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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ - UNOCHAPECÓ

ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

Letícia De Cesaro Gabriel

DIREITO AUTORAL E OS LIMITES TÉCNICOS NA PROTEÇÃO DA


INTEGRIDADE DA OBRA DE ARTE PLÁSTICA

Chapecó (SC), julho de 2019.


UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ
ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

DIREITO AUTORAL E OS LIMITES TÉCNICOS NA PROTEÇÃO DA


INTEGRIDADE DA OBRA DE ARTE PLÁSTICA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da


Universidade Comunitária da Região de Chapecó -
UNOCHAPECÓ, como requisito parcial à obtenção
do título de bacharel em Direito, sob a orientação da
Professora Dra. Cristiani Fontanela.

Chapecó (SC), julho de 2019.


UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ
ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

DIREITO AUTORAL E OS LIMITES TÉCNICOS NA PROTEÇÃO DA


INTEGRIDADE DA OBRA DE ARTE PLÁSTICA

LETÍCIA DE CESARO GABRIEL

_______________________________
Professora Dra. Cristiani Fontanela
Professora Orientadora

_______________________________
Professora Dra. Andréa de Almeida Leite Marroco
Coordenadora do Curso de Direito

Chapecó (SC), julho de 2019.


LETÍCIA DE CESARO GABRIEL

DIREITO AUTORAL E OS LIMITES TÉCNICOS NA PROTEÇÃO DA


INTEGRIDADE DA OBRA DE ARTE PLÁSTICA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de BACHAREL EM


DIREITO no Curso de Graduação em Direito da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó - UNOCHAPECÓ, com a seguinte Banca Examinadora:

_______________________________
Professora Dra. Cristiani Fontanela
Professora Orientadora

_______________________________
Professor Me. Douglas Braun
Membro da Banca Avaliadora

_______________________________
Professor Me. José Jacir Victovoski
Membro da Banca Avaliadora

Chapecó (SC), julho de 2019.


DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a todos os simpatizantes do estudo de direito de propriedade


intelectual, em especial, pesquisadores da área autoral, e ainda, àqueles que exercem as belas-
artes.
AGRADECIMENTOS

Vencer obstáculos é apenas uma parte da luta diária em que buscamos conhecimento, e
para seguirmos adiante, confiantes, precisamos de um valoroso suporte.

Desta forma, agradeço a mim por acreditar em mim. Por acreditar que eu possuía a
capacidade necessária para executar esta pesquisa da maneira mais gratificante possível e, trazer
ao leitor o melhor que eu poderia trazer. Por ter acertado e por ter errado, sem isso eu jamais
seria quem me tornei, e, jamais chegaria aonde estou agora. Muitas vezes, tive que recolher
meu ego (tarefa à qual eu classifico como difícil) e confiar unicamente na minha intuição. Por
fim, agradeço a mim mesma, por nunca desistir de quem Eu Sou.

Ainda:

À Deus, meu guia, que está em mim e que sempre me inspira, conduzindo-me aos
caminhos da Luz (aos caminhos do conhecimento e da utopia), obrigada. Sou parte de sua
criação, por isso, espalho Luz, amor e paz aonde quer que eu esteja. Ayam.

À minha família, alicerce da minha vida, muito do que houver de bom e verdadeiro nas
páginas que seguem. Aqui, dedico parcela do meu amor por vocês.

À professora Dra. Cristiani Fontanela, por me orientar nesta etapa tão importante da
minha jornada acadêmica, e por apresentar a mim, com amor e dedicação, os encantos do estudo
de propriedade intelectual. Sinto uma enorme alegria ao saber que celebramos uma parceria de
pesquisa sem igual, e que muitas outras pesquisas, com toda certeza, eu vos digo, brotarão e
desabrocharão em forma de lindas flores.

Por fim... O caminho é estreito e minhas asas são grandes, muitas vezes as machuquei.
Sorte minha, poder contar com o apoio das pessoas que são queridas por mim, meus amigos, os
quais me incentivaram a lutar e jamais deixar de lado, o que sempre me fez voar.

Por isso, meu agradecimento.


“O conhecimento era um bem privado, associado ao
verbo SABER. Agora, é um bem público ligado ao
verbo FAZER.” (Peter Drucker)
RESUMO

GABRIEL, Letícia de Cesaro. Direito Autoral e os Limites Técnicos na Proteção da Integridade da Obra
de Arte Plástica. 2019. Monografia (graduação). Curso de Direito da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó – Unochapecó.

Introdução: Ao passar dos anos o direito de propriedade intelectual tem se atualizado de maneira
avançada, criando degraus que são indispensáveis e imprescindíveis à evolução cultural, industrial e da
informação. Sendo considerada uma área de pesquisa vasta, entretanto subdividida, a propriedade
intelectual e o direito autoral unem-se e trazem à comunidade das belas artes uma inovadora proposta
de proteção dos direitos do autor e de sua criação de espírito. Essa combinação de preposições instiga o
estudo do direito moral do autor no que se vale à restauração de obras de arte plástica. Nesse sentido, o
objetivo geral da pesquisa é verificar quais os limites de intervenção e possibilidades de prevenção frente
à restauração de obras de arte plástica no que diz respeito ao direito moral do autor e de sua obra.
Metodologia: Trata-se de pesquisa básica explicativa de caráter qualitativo, com emprego de método
dedutivo. Sendo utilizados os procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica e documental.
Resultados e discussão: Os limites à intervenção, no que diz respeito à restauração e conservação de
obras de arte, pendem de demarcações cautelares e prudenciais. A influência oriunda de direitos e
deveres no que se diz respeito ao estudo do direito de propriedade intelectual autoral possibilita a adoção
de práticas e técnicas conscientes à intervenção de obras na contemporaneidade. Em última análise,
verificou-se que é possível estabelecer limites de intervenção para que obras de arte postas à restauração
possam ser tratas de maneira absolutamente técnica e responsável. Vislumbra-se isto enquanto
possibilidade de inclusão na legislação brasileira autoral, grande passo que pode ser tomado como
objetivo de expansão à internacionalidade. Conclusão: Embora tenha demonstrando-se como falha, a
legislação brasileira tem grandes possibilidades de avançar na efetivação de limites técnicos que
representem o interesse e o direito moral do autor na intervenção de obras de arte. A ação convergente
de limites e técnicas a serem impostas impulsionam o resultado do objetivo perseguido.

Palavras-chave: Propriedade Intelectual. Direito Autoral. Direitos Morais do Autor. Restauração de


Obras de Arte Plástica.
ABSTRACT

GABRIEL, Letícia de Cesaro. Copyright and the Technical Limits on the Protection of the Integrity of
the Work of Visual Art. 2019. Monograph (graduation). Law Course of the Community University of
the Region of Chapecó - Unochapecó.

Introduction: As the years passed by, intellectual property rights have been updated in an advanced
way, creating degrees that are indispensable to the evolution of culture, industry and information. It is
considered a wide research area, however it is subdivided, intellectual property and copyrights come
together and deliver to the fine arts community an innovative proposal to protect the creator and their
creation’s rights. This combination of prepositions instigates the study of the creator’s moral right when
it comes to restauration of visual arts. In this regard, the research’s general goal is to verify what the
limits of intervention and the possibility of prevention. Methodology: It is basic explanatory qualitative
character using deductive method. Technical procedure of bibliographic and documental research are
used. Results and discussion: The limits of intervention, regarding restauration and conservation of
works of art, depend on precautionary and prudential demarcations. The influence derived from rights
and duties concerning the study of the right of authorial intellectual property enables the adoption of
conscious practices and techniques to the intervention of contemporary works. Ultimately, it has been
found that it is possible to establish limits of intervention so that works of art put to the restoration can
be treated in an absolutely technical and responsible way. This is seen as a possibility of inclusion in
Brazilian copyright law, a great step that can be taken with the goal of expanding to internationality.
Conclusion: Although the Brazilian legislation has shown to be a failure, it has great possibilities of
advancing the realization of technical limits that represent the interest and moral right of the author in
the intervention of works of art. The convergent action of limits and techniques to be imposed boosts
the result of the objective pursued.

Keywords: Intellectual Property. Copyright. Author's Moral Rights. Restoration of Works of Visual
Art.
LISTA DE SIGLAS

AFP – Agence France Presse


CC – Código Civil
CF – Constituição Federal
IBAMETRO – Instituto de Baiano de Metrologia e Qualidade
IPEMBA – Instituto de Pesos e Medidas da Bahia
PL – Projeto de Lei
TJBA – Tribunal de Justiça do Estado da Bahia
TJSC – Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
LISTA DE ANEXOS

Anexo I – Diário Oficial da União, publicação de 19 de setembro de 2013................................82


LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A – Atestado de Autenticidade da Monografia ........................................................ 85

Apêndice B – Termo de Solicitação de Banca ......................................................................... 87


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Marcos Históricos Fundamentais da Propriedade Intelectual ................................. 23


Figura 2 – Ramos de proteção da Propriedade Intelectual ....................................................... 29
Figura 3 – Leis 5.988/1973 e 9.610/1998 ................................................................................. 38
Figura 4 – Comparativo de Textos Constitucionais ................................................................. 39
Figura 5 – Ecce Homo, um restauro desastroso. ...................................................................... 60
Figura 6 – Escultura de São Jorge da Igreja de São Miguel em Estella. .................................. 61
Figura 7 – Imagem de Maria e Jesus ........................................................................................ 62
Figura 8 – Virgem Maria e Menino Jesus ................................................................................ 63
Figura 9 – Restauração de Heather Wise e obra em vidro de Joseph Cavalieri ....................... 64
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16

1. ASPECTOS GERAIS DO DIREITO AUTORAL .......................................................... 18

1.1 Evolução histórica do direito autoral no âmbito internacional .................................... 18

1.2 Evolução histórica do direito autoral no âmbito nacional ............................................ 24

1.3 Direito autoral ................................................................................................................... 27

1.3.1 Direitos conexos .............................................................................................................. 31

1.3.2 Direitos morais ................................................................................................................ 34

1.3.3 Direitos patrimoniais....................................................................................................... 36

1.4 Sistemas de tutela no direito autoral............................................................................... 40

1.4.1 Tutela no âmbito internacional ....................................................................................... 41

1.4.2 Tutela no âmbito nacional ............................................................................................... 42

2. DIREITO AUTORAL E OS LIMITES DA INTERVENÇÃO DE RESTAURO DE


OBRA DE ARTE PLÁSTICA ............................................................................................... 46

2.1 Intervenção .......................................................................................................................46

2.1.1 Limites pela documentação exaustiva ............................................................................. 49

2.1.2 Limites pela mínima intervenção ..................................................................................... 51

2.1.3 Limites pela fidelidade histórica ..................................................................................... 54

2.1.4 Limites pela reversibilidade ............................................................................................ 55

2.2 Violação dos direitos morais do autor no restauro de obras de arte ........................... 56

2.3 Caso prático de violação dos direitos morais do autor ................................................. 58

2.3.1 O caso de violação dos direitos morais do artista plástico Ângelo Roberto em face do
IBAMETRO e do Estado da Bahia ........................................................................................... 64

2.4 Critérios de solução .......................................................................................................... 67

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 75

ANEXOS ................................................................................................................................. 80

ANEXO I ................................................................................................................................. 81
APÊNDICES ........................................................................................................................... 83

APÊNDICE A ......................................................................................................................... 84

APÊNDICE B.......................................................................................................................... 86
16

INTRODUÇÃO

É cediço que o direito de propriedade intelectual é uma área de pesquisa extremamente


vasta, sendo este subdivido em três vertentes. A primeira sendo a de propriedade industrial, a
qual aborda temas referentes à marca, patente, desenho industrial, indicação geográfica e
segredos industriais de repressão à concorrência desleal. A segunda, de proteção sui generis
(única em seu gênero), que aborda temas relevantes à topografia de circuitos integrados,
cultivares e conhecimento tradicional. E por fim, a terceira, tratada nesta pesquisa, a
ramificação do direito autoral, qual dispõe sobre direito do autor, direitos conexos e programas
de computadores.

A presente monografia tem como matéria primordial a proteção da integridade da obra


de arte plástica e o direito moral do criador de espírito no que se refere às restaurações realizadas
por terceiro, se observadas as linhas de pesquisa, identificamos o objeto desta pesquisa como
sendo de área autoral. Destarte, fere ou não a integridade da obra e o direito moral do criador
de espírito uma restauração que é realizada de maneira amadora e sem emprego de técnica
alguma e limites de precaução?

Justifica-se então, que a importância do presente estudo e torna-se relevante à


comunidade autoral nacional e também internacional, tendo em vista que, aborda sobre tema
de origem escassa na legislação brasileira e na legislação internacional, fazendo com que
diversos litígios ocorram e tenham, por sua vez, seus julgamentos arbitrários e contraditórios.
Ainda, embasa-se a necessidade da estipulação de critérios que possam limitar as restaurações
e conservações de obras de arte de cunho plástico de maneira a se precaver a conservação da
obra e dos direitos do autor.

Objetiva-se, através da pesquisa metodológica aqui apresentada, verificar se as


restaurações, que são realizadas de maneira desrespeitosa à integridade da obra e a moralidade
do criador, tem amparo na legislação nacional e de que maneira são amparadas. Ainda, se tem
como objetivo, verificar como os conflitos pré-existentes podem ser resolvidos de maneira
harmônica e analítica sem que tragam grandes prejuízos ao autor e sua obra.

Sendo o objetivo geral da pesquisa o de verificar se a restauração de obras de arte


restauradas, quando realizada intervenção por terceiro e é viciada, fere ou não os direitos morais
do autor. Já o intuito dos objetivos específicos, é verificar se a legislação brasileira é suficiente
para prevenir tais conflitos e se nela existem previsões de prevenção de conflitos. Para isso,
17

buscou-se alguns casos de restauração de obras de arte, considerados desastrosos, que


viralizaram e causaram grande revolta à sociedade e a comunidade do local dos quais ocorreram
as restaurações apresentadas.

Toda a pesquisa aqui apresentada tem o propósito de explorar o estudo de propriedade


intelectual, voltado ao direito autoral no que se diz respeito à proteção do direito moral do autor
e a integridade de obras de arte plástica que sofreram qualquer tipo de restauração desastrosa.
Desta forma, fora firmada através de suporte de pesquisa descritiva básica explicativa, a qual
embasou-se o caráter qualitativo, com o emprego do método dedutivo, o qual pode-se analisar
as informações colhidas e chegar à conclusão através de critérios que podem ser estabelecidos
em lei. Sendo que, foram utilizados os procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica e
documental a qual possibilitou alcançar o resultado esperado.

Sendo assim, esta monografia está subdividida em dois capítulos, os quais trataram de
maneira aprofundada sobre o alicerce autoral no que diz respeito ao direito de propriedade,
integridade e moralidade. No primeiro capítulo, é abordado os aspectos gerais teóricos da
pesquisa, introduzindo a pesquisa que aqui fora empregada, ou seja, direito autoral, trazendo a
sua evolução histórica no âmbito nacional e internacional de maneira sistêmica e abordando
sobre a tutela dos direitos de propriedade autoral no brasil e no mundo.

Reconduzindo a pesquisa, o segundo capitulo tratará, exclusivamente, sobre o direito


autoral e os limites da intervenção de restauro de obras de arte quando realizadas por terceiro,
introduzindo os princípios de interferência plástica, apresentando quatro limites de prevenção
de intervenção, trazendo ao leitor alguns casos internacionais e um nacional de restauração
indigna e finda-se com o prefácio de critérios para solução de conflitos pré-existentes.

Por fim, a linha de pesquisa aqui definida, com base nas linhas existentes que são
definidas pelo Curso de Graduação em Direito da Unochapecó, é a de direito, cidadania e
estado, tendo em vista que, o direito de propriedade intelectual autoral é titular de direitos e
também é oriundo de deveres de uma fonte que ultrapassa os limites de proteção nacional.
18

1. ASPECTOS GERAIS DO DIREITO AUTORAL

Preliminarmente, apresentar-se-á neste capítulo o conceito geral de Direito Autoral e o


embasamento histórico/introdutório do direito autoral no âmbito internacional. Serão abordadas
diversas etapas que se fizeram importantes para que a propriedade intelectual se tornasse
protegida juridicamente, a ponto de ser tutelada mundialmente através de leis e convenções, até
chegar no Brasil. Com o enriquecimento cultural, aponta-se como ocorreu a formação do estudo
pertinente que, nos dias atuais, tutela os direitos autorais em nosso país.

Posteriormente, após breves esclarecimentos, tratar-se-á da conceituação de direitos


autorais, bem como as criações de espírito, sua natureza jurídica e aplicabilidade na esfera do
Direito, apontando o que o supracitado compreende. Ademais, aprofundar-se-á sobre direitos
conexos, morais e patrimoniais, a fim de embasar conceitos, fundamentos e a sua aplicabilidade
na orbe jurídica.

1.1 Evolução histórica do direito autoral no âmbito internacional

O Direito Autoral mundialmente conhecido, vem mostrando-se extremamente


importante nos dias atuais, e sabe-se que o mesmo é protegido e zelado pelas legislações já
existentes. Resultado esse que acaba transmitindo segurança e amparo a todos os autores que
apresentam ao âmbito internacional suas criações espirituais, sem que, em si, provoque
desestimulo perante a publicação de seus trabalhos e obras, pois na legislação encontram o
esteio necessário.

O desenvolvimento do homem carregou consigo a evolução de seus direitos, e os


reservou de maneira sistêmica à sociedade. Diante de fatos históricos, entende-se que o direito
autoral passou por períodos de grande evolução, que ainda se fazem presentes, pois a criação
do espírito do homem evolui e consigo também seus direitos, devendo estes equipararem-se ao
crescimento da sociedade.

Com o aumento da orbe artística, novas formas de expressão foram surgindo pelo
mundo, além das artes plásticas, a música, a dança, o teatro, a literatura e também a fotografia
conquistaram seu espaço e mostraram à sociedade que seus direitos de criação devem ser
tutelados de forma expressa, assim como os demais direitos que sobrepuseram à discussão
perante sua demanda.
19

Sabe-se que, nos primórdios da sociedade a cultura mostrava-se extremamente


diferente, o que fazia com que a mesma se disseminasse, sendo que em diferentes regiões
existiam diversas formas de cultura. O que fez com que a arte se multiplicasse de forma
efêmera, misturando a cultura e a criação artística e mostrando ao âmbito internacional que o
direito autoral ganhava vida ao decorrer dos anos, e, portanto, o mesmo necessitava de tutela
jurídica.

