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JOÃO PESSOA- PB
NOVEMBRO de 2011
JULIO HENRIQUE MORETI
João Pessoa- PB
Novembro de 2011
PRÁXIS DA CULTURA NO MST: A EXPERIÊNCIA EM PROCESSO DA
BRIGADA ESTADUAL DE CULTURA DO MST/MS FILH@S DA TERRA
____________________________________________________________
Profº Rafael Litvin Villas Bôas
Orientador
____________________________________________________________
Profº José Jonas Duarte
Leitor
À tod@s que jamais renunciaram os
princípios de lutar, principalmente
nos momentos em que a luta fora
considerada utopia.
Aos que não se vendem e não se
rendem: Egídio Brunetto
À Marizete Borges, pelos difíceis
momentos que passou na prisão,
pela sua pertença ao MST e sua
dignidade.
AGRADECIMENTOS
Introdução ............................................................................................................................ 10
1. A arte no MST como elemento de transformação social …............................................. 13
2. A utopia em Mato Grosso do Sul …................................................................................. 21
3. Filh@s do Utopia, Filh@s da Terra …............................................................................. 29
3.1 Teatro Fórum ….............................................................................................................. 33
3.2 A organicidade do setor de cultura …............................................................................. 35
3.3 A cultura na organicidade …........................................................................................... 37
3.4 A arte de lutar ….............................................................................................................. 44
4. A inserção da Cultura na discussão sobre a estratégia política do MST ........................... 54
4.1 Produção cultural, reprodução da vida …....................................................................... 56
4.2 A arte como mediação na luta de classes ….................................................................... 62
Considerações finais …......................................................................................................... 66
Referências bibliográficas...................................................................................................... 69
Anexo – A Exploração do Trabalho ….................................................................................. 71
Lista de Siglas
INTRODUÇÃO
1
Setor prioridade do MST em que os militantes são responsáveis de fazer trabalho de base para construção de
novos acampamentos, assim como a organização inicial do acampamento.
12
Por mais que se use a palavra cultura para identificar apenas a arte, não se
pode deixar que apenas isto fique por contemplar o significado da palavra. A cultura
é o conjunto da produção humana a partir de sua intervenção na natureza, tudo que
nos é acrescentados após o nascimento, são as transformações e interpretações
das mesmas através do trabalho. Assim a produção da cultura dependerá dos
processos históricos vividos por cada sociedade e de acordo com seu
desenvolvimento em determinada área. Segundo Bogo (O PAPEL DA CULTURA NO
MST, 1999):
15
Assim o MST tem sua produção cultural, desde sua formação em 1984, de
acordo com as relações sociais de produção de seu tempo, de acordo com com o
acúmulo que a humanidade proporcionou até os dias de então. Desde o início vem-
se criando símbolos, canções, poesias, pinturas para fomentar a luta cotidiana nos
acampamentos, assentamentos e mobilizações. As formas de organização nas
marchas, ocupação, a linguagem, o hino, a bandeira, as reuniões, a produção sem
agrotóxicos que respeita a natureza, a luta contra o latifúndio e tudo que o MST fez é
responsável pela sua identidade, o que caracteriza o ser Sem Terra. A arte explicita o
quotidiano do campo, a necessidade de repartir a terra, de trabalhar coletivamente,
assim como o desejo de transformação social. A noção de produção trás
similaridades da herança que reinava na igreja católica a considerar que o MST teve
muita ajuda desta em sua consolidação nos tempos da teologia da libertação.
Também de acordo com as influências regionais a considerar que o MST é uma
organização nacional3. A característica que unia a produção cultural era o conteúdo
de luta para forjar a transformação social. Conforme Tapajós
A produção cultural do MST, segundo Bogo, deve lutar contra o poder das
elites, tomar o capital como uma força social e atuar na formação da consciência
3
Até 2005 o MST estava presente em 22 estados mais o Distrito Federal. Apenas em Roraima, Acre,
Amazonas e no Amapá que o MST não estava organizado, hoje Roraima já conta com presença do MST.
16
Mas a cultura tanto pode emancipar – conduzir para uma sociedade livre do
julgo capitalista - quanto pode alienar, tanto pode fortalecer a luta dos trabalhadores
quanto naturalizar práticas dominantes, segundo Bogo (2008, p. 155) a cultura é um
cultivo de alto risco, que podemos fortalecê-la ou destruí-la a depender do modo
como a enxergamos e como vivemos de acordo com nossos propósitos.
