Brasília, 2014
Editado por
Renovacio Criação
Inventário Nacional de Referencias Culturais do Bumba Meu Boi de Seu Teodoro
Fundo de Apoio a Cultura do Distrito Federal – 2012
Projeto FAC 201 2 Inventário de Referências Culturais para a Salvaguarda do Bumba Meu Boi
de Seu Teodoro Freire como Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal.
Supervisores de conteúdo de fichas Caio Csermak, Lyvian Cristina da Ponte e Sousa Sena, Maria Paz Josetti
Fuenzalida, Paulo Henrique da Silva Santarém, Rodrigo Martins Ramassote e Tamatatíua Rosa Freire Ferreira
Pesquisadores Caio Csermak, Letícia Costa Rodrigues Vianna, Lyvian Cristina da Ponte e Sousa Sena, Marcelo
Simon Manzatti, Maria Paz Josetti Fuenzalida, Paulo Henrique da Silva Santarém, Rodrigo Martins Ramassote e
Tamatatíua Rosa Freire Ferreira
Pesquisadores colaboradores Carlos Eduardo Freire, Carolina Freire, Herika Christina Amador Chagas,
Marcos Soares e Thaian Henrique Guimarães Gonçalves Bandeira
Documentação Audiovisual de entrevistas com detentores Alan Schvarsberg, Antonio Francisco Furtado
Ribeiro, Carolina Freire, Farid Abdelnour, Hudson Vasconcelos, Julia Costa Tolentino e Nara Oliveira
Fotos Acervo do CTP, Alan Schvarsberg, Antonio Francisco, Arquivo Público, Carolina Freire, Farid Abdelnour,
Joana Abreu, João Gabriel, Maria Paz Josetti Fuenzalida, Nara Oliveira, Siglia Zambrotti Doria e Tamatatíua Rosa
Freire Ferreira
B941
Bumba meu boi de seu Teodoro : inventário nacional de
referências culturais. – Brasília, DF : Renovacio Criação,
201 4.
80 p. : il.
Agradecimentos
Apresentação ........................................................................... . 13
O Sítio .......................................................................................... . 30
A Localidade .............................................................................. . 36
O Lugar ....................................................................................... . 40
A Celebração ............................................................................ . 46
Bibliografia ................................................................................ . 79
Ao Mestre
Teodoro Freire
Tamatatíua Freire
Apresentação
Esta publicação condensa a experiência de aplicação da metodologia do Inventário
Nacional de Referências Culturais (INRC) em um universo cultural circunscrito: o
Bumba Meu Boi de Seu Teodoro – expressão cultural registrada como Patrimônio
Cultural do Distrito Federal.
A pesquisa foi realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal
(FAC/DF), em oito meses, de janeiro a agosto de 201 3, com o objetivo de gerar
documentação e diagnóstico para balizar a política de salvaguarda deste patrimônio
cultural. O trabalho de pesquisa foi um intenso exercício de sistematização e
produção de informações sobre o contexto histórico, geográfico, social e sobre
características da expressão cultural articulada em seu universo simbólico.
13
O Bumba
Meu Boi de
Seu Teodoro
Tremendo e balanceando
Vai aluindo o terreiro
O batuque vai esturrando
Que só trovão de Janeiro"
Antônio Costa
14
15
O Boi de Seu Teodoro
O Bumba Meu Boi é uma expressão das culturas monetariamente. E em universos simbólicos
populares de ocorrência bastante frequente no tão ricos, particulares e díspares do status quo,
Brasil, tanto no tempo como no espaço. E tem na maioria das vezes em ambientes segregadores
sido documentada e estudada no âmbito dos e hostis, como os das grandes cidades.
estudos de folclore e de cultura popular. Podemos
observar que são várias as possibilidades de A história do Boi de Seu Teodoro, bem como as
expressões e atribuição de significados para as histórias de vida de seus integrantes, revela
performances do Boi, o que revela uma intensa aspectos da história de um período do Brasil: a
criatividade e dinâmica cultural no território mudança da capital, do Rio de Janeiro para
brasileiro ao longo da história. Brasília; e o desvio de um fluxo migratório de
maranhenses, da antiga para a nova capital.
Expressões de Bumba Meu Boi se multiplicam em Teodoro Freire e sua trupe, chegados a Brasília em
nosso país, adquirindo muitas especificidades: o 1 963, vindos do Rio de Janeiro, envolveram-se na
Boi Bumbá, a Burrinha, o Cavalo Marinho, o Boi de construção da capital como peões, trabalhadores
Reis, o Boi Pintadinho, o Boi de Mamão são assalariados que formaram contingentes do que
variantes carregadas de invenções criativas que se convencionou chamar "candangos", em
atualizam a tradição da celebração. Essas oposição aos "pioneiros" - migrantes oriundos das
ocorrências, tão variadas, têm sido nominadas classes médias e altas que vieram assumir
e conformadas como tradições de referências encargos públicos de mais alto escalão, na
locais específicas, em território mais amplo sociedade de classe. (LARAIA, 1 996).
de trânsito h umano, fluxos migratórios e
trocas culturais; as quais não se prestam, Assim, o aqui e agora de cada performance é
necessariamente, às limitações da geopolítica um instantâneo de um engajamento cotidiano
de um dado momento histórico. A tendência à e contínuo de um coletivo, ao afirmar uma
regionalização dessas expressões segue as identidade cultural a partir do exercício
evidências empíricas de ocorrência criativa e perm an en te de atual ização de um a tradição
transformada de uma tradição que se atualiza em cultural regional em uma outra localidade. E,
cada tempo e lugar de modo singular. com a tenacidade e persistência na resistência,
afirma à Brasília suas próprias referências como
Isso posto, podemos iniciar a apresentação do um signo ou elemento especial da identidade
que é o Boi de Seu Teodoro, definindo-o como cultural da cidade.
uma expressão singular das tradições
maranhenses do Bumba Meu Boi na capital do Com base em seu valor histórico e artístico, o
país. E não se pode simplificar tal história. O Boi Boi de Seu Teodoro foi declarado Patrimônio
de Seu Teodoro impõe a compreensão Cultural de natureza imaterial, através de seu
aprofundada sobre como se dão os fluxos registro no Livro de Celebrações, no âmbito do
migratórios e como se dão, de fato, as invenções Distrito Federal, no ano de 2004. Este ato
e reinvenções culturais em metrópoles jurídico de patrimonialização de bens de
cosmopolitas; e de como se concretiza, ou não, o natureza imaterial vem apoiado em legislação
investimento pessoal de migrantes assalariados distrital (Decreto n º 24.290/2003) que se
em sustentar práticas tão dispendiosas coaduna tanto com a política federal na área
16
quanto com as recomendações da Unesco, na
esfera internacional. Essa política de
patrimonialização de expressões da cultura
popular está em construção e se apresenta
como um desafio, pois implica em uma
mudança de percepção e postura dos agentes e
gestores em relação aos objetos de atenção. No
Distrito Federal este é um desafio que se inicia.
17
Eu vou reunir
Eu vou guarnicê
Meu Batalhão Brasileiro
Antônio Costa
18
De folclore a patrimônio cultural
No Brasil, a proposição de que expressões do dos anos 40, houve um movimento envolvendo
folclore têm valor como referências culturais artistas, intelectuais, pesquisadores, diplomatas,
identitárias, bem como valor estético, e que, por professores e outros segmentos sociais que
isso, podem ser objetos de política de culminou com a Campanha de Defesa do
patrimonialização, já estava presente nas Folclore Brasileiro.
“formulações” oficiais do Estado desde a
primeira metade do século XX. O anteprojeto O trabalho desenvolvido não era o de
de Mário de Andrade, elaborado em 1 936, que patrimonializar; isto é, ato jurídico do Estado
fornecia as bases de criação do então Serviço que declara uma expressão cultural como
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional patrimônio nacional e passa a tratá-la como
(Sphan), hoje Instituto do Patrimônio Histórico e bem cultural de interesse público. Havia, sim,
Artístico Nacional (Iphan), e da institucionalização ações para salvaguardar o folclore e os
da ideia de patrimônio histórico e artístico conhecimentos tradicionais através de
nacional, é um marco nesse processo. Mas houve pesquisa, documentação, apoio ou fomento.
descompasso na regulamentação e prática de
políticas patrimoniais para as áreas do O processo de constituição do campo de
patrimônio material e imaterial. estudos do folclore foi marcado tanto pela
elaboração de políticas mais ou menos
O tombamento, a restauração, a conservação e paternalistas e etnocêntricas (com pesquisas e
a fiscalização do patrimônio material foram publicações superficiais, doações pontuais de
práticas institucionais bastante desenvolvidas indumentárias, instrumentos, transporte para
e conhecidas de vários segmentos da grupos e lanche) quanto por uma orientação
sociedade brasileira desde 1 937 - quando o mais relativista e pragmática (com pesquisas e
Iphan foi criado. Entretanto, tais instrumentos edições com fundamento antropológico, ações
jurídicos e administrativos se mostraram de de fomento voltadas para o modo de vida dos
difícil aplicação para fatos culturais, como os grupos e comunidades no sentido de gerar
folguedos, as celebrações, os saberes - que renda, garantir autonomia e melhorar o bem
então eram documentados pelos pesquisadores estar social de maneira mais ampla).
e divulgadores do folclore, Mário de Andrade,
inclusive. E não houve nenhuma regulamentação As duas tendências (a saber, a de
de legislação especialmente desenvolvida para patrimonialização da cultura material e a da
esta dimensão imaterial do patrimônio. defesa do folclore) proporcionaram as bases
para a formulação do arcabouço conceitual e
Por um lado, os estudiosos do folclore, como da política de patrimônio imaterial; bem como
Silvio Romero, Mário de Andrade, Amadeu toda discussão sobre o assunto nos fóruns
Amaral, Édison Carneiro, dentre outros, internacionais, sobretudo a Unesco. Entre os
desvendavam um Brasil de ricas e variadas anos 70 e 80, com as políticas idealizadas e
tradições e, por outro lado, alardeavam o implantadas por Aloísio Magalhães à frente do
iminente esquecimento e possibilidade de Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC),
perda dessas raízes por força dos efeitos do dá-se intenso amadurecimento institucional
desatinado processo de modernização. No final para tratar da dimensão imaterial da cultura.
