Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Belo Horizonte
2019
Thiago César Carvalho dos Santos
Belo Horizonte
2019
RESUMO
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 15
4
1 INTRODUÇÃO
1
Insta apontar que esses foram os últimos relatórios divulgados pelo Ministério da Justiça, tendo como base
dados decolhidos no sistema penitenciário do país no ano de 2014 apenas. Mais recentemente, o Conselho
Nacional de Justica (CNJ) apresentou uma nova versão do Banco Nacional de Monitoramento de Presos (BNMP
2.0), o qual aponta, em dados parciais que em 2018 existiam 602.217 presos no Brasil, dentre os quais, 95% são
homens e 5% são mulheres. (CNJ..., 2018).
5
especial nas divulgações dos resultados de rebeliões violentas, como foi o caso das revoltas da
Penitenciária de Alcaçuz (RN), Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (RR) e em várias
unidades prisionais de Manaus (AM) no início do ano de 2017. Tais circunstâncias concretas,
evidenciadas reiteradamente no sistema carcerário nacional, revelam um painel de violação
massiva e persistente de direitos fundamentais dentro das penitenciárias e prisões brasileiras.
Assim, o PSOL ajuizou no dia 27/05/2015 a ADPF que recebeu o número 347/DF,
mediante representação dos advogados integrantes da Clínica de Direitos Fundamentais da
UERJ – Clínica UERJ Direitos – e distribuída à relatoria do Ministro Marco Aurélio Mello,
pugnando o reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional (ECI) do sistema prisional
do país e a adoção de providências estruturais em face de lesões a preceitos fundamentais dos
presos.
O ECI trata-se de uma tese constitucional desenvolvida e aplicada pela Corte
Constitucional da Colômbia como instrumento jurídico de correção de reiteradas violações
aos direitos fundamentais constitucionais, decorrente de atos comissivos e omissivos
praticados por diferentes autoridades públicas, agravado pela inércia continuada dessas para a
solução dos problemas sociais.
A declaração do ECI abre espaço para intervenção judicial, por parte da Corte
Constitucional ou no caso brasileiro o STF, nos procedimentos de elaboração e
implementação de políticas públicas, face um quadro de violações generalizadas, contínuas e
sistemáticas de direitos humanos fundamentais. Ou seja, o judiciário passa a ser coordenador
de um plano de ação para correção das falhas estruturais e falências das políticas já existentes,
importando em medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária.
Trata-se de uma tutela estrutural, conforme explica Carlos Alexandre de Azevedo Campos
(2015c).
Em sede de decisão liminar na ADPF 347/DF, o Supremo Tribunal Federal
efetivamente declarou o ECI do sistema penitenciário brasileiro, determinado dentre as
medidas cautelares: para os juízes e tribunais realizarem audiências de custódia no prazo
máximo de 24 horas após a prisão em flagrante; e para a União liberar as verbas do Fundo
Penitenciário Nacional (FUPEN), abstendo-se de realizar novos contingenciamentos. Ainda,
foi concedida cautelar de ofício, por maioria, proposta pelo Ministro Roberto Barroso, para
determinar à União e aos Estados, e especificamente ao Estado de São Paulo, que
encaminhem ao STF informações sobre seus respectivos sistemas penitenciários.
É consenso que nos últimos anos, o STF vem desempenhando um papel cada vez mais
ativo na vida institucional brasileira, atuando cada vez mais de modo proativo e específico na
interpretação constitucional e atingindo um patamar de poder político (BARROSO, 2012).
Desde os instrumentos de controle de constitucionalidade até a imposição de condutas e/ou
abstenções ao poder público acerca de políticas públicas, o Poder Judiciário tem tomado
frente como protagonista na busca pela efetivação dos preceitos constitucionais e dos direitos
fundamentais.
Diante de um conceito jurídico tão aberto, quanto o Estado de Coisas Inconstitucional,
começa-se a discutir os limites de legitimidade dessa nova e mais abrangente forma de
ativismo jurisdicional. A intervenção do Poder Judiciário de forma tão extensa gera tensões
para com os Poderes Legislativo e Executivo. Seria o Poder Judiciário habilitado e legítimo
para interferir e determinar a atuação dos demais poderes laureados pela supremacia do voto
popular? Não estaria o STF indo de encontro com o princípio da separação dos poderes?
Nesse sentido, o presente artigo se debruça sobre a discussão sobre a legitimidade
política e institucional do Poder Judiciário, mais especificamente o STF, diante da construção
de diretrizes para políticas públicas após a declaração do ECI. Utilizou-se de uma
metodologia de investigação crítico-dialética, por meio de uma pesquisa qualitativa dos
6
pontos por meio de uma coleta de dados bibliográficos e a partir da análise destes, a
construção do argumento teórico.