Não basta que se faça parte da luta de classe ao lado do proletariado para
que sua produção esteja a serviço destes, mas que a forma de explicitação do
conteúdo também esteja a serviço dos mesmo propósitos. As formas utilizadas para
encobrir a verdade não podem ser as mesmas formas para apontar a verdade. Mais
para frente Benjamin continua (2008, p. 127) “Brecht foi o primeiro a confrontar o
intelectual com a exigência fundamental: não abastecer o aparelho de produção,
sem o modificar, na medida do possível”. Não é o puro acesso aos meios de
produção que vai resolver os problemas da classe trabalhadora se ela continuar a
produzir como antes. O problema não está na simples troca de quem controla os
meios, mas como estes meios produzem sob o controle do proletariado ou da
burguesia. Não basta que os camponeses tenham acesso à arte que lhes fora
negada historicamente se esta não diferir daquela que os retirava da condição de
produtores, assim o acesso não cumpre com o propósito de mudança de uma arte
em prol das necessidades do proletariado. A pauta deve ser de ocupar os meios de
produção da arte para transformá-la de acordo com as necessidades de
representação da realidade do ponto de vista dos vencidos historicamente.
Considerando
Considerando
Nós avaliamos:
estamos por nossa própria conta
E decidimos:
a verdade dos senhores
será combatida com nossa realidade
livre.” Esta diversão nos foi imposta. As nossas ações fora do serviço estão
condicionadas ao que foi preparado a se consumir: “(…) há motivos para admitir que
a produção regula o consumo tanto na vida material quanto na espiritual, sobretudo
ali onde se aproxima tanto do material como na indústria cultural”. (ADORNO, 1990
p. 41)
A indústria cultural, como o nome já diz, transforma a cultura numa
mercadoria onde o consumidor, acredita estar escolhendo qual produto irá consumir.
Como produz em larga escala – e também a considerar a concentração dos meios
de comunicação no Brasil – acaba por padronizar o consumo e para tal empobrece
o material estético além de criar estratificações de consumo, nos diz a plausibilidade
de consumir de acordo com o nível econômico.
O segundo e terceiro estrofe do poema apontam para o momento de tomada
de consciência sobre o consumo da indústria cultural e sobre a necessidade de
produção para combater a mesma. Benjamin 5 (1985) escreve sobre a importância
de, no momento de produção, ter cuidado para não abastecer o mercado com o que
deveria ser para a classe trabalhadora. Que a obra de arte tem que cumprir uma
função ao proletariado e que sempre deve-se fazer a pergunta à obra: como a obra
se vincula às relações sociais de produção de sua época? Aqui se coloca a grande
questão do Autor como produtor, que o escritor comprometido com a classe
trabalhadora terá sua decisão no campo da luta de classes e que sempre seguirá
uma tendência (o que for útil ao proletariado).
Do ponto de vista gramisciano o artista deve ser um militante orgânico e não
apenas se solidarizar com a causa do proletariado. Deve a luta da classe
trabalhadora estar atenta para o front da arte também. Estar atento é
compreender que não somente o conteúdo da obra de arte é o importante, mas
como o conteúdo é transmitido pela arte (sua forma), que o conteúdo só atua por
causa da forma (CÂNDIDO, 2007) e que a forma é o conteúdo social sedimentado.
… e assim combateremos
pelo nosso ponto de vista
21
Apenas em 1999 que o estado vai contar com uma produção cultural com
expressão maior que antes. Partindo da necessidade de auto sustentação o
acampamento 17 de Abril6, fundado no mesmo ano e contando com 1200 famílias,
6
Homenagem aos companheiros que perderam sua vida na mesma data em 1996 no estado do Pará. 19 Sem
Terras foram assassinados pela polícia militar após um dia de marcha no município de Carajás
22
começa a fazer festas. A direção do acampamento coloca este desafio para a equipe
de animação7. Após uma das festas, o encontro de Garganta e Ademir forjara uma
iniciativa de ação:
O grupo surge para suprir necessidades imediatas e sua produção não podia
escapar do que se aprende no cotidiano. A produção é parte de uma reprodução de
valores da cultura capitalista que nos é imposta pelos meios de comunicação de
massa. Por mais que temas políticos fossem trabalhados, as formas de explicitar os
temas estavam permeadas pela indústria cultural. Isto também tem relação direta
com a pouca formação política dos militantes em seu princípio, mas com a
participação nas atividades da organização e também em cursos de formação do
MST parte desta debilidade fora suprida.