19
E assim, como resultado de processo de referências culturais em si (materializáveis),
reflexão e aprimoramento de ideias por parte mas os agentes concretos e as condições
de “quadros” do Estado e representantes de objetivas de produção e reprodução social de
segmentos da sociedade brasileira, o conceito tais bens culturais. Patrimonializar aspectos ou
de patrimônio imaterial foi apresentado nos fatos culturais é uma escolha sempre política.
artigos 21 5 e 21 6 da Constituição de 1 988. Envolve mobilização de segmentos sociais e
poderes públicos, definições e justificativas em
A partir da segunda metade da década de 1 990, campo com diferentes interesses em jogo.
um grupo interdisciplinar e interinstitucional de
técnicos trabalhou, no âmbito do Estado, para N esse sen tido, criou-se, en tão, um cam po
um detalhamento do conceito, no sentido da para o patrim ôn io “in tan gível ”, que abarca
implementação de políticas públicas para a os processos de produção de cul tura, as
área. Significativa deste processo é a Carta de perform an ces, os saberes e m odos de
Fortaleza, de 1 997, resultante do Seminário tran sm iti-l os. Assim, diferentes expressões e
Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de tradições das culturas populares, até então
proteção , realizado pelo Iphan com a visíveis aos folcloristas, mas preteridas e
participação da Unesco e de várias instituições. invisíveis nas políticas de patrimonialização em
Este processo de trabalho culminou, então, curso, passam a ser lugares privilegiados
com o Decreto 3.551 /2000, o qual instituiu o para o Estado e a sociedade civil lançarem
Registro de Bens Culturais Imateriais em livros um olh ar sensível e desenvolverem projetos
específicos criados pelo Iphan (análogos aos de salvaguarda.
Livros do Tombo) e o Programa Nacional de
Patrimônio Imaterial (PNPI). Não se tomba o patrimônio imaterial para não
congelar uma forma conjuntural específica
O impacto deste decreto no âmbito das como referência – como se faz com uma obra
políticas do patrimônio cultural é marcante, ao de arte ou edificação ou sítio arqueol ógico.
possibilitar a inclusão de segmentos sociais e O instrumento é o registro, que pressupõe a
áreas da cultura até então alijadas do escopo dinâmica e a variedade de formas e significados.
das políticas públicas de patrimonialização. A A pesquisa etnográfica e documental para
formulação da ideia de patrimônio imaterial salvaguardar a possibilidade de reconstrução
tem clara orientação relativista, no sentido de futura da expressão é apenas um lado da
explicitar, valorizar e oficializar a pluralidade e a política de salvaguarda do patrimônio imaterial.
diversidade cultural brasileira. Idealmente trata- O foco está, sobretudo, na valorização e
se de diretriz para política pública potencialmente garantia objetiva das condições concretas
inclusiva e transformadora, a qual visa não as para a realização dos processos de produção,
20
CTP, 2013.
e não nos produtos culturais propriamente. Mérito Cultural, quando recebeu a láurea de
Objetiva-se a garantia das condições e Comendador pelo então presidente da
motivações de performar; o aqui e agora República, Luiz Inácio Lula da Silva, em
específico do ato concreto de (re)criação, cerimônia no Palácio do Planalto.
expressão e comunicação; a performance,
ação fugaz, autêntica porque única, não Os resultados da pesquisa trazem que, no início
obstante subordinada a matrizes e sistemas da história da expressão cultural em foco, a
simbólicos definidos que são, naquele ato, agência individual de Teodoro Freire junto às
reproduzidos ou questionados. suas relações pessoais proporcionou a
consolidação do Bumba Meu Boi como folclore
Desde a implementação do Decreto 3.551 /2.000 na cidade. E, assim, foi sendo mantido, pela
o Estado brasileiro vem desenvolvendo política boa vontade de amigos e dos poderes públicos
sistemática na área. De imediato foi aberto o em apoios solicitados e demandados – que
INRC do Bumba Meu Boi do Maranhão – por geralmente não cobriam os custos da
toda a sua dimensão e importância manutenção e reprodução da brincadeira , o
reconhecida por estudiosos do campo. Anos que acabava onerando o já parco salário do
depois, tanto o Tambor de Crioula (um bem mestre. O registro deste bem cultural como
cultural com fortes vínculos com o universo Patrimônio Cultural do Distrito Federal traz uma
simbólico do Boi), quanto o Bumba Meu Boi perspectiva para a sua sustentabilidade no
foram registrados como Patrimônio Cultural do contexto contemporâneo, a qual ganha novos
país nos livros as Formas de Expressão e contornos à medida que se complexificam as
Celebrações, respectivamente. relações com os vários atores sociais, os
instrumentos, meios e estratégias de produção
Seguindo a linha de ampliação da política de e reprodução do bem cultural pelos brincantes
patrimonialização do Estado, o Distrito Federal e a atenção dada pelos poderes públicos.
desenvolveu, em sua legislação para o
patrimônio cultural, o Registro de Bens Culturais Nesse sentido, uma vez que o Boi de Seu
De Natureza Imaterial. E o Boi de Seu Teodoro Teodoro já é reconhecido como Patrimônio
foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Cultural, este exercício de aplicação da
Distrito Federal e registrado no Livro das metodologia do I N RC tem como objetivo
Celebrações através do Decreto n° produzir uma sistematização de conhecimentos
24.797/2004, publicado no Diário Oficial do que proporcione subsídios para uma política
Distrito Federal no dia 1 6/07/2004. Em 2006, pública consequente, voltada para a
Teodoro Freire foi premiado com a Ordem do dimensão patrimonial deste universo cultural.
21
Raimundo Nonato, J oão Melo e Tomás Melo, 1979.
São João tá aqui seu boi
Se espantou do meu cendeiro
Eu tava na malhada
Ele levantou poeira
Ele correu com uma corda
De couro na madeira
João Vicente
22
O INRC do Boi de Seu Teodoro
23
A formação dos integrantes foi variada nas Promoveu-se a discussão do conhecimento
especialidades de antropologia, geografia, básico do universo cultural a ser inventariado e
história, pedagogia e sociologia. O engajamento possíveis enquadramentos de seus aspectos
dos participantes foi diversificado: alguns relevantes nas categorias e fichas da
permaneceram na equipe em todo o processo de metodologia; debateu-se questões e problemas
trabalho; outros prestaram colaboração vários relativos ao contexto cultural como
eventual. Vários destes pesquisadores se preconceitos de raça e credo; diferenças de
apresentaram como voluntários. classe, exclusão social, uso de solo urbano,
canibalismo cultural na academia e indústria
O treinamento da equipe de pesquisa na cultural; implicações de uma política para o
metodologia do INRC se deu de maneira folclore e para o patrimônio imaterial.
permanente, ao longo dos oito meses de
pesquisa, obedecendo às demandas das fases Foram preenchidas todas as fichas
de Levantamento Preliminar e Identificação. compreendidas pelo Levantamento Preliminar
Infelizmente não foi possível o engajamento e houve um avanço na fase de Identificação, na
pleno da equipe dos especialistas em medida em que foram identificados em
linguagem audiovisual à equipe de pesquisa no densidade três bens da maior relevância,
processo de entendimento e aplicação da estruturantes do complexo cultural em questão.
metodologia do INRC. Entretanto, não obstante Ademais foram decididos os parâmetros
a falta de coordenação geral entre as equipes, conceituais para as fichas de Sitio: Culturas
houve uma aproximação suficiente para a Populares e Tradicionais no Distrito Federal e
gravação dos depoimentos e histórias de vida. Entorno; Localidade Sobradinho; Celebração
Espera-se que os resultados apresentados pelo Boi de Seu Teodoro; Forma de Expressão
INRC sejam aproveitados e apropriados Tambor de Crioula de Seu Teodoro; e Lugar
devidamente pelo proponente do projeto no Centro de Tradições Populares (com exceção
FAC em produtos de ampla divulgação, no das categorias Saberes e Edificações, nas
cumprimento da fase de Documentação. quais foi identificado um bem apenas para cada
categoria do INRC). Essas fichas e as fichas de
Observa-se que o tempo exíguo não é o ideal anexos foram abertas e implementadas e
para um INRC; e foi condicionado por fatores devem estar disponíveis para consulta na
externos à pesquisa. Foi compensado, na Secretaria de Cultura do Distrito Federal e no
medida do possível, em intensidade e Centro de Tradições Populares - sede do Boi.
comprometimento de grande parte da equipe.
Em relação à ficha deReferências
Desde o princípio da pesquisa foram realizadas Bibliográficas e Registros Audiovisuais,
reuniões amplas para socialização dos observamos que não se fez o levantamento
membros da equipe e da comunidade em relativo às expressões do Bumba Meu Boi e do
relação aos princípios conceituais, Tambor de Crioula no Maranhão, tendo em vista
procedimentos metodológicos e objetivos do que já há INRC bastante completo sobre os
INRC. No cotidiano dos membros da temas realizados no âmbito do Iphan; podendo
comunidade, a presença da equipe de pesquisa este INRC do Boi de Seu Teodoro ser
foi sendo sentida e identificada, o que contribuiu compreendido como uma ocorrência específica
para a viabilidade e o envolvimento destes com no espaço/tempo, e assim incorporado pelo
o trabalho de pesquisa. Iphan de maneira articulada com o INRC do
Bumba Meu Boi do Maranhão.
