3, 0 m/s para a direita
 
5.2 dE
dt = −mg 2 τ(1 − e−t/τ )2 = 1 − e−t/(5.68 s) 1276 W
 q   q 
5.3 v1kg,f = − 2v3 − 7 2 E
9 v + 2 para a direita, v 2kg,f = + v
3 − 7 2 E
9 v + 2 para a direita

Aula 7
Atividades

7.1
7.2
7.3

Exercı́cios

7.1 Em módulo: TA = TB = mg. TD = 34 mg. TC = 2mg. TA = TB < TD < TC


7.2 sentido positivo: para baixo. g = +9.8 m/s2 a) Normal no estudante: -588 N. balança:
588 N. b) Normal no estudante: -708 N. balança: 708 N. c) Normal no estudante: 468 N.
balança: -468 N.
mg
7.3 a) zero; b) a = m+M
7.4 a) Fres = 30m(1 − 4t). b) Fres ¿ 0: t < 41 s. Fres < 0 : t > 14 s. Fres = 0 : t = 41 s.
7.5 a) v = −3.3
√ =. Lembrando que o sinal da velocidade inverte. b) F = 3.81 · 102 N .
2
7.6 a) aCM = 0. b) FC = 1200N e FT = −1200N . c) aT = −0.80m/s2 .
7.7 a) K = 261.3 N/m. b) K1 = 392N /m. c) K2 = 784N /m.
7.8 a)Fres = (M + m1 + m2 + m3 )a. b) Fm3 = m3 a. c) FM = (m1 + m2 + m3 )a.

Problemas

7.1 a) v = 0.11 m/s. b) t=4.3s,


7.2 a) K = 542.25 N/m. b) ma = 2.75kg. c) a = 2.1m/s2 .
102

Aula 8
Atividades

8.1 a) b ≤ t ≤ c e d ≤ t ≤ e; b) a ≤ t ≤ b, c ≤ t ≤ d e e ≤ t ≤ f ; c) f ≤ t ≤ g;
8.2 (a) Sim, ha trabalho sobre o sistema. Sobre a bola atuam duas forças externas, a força
exercida pela pessoa e pela terra. Cada uma dessas forças realiza trabalho, sendo Wp > 0 e
WT < 0.
(b) A variação da energia potencial gravitacional referente à configuração terra-bola é nula,
pois a terra não faz parte do sistema.
(c) Sim, há trabalho, e deve-se à força externa exercida pela pessoa sobre a bola. Wp > 0 e
WT = 0.
(d) Durante o levantamento a distância terra-bola aumenta, portanto a energia potencial do
sistema também aumenta.

8.3 -39.2 J.
8.4 a) Fm = −m(v0 2 /2∆xcm ) = −2.5 × 104 N; b) W = 0; c) ∆K = −Fm ∆xcm = −1.3 × 104 J
8.5 P = -62.5 W

Exercı́cios

8.1 a) 3T − mg = 0 ⇒ T = 13 mg, como T = Fpr


c temos F c = 1 mg. b) ambos realizam o
pr 3
mesmo trabalho
8.2 a) W = F.∆x
q = 0.3J; b) ∆xCM = 0.075m ou 75mm. c) ∆KCM = 0.15J.
8.3 a) vb,i = 19.2
mb ; b) vb,i = 6.19m/s .
8.4
8.5 ∆t = 111.4 s

Problemas
q
2
k kd
8.1 a) v = m d; b) h= 2mg
8.2 a) F = W /d = ∆K/d = mv 2 /18d; b) Ebala /EBloco = 7

Aula 9
Atividades

9.1 a) A trajetória vista de dentro do trem seria uma linha reta (trem com v = const. ⇒
referencial inercial.) b) Não, pois o trem em movimento acelerado não é mais um referencial
inercial. √
~+B
9.2 a) A ~ = 1.0î + 4.0jˆ b) |A
~ + B|
~ = 17 = 4.1
9.3 Na primeira situação o projétil ira errar o centro do alvo por uma distância de ≈
0.11m. segunda pergunta: mesmo resultado.
9.4 (a) W=−300 J, (b) θ = 167◦
Apêndice A. Respostas dos Problemas 103

9.5 µe = 0.4 e µc = 0.2

Exercı́cios

9.1 θ = 71, 570 , Catetos: a = 450km, b = 150km


9.2 (a) x(t) = (A/2)t 2 − (B/3)t 3 ; y(t) = Ct. Como y(t) , 0 para todo t > 0, o objeto não
retorna a origem
(b) vx (t) = At − Bt 2 ; vy = C. Como vy (t) , 0 para todo t > 0, a velocidade v~ do objeto nunca é
zero.
(c) ax = A − 2Bt, ay = 0. A aceleração do objeto será zero em t = A/2B = 0.70 s.
9.3 As coord. de cada gota são: x(t) = vi t cos θi . y(t) = vi t sin θi − gt 2 /2. Na vertical a
distância relativa entre as gotas é zero. Portanto, elas só se separam horizontalmente, sendo
d(t) = 2x(t) = 2vi t cos θi a distância entre elas.
9.4 a) 4 m/s; b) 69 mm
9.5 a) d = 0, 12m. b) d = 0, 03m.

Problemas

?? a) θ = 58, 910 ; b) d = 79, 60m; c) t = 3, 67s; d) d = 38, 82m < 40m, portanto a bola atinge
o telhado; e) v = (21, 689i − 17, 542j)m/s.
9.2 a) vmed = PPot = 1, 02m/s; b) W = P h = 4900J; c) vmed = F cosP ot
300
= 2, 36m/s; d) W = F ·h =
0 0 0
F cos 30 h = P sin 30 cos 30 h = 2121, 76J.
9.3
sin θ > µs cos θ → tan θ > µs
104

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