o grupo não tinha integrantes nem o nome Utopia existia, seis meses depois
em uma reunião da coordenação estadual no município de Dourados,
especificamente na vila São Pedro, após apresentação de uma peça na
noite cultural o coordenador do MST Egídio Brunetto, impressionado com o
trabalho se inscreveu pedindo a palavra e disse “nós precisamos discutir a
constituição do setor de cultura”, a ideia foi levada a sério e na escola de
formação que aconteceu no assentamento Vacarias o senhor Marcial Congo
convidou para uma reunião os integrante do setor de animação do
acampamento 17 de abril, a reunião era do setor de comunicação e após
fazer toda exposição do setor de comunicação, ele disse “agora nós vamos
discutir sobre o grupo de teatro nós precisamos dar um nome para este
grupo pelo fato de que as nossas apresentações tem que ir criando
referência” e foram levantadas várias possibilidades e o Utopia foi sugerido
pelo companheiro Marcial, pois o tema que nos tínhamos discutido no dia foi
exatamente a MÍSTICA e o que é UTOPIA. Talvez isso tenha influenciado e
explique o porquê do nome, como a ideia de utopia estava na cabeça de
todos a aprovação foi unânime. (Garganta, Utopia)
24
O grupo ganha unidade maior com o nome obtido, ao mesmo tempo sua
responsabilidade aumenta e toma dimensões estaduais para constituir o setor de
Cultura no estado. A demanda concreta de arrecadar fundos com festas, fazendo
animação para que as pessoas se sentissem bem nas atividades festivas do
acampamento se transformam em outra demanda que a organização tinha:
potencializar sua luta com as possibilidades vigentes e a arte se apresentou como
esta possibilidade no momento em que indivíduos marginalizados da sociedade, em
busca de uma possibilidade de sobrevivência, vão para um acampamento lutar por
um pedaço de chão. Será no acampamento que estes indivíduos poderão realizar
suas potencialidades no que concerne à arte, será no acampamento que outros
indivíduos terão, pela primeira vez em suas vidas, acesso a uma peça de teatro. É
no acampamento, onde se torna visível que a produção artística não está apartada
da realidade, que o artista pode ser aquele e/ou aquela que sempre esteve do outro
lado, mas agora sem palco, onde quem assiste pode opinar sobre a obra que assiste
e mesmo fazer parte do círculo de produção. Com a participação do acampamento
nas lutas promovidas pelo MST (marchas, trabalho voluntário, mobilizações,
ocupações, despejos etc.) os integrantes do grupo vão ao mesmo tempo se
formando enquanto militantes, como dando função nova à ferramenta da arte, com
maior atenção ao teatro. Em análise sobre a produção inicial do grupo, Garganta de
Ouro escreve que:
Com a tarefa dada pela direção para o grupo Utopia assumir o plebiscito
contra a ALCA (representando o MST) o grupo constrói a peça ALCAPETA que se
transformou num marco da produção teatral do MST-MS pela sua repercussão nos
municípios onde passou. Seu alcance na rodada de apresentações foi de 13 mil
alunos e muitos votos contra a implementação da Área de Livre Comércio das
Américas.
A professora Iná Camargo Costa (2005 p.11) comenta a peça quando de sua
publicação num caderno de teatro produzido pela Brigada Nacional de Teatro
Patativa do Assaré com peças de vários grupos de cultura e de teatro de vários
estados onde o MST está organizado:
Ela [a peça ALCAPETA] realiza uma das mais difíceis propostas de Brecht
(refuncionalização de clichês) pela simples operação de colocar o olhar do
MST sobre um dos mais antigos preconceitos da dramaturgia brasileira (e
mundial, pois já existia no teatro grego). Trata-se da figura do caipira, ou do
rústico (na catalogação dos gregos), vítima das pretensões de superioridade
dos citadinos, desde sempre apresentado como mentalmente inferior e por
isso incapaz de falar corretamente ou de entender as convenções da vida
supostamente sofisticada nas cidades. Pois bem, a peça referida apresenta
um tipo que, por falar a língua caipira e ter uma inteligência e um senso de
humor raros, cria uma série prodigiosa de piadas em diálogo com um jovem
que participa do combate à ALCA. Ao final da conversa, em meio a risos que
vão do sorriso à gargalhada, ficamos sabendo do preço que pagaremos se
essa malfadada iniciativa do imperialismo americano prosperar. Mas este é
o objetivo da peça (plano do conteúdo). Seu feito formal foi, ao
refuncionalizar o clichê do caipira, mostrar objetivamente a diferença entre
rir de alguém e rir com alguém. No primeiro caso, o riso é violência e
demonstração da pretensão de superioridade de quem ri; no segundo, caso
desta peça, é a rara experiência da igualdade social no reconhecimento da
inteligência do piadista, capaz de rir até de si mesmo. E isto sem falar na
ampliação dos recursos da língua, disponibilizada pelo reconhecimento dos
direitos estéticos do falar caipira.
se permite é o da arte como anestesia social, em que o teatro serve como comédia
para se esquecer dos problemas e mergulhar em um outro mundo imaginário que
não seja parecido com a dura realidade da divisão social e exploração do trabalho
do homem pelo homem. O professor Marildo Menegat aponta como a cultura não
está separada da sociedade:
Assim como o setor de cultura em Mato Grosso do Sul tem suas ações em
32
Quando o Teatro Fórum era discutido em algumas oficinas entre 2003 e 2004
a criação das intervenções era feita pelas pessoas divididas em núcleos que
construiriam a intervenção após discussão das opressões nas localidades. Em sua
maioria, no MS, as intervenções circulavam em torno do machismo. Outros temas
também apareciam como racismo, preconceito para com o acampado e opressão
cometida por algum dirigente que tentava centralizar as decisões no acampamento
caminhando contra a organicidade do movimento. Garganta escreve que “(…) a
técnica também faz despertar dentro dos indivíduos o preconceito que esta
internalizado.” O teatro fórum ajudou muito a discutirmos os problemas internos no
sentido de enfrentá-los para poder fortalecer e estar preparados para as lutas extra
organização.