24
De um universo de 44 pessoas identificadas
como de fundamental importância para se
colher depoimentos e histórias de vida, foram
selecionadas 1 6. Em detrimento do tempo, 4
foram transcritos e outros estão em processo
de transcrição.
25
01. 02.
03. 04.
05. 06.
07. 08.
Entrevistados
01. Dona Cleonice; 02 . Dona Marizinha; 03 . Maria Baixinha; 04. Seu Doca; 05 .
Sandoval; 06 . Zé Diniz; 07. Tamatatíua Freire; 08 . Guará Freire.
26
09. 10.
11. 12.
13.
14. 15.
Entrevistados
09. Dona Nenem; . João Cardoso;
10 11 . Maria Raimunda; 12 .
27
O Sítio
28
Ô lá vai meu boi
Corre morena vem ver
Zé Diniz
29
O Sítio
A ficha do INRC trouxe a reflexão sobre as Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas
Culturas Populares e Tradicionais no Distrito de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade
Federal e Entorno e o conjunto de Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de
manifestações culturais que compõe o Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de
ambiente onde se desenvolvem práticas Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis,
comunitárias e culturais de diferentes Planaltina, Santo Antônio do Descoberto,
con tin gen tes popul acion ais que h abitam Valparaíso de Goiás e Vila Boa, no Estado de
esta região do Cerrado. Estudam os as Goiás, e de Unaí, Buritis e Cabeceira Grande, no
m an ifestações cul turais tan to do Distrito Estado de Minas Gerais.
Federal com o de seu en torn o (parte dos
estados de M in as G erais e G oiás) porque Discutimos também uma h istória da
partim os da con cepção de que esta região ocupação h umana deste espaço, em
tem um cicl o h istórico, cul tural , econ ôm ico e contraposição a uma forma de pensar a
social com um e os m un icípios que a região que define seus marcos h istóricos
com põem possuem sign ificativa rel ação de desde a ocupação estatal. Existe uma longa
in terdepen dên cia com o Distrito Federal . Tal h istória da ocupação h umana no cerrado
fato ocorre, sobretudo, pel a in ten sa que data de cerca de dez mil anos atrás e
con cen tração de in fraestrutura (tal com o tem diferentes ciclos vinculados aos tipos de
saúde e educação e oferta de em prego) n o vida das diferentes épocas. Mais
DF, geran do assim fl uxo in ten so de especificamente, nos últimos séculos,
m igração pen dul ar. percebemos que a ocupação h umana deu-se
tanto pela presença de povos tradicionais –
Juntamente aos aspectos econômicos e quilombolas, indígenas – quanto pela ação
sociais a região também está interligada de setores econômicos colonizadores
culturalmente. Muitas de suas expressões nacionais e estrangeiros. Destas relações
culturais, tais como a Folia de Reis e a Festa do sociais constituiu-se um circuito social que
Divino Espírito Santo, bem como redes de predominou na área até meados do século
produção artesanal, perpassam os limites XX, quando projetos de Estado começam
geográficos estabelecidos pelas fronteiras de pouco a pouco a visar o planalto central
macrorregiões e/ou estaduais. como a área de construção da nova capital.
Optamos pela Região Integrada de Brasília foi construída por meio de uma ação
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno estatal que buscou sobrepor-se a estas
(RIDE/DF) (criada pela Lei Complementar n º dinâmicas regionais apresentando uma nova
9 4/1 9 9 8 e reg u l am en tad a pel o Decreto nº perspectiva de desenvolvimento nacional.
2.71 0/1 998, alterado, por sua vez, pelo Decreto Todavia, em nossas observações pudemos ver
nº 3.445/2000 e novamente alterado pelo que estas dinâmicas anteriores conflitaram-se
Decreto nº 7.469/201 1 ). Localizada entre parte e relacionaram-se de distintas formas com a
da região Sudeste e Centro-Oeste e constituída chegada dos grupos que vieram construir a
pelo Distrito Federal, pelos municípios de cidade. As culturas tradicionais e populares
30
anteriores à construção da capital participaram a) a autogestão e autossustentabilidade dessas
da construção de Brasília, influenciando e formas culturais são garantidas pelas próprias
constituindo relações com as novas forças que bases comunitárias, responsáveis pela transmissão
geracional de um repertório de conhecimentos e
aqui chegaram: muitos dos trabalhadores e
práticas indispensáveis à sua execução, por meio
trabalhadoras que construíram Brasília eram de processos tradicionais de aprendizagem
das comunidades rurais e de pequenas envolvendo, entre outros, a oralidade, a gestualidade
cidades que constituem o entorno do DF. e a observância direta;
31
Articulando esta concepção de RIDE e esta Caipira da Candangolândia – DF, Fundação
concepção de culturas populares e Museu Couros Formosa – GO, Irmandade do
tradicionais, compreendemos que a Ficha de Rosário – SIA – DF, Memorial dos Povos
Sítio implementada pela equipe pode ser uma Indígenas; Museu da Memória Candanga,
base para a realização de Inventários das Morro da Capelinha Planaltina – DF, Museu das
outras diferentes manifestações culturais Cavalhadas Pirenópolis GO, Museu Histórico e
populares e tradicionais do Distrito Federal e Artístico de Planaltina DF, Ninho dos Artistas –
Entorno. A saber, algumas delas são: Águas Lindas – GO, Pastoral dos Foliões –
Formosa – GO, Santuário dos Pajés - Setor
ARUC; Associação Cultural de Capoeira Angola Noroeste – DF.
NZAMBI, Associação dos Artesãos de
Planaltina; Casa da Cultura de Luziânia – GO, Neste sítio rico de relações sociais observamos
Casa do Cantador da Ceilândia – DF, Casa do os problemas fundiários como estruturantes
Ceará - Brasília – DF, Casa do Maranhão - dos conflitos sociais na região, motivo pelo qual
Brasília – DF, Centro Cultural José Dilermano entendemos que a metodologia do INRC pode
Meireles Luziânia GO, Centro de Tradições contribuir na valorização e articulação dos
Culturais do Bumba Meu Boi de Seu Teodoro m arcos territoriais, sociais e cul turais,
Sobradinho – DF, Circo Boneco e Riso – Águas proporcion an do por parte do Estado
Lindas – GO, Comunidade Quilombola de investimento, preservação e fomento destas
Mesquita – Cidade Ocidental – DF, Clube do organizações comunitárias.
Choro de Brasília – DF, Clube do Violeiro
32
Apresentação, Esplanada dos Ministérios, 1989.
33
A Localidade
34
A vaqueirada esse ano Esse é o boi de Sobradinho
Vai fazer sucesso Com sua turma de vaqueiro
Tamos preparados Nós estamos apresentando
pra vencer Na capital Federal
Meu senhor São João É um novilho caiado
Já mandou me dizer
São Pedro trouxe o recado É um holandês verdadeiro
Eu vou reunir meu batalhão E já pode sair pra brincar
Pra guarnicê Na bolado mundo inteiro
Zé Diniz
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A Localidade
A pesquisa sobre a Localidade Sobradinho
mostra mais uma vez que, bem como com a
história recente do Distrito Federal, a trajetória
do Boi de Teodoro se entrelaça à história da
cidade. A Região Administrativa V, fundada em
1 3 de maio de 1 960, foi criada com o objetivo de
abrigar trabalhadores de acampamentos
provisórios montados pela Companhia Nova
Capital (Novacap) durante a construção de
Brasília, bem como moradores das muitas
invasões que já existiam naquela época. A Vila
Amauri, por exemplo, era uma dessas invasões
que deveriam ser erradicadas. Ela estava
situada numa área próxima à Vila Planalto e foi
inundada pelas águas do Lago Paranoá, em
formação na época. É possível que a Novacap
tenha autorizado a existência da Vila nas
margens do Lago Paranoá tendo em vista
facilitar sua futura erradicação.
Em 3 de maio de 1 960, foram assentadas em Placa inaugural, praça Teodoro Freire, Sobradinho, 2013.
Sobradinho as primeiras famílias, transferidas
da Vila Amauri, do Bananal e de outras
invasões próximas à Vila Planalto. Alguns dos
primeiros brincantes do Boi foram moradores
desses acampamentos e invasões, como Dona
Neném e seu finado companheiro que
auxiliaram na assistência da brincadeira . Hoje
Dona Neném reside na quadra 3 de Sobradinho.
36
Por sua vez, o Centro de Tradições Populares de
Sobradinho se consagrou como importante
centro cultural na cidade, sobretudo em seus
primeiros anos, devido à inexistência de
aparelhos culturais. Além da brincadeira do Boi
e do Tambor, era no CTP que ocorriam
campeonatos de futebol, treinos de capoeira,
churrascos e forrós, atividades para entreter os
cidadãos e para angariar fundos para a
sustentabilidade do Boi.
37
O Lugar
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São João me mandou um recado
pra mim falar com ele
Esse ano ele me espera
Eu vou pra lá
Eu já fui na fazenda
Ô lá ele não tá
Mas eu vou na Igreja
De São João Batista
Lorival
39
O Lugar
O Centro de Tradições Populares de
Sobradinho é a sede do Boi e Tambor de
Crioula de Seu Teodoro e lugar onde todos os
rituais ligados à celebração ocorrem. Foi
fundado em 1 963. O terreno foi destinado a
Teodoro Freire em 1 963 pelo Governo do Distrito
Federal, para que este fizesse a gestão de um
núcleo de folclore, onde se pudesse brincar o Escritório de Teodoro Freire, CTP, 2013.