Passando por diversas fases, nasce o direito autoral, e é neste sentindo que Manuella
Santos, nos conta um pouco sobre a história da idade antiga, e escreve sobre o aparecimento da
produção artística na sociedade, salto que nos leva a entender meios em que, aos poucos,
surgiam referentes a propriedade intelectual e o direito autoral em si e sua importância na
sociedade, senão vejamos:

Em 3000 a.C. os escritos cuneiformes dos sumérios deram início ao registro


da História no Oriente Médio; em 1750 a.C. Hamurábi unificou a região
mesopotâmica, estabeleceu o Império Babilônico e criou o Código de
Hamurábi; em 338 a.C. Filipe II da Macedônia derrotou os gregos e anexou a
Grécia ao Império Macedônico; seu filho Alexandre, o Grande, por volta de
330 a.C. conquistou povos em várias regiões, dando início ao maior império
já visto pela humanidade. Educado por Aristóteles, Alexandre foi o principal
responsável pela difusão da cultura grega aos povos conquistados, entre eles
o povo egípcio, que era muito evoluído nas artes e na arquitetura, ocasionando
a fusão da rica produção artística dos dois povos. (SANTOS, 2009, p. 16)

A mesma autora em sua obra supracitada destaca passagens da história mundial como o
início da Idade Média, em 476 d.C., abordando o renascimento como tempo da idade das trevas,
período que nos traz lembranças sobre a queda do Império Romano do Ocidente, assim, se
fazem importantes as considerações da mesma. Afirmando que:

Durante o Renascimento, a Idade Média foi considerada o tempo do


primitivismo, do atraso e do empobrecimento da cultura europeia, a ponto de
os ingleses terem lhe dado a expressão que se tornou famosa para designar o
período: Dark ages ou Idade das Trevas. A pergunta que se faz é: é aceitável
a ideia de que durante todo esse período o mundo ficou coberto por um manto
de trevas culturais? Os historiadores vêm entendendo que não, e isso se deve
principalmente ao fato de que a Idade Média é uma periodização que está
circunscrita ao continente europeu e não a toda humanidade. (SANTOS, 2009,
p.21)

Ainda, sabe-se que as bases que dizem respeito ao direito do autor provém das
civilizações clássicas, assim podemos citar a Grécia e também a Roma antiga, berço de imensos
frutos culturais, que hoje mostram-nos que são verdadeiras as riquezas culturais, sejam elas
20

provenientes de escritores, artistas plásticos e até mesmo a criação de ciências modernas, como
o ramo qual direcionamos este estudo, o Direito.

E é de acordo com José Carlos Costa Netto que a autoria, neste norte, apresenta uma
demarcação (1998, apud JARDES, 2014, s/p) “[...] os gregos Sócrates e Platão, ou os romanos,
como César e Cícero, os primeiros na qualidade de professores, o terceiro como político e o
último, advogado, se consideravam e eram autores.”. Neste sentido, entende-se que a autoria e
a propriedade intelectual ramificada através do direito autoral necessitava de um regramento.

E foi através da invenção da imprensa na Europa, por Gutemberg, no século XV que a


autoria começou a crescer, pois como a forma de registro de conhecimento da época se limitava
ao livro. Devido ao crescimento da comunicação a distribuição da informação e dos registros
de autoria, necessitava-se de algo a mais, é como nos sugere o historiador francês Roger
Chartier:

A revolução do nosso presente é, com toda certeza, mais que a de Gutenberg.


Ela não modifica apenas a técnica de reprodução do texto, mas também as
próprias estruturas e formas do suporte que o comunica a seus leitores. O livro
impresso tem sido, até hoje, o herdeiro do manuscrito: quanto à organização
em cadernos, à hierarquia dos formatos, do libro do banco ao libellus; quanto,
também, aos subsídios à leitura: concordâncias, índices, sumários etc. Com o
monitor, que vem substituir o códice, a mudança é mais radical, posto que são
os modos de organização, de estruturação, de consulta do suporte do escrito
que se acham modificados. Uma revolução desse porte necessita, portanto,
outros termos de comparação. (CHARTIER, 1994, p. 187)

Ainda, correlacionando a invenção da imprensa por Gutemberg no período do


Renascimento, com o primeiro livro impresso, a Bíblia, fato que tornou a esfera histórica
extremamente importante para a Reforma Protestante, o historiador Roger Chartier trata a
invenção de Gutemberg como algo tão revolucionário que outros autores, como Eduardo
Lycurgo Leite, trouxeram à tona seus conhecimentos nos dizendo sobre o nascimento do direito
do autor, vejamos:

A partir dos tipos móveis, tornou-se mais fácil fazer a afirmação de que um
determinado texto seria a representação estrita do espírito e propriedade de
uma só pessoa, sendo que, através da ideia de fixação, a associação da obra
como uma fonte particular de criação, a qual, através de associação virtual,
poderia reivindicar a propriedade daquela obra, passou a ser mais facilmente
realizada. Essa associação, aliada ao crescimento do mercado de obras
intelectuais, em especial, das obras literárias, fez surgir dentre os autores a
visão de que os mesmos poderiam ser reconhecidos e suas obras valoradas
dependendo da fama que obtivessem. Com isso, os autores, em razão da fama
que buscavam e da valorização de suas criações intelectuais, passam a exigir
que a autoria de suas obras seja apontada e sua propriedade reconhecida.
21

Nasce assim, para os Autores, o sentimento que podemos chamar de


individualismo possessivo o qual representa o desejo de se elevar e prestigiar
o trabalho intelectual. (LEITE, 2005, p. 130) (grifos nossos)

Após períodos de transtorno histórico, idas e vindas nos tempos remotos da idade das
trevas, partimos da tomada de Constantinopla, que foi executada pelos turcos até a queda da
Bastilha, que foi quando o continente Europeu inaugurou seus novos tempos em 1789, assim
sendo, os direitos autorais se destacam e têm grande marco neste período. Pois sabe-se que o
primeiro diploma reconhecendo o direito autoral foi outorgado. É o que nos diz o jurista, Carlos
Alberto Bittar, em uma de suas sábias lições.

Com a descoberta da imprensa, nasceram privilégios concebidos aos editores,


pelos monarcas, para exploração econômica da obra, por determinado tempo.
Consistiam em monopólios de utilização econômica da obra, conferidos por
10 anos. A insuficiência do sistema e a necessidade de assegurar-se
remuneração aos autores fizeram com que aparecesse o primeiro texto em que
se reconhecia um direito, em 10.4.1710, por ato da Rainha Ana, da Inglaterra
(Copyright Act) para incremento da cultura. (BITTAR, 2000, p. 12) (grifos
nossos)

Então, os fatos começam a mostrar a sua força de transformação e com velocidade o


direito autoral vinha expandindo-se e expondo aos olhos do âmbito internacional a sua posição,
assim, a Idade Contemporânea é marcada por duas guerras que mostram a sua força até os dias
atuais, e quem nos diz sobre os fatos é a autora, já citada Manuella Santos na sua obra que trata
sobre o direito autoral na era digital.

É também nessa época que se desenrola a Revolução Industrial, tema


especialmente significativo para nós, que presenciamos as rápidas e profundas
transformações tecnológicas provocadas pela informática, pela robótica, pelas
telecomunicações e pela biotecnologia. A industrialização da segunda metade
do século XVIII iniciou-se com a mecanização do setor têxtil, destacando-se
a máquina de fiar, o tear hidráulico, e mais tarde o tear mecânico. Todos esses
inventos ganharam maior capacidade ao serem acoplados à máquina a vapor,
inventada por Thomas Newcomen e aperfeiçoada por James Watt. Após o
setor têxtil, a mecanização chegou ao setor metalúrgico, aos transportes, e
finalmente, à imprensa e produções literárias em geral. Com o uso do vapor,
a impressão de jornais, revistas e livros ganhou impulso, desenvolvendo as
comunicações e promovendo a difusão cultural, que, por sua vez, gerou o
surgimento de novas técnicas e invenções. (SANTOS, 2009, p. 38)

Assim, com a expansão dos direitos autorais e as novas criações de espíritos que se
destacavam não eram mais, somente no papel, alvo das requisições de propriedade intelectual,
a televisão mostrou a sua autoria junto com a fotografia, o rádio, obras musicais e até mesmo a
internet, fazendo com que o direito de proteção evoluísse junto com as obras e criações que
22

estavam por vir e que ultrapassavam a evolução pós-moderna e leis esparsas surgem no âmbito
do direito autoral.

Em suma, das convenções que internacionalmente regulam os direitos autorais podemos


citar, como as principais, a Convenção de Berna e a Convenção Universal. Por conta de proteger
o autor e suas criações de espírito, muitos países editaram e criaram leis para que esse direito
fosse tutelado, entretanto, sabe-se que arte não reconhece fronteiras e a intenção de cada autor
é levar sua obra para todos os lugares que estejam aptos e receptivos a recebe-las.

E quando o interesse social é desperto, automaticamente o interesse do Estado se


sobrepõe, o que gerou conflito no momento em que, vários tradados e acordos foram firmados,
no que se trata propriedade intelectual, e houveram conflitos de resolução perante a
aplicabilidade de determinadas leis. Segundo Cabral (2003, p. 06), podemos citar a França, que
firmou 24 (vinte e quatro) tratados bilaterais sobre direitos de autor.

Assim, se fez necessária a criação de uma lei universal, que pudesse reger os direitos
autorais e conexos de maneira hierárquica, que amparasse o autor e suas obras mundialmente,
sem que a quantidades de acordos e Tratados firmados interferisse em seus interesses como
autor em cada país e sua proteção perante suas criações de espírito. É o que escreve Plínio
Cabral sobre a universalização dos direitos autorais.

O pensamento filosófico proclama-se universal. Auguste Conte colocava, em


primeiro lugar e acima das nações, a humanidade. Em 1848 aparecia o
Manifesto Comunista, de Marx e Engels, que se dirigia aos proletários de todo
o mundo. Os chamados socialistas utópicos – Fourier e Saint Simon –
pensavam em termos universais. Nada mais natural que os artistas da época
também encarassem a literatura e as artes acima das fronteiras nacionais.
(CABRAL, 2003, p. 06)

E foi em Bruxelas, no ano de 1858 que realizou-se um congresso internacional sobre os


direitos autorais, e somente em 1886, realizou-se em Berna a terceira conferência diplomática
sobre direitos autorais, e assim, foi criada a “Convenção de Berna para a Proteção das Obras
Literárias e Artísticas”, que foi a ata dessa conferência. Uma grande vitória para os autores e
também para o Estado. E é através da produção de Plínio Cabral que entendemos o quão
relevante foi, e é este documento.

Trata-se de um documento notável. Ele é objetivo, preciso e, ao mesmo tempo,


flexível. É o mais antigo tratado internacional em vigor e aplicado. Sofreu
várias revisões que tiveram por finalidade atualiza-lo em face de novas
realidades sem, contudo, alterar sua espinha dorsal, que é a defesa e proteção
23

dos direitos patrimoniais e morais do autor. (CABRAL, 2003, p. 07) (grifos


nossos)

Ainda, verifica-se que os principais marcos históricos da propriedade intelectual


(listados abaixo) foram de suma importância para o reconhecimento do direito de propriedade
no mundo todo, transformando-o em uma revolução do conhecimento.

Figura 1 – Marcos Históricos Fundamentais da Propriedade Intelectual

Fonte: Cedido e elaborado por Arthur Brandolt Garcez com base em CNI (2010, p. 21)
24

Por fim, a ata da convenção mostra-se tão eficaz, que, está em vigor até os dias atuais,
com sua última revisão em 24 de julho de 1971, emendas adicionadas em 28 de setembro de
1979. Salto na orbe jurídica mundial, na proteção humanitária das criações de espírito, onde o
Brasil tornou-se signatário da mesma desde e o decreto entrou em vigor, em 06 de maio de
1975. O decreto que tem vigência no país é o de número 75.699, que dispõe em seu caput que
“[...] a Convenção, apensa por cópia ao presente Decreto, seja executada e cumprida tão
inteiramente como nela se contém.”, enfim, um dos marcos efêmeros na história da propriedade
intelectual no mundo, que chegou fervorosamente no Brasil.

1.2 Evolução histórica do direito autoral no âmbito nacional

No Brasil, a história do Direito Autoral é mais recente, ela inicia-se com a sanção da Lei
nº 1.827 de 11 de agosto de 1827, legislação essa que é regida por onze artigos e dispões sobre
a criação de cursos de ciências jurídicas nas cidades de São Paulo e Olinda, como a própria lei
descreve em seu artigo primeiro1 “Crear-se-ãodous Cursos de sciencias jurídicas e sociais, um
na cidade de S. Paulo, e outro na de Olinda, [...]”.

Além de tratar sobre a criação dos primeiros cursos de Direito no Brasil, a lei dispõe
também sobre o grau de Bacharel que é conferido a todos os estudantes que frequentarem os
cinco anos de quaisquer dos cursos2. Ainda, percebe-se que é feita a primeira menção sobre os
direitos autorais na legislação brasileira, advertindo que o autor terá privilégio exclusivo perante
sua obra, senão vejamos:

Art. 7.º - Os Lentes farão a escolha dos compendios da sua profissão, ou os


arranjarão, não existindo já feitos, com tanto que as doutrinas estejam de
accôrdo com o systema jurado pela nação. Estes compendios, depois de
approvados pela Congregação, servirão interinamente; submettendo-se porém
á approvação da Assembléa Geral, e o Governo os fará imprimir e fornecer ás
escolas, competindo aos seus autores o privilegio exclusivo da obra, por
dez annos. (BRASIL, 1827, s/p) (grifos nossos)

1
Art. 1.º - Crear-se-ãodous Cursos de sciencias jurídicas e sociais, um na cidade de S. Paulo, e outro na de Olinda,
e nelles no espaço de cinco annos, e em nove cadeiras, se ensinarão as matérias seguintes:1.º ANNO 1ª Cadeira.
Direito natural, publico, Analyse de Constituição do Império, Direito das gentes, e diplomacia. 2.º ANNO 1ª
Cadeira. Continuação das materias do anno antecedente. 2ª Cadeira. Direito publicoecclesiastico. 3.º ANNO 1ª
Cadeira. Direito patrio civil. 2ª Cadeira. Direito patrio criminal com a theoria do processo criminal. 4.º ANNO
1ª Cadeira. Continuação do direito patrio civil. 2ª Cadeira. Direito mercantil e marítimo. 5.º ANNO 1ª Cadeira.
Economia politica. 2ª Cadeira. Theoria e pratica do processo adoptado pelas leis do Imperio. (BRASIL, 1827,
s/p)
2
Art. 9.º - Os que freqüentarem os cinco annos de qualquer dos Cursos, com approvação, conseguirão o gráo de
Bachareis formados. Haverá tambem o grào de Doutor, que será conferido áquelles que se habilitarem som os
requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e sò os que o obtiverem, poderão ser
escolhidos para Lentes. (BRASIL, 1827, s/p)
25

Sabe-se que os cursos jurídicos foram criados pouco depois da independência do Brasil,
e que aos professores, era conferido o direito autoral sobre suas obras, conforme artigo sétimo,
supracitado. Entretanto, foi mais tarde que, efetivamente, os direitos autorais passaram a ter
vigência no Brasil, através da sanção do Código Criminal Imperial, que punia, através de seu
artigo 2613, quem “Imprimir, gravar, lithographar, ou introduzir quaesquerescriptos, ou
estampas, que tiverem sido feitos, compostos, ou traduzidos por cidadãos brasileiros, emquanto
estes viverem, e dez annos depois da sua morte, se deixarem herdeiros.” E a pena era a perda
dos exemplares ou multa.

Após passos avançados, o Estado brasileiro, através das leis e decretos, buscou amparar
legalmente os autores e ao longo desta trajetória, proporcionaram ao mesmo segurança e defesa
com relação às suas criações de espírito no âmbito civil. Até então, apenas conhecia-se o direito
autoral através das punições que a sua violação proporcionava ao indivíduo. Foi então, que o
direito tornou-se constitucional em 1891, através da declaração de direitos prevista na Carta
Magna em seu artigo 72, parágrafo 26 que estabelecia:

Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no


paiz a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança
individual e á propriedade, nos termos seguintes: § 26. Aos autores de obras
litterarias e artisticas é garantido o direito exclusivo de reproduzil-as pela
imprensa ou por qualquer outro processo mecanico. Os herdeiros dos autores
gosarão desse direito pelo tempo que a lei determinar. (BRASIL, 1888, s/p)
(grifos nossos)

Então, promulgado em 1916, o Código Civil foi quem adiantou-se na regulamentação


que atendeu prestativamente a demanda referente a proteção do autor e de sua obra, o que foi
percursor. O supracitado destinou um capítulo à propriedade intelectual, artística, científica e
literária. Ainda assim, os direitos autorais mostravam-se frágeis perante as legislações
brasileiras, criada então uma lei única, para regulamente apenas os direitos autorais no país, a
Lei nº 5.988 foi quem consolidou a legislação já existente.

Agora, fortemente amparado, o autor e sua criação de espírito, o que nos mostra ser um
destaque comemorativo a todos, pois o sentimento era de esteio perante o Estado brasileiro,

3
Art. 261. Imprimir, gravar, lithographar, ou introduzir quaesquerescriptos, ou estampas, que tiverem sido feitos,
compostos, ou traduzidos por cidadãos brasileiros, emquanto estes viverem, e dez annos depois da sua morte, se
deixarem herdeiros.Penas - de perda de todos os exemplares para o autor, ou traductor, ou seus herdeiros; ou na
falta delles, do seu valor, e outro tanto, e de multa igual ao tresdobro do valor dos exemplares. Se os escriptos,
ou estampas pertencerem a Corporações, a prohibição de imprimir, gravar, lithographar, ou introduzir, durará
sómente por espaço de dez annos. (BRASIL, 1827, s/p)
26

suas obras estavam legalmente protegidas. Pois além do Direito Civil encontrava-se amparo na
Constituição Federal, com o efeito do artigo 5º, que trata das garantias e direitos do cidadão, o
direito autoral ganha seu espaço no parágrafo XXVII e XXVIII, textualmente:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação
ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que
a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas. (BRASIL, 1988, s/p)
(grifos nossos)

Neste segmento, entende-se que a legislação brasileira a tempos procura amparar e


instruir o autor, seja no âmbito civil, seja no âmbito penal, sanções e lições que protegem seus
direitos de criação de espírito. A orbe autoral que existe no país é proveniente de quase um
século de estudos, o que nos mostra o resultado desta dedicação é a publicação da Lei 9.610 de
1998, que é o objeto de estudo desta monografia.