10
A companheira Alessandra foi esta militante que cumpriu o exercício de 2004-2005
37
JULHO
ENCONTRO ESTADUAL FRENTE DE MASSA
DATA: 01 A 04 / 07/ 03
LOCAL: CEPEGE- SIDROLÂNDIA
APRESENTAÇÕES: MÍSTICAS, NOITE CULTURAL ACOMPANHADA PELA
BRIGADA ESTADUAL FILHOS DA TERRA.
PÚBLICOS: 100 PESSOAS
FESTIVAL DE BONITO
DATA: 12 A 19/ 07/ 03
LOCAL : BONITO
OFICINAS: PALHAÇO, PERCUSSÃO, MUSICA E POESIA
PARTICIPANTES: BRIGADA FILHOS DA TERRA ( EDSON, PAULA,
PATRÍCIA, MARCELO, JOEL E CRISTIANE )
ENCONTRO DE FORMAÇÃO
DATA:16 A 20/07/03
LOCAL: CEPEGE
APRESENTAÇÕES:MISTICA DE ABERTURA ANIMAÇÃO, DINÂMICAS,
NOITE CULTURAL E ENCERRAMENTO COM O GRUPO ÁGUIAS DA
FRONTEIRA E GRUPO UTOPIA(DA BRIGADA FILHOS DA TERRA)
ENCONTRO REGIONAL
DATA: 21 A 23/ 07/03
LOCAL: PONTA PORÃ
REGIONAL: FRONTEIRA
APRESENTAÇÕES: MÍSTICAS, ANIMAÇÃO, DINÂMICAS E NOITE
CULTURAL COM OS GRUPOS ÁGUIAS DA FRONTEIRA E UTOPIA DA B.
FILHOS DA TERRA.
PEÇAS: A ÁGUIA E A GALINHA E MUSICAS CAIPIRAS(.PÚBLICO: 200
PESSOAS)
ENCONTRO REGIONAL
DATA: 30 A 31/07/ 03
LOCAL: ESCOLA ESTADUAL (DOURADOS)
REGIONAL: CENTRO SUL
APRESENTAÇÕES: MÍSTICAS, NOITE CULTURAL E ANIMAÇÃO COM O
GRUPO MENSAGEIROS DA CULTURA ( B. FILHOS DA TERRA)
As atividades passam a contar com a arte num processo em que esta é parte
da formação proposta pela organização. Com a formação dos demais grupos de
cultura nas regionais fora necessário muito estudo para que estes acompanhassem
o ritmo de trabalho do Utopia – já que passariam a serem solicitados em muitas
atividades da regional em que pertenciam. O crescimento do setor é uma via de mão
dupla no sentido da necessidade de cumprir com a demanda da organização que
cria necessidades de estudo antes não presentes nas atividades culturais.
Águias da Fronteira
42
Janeiro
Oficina no Acampamento Nova Conquista com 50 pessoas de 3 áreas:
Acampamentos João Carneiro e Nova Conquista e do Assentamento
Dorcelina Folador. A oficina teve um caráter político onde foi abordado
vários temas - mística, organicidade do MST, Ideologia da Música e dos
Meios de Comunicação, Teatro, Gênero e Racismo. Os trabalhos produtivos
foram de produção de bonecos e ensaio da Peça "De quando Benedito foi
acampar " com a apresentação para o acampamento no final da oficina.
Teve a participação de um companheiro do Raízes Camponesas e um
casal do Filhos da Cultura que ajudaram a conduzir os trabalhos. Para nós
foi um avanço considerando que a oficina não foi bancada por projeto e sim
com recursos da própria regional. (Arquivo do setor de cultura, 2005 p. 8)
Cabe ressaltar que a construção dos bonecos e o ensaio da peça “De quando
Benedito foi acampar” vem de uma necessidade que a coordenação da regional pôs
ao setor de cultura: ajudar no trabalho de base para que mais um acampamento se
formasse na região. Muitos brasileiros estavam em regiões do Paraguai que
passavam por disputas onde os brasileiros estavam sendo expulsos das terras.
Filh@s da Cultura
Nome: Grupo Cultural Filh@s da Cultura
Data de criação: Fevereiro de 2004
Áreas compostas pelo grupo: Acampamentos Carlos Marighela e Oziel, Pré
assentamento Ernesto Chê Guevara e Assentamento Geraldo Garcia
43
O sistema teatral que uma organização complexa como o MST permite que
internamente se inicie e complete o caminho entre produção e socialização das
obras. Por ser uma atividade de um setor, um grupo, o teatro tem sua criação a partir
de um estudo coletivo sobre o tema desejado e a criação é coletiva. Se fazem várias
versões das peças até onde se julgar necessário. Não existe uma divisão entre os
que pensam as obras e os que encenam, os que encenam participaram e a qualquer
momento estão aptos a modificar a peça de acordo com a necessidade do
44
momento. Isto não impede que uma peça produzida por um grupo de uma regional
seja apresentada por um outro grupo de outra regional ou até mesmo de outros
estados a considerar que existe um círculo de divulgação das produções em nível
nacional pelo Coletivo Nacional de Cultura, mais especificamente pela Brigada
Nacional de Teatro Patativa do Assaré. O público é o Sem Terra acampado ou
assentado, que se vê representado nas peças e sempre está demandando novas
produções.