Boi, o Tambor, Quadrilha e se promovesse a
difusão das tradições populares maranhenses.
40
edificações de apoio contíguas (duas de O primeiro depósito abriga instrumentos, saias
alvenaria e três de madeira), que servem de de ensaio do tambor e vários outros adereços
depósito, oficinas e apoio à assistência. São antigos. O segundo depósito também abriga
observáveis, também, margeando a mata em instrumentos e adereços antigos e duas
direção ao Barracão, uma série de pequenos camas, que são utilizadas por visitantes.
casebres de palha que são utilizados no Atualmente dois maranhenses que fazem parte
período das festas para a instalação de na assistência vivem neste quarto.
barracas para a venda de bebidas e alimentos.
Há ainda um campo de futebol na cabeceira do O saguão principal é amplo e adornado por
lote que, no período das festas, também é bandeirolas, fotos, matérias de jornal sobre o
ocupado pelas estruturas de palco que são boi, maquetes e trabalhos escolares
montadas, bem como pelo estacionamento apresentando a memória do Boi. O plano dos
dos veículos dos visitantes. brincantes é que o espaço se torne um museu.
41
42
Festa da Morte do Boi, CTP, 2011. CTP, 2013.
43
Imagens do altar, CTP, 2013
Celebração
44
A nossa brincadeira
Que o turista não conhece
É de um estado pequeno
Situado no Nordeste
Ô Maranhão, ô Maranhão
Terra das Palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeião como lá
45
Celebração
As expressões culturais organizadas em torno brasileira e excluída dos processos de
da brincadeira do Boi são recorrentes em todo distribuição de riquezas e cidadania plena.
o território nacional, com grandes variações e
especificidades em cada lugar. A maneira mais O Boi de Seu Teodoro é um complexo de
fácil de identificação das diferenças relativas a expressões e rituais, práticas e representações
esta expressão cultural é a partir da divisão que celebram, ao mesmo tempo:
geopolítica por estados da federação.
Entretanto, estas fronteiras são esgarçadas 1) o próprio Boi, enquanto condensado
pelas continuidades geográficas construídas simbólico da relação profunda de comunh ão
pela praxis social ao longo da história, pelos entre pessoas de uma comunidade
fluxos migratórios, intercâmbios culturais, relativamente marginalizada, que constrói e
construções e reconstruções simbólicas que vivencia o brincar o Boi no seu dia a dia, com
vão se consolidando, ou desaparecendo, como tensões e dificuldades, mas também, com
referências culturais e identitárias de alegria, solidariedade e sentido de missão;
comunidades, grupos e segmentos formadores
da sociedade nacional. 2)a “maranhensidade” – povo, cultura, cidades
e paisagens do Estado do Maranhão, origem
É interessante observar que o Boi de Seu geográfica ou referência identitária construída
Teodoro é definido pelos próprios brincantes e por grande parte da comunidade detentora do
reconhecido pela sociedade abrangente como bem cultural em análise;
uma expressão singular do "Boi do Maranhão"
em Brasília. E, nesse sentido, ao estudá-lo, 3) os santos católicos tradicionais do ciclo
observamos que se trata de uma expressão junino (Santo Antônio, São João e São Pedro),
cultural que fala de uma espécie de diáspora São Marçal – também associado às festas
maranhense pelo território nacional; um fluxo maranhenses – e outros santos do catolicismo
migratório de camadas populares que popular – como São Benedito, referido na
encontrou no Boi e no Tambor recursos e performance do Tambor de Crioula – , além de
motivações pessoais e coletivas para entidades dos cultos afro-brasileiros; e, por fim,
demarcação de identidade diferenciada, em
contexto urbano com tantos e tantos migrantes 4) a história de vida de Teodoro Freire e suas
generalizados como os "candangos nordestinos". características pessoais extraordinárias. Além
disso, aglutina em sua trajetória a própria
Temos, assim, uma expressão cultural sui história da presença de outros migrantes na
generis, cuja história se confunde com a construção de Brasília e o projeto de nação que
história da própria cidade. E uma observação simbolizava em sua origem; também, o ideário
mais detalhada traz à luz os processos de de uma cultura brasileira carregada de
construção e manutenção do que se denomina ideologia nacionalista, que ele expressava e
de folclore como elemento de resistência defendia a partir de sua relação com a política
cultural e lugar de mobilidade social das local e de suas trocas com uma parcela da
classes trabalhadoras; e, no caso geral das intelectualidade brasileira, localizada nas
expressões do Boi, de segmentos de maioria instituições de fomento ao folclore e na
negra, subalterna na hierarquia sociocultural Universidade de Brasília (UnB).
46
No processo de consolidação da celebração
ao longo da história podemos observar a
construção de uma originalidade – de uma
especificidade que qualifica sua identidade
própria no contexto dos múltiplos grupos
detentores e transmissores da tradição
maranhense de se brincar o Boi. Com
criatividade e o respeito a essa tradição, zelo e
o preciosismo - traços marcantes do trabalho
de Seu Teodoro – levaram o Boi de Sobradinho
a ser reconhecido, até mesmo pelos pares
maranhenses, como um dos mais tradicionais
do país. Nesse processo de consolidação da
tradição, Seu Teodoro contou com a ajuda
eventual de inúmeros parceiros do poder Pai Francisco e Catirina, CTP, 2013.
público (Deputados federais e distritais,
Governadores, Senadores e Presidentes da
República), gestores da área da educação e da
cultura, professores, servidores e alunos da
UnB, artistas de expressão local, além da
população de Sobradinho e de outras regiões
do DF. A construção dessa ampla rede de
apoiadores demandou um esforço constante e
criou raízes profundas na cultura local,
projetando o Boi para muito além dos limites
da comunidade, garantindo sua sobrevivência
em condições inóspitas e restabelecendo
fluxos de realimentação constante com as
matrizes maranhenses do festejo. Assistência, Dona Regina, CTP, 2013.
Guarapiranga Freire, Zé Luiz, Tamatatíua Freire, Tauá Freire, Aporé Freire e Jacy Freire, Torre de TV, 2012.
47
A celebração do Boi de Teodoro ocorre durante Despedida, dentre outras) são encenados com
um calendário de eventos sucessivos e vistas à preparação do grupo para as
coordenados, listados a seguir, que acabam apresentações externas. Nestas, o auto
por constituir um ciclo coerente e integrado: completo é apresentado, embora o Boi de Seu
Teodoro não possua algumas partes só
Primeiro ensaio: realizado no Sábado de encontradas nos Bois do Maranhão
Aleluia – final da Quaresma (data móvel, de (Apresentação da Burrinha, comédias variadas,
ocorrência entre os meses de março e abril), disputa de toadas, etc.). Ao final dos ensaios, é
onde são apresentadas as novas toadas do Boi servido um jantar para os presentes e todos
(repertório de músicas que se renovam todos vão para suas casas.
os anos) e, depois, sucedido por ensaios
semanais, aos sábados, até a data da festa do
Batizado, em junho;
48
A festa de São J oão é m ais com pl exa e
dem an da in úm eros trabal h os de preparação
do terren o e das in stal ações (barracas,
cercas, pal co, ban h eiros, etc. ), cen ografia
dos espaços, den tre outros, o que absorve
m uitos m em bros da com un idade duran te
quase todo o m ês de jun h o. As l ideran ças,
n o en tan to, in iciam o processo de captação
de recursos, cada vez m ais com pl exo, bem
an tes disso. A festa reún e m uitos outros
grupos e atrações artísticas do Distrito
Federal e do país, poden do in iciar até três
dias an tes. O pon to al to do Arraial de São
J oão, n o en tan to, é o Batizado do Boi. An tes
da festa são escol h idos pel o presiden te do Festa de São João, afinação dos pandeiros, CTP, 2013.
grupo um padrin h o e um a m adrin h a,
respon sáveis pel o batism o e tam bém por
oferecer ajuda para o n ovo cicl o. A
cerim ôn ia acon tece n a virada do dia 23 para
o dia 24 de jun h o. O Amo reún e e guarn ece o
Batalhão n a fogueira e em seguida o con duz
ao l ocal on de o Boi está sen do preparado
para o batism o. O Boi é l evado para a Sala
do Santo e o Amo can ta um a toada
an un cian do para São J oão que o Boi está
preparado para receber o batismo. Após esta
toada in icia-se a ladainha e em seguida é
can tado o bendito de São J oão (can to de
l ouvor ao San to). N a m etade do bendito os
padrin h os n ovos e an tigos são ch am ados
para real izar a cerim ôn ia do batism o. Os
padrin h os an tigos agradecem a perm issão
Maria Plácida, Festa da Morte do Boi, CTP, 2011.
de terem sido padrin h os n o an o an terior e
em seguida en tregam o Boi, jun tam en te a
um a vel a e um a im agem de São J oão aos
n ovos padrin h os. Os n ovos padrin h os
real izam o ritual de batism o, ben zen do com
água ben ta, n um copo de vidro n un ca
util izado com um gal h o verde e assim dão o
n om e escol h ido pel o presidente ao n ovo
couro. Após esta cerim ôn ia retom a-se o
can to do bendito de São J oão e fin al iza-se o
ritual . Este m om en to m arca a en trada de
n ovos brincantes e a en trega das roupas e
in dum en tárias do n ovo cicl o.
Festa de São João, Apresentação Baile de Caixa, CTP, 2013.