Sancionada em 19 de fevereiro de 1998, a Lei dos Direitos Autorais, infunde a definição


de direito autoral e direito do autor, o que faz com que a mesma proteja, além dos direitos
autorais, o direito do autor, por mais que as expressões sejam utilizadas de forma equívoca,
direitos de autor e direitos autorais apresentam distinção no sentido impróprio, e é através dos
ensinamentos de José de Oliveira Ascensão que conseguimos diferenciar os termos que,
equivocadamente são utilizados.

Direito de Autor é o ramo da ordem jurídica que disciplina a atribuição de


direitos relativos a obras literárias e artísticas. O Direito Autoral abrange além
disso os chamados direitos conexos do direito de autor, como os direitos dos
artistas intérpretes ou executantes, dos produtores de fonogramas e dos
organismos de radiodifusão. (ASCENSÃO, 1997, p. 15)

Desde a sua publicação, houveram, posteriormente, muitas discussões acerca da a Lei


dos Direitos Autorais e sua aplicação eficaz, a questão agora era com relação ao fenômeno que
avançava diariamente, a internet. O que fez com que surgissem dúvidas acerca dos próprios
conceitos de Direito de Autor e Direito Autoral, o que fez com que algumas modificações
27

fossem feitas para que a mesma pudesse adequar-se aos fatos contemporâneos em que a
atualidade da propriedade intelectual subsistia.

Ainda, consideramos que as leis, sejam referentes à propriedade intelectual, ao direito


tributário e até mesmo ao direito penal, atualizam-se frequentemente para que estejam
adequadas a orbe em que a sociedade vive, entretanto, nenhuma delas consegue contemplar
todos os fenômenos sociais existentes de maneira rápida e eficaz, muitas transformações
ocorrem em uma sociedade num espaço curto de tempo, é como nos diz Plinio Cabral “[...] A
interpretação do diploma legal frente à realidade é que lhe vai dar vida, transformando letra e
papel em força atuante”. (CABRAL, 2003, p. 12).

Para fins de observância, aos poucos as leis adaptam-se as sociedades e às suas


preposições, pois a cultura transborda limites de estado, e viaja junto com a mudança, o que
gera em cada localidade conflitos e desordem no que concerne ao novo. Desta forma, o Estado
através do interesse social e os seus propósitos busca medidas para a resolução de conflitos que
mostram-se ativos nas localidades, o que assegura, não somente o autor e suas obras, mas a
sociedade em si, a proteção estatal que tanto demanda.

1.3 Direito autoral

Questiona-se diversas vezes sobre a conceituação de direitos autorais, pois tudo o que é
criado pelas próprias mãos do homem, é algo natural. Portanto as obras de cunho autoral podem,
livremente, ser conceituadas como criações de espírito. Algo que vem de dentro e evidencia-se
para a sociedade, ultrapassando as fronteiras do preconceito e mostrando o quão impressionante
pode ser o que vem anexo ao homem, o que está escondido no seu mais profundo interior.

Pressupondo que ao autor pertence a obra, tem-se ali, o direito da propriedade. Um faz
parte do outro, um faz com que o outro exista. O autor precisa da obra para ter o direito de
propriedade e a obra precisa do autor para existir. José de Oliveira Ascensão nos mostra de
maneira humanitária a conceituação de criação de espírito.

Basta dizer que o direito de autor pressupõe uma obra, que não há direito de
autor sem obra, seja essa obra ou não tecnicamente o objeto do direito; ou
dizer, mais vagamente ainda, que a obra é o objeto da proteção no Direito de
Autor. [...] O Direito de Autor tutela necessariamente criações do espírito.
[...] Antes de mais, toda obra relevante é uma obra humana. (ASCENSÃO,
1997, p. 27) (grifos nossos)
28

Em contrapartida, Carlos Alberto Bittar, apresenta uma definição absolutamente jurídica


sobre as criações de espírito, comparemos.

Em função do sistema instituído para o Direito de Autor e na sagração de regra


da própria natureza, é do fenômeno da criação que resulta a atribuição de
direitos sobre obras intelectuais. Trata-se, pois, de Direito inerente à criação,
instituído para defesa dos aspectos apontados e que nasce com a inserção, no
mundo material, de ideação sob determinada forma. Portanto é com a ação
do autor, ao plasmar no cenário fático a sua concepção – artística,
literária ou científica – que se manifesta o direito em causa, revelando-se,
de início, sob o aspecto pessoal do relacionamento criador-obra.
(BITTAR, 2003, p. 32) (grifos nossos)

Manuella Santos conceitua propriedade intelectual como:

Depreende-se, pois, que a propriedade intelectual cuida das criações do ser


humano em todas as suas formas e compreende dois ramos: o direito industrial
e o direito autoral. O direito industrial cuida dos bens industriais, ou seja,
marcas, patentes e modelos de utilidade, e é o objeto de estudo do direito
comercial ou empresarial. [...] O direito autoral abrange os direitos de autor,
os direitos conexos e os programas de computador (software), sendo estudado
pelo direito civil [...]. (SANTOS, 2009, p. 03)

Em questão autoral, a definição de direitos autorais como prerrogativas jurídicas,


Eduardo Salles Pimenta e Eduardo Salles Pimenta Filho definem como sendo,

[...] o conjunto de prerrogativas jurídicas atribuídas, com exclusividade,


aos criadores e titulares de direitos sobre obras intelectuais (literárias,
científicas e artísticas) de gestar e opor a todo atentado contra essas
prerrogativas exclusivas, como também aos que lhe são difusos e conexos
(intérprete ou executante, produtores fonográficos e empresa de radiodifusão)
aos direitos do autor, aos quais, para efeitos legais, aplicar-se-ão as normas
relativas ao direito de autor. (PIMENTA; PIMENTA FILHO, 2007, p. 73)
(grifos nossos)

Compreende-se então que a criação de espírito é um dos tripés coadjuvantes do direito


autoral e do direito de autor, é através dela que se dá o pontapé inicial para a obtenção de
proteção jurídica amparada pelas leis que dispõe sobre direito autoral, ou seja, a criação resulta
o direito. Acontece que, ao aplicarmos normas relativas ao direito de autor, quem estará
amparado por trás das prerrogativas sancionadas serão os direitos do autor.

Destarte, podemos observar através da Figura 2, o quão vasta é a ramificação deste


direito.
29

Figura 2 – Ramos de proteção da Propriedade Intelectual

Fonte: Cedido e elaborado por Arthur Brandolt Garcez com base em CNI (2010, p.18)

O autor, designado como o criador intelectual da obra, pode ser também, o titular atual
da obra e até mesmo seu originário. A tutela dos direitos do autor compreende os direitos
morais, direitos indisponíveis de vinculação de sua autoria à criação e os direitos patrimoniais,
direitos disponíveis na esfera econômica, direitos relativos financiais. José de Oliveira
Ascensão faz uma análise e escreve que o autor é o criador intelectual da obra e discorre sobre
a tutela do nome na criação.

A atribuição originária dá ao criador o direito à paternidade da obra, que é


um dos direitos pessoais do autor. É esse aliás o conteúdo do art. 25, um pouco
desfocado por o preceito pôr o acento na reivindicação, quando o deveria pôr
no próprio direito de paternidade. (ASCENSÃO, 1997, p. 70)

Após entendermos a conceituação de direitos autorais e de autor, se faz necessária


análise para que possamos determinar a natureza jurídica do supracitado. E é de acordo com
30

Elisângela Dias Menezes que temos o seguinte: “[...] os direitos autorais são objetos dos direitos
e garantias fundamentais preconizados na Constituição, onde o fundamento jurídico
constitucional destes direitos baseia-se no interesse de proteger a obra intelectual, como forma
de respeito ao autor.” (MENEZES, 2007, p. 04). Ainda, existem definições que tratam o direito
autoral como um direito de personalidade, é o que Manuella Santos escreve:

A nosso ver, o direito autoral situa-se no âmbito dos direitos da personalidade,


que pode inclusive abranger direitos de ordem patrimonial. Trata-se de direito
da personalidade que abrange aspectos morais e patrimoniais do direito do
autor. [...] Assim, o autor é titular de direitos morais, como a paternidade da
obra, a integridade, o direito de conservar a obra inédita, o direito de
arrependimento ou direito de retrato [...]. (SANTOS, 2009, p. 80)

E quando dispomos que existem definições que tratam o direito autoral como um direito
de personalidade, além de Santos, compactua-se e escreve sobre o mesmo entendimento Elimar
Szaniawski, dizendo que,

[...] as faculdades jurídicas cujo objeto são os diversos aspectos da própria


pessoa ou do sujeito, bem assim, as suas emanações e prolongamentos; ou
ainda, consoante Orlando Gomes: ‘sob a denominação de direitos da
personalidade, compreende-se os direitos personalíssimos e os direitos
essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana que a doutrina moderna
preconiza e disciplina no corpo do Código Civil como direitos absolutos,
desprovidos, porém, da faculdade de disposição. Destinam- se a resguardar a
eminente dignidade da pessoa humana, preservando-a dos atentados que pode
sofrer por parte dos outros indivíduos’. (SZANIAWSKI, 2005, p. 71)

A verificação da atual legislação de direitos autorais no Brasil, a Lei 9.610 de 1998, nos
traz em seu artigo terceiro, que “os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens
móveis.”. O que nos mostra que está ao autor assegurando o direito moral e também patrimonial
de uso, ou seja, para tutelar um direito e resguarda-lo, é necessário que o mesmo esteja disposto.
Neste sentido, temos a definição doutrinária ao nosso lado.

Sendo expressão de um pensamento, a obra intelectual, assim exteriorizada, é


manifestação própria de quem teve o pensamento, e o revelou. É obra própria
do manifestante. E, por ser obra própria, ela é propriedade de seu autor. Mas
este tipo de propriedade nada deve ao Direito. Ela é qualidade, uma maneira
certa de ser, manifestada na obra produzida. É uma propriedade que não pode
ser adquirida e alienada, não pode ser objeto de normas jurídicas. A obra
intelectual é propriedade do autor como o bater de asas e o vôo são
propriedades dos pássaros. (TELLES JUNIOR, 2006, p. 300)

Ainda, se faz interessante que façamos referências no que diz respeito à função social
do direito autoral. Neste norte, titular a sua própria criação intelectual agrega valor à obra e
também ao autor, conquista positivada pelo incentivo de que a cultura seja registrada e
31

ultrapasse fronteiras, criando estímulo para que o autor de continuidade às suas criações de
espírito. Razões e motivações essas que fazem com que o artista, além de sentir-se amparado e
protegido, sente-se estimulado e seguro em registrar uma nova criação.

O fruto da criação é devido a uma necessidade da qual existia, dentro de si, para suprir
seus sentimentos e mostrar aos outros o que pensava e até mesmo sentia com relação a
determinada criação. A destinação desses sentimentos corrompia-se e algumas vezes desviava-
se, fazendo com que o autor criasse seu espírito e o compartilhasse com a sociedade a gama de
seus sentimentos.

Levando em consideração as afirmações de Plínio Cabral sobre os limites que a obra


produzia em quesito social, dizendo que:

O direito autoral sempre teve limites. Tais limites constituem uma construção
jurídica harmoniosa e socialmente necessária. Aliás, a base e o objetivo da lei
é, justamente, manter a harmonia social. Para que o direito autoral seja
respeitado é necessário que ele se situe no âmbito e nos limites do interesse
social. (CABRAL, 2000, p. 146)

Após entendermos a conceituação de direito autoral e perceber que o mesmo tem


explícita previsão na Lei de Direitos Autorais4, observa-se que a partir deste momento é
possível discutir a sua tutela com relação aos objetivos traçados para o desfecho desta
monografia. Sabendo que o direito autoral é um direito individual e de propriedade do autor,
garantido pela lei, podemos discutir acerca de sua tutela.

Por fim, equivale-se introdutoriamente da evolução histórica dos direitos autorais, até o
momento em que entraram em vigência no brasil, para entendermos o quão rico é o estudo sobre
o mesmo. Foram grandes períodos de pesquisa para que, a garantia em lei, sobre os direitos
autorais e suas criações de espírito, tornassem-se eficazes ao criador. Ainda, se faz necessário
o entendimento histórico para que possamos converter os conflitos, ainda existentes, sobre
algumas situações dispostas pelo direito autoral.

1.3.1 Direitos conexos

A propriedade intelectual é dividida em três ramificações, que fazem parte dela e são
denominadas como ramos de proteção, que se subdividem em Direitos Autorais, Propriedade

4
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá
outras providências.
32

Industrial e Proteção Sui Generis5. Os direitos autorais, tema tratado nesta monografia,
compreendem os direitos de autor e os direitos que lhe são conexos. Esta matéria te previsão
no ordenamento jurídico brasileiro e se faz importante à proteção das criações de espírito.

A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) tem seu próprio conceito de


propriedade intelectual.

A soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às


interpretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes,
aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os
domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e
modelos industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como
às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a
concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual
nos domínios industrial, científico, literário e artístico. (JUNGMANN, 2010,
p. 21)

Assim, observa-se que a matéria é ampla e específica, e entende-se que os direitos


autorais acostam criação de caráter intelectual, artístico e literário, ou seja, as criações de
espírito com ênfase no âmbito cultural. Ainda, toda vez que o homem cria algo ele cria um
canal para que algo similar seja criado também, ou seja, ele provoca o aparecimento de novas
obras de ordem intelectual.

Ainda, se faz necessário discorrer sobre os direitos conexos, pois o mesmo compreende
o ramo do direito autoral, e merece atenção jurídica quando as suas proteções. E é neste sentido
que Diana de Mello Jungmann nos esclarece de maneira simples o que são os direitos conexos
e nos exemplifica a sua aplicação, senão vejamos:

Direitos conexos referem-se à proteção para artistas intérpretes ou


executantes, produtores fonográficos e empresas de radiodifusão, em
decorrência de interpretação, execução, gravação ou veiculação das suas
interpretações e execuções [...]. Essa proteção não afeta as garantias
asseguradas aos autores das obras literárias, artísticas ou científicas. Os
direitos de autor e os direitos conexos protegem diferentes pessoas. Por
exemplo, no caso de uma canção, os direitos de autor protegem o compositor
da música e o criador da letra; já os direitos conexos se aplicam aos músicos
e ao cantor que interpretam a canção, ao produtor da gravação sonora (também
chamada de fonograma) na qual a música é incluída e às empresas de
radiodifusão que transmitem a música. (JUNGMANN, 2010, p. 64)

5
Único em seu gênero.
33

Em contrapartida, José de Oliveira Ascensão, discorre em sua obra “Direito Autoral”


sobre os direitos conexos e nos dá lições inteligentes e irônica acerca do tema, tratando-o como
bens incorpóreos e categoriza-os como direito de arena.

A atividade intelectual do homem provoca o aparecimento de novos bens na


sociedade. São bens culturais; distinguem-se dos outros bens por serem
incorpóreos, mas têm também uma existência objetiva, como todos os bens.
[...] Mais categoricamente ainda, temos o direito de arena, que é um
verdadeiro direito conexo relativo a espetáculos desportivos (art. 100): a
atividade do atleta não implica nenhum desempenho de obra literária ou
artística. (ASCENSÃO, 1997, p. 06)

Ou seja, os direitos são assegurados aos titulares do direito conexo, é o que dispõe o
artigo 896 da Lei nº 9.610/1998. Conhecidos também como direitos vizinhos ou análogos, os
direitos conexos protegem o profissional, assim como os direitos autorais.

Ainda, sua validade tem previsão legal na Lei nº 9.610/1998, em seu artigo 967, e os
mesmos são assegurados aos seus titulares, possuem direito exclusivo de autorizar e proibi
alguns atos executórios, de acordo com o artigo 90 8da lei supracitada, o direito conexo tem
validade, e novamente Diana de Mello Jungmann nos atenta sobre a validez e sua legitimidade
jurídica.

É de setenta anos contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente à


fixação, para os fonogramas; à transmissão, para as emissões das empresas de
radiodifusão; e à execução e representação pública, para os demais casos. Os
direitos conexos se sujeitam às mesmas exceções previstas para os direitos de
autor, permitindo-se o livre uso das interpretações, das execuções, dos
fonogramas ou das emissões por radiodifusão para certos propósitos
específicos, tais como citações e reportagens jornalísticas. (JUNGMANN,
2010, p. 64)

6
Art. 89. As normas relativas aos direitos de autor aplicam-se, no que couber, aos direitos dos artistas intérpretes
ou executantes, dos produtores fonográficos e das empresas de radiodifusão. Parágrafo único. A proteção desta
Lei aos direitos previstos neste artigo deixa intactas e não afeta as garantias asseguradas aos autores das obras
literárias, artísticas ou científicas. (BRASIL, 1998, s/p)
7
Art. 96. É de setenta anos o prazo de proteção aos direitos conexos, contados a partir de 1º de janeiro do ano
subseqüente à fixação, para os fonogramas; à transmissão, para as emissões das empresas de radiodifusão; e à
execução e representação pública, para os demais casos. (BRASIL, 1998, s/p)
8
Art. 90. Tem o artista intérprete ou executante o direito exclusivo de, a título oneroso ou gratuito, autorizar ou
proibir: I - a fixação de suas interpretações ou execuções; II - a reprodução, a execução pública e a locação das
suas interpretações ou execuções fixadas; III - a radiodifusão das suas interpretações ou execuções, fixadas ou
não; IV - a colocação à disposição do público de suas interpretações ou execuções, de maneira que qualquer
pessoa a elas possa ter acesso, no tempo e no lugar que individualmente escolherem; V - qualquer outra
modalidade de utilização de suas interpretações ou execuções. § 1º Quando na interpretação ou na execução
participarem vários artistas, seus direitos serão exercidos pelo diretor do conjunto. § 2º A proteção aos artistas
intérpretes ou executantes estende-se à reprodução da voz e imagem, quando associadas às suas atuações.
(BRASIL, 1998, s/p)
34

Neste norte, entende-se que os direitos conexos têm grande importância na orbe
intelectual e sua proteção faz-se necessária, pois apresenta-se de maneira específica pela
legislação brasileira, ainda, ela diverge-se em alguns aspectos que tratam o direito do autor, por
este motivo deve ser abordada brevemente, pois sua ênfase se dá no âmbito artístico, através do
canto e interpretação.

1.3.2 Direitos morais

A personalidade do autor é algo intrínseco, demonstrada em cada obra, nelas, estão


expostas a sensibilidade existente no âmago do coração de cada autor, que buscam representar
de maneira sensível suas criações de espíritos, daí nascem os direitos morais do autor. Direitos
este vinculados, que unem o criador à sua obra, e desta forma é que se realiza a defesa de sua
personalidade.