Militante, (segurando pela camisa) – Para aí, vamos conversar. Está com
medo por quê? Eu sou gente boa.
Benedito – E o boné?
Militante – Que é que tem o meu boné?
Benedito – Não é do “mercetê”?
Militante – Sim, é do MST. Nós estamos convidando pessoas para irem
acampar e adquirir um pedaço de chão pra poder plantar e tirar o seu
próprio sustento.
Benedito – O quê?! Você acha que eu sou algum trouxa?! Vocês acham que
eu não conheço vocês?
Militante – Conhece de onde?!
Benedito – Conheço da televisão, e vocês são bravos né?
(Peça De quando Benedito foi acampar, arquivo setor de cultura MST-MS,
2005)
A peça contém muitas das dúvidas das pessoas que tem medo de ir acampar
por motivo de não terem informações sobre como é um acampamento, por sequer
imaginarem o que é a luta do MST. As cenas antecipam muito do que seria discutido
na reunião do trabalho de base e após a encenação abre-se para uma conversa
sobre ir acampar (baseada na peça de mamulengo).
Em anexo será possível observar que na maioria das peças não encontra-se
o autor. Ademir, um dos fundadores do Utopia escreve como era a construção das
peças: “Eram coletivas porque por mais que alguém criasse por ter mais habilidade,
o conteúdo e a forma eram analisadas pelos demais integrantes do grupo”. Os
debates no coletivo sobre as peças se davam não apenas antes das apresentações,
mas também após apresentações nos espaços internos da organização, pois se a
peça estava a serviço da organização, era plausível que os militantes que não
estavam inseridos no setor de cultura também pudessem opinar sobre a estrutura da
produção artística. A peça Exploração do Trabalho teve várias versões até de sua
publicação em 2007: ela fora criada coletivamente durante oficina estadual de teatro
ministrada pelo grupo “Teatro de Narradores”, de SP, em Mato Grosso do Sul. O
grupo Teatro de Narradores dividiu a plenária em 5 núcleos onde cada um deveria
criar uma intervenção teatral em um espaço de 2 horas. Após a apresentação do
produto o grupo de São Paulo aponta possíveis mudanças para que a peça se
transformasse em uma peça de teatro épico: a primeira versão de Exploração do
Trabalho contava a história de um patrão que explorava seus empregados numa
fábrica qualquer, o diálogo mediava as ações no tempo presente ao passo que a
11
Trajetória de uma estética política do teatro – parte 2, Douglas Estevam, publicado em www.mst.org.br em
09/12/2005
49
Mas patrão, tenho família pra sustentar, não posso perder esse emprego!
PATRÃO
Também tenho família pra sustentar, não posso ter prejuízo em minha
empresa. Fui eu quem fez seus filhos?
CARLOS
Patrão, pelo amor de Deus, não me mande embora!
PATRÃO
Não, Carlos, não adianta, peça quebrada, fora, fora! Aqui não há
reciclagem! Carlos sai. Hoje só temos três minutos de almoço para
compensar a saída de Carlos. Agora... Já acabou, vamos voltar a trabalhar.
Andando em volta dos funcionários. O tempo passa Tem que trabalhar mais
depressa, se quiserem sair mais cedo, vamos, mais depressa. Ao público
Meus empregados entendem a necessidade da empresa, veja que
satisfação. Por que esta cara de tristeza? Poderão até pensar que eu não
lhes trato bem, que eu exploro vocês. Olha, vocês tem trabalho e isso dá
dignidade a uma pessoa ...
Personagens:
Fazendeiro
Capataz
Zumbi
Negros escravizados
Mensageiro
4° VERSÃO – 09/02/2005
(Coletivo nacional de Cultura do MST: São Paulo, 2007 p. 41)
13
Na época era conhecido como grupo do pré-assentamento Gabriela Monteiro
52
O processo de construção das peças por vezes era feito em um único dia e
logo no ensaio iniciavam as primeiras modificações e adaptações a depender do
53
Como o artista nos dias de hoje é considerado uma pessoa fora da realidade,
dotado de capacidades especiais onde sua criação artística está condicionada a se
apartar da sociedade em condições especiais, por vezes se fez necessária uma
disciplina maior para com os militantes da cultura no intuito de se preservarem mais
para obterem o respeito também fora dos momentos de apresentação.
tratamento especial para sua presença e como a população rural fora privada de
uma arte engajada em seu cotidiano, os militantes do Setor de Cultura necessitaram
rabalhar, com maior cuidado a disciplina – além da disciplina necessária ao trabalho
coletivo, que o teatro já proporciona – para que não sejam confundidos com o
padrão de artista que conhecemos pelo senso comum. Tiveram que se transformar
nas palavras da professora Iná Camargo Costa em “militantes-artistas e artistas-
militantes”.
