Você está na página 1de 1

GUERRA, M. M.; ANDRADE, K. S.

O léxico sob perspectiva: contribuições da Lexicologia para o


ensino de línguas. Domínios de Lingu@gem, v. 6, n. 1, p. 226-241, 29 jun. 2012.

Acompanhando a abordagem das autoras, que falam sobre a descontextualização do ensino de


línguas no sistema de ensino brasileiro, vale ressaltar que o processo de aprendizagem encontrado
nas escolas de ensino básico público brasileiro conta com o que chamamos, no Brasil, de Base
Nacional Comum Curricular, a qual divide e sistematiza o aprendizado desde o ensino infantil até o
ensino médio brasileiros. Essa sistematização é aplicada a todas as instituições de ensino básico do
território brasileiro, não podendo as mesmas reduzirem a proposta de aprendizagem com relação ao
que está previsto na BNCC. O texto menciona um tipo de aprendizagem “mecanizado”,
“automático”, “descontextualizado” e o relaciona com os Parâmetros Curriculares Nacionais, que
funcionam, não de forma obrigatória, mas como norteadores do processo de ensino nas escolas
públicas. O grande problema é que não existe coerência entre o que é proposto pela BNCC e o que é
proposto pelo PCN, uma vez que o primeiro faz parte de um dever de todas as instituições de ensino
e a outra uma orientação. Em outras palavras, a BNCC estabelece o que deve conter e o PCN
orienta sobre como se deve fazer. Há uma forte possibilidade de que a crise na ensino-aprendizagem
de línguas tenha relação com essa falta de coerência entre uma proposta e outra, entre a
obrigatoriedade e a orientação. É verídico que as instituições de ensino devam ter autonomia
pedagógica, mas essa suposta autonomia, que deveria funcionar de forma positiva, acaba sendo
utilizada de forma negativa, resultando em um descompromisso com o saber. Outro ponto de grande
importância que vale agregar à reflexão é o que já foi dito pela filósofa brasileira Viviane Mosé, que
demonstrou os aspectos industriais do aprendizado. Todo o nosso sistema de ensino funciona como
uma grande fábrica de automóveis, que mecaniza e padroniza o aprendizado de uma forma
descontextualizada, excluindo o ser social do discente como elemento fundamental ao processo de
aprendizagem. O mais importante nesse sistema obsoleto não é saber quem você é, mas no que esse
sistema quer o tornar. Em um sistema desses, somente a Lexicologia no ensino de línguas, como as
demais ciências humanas.

ALLAN PINHEIRO DAS NEVES

Você também pode gostar