O autor, Carlos Alberto Bittar, conceitua os direitos morais como: “[...] vínculos perenes
que unem o criador à sua obra, para a realização da defesa de sua personalidade. [...]” (BITTAR,
2003, p. 47), desta forma, os direitos morais acabam trazendo a todo o ordenamento jurídico
uma vinculação de proteção dos mais íntimos elementos dos mistérios psíquicos do autor.

Ainda, o autor supracitado, Carlos Alberto Bittar leciona:

Esses direitos nascem com a criação da obra, manifestando-se alguns (como


o direito ao inédito) com a simples materialização, ou seja, com a sua inserção
na ordem fática, e produzindo efeitos por toda a existência daquela, na função
básica que exerce de manter aceso o seu liame com o criador (e, enquanto a
obra existir, mesmo falecido o seu autor), e isso, no sistema unionista,
independentemente de qualquer formalidade: o direito fui do ato criativo.
(BITTAR, 2003, p. 47)

Desta forma, entende-se que os direitos morais nascem junto com a criação de espírito,
sendo inalienáveis e irrenunciáveis, direitos exclusivos do autor e vinculados às suas obras, de
maneira perpétua.

O direito moral não pode ser cedido, transferido ou até mesmo renunciado, ele
pertencerá ao autor a todo momento, podendo ser utilizado como modo de defesa nos momentos
em que o mesmo sentir-se atingido, pode ser utilizado para opor-se a qualquer modificação em
suas obras, sejam elas artísticas, literárias e de cunho plástico, alterações que possam prejudicar
a sua reputação como autor.
35

Ainda sobre o tema, de forma sintética as autoras, Eliane Cordeiro de Vasconcellos


Garcia Duarte e Edmeire Cristina Pereira, dispões sobre o questionamento “o que são os direitos
morais do autor?”, vejamos:

Os Direitos Morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis visto que, a


qualquer tempo, o autor pode reivindicar a autoria da obra e ter seu
nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado, como sendo o autor na
utilização desta. Esta pessoa possui o direito de conservar a obra inédita e
garantir a integridade desta, opondo-se a qualquer alteração que prejudique ou
atinja o autor em sua reputação. Com os Direitos Morais garantidos, o autor
pode alterar a obra, antes ou depois de usá-la, retirá-la de circulação ou
suspendê-la. Isto pode ocorrer mesmo depois da sua circulação ou da sua
utilização. O autor também poderá ter acesso a exemplar único e raro da obra,
quando se encontre em poder de outrem, para o fim de preservação da
memória. (CORDEIRO DE VASCONCELLOS GARCIA DUART,
PEREIRA, 2009 p. 07) (grifos nossos)

Conforme verifica-se, as obras estão seguras quanto suas modificações, com os direitos
morais do autor, desta forma, sempre que a obra for modificada e o autor sentir-se lesado, este
terá o amparo jurídico necessário para preservar a sua honra. É o que nos diz Liane Mählmann
Kipper, Isabel Grunevald e Daiane Ferreira Prestes Neu. Vejamos:

O direito à manutenção da integridade da obra: é o direito de impedir qualquer


modificação em sua obra, ou qualquer utilização em contextos que possam
prejudicar a honra do autor. (KIPPER, GRUNEVALD, NEU, 2011, p. 27)

Ademais, a Lei autoral (Lei n.º 9.610 de 1998) determina o que são os direitos morais
do autor 9e Carlos Alberto Bittar acentua que “[...] o direito moral é pressuposto do direito
patrimonial ou ainda, seu fundamento ético. E a base ética é a tônica nos direitos da
personalidade." (BITTAR, 2003, p.47). Desta forma, conforme disposto em lei autoral (Lei n.º

9
Art. 24. São direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II - o de ter seu
nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua
obra; III - o de conservar a obra inédita; IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua
reputação ou honra; V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada; VI - o de retirar de circulação a obra
ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta
à sua reputação e imagem; VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre
legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou
audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em
todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado. § 1º Por morte do autor,
transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I a IV. § 2º Compete ao Estado a defesa
da integridade e autoria da obra caída em domínio público. § 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as
prévias indenizações a terceiros, quando couberem. (BRASIL, 1998, s/p)
36

9.610/1998), compreende-se que os direitos morais são do autor são: a) de inédito; b) à


paternidade da obra; c) à nominação; d) à integridade; e) de arrependimento. 10

Por fim, confere a lei a preservação dos direitos morais do autor, preservando o vínculo
do autor à sua criação, podendo o autor tomar as decisões necessárias à preservação de sua
honra (quais dizem respeito às suas obras), podendo-as retirar de circulação, altera-las e até
mesmo suspende-as, prezando sempre a preservação da memoria de suas obras.

1.3.3 Direitos patrimoniais

Os direitos patrimoniais do autor estão ligados à toda e qualquer tipo de utilização


econômica das criações de espíritos regidas por ele. São constituídas de processos técnicos e de
prerrogativas pecuniárias que, assim como os direitos morais, nascem com a criação da obra,
direitos esses decorrentes única, e exclusivamente do autor para exploração.

Compete ao autor, o direito de usar e dispor da obra literária, artística ou científica. No


entanto, não podemos copiar nada sem a licença prévia e expressa do autor (MARTINS FILHO,
1998). Quem conceitua direitos patrimoniais, é Carlos Alberto Bittar, em sua obra Direito de
Autor, conforme leciona:

Direitos patrimoniais são aqueles referentes à utilização econômica da obra,


por todos os processos técnicos possíveis. Consistem em um conjunto de
prerrogativas de cunho pecuniário que, nascidas também com a criação da
obra, manifestam-se em concreto, com sua comunicação ao público.
(BITTAR, 2003, p. 49)

Ademais, os direitos patrimoniais sendo de exclusividade do autor para exploração


pecuniária de suas criações de espírito, mesmo após a sua transferência ele mantem vínculos
com a criação. Apontando sua visão para a legislação brasileira, as autoras Liane Mählmann

10
Art. 24. São direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II - o de ter seu
nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua
obra; III - o de conservar a obra inédita; IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua
reputação ou honra; V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada; VI - o de retirar de circulação a obra
ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta
à sua reputação e imagem; VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre
legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou
audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em
todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado. § 1º Por morte do autor,
transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I a IV. § 2º Compete ao Estado a defesa
da integridade e autoria da obra caída em domínio público. § 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as
prévias indenizações a terceiros, quando couberem. (BRASIL, 1998, s/p)
37

Kipper, Isabel Grunevald e Daiane Ferreira Prestes Neu dispõem sobre os direitos patrimoniais
no contexto nacional.

Além disso, se uma pessoa adquirir uma obra literária, não lhe assegura o
direito de explorá-la comercialmente sem a autorização do autor. Segundo a
Lei 9610/98, artigo 28, cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e
dispor da obra literária, artística ou científica. E, conforme o artigo 41, os
Direitos Patrimoniais do autor perduram por setenta anos, contados de 1° de
janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem
sucessória da lei civil. (KIPPER, GRUNEVALD, NEU, 2011, p. 27)

Assim, o direito patrimonial do autor dispõe exclusivamente sobre as utilizações


pecuniárias das obras de cunho intelectual. Desta forma, é de critério particular do autor permitir
que sua obra seja divulgada e posteriormente utilizada parar fins econômicos. Desta forma,
utilizamos dos ensinamentos do autor Bruno Jorge Hammes, que dispõe sobre o tema nos
ensinando:

De maneira genérica a obra pertence ao autor. É dele. Conseqüentemente, tem


todos os direitos decorrentes de um direito de propriedade. Pode utilizá-la com
exclusividade, pode permitir ou não permitir que outros a utilizem. A sua
vontade determina o que acontece com a obra, quem e como a utilizará.
Qualquer utilização depende de sua autorização. (HAMMES, 1998, p. 69)

Por sua vez, é de uso exclusivo do autor a permissão da utilização ou da não utilização
de sua obra por terceiros. E é José de Oliveira Ascensão quem pontua as cessões do direito
patrimonial do autor, nos dizendo que:

No que diz respeito aos direitos patrimoniais o panorama é diferente. A lei


admite com toda a vastidão a cessão do direito de autor, nos arts. 52 e
seguintes. [...] Todavia, verificaremos que neste núcleo muito amplo dos atos
chamados de cessão, vamos ter de distinguir como figuras perfeitamente
caracterizadas, e tecnicamente muito diferentes: - transmissão - oneração –
licença ou autorização – sucessão. (ASCENSÃO, 1997, p. 292)

Desta forma, compreendendo (ASCENSÃO. 1997, p. 292-293), tem-se como os


principais elementos do direito patrimonial a transmissão, que é a cessão total da obra, a
oneração, que é a cessão parcial da obra, ou seja, a constituição de um direito derivado, a
licença, que cria um direito não exclusivo de utilização, e por fim, a sucessão, que é a
transmissão dos direitos do autor ao sucessor/herdeiro.

Estes elementos estavam previstos na Lei n.º 5.988 de 1973, em seus artigos 52 a 56,
que fora revogada pela nova lei dos direitos autorais, a lei n.º 9.610/1998. Façamos então, uma
comparação dos direitos de cessão, trazendo o que a antiga lei dispôs e o que a nova lei dos
direitos autorais dispõe, confrontando as leis, lado a lado. Vejamos:
38

Figura 3 – Leis 5.988/1973 e 9.610/1998

Fonte: Cedido e elaborado por Arthur Brandolt Garcez com base em BRASIL (1973, s/p) e (1998,
s/p).

Destarte, verifica-se que as mudanças apresentadas pela nova lei dos direitos autorais
são simples, mas evidentes. Trazem diferenças gritantes aos direitos morais e patrimoniais do
autor, que se mostram ser de suma importância em todas as transações efetivadas sejam elas de
39

transferência ou de relações pecuniárias. Os vínculos do direito moral do autor e do direito


patrimonial do autor se transpõe: sendo uma (moral) fundamentação aos direitos da outra
(patrimonial).

Além disso, os direitos autorais estão regulamentados também na Constituição


Federal11, por isso, além de comparar a antiga e a nova lei dos direitos autorais, é importante
que tragamos à tona a diferença dos textos das constituições brasileiras, para que possamos
perceber o crescimento do direito na legislação brasileira, o quanto se expandiu e,
principalmente, como era regulamentado no âmbito jurisdicional. Vejamos:

Figura 4 – Comparativo de Textos Constitucionais

Fonte: Cedido e elaborado por Arthur Brandolt Garcez com base em BRASIL (1891, s/p), (1934, s/p),
(1937, s/p) e (1946, s/p).

11
Art. 5º: [...] XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a
proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas
atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de
que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; XXIX -
a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção
às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em
vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; [...] (BRASIL, 1988, s/p)
40

Os direitos acima dispostos são apenas uma vertente do que o direito autoral se tornou,
entretanto verifica-se que sempre fora frisada a questão pecuniária do direito, desta forma a
regulamentação do direito autoral patrimonial esteve sempre presente no viés jurídico, direito
protegido por lei e assegurado ao criador da obra.

Assim, resta analisar o atual texto da Constituição Federal:

Artigo 5º, inciso XXVII da CF: Aos autores pertencem o direito exclusivo de
utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissíveis aos
herdeiros pelo tempo que a lei fixar. (BRASIL, 1988, s/p)

Verifica-se que o texto não logrou muitas alterações, mas, deixa claro ao detentor do
direito que este é exclusivo, personalíssimo e hereditário. Ainda, pouco trata sobre direitos
autorais a CF, até porque este não é seu propósito. A ideia é resguardar este di reito para que o
mesmo não seja suprimido por lei ordinária, o objetivo é constituir o direito do autor para que
o mesmo sinta-se amparado pela legislação maior.

Por fim, Carlos Alberto Bittar dispõe, de forma genérica sobre a utilização dos direitos
patrimoniais, ensinando que “[...] os direitos patrimoniais são independentes entre si (princípio
da divisibilidade dos direitos patrimoniais, art. 31) podendo cada qual ser utilizado à vontade
do autor e negociado com pessoas diferentes [...]” (BITTAR, 2003, p.50). Trazendo para si,
este direito, a integração do valor pecuniário à obra diz respeito particular ao autor,
possibilitando que isto faça parte do seu patrimônio e produza receitas econômicas através de
suas criações de espíritos.

Fazendo com que esteja clara que a utilização de uma obra cabe apenas ao autor, o
direito autoral patrimonial refere-se exclusivamente ao viés econômico e pecuniário de uma
obra, ainda assim, não podemos deixar de lado que ele e o direito moral autoral se conectam e
juntos englobam a orbe de direitos para amparar o criador de conteúdo de espírito.

1.4 Sistemas de tutela no direito autoral

É extremamente fundamental abordar sobre a tutela dos direitos autorais e as


consequências de sua violação sob o ordenamento jurídico partidário internacional e também
nacional. Tratar-se-á da relevância da preservação da tutela jurisdicional dos direitos autorais e
das criações de espírito. Ainda, apresenta-se as principais convenções internacionais, traz a
legislação nacional como um todo, com ênfase na lei 9.610/1998, e exibe as principais fontes
deste direito. Vejamos os tópicos seguintes.
41

1.4.1 Tutela no âmbito internacional

Devemos reconhecer que a arte, o criador e a obra ultrapassam fronteiras e sua tendência
é se expandir cada vez mais. Voltada para a humanidade, para o sentimento e principalmente
para as revoltas internas de cada um, a arte denomina-se universal a todos que a admiram, sendo
maior que uma nação, ultrapassando quilômetros de distancia e contagiando diferentes culturas.

A partir do Estatuto da Rainha Ana vários países editaram leis protegendo os


direitos de autor. Pode parecer estranho, à primeira vista, esse afã
governamental em proteger o autor, geralmente um rebelde. Acontece que
a cultura e o conhecimento constituem patrimônio nacional a ser estimulado e
protegido, o que provocou a ação legal de quase todos os países da Europa,
preocupados em defender seus interesses na consolidação e hegemonia dos
Estados nacionais. (CABRAL, 2003, p. 05) (grifos nossos)

A tutela dos direitos autorais no âmbito internacional atualiza-se com regularidade a


cada passo em que a tecnologia e a arte expandem-se, todavia, em 1886, o sistema internacional
de tutela dos direitos autorais foi criado, e se deu através da Convenção de Berna, para que
fosse promulgada e sintetizada a Proteção de Obras Literárias e Artísticas.

Por mais que o autor pudesse estar protegido pelas leis do Estado, fora considerada de
suma importância que estes direitos fossem tutelados no âmbito internacional e comunitário.
Desta forma, visando a proteção da obra de arte e dos direitos do seu criador, a tutela, no que
diz respeito à propriedade intelectual, atua no âmbito do direito interno e também no direito
internacional, com a intenção de auxiliar e proteger todos os direitos de uma obra e de um autor.
Tem como objetivo maior, proteger os direitos morais e patrimoniais do autor e também das
criações de espírito, impondo limites e sintetizando normas.

Um dos mais antigos Tratados internacionais em vigor, a Convenção de Berna trouxe à


propriedade intelectual muito mais que um notável documento, trouxe o objetivo, a
concretização e a atualização sobre os direitos autorais no mundo, uma revolução ao direito de
propriedade, agora regulamentando internacionalmente.

Que, ainda em vigor (sofreu várias revisões e a última em 1971)12, e, de acordo com
Plínio Cabral (CABRAL, 2003, p. 07) estabelece que: a) O que é obra literária e artística; b)
Critérios para proteção autoral; c) Definição de obra publicada; d) Declara que o “gozo e

12
É o mais antigo tratado internacional em vigor e aplicado. Sofreu varias revisões que tiveram por finalidade
atualizá-lo em face de novas realidades se, contudo, alterar sua espinha dorsal que é a defesa e proteção dos
direitos patrimoniais e morais do autor. Sua última revisão data de 24 de julho de 1971, com emendas de 28 de
setembro de 1979, que é o documento hoje em vigor. (CABRAL, 2003, p. 06)
42

exercício desses direitos não estarão subordinados a nenhuma formalidade”; e) Fixa e define o
país de origem; f) Assegura o direito de adaptação; g) Fixa o prazo de vigência dos direitos do
autor após a sua morte; h) Divide os direitos morais e patrimoniais do autor; i) Garante direito
à paternidade da obra; j) Fixa limitações ao direito do autor; e k) Assegura o direito de suíte.

Este modelo de legislação tem servido como amparo de constante atualidade, e ela
contribuiu para que a legislação brasileira sobre direitos autorais fosse gerada para amparar os
autores também no âmbito nacional. Ademais, a Convenção de Berna conta com mais de 150
(cento e cinquenta) países signatários. E são as afirmações de Denis Borges Barbosa que nos
esclarece brevemente sobre a Convenção.

A Convenção de Berna aplica-se não no país do autor (de que é nacional ou


residente habitual), mas à proteção dos autores de países unionistas nos
demais, ou que tenham publicado pela primeira vez, sua obra num país da
União. A definição do que seja publicação – que varia conforme a natureza da
obra – presume que esta seja posta à disposição do público, de maneira a
atender razoavelmente às suas necessidades: por exemplo, no caso de obra
cinematográfica, que tenha havido distribuição aos exibidores. De outro lado,
determina-se o país de origem da obra através de uma série de critérios do art.
5, alínea 4 da Convenção de Berna. (BARBOSA, 2003, p. 191)

Destarte, a Convenção de Berna, além de ser um “guia” para a legislação autoral de


outros países, ela é garante que os direitos do autor sigam um padrão mínimo de proteção e que
sejam resguardados de diversas maneiras, fazendo com que o criador de obra de arte, seja ela
plástica, literária, musical ou até mesmo artística, sinta-se seguro quanto aos seus atos de
criação.

1.4.2 Tutela no âmbito nacional

No Brasil, a atual legislação de direitos autorais é a Lei n.º 9.610/1998, ela é o resultado
de um longo tempo de estudos e discussões sobre os direitos autorais no âmbito nacional. Os
ramos de proteção dos direitos autorais no Brasil se estendem ao autor e sua criação, e essa
proteção é dividida em dois tipos de direito, que já foram tratados, direito moral e patrimonial.