Como a maior parte dos integrantes são jovens e crianças o setor teve que
adaptar suas atividades e ações de acordo com os horários escolares a ponto de
precisar pedir sempre a autorização escolar para que os alunos faltassem alguns
dias para realizarem apresentações em outros municípios, participarem de oficinas
de formação, de encontros e demais atividades do movimento. Como o MST é uma
organização em que as pessoas chegam nos acampamentos em todos os
momentos e também algumas pessoas desistem por motivo de que a tão almejada
terra demora a ser conquistada, a constante inserção de pessoas no setor de cultura
nos acampamentos demandou uma quotidiana formação política e técnica, o que em
muitos momentos impediu de aproveitar o acúmulo teórico e prático do setor para
avançar em algumas ações, pois pessoas novas, sem formação estavam entrando
no setor e o processo tinha que se iniciar do zero novamente.
como algo que pode e deve ser feita por todos e todas.
Por volta do ano de 2005 a 2010 foram assentadas muitas pessoas que
fazem parte do setor de cultura, a participação decaiu muito, principalmente
pela dificuldade de tempo das pessoas, pois agora tem que tomar conta da
terra, e organizar pessoalmente. Outro fator e a distância e o espalhamento,
pois no acampamento todos ficam juntos e assentamento estão longe um
do outro. Há assentamentos que um membro de grupo chegou a ficar quase
20 km de distância um do outro. O que muda são as responsabilidades e
estrutura de organização. Isso se torna desmobilizante para os grupos. Mas
ainda no assentamento as pessoas ficam vinculadas ao setor, participando
de atividades da comunidade do assentamento e quando há atividades
estaduais se reúne um grupo muito grande do Setor de Cultura.
(Alessandra, grupo Utopia)
Walter Benjamin
propusera a Reforma Agrária pelo correio o Utopia faz uma peça criticando esta
decisão e apontando que apenas a luta dos movimentos sociais efetivaria uma
reforma agrária popular. Os anos de Neoliberalismo da década de 1990 em que as
privatizações estavam a todo vapor junto ao processo de minimização do estado
(estado mínimo) veem a música Pátria Livre cantar os valores do campo na
produção na Reforma Agrária para que o país se torne livre do julgo explorativo. A
campanha continental contra a ALCA faz nascer a ALCAPETA com o compromisso
de denunciar os malefícios da implementação da Área de Livre Comércio com um
objetivo específico de obter votos no plebiscito.
O ano de 2003 conta com peças, já não mais apenas do Utopia, mas de todos
os grupos que formam a Brigada estadual de Cultura do MST-MS filh@s da Terra.
Os transgênicos, que no governo Lula foram liberados, começam a ser o grande
investimento dos capitalistas no campo, grandes quantidades de terra com
tecnologia de ponta formam o que conhecemos por agronegócio: as sementes
tradicionais dos povos que lhes garantiam a soberania passam a ser controladas por
empresas multinacionais. Neste contexto, o Grupo Raízes Camponesas constrói a
peça Tramóia, Trapaça e Transgenia, em que conta a história de uma família que
passa a ser afetada por uma plantação de milho transgênico perto de sua roça
tradicional de milho. Explicita-se como os transgênicos influem na vida dos
camponeses e seus reflexos para a alimentação das pessoas na cidade.
Na oficina de criação do grupo Mensageiros da Cultura em 2003, a peça
criada coletivamente - sob orientação do grupo Utopia – foi a MST, Esta luta é Pra
Valer! A peça consiste no trabalho de base para chamar pessoas para acampar em
um acampamento do MST. Na peça se encontram informações de o que é
necessário levar para um acampamento, como é o modo de organização interna. Há
o momento em que para combater o pensamento de que o MST é violento é
encenado um conflito onde um militante morre. O contexto de necessidade de
massificação do MST no estado, faz com que os militantes do Utopia e da regional
Cone sul, inseridos na coordenação estadual, percebam a necessidade de fortalecer
o trabalho de base.
Para combater a falácia da civilidade e do progresso contida na globalização
o grupo Lamarca da Cultura cria a peça As Maravilhas da Bobalização onde a
globalização é apresentada de sua forma mais geradora de desigualdade,
separando ainda mais os países pobres dos ricos, criando um espaço de barbárie
58
14
Toda a semana onde o 7 de setembro se encontra.
60
ações dos personagens. Não há um objetivo de imitar a vida tal qual ela é, mas fazer
comparações a ponto de permitir que o espectador tire suas conclusões; dar uma
imagem crítica da realidade afim de que quem assista a interprete e a transforme.
