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TEXTOS LONGOS
Blogue de apoio ao "As Minhas Leituras"
Acerca de mim
Nada do que é social e humano é mais real que as utopias. Na sua vertente eutópica, as
utopias constituíram sempre o fundamento simbólico e mítico sem o qual nenhuma forma de
organização social se sustenta, justifica ou sobrevive. E criam, tanto na vertente eutópica como
na distópica, o vocabulário da revolução e da mudança: sem os amanhãs que cantam (ou
choram) teríamos, em vez de História, um presente intemporal e eterno - como o dos faraós
ou o de Francis Fukuyama.
Aldous Huxley publicou o seu Brave New World em 1932. George Orwell, que não tinha em
grande conta este livro ou o seu autor, publicou 17 anos depois a sua própria
distopia, Nineteen Eighty-Four. Entre estas duas datas interpôs-se a Segunda Grande Guerra:
não admira que na primeira a técnica básica da opressão do Estado fosse a manipulação
genética e que na segunda, depois do descrédito em que o regime nazi lançou o eugenismo, as
técnicas principais da opressão sejam a lavagem ao cérebro, a crueldade gratuita e a
manipulação da linguagem.
Apesar desta e de outras diferenças, os dois textos foram muitas vezes lidos, nas décadas
seguintes, como os dois pólos - um hedonista, outro o oposto disto - duma mesma distopia, a
que os sinais dos tempos davam e dão plausibilidade. Esta distopia bipolar é identificável em
grande parte com a ideia de modernidade; e hoje a invocação da modernidade, sempre na
boca dos políticos e dos capitães da indústria, soa aos nossos ouvidos tanto a ameaça como a
promessa.
Do texto de Aldous Huxley, o que entrou na linguagem corrente, traduzido para todas as
línguas, foi o sobretudo o título: "admirável mundo novo". A expressão é utilizada em toda a
parte mesmo por quem nunca leu a obra: das mesas dos cafés aos blogues, das crónicas dos
jornais aos debates nos media. Do texto de Orwell, toda a gente utiliza, própria ou
impropriamente, expressões como Big Brother, newspeak (que até teve, em português, honras
de tradução: "novilíngua"), ou ainda doublethink. Uma coisa é certa: nenhuma destas
expressões se teria conservado até hoje no uso corrente se não tivesse referentes no real
quotidiano.
A mesma sorte não teve 1985, de Anthony Burgess, publicado em 1978. Um texto anterior de
Burgess, também ele distópico, é de longe mais conhecido, talvez pela versão filmada que dele
fez Stanley Kubrik: A Clockwork Orange. 1985 recupera alguns temas e tropos deste texto e
apresenta-se como um balanço crítico de Nineteen Eighty-Four. Divide-se em duas partes: um
ensaio sobre o texto de Orwell e a construção duma distopia alternativa, imaginada por
Burgess 29 anos mais tarde. A frase final da primeira parte do livro é: 1984 is not going to be
like that at all. Frase corajosa, vinda dum escritor que admirava e respeitava o objecto da sua
crítica. E é com ela que Burgess nos autoriza a fazermos nós também o balanço crítico da sua
alternativa, decorridos mais que outros tantos anos desde a sua publicação.
Vejamos então o que sobreviveu melhor ao curso da história: se Nineteen Eighty-Four aos
últimos 60 anos, se 1985 aos últimos trinta e um.