Pode-se enumerar os marcos fundamentais da legislação autoral no brasil, pois ela vem
de longa data, mas, faz-se importante neste momento enumerar o que o direito autoral tutela e
deixa de tutelar no Brasil. Sabe-se que não são objetos de proteção dos direitos autorais, na
legislação atual, de acordo com Diana de Mello Jungmann:

As ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou


conceitos matemáticos; os esquemas, planos ou regras para realizar atos
43

mentais, jogos ou negócios; os formulários em branco e suas instruções; os


textos de Tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões
judiciais e demais atos oficiais; as informações de uso comum, tais como
calendários, agendas, cadastros ou legendas; os nomes e títulos isolados; o
aproveitamento industrial ou comercial das ideias contidas nas obras.
(JUNGMANN, 2010, p. 58).

Destarte, uma obra de propriedade intelectual goza das jurisdições de proteção com
relação ao direito de autor, pois a proteção se estende tanto ao autor quanto a sua obra, existem
também, algumas formas de proteção de determinados tipos de criações.

É o que nos diz a autora supracitada, vejamos:

Uma obra goza de proteção de direitos de autor a partir do momento em que


é criada, independentemente de qualquer registro ou formalidade. Embora
opcional, o registro facilita, por exemplo, a solução de disputas quanto à
titularidade ou à autoria, transações financeiras, cessões, licenças e
transferências de direitos. (JUNGMANN, 2010, p. 60) (grifos nossos)

No Brasil, o autor pode obter registro de sua obra através de algumas instituições que
são responsáveis pelo registro de obras literárias, filmes e obras de cunho artístico. Mas o
mesmo depende do interesse total do autor.

É a lição de Carlos Alberto Bittar.

A realização do registro perfaz-se mediante requerimento do interessado, com


a sua qualificação e a indicação dos dados de identificação da obra, em livro
próprio, mantido pelo órgão correspondente. O ato de registro fica sujeito à
cobra na de retribuição, cujo valor e processo de recolhimento serão
estabelecidos por ato do titular do órgão da administração pública federal a
que estiver vinculado o registro das obras intelectuais [...]. (BITTAR, 2003, p.
134)

Assim, algumas das instituições de registro podem ser citadas, como a Fundação
Biblioteca Nacional13, que registra livros e textos, a Agência Nacional do Cinema14, que registra
filmes, obras artísticas já são registradas pela Escola Belas Artes15 e por fim, as partituras de
música através da Escola de Música16.

13
BN. Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.bn.gov.br/> Acesso em 21 de novembro de 2017.
14
ANCINE. Agência Nacional do Cinema. Disponível em: <https://www.ancine.gov.br/> Acesso em 21 de
novembro de 2017.
15
EBA. Escola Belas Artes. Disponível em: <http://www.eba.ufrj.br/> Acesso em 21 de novembro de 2017.
16
MMM. Escola de Música UFRJ. Disponível em <http://www.musica.ufrj.br/> Acesso em 21 de novembro de
2017.
44

Destarte, o registro se faz importante no âmbito jurídico, pois é uma proteção a mais
para o autor no que se diz respeito aos seus direitos e de sua criação, direitos que exclusivamente
são reservados à obra intelectual, pois no Brasil é meramente facultativo o registro, enquanto
em outros países, o registro se faz obrigatório, o mesmo, na prática é imprescindível, para
justamente evitar dúvidas com relação a própria criação.

Ainda, são as palavras de Plínio Cabral que nos esclarecem como é aplicada a legislação
no Brasil.

A legislação brasileira, tanto no aspecto civil como penal, sempre procurou


instituir mecanismos para proteger os direitos de autor. Entretanto, o problema
nacional não é - e nunca foi – a lei, mas a aplicação da lei. O mundo autoral
brasileiro vinha se regendo desde 1973, portanto há um quadro de século, pela
Lei 5.988. Cabe examinar o que mudou com o advento de um novo diploma
legal, tanto à luz dos problemas relacionados com a revolução tecnológica,
como à luz da Convenção de Berna que, assinada e promulgada pelo
Brasil, é a lei interna em plena vigência e validade. O exame da Lei 9.610
é oportuno e necessário para sua observância e boa aplicação. (CABRAL,
2003, p. 10) (grifos nossos)

Com previsão no plano civil e penal, a proteção dos direitos do autor tem como meio
viabilizar a concretização da norma. Ainda assim, conta-se com outros procedimentos de
preservação destes direitos, quais são as associações, órgãos específicos de registro, a
autoridade policial e também o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD). No
âmbito Civil, várias são as formas de tutela dos direitos autorais, como os direitos patrimoniais
e personalíssimos, podendo contar também com a esfera administrativa. Esses são os
ensinamentos de Carlos Alberto Bittar:

No plano administrativo, contam-se, outrossim, procedimentos próprios de


preservação e defesa de direitos, perante os órgãos que compõem a respectiva
administração e nos termos da legislação correspondente. Assim, pela lei pode
o interessado obter a formalização de operações, a resposta a indagações, e
soluções de litígios, conforme o caso, perante os órgãos de registro, o ECAD,
as associações e a autoridade policial. (BITTAR, 2003, p. 136)

Ademais, diversas são as formas de proteção dos direitos autorais no Brasil, e de acordo
com (DUART, PEREIRA, 2009, p. 09), as legislações de Direito Autoral são:

a) Constituição da República Federativa do Brasil. Texto constitucional de 5 de outubro


de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais números 1/92 a 4/93; b)
Declaração Universal dos Direitos Humanos; c) Convenção de Roma. Promulga a Convenção
Internacional para Proteção aos Artistas Intérpretes ou Executantes (Decreto n. 57.125, de 19
45

de outubro de 1965); d) Convenção de Berna. Convenção Universal sobre o Direito do Autor,


revista em Paris (Decreto nº 76.905, de 24 de dezembro de 1975); e) TRIP’S. Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio (Decreto nº
1.355/94, de 30 de dezembro de 1994); e) Lei nº 5.772/71. Antigo Código da Propriedade
Industrial (21 de novembro de 1961); f) Lei nº 9.279/96. Regulamenta os direitos e as
obrigações relativas à Propriedade Industrial (14 de maio de 1996); g) Lei de Programa de
Computador. Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998; h) Lei nº 10.695/03, que altera o Código
Penal; e i) E, principalmente a Lei nº 9.610/98, Lei do Direito Autoral.

Por fim, chegando à nova lei dos direitos autorais, a qual marcou um avanço
imprescindível na proteção dos direitos autorais no que diz respeito ao lícito e ao ilícito previsto
na legislação brasileira. Desta forma, verifica-se que o direito autoral no Brasil tem muito a se
desenvolver, este é um processo de evolução necessário, tendo em vista que o Brasil ainda é
um país relativamente novo, o qual pode passar por diversas revoluções que trarão ao país novas
vertentes de segurança para os direitos autorais, esta, com certeza é uma esperança que todos
os autores tem, que não é de longe alcance.

Além de contar com a proteção dos direitos, sejam eles, morais e patrimoniais, o autor
merece o respeito e dignidade à proteção de sua obra, desta forma, os limites de intervenção de
restauro de obras de arte devem seguir diversas previsões, para que nenhum direito seja violado,
visando que o autor e a sua obra não sofram danos. Desta forma, no capítulo seguinte, tratar-
se-á, de maneira detalhada, sobre as formas que visam a proteção de obras de arte quando
encaminhadas à restauração.
46

2. DIREITO AUTORAL E OS LIMITES DA INTERVENÇÃO DE RESTAURO DE


OBRA DE ARTE PLÁSTICA

Quando restaura-se uma obra de arte, segue-se apenas critérios éticos e morais por parte
do restaurador para proteger os direitos contidos naquela obra, evitando que ocorram violações
no que diz respeito à obra e ao autor. A partir do momento em que restaurada uma obra de arte,
pode configurar-se a violação dos direitos morais do autor no sentido de proteção às suas
criações de espírito. Ocorre que, inexistem limites técnicos de restauração de obras de arte,
desta forma, apresentar-se-á, neste capítulo, apresentar-se-á quais critérios são necessários e
devem ser observados pelo restaurador para que não ocorra violação dos direitos morais do
autor.

2.1 Intervenção

A partir do momento em que limites técnicos não são postos à disposição do restaurador
de obras de arte o mesmo segue limites pessoais e éticos para evitar que sejam violados os
direitos morais do criador da obra. Toda obra de arte é uma criação de espírito, aonde o autor
cria lações e conexões com a obra que está sendo criada, então, a partir do momento em que
esta nasce, direito a si, são configurados. Com a inexistência de limites técnicos de restauro,
surgem preocupações quanto à proteção dos direitos morais no autor neste cenário.

Camilo Boito, arquiteto discorre, de maneira sistêmica, sobre restaurações em sua obra
“Os Restauradores”, vejamos:

A restauração, até se firmar como ação cultural no século XIX, passou por
lento processo de maturação no decorrer do tempo. Anteriormente, as
intervenções feitas em edifícios preexistentes eram resultado, geralmente, de
exigências práticas voltadas para sua adaptação às necessidades da época.
Mesmo aquelas ações que poderiam ser consideradas tentativas de restauração
eram comumente consequência de algum problema de ordem pragmática, não
tendo a carga cultural que a questão assumiu a partir do século XIX. (BOITO,
2008, p. 15)

Entende-se então, que a as restaurações, primordialmente eram tratadas como


adaptações para que o objeto atendesse a demanda da sociedade. Partindo desta ideia, entende-
se que o marco evolutivo, no que diz respeito à restauração em si, ascensionou com a
necessidade da adequação de uma obra para que ela fosse suficientemente potencial às
premências da sociedade.
47

Muitas restaurações ao longo do tempo foram fracassadas, tendo em vista a falta de


regulamentação de critérios para que esta seja feita de maneira cautelosa. Quando uma
restauração é realizada, utilizam-se apenas critérios técnicos e éticos do restaurador, a técnica
de restauração de arte visual, seja ela de pintura, escultura, desenho ou até mesmo gravura, é
inteiramente pessoal e particular do autor, assim como seus critérios éticos. Desta forma, o
mesmo entende a necessidade de resguardar os direitos morais do autor original para que
qualquer tipo de violação seja impedido.

José de Oliveira Ascenção, em sua obra “Direito Autoral” nos mostra que não é possível
que ocorra autorização para modificações de obras por terceiros. Diferente de restauração,
entretanto o tema deve ser marcado como importante. Vejamos:

Não obstante, o art. 25 V inscreve, entre os direitos morais do autor sobre a


obra, “o de modifica-la, antes ou depois de utilizada”. Para determinar o
significado, entremos agora no verdadeiro problema que esta matéria suscita.
Poderá o autor, aqui entendido como o titular originário do direito,
autorizar outros a modificar a obra? Aparentemente, não pode. O art. 28
declara os direitos morais do autor (e portanto também o direito de
modificação) inalienáveis e irrenunciáveis. (ASCENÇÃO, 1997, p. 149)
(grifos nossos)

Levanta-se em questão a importância de limites expressos no âmbito da restauração de


obras de arte. Desta forma, busca-se a resolução destes conflitos, posicionando critérios éticos
e técnicos para que as restaurações de obras de arte, impedindo a modificação completa da arte,
impedindo que deixe de ser “original”, diminuindo, assim, os riscos para os direitos morais do
autor, que assim, podem, a qualquer momento, serem infringidos.

A respeito, os ensinamentos de José de Oliveira Ascensão são:

O direito à integridade da obra é previsto no art. 25 IV, que especifica os seus


pressupostos. São declaradamente aspectos pessoais que justificam a proteção
legal. Diz-se que o autor se pode opor “a quaisquer modificações, ou à
prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la, ou atingi-
lo, como autor, em sua reputação ou honra”. (ASCENSÃO, 1997, p. 142)
(grifos nossos)

Ainda, no Brasil, em 2007 houveram ações no Senado Federal para que fosse
regulamentada a profissão de conservador e restaurador de obras, essa proposta, fora
apresentada através do projeto de lei n.º 307 de 2007. No projeto de lei, era exigido que os
conservadores e restauradores fossem diplomados no Brasil em curso superior em área de
concentração de conservação-restauração de bens móveis e integrados, reconhecido na forma
48

da lei17. Passo grande para a constituição de direitos no âmbito autoral e fazendo com que a
profissão traga ao mundo das restaurações profissionais aptos e qualificados para exercer esta
função tão delicada.

Sendo de grande responsabilidade lidar com a restauração e conservação de bens


culturais móveis, a regulamentação da profissão tinha a proposta de evitar que pessoas que não
fossem qualificadas o suficiente intervissem de maneira desastrosa nas obras de arte, fazendo
com que criasse-se um filtro, restringindo o acesso à restauração os profissionais que não
possuíssem formação superior na área de concentração em conservação e restauração de bens
móveis e integrados.

Acontece que, no dia 19 de setembro de 2013 o projeto fora vetado pelo Presidente da
República, um possível retrocesso para a regulamentação da profissão. Duas razões que
justificam o veto foram apresentadas, a primeira, dispõe que o projeto de lei viola o disposto no
artigo 5º, inciso XIII e o artigo 61, §1º e inciso II, ambos da Constituição Federal de 1988, a
segunda, que o PL é inconstitucional, por ser marcado por vício de iniciativa, conforme dispõe
a publicação datada de 19 de setembro de 2013, disposta no anexo I.

Levanta-se em questão a necessidade de estabelecimento de limites dos quais o


restaurador, no momento de sua intervenção, não danifique o direito moral do autor criador. A
conservação e a restauração de obras de arte seguem a vertente de estabilizar novamente o
suporte dos bens culturais restaurados, ou seja, recuperar todos os elementos ausentes da obra
para que a sua leitura seja perfectibilizada novamente, tornando a obra compreensível
novamente.

17
Art. 2º O exercício da profissão de Conservador-Restaurador, com as atribuições estabelecidas nesta Lei, é
permitido exclusivamente: I – aos diplomados no Brasil em curso superior em área de concentração de
conservação-restauração de bens móveis e integrados, reconhecido na forma da lei; II – aos diplomados no
exterior em cursos superiores de conservação restauração de bens móveis e integrados, com diplomas
reconhecidos no Brasil, na forma da lei; III – aos diplomados em cursos de pós-graduação, reconhecidos na
forma da lei, observados os seguintes requisitos: a) área de concentração em conservação e restauração de bens
móveis e integrados; b) elaboração de monografia, dissertação ou tese de doutorado versando sobre a área de
conservação-restauração de bens móveis e integrados; IV – aos diplomados em qualquer curso de nível superior
que, na data da publicação desta Lei, comprovem o exercício profissional na atividade de conservação-
restauração de bens móveis e integrados há pelo menos 3 (três) anos; V – aos diplomados em curso técnico na
área de conservação-restauração de bens móveis e integrados, com carga horária mínima de 800 (oitocentas)
horas, reconhecidos na forma da lei; VI – aos que, na data da publicação desta Lei, comprovem no mínimo 5
(cinco) anos de exercício profissional na atividade de conservação-restauração de bens culturais móveis e
integrados. Parágrafo único. No exercício das suas atribuições profissionais, o Conservador-Restaurador
reconhecido em quaisquer dos incisos deste artigo não depende de nenhum outro profissional para dar efetividade
a suas competências. (BRASIL, 2007, s/p)
49

Por fim, por mais que sejam mínimas as intervenções realizadas numa obra de arte,
deve-se atentar o olhar aos danos que podem ser causados na mesma, buscando preservar suas
características e fidelidade histórica. Assim, apresentar-se-á alguns limites que devem ser
observados pelo restaurador no ato de restauração de obras de arte, estes critérios trazem a
diferença entre a criação de uma obra e a restauração de um bem cultural móvel, considerando,
em primeiro lugar, a preeminência do direito moral do autor criador perante sua criação de
espírito.

2.1.1 Limites pela documentação exaustiva

O passado se faz presente nos dias de hoje por meio da memória, da história, da cultura
e também da arte, com ele, o desenvolvimento temporal e o crescimento avançado da
tecnologia, ciência e das manifestações intelectuais e artísticas, a humanidade preservou a
história para que sua memória estivesse sempre presente. Ao passo em que a civilização dedica-
se à cultivar a memória, a ciência e a história, tem-se acervos de cultivo intelectual que jamais
expiram.

Os materiais de memória e de história, apresentam-se, de acordo com Jacques Le Goff,


em sua obra ‘História e Memória’ (2003, p. 462), como duas formas principais, sendo elas os
‘monumentos’, como sendo uma herança do passado e os ‘documentos’ que são as escolhas do
historiador.

O documento é o fundamento de um fato histórico, seja ele um testemunho escrito,


lapidado ou até mesmo pintado, um documento é uma prova. Já o monumento é uma
característica que liga-se de maneira voluntária ou involuntária às sociedades históricas,
descrevido por LE GOFF (2003, p. 462) como sendo “um legado à memória coletiva”. Desta
forma, aprofundemos o nosso estudo buscando o significado destes materiais.

Sendo que os ‘monumentos’ são, de acordo com LE GOFF:

A palavra latina monuentum remete para a raiz indo-européia men, que


exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (meminí).
O verbo monere significa 'fazer recordar', de onde 'avisar', 'iluminar', 'instruir'.
O monumentum é um sinal do passado. Atendendo às suas origens
filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado,
perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos. Quando Cícero fala
dos monumenta hujus ordinis [Philippicae, XIV, 41], designa os atos
comemorativos, quer dizer, os decretos do senado. Mas desde a Antiguidade
romana o monumentum tende a especializar-se em dois sentidos: 1) uma obra
comemorativa de arquitetura ou de escultura: arco de triunfo, coluna, troféu,
50

pórtico, etc.; 2) um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação


de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada: a
morte. O monumento tem como características o ligar-se ao poder de
perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (é um
legado à memória coletiva) e o reenviar a testemunhos que só numa parcela
mínima são testemunhos escritos. (LE GOFF, 2003, p. 462) (grifos nossos)

E os ‘documentos’, de acordo com o autor supracitado:

O termo latino documentum, derivado de docere 'ensinar', evoluiu para o


significado de 'prova' e é amplamente usado no vocabulário legislativo. É
no século XVII que se difunde, na linguagem jurídica francesa, a expressão
titres et documents e o sentido moderno de testemunho histórico data apenas
do início do século XIX. O significado de "papel justificativo", especialmente
no domínio policial, na língua italiana, por exemplo, demonstra a origem e a
evolução do termo. O documento que, para a escola histórica positivista do
fim do século XIX e do início do século XX, será o fundamento do fato
histórico, ainda que resulte da escolha, de uma decisão do historiador, parece
apresentar-se por si mesmo como prova histórica. A sua objetividade parece
opor-se à intencionalidade do monumento. Além do mais, afirma-se
essencialmente como um testemunho escrito. (LE GOFF, 2003, p. 463) (grifos
nossos)

Desta forma, entende-se que documentação exaustiva, é toda aquela que se faz
necessária para que um processo de restauração seja impecável e organizado. Este método
refere-se aos processos de produção de uma obra de arte, se busca o aprofundamento histórico
da obra para que ocorra a percepção de tempo e espaço.

