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O ódio está em como se fala

A liberdade de expressão é um direito garantido pela constituição. Expressar seus


pensamentos nem sempre é liberdade, pode ser também uma forma de cercear a liberdade
do outro. Um bom exemplo é o indivíduo que diz “sou contra a união homoafetiva”, esse
discurso não expressa somente a preferência da pessoa que não tem interesse em participar
de uma união homoafetiva, mas condena as pessoas que o fazem. Há uma grande diferença
se comparado com a fala “eu não desejo estabelecer uma união homoafetiva”, a qual não
condena as pessoas que decidem por fazê-lo.
A partir disso a mudança na forma de se expressar dos indivíduos pode contribuir
para que o falante se expresse adequadamente e não reproduza falas com julgamento
implícito. As verbalizações, segundo B. F. Skinner, são comportamentos cuja origem está
na história do indivíduo e na história da cultura. Assim as pessoas aprendem a falar o que
ouvem, e o indivíduo também formula regras para a sua própria vida conforme tem contato
com diferentes fatos e vivências.
A forma de expressar opiniões pessoais está por vezes contaminada com as regras
que o indivíduo possui. Quando verbalizadas as opiniões são extrapoladas e o “eu não
quero”, que tem caráter pessoal, se torna “eu sou contra”. Algumas pessoas comumente
dizem que são contra mas não apoiam, e isto deixa ainda mais claro a reprovação por quem
decide fazê-lo. Assim ao passarmos a expressar nossas vontades pessoais no lugar de valores
com caráter genérico transmitimos outro tipo de mensagem.
Falar de forma diferente deixará mais claro se a pessoa está falando sobre suas próprias
preferências ou se está se referindo ao que os outros deveriam fazer ou deixar de fazer. A
partir do momento que as pessoas conseguirem expressar de forma mais coerente o que
pensam os discursos de ódio tenderão a diminuir pois o “eu sou contra” tem significado
notoriamente diferente do “eu não quero”. Assim as falas serão transmitidas e aprendidas
através das vivências pessoais e culturais, e os indivíduos terão mais condições de separar
o que são suas preferências e o que são julgamentos morais.

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