49
Em tese, todo esse esforço se encerraria com a fonte de recursos para a sobrevivência dessa
realização da Festa da Morte/Matança do Boi. A tradição cultural popular.
morte representa o fim daquele ciclo iniciado
meses antes com o batizado. No sábado, A tradição maranhense foi recriada, então, no
d u ran te a festa d a m atan ça, por vol ta d a Distrito Federal, por Teodoro Freire em um
m ei a-n oi te, o Boi fog e d o terrei ro d u ran te a processo que passou por diversas fases, idas
apresen tação e o Vaqueiro sai a su a caça. O e vindas, avanços e retrocessos. Hoje, mais de
local de esconderijo do Boi é previamente 50 anos depois, a comunidade vive a
combinado somente entre o presidente e o realidade inédita da ausência física de seu
miolo. Neste momento o mourão, pequeno patrono, falecido recentemente (201 2), e se
mastro enfeitado com papel de seda, começa a reorganiza a partir do herdeiro que Teodoro
ser adornado pelas pessoas presentes, nomeou para substituí-lo na administração do
trabalho que geralmente se estende por toda complexo cultural do Boi: seu filho mais novo,
madrugada e parte do dia seguinte. Todo ano é Guarapiranga Freire, o Guará, e também, a
escolhido um novo galho para ser adornado. No partir dos saberes e ofícios herdados por sua
dia seguinte, por volta das 1 6 horas o amo filha, Tamatatíua Rosa Freire Ferreira, a Tamá.
reúne e guarnece o Batalhão para levar o Além de outros inúmeros descendentes e
mourão até o local onde o Boi vai ser mestres agregados, mais experientes ou mais
sacrificado e o amo pergunta ao Vaqueiro por jovens, como Seu Doca ( Amo do Boi) e Gilvan
meio de toadas onde está o Boi. Neste (responsável pelo Tambor de Crioula), dentre
momento o Vaqueiro vai buscar o Boi para outros.
levá-lo ao mourão, onde o Miolo realiza um
bailado de resistência. O pai Francisco surge
aqui para defender o Boi e impedir seu
sacrifício. Os Cazumbás também saem em
defesa do Boi. Depois de várias tentativas o
Vaqueiro consegue laçar e dominar o Boi e
levá-lo até o mourão. Lá o Boi é sacrificado
(para isso já foram preparados o garrafão do
vinho e a bacia de alumínio nunca utilizada, que
são usados para representar o sangramento do
Boi e dar alusão à morte). Em seguida, o
Vaqueiro escolhe alguém do público,
normalmente crianças, para amolar o facão
utilizado para sacrificar o Boi. Este é um
momento cômico na encenação do ritual.
Finalmente, o Vaqueiro mata o Boi realizando
um corte em seu pescoço. O sangue do Boi,
representado pelo vinho é servido aos
Bailantes obedecendo a hierarquia do grupo:
Amo, Índias, Bailantes de Cordão, Tocadores
de Pandeiro, Cazumbás e por fim para a
comunidade. Para encerrar este ritual é feita
uma ladainha e o bendito de São João ao pé do
mourão. Encerra-se assim o ciclo deste couro,
porém as apresentações continuam, pois são a Chico Paulo, Batizado do Boi, CTP, 1997.
50
Morte do Boi, sangue do Boi, CTP, 2011. Morte do Boi, CTP, 2011.
51
Morte do Boi, Mourão, CTP, 2011. Aporé Freire, CTP, 2013.
A Forma de
Expressão
52
São Benedito chamou
São Benedito chamou
Coreira pra baiá tambor
São Benedito chamou
Gilvan do Vale
53
A Forma de Expressão
De modo geral, o Tambor de Crioula pode ser
definido como uma forma de expressão de
matriz afro-brasileira, encontrada em diversos
estados do país, que envolve dança de roda,
canto e percussão de tambores. Em Samba de
Umbigada (1 961 ), o folclorista Édison Carneiro
declara que o Tambor de Crioula constitui uma
variedade regional do samba de umbigada.
Com efeito, na coreografia destaca-se como
principal gesto a punga (ou umbigada ), que as
mulheres dão umas nas outras, guiadas pelo
ritmo do tambor grande. Gesto ancestral de
fertilidade, encarado com muito respeito pelas
dançarinas, é a punga que organiza a dinâmica
de entrada e saída das mulheres da roda.
Nas apresentações, a roda é formada por Punga, Juliana Freire e Mary, CTP, 2013.
mulheres que se movimentam de forma livre
diante de uma parelha de três tambores Após os primeiros toques (sempre iniciado pelo
(grande ou rufador, meião ou socador e meião, seguido pelo crivador e por último
crivador ou pequeno), tocada por homens. tambor grande), o cantador puxa a primeira
Segundo Tamatatíua Freire (2000) o ritmo é toada , cuja letra completa, ou parte dela, é
conferido pelo tambor grande; os outros dois repetida pelos integrantes do coro, formando o
fazem a marcação. Ela afirma ainda que: refrão. É comum os coreiros baterem palmas
acompanhando o ritmo. Daí em diante, nos
“Os três instrumentos, antes de começarem a ser intervalos existentes entre as repetições do
tocados, são levados ao fogo para que a sua pele estribilho, o cantador intercala trechos
[couro] seja ligeiramente esticada. É exigido um improvisados, versando sobre os mais diversos
alinhamento diante da fogueira, para que cada um, já
temas ao sabor do momento e de sua
criatividade. Durante o andamento da roda, os
preparado para o início da dança, possa exercer o seu
intervalos são determinados pelo cantador, que
papel com perfeição” (Freire, 2000, p. 69).
grita: “- Parô prá quentá”.
54
Nesse momento os tambores são levados até a se abra em leque, acompanhando a inflexão do
fogueira para “esquentar” (afinar) e os bailado do corpo. É comum durante a roda as
brincantes descansam, aproveitando também coreiras “pungarem” outras companheiras
para tomar água e vinho. para animar a brincadeira .
No início da roda as coreiras entram e formam Em torno da roda, pelo lado de fora, ficam os
uma meia lua em volta dos tambores, que amigos, parentes e a assistência, que participam
estão alinhados sobre uma madeira. Elas cantando e batendo palmas, ao mesmo tempo
dançam livres, tendo apenas a orientação de em que prestam assistência distribuindo água e
não se deslocarem do seu lugar. Deslocam-se vinho e cuidando dos filhos dos brincantes.
somente quando são pungadas (encontro de
ventre com ventre) e convidadas a entrar na De acordo com informações coligidas pela
roda pela coreira que está no centro. A dança é pesquisa, o Tambor de Crioula se integrou às
marcada por giros e movimentos circulares. Há apresentações do Boi de Seu Teodoro em
dois passos bem característicos: o primeiro se Brasília desde o início da década de 1 960.
manifesta pelo balanceio constante do corpo Conforme palavras de Seu Teodoro, as
de um lado para o outro, sempre com as mãos apresentações de seu grupo surgiram antes
nas pontas da saia. O segundo se realiza como uma forma de amenizar a saudade da
quando a coreira faz um pequeno círculo terra natal, do que propriamente uma
sempre orientado pelo pé direito que é lançado promessa, como é comum ocorrer no
à frente para dar início ao passo. Durante toda Maranhão. Com efeito, parte considerável dos
a dança as coreiras seguram a ponta da saia. grupos de Tambor de Crioula surge em
Nos giros, porém, elas se movimentam com decorrência de uma promessa para São
bastante intensidade fazendo com que a saia Benedito, feita pelos mais variados motivos.
João Melo, Tomás Melo, Zé Luiz Melo, Tambor de Crioula, CTP, 2013.
55
Por essa época, o grupo de pessoas
arregimentado para tocar e dançar o tambor
era o mesmo que participava da brincadeira do
Boi. Segundo Dona Maria, esposa de Seu
Teodoro, a brincadeira do Tambor iniciou-se
um ano após o surgimento do Boi em Brasília.
Afirma ainda que poucas pessoas brincavam o
Tambor. Seu Teodoro tocava e ensinava os
homens a bater os tambores. Não havia um
cantador específico. Os coreiros cantavam em
coro e alguns deles, de forma aleatória,
puxavam uma toada . Havia poucas coreiras
dentre elas: Dona Maria de Lourdes, Maria
Raimunda e Maria Cardoso. A indumentária
das coreiras era composta por uma saia bem
rodada e uma blusa com babado de uma só
cor. Os novos brincantes que foram
ch egando do Maranhão, e conheciam o
Tambor, declaravam a Seu Teodoro que a
roupa de uma cor só era típica de Tambor de
Mina, não de Tambor de Crioula. Isso
convenceu o mestre a optar por saias de Projeto Boi e Tambor nas Escolas, 2013.
chitão florido. Atualmente, as coreiras,
também chamadas bailantes, se vestem com respeitar a quaresma, por isso o início da
saias rodadas muito coloridas e blusas de temporada ocorre no Sábado de Aleluia.