Este método é, nada mais, que um estudo da obra de arte que se deseja restaurar. É a
manifestação dos processos de output18 de uma obra de arte, onde se expõe os danos em que a
obra a ser trabalhada já sofreu e fundir às suas características originais, estudando o período em
que fora produzida e o espaço em que fora encontrada, assim, por escrito, se aponta os
resultados encontrados com relação aos danos temporais, a justificativa dos métodos que serão
utilizados para a restauração, apontando de forma específica o procedimento de restauro que
será adotado e por fim, a juntada de documentos fotográficos para comprovar o estado da obra.

O restauro, segundo BRANDI, é um ato que reconhece uma obra, vejamos:

Em geral, entende-se por restauração qualquer intervenção voltada a dar


novamente eficiência a um produto na atividade humana. Nessa concepção
comum do restauro, que se identifica com aquilo que de forma mais exata deve
denominar-se esquema preconceitual, já se encontra enucleada a idéia de uma
intervenção sobre um produto da atividade humana; qualquer outra

18
Ação ou efeito de produzir.
51

intervenção, seja na esfera biológica seja na física não entra, portanto, sequer
na noção comum de restauro. (BRANDI, 2005, p. 25)

Já na obra “Os Restauradores: conferência feita na exposição de Turim em 7 de junho


de 1884” de Camillo Boito, a restauração é tratada como essencialmente diversa da
conservação, mas que uma dependia da outra para que pudessem sobreviver ao tempo e trazer
consigo as mais belas artes, abordando sobre tema da seguinte forma:

Concebe a restauração como algo distinto e, às vezes, oposto à conservação,


mas necessário. Constrói sua teoria justamente para estabelecer princípios de
restauração mais ponderados e consequentes, uma espécie de “domesticação”
do restauro, em um ambiente em que vários intelectuais desprezavam essa
prática e que, em relação à arquitetura, estava muito associada a Viollet-le-
Duc. (BOITO, 2008, p. 23)

Nesse sentido, inicia-se o processo de restauração de obras de arte partindo de um estudo


histórico, atentando-se à origem da obra, quem é o artista, de que tipo de material a obra se
constitui, quais técnicas foram utilizadas para seu desenvolvimento, quais materiais foram
utilizados, suas características físicas e químicas, qual é seu estado de conservação e também
do que ela fora constituída. Todas as informações que podem ser retiradas da obra, tornam-se
um objeto de pesquisa para que o passo da restauração seja apropriado.

Ademais, outras formas de precaução devem ser utilizadas quando se pesquisa sobre a
obra, sendo que exames organolépticos19 e científicos, luz rasante, exames de raio-X e
infravermelho. Tendo, então, todas as informações necessárias sobre a obra em que se deseja
restaurar, desta forma, toda e qualquer análise deve ser documentada, conforme supracitado,
através de relatórios, fotografia, gráficos e tabelas de análise.

Desta forma, utiliza-se de todos os dados coletados para que o tratamento da obra de
arte seja iniciado, após elaborada esta gama de documentos, os frutos de cunho intelectual do
restaurador, a ele serão atribuídos direitos autorais pelo material de estudo e pesquisa que tenha
produzido.

2.1.2 Limites pela mínima intervenção

No âmbito do direito autoral, consideram-se todos e quaisquer limites de respeito à obra


para que a mesma não seja infringida. Quando aborda-se o assunto de restauração e a mínima
intervenção numa obra de arte, deve-se preservar as características originais da mesma e a

19
Chamam-se propriedades organolépticas às características dos materiais que podem ser percebidas pelos
sentidos humanos, como a cor, o brilho, a luz, o odor, a textura, o som e o sabor.
52

criação de espírito do autor. O respeito à obra e também à sua autoria é uma questão ética e
moral do restaurador, que nos limites pela mínima intervenção devem ser considerados.

Toda e qualquer intervenção em uma obra/artefato, deve restringir-se apenas ao


tratamento necessário, para que não ocorram intervenções desastrosas e que nenhuma
característica original da obra seja perdida. O objetivo é estabilizar a obra, cujo seu tratamento
deve-se às possibilidades de (i)reversão, pois toda e qualquer modificação feita numa obra deve
prevalecer os aspectos originais dela para que possa ser facilmente identificada.

José de Oliveira Ascenção comenta sobre a finalidade de reconstrução de uma obra, e


aborda aspectos patrimoniais que devem ser respeitados toda e qualquer vez em que uma obra
passe por um processo de fruição por terceiros. Vejamos:

Se a finalidade da lei não é atribuir o exclusivo, mas o exclusivo como via de


atribuição de vantagens patrimoniais, devem ser consideradas livres aquelas
atividades que não tiverem nenhuma incidência negativa na exploração
econômica da obra. Um ato que não possa prejudicar em nada a
exploração econômica da obra é, por força da tecnologia legal, um ato
livre. (ASCENÇÃO, 1997, p. 161) (grifos nossos)

Criar, cabe ao artista, não ao restaurador, ao restaurador, apenas de devolver à obra seus
aspectos originais, quais foram perdidos com o tempo ou danificados. Quando um restaurador
interfere numa obra de arte, esta não deve apresentar características distintas dos originais,
quando operada por um restaurador, a obra de arte não deve conter registros ou meios que
identifiquem que houveram intervenções na mesma. A partir do momento em que um restauro
gera novas características o restaurador passa a criar e não a restaurar, tomando lugar do artista
e gerando até mesmo falsificação.

Atuar dentro de uma zona de segurança é um dos requisitos essenciais de restauração


de obras/artefatos, este é o aspecto principal gerado pelo limite de mínima intervenção de
restauro. Assim, o restaurador conta com o conhecimento nos objetos e materiais que irá utilizar
para restaurar uma obra ou artefato, evitando exceder limites e agindo com bastante cautela,
impedindo que danos possam ser causados por materiais e técnicas, deixando a obra com os
reparos necessários, não causando danos ao bem.

Ademais, o restaurador deve conhecer seus limites e aplicar em toda e qualquer


restauração técnicas conhecidas para que não prejudique a obra, não gerando dano moral ao
autor originário dela. Podemos chamar isso de limite de conhecimento, onde o restaurador sabe
de suas técnicas e o que pode restaurar ou não. Assim, o restaurador analisa a melhor proposta
53

de restauração para iniciar a intervenção, ademais, a profissão de restaurador conta com


diversas áreas de conhecimento, sendo elas a química, a física, a biologia a arte e a história,
podendo acontecer de especialistas serem consultados, para que seja perfeita a execução do
tratamento de restauração de uma obra/artefato.

Abaixo podemos identificar alguns aspectos técnicos que devem ser observados pelo
restaurador no ato da restauração de obras de arte, vejamos:

Uma vez que a regra da mínima intervenção impede a prática da


falsificação de autoria e do perigo de retirar da obra seus aspectos
históricos, são admitidas intervenções que: a) acrescentem partes acessórias
que tenham a função de sustentar a obra; b) sejam executadas reintegrações
de partes pequenas, desde que estejam evidenciadas, com determinação do
contorno dos pontos de encontro com as partes antigas, adotando-se material
diferenciado do original e a ele harmônico, de modo que sejam distinguíveis
ao olhar; c) o aspecto da ação do tempo sobre a peça deve ser respeitado e
portanto uma limpeza não deve alcançar o estrato da cor e nunca deverá chegar
à superfície basilar da matéria de que são constituídas as obras; d) a
reconstrução ou reintegração de uma obra, efetuadas a partir do estudo de suas
peças ou fragmentos, efetuados com novos materiais, deve ser amplamente
documentada e efetuada com técnica claramente distinguível ao olhar, ou
efetuá-la em nível diferente do original, sem reintegrar zonas de figuração e
sem inserir elementos que sejam determinantes à figuração da obra; e) se
internamente à obra for efetuada uma modificação ou inserção, que vise à
conservação da estrutura interna ou de seu substrato, não é permitido que essa
intervenção possa alterar a matéria ou as cores da obra. (BRANDALISE,
WACHOWICZ, 2017, p. 685) (grifos nossos)

Ainda:

Do mesmo modo, é defeso: a) efetuar reintegrações semelhantes ao conteúdo


original, ainda que simplificadas, mesmo que existam documentos que
indiquem como era ou deveria ser o aspecto da obra acabada; b) remover e/ou
alterar aspectos que apaguem ou falsifiquem a trajetória da obra ao longo do
tempo, salvo se for para remover aquilo praticado anteriormente que tenha
mudado o valor histórico da obra ou que tenha sido adicionado, dando-lhe
caráter de falso. (BRANDALISE, WACHOWICZ, 2017, p. 686)

Desta forma, quando perfectibilizado qualquer procedimento de restauração ou até


mesmo estabilização de obra de arte ou de um artefato, deve o restaurador devolver à obra a
sua leitura visual original, sem que prejudique a história do objeto, o restaurador deve atuar de
forma mínima, a intervir somente nos detalhes necessários para que a obra possa novamente
ser reconhecida, sem que seja interferida a criação do autor originário.

Reitera-se, que o restaurador não deve intervir de forma criativa na obra em momento
algum, tendo em vista que o criar não é restaurar, podendo acarretar violação nos direitos morais
54

do autor e também atingir o patamar da falsificação quanto à integridade da obra de arte. Por
fim, a propriedade intelectual, dada ao restaurador se classifica apenas à maneira documental
em que ele posiciona-se perante a restauração.

2.1.3 Limites pela fidelidade histórica

Do latim fidelìtas.a.tis.20, qualidade de fiel, ao tratarmos a respeito de fidelidade


histórica, seja ela de qualquer tipo de obra de arte, sabemos que esta lealdade deve ser
preservada, em virtude de que todo e qualquer tipo de acontecimento histórico é algo que deve
ser lembrado para que no futuro, seja meio de relatos dignos de determinados períodos da
história da humanidade.

Esta é uma condição indispensável no processo de restauração de obras de arte e


artefatos antigos, ou seja, é um dos processos dos quais corresponde a respeitar as
peculiaridades originais de uma obra de arte ou de um artefato antigo posto à restauração, deve-
se então, preservar a o momento de referencia desta obra, sua história, sua época, o momento
em que fora forjada, esculpida, desenhada, pintada, etc.

De acordo com Anna Carolina Brandalise e Marcos Wachowicz, os limites pela


fidelidade histórica de uma obra de arte baseiam-se em alguns aspectos, sendo:

Significa estabilizar o original, preservando e demonstrando os vestígios


da passagem do tempo sobre a obra. A manutenção dos vestígios da ação
do tempo serve de meio para a comprovação da autenticidade da obra.
Isto também explica a razão pela qual as adições, os acréscimos devem ser
realizados com material contemporâneo: para não enganar o observador,
levando-o a confundir o que é original com a intervenção, como se tivessem
sido feitas ao mesmo tempo, quando na realidade a operação atual deve se
distinguir da obra, de forma harmônica ao conjunto. (BRANDALISE,
WACHOWICZ, 2017, p. 686) (grifos nossos)

Desta forma, distingue-se a obra original da intervenção (restauro), pela harmonização


em que se trabalham as técnicas de recomposição de uma obra de arte. Quando a intervenção
não é clara comete-se a falsificação histórica, pois a restauração de uma obra de arte tem como
objetivo a revelação de aspectos originais da mesma, entretanto, devem ser respeitados os
materiais originais utilizados, sendo estes autênticos.

Somente o autor originário de uma obra, tem o poder de modificação de sua criação de
espírito, não cabendo ao restaurador essa opção, quando detectada a falsificação histórica de

20
Etimologia (origem da palavra fidelidade).
55

uma obra de arte, viola-se também os direitos morais do autor, o único que possui poder de
modificação de suas criações de espírito, já dizia ASCENÇÃO (1997, p. 147):

Desde logo, se modificar é alterar a obra como tal, sem dúvida que o autor o
pode fazer. Mas não o faz bi exercício de um direito de autor, mas no poder
geral de criação, constitucionalmente consagrado, que se aplica quer à criação
da obra quer às modificações desta. O poeta que retoca indefinidamente
uma ode exerce o poder de criação. (ASCENÇÃO 1997, p. 147) (grifos
nossos)

Destarte, toda e qualquer modificação feita pelo restaurador é caracterizada criação,


portanto fere os direitos morais do autor, com este efeito, quando diversos materiais são
incorporados à obra e retirem seus aspectos históricos, estéticos e intrínsecos, acarreta em lesão
moral autoral, ferindo principalmente os direitos de modificação de obras autorais.

2.1.4 Limites pela reversibilidade

Correlacionadas às medidas anteriores abordadas, os limites de restauro perante a


reversibilidade da obra preveem a prescrição nos casos de um novo restauro. Se por
eventualidade se tornar necessária uma nova intervenção na obra de arte que já fora restaurada,
os materiais que foram usados na restauração anterior não podem interferir na nova intervenção.
Por isso se faz importante e necessária todas as maneiras de cautela, trazidas pelos limites de
reversibilidade.

Desta forma, é extremamente importante que seja levado em consideração os limites já


citados, como por exemplo, o da documentação exaustiva. Quando preenchidos os requisitos
de documentação, sabe-se exatamente quais produtos foram utilizados na restauração e quais
produtos são ideais para a nova intervenção. Sabendo que, as técnicas anteriormente utilizadas
e os materiais que foram utilizados para a manipulação da restauração não intervirão numa nova
intervenção.

A partir de análises, diagnósticos e tratamentos que são considerados como mais


adequado no momento de uma segunda intervenção, evitando que a obra seja coloca em risco,
isso em todos os processos, sendo eles de restauro, remoção de material original para
substituição e também na utilização de produtos químicos para a conservação do artefato
histórico.

A norma da reversibilidade garante que as modificações necessárias


introduzidas pelo restaurador não venham a integrar definitivamente a
obra, e assim ser entendida como uma dissimulação do trabalho do artista e
56

como uma solução definitiva para a obra. Considerando que a obra seguirá sua
trajetória temporal, corre-se o risco de que a solução encontrada não tenha
sido a mais adequada, conforme a ação de aspectos físico-químicos,
intrínsecos e extrínsecos ao artefato. (BRANDALISE, WACHOWICZ, 2017,
p. 688) (grifos nossos)

Como já abordado, não considera-se ético toda a modificação que possa ocultar,
dissimular ou até mesmo alterar formas e características da obra quando a mesma for
manipulada por um restaurador, por isso se faz a importante o passo a passo apresentado pelos
limites de intervenção.

Destarte, é necessário ter claro que a norma técnica de reversibilidade não se torne
irreversível, por isso é de suma importância que o limite pele reversão seja minuciosamente
observado, pois assim, a obra ganha a chance de ser restaurada com sucesso sem que sofra
danos vindos de matérias e técnicas empregados por restaurador algum. A obra, que sempre
será o objetivo de restauro ou de conservação, deve permanecer sendo única, evitando a
derivação de obras originárias (obras que são criadas a partir do restauro de outra obra, criação
de modificação visual).

2.2 Violação dos direitos morais do autor no restauro de obras de arte

Teoria dualista, com origem na doutrina francesa, aborda que o direito autoral reconhece
dois elementos de ordens distintas, sendo a primeira pautada na vinculação entre o autor e sua
criatividade, a maneira circunstancial de explorar seus conhecimentos e trazê-los à uma nova
criação de espírito, e a segunda, dispondo sobre sua utilização econômica. Assim, é o que
Eduardo Salles Pimenta, em sua obra “A Jurisdição voluntária nos Direitos Autorais” nos
ensina:

A nomenclatura usual é direito moral, que foi usada pela primeira vez por
André Morillt, na França, em 1872, para indicar as prerrogativas, que tem a
personalidade de autor, sobre sua criação intelectual – a obra. O que fez no
livro intitulado De la Persinalité du Droit de Copie qui Appartient à um Auteur
Vivant. Motillot entendia que: “o direito moral origina-se antes do direito
natural que do direito positivo. Na sua opinião, o direito moral não tem
necessidade de ser especialmente consagrado por nenhum texto.”.
(PIMENTA, 2002, p. 71) (grifos nossos)

Os direitos morais do autor são considerados irrenunciáveis e inalienáveis de acordo


com a legislação autoral brasileira21. Seu conteúdo, que fora reconhecido em 1908, através da

21
Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis. (BRASIL, 1998, s/p)
57

convenção de Berna e Revisão de Berlim, como sendo de caráter personalíssimo, representa,


de acordo com João Henrique da Rocha Fragoso, um conjunto de prerrogativas, vejamos:

O conteúdo do Direito Autoral encontra sua expressão na dupla manifestação


de seus atributos, representados por um conjunto de prerrogativas de
natureza patrimonial e de natureza moral, o que o caracteriza como um
direito sui generis. Os aspectos patrimoniais ou direitos patrimoniais,
interligam-se intimamente com os direitos morais, formando um conjunto de
características em relação à obra como tal e à sua exploração econômica
através de diversas modalidades de utilização – exploração esta que encerra
atributos de disponibilidade pela sua própria natureza econômica; ao
contrário, os direitos morais são indisponíveis, conquanto o vínculo é de
natureza indissolúvel com a personalidade do autor, e destinam-se,
basicamente, à defesa desta. (FRAGOSO, 2009, p. 199) (grifos nossos)

Sendo que os direitos morais do autor são de caráter personalíssimo, deve-se respeitar
seus direitos no que se tange à pessoa, à suas criações e sua criatividade, pois é a partir de uma
linha de raciocínio lógica untada ao espírito do criador que surgem as criações espirituais dos
artistas e autores no âmbito autoral, impedido que o autor sofra danos morais e intelectuais no
que diz respeito aos seus direitos.

A aplicabilidade dos direitos morais do autor no que diz respeito à restauração de obras
de arte independe da extensão dos direitos morais e sua aplicabilidade, pois muitas vezes o autor
não pode opor-se à sua modificação, pois ela é realizada por questões de conservação de
patrimônio histórico, já, a modificação de obra é alterá-la mas manter a mesma essência.