Foram desenvolvidas as análises teóricas a partir dos eixos da realidade do ativismo
judicial no país e do fundamento da legitimidade do Judiciário, em especial na sua
intervenção nos atos dos demais poderes. Por fim, analisa-se como a atuação constitucional
desse Poder pode ser verificada no recente caso de declaração do Estado de Coisas
Inconstitucional pelo STF.
considerado eclético, eis que permite uma atuação de controle de constitucionalidade por
parte do judiciário de maneira difusa ou concentrada. O controle difuso, ou incidental,
corresponde à possibilidade de análise de aderência constitucional de um ato do poder público
em um caso concreto. Assim, qualquer juiz ou tribunal pode deixar de aplicar determinado
dispositivo ou invalidar dado ato considerado inconstitucional. Por outro lado, o controle por
ação direta, concentrado, é exercido por um tribunal constitucional, no nosso caso o STF,
mediante a submissão de determinadas matérias ao crivo interpretativo da constituição. A
Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental é um dos exemplos de exercício do
controle de constitucionalidade concentrado.
Assim, o desenho institucional vigente no país garante ao Poder Judiciário um papel
mais ativo por meio da sua incumbência de garantir a aplicação e sustentação da ordem
constitucional. Deste modo, tem-se que “a judicialização não decorre da vontade do
Judiciário, mas sim do constituinte” (BARROSO, 2012).
Outrossim, temos a evidência do chamado ativismo judicial, a partir de “uma
participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins
constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos outros dois poderes”
(BARROSO, 2012). Nesse sentido, com o objetivo de garantir maior efetivação dos preceitos
constitucionais, o Poder Judiciário toma uma postura mais intervencionista e atuante na
realidade concreta, para além da legalidade estrita.
Barroso aponta que uma postura ativista envolvem diversas condutas, das quais cita:
Isto é, será legítimo o exercício do poder pelo Estado quando for considerado válido
pelo titular do poder político – o povo. A partir deste entendimento, estaria o juiz restrito à
legalidade do processo, a uma atuação conforme a lei e à Constituição. Desta forma, estaria o
juiz atuando de forma desinteressada, imparcial e superior entre as partes.
9
Outra forte premissa é desenvolvida por Farrajoli, citado por Cláudia Barbosa (2006),
adverte que a legitimidade dos membros da magistratura se firma no seu papel de garantir os
direitos fundamentais constitucionalmente previstos:
Deste modo, os juízes e Tribunais não se limitam a resolver conflitos subjetivos, mas
assumem a função de preservar a eficácia e a supremacia constitucional, especialmente
quando da solução dos confrontos entre atos infraconstitucionais e a Constituição. Nas
palavras de Roberto Ferraz, a “solução para o aparente conflito veio da conscientização de
que a Constituição de um País se encontra acima dos três poderes, cabendo, porém, ao
Judiciário a função de, com independência e autonomia, explicitar a vontade constitucional”
(FERRAZ, 2004).
Outro importante argumento seria a legitimidade do exercício da função jurisdicional a
partir da participação efetiva do jurisdicionado na construção das decisões. A moderna
concepção do contraditório e da ampla defesa, garante ao jurisdicionado papel central no
provimento final jurisdicional, qual seja, a sentença. Assim, garantindo a atuação direta e
influente das partes na construção da decisão judicial, esta passa a ser imposta pela
legitimidade e não pela autoridade.2
É o que expõe Machado Júnior:
O Estado assumiu para si a tarefa de solução dos conflitos sociais, concedendo aos
litigantes o direito e poder de provocar e participar do exercício tal função, mediante
o direito de ação (art.5º, XXXV, da CF/88), através de uma forma previamente
estabelecida (devido processo legal – art.5º, LIV, da CF/88).
Aqui, importa esclarecer que, quanto maior for a participação do jurisdicionado no
processo de formulação da decisão jurisdicional, mais legítima esta será, daí serem
inafastáveis o contraditório e a ampla defesa, com todos os recursos a ela inerentes
(art.5º, LV, da CF/88). (MACHADO JÚNIOR, 2006).
2
Não é intenção deste artigo entrar em pormenores da teoria do contraditório participativo. Mas merece as
considerações de Marcelo Pereira de Almeida (2012, p. 487-488). “Na atualidade, o princípio do contraditório
vai além da mera ciência dos atos processuais para manifestação e possibilidade de impugnar eficazmente o que
foi apresentado pela parte contrária. A visão de contraditório deve permitir a participação dos interessados na
construção da decisão judicial. Esse contraditório participativo se caracteriza pela possibilidade dos interessados
efetuarem intervenções eficientes no processo e exercer amplamente as prerrogativas inerentes ao direito de
defesa e que preservem o direito de discutir os efeitos da sentença que tenha sido produzida sem sua plena
participação. Assim, o princípio do contraditório adquiriu um caráter humanístico muito acentuado, sendo,
provavelmente, o princípio mais importante do processo, pois impõe que as partes sejam postas em condições de,
efetivamente, influenciar as decisões judiciais.”
