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Prática IAD – Lição 1

Ana Rita Fontela

Parte I – O Direito – problema do direito

Objetivos da introdução ao direito:

1. Índole / perspetiva desta introdução ao Direito


2. As perspetivas sociológica (porque o direito é um fenómeno social), filosófica e
epistemológica (ciência do saber)
3. Adoção da perspetiva normativa dirigida ao “QUID IUS”

Direito

Não se pode definir direito, visto que só se pode definir o que não tem história. Podemos é
caracterizá-lo:

 Direito é um conjunto de normas jurídicas que regula o comportamento humano


numa determinada sociedade e numa determinada época – não existe direito sem
sociedade;
 Direito regula alguns comportamentos, não todos;
 Há outras normas que regulam o comportamento humano (ex. normas éticas e
morais);
 Não há Direito universal para todas as épocas e todas as sociedades;
 Os pais fundadores foram os romanos, mas devem-no muito aos gregos (justiça,
paz, democracia, …), ou, por outras palavras, o Direito tem origem greco-romana
mas os verdadeiros pais fundadores do Direito são os romanos.
 O direito é uma gramática de imperativos;
 Tem 5 características básicas: valor, tempo (porque tudo está exposto a erosão o
tempo), método, sistema e analogia (problema concreto – o raciocínio tem pólos
no mesmo nível). Não podemos pensar claramente se não tivermos em mente
estas características.

Várias perspetivas diferentes na abordagem desta disciplina:

Comecemos por referir que é possível encontrar várias perspetivas diferentes na


abordagem desta disciplina de introdução ao Direito, entre as quais:

 Perspetiva Sociológica: Já que o direito é, inquestionavelmente, um


fenómeno social – decorre da sociologia.
 Perspetiva Filosófica: pois se o direito nos dirige deveres e nos imputa
responsabilidades, podemos questionarmo-nos com que fundamento é que o
faz
 Perspetiva Epistemológica: o direito é tratado como um objeto e, por isso,
esta perspetiva está ligada à reflexão. Isto leva a que exista várias formas de

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compreender o conceito de Direito. Visto que o Direito é um objeto que aí está,


aberto ao nosso conhecimento.
A epistemologia jurídica aborda o ser humano como um ser único, onde cada
um apresenta formas distintas de pensar e agir e, por esse motivo, o Direito
pode ter várias interpretações.

Procuraremos compreender o Direito como dimensão normativa da nossa prática, visto que
este é fundamento / critério de muitos dos nossos comportamentos, na medida em que diz da
validade / invalidade, da licitude / ilicitude de muitas das ações por mediação das quais
interagimos comunitariamente.

 Perspetiva Normativa: cruza-se com todas as anteriores, mas não se reduz a


qualquer uma delas. Porquê Normativa? Porque é o direito que diz o que
devemos ou não fazer (forma de conduta) – reconhece-nos direitos e deveres.
O direito é o” principio ou fundamento normativo”, que determina a validade
dos nossos comportamentos societariamente relevantes.
Esta perspetiva é a única que se adequa à tarefa do jurista, pois este é aquele
que assume a intenção do direito para projetar regulativamente na realidade
social.

Deste modo, o Direito é uma norma de dever-ser e, por isso, padrão constitutivo da própria
ação e das relações que estabelecemos uns com os outros.

Rejeição das perspetivas sociológica, filosófica e epistemologia

 O sociólogo não está comprometido com o objeto que estuda, pelo contrário,
distancia-se dele, sendo-lhe heterónomo o objeto que pretende analisar;
 O filósofo reflete especulativamente o eventual sentido da normatividade jurídica,
mas não se envolve na sua realização histórico-concreta;
 O epistemólogo, preocupado em descrever o Direito nos seus quadros e conceitos
ou em reduzir critico-explicitamente o Direito a certos referentes (tais como a
interesses, à politica, a valores), pode chegar a elaborar uma ciência do direito sem
Direito.

Apesar de a nossa perspetiva (a dos juristas), ser basicamente normativa não devemos
“largar mão” das perspetivas sociológica, filosófica e epistemológica, uma vez que as
utilizaremos como subsidiárias e instrumentais.

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O Direito enquanto “Quid Ius”(o que é o Direito) e não enquanto


“Quid Iuris”(Direito enquanto resposta aos problemas)

O Direito, normativamente perspetivado, pode ser considerado de dois modos diferentes:

1. O Direito aparece como critério de solução em questões de Direito - “quid iuris”


(em que se pergunta: o que de Direito se pode dizer neste caso? Que normas ou
soluções jurídicas devem ser aplicadas num caso concreto?)
Nestes casos, o Direito é pressuposto, não é ele próprio interrogado.
2. Quando interrogamos e questionamos o próprio Direito como um autêntico
problema – “quid ius” (em que se pergunta: o que é o Direito? / O que é isso a
que chamamos Direito?).

Utilizamos, nós juristas, o “quid ius”, uma vez que, o Direito para ser aplicado
necessita sempre de um mediador e vai-se constituindo à medida que se realiza.
O Direito é mais do que as normas jurídicas.

Atitude do jurista perante o Direito

No quadro da perspetiva normativa, podemos afirmar que a atitude do jurista perante o


Direito deve ser uma desta duas:

1. Atitude técnico-profissional: Na qual o jurista pretenderia conhece as leis para as


aplicar às controvérsias que surgissem no grande mercado de interesses em que se
transformaria o mundo, sem qualquer compromisso cultural com o Direito e
exercendo um oficio puramente técnico, pelo que só deveria atender aos meios
sem ter que problematizar os fins que lhe seriam pré-impostos por uma outra
instância.
Nesta primeira hipótese, o Direito seria dado ao jurista, que o mobilizaria como
objeto.
OU

2. Atitude criticamente comprometida com os objetos práticos do Direito: nesta, o


Direito é uma tarefa que toca o jurista, que procura encontrar no direito a sua
intencionalidade prático-normativa.

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Qual destas posições optar?

Sem dúvida que é a segunda hipótese, uma vez que percebemos que o jurista deve
compreender a especificidade da tarefa e o sentido dos problemas culturais que o Direito lhe
coloca, envolvendo-se neles. Devendo ainda preocupar-se com as questões éticas, não
podendo deixar de atender à concreta determinação das ações axiologicamente
(valores/princípios) louváveis, como das pressuponentes e constituendas questões de saber
o que é o “bem” e “dever ser”. Também o jurista só poderá ajuizar do mérito jurídico dos
problemas concretos com que institucionalmente se veja confrontado se tiver pré-
compreendido o particular sentido das consequentes exigências que perpassem o Direito.

O Jurista não pode deixar de ter em conta que o Direito se vai alterando ao longo do tempo!

FIM DA 1ª LIÇÃO

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