É o que nos ensina ASCENSÃO (1980, p. 180) “A modificação não arreda a obra
primitiva. Antes, representa como que acrescentar à obra primitiva outra obra, cuja essência
criadora é, todavia, idêntica, e que vai, portanto ser sujeita pela ordem jurídica a um regime
similar ao da primeira.” Este direito consiste no direito de fazer, conforme João Henrique da
Rocha Fragoso doutrina:

Consiste em operações tais como o direito de fazer, impedir ou autorizar


terceiros a fazer adições, abreviações, supressões, correções etc. as quais,
entretanto, não alteram a sua estrutura íntima, a sua composição. A
modificação diz respeito à qualidade, dirige-se para o “modo de expressão”
da obra, o seu conteúdo – enquanto a transformação, direito patrimonial, diz
respeito à “forma de expressão”. (FRAGOSO, 2009, p. 213) (grifos nossos)

Confere ao autor o direito de modificação da obra, seja a modificação realizada antes


ou depois de “utilizada”, mas, não são conferidos à terceiros o direito de modificação. Desta
forma, quando a modificação da obra não infere sua essência e personalidade, as técnicas
modernas podem ser utilizadas para que sua conservação seja possível, entretanto, como dispõe
58

ASCENÇÃO (1997, p. 150) “[...] Se a obra não for prejudicada e a personalidade não for
afetada já as modificações não estão vetadas.” (grifos nossos)

Desta forma, o direito de modificação, tem apenas uma base ética, no que se diz respeito
à integridade da obra, sendo que o atual estado da obra não é imposto ao autor, sendo que o
mesmo pode realizar modificações nela e também pode autorizar que terceiro faça modificações
em suas obras, sem que seus direitos personalíssimos sejam infringidos.

Ademais, sabe-se que o direito autoral nos apresenta de diversas maneiras suas
naturezas, sendo elas pertencentes ao Autor, no que se diz respeito aos direitos morais e direitos
patrimoniais, sobre si e suas criações de espírito (obras). Sendo assim, a partir do momento em
que a legislação brasileira trata do tema “direitos autorais” entende-se que são mais de um. De
acordo com (HAMMES, 1998, p. 59) são três: De personalidade, de nominação e de exploração,
vejamos:

Esses três direitos podem ser negociados separadamente. As legislações que


se orientam pela escola unitária falam de um único direito de autor, do qual
irradiam diversas prerrogativas. Qualquer que seja a escola, o direito de
autor apresenta ao menos dois aspectos distintos: o direito moral e o
direito patrimonial, bem como as suas limitações. (HAMMES, 1998, P. 60)

Quando falamos em violação dos direitos autorais, diversas consequências podem ser
sanadas através da legislação brasileira, seja através de sansões cíveis, penais suspensões,
retificações, retirada de obras de circulação/mercado, prescrição, proibições e até mesmo
responsabilizações solidárias. Entretanto, quando trata-se de direito moral autoral no que se diz
respeito à sua violação no restauro de obras os prejuízos, nem sempre, podem ser reparados
juridicamente, desta forma, deve-se buscar critérios para a solução de conflitos.

2.3 Caso prático de violação dos direitos morais do autor

Corriqueiramente infringem-se os direitos morais autorais, podendo aqui, serem citados


diversos casos dos quais ocorreram violações, sendo eles nacionais e internacionais, tratando-
se de obras de cunho artístico, literário, plástico e até mesmo musical. Entretanto, neste
momento, basta atentar-se a um único caso de violação em específico para que se satisfaça o
bel-prazer do entrosamento do conteúdo ora apresentado.

Vamos partir do princípio, relembrando que uma obra, para ter seus direitos tutelados,
deve ser uma criação de espírito exclusiva, não deixando de lado, o fato de que a capacidade
criativa do homem é limitada, fazendo com que torne-se importante a distinção entre criação,
59

imitação e exclusividade. E é á luz dos conhecimentos de José de Oliveira Ascensão que


simplifica-se:

O homem, à semelhança de Deus, cria. A criação literária e artística recebe


a tutela do Direito de Autor. [...] O homem, à semelhança do animal, imita.
Como a capacidade criativa é limitada, a cultura de consumo vive em grande
parte da imitação. [...] Deste modo, se visa compensar o autor pelo
contributo criativo trazido à sociedade. Por isso esta aceita o ônus que
representa a imposição do exclusivo. (ASCENSÃO, 1997, p. 03) (grifos
nossos)

Mensurando a compensação que o autor recebe por todos os atributos sociais e criativos
que, com a obra, são trazidos a sociedade, desta forma, junto com essa “reciprocidade” vem a
proteção de seus direitos. Sejam eles patrimoniais, e também os direitos morais, conhecidos
como os direitos não patrimoniais, quais tratam-se do dano em matéria autoral.

Os danos podem ser não patrimoniais ou patrimoniais. Aplicando a orientação


que cremos ser a correspondente ao conjunto da ordem jurídica brasileira,
aceitamos como genérica a possibilidade de indenização de danos não
patrimoniais – os habitualmente chamados danos morais. [...] De uma
violação de um direito de utilização pode resultar para o autor grave dano
não patrimonial. Cabe ao autor, nos termos gerais, fazer a demonstração
desse dano. (ASCENSÃO, 1997, p. 544) (grifos nossos)

A restauração de obras de arte tem ganhado grande importância no cenário internacional


e também no cenário nacional, pode-se citar diversas restaurações que foram fracassadas,
ademais, uma das mais conhecidas, a restauração que fracassou e viralizou, foi motivo de
grande chacota na internet, e repercussão no mundo todo. Esta, é a restauração de uma obra de
Elías García Martinez, cujo nome é Ecce Homo22 (1930), ocorrida na cidade de Borja, na
Espanha, no ano de 2012, conforme imagem abaixo.

22
Do latim, “eis o homem”.
60

Figura 5 – Ecce Homo, um restauro desastroso.

Ecce Homo, na primeira imagem, a obra de arte original, na segunda, deteriorado pela passagem do
tempo e na terceira, após a restauração. (Fonte: G1/Foto: AFP)

Direitos que aqui foram violados, podem ser destacados como: Direito à integridade da
obra23, por terem sido feitas algumas alterações na originalidade da mesma e o direito à
modificação24, qual diz respeito a infração cometida pela restauradora ao intervir na obra e fazer
com que ela deixe de tornar-se original.

A obra supracitada, fica exposta no Santuário de Nossa Senhora das Mercês, este é um
dos exemplos que podemos citar de restauro realizado de maneira amadora, ainda assim, as
intenções da senhora, octogenária, que se prontificou a “restaurar” a Ecce Homo, por mais bem-
intencionadas que possam ter sido, a reação que sua restauração causou no âmbito dos direitos
morais do autor é bastante questionável.

Novamente na Espanha, uma obra do século XVI é restaurada desastrosamente em


2018. A escultura de São Jorge, considerada como “ex líbris”25 da igreja de São Miguel,
localizada na cidade de Estella, província de Navarra, feita em madeira fora restaurada por um

23
Art. 92. Aos intérpretes cabem os direitos morais de integridade e paternidade de suas interpretações, inclusive
depois da cessão dos direitos patrimoniais, sem prejuízo da redução, compactação, edição ou dublagem da obra
de que tenham participado, sob a responsabilidade do produtor, que não poderá desfigurar a interpretação do
artista. (BRASIL, 1998, s/p)
24
Art. 24. São direitos morais do autor: [...] IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua
reputação ou honra; [...] (BRASIL, 1998, s/p)
25
Do latim, “dos livros de”.
61

artesão local, o qual utilizou de material inapropriado para restaurar a obra. O objetivo da
restauração, segundo os representantes do Arcebispo26, era limpar o que se parecia sujo. Ainda,
aqui também destaca-se a violação dos primordiais direitos correlacionados à integridade e
moral da obra, direito à integridade e modificação. Vejamos então, o resultado de uma
restauração de obra de arte plástica amadora.

Figura 6 – Escultura de São Jorge da Igreja de São Miguel em Estella.

Escultura de São Jorge, em madeira, à esquerda antes da restauração e à direita, depois. (Fonte: BBC)

E pela terceira vez, na Espanha, também no ano de 2018, um restauro amador realizado
por María Luisa Menéndez, em Rañadorio, nas Astúrias, foi alvo de críticas. A escultura,
também feita em madeira, a qual representava a imagem de Maria e de Jesus, foi “repintada”
pela paroquiana María, com a autorização do padre da igreja detentora da imagem. Ainda, a
paroquiana se defende, dizendo a um jornalista do El Comercio que "Yo no soy una pintora
profesional, pero siempre me gustó, y las imágenes tenían mucha falta de pintarse. Así que las
pinté como pude, con los colores que me parecieron, y a los vecinos les gustó. Pregunta en el
pueblo y verás." 27.

26
BBC. Restauração amadora de obra de arte histórica causa revolta na Espanha - de novo. Disponível em
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44618307>. Acesso em 22 de maio de 2019.
27
EL COMERCIO. La autora del 'Ecce Homo' de Rañadorio: Tenían mucha falta de pintarse.
<https://www.elcomercio.es/asturias/ecce-homo-ranadoiro-tineo-20180907035407-nt.html>. Acesso em 22 de
maio de 2019.
62

Vejamos o resultado da intervenção amadora realizada, onde pode-se observar a


violação dos direitos de autor, e sua moralidade, no que se verifica correlacionado à integridade
e modificação da obra de arte plástica:

Figura 7 – Imagem de Maria e Jesus

A imagem esculpida em madeira antes e depois da intervenção feita por María Luisa Menéndez.
(Fonte: El Comercio)

Ocorre que, esta obra já havia sido restaurada uma vez, em 2003, intervenção realizada
por Luis Suárez Saro, o qual, também em entrevista ao jornal El Comercio, discorre que a
amadora não utilizou sequer alguma técnica de restauração e que o material utilizado por ela
era uma espécie de tinta industrial, não recomendada para aquele tipo de escultura, disse
também que “ni la técnica ni los colores tienen nada que ver con los originales”.

É importante destacar que, no ato de intervenção de obras de arte plástica, deve-se


reconhecer os materiais que podem ser utilizados em cada caso para que não ocorram prejuízos
ainda maiores à criação do autor originário. Por isso se faz importante a equiparação de limites
técnicos, para que, ao momento da realização de uma restauração o profissional possa atentar-
se a níveis preventivos, curativos e estéticos da obra, evitando todo e qualquer prejuízo.

Aldrabar uma obra consiste na remoção de qualquer característica original que faça com
que ela perca sua essência, um exemplo claro disto, é a restauração realizada na cidade de
Sudbury, em Ontario, no Canadá, no ano de 2015, pela artista plástica amadora Heather Wise,
63

de forma voluntária para a paróquia da cidade. A obra que fora restaurada fica localizada no
cemitério da igreja de Sainte-Anne des Pins e trata-se de uma escultura de Virgem Maria e
Menino Jesus e esta também teve seus direitos morais de integridade de modificação violados.

Figura 8 – Virgem Maria e Menino Jesus

Escultura original de Virgem Maria e Menino Jesus à esquerda, e a intervenção realizada por
Heather Wise à direita. (Fonte: Incrível).

Conforme observa-se, a intervenção restou desastrosa, motivo pela qual a mesma fora
considerada temporária. Tal insucesso restou marcado, preliminarmente pelo o material
utilizado pela restauradora, pois apresentava cor diversa da original, a qual deixava evidente a
intervenção, fazendo com que suas características originais fossem perdidas.

No ato de qualquer restauração, alguns princípios devem ser cautelosamente


observados, neste caso, o que deveria ter ser sido observado pela restauradora amadora seriam
os limites pela mínima intervenção do autor, assim como, ser cautelosa com a seleção de
materiais que seriam utilizados para firmar o restauro e por fim, valer-se de técnica profissional
para executar o trabalho, tendo em vista que, trata-se de patrimônio histórico daquela
comunidade.

Ainda podemos observar que a restauração realizada por Heather Wise teve uma
repercussão gigantesca, a qual fora comparada com uma das obras em vidro de Joseph
Cavalieri, na qual ele retrata a imagem de Maggie Simpson em ato de iluminação, marcada por
64

algumas ressurreições/reencarnações no qual o ato se passa em templo religioso retratado, o


nome da obra de Joseph é “The Reincarnation of Maggie”, vejamos a comparação.

Figura 9 – Restauração de Heather Wise e obra em vidro de Joseph Cavalieri

A restauração realizada pela canadense à esquerda e Maggie Simpson retratada em vidro, por Joseph
Cavalieri (Fonte: BBC)

Esses são alguns dos diversos casos de violação de direitos que ocorrem na esfera
autoral, sendo eles os mais conhecidos internacionalmente, pois tiveram grande repercussão,
desta forma, não poderiam ser deixados de lado. Ao observar as obras acima apresentadas, em
cada uma delas podemos perceber que a analise primordial de caso, pelos restauradores não
fora realizada. Desta forma, fica claro em que os limites de intervenção, pelos restauradores,
eram desconhecidos. E casos práticos ocorrem toda hora, conforme já observados. Agora,
atenta-se o presente estudo ao julgamento de litígios, dos quais versam sobre o direito à
integridade da obra de arte plástica, onde podemos analisar o caso de Ângelo Roberto (1938-
2018) em face do Instituto Baiano De Metrologia E Qualidade (IBAMETRO) e do Estado da
Bahia.

2.3.1 O caso violação dos direitos morais do artista plástico Ângelo Roberto em face do
IBAMETRO e do Estado da Bahia

Ângelo Roberto é um artista baiano, e no ano de 1976 fora celebrou contrato para a
criação de um mural na entrada da instituição do IPEMBA, foram seis meses de trabalho até
que sua criação intelectual fosse conclusa, o mural fora extremamente elogiado pelo público e
65

pela imprensa à época dos fatos. Ocorre que, meados aos anos 2000, a obra do artista plástico
havia sofrido uma restauração sem sua autorização, a qual fez com que sua assinatura fosse
coberta pelas intervenções.

O IBAMETRO (autarquia que sucedeu o antigo IPEMBA) fora notificado pelo artista,
primeiramente, de maneira extrajudicial e não alcançou esclarecimento algum, fazendo com
que ingressasse judicialmente contra a instituição em abril de 2000, ajuizando a Ação
Indenizatória sob o n.º 140.00.748692-5, o Estado da Bahia sustentou sua defesa no artigo 111
da lei n.º 8.666/199328, a qual mantém a tese de que os direitos patrimoniais do autor, quando
contratado pela administração pública, são cedidos.

Ocorre que, se observarmos a Lei dos Direitos Autorais, n.º 9.610/1998, no artigo 2729,
está disposto que os direitos morais do autor, além de serem irrenunciáveis, são inalienáveis.
Desta forma, entende-se que os direitos morais do autor têm natureza jurídica híbrida com os
direitos patrimoniais do autor, e não podem ser cedidos desta maneira. Assim, apresentou-se a
réplica da contestação e um perito, pelo juiz, foi nomeado. José Dirson Argolo, professor de
restauração da Escola Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, foi o perito nomeado e
comprovou-se que o mural havia sofrido alterações.

Ainda, uma testemunha que foi arrolada no processo judicial pelo IBAMETRO, Sr.
Benjamim de Albuquerque Silva, prestou depoimento junto ao juiz e disse, às folhas 252 dos
autos de n.º 140.00.748692-5 que “[...] os serviços referidos foram prestados pelos executores
da pintura geral”. Desta forma, verifica-se que, o IBAMETRO realizou uma restauração, sem
se quer saber nas suas consequências jurídicas. Por fim, não fora possível ter acesso à sentença
prolatada, tendo em vista de que trata-se de processo físico, julgado no Tribunal de Justiça do
Estado da Bahia, fora de difícil acesso todas as informações colhidas, tendo em vista que trata-
se de um processo antigo, o qual ocorreu no ano de 2000. Mas pode-se fazer prévia analise dos
direitos morais que aqui foram violados.

Como já sabido, a legislação brasileira ampara os direitos morais do autor como sendo
inalienáveis e irrenunciáveis30, ou seja, o criador da obra de espírito a tem como uma forma de

28
Art. 111. A Administração só poderá contratar, pagar, premiar ou receber projeto ou serviço técnico
especializado desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele relativos e a Administração possa utilizá-lo
de acordo com o previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para sua elaboração. (BRASIL, 1998, s/p)
29
Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis. (BRASIL, 1998, s/p)
30
Art. 24. São direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II - o de ter seu
nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua
66

paternidade, não podendo reivindicar desses direitos. Destarte, a violação dos direitos morais
ocorrida no caso do artista plástico Ângelo Roberto em face do IBAMETRO são as seguintes:

Direito à integridade da obra: O direito à integridade da obra de arte plástica diz


respeito tão somente às modificações, quaisquer que sejam feitas na obra e tenham violado sua
integridade, sua originalidade. No caso em concreto, este direito fora violado porque, sem aviso
algum, a obra do criador fora restaurada sem que fossem observados quaisquer qualidades
técnicas e materiais que poderiam ser utilizados, o que trouxe ao autor prejuízos a integridade
da sua obra e à sua honra como criador de espírito.

Direito à modificação: Direito exclusivo do autor de modificar sua obra, não cabendo
a outro modifica-la e sim, conserva-la ou restaura-la. Ou seja, entende-se que qualquer
modificação realizada numa obra fere a integridade dela e o direito moral do autor. No caso em
tela, a assinatura do artista plástico fora coberta por tinta, o que fez com que sua obra perdesse
a originalidade, pois toda e qualquer restauração não pode ser seguida de uma criação. Somente
quem cria é o autor.

Da mesma forma, podemos nos indagar sobre diversas outras violações que podem
ocorrer em casos como este e como os apresentados anteriormente. Ocorre que, os casos
práticos nos atentam também às falhas existentes na legislação, seja ela nacional ou
internacional, pois com relação à restauração de obras de arte, a lei não preceitua e não impõe
limites que devem ser observados e posteriormente cumpridos pelos profissionais
restauradores. Por mais apto que esteja à desenvolver esse tipo de trabalho, um amador ou um
profissional, seja de restauração ou conservação (por mais distintos que sejam, tem uma
vertente em comum: o resultado), deve ter, para si, e para os outros, uma corda guia.

Tal corda, refere-se aos limites de prevenção, os quais não estão, atualmente, elencados
em legislação, seja ela nacional ou internacional, tornando-se uma espécie de acompanhamento,

obra; III - o de conservar a obra inédita; IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua
reputação ou honra; V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada; VI - o de retirar de circulação a obra
ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta
à sua reputação e imagem; VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre
legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou
audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em
todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado. § 1º Por morte do autor,
transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I a IV. § 2º Compete ao Estado a defesa
da integridade e autoria da obra caída em domínio público. § 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as
prévias indenizações a terceiros, quando couberem. (BRASIL, 1998, s/p)
67

na qual o restaurador pode valer-se de tais critérios para restauração, conservação e


posteriormente resolução de conflitos. Desta forma, apresentar-se-á critérios de solução de
conflitos pré-existentes no orbe da restauração de obras e o direito autoral baseados no estudo
aqui realizado.