A peça História do Brasil, para manter o interesse do público sobre o tema
político, usava de canções e poesias. Seu objetivo é extremamente político e para
tal usa dos mais diferenciados artifícios:
CORO:
TERCEIRO MOMENTO
Quero agradecer aqui... Toca o celular Oh! Vibrou, vibrou! Com licença, por
favor. Atende
SENHOR PORTUGAL
A arte não apenas retrata o real como ele supostamente é, ela pode
evidenciar em termos estéticos que o real é uma construção histórica, não
natural, mas política, e pode por isso fazer mais que informar dentro das
fronteiras previstas pelo universo da ideologia, ela pode formar, apontando
para algo que está além do sistema instituído, como uma força
desestabilizadora do real, que sugere a possibilidade paradoxal de
construirmos uma memória do futuro, a partir da releitura do passado, e da
elaboração de uma perspectiva anti-sistêmica decorrente do
reconhecimento estrutural de contradições que se acumularam do passado
ao presente. A arte permite a reorganização da experiência, e de nossa
capacidade de conferir sentido à dinâmica histórica em que estamos
inseridos. (Villas Bôas, 2010)
A quem interessar
Precisássemos agora
De enfrentar o inimigo:
Sairíamos triunfantes
Ou à procura de abrigo?
O momento é obscuro?
Nossa tática tem furos?
Isto não sou eu quem digo!
Considerações Finais
66
15
Exemplo é o curso de formação de militantes do Cone Sul, com pessoas do Brasil, Argentina, Paraguai e
Chile, em que foi realizado no Mato Grosso do Sul as duas primeiras edições do curso de formação
67
regionais.
Referências Bibligráficas
69
COELHO, Teixeira, O que é indústria cultural, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1980
COLETIVO Nacional de Cultura do MST. Caderno das Artes n° 01: Teatro. São
Paulo: MST, 2005.
_____. Teatro e Reforma Agrária: a inserção do Teatro do Oprimido no MST.
Brasília, 2005, mimeo.
_____. O papel das artes. São Paulo, MST, 2005, mimeo.
COSTA, Iná Camargo. A Hora do Teatro Épico no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1996
_____. O Coletivo de Cultura. São Paulo, MST, 2005, mimeo.
ENGELS, Friedrich e Karl Marx, Cultura, Arte e Literatura, São Paulo, Expressão
Popular, 2010.
Anexos
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PEÇA
Exploração do trabalho
Personagens:
Patrão
Funcionári@ 1
Funcionári@ 2
Funcionári@ 3
Funcionári@ 4
Funcionári@ 5
Funcionári@ 6
Peça criada durante oficina estadual de teatro ministrada pelo grupo “Teatro de Narradores”
de SP em Mato Grosso do Sul
Data: 19 a 28/10/04
Local: CEPEGE – Sidrolândia.
Regional: Centro
CENÁRIO: Não há necessidade, só é preciso de seis ou mais objetos iguais para simular
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uma fabrica, por exemplo, tijolos. Também seis ou mais aventais iguais. Esses materiais já
devem estar no local da apresentação dispostos em meia lua .
Patrão – A essa hora meus empregados estão trabalhando a mais ou menos 5 horas, agora são
exatamente 10h, vou lá dar uma supervisionada, não podemos tirar o olho, pois é como
dizem: o olho do patrão é que engorda os porcos. Preciso garantir que meus dólares
tripliquem. (toca o telefone) – Alô minha rainha, por que você esta nervosa? Ah! O carro
tombou, você se machucou? Não! Esta tudo bem? Então compra outro carro zero, pode ser
aquele importado que você tanto queria, nossa empresa esta muito bem, mas agora tenho que
desligar, pois sou um homem de negócios, tenho que trabalhar,supervisionar...
Patrão –Todos trabalhando, que beleza. Um serviço calmo, leve, fico emocionado ao ver os
empregados dando o suor e sangue pelo seu patrão, “quer dizer pelo trabalho”.Isso é porque é
um serviço digno, eu sou um patrão justo e amigo dos meus empregados, pois também são
todos excelentes funcionários, todos pontuais, dedicados. Veja o Carlos, ótimo empregado,
Marcos, outro excelente empregado, Romeu e Julieta nunca me deram problema. Olhem
tenho até crianças na minha empresa, isto é prova de que dou oportunidades a todos e no final
do mês dou-lhes umas balinhas. Olhem só, tenho também mulheres trabalhando em minha
empresa, valorizo a igualdade de gênero,o serviço vale menos é claro, pois não trabalham
como homens, mas eu gosto de ajudar a pessoas. Sou tão justo que dou almoço dentro de
minha própria empresa, isto para que eles não tenham o trabalho de fazer o almoço em suas
casas. (Se dirige aos funcionários) – Pessoal! Temos cinco minutos para almoçar!
Os(as) funcionários(as) abaixam em circulo aberto (com espaço entre os(as) funcionários
(as) comem muito rápido, enquanto isso...