cores fortes; na cabeça um torço, além de
colares e outros adornos. Os homens usam Há dois momentos em que a dimensão
camisas coloridas e chapéus de palha. religiosa se destaca: em pagamentos de
promessa de algum brincante e no batizado do
A partir dos anos 2000, o Tambor foi atraindo grupo e da parelha para o novo ciclo. Conforme
novos brincantes, sobretudo um contingente de pesquisas e relatos de brincantes, a
jovens da comunidade. Atualmente reúne cerca celebração do Batizado sempre ocorreu. Por
de 50 pessoas entre coreiros, coreiras e muitos anos aconteceu durante os festejos de
assistência. O processo de aprendizagem é São Benedito no mês de janeiro, sendo
espontâneo e informal, baseado na observação e acompanhado por uma procissão para o
imitação atentas dos movimentos coreográficos Santo. O batizado é uma celebração em louvor
e musicais dos mais experientes. a São Benedito. São escolhidos dois padrinhos
pelo responsável do Tambor que serão
Os ensaios do Tambor de Crioula ocorrem no responsáveis por benzer o grupo de tambor de
mesmo período que os do Bumba meu Boi, crioula para a nova temporada. O início é
iniciando-se no Sábado de Aleluia e se marcado por uma marcha de Tambor que é
estendendo até o dia 23 de junho, sempre aos organizada na Sala de Santo, em frente ao
sábados e antes do horário reservado à principal altar. Após esta marcha começa a ladainha
manifestação. Seu Teodoro, que era católico e para São Benedito, que desde 2008 é
homem de muita fé, procurava obedecer e conduzida pela maranhense Joana do Vale,
56
mãe de Gilvan do Vale (responsável pelo
tambor), que vem todos os anos do Maranhão
para realizar esta atividade. Ao término da
ladainha , os padrinhos benzem o grupo com
um ramo qualquer e água benta, dizendo:
57
Teodoro Freire:
Um perfil sociológico
58
Faz sete anos
Que eu não vou na minha terra
Mas esse ano fico mesmo por aqui
Eu brinco Boi
É pra me adivertir
Morena quando eu morrer
Deixo fama no Brasil
59
Teodoro Freire: um perfil sociológico
60
na área rural. E, lá, menino, trabalhava na roça. o trânsito de gente de fora, de confusão das
Teve pouco estudo. A família não brincava o novidades e conhecidos que ali se adensavam
Boi, mas fazia outras festas e celebrações: em intercâmbios intensos.
Tambor de Crioula, Festa de São Benedito e
Festa do Divino Espírito Santo. Sempre foi Na história de vida levantada, podemos
espectador atento para aprender. Desde observar que sua narrativa fixou certos
menino gostava de ver e acompanhar as símbolos de uma "partida simbólica" rumo à
pessoas. Com nove anos já estava aprendendo capital, quando aderiu, depois de muito
todos os ofícios, com a cumplicidade da avó, escolher, à torcida do Flamengo como uma de
figura recorrente na sua narrativa, que traz uma suas “nações”; e, mais tarde, à Mangueira – um
memória afetiva remota de alguém com uma time de futebol e uma escola de samba –
certa autoridade para criar "brechas" lúdicas “paixões” das quais não se libertou – sobretudo o
na dura lida diária. Flamengo – nome que adotou para um dos filhos.
Como costume no lugar, aos dez anos foi morar Migrou da capital do estado para o Rio de
na capital do estado, São Luís, como moleque Janeiro, então capital do país, em 1 953, aos 33
de expedientes em uma casa de família. anos. Como a massa dos nordestinos que
Quando ficou um pouco mais velho, seguiu em chegam na condição de assalariados para
outros empregos. Saiu da casa de família aos qualquer função, logo se empregou na
1 3 anos e foi trabalhar como ajudante de construção civil como servente, na Rua
pedreiro; depois, foi trabalhar em um botequim Marechal Câmara, 261 , em Laranjeiras, na
da Rua Portugal e em uma quitanda no
Mercado da Praia Grande, onde "aprendeu a
ser flamenguista". De lá foi trabalhar em uma
grande firma de importação e exportação de
babaçu, óleo e arroz, a Francisco Aguiar e Cia.;
e, depois, foi para a Busi Brasil LTDA., empresa
inglesa que, inicialmente, dava boas condições
de trabalho, mas que, durante a Segunda
Guerra, entrou em decadência com as
restrições na navegação marítima e comércio
internacional.
61
Incorporadora Silva. Também logo conseguiu em ethos nativos e de migrantes dispersos na
colocação como ascensorista de um prédio no massa de anônimos.
centro da cidade. Lá estabeleceu
conhecimento com várias pessoas que subiam Foi juntando maranhenses para bater Tambor.
e desciam com muitas conversas no elevador. Cada um ia trazendo suas memórias e foi se
E estabeleceu amizade com o síndico – que o constituindo um espaço de socialização, de
"liberava às sextas - feiras para ver o treino do vivência coletiva, não necessariamente
Flamengo". De lá saiu para trabalhar na Gás comunitária, a partir de referências individuais
Brasil, de onde sairia para Brasília. de pessoas de diferentes localidades do
Maranhão que ali se encontraram. Saíram no
No Rio, estabeleceu-se na Rua Jerusalém, 54, carnaval de 1 955 e Teodoro prometeu a si e ao
em Bonsucesso. Casou-se com D. Maria José. grupo que faria um Boi.
Ambos já tinham filhos de outras relações e,
juntos, formaram uma extensa família que mais O Boi efetivamente nasceu em 1 956, no Rio de
tarde, já em Brasília, proliferou em filhos Janeiro, com caráter de espetáculo folclórico,
comuns, netos e bisnetos. deslocado do tempo e espaço usual.
Apresentaram-se em 1 956, 57, 58, 59 e 60.
Teodoro não era homem de se aquietar, de se
conformar com o ambiente pouco familiar da Sob sua perspectiva, a conjuntura era favorável
grande metrópole. E tratou de arrumar uma para todas as manifestações populares de
turma de maranhenses estabelecida também caráter cultural. A condução do Presidente
no bairro de Bonsucesso; e constitui uma trupe, Juscelino Kubitschek era flexível e a polícia não
para ele coordenar, que trouxesse as os perseguia. Pelo contrário, participaram de
referências culturais do Maranhão através do festas oficiais como as Festas da Penha e no
Boi e do Tambor, criando laços de Estádio do Maracanã e foram convidados a
solidariedade que os fortalecessem como viajar para se apresentarem no aniversário de
grupo identitário na metrópole tão diversificada São Paulo. Como observa DÓRIA (1 991 ):
62
Apresentação, Antônio Costa, Zé Diniz e Bidô, 1979.
"A atividade do grupo que formara o Bumba-meu-boi
passa a merecer a atenção das instituições ligadas à
preservação e apoio das chamadas manifestações
folclóricas. É legítimo conjecturar-se sobre a ação de
Teodoro como empresário do seu grupo no
estabelecimento das relações com personagens destas
instituições, tanto que Édison Carneiro, então diretor
executivo da Campanha de Defesa do Folclore
Brasileiro já conhecia Teodoro Freire, e lhe amplia a
área de atuação: [autora citando Teodoro] 'em fins de
março de 1961, nós recebemos um convite no Rio de
Janeiro, através do Dr. Édison Carneiro, que o Dr.
Ferreira Gullar desejava conversar comigo. Então o Dr.
Édison me levou ao Jornal do Brasil, na Av. Rio Branco e
de lá, pelo telefone eu falei com Ferreira Gullar aqui em
Brasília. E ele me convidou para trazer o grupo de
Bumba Meu Boi no primeiro aniversário de Brasília.
Visto que ele ia trazer uma parte da escola de samba
Mangueira e queria trazer outro grupo popular. Então
nós aceitamos o convite, organizamos o grupo e no dia
20 de abril, nós deixamos o Rio de Janeiro com destino Miolo do Boi, anos 70.
à Brasília" (Dória: 1991. pp. 108/9)
63
De volta ao Rio, arruma meios de refazer a rota de
migração. Deixa mulher e filhos no Rio, deixa o
Boi, e segue sozinho para Brasília para arrumar
as coisas e, depois, trazer todo mundo. E assim
ele fez. Veio e foi trabalhar na chácara de um
deputado maranhense chamado Antônio Dino.
Da chácara, transitou em trabalhos e moradias
até que conseguiu se estabelecer em
Sobradinho, cidade-satélite de Brasília, e em
1 962 ser admitido como funcionário da UnB,
onde permaneceu por 28 anos. Trouxe a família
extensa que então se ampliou.
O seu projeto confluía com o de intelectuais Teodoro conta que conseguiu dinheiro com a
que estavam envolvidos no projeto politico à Fundação Cultural do DF a pedido do cineasta
época, como Édison Carneiro (Presidente da Paulo Emílio Salles Gomes, então professor da
Campanha de Defesa do Folclore Nacional), UnB, para o material de construção do
barracão de alvenaria. O material foi comprado
Ferreira Gullar (Diretor da Fundação Cultural do e roubado. O episódio enfaticamente narrado
DF), Darcy Ribeiro (Reitor da Universidade de por ele é exemplar da tenacidade e poder de
Brasília), o Deputado Antônio Dino, professores, trânsito e mediação do mestre, que não deixou
64
os companheiros do mutirão esmorecerem; ao teve importante papel de mediador entre o
contrário, foi à luta e conseguiu recursos da migrante anônimo e os poderes públicos. Teve
Fundação Calouste Gulbenkian para repor o relevante função no recrutamento de migrantes
material perdido. para os trabalhos assalariados, na medida em
que arregimentou principalmente maranhenses
Teodoro levou seu compromisso, ou projeto, a que chegavam com o compromisso de
ferro e fogo, arregimentou muita gente, não só participar no seu Boi (mesmo que não
do Maranhão, para manutenção das necessariamente brincassem o Boi no
brincadeiras do Boi e do Tambor, do CTP e fazer Maranhão) com a contrapartida de Teodoro se
representar a cultura de seu estado. Conforme esforçar para inserir todo mundo no mercado
a sua narrativa, o patrono do Boi é o deputado de trabalho, como mão de obra assalariada
Antônio Dino e os fundadores responsáveis, para a cidade que se fazia. Migrantes que iam
com ele, Raimundo, Chico e Ribamar. se estabelecendo por perto dele ou em outros
bairros populares da cidade (RIBEIRO, 2008).