As diferenças entre as duas distopias não surpreendem, sabendo que uma foi escrita por um
socialista libertário, pouco à vontade no seu estatuto social de nascença que o colocava nas
franjas do poder, e a outra escrita por um conservador a quem o facto de pertencer a uma
elite social e intelectual não incomoda minimamente. Na primeira, o opressor é um Estado por
assim dizer anti-utilitarista, ou seja: inteiramente dedicado à prossecução do maior mal do
maior número. Burgess faz notar, na sua crítica a Orwell, que um Estado assim nunca existiu
nem pode existir. Mesmo os regimes que mais se aproximam deste modelo são
intrinsecamente instáveis: Calígula acabou assassinado, e o Império nazi, que era para durar
mil anos, durou doze. Reconhece Burgess, contudo, que Orwell tem bons modelos para a sua
terrível invenção: o franquismo contra o qual lutou, o estalinismo que assassinou na Catalunha
os seus camaradas anarco-sindicalistas, ou o nazismo, de cujos horrores se começava a tomar
conhecimento quando o livro foi escrito. Bastou a Orwell absolutizar e levar ao extremo do
concebível estas realidades históricas, et voilà: aí temos o Ingsoc, abreviatura de English
Socialism, ou seja: Socialismo Inglês.
Burgess nota, com a indulgência a que as suas próprias contradições o obrigam, a ironia de um
socialista chamar socialismo ao regime mais monstruoso que consegue imaginar; mas não
precisa de explicar, e não explica, as razões óbvias desta opção. Nós, habitantes do Século XXI,
habituados pela propaganda vigente a equacionar "esquerda" com "estatismo", também
podemos ver ironia na escolha deste nome. As razões de Burgess para notar esta ironia são,
contudo, um pouco diferentes das nossas. Burgess não era um anti-estatista doutrinário, mas
sim um conservador na tradição burkeana, a quem a ideologia anarco-capitalista e
revolucionária representada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan repugnaria tanto como a
qualquer militante da esquerda dita radical. Não acredita que o Estado seja a emanação do
Mal, mas exige dele essa coisa fora de moda que é a responsabilidade moral. No
capítulo "Clockwork oranges" de "1985", declara os seus pressupostos ético-políticos:
A chemical substance injected into [Alex's] blood induces nausea while he is watching the films,
but the nausea is also associated with the music. It was not the intention of his State
manipulators to introduce this bonus or malus: it is purely an accident that, from now on, he
will automatically react to Mozart or Beethoven as he will to rape or murder. The State has
succedeed in its primary aim: to deny Alex free moral choice, which, to the State, means choice
of evil. But it has added an unforeseen punishment: the gates of heaven are closed to the boy,
since music is a figure of celestial bliss. The State has commited a double sin: it has destroyed a
human being, since humanity is defined by moral choice; it has also destroyed an angel.
O Estado aqui descrito não é imoral, como o de Orwell, por opção metafísica da oligarquia que
o dirige: é, mais realisticamente, um Estado amoral. Há, e houve, Estados imorais, mas nunca
houve nenhum que se definisse exclusivamente pela imoralidade. Burgess tem razão neste
ponto. Monstros desta natureza relevam mais de ficções como Harry Potter ou Lord of the
Rings do que da realidade política que vivemos. O Mal absoluto, diz Burgess, é tão
desinteressado como o Bem; e todas as tiranias estáveis estão ao serviço de interesses.
Não é que não nos sintamos tentados, por vezes, a elaborar fantasias deliciosamente
assustadoras sobre os "Senhores do Mal"; mesmo nós, portugueses, cá no nosso cantinho,
detectamos um eco distante destas fantasias quando ouvimos um político, um economista ou
um empresário deixar no ar a ideia de que tudo o que é impopular é necessariamente justo e
acertado e tudo o que beneficia o cidadão comum é injusto e desastroso. Levada inteiramente
a sério, esta ideia implicaria uma negação total e radical da democracia; mas somos, tal como
Burgess, demasiado sensatos para levar muito a sério ou muito à letra tudo o que diz o poder,
e é por isso que não confundimos José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues com Voldemort.