Patrão – Que empresa espetacular: cinco minutos para almoçar, todos alegres, olhem como
todos estão contentes. Bom acabou os cinco minutos, vamos trabalhar se não o serviço não
rende, vamos, vamos. Ah! Como vida de empresário é sofrida, minha mulher bateu o carro,
vou ter que comprar outro, agora só posso fazer duas horas de almoço, pois tenho que
comprar o carro.
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Empresário sai, os funcionários continuam trabalhando, fica por uns segundos fora de cena e
volta olhando para o relógio.
Patrão – Oh! Estou cansado! Trabalhei muito tenho que descansar, afinal amanha tenho que
começar cedo. Olha só gente, hoje, como sou um patrão muito bom vou libertar, ou quer
dizer, soltar todos mais cedo hoje, às 18h. Todos dispensados. Olha como eles saem felizes,
entendem a necessidade da empresa, hum! estão com dor nas costas, já sei amanhã vou fazer
vocês comerem de pé, pois ficam muito tempo sentados quando comem e por isso estão com
dor nas costas. (Comenta com público depois que os empregados saem) – Com a tal da ALCA
poderei expandir meus negócios, estou até pensando em abrir outras fábricas, uma em (...)
Pegarei alguns favelados, estou pensando em levar quem precisa para ter um trabalho justo.
Quero você, você e você na minha nova empresa. Chega de pensar no futuro, vamos nos
apegar no presente! É melhor ir dormir, estou muito cansado, meu trabalho é muito puxado.
O patrão sai e se posiciona frente ao público, abaixa a cabeça e os ombros com gesto de
descanso.
Os funcionários saem todos com a cabeça e ombros pendidos para baixo, com gesto de muito
cansados, em fila, de frente para o público. Tiram o avental e permanecem de pé, com a
cabeça e ombros baixos em gesto de descanso.
Funcionários (cantando em ritmo...) – Você deu sangue e o patrão foi quem sugou,
todo trabalho foi ele quem lucrou. (3X).
Começam a trabalhar num ritmo mais lento, pois Carlos está com o braço quebrado e
trabalha só com um deles . O patrão acorda se espreguiçando calmamente, coloca sua
gravata e vai trabalhar.
Patrão – Um novo dia, são 10h, meus empregados devem estar a todo o vapor. E eu, como
homem de negócio que sou, tenho que cuidar para que todos trabalhem bem. A máquina não
pode parar e o meu capital tem que triplicar...(chega na empresa). Todos trabalhando, muito
bem, espere um pouco parece que tem problema, minha maquina está devagar. O que está
acontecendo?
Patrão – Está acontecendo algo sim. Eu estou percebendo, está muito devagar (sempre
andando em volta dos funcionários, pergunta novamente) Carlos, o que está acontecendo?.
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Patrão (puxa Carlos fora do círculo do trabalho) – Agora você vai me dizer o que está
acontecendo: porque os materiais estão acumulando em você? (Puxa o braço quebrado de
Carlos, que está escondido atrás das costas), o que é isto Carlos? Uma peça quebrada, “quer
dizer um braço quebrado?”
Carlos – Sim patrão, eu quebrei quando eu vinha para o serviço de bicicleta, pois o senhor não
me deu passe este mês.
Patrão – O que?!!! Mentindo para mim. Você deve ter quebrado jogando bola por aí. Bom,
você já sabe quais são as regras da empresa, peça quebrada fora, não aceito peça quebrada em
minha empresa. Pois posso ter prejuízo e ficar pobre, meu Deus isso não vai acontecer!
Carlos – Mas patrão, tenho família pra sustentar, não posso perder esse emprego!
Patrão –Também tenho família pra sustentar, não posso ter prejuízo em minha empresa. Fui eu
quem fiz seus filhos?
Patrão – Não Carlos, não adianta, peça quebrada fora, fora! Aqui não há reciclagem! (Carlos
sai). Hoje só temos três minutos de almoço para compensar a saída de Carlos, agora...Já
acabou, vamos voltar a trabalhar. (andando em volta dos funcionários, o tempo passa) – Tem
que trabalhar mais depressa se quiserem sair mais cedo, vamos mais depressa. Meus
empregados entendem a necessidade da empresa, veja que satisfação, por que esta cara de
tristeza? Poderão até pensar que eu não lhes trato bem, que eu exploro vocês, olha, vocês tem
trabalho e isso dá dignidade a uma pessoa ...
Enquanto o patrão fala para o público os empregados param de trabalhar, vão pra perto do
patrão.
Patrão – Oi, vocês estão aqui! Agora não é hora de descanso, voltem para seus postos...
Patrão – Calma, calma querem um cafezinho? Vocês estão enganados, quem suga é o
morcego, além do mais eu lhes trato muito bem...
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Patrão – Trabalho, isso dá valor a uma pessoa, todos a ele tem direito...
Patrão – Lucrar, vocês também lucram. Espera aí, segurança, segurança, isto é baderna não
podem se revoltar segurançaaaaaaaaa !
O coro congela em posição de enfretamento juntamente com o patrão que está recuando.