2.4 Critérios de solução

Quando apresenta-se critérios de solução para conflitos pré-existentes, deve-se focar, de


maneira mais proveitosa possível, em casos concretos e procurar entender o que ocorre na
sociedade, para então fazer com que os critérios apresentados sejam suficientes, para solucionar
todas as divergências, que, por venturam sejam encontradas. Aos olhos do autor de “El conflicto
entre el derecho moral del autor plástico y el derecho de propiedad sobre la obra”, Juan José
Marín López, extrair dos conflitos os critérios de solução é a maneira mais proveitosa de se
apresentar novas soluções para problemas autorais.

Vejamos o que ele nos diz:

Mi opinión es que resulta mucho más provechoso examinar las decisiones


judiciales recaídas sobre la materia para, a partir de ellas, tratar de extraer
algunos criterios que puedan servir de orientación para la solución de los
conflictos entre el derecho moral del autor y el derecho de propiedad sobre el
suporte. (MARÍN LÓPEZ, 2006, p. 155)

Pois bem, o direito autoral brasileiro tem mostrando-se ineficaz na resolução de


conflitos no que dizem respeito à restauração de obras de arte de cunho plástico realizadas por
terceiro. Tendo em vista que não há sequer, na lei, limites que devem ser seguidos, apresentar-
se-á, aqui, alguns critérios, baseados na pesquisa realizada, para que os litígios que ocorrem na
seara de restauração e conservação de obras de arte plástica sejam solucionados.

Ainda, o criador de espírito, conta com o amparo constitucional, civil e penal no que se
refere aos seus direitos. Já no que tange a esfera autoral de suas criações intelectuais, quando
postas à restauração ou conservação, não encontra-se muito amparo nas legislações especificas,
entretanto, pode-se observar alguns critérios para que a mínima intervenção, em uma obra de
arte plástica, seja aplicada, visando que toda e qualquer característica de uma obra jamais seja
violada.

Também se faz importante destacar as diferenças entre restauro de obras de arte plástica
e conservação de obras de arte plástica. A primeira, trata-se de analisar todas as características
da obra, verificar quais os aspectos originais que perderam-se e então aplicar técnicas efetivas
68

para realizar o seu reparo e trazer, novamente, originalidade à obra sem interferir na criação
original da mesma. A segunda, a conservação de obras de arte plástica, diz respeito à prevenção
de danos que uma obra pode obter, a conservação de uma obra de arte diz respeito às maneiras
em que ela é armazenada em determinados locais, a maneira e as técnicas que são empregadas
para sua limpeza. Nesta seara, o arquiteto e restaurador Camillo Boito, é breve em nos dizer
que:

Mas, uma coisa é conservar, outra é restaurar, ou melhor, com muita


frequência uma é o contrário da outra; e o meu discurso é dirigido não aos
conservadores, mas, sim, aos restauradores, homens quase sempre supérfluos
e perigosos. (BOITO, 2008, p. 37)

Sabendo disso, parte-se do pressuposto de que é necessário sim aproximar a legislação


brasileira da perfeição. Aprimorar o conjunto de leis que regem sobre a matéria supracitada e
que, ao alcançar este aperfeiçoamento, tenhamos certeza de que toda e qualquer criação de
espírito estará amparada pela regra (qual fora submetida à compreensão de cunho analítico
através de profundo estudo dos conflitos pré-existentes), qual torna-se unicamente numerosa a
natureza de solvência da lide.

Nesse sentido, abusando da sensatez, Cesare Brandi, em sua obra “Teoria da


Restauração”, em nota à Carta de Restauração de 197231, nos elucida com seus conhecimentos
deveras paradoxais. Vejamos:

A falta de aperfeiçoamento jurídico dessa regulamentação de restauro não


tardou a se revelar deletéria, seja pelo estado de impotência em que nos
deixava diante dos arbítrios do passado também no campo da restauração (e
sobretudo de estripações e alterações de ambientes antigos) seja, na seqüência
das destruições bélicas, quando um compreensível mas nem por isso menos
repreensível, sentimentalismo defronte aos monumentos danificados ou
destruídos, forçou a mão de modo a reconduzir a repristinações e a
reconstruções sem as precauções nem restrições que tinham sido o mérito da
ação italiana de restauro. (BRANDI, 2005, p. 227)

Destarte, entende-se que se faz necessária a adequação de critérios na legislação autoral


que movam fronteiras de prevenção no que se diz respeito à restauração de obras de arte
plástica. Por isso, traz-se à tona, novamente, os limites na pesquisa já abordados, os quais se
fazem de suma importância para uma intervenção. Sendo eles, os limites pela mínima

31
MIP - GOVERNO DA ITÁLIA, Carta do Restauro, 1972. CARTA DO RESTAURO 1972, MINISTÉRIO
DE INSTRUÇÃO PÚBLICA GOVERNO DA ITÁLIA, CIRCULAR Nº 117 DE 6 DE ABRIL DE 1972.
Cadernos de Sociomuseologia, [S.l.], v. 15, n. 15, june 2009. ISSN 1646-3714. Disponível em:
<http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/337>. Acesso em: 31 de maio de
2019.
69

intervenção, pela documentação exaustiva, pela fidelidade histórica e também pela


reversibilidade. Estes quesitos tornam-se extremamente importantes e devem ser retomados
para que se evite julgamentos arbitrários e contraditórios nos futuros litígios.

No que tange a reavaliação dos critérios, entende-se que, os limites pela documentação
exaustiva são um dos principais, e orienta-se que seja o primeiro critério a ser observado em
um ato de restauração ou conservação de obras de arte. Isso parte-se da investigativa de que,
quando sabemos quais os materiais que podem ser utilizados em determinadas obras de arte,
quais técnicas são ideais a serem utilizadas no restauro/conservação.

E que, quando realiza-se uma intervenção, todos os atos devem estar dispostos em ata,
as chances de dano caem para um número considerável. É de suma importância que seja
respeitada a documentação, relatórios e analises para que, no futuro, um próximo conservador
ou restaurador não utilize de materiais que tenham reagentes lesivos à obra, não utilize de
técnicas não condizentes ao trabalho e também tenha ciência das intervenções que, naquela obra
já foram realizadas.

Os limites pela mínima intervenção procedem na mesma linha cautelar, no que se diz
respeito à restauração, reparação e até mesmo conservação de uma obra de arte. Trata-se de
intervir numa obra de arte de maneira reduzida, somente se faz as intervenções necessárias na
obra. Neste contexto, podemos trazer como exemplo a restauração da escultura de madeira
realizada por María Luisa Menéndez. Se por ventura, à época dos fatos, limites de prevenção
fossem respeitados, e um desses limites fosse o critério de mínima intervenção, a imagem de
Maria e de Jesus, esculpida em madeira, jamais teria resultado desastroso.

O modo pelo qual a escultura de madeira somente precisava de reparos no sentido de


conservação, e não restauração, tendo em vista que a escultura só apresentava “sujeira” em sua
estrutura, nenhuma outra avaria. Destarte, se o limite de mínima intervenção fosse utilizado
pela restauradora no ato da intervenção, a restauração não seria considerada como desastrosa,
tendo em vista que seria observada a não necessidade de restauração, e sim de apenas uma
limpeza/conservação. Por isso, se faz importante esclarecer que o critério de mínima
intervenção é um forte agente na prevenção de danos numa interferência de obras de arte.

Tratando-se de fidelidade, os critérios que na pesquisa foram abordados tratam-se de


condições indispensáveis para que a obra não perca a sua originalidade. O tempo, muitas vezes
é considerado o vilão das belas artes, entretanto, é tão esbelto o que ele faz com as obras que
70

essa condição passa a ser parte dela. E quando restaurada, essa condição de tempo não deve ser
perdida. O que pouco se viu nos exemplos que foram acima apresentados.

Ademais, como poderíamos apreciar uma obra datada de 1.500, a qual o tempo já faz
parte de sua originalidade, se, após uma intervenção, essa característica se perdesse?
Decepcionados estaríamos, pois os questionamentos sobre o tempo da obra fariam com que ela
se perdesse em uma das principais características que adquiriu ao decorrer dos anos, a fidelidade
histórica da mesma, fazendo com que suas características intrínsecas desapareçam e ocorra
dano moral de modificação no ato do restauro.

E por fim, o último limite abordado na pesquisa, pela reversibilidade, a qual traz à tona
a importância da reversão, as quais tem como objetivo prevenir que as técnicas e materiais
utilizados na restauração ou conservação da obra de arte não venham a inferir a originalidade
da obra de maneira definitiva.

Pois bem. Já foram trazidos à essa pesquisa alguns casos concretos e alguns critérios de
prevenção de conflitos. Ocorre que, em face da escassez de dispositivos legais na legislação
brasileira, das quais tratam sobre o direito moral do autor e a integridade da obra de arte plástica
para reparar o dano que pode ser sofrido, se faz necessário o estabelecimento de normas,
critérios e limites na legislação brasileira, para que se evite julgamentos arbitrários e
contraditórios nas lides.

O Ex-Ministro, Gilberto Gil diz que:

Passados dez anos da última alteração da Lei Autoral brasileira, é hora de a


sociedade pensar se é necessária uma atualização. São muitas as insatisfações
com o atual modelo, a começar pelos autores, que não se sentem inteiramente
protegidos, nem bem remunerados. E acrescentemos o desafio dos novos
modelos de negócios em base digital e, também, o aprofundamento da
democracia e o desejo dos brasileiros de acessar a cultura, como parte de sua
formação humana integral. Hoje, a lei é anacrônica para atender, de forma
equilibrada, tantos autores como consumidores e cidadãos. A simples
reprodução de um arquivo musical para um tocador de MP3 contraria nossa
legislação autoral, que não diferencia cópia privada de cópia com fins de
pirataria. Tantos autores como consumidores concordariam que esta é forma
relevante de circular cultura e remunerar artistas. (Ex-Ministro Gilberto Gil,
2007).

Desta forma, se é primordial saber que a inexistência de critérios, prejudica, de maneira


direta o autor e sua criação de espírito, por isso, se fazem necessárias a inserções de regras
preventivas e limitantes na totalidade de direitos regulamentados pelo estado, pelo motivo
71

primordial de que o julgador em eventual lide, julgue de maneira arbitrária, parcial e


contraditória quando ocorrem diversos casos similares. Assim, sendo indispensável tais
critérios.

Sendo o direito moral à integridade da obra algo ilimitado e inesgotável,


ponderadamente deve verificar-se se o interesse jurídico superior é suficiente para atender as
demandas de falha na legislação autoral no que se discorre sobre a integridade de obras de
cunho plástico. À vista disso, é possível sim que uma obra de arte seja protegida, basta, inserir
em lei as complementações necessárias. Toda e qualquer criação de espírito parte de projeções
de personalidade do criador, todos são considerados espíritos criativos, assim sendo, nada mais
justo que a integridade de sua obra e seu direito moral seja postulado como valorizado e
amparado.
72

CONCLUSÃO

A presente pesquisa monográfica sobre direitos de propriedade intelectual de cunho


autoral no que se refere à restauração de obras de arte plástica por terceiro apresentou por
objetivo inicial a problemática de buscar respostas sobre o conflito pré-existente que diz
respeito às criações de espírito e o direito moral do criador quando sua obra é posta à
intervenção que é realizada por terceiro diverso. Destarte, buscou-se sanar toda e qualquer
dúvida no que acarreta a relevância social da pesquisa para a comunidade artística. Buscou-se
apresentar critérios de solução para que os conflitos não se repitam e que a lide seja julgada de
maneira técnica e autodidata.

Ao passo em que a pesquisa fora se desenvolvendo, diversos obstáculos foram


encontrados com relação à legislação brasileira, que demonstrou-se ser escassa, no quesito
autoral. A legislação, ainda, mostrou-se ser extremamente ultrapassada, tendo em vista que não
possui atualização alguma a mais de dez anos. A dificuldade fora identificada logo no primeiro
capítulo do trabalho aqui desenvolvido, onde pudemos verificar a evolução do direito no mundo
e como ele estendeu-se até o Brasil, fazendo com que aqui, fosse aprovada a Lei dos Direitos
Autorais para que as criações de espírito do artista, então brasileiro, pudesse ser amparada.

Verificou-se que, ainda no primeiro capítulo, a legislação não era suficiente para acatar
as medidas que desenvolviam-se na orbe artística, pois esta, sempre foi e sempre será uma área
que possui um crescimento rápido e vasto, tendo em vista que não trata-se apenas de arte, e sim
de história, cultura e muitas vezes, lazer. Posto isto, fora analisada a legislação e também os
aspectos gerais que regem os princípios do direito autoral, como sendo a sua evolução histórica,
em ambos os âmbitos (nacional e internacional), as manifestações em que se subdividem as
ramificações do direito autoral e seus sistemas de tutela, de maneira sistemática mas profunda.

Assim sendo, conclui-se que, o primeiro capitulo que fora abordado nesta monografia é
de caráter técnico e de profundo estudo analítico, pois nos ensina sobre a história, os marcos
iniciais e mais importantes da história do direito autoral no mundo. Pode ser considerado como
uma específica introdução de normas e conhecimentos tangíveis ao direito autoral e suas
preposições de lei. Destarte, percebe-se que todo e qualquer direito correlacionado à criação de
espírito está previsto na Lei dos Direitos Autorais, e que ela, encarecidamente, merece
prosperar.
73

Opusera-se então, a classificação do segundo capítulo desta monografia, a qual aborda


sobre os temas mais dificultosos para a elaboração desta pesquisa, tendo em vista que os dados
coletados pouco eram provenientes de legislação esparsa. Quando tratamos sobre o tema
descrito nesta pesquisa, se faz importante a lembrança do termo intervenção. Pois, o capitulo
trata-se exclusivamente da interferência de um artista em uma obra que não seja de sua autoria.

Inicia-se então, o estudo partindo do pressuposto de o que é uma intervenção e como ela
procede-se. Visto isso, descobriu-se que esta interferência ocorre somente quando alguma lesão
na obra de arte plástica é detectada. Pois, de nada adianta intervir numa obra da qual seu estado
seja perfeito. Logo então, que os conflitos passam a surgir, pois, nem sempre uma obra é tratada
com técnica e profissionalismo, muitas vezes as restaurações de obras de arte são feitas por
pessoas amadoras que se voluntariam a prestar o serviço em prol da igreja ou comunidade.

Destarte, pesquisou-se sobre limites de precaução de intervenção, onde tem-se por


objetivo sanar conflitos existentes nas lides judiciais através de limites técnicos que podem
auxiliar o restaurador no ato da restauração de obras à tomar decisões mais sábias com relação
à intervenção, fazendo com que respeite todas as etapas postuladas. Esses limites, são os
seguintes: limite pela documentação exaustiva, pela mínima intervenção, pela fidelidade
histórica e pela reversibilidade.

Critérios descobertos, resta saber de que maneira eles serão melhores aplicados.
Destarte, buscou-se alguns casos práticos de violação dos direitos morais do autor e da obra no
ato de intervenção, onde foram encontrados quatro casos extremamente absurdos de
restauração. E também, um caso brasileiro, de um artista baiano, o qual teve sua obra restaurada
sem sequer sua autorização. Quando se tem todos os pressupostos lançados, resta buscar a
solução para os conflitos que mostram-se existentes na sociedade como um todo. Então, os
critérios de solução são apresentados, para que, todo e qualquer julgamento de lide possa se
valer de justiça.

Diante do exposto, verifica-se que a legislação é insuficiente e através dos critérios de


solução e limites de intervenção a contribuição acadêmica se fez presente com base nos critérios
e limitações apresentados. Ainda, verificou-se que a falta de critérios julgadores e técnicos
interferem na resolução de conflitos com a lide. Por isso, se faz necessário que sejam criados
limites para a legislação brasileira basear-se, evitando que julgamentos errôneos, arbitrários e
contraditórios se instaurem.
74

Desta forma, concluímos que o objetivo da pesquisa fora alcançado, que os critérios
foram analisados e que sim, a legislação brasileira no que se trata de direito autoral merece ser
reavaliada, critérios de prevenção devem sim ser inseridos em seu texto e os protagonistas da
restauração também devem contribuir de maneira pessoal, deixando de lado a ignorância e
pondo a técnica em primor para que, cada dia que se passa, uma obra a mais esteja amparada e
protegida pela legislação brasileira.
75

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WACHOWICZ, Marcos; SANTOS, Manoel Joaquim Pereira dos. Estudos de Direito de


Autor e a Revisão da Lei de Direitos Autorais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010.
80

ANEXOS
81

ANEXO I
DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, PUBLICAÇÃO DE 19 DE SETEMBRO DE 2013
82
83

APÊNDICES
84

APÊNDICE A
ATESTADO DE AUTENTICIDADE DA MONOGRAFIA
85

UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ - UNOCHAPECÓ


ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS
CURSO DE DIREITO

ATESTADO DE AUTENTICIDADE DA MONOGRAFIA

Eu, LETÍCIA DE CESARO GABRIEL, estudante do Curso de Direito da


Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó, matriculada sob o nº 749503,
declaro ter pleno conhecimento do Regulamento da Monografia, bem como das regras
referentes ao seu desenvolvimento. Atesto que a presente Monografia é de minha autoria, ciente
de que poderei sofrer sanções na esfera administrativa, civil e penal, caso seja comprovado
cópia e/ou aquisição de trabalhos de terceiros, além do prejuízo de medidas de caráter
educacional, como a reprovação no componente curricular Monografia II, o que impedirá a
obtenção do Diploma de Conclusão do Curso de Graduação.

Chapecó (SC), 10 de junho de 2019.

________________________________
Letícia de Cesaro Gabriel
86

APÊNDICE B
TERMO DE SOLICITAÇÃO DE BANCA
87

UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ


ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS
CURSO DE DIREITO

TERMO DE SOLICITAÇÃO DE BANCA

Encaminho à Coordenação do Núcleo de Monografia do Curso de Direito da


Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó, o trabalho monográfico de
conclusão de curso da acadêmica LETÍCIA DE CESARO GABRIEL, cujo título da
monografia é DIREITO AUTORAL E OS LIMITES TÉCNICOS NA PROTEÇÃO DA
INTEGRIDADE DA OBRA DE ARTE PLÁSTICA.

Em relação ao trabalho, considero-a apta a ser submetida à Banca Examinadora, vez que
preenche os requisitos metodológicos e científicos exigidos em trabalhos da espécie. Para tanto,
solicito as providências cabíveis para a realização da defesa regulamentar.

Chapecó (SC), 10 de junho de 2019.

________________________________
Prof.ª Dra. Cristiani Fontanela

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