Teodoro trouxe e proliferou uma extensa família Foram três movimentos contundentes de
em Brasília. E por conta do Boi ele arregimentou esforço de Teodoro na arregimentação de
gente de toda parte, com ou sem as candangos, na primeira metade dos anos 60,
habilidades necessárias na confecção de nos anos 80 e nos anos 90 três fluxos de
indumentárias, instrumentos, adereços, na chegadas bem identificados.
composição e execução musical, bailados e
dramatizações – um conjunto complexo de
saberes que compõe a performance.
65
Nos primeiros anos na nova capital encontrou Com o golpe militar de abril de 1 964, o
um ambiente favorável e estimulante para a ambiente favorável precisou ser reconfigurado.
cultura das tradições maranhenses. Eram A UnB já não era um lugar seguro para a
realizados festivais, onde eram trazidos interlocução e a busca dos recursos e lugares
de apresentação. Os professores amigos ou
grupos e expressões de todos os estados e os estavam cassados ou silenciados; assim como
cidadãos locais se reconheciam e se os estudantes e funcionários.
motivavam a se representar, mesmo que de
modo estilizado no espaço da vida urbano. Sua narrativa traz que 1 968, 1 969 e 1 970 não
Naquele começo foram implementados foram nada fáceis e o Boi quase não saiu. No
centros de referências como as casas do governo do Distrito Federal e no âmbito federal
Ceará, do Maranhão, do Rio Grande do Sul, e eram outras as pessoas a tomarem as
grupos de tradições como o de Teodoro. Com decisões e Teodoro não esmoreceu. Através de
a força simbólica, estética e política sua habilidade de mestre limitado pela
motivadora de identidades sociais só o de subalternidade estrutural da sociedade
Teodoro se sustentou e é bem cultural vigente abrangente, encontrou os caminhos para, de
reconhecido na varredura deste levantamento alguma maneira, impor um lugar para seu
preliminar do I N RC. projeto. E entrou na agenda oficial dos apoios
para o folclore:
"no início de Brasília havia um grande interesse que
tivessem grupos populares de todo o território nacional. "O Dr. Darcy [Ribeiro], Ferreira Gullar, apesar de já
Então, isso nos deu coragem de fazer também um terem saído de Brasília, e muitas outras pessoas...
Bumba Meu Boi. E o Bumba Meu Boi foi vivendo junto depois foram aparecendo mais pessoas, como o próprio
com outros grupos de Brasília. Havia vários grupos de José Sarney, que na época era deputado, tinha grande
todo o território nacional. Depois, com o desinteresse interesse que essa cultura se mantivesse aqui. E ele
das autoridades culturais os grupos foram se mesmo mandou recursos materiais e financeiros do
dispersando, foram acabando, por que isso dá um estado do Maranhão, para que se desenvolvesse esse
pouco de trabalho". (Teodoro apud DÓRIA, 1991, p. 144) trabalho". (Teodoro apud DÓRIA: 1991, p. 143)
Aniversário de 91 anos de Seu Teodoro, 2011. Tamatatíua Freire e Seu Teodoro, 2009.
66
O seu compromisso foi cumprido na medida do Observando a trajetória de Teodoro Freire é
seu possível, não obstante as adversidades, as possível constatar a continuidade na
mudanças políticas e os constrangimentos orientação da conduta para a realização de
habituais colocados aos indivíduos das uma obra com consciência de uma espécie de
camadas populares – por mais brilhantes que missão cívica, política. Um projeto, como
sejam. O compromisso maior não era a de conceito formulado por Gilberto Velho (1 981 ):
projeção e destaque individual, mas era com o projeto é a tentativa consciente de dar sentido
povo que arregimentava. E defendeu seus ou coerência à experiência da fragmentação
ideais, seu grupo e o território das tradições de papeis e heterogeneidade de mundos na
populares do Maranhão em Brasília com a complexidade social. Em outros termos, é a
maestria própria de um mediador cultural organização da conduta no sentido de atingir
excepcional; que transitou e argumentou com fins específicos. O projeto é consciente,
vários personagens relevantes em vários envolve algum tipo de cálculo e planejamento;
universos culturais e estruturas sociais e deve fazer sentido, mesmo que rejeitado, na
políticas da sociedade brasileira. Assim, relação com os contemporâneos; e pressupõe
sobreviveu com sua trupe e seu ideal à ditadura uma margem de escolha que indivíduos têm em
militar, aos governos eleitos democraticamente um campo de possibilidades histórica e
de divergentes ideologias e praxis políticas. culturalmente circunscrito.
Transitou à esquerda e à direita das ideologias Os projetos são, em função dos campos de
correntes arregimentando uma extensa rede de possibilidades, essencialmente dinâmicos,
colaboradores, pelos departamentos da UnB, mudam, são substituídos, transformados,
pelos gabinetes de parlamentares, entre esquecidos ou mantidos. Velho observa a
estudantes, funcionários públicos, jornalistas, grande possibilidade de mudanças nos
pesquisadores e artistas, levando sua trupe projetos ao longo das vidas de seus portadores
com seus ideais. Andando pelo país. Uma – nominando o fato como metamorfose. No
liderança que transitou por vários mundos caso de Teodoro, observamos coerência que
argumentando e assegurando os recursos para delineia minimamente um projeto continuado e
o brilhantismo das performances, para persistente, fundado ao mesmo tempo na
sustentação e motivação de um coletivo. orquestração de um coletivo através de
referências culturais e tradições populares
Observa-se que, embora o Boi de Seu Teodoro maranhenses e de uma perspectiva cívica,
tenha as referências e fundamento nas política, de que suas decisões afetariam o
celebrações do Boi no Maranhão, suas destino do país.
características são muitos próprias de uma
ocorrência original e criativa, no sentido da A noção de campo de possibilidades é
consolidação da tradição maranhense na importante de ser destacada, pois um projeto
capital federal. Temos, no caso pesquisado, uma não é realizado única e exclusivamente em
ocorrência singular e original de uma tradição, função da vontade individual de um sujeito. Mas
em um determinado período de tempo, é produto da interação entre vários sujeitos
conjuntura histórica, em sitio geográfico bem com projetos específicos (coincidentes ou
circunscrito. Características que qualificam este conflitantes), em processo permanente de
bem como patrimônio cultural do DF. negociação da realidade.
67
Teodoro transitou em um campo de do Boi em Brasília, Teodoro Freire foi um
possibilidades relativamente favorável para um person agem fun dam en tal : um sábio
migrante nordestino com pouco estudo e m aestro vision ário catal izador de várias
nenhum dinheiro. Seu capital diferencial foi a h abil idades n as artes das perform an ces;
sabedoria adquirida com a vivência de um a l ideran ça com carism a e autoridade
aprendizado constante no mundo do Boi e do organ izadora de um a exten sa rede para
Tambor, no Maranhão. De certa forma a cultura al ém de um a am pl a rede fam il iar.
erudita específica de seu mundo lhe
possibilitou aproximação com o que o campo Assim, todo o reconhecimento em torno do
intelectual e político nacional da época nome de Teodoro evoca sua centralidade neste
denominou de folclore – e para isto os eruditos mundo que constitui o Boi; e o papel
das elites dedicavam certa atenção. fundamental como mediador na interface
Certamente que também foram determinantes, deste mundo do Boi, com o universo
para a trajetória que agora podemos observar, abrangente. Mas este mundo não pode ser
seu expediente de mediador, de articulador. compreendido como produto exclusivo do
gênio de Teodoro, posto que é, nos termos de
A construção de identidades e a elaboração de BECKER (1 982), uma criação coletiva,
projetos individuais têm sempre uma dimensão orquestrada por um mestre eficiente, em uma
de engajamento maior ou menor em projetos interação de diferentes atores representando
coletivos, baseados na combinação de segmentos e interesses, em ambiente com
interesses comuns, afinidades que podem ser condições de proporcionar a concretização
de várias naturezas como a classe, a etnia, o dos projetos convergentes em termos
ethos, a origem, a vizinhança, a família, a materiais, técnicos e simbólicos.
política. O projeto pessoal de Teodoro é
coletivo, e empreendeu deliberadamente um Gilberto Velho (1 994) chama a atenção para a
movimento maior confluente com a história do dinâmica de desempenho de papéis nas
país, pois foi elaborado com consciência sociedades moderno-contemporâneas, as
crítica, adesão ideológica deliberada a um quais se caracterizam, entre outras coisas,
projeto de nação específico de uma conjuntura, pela diversidade de contextos, multiplicidade e
representado simbolicamente pela mudança descontinuidades entre domínios simbólicos e
da capital, como mostra VILHENA, em estudo províncias de significados. Nelas existem
sobre o movimento folclorista brasileiro (1 997). pessoas com experiências sociais nem
homogêneas ou redundantes; e pessoas
Teodoro, seu grupo e o território que ocupam cujas existências se caracterizam por grande
são constitutivos de um projeto, eles mesmos, mobilidade entre mundos sociais distintos,
sujeitos e sujeitados a uma simbólica que com experiências diversificadas e muitas
envolve a construção de Brasília e de uma certa vezes contraditórias. É a capacidade de
identidade nacional consensuada entre trânsito entre mundos distintos que dá a
segmentos distintos da sociedade. Seu projeto alguns indivíduos a possibilidade de
pessoal foi também um projeto de um coletivo desempenhar o papel de mediador cultural. O
que ele arregimentou, catalisou um movimento mediador é central em ampla e diferenciada
social estrito de migração, vivência e rede de relações entre grupos e indivíduos.
reinvenção de tradições populares do Tem a capacidade de traduzir e manipular
Maranhão no Rio de Janeiro e em Brasília. diferentes linguagens e códigos.