Ao contrário de Thatcher e de Reagan, Burgess não via no Estado a única, nem
necessariamente a principal, fonte de opressão. O Estado que Burgess denuncia não é o
pesadelo de Orwell, que para Burgess não passa disso mesmo: dum pesadelo. Nem é o Moloch
burocrático da lenda negra anti-socialista. É, acima de tudo, o Estado de Ivan Petrovitch Pavlov
e de Burrhus Frederic Skinner:
The Soviet State wished to remake man and, if one knows Russians, one can sympathize. Pavlov
deplored the wild-eyed, sloppy, romantic, indisciplined, inefficient, anarchic texture of the
Russian soul, at the same time admiring the cool reasonableness of Anglo-Saxons. Lenine
deplored it, too, but it still exists. Faced with the sloth of the waiters in Soviet restaurants
(sometimes three hours between taking the order and fulfilling it), the manic depression of
Soviet taxi-drivers, the sobs and howls of Soviet drunks, one can sometimes believe that
without communism this people could not have survived. But one baulks, with a shudder, at the
Leninist proposal to rebuild, with Pavlov's assistance, the entire Russian character, thus making
the works of Chekhov and Dostyevsky unintelligible to readers of the far future.
B. F. Skinner foi um behaviourista radical, bem conhecido pelos professores como teórico da
Educação cujas teses ainda hoje têm influência política no nosso País e noutros. Mas tem
outras facetas menos conhecidas: como filósofo político, produziu em 1948 Walden Two, uma
eutopia - ou distopia, conforme o ponto de vista - em que as técnicas de psicologia do
comportamento conduzem a uma harmonia social perfeita; como filósofo moral, produziu em
1971 Beyond Freedom and Dignity, título este que não pode deixar de dar calafrios a Burgess -
e, creio bem, a muitos de nós. Burgess denuncia o Estado Soviético não tanto por pretender
privar o homem da sua liberdade económica como por pretender privá-lo, na esteira de Pavlov
e Skinner, da sua liberdade moral.
Mas se o Estado não é a única nem a principal fonte potencial de opressão, então não basta a
Burgess denunciar o Estado, como em A Clockwork Orange; é preciso enumerar e denunciar as
outras forças potencialmente hostis à liberdade (leia-se: liberdade moral) do ser humano:
There are, indeed, forces always ready to diminish State power, though oppressive enough in
their own ways. Multinational companies that can make and break governments but don't give
a damn about matters of responsibility to thought, art, sentiment, health, morality, tradition.
The manipulators, the true investigators into the power of propaganda, meaning doublethink,
subliminal suggestion, rendering us unfree in the realm of what we consume. Trade unions.
Minority groups of all kinds, from the women's liberationists to the gay sodomites. And where
we expect the State, that takes our money, to protect us from the more harmful of the anarchic
forces of the community, there we find the State peculiarly powerless.
Se Burgess soa aqui como um cruzamento anti-natural entre um manifestante anti-
globalização e um moralista reaccionário, reflictamos que o texto foi escrito antes de, quer o
neoliberalismo, quer o movimento politicamente correcto terem adquirido o estatuto de
verdades dificilmente questionáveis.
Na segunda parte de 1985, Burgess já não toma como alvo o Estado de Pavlov e Skinner, mas
sim uma das forças que enumera nos capítulos anteriores. O vilão principal de Burgess é, nesta
narrativa, o movimento sindical. Não o movimento sindical tal como existiu nos países
democráticos ao longo dos séculos XIX e XX, mas aquilo em que ele parecia estar a tornar-se
no Reino Unido em 1978: um sindicalismo totalitário que se substitui ao Estado e regula
despoticamente todos os aspectos da vida em sociedade. Este retrato do movimento sindical
era em parte, mesmo naquele tempo e lugar, pura e mal intencionada propaganda; mas
propaganda em que Burgess acreditou. Tal como Orwell se tinha alegrado, trinta anos antes,
com a vitória avassaladora do partido Trabalhista nas primeiras eleições que se seguiram à
Guerra, é possível que Burgess se tenha alegrado com o triunfo de Margaret Thatcher, no ano
seguinte ao da publicação de 1985, com base num programa explicitamente anti-sindical. Se
assim foi, esta alegria deve ter durado pouco.