10
Sendo assim, o constitucionalismo surge como mecanismo de garantia dos direitos das
minorias, sendo o Judiciário o titular por excelência da função de assegurar a efetividade de
tais direitos.
Isso sugere que submeter os detentores do poder jurisdicional ao crivo da maioria por
meio de eleições implicaria em grandes riscos ao cumprimento do Estado de Direito e à
efetivação dos direitos fundamentais e das minorias, podendo levar a uma ditadura da maioria,
com diversos excessos e abusos dos poderes eleitos.
Ressalta-se que o sistema constitucional democrático, a partir do sistema de checks
and balances, impõe paralelamente à noção de separação dos poderes a necessidade de
controle recíproco das atividadas dos demais poderes. Isso implica que é dever dos Poderes
exercerem limites à atuação dos demais poderes. Rodolfo Viana Pereira (2011) afirma que a
função de controle é merecedora de uma centralidade e onipresença dentro do modelo
11
democrático do estado, no sentido de mitigar o arbítrio que é ínsito de toda atividade de poder
(PEREIRA, 2011). “Constituição e democracia devem dirigir não apenas o modo pelo qual o
ordenamento constitucional regula a formação legítima do poder, mas sobretudo a maneira
pela qual as técnicas de controle asseguram a adequação constitucional do exercício desse
mesmo poder.” (PEREIRA, 2011, p. 29).
Desse modo, é consenso teórico contemporâneo de que a cortes judiciárias seriam as
instituições mais qualificadas para a execução do controle de constitucionalidade, de forma a
garantir um bom funcionamento do processo democrático, conforme afirma John Hart Ely,
citado por Rodolfo Pereira (2011, p. 66). O Poder Judiciário, como salvaguarda e intérprete da
Constituição por excelência, desponta como protagonista na atuação de garantia e controle da
manutenção dos parâmetros constitucionais e garantia da democracia contra as ingerências
dos poderes eleitos.
Importante citar, por fim, que essa função do Judiciário de interferir os atos dos
demais poderes deve ser utilizada com a devida cautela, de modo que esse não tome caminhos
políticos autônomos. O exercício do chamado “poder político dos juízes” impõe-lhes certos
limites e uma submissão aos parâmetros constitucionais. Isso significa que a decisão do
Judiciário, nesse sentido, não é jamais autônoma, e deve corresponder aos ensejos e aos
valores políticos previstos na Constituição.
Tais limites igualmente implicam que não se pode inovar no mundo jurídico a
pretexto, por exemplo, de exercer controle de constitucionalidade, de modo que somente pode
atuar como legislador negativo. A intervenção do Judiciário nos demais atos dos poderes
eleitos deve se restringir ao mínimo, em razão da presunção de constitucionalidade desses
atos.
(...) essa atitude, coerente com a função institucional do Judiciário não corresponde a
uma acomodação e falta de empenho em resolver os reclamos sociais, mas numa
lúcida (e incômoda) atuação dentro dos limites da missão assumida. Pretender atuar
além desses limites equivaleria a autorizar toda e qualquer exorbitância de poderes,
de qualquer pessoa, estivessem no exercício de funções públicas ou privadas.
(FERRAZ, 2004).
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CNJ divulga os mais recentes dados sobre a população carcerária no Brasil. Justificando
Conteúdo Cultural. 8 ago. 2018. Disponível em: http://www.justificando.com/2018/08/08/cnj-
divulga-os-mais-recentes-dados-sobre-a-populacao-carceraria-no-brasil/. Acesso em: 10 jul.
2019.
16
DEPRÁ, Vinícios Oliveira Braz; VALER, Willian. Estado de Coisas Inconstitucional: uma
discussão na pauta de julgamento do Supremo Tribunal Federal. In: SEMINÁRIO
NACIONAL DEMANDAS SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA, 11, 2015, Santa Cruz do Sul. Anais... Santa Cruz do Sul: UNISC,
2015.
STRECK, Lenio Luiz. Estado de Coisas Inconstitucional é uma nova forma de ativismo.
Revista Consultor Jurídico, 24 out. 2015. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-
out-24/observatorio-constitucional-estado-coisas-inconstitucional-forma-ativismo. Acesso
em: 12 jul. 2017.
TAGATA, Cláudia Maria; CARRATO, Maria Aparecida Piveta. Função política do poder
judiciário. Revistas de Ciências Jurídicas e Sociais da UNIPAR, Umuarama, v. 11, n. 2, p.
621-643, jul./dez. 2008. Disponível em:
revistas.unipar.br/index.php/juridica/article/download/2768/2062. Acesso em: 10 jul. 2019.