Nesse processo de construção e consolidação
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"Trata-se do papel desempenhado por indivíduos que mobilização social, criatividade e estratégias
são intérpretes e transitam entre diferentes segmentos de manutenção de saberes, práticas e laços
e domínios sociais [. . . ]. Esses brokers, mediadores, identitários; mas não um facilitador de
tornam-se especialistas na interação entre estilos de ascensão social e estabilidade econômica
vida e visões de mundo. Embora na origem, pertençam para os detentores do bem cultural.
a um grupo, bairro ou região moral específicos,
desenvolvem o talento e a capacidade de intermediarem Destacamos, então, em Teodoro Freire a
mundos diferentes”. (VELHO, 1994, p. 81)
sabedoria, a articulação, o projeto coletivo e,
na sua trajetória, a mobilidade espacial e
Existem vários tipos de mediadores: artistas, cultural: do Maranhão ao Rio, e de lá para
políticos, juízes, sacerdotes, jornalistas, etc. Brasília; circulando entre segmentos sociais e
Indivíduos em inúmeras funções intermediárias mundos simbólicos distintos. Entretanto
nos processos mais gerais de produção e observa-se o limite da condição de
reprodução de cultura. Os mediadores podem subalternidade fundada na condição de
funcionar como articuladores, intérpretes, classe conjugada ao preconceito de cor
porta-vozes, que a partir do cotidiano, de abominável, tão presente na sociedade
decisões e ações localizadas, de alterações e brasileira. E também um limite imposto pela
invenções de papéis sociais, desenvolvem hierarquia das artes e saberes estabelecida
projetos, criam novos espaços, inovam e estruturalmente pelos mecanismos oficiais de
redefinem situações. reconhecimento e promoção.
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Assim apesar do apoio dado pelos amigos e Desde meados dos anos 2000, Seu Teodoro foi
poderes públicos, ele e a trupe não passando seus conhecimentos e contatos para
ascenderam enquanto artistas. Seus saberes e seu filho mais novo, Guarapiranga Freire, o
suas artes não foram reconhecidos além de Guará, com o intuito preciso de deixar um
folclore, com atenção e recursos instáveis; e sucessor que mantivesse seu legado
muito aquém dos merecidos e destinados aos institucional e que desse continuidade ao Boi.
diretores ou maestros e suas trupes em Em 2009, Guará assume a presidência do
espetáculos cênicos, coreográficos, musicais, Centro de Tradições Populares e a direção do
voltados às camadas médias. E no geral não Boi, ainda sob a supervisão de Seu Teodoro,
ascenderam além da classe média baixa, processo que se estendeu até o falecimento do
moradora da periferia do Plano Piloto. mestre, em 1 5 de janeiro de 201 2.
Com isso, não consolidou ou efetivou as garantias E, hoje, é posto o desafio permanente da
para a sustentabilidade de sua obra coletiva. A continuidade da obra – do projeto pessoal que
cada ano surge uma nova incerteza sobre se tudo sempre foi coletivo – pelos herdeiros
vai sair como se deve, se haverá todo o recurso consanguíneos e afins. Estes, agora não têm o
necessário. Fora as garantias para as carisma e maestria fundada na figura central de
performances do Boi, das outras tradições Teodoro, mas comungam da solidariedade, do
cultivadas no Centro de Tradições Populares, sentido de serem um coletivo com uma
existe todo um gasto e investimento de recursos identidade, detentores de um capital simbólico
financeiros e psíquicos que são mobilizados para valoroso para eles e para a cidade. Ali, cada um
atividades que transcendem o necessário para as é sabedor que tem em mãos a missão individual
performances, mas que são fundamentais em um projeto coletivo de dar conta de um
estratégias diplomáticas para as motivações e pouquinho do todo, sem perder a grandiosidade
objetivos políticos de afirmação de referências, do conjunto, do legado do mestre, que se faz
identidade e lugar no mundo. Não são poucos os imortal na permanência de sua obra.
custos envolvidos com a produção e reprodução
social de uma manifestação cultural popular. O Boi de Seu Teodoro desde a origem é
Mesmo com os apoios e patrocínios conseguidos constituído na força criativa de um coletivo, em
em suas peregrinações diárias, ainda há interlocução permanente com os poderes
dispêndio que é dividido pelos detentores públicos. Após o reconhecimento como
brincantes, que já não têm muitos recursos. E Patrimônio Cultural, espera-se que o sentido de
tem sido crônica a instabilidade e dificuldade de responsabilidade sobre a manutenção deste
manutenção do padrão e modelo de excelência bem cultural seja tomado como prioridade
que o mestre instituiu. pelos poderes públicos, de maneira
responsável e compartilhada com os
Como honraria recebeu o título de Cidadão detentores dos saberes e do projeto coletivo
Honorário da cidade, ainda em vida, no ano de catalisado pelo Mestre.
201 1 . Recebeu o titulo de Mestre de Notório
Saber na UnB e o Boi o título de Patrimônio
Cultural do DF. Seu legado é reconhecido,
valorizado e admirado. Entretanto seu
território, no CTP, não é titulado
definitivamente pelos poderes públicos. E os
recursos para a manutenção das festas e do
CTP não são garantidos.
71
Recomendações
para a salvaguarda
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50 anos esse Boi faz agora
50 anos de luta
50 anos de glória
Êêê Teodoro que saudade o povo chora
Foste pra eternidade
Teu nome ficou na memória
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Recomendações para a salvaguarda
1. Criação de um Comitê Gestor para a
salvaguarda do Boi de Seu Teodoro. Já foi realizada
uma oficina com os detentores desses saberes e
práticas, na qual foi explicada a importância de se
constituir um Comitê Gestor para o
encaminhamento de um plano de salvaguarda
de curto médio e longo prazo. Recomenda-se
que este comitê seja composto de uma maioria
de detentores do patrimônio de diferentes
gerações, Secretaria de Cultura do Distrito
Federal (Secult-GDF), Iphan, Secretaria de
Educação do DF (SEDF), Ministério Público do
Distrito Federal, UnB, sociedade civil que atue
na área da cultura popular e outras instituições
ou pessoas que forem afetas à questão;
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Cartola no Rio de Janeiro e a Casa do Samba,
em Santo Amaro, na região do Recôncavo
Baiano – ambos lugares bem sucedidos na
gestão das matrizes do samba carioca e o
samba de roda do Recôncavo. Também é da
maior importância oficinas de elaboração,
gestão e prestação de contas para projetos
voltados para os editais lançados no DF e
federação, no âmbito público e privado;
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9. Continuidade do esforço para constituição, autorais conexos, direitos coletivos e difusos;
conservação e disponibilização de acervo no direito ao território. A prioridade para a
âmbito da salvaguarda: chamadas para que o salvaguarda parece ser a regularização do
público amplo e a comunidade do Boi território do CTP junto à Terracap; o Registro do
encaminhem seus documentos pessoais ao Lugar como Patrimônio junto à Secretaria de
CTP, para que se constituam em acervo Cultura do DF; a regulamentação da prática de
histórico documental; tratamento dos emitir autorizações para pesquisa e
documentos. Nesse sentido são fundamentais documentação no sentido de resguardar os
os serviços profissionais de restauro, direitos de uso de imagens;
conservação, arquivamento e disponibilização
para público amplo; 1 2.Prêmios e concursos. Pode-se implementar a
prática de concursos de toadas, de comédias etc.,
1 0.Ações educativas, com a experiência já em junto aos brincantes a título de estímulo à criação;
curso do “Boi nas escolas”. Nota-se um enorme
potencial e um rol de providências necessárias: 1 3. Articulação de políticas públicas de apoio
elaboração de materiais didáticos próprios aos e/ou salvaguarda do universo cultural. É
diferentes segmentos do público: educação importante que tanto o Comitê Gestor, quanto
infantil, ensino fundamental e ensino médio. todos os detentores, tenham atenção a uma
articulação permanente no sentido de ampla
Também recomendam-se ações educativas conjugação de esforços com vistas a
desenvolvidas no CTP; como oficinas dos salvaguarda. Nesse sentido, recomenda-se
saberes cultivados para público amplo e articulação com os detentores de bens
oficinas de música, dança e artesanato; registrados no DF; e com os detentores de bens
culturais registrados no âmbito do Iphan, como
11. Atenção à propriedade intelectual, direitos o Boi e o Tambor de Crioula no Maranhão.
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Festa de São Sebastião, derrubada do mastro, CTP, 2013.
Festa de São Sebastião, Dona Lurdinha, CTP, 2013. Festa de São Sebastião, Jacy Freire, CTP, 2013.
77
Bibliografia
78
Bibliografia
BECKER, Howard S. RIBEIRO, Gustavo, Lins.
Arts Worlds. O Capital da Esperança: a experiência dos
California, University of California Press, 1 982. trabalhadores na construção de Brasília. Brasília: Editora
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CARNEIRO, Édison.
Samba de umbigada : VELHO, Gilberto.
Tambor de Crioula, Bambelo, Samba de Roda, Partido Individualismo e Cultura: notas para uma
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Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1 961 . Rio de Janeiro: Zahar, 1 981 .
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A Comunidade na Preservação da Cultura Popular -
O Centro de Tradições Populares de Sobradinho.
Monografia de Conclusão de Graduação/Licenciatura Plena
em História. Brasília, UPIS - Faculdades Integradas, 2000.
GOFFMAN, Erving.
A representação do eu na vida cotidiana .
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SCHUTZ, Alfred.
Fenomenologia e Relações Sociais.
Rio de Janeiro: Zahar, 1 979.
SIMMEL, Georg.
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RAMASSOTE, Rodrigo.
Tambor de Crioula - 1979.
São Luís: Superintendência Regional do Iphan no
Maranhão, 2008.
79
80
Festa de São João, 2011.