Na novela de Burgess, a personagem principal é um professor de História e línguas clássicas,
desafecto a um sistema que não lhe permite ensinar nada que possa ser considerado "elitista".
Esta dissidência leva-o primeiro à demissão e à escolha de um trabalho manual (pasteleiro)
que não lhe suscita problemas deontológicos, depois à clandestinidade e por fim à prisão
perpétua.
Em Nineteen Eighty-Four a personagem principal é um burocrata chamado Winston Smith; o
professor que protagoniza 1985 chama-se Bev Jones. A escolha dos nomes não é trivial, como
assinala explicitamente Burgess a propósito do nome que escolheu para o protagonista de A
Clockwork Orange: Alex, diminutivo de Alexander, ou seja, em grego, "salvador de homens". "
Smith" e "Jones" são os sobrenomes mais banais do mundo anglo-saxónico. O nome próprio
"Winston" produz, associado a "Smith", um efeito dissonante que se repercute em " Bev Jones.
O nome próprio dado à personagem pelo pai pode constituir uma homenagem a uma de três
figuras históricas: Ernest Bevin, organizador sindical, dirigente do Partido Trabalhista e
Ministro do Trabalho a partir de 1940 no governo de coligação de Winston Churchill; Aneurin
Bevan, Ministro da Saúde a seguir à vitória trabalhista de 1945, arquitecto do Serviço Nacional
de Saúde, e Ministro do Trabalho a partir de 1951, cargo de que se demitiu em protesto contra
a introdução de taxas moderadoras destinadas a financiar a participação britânica na Guerra
da Coreia; ou William Beveridge, parlamentar do Partido Liberal cujo relatório, apresentado
em 1942, veio a servir de base à instituição do Welfare State no Reino Unido.
Bev Jones é, assim, simultaneamente a continuação e o oposto de Winston Smith, facto que se
reflecte nas óbvias diferenças e nas surpreendentes semelhanças entre os dois textos.
Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e Bev Jones são
ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente, como de resto em Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a qualquer poder de facto ou de direito que se
dedique à destruição de livros; mas o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois
textos é o relevo que Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de que a tirania
necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os dois textos
partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções muito próximas da liberdade.
Para a personagem principal de Orwell, ser livre significa poder acreditar que 2+2=4; para
Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess aponta
a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen Eighty-
Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma
interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais,
mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum
bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica
esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a
autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua norma
culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos urbanas,
como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma coisa
essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e
muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de tudo
veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele esperava
protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura com o passado,
vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da contra-cultura
dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes empresas inundam os media.
Os bilionários já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição que lhes
move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de
"saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a mesma confiança simples
e cega com que um bom muçulmano se submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado
com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a condição de
"homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que afirma, entre outras
coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por cada vez menos
dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão
todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de acompanhar os
textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marques tem estado a publicar
no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as novas gerações"
Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou releitura dos livros que aqui
comento ajude a clarificar as estratégias de marketing político que o apoiam.
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young
women were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the
young men. In 2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again
found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those were
reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women were the
perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was associated with more
frequent violence among women (adjusted odds ratio [AOR]=2.3; 95% confidence
interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26; 95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury,
men were more likely to inflict injury than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5),
and reciprocal intimate partner violence was associated with greater injury than was
nonreciprocal intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
a woman’s perpetration of violence was the strongest predictor of her being a victim of
partner violence.
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como tantos
outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de subsidiar os
pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis têm que ser
defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida capacidade de
introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal, embarca na viagem da
política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e acaba por se tornar um
entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus senhores em Washington,
fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir o mal) enquanto os seus agentes
na sombra assassinam, torturam e "desaparecem" pessoas sem quaisquer entraves.
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos (sempre
designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal a política é a
arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem, entendendo-se por
maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer os seus princípios morais.
Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem eles, ou pelo menos com a prática
de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A História há-de dar-lhes razão, concluem - a
História com a sua visão de longo prazo.
Tem acontecido pessoas recém-chegadas ao poder jurarem a si próprias praticar uma política
de verdade, ou pelo menos uma política que evite a mentira. É possível que Fidel Castro tenha
sido em tempos uma destas pessoas. Mas como é breve o tempo até as exigências da vida
política tornarem impossível ao homem no poder distinguir a mentira da verdade!
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus julgamentos
idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas pessoas aduzem
sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são feitas são sempre utopicas,
irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que nunca
são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao lado da
verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As pessoas estão
ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes. Daqui a sua fome
(uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e inteligível o que outras
pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores ao mundo político -
académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando até o
seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de forças da
política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado no mentiroso e
na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se descobria e
aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria evidente e imediata na
qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que tenhamos
melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente. Uma melhoria
significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de recrutamento, que se
fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo as escolas, para tal, com
outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia
a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de remuneração, quer de
estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de
entre estas, a que mais afronta a tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos
portugueses: tempo livre para reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do
que qualquer outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais qualificados,
então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por escolher apenas os
melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro, pelo
Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir aqui):
trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um
ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção dos pais, as
condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores aprendizagens terá que
actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente contribui
para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente, só
parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação
será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele que
seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um compromisso entre ideologias e
agendas políticas diversas; mas espero que seja ao menos adequado, isto é: que contribua,
ainda que imperfeitamente, para a melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua
melhoria enquanto funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que
apenas com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário do
actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que aquelas a que der
azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação seja adequado exige-se, no mínimo,
que não seja contraproducente.
Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele que
seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez de punir
como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo perfeitos
mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações legítimas e
exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem suficientemente bons,
deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de onde nunca deviam ter
saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate, este,
sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando deste
debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor. Não
seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos
um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
.
Princípios gerais
1. A Escola Republicana é uma instituição da Sociedade Civil e tem por função transmitir entre
gerações o património científico, cultural, artístico e técnico adquirido pela sociedade e pela
humanidade em geral. Deste modo, a conservação e a inovação são os dois pólos do
seu ethos, que se realizará, quer na conservação e continuação do património adquirido, quer
na sua contestação crítica.
5. A avaliação dos professores deve incidir na proficiência com que exercem as funções que
lhes são próprias. A proficiência em funções ou tarefas subsidiárias é presumida a partir do
resultado da avaliação naquelas, e, se tiver que ser sujeita a procedimentos avaliativos
específicos, sê-lo-á a título supletivo e residual.
9. A progressão na carreira depende por um lado da avaliação do professor e por outro da sua
experiência profissional, estando as duas vertentes integradas entre si segundo uma fórmula
simples, clara, racional e unívoca. É além disso subsidiária da avaliação prévia da escola.
10. Só um cidadão pode formar cidadãos. O direito-dever de o professor ser avaliado articula-
se com o seu direito-dever de avaliar a escola e as políticas educativas que lhe cabe executar,
sem prejuízo da legitimidade dos órgãos de soberania para terem a última palavra em relação
a estas.
Assim:
13. A atribuição das classificações mais elevadas não deve pressupor ou implicar a renúncia,
por parte do professor, ao exercício dos seus direitos laborais e humanos, nomeadamente os
que dizem respeito à duração do trabalho, ainda que esta renúncia possa ser representada
como voluntária.
14. Nenhuma avaliação pode ser absolutamente objectiva; sendo forçoso assumir uma
vertente subjectiva, deve proceder-se de modo a que em caso algum o avaliado fique
dependente da subjectividade de uma só pessoa ou de um conjunto reduzido de pessoas. O
número e a variedade dos participantes nesta vertente do processo deve ser tal que os erros
resultantes da avaliação subjectiva de cada interveniente sejam compensados e corrigidos
pelo acerto, ou pelos erros em sentido contrário, dos restantes.
15. A reputação profissional do professor será tida na conta de uma mais-valia para ele e para
a escola. A componente subjectiva da avaliação permite minorar discrepâncias entre os seus
resultados e a reputação profissional do avaliado, que, a verificarem-se seriam sentidas como
injustas pela comunidade escolar, comprometendo a idoneidade de todo o processo. A
componente subjectiva permite, por acréscimo, ter em conta aspectos cruciais, mas não
mensuráveis, do desempenho do professor.
II
18. O processo será informal e expedito e terá duas componentes: uma, subjectiva com um
peso de 40% na classificação e outra, objectiva, com um peso de 60%.
21. Os formulários não deverão ser uniformes para toda a escola. Pode ser elaborado um
formulário para cada ciclo, para cada ano ou para cada turma. Na mesma turma, porém, não
serão utilizados formulários diferentes.
22. Os formulários estarão redigidos em português correcto, claro, exacto e adequado à idade
dos alunos. Tirar-se-á partido, sempre que possível, da terminologia habitualmente utilizada
pelos alunos no que respeita a vida na escola.
23. Os critérios submetidos à apreciação dos alunos serão decididos pelo Conselho
Pedagógico. Entre estes critérios contar-se-ão, obrigatoriamente, os seguintes:
24. Nenhum formulário ultrapassará, em extensão, o limite do que pode ser contido numa
página de formato A4.
26. Os professores ou funcionários intervenientes neste processo ficarão sujeitos, caso tenham
conhecimento fortuito da identidade de algum dos alunos envolvidos, ao dever de segredo.
27. A participação deste grupo será indirecta, e realizar-se-á através da sua intervenção no
Conselho de Escola e/ou das reclamações, queixas, sugestões, elogios ou críticas que tenham
formalizado por escrito e feito chegar aos órgãos directivos.
28. O avaliado elabora, no fim do ano lectivo, um documento em que refere a classificação que
entende merecer, numa escala de zero a 20, e as razões por que assim entende. Este
documento não poderá exceder em extensão o conteúdo de duas páginas de formato A4.
31. Os professores serão livres de definir em conjunto o critério ou critérios a ter em conta
nesta seriação. A elaboração e impressão do formulário resultante dos critérios definidos
serão efectuadas na sequência de uma reunião anterior ou num intervalo da reunião de
seriação.
32. Os formulários preenchidos serão introduzidos num invólucro que será selado e entregue
ao membro da direcção da escola a quem tenha sido conferida a autoridade para supervisionar
todo o processo.
Uma pensão é um direito que se ganha trabalhando e descontando. Tanto direito tem a
ela um milionário como um pobre. Já o complemento social é um mecanismo de
solidariedade e de redistribuição, pelo que só deve ter direito a ele quem realmente
precisa. Feita esta ressalva, concordo com a proposta, que pode ser financiada, tal como
a seguinte, através dum imposto sobre as grandes fortunas idêntico ao que existe em cada
vez mais países europeus.
Claro que sim. A separação entre Estado e empresas é hoje tão vital para a democracia
como há duzentos anos a separação entre Estado e Igreja.
E das duras também. Por uma questão de princípio: o Estado não tem o direito de
criminalizar comportamentos privados; e por uma questão de utilidade: a
crimininalização falhou em toda a parte e em toda a linha, criando males muito piores
do que os que pretendia eliminar.
Desde que com limites... Não quero ninguém a branquear os dentes à minha custa.
Há tragédias que se devem à ignorância das pessoas em matéria sexual. Esta ignorância
deve, portanto, ser combatida. Mas não vamos cair na armadilha de rejeitar a moral
judaico-cristã para pôr no seu lugar uma moral politicamente correcta: seria saltar da
frigideira para cair no lume.
12. Limitação do número de alunos por turma (máximo de 20 para o primeiro ciclo, 22
para os demais).
Outro trade-off: está muito bem desde que se criem turmas de nível, ainda mais pequenas,
para os alunos com maiores dificuldades. Duvido que esta contrapartida agrade muito
ao BE.
Melhor seria penalizar, por via fiscal, a comercialização de bens ou serviços produzidos
em Portugal ou no estrangeiro por empresas delinquentes. Mas isto seria matéria para
umas eleições europeias, não para eleições nacionais.
Outra banalidade que só em Portugal é vista como um bicho de sete cabeças. Deste
imposto depende a viabilidade de muitas das outras propostas. Inteiramente de acordo.
20. Direito à reforma sem penalização a quem já cumpriu 40 anos de trabalho e descontos.
Em vez disto: direito à reforma em qualquer idade e com qualquer carreira contributiva.
Cálculo do montante da pensão tendo em conta estes factores. Possibilidade de acumular
pensão com pensão e pensão com salário, de forma que um reformado com uma carreira
contributiva de quarenta anos recebesse algo mais que outro com dez carreiras
contributivas de quatro anos (já que este beneficiou de várias antecipações).
Acabar com o truque do pagamento em espécie para fugir aos impostos. Acho bem. Nesta
matéria, o CDS não tem razão nenhuma.
24. Reforço dos quadros do Ministério Público e da Polícia Judiciária para combater o
crime.
26. Levantamento do segredo bancário para efeitos de verificação das declarações dos
contribuintes e do combate à evasão fiscal.
E mais: publicação anual, a exemplo do que se faz na Suécia, duma lista universal de
contribuintes de que conste o rendimento declarado e o imposto pago.
Obviamente.
28. Substituição até 2011 de todas as lâmpadas incandescentes.
Só servem para facilitar a corrupção. Foram criados, de resto, com este objectivo. Fora
com eles.
Discordo. A independência em relação aos combustíveis fósseis deve ser uma prioridade
nacional.
Pode muito bem ser que a cultura seja a indústria do futuro. Concordo.
43. Franquear a cidadania eleitoral aos cidadãos estrangeiros a viver há mais de três anos
em Portugal.
As pessoas devem votar nos países em que vivem, que são aqueles a cujas leis estão
sujeitos, e não naqueles de que são naturais.
Desde que tenham cumprido com aproveitamento (e não apenas com "sucesso") a
escolaridade obrigatória.
Concordo.
Não é nada de impensável. Nas próprias cúpulas da NATO se põe hoje em questão a
actualidade da aliança.
50. Pôr termo à cedência da base das Lajes aos Estados Unidos.
Discordo. A Líbia está aqui ao pé e tem mais poder militar que nós.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 22:25 Sem comentários:
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Utopias, eutopias e distopias
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TEXTOS LONGOS
Blogue de apoio ao "As Minhas Leituras"
Acerca de mim
Nada do que é social e humano é mais real que as utopias. Na sua vertente eutópica, as
utopias constituíram sempre o fundamento simbólico e mítico sem o qual nenhuma forma de
organização social se sustenta, justifica ou sobrevive. E criam, tanto na vertente eutópica como
na distópica, o vocabulário da revolução e da mudança: sem os amanhãs que cantam (ou
choram) teríamos, em vez de História, um presente intemporal e eterno - como o dos faraós
ou o de Francis Fukuyama.
Aldous Huxley publicou o seu Brave New World em 1932. George Orwell, que não tinha em
grande conta este livro ou o seu autor, publicou 17 anos depois a sua própria
distopia, Nineteen Eighty-Four. Entre estas duas datas interpôs-se a Segunda Grande Guerra:
não admira que na primeira a técnica básica da opressão do Estado fosse a manipulação
genética e que na segunda, depois do descrédito em que o regime nazi lançou o eugenismo, as
técnicas principais da opressão sejam a lavagem ao cérebro, a crueldade gratuita e a
manipulação da linguagem.
Apesar desta e de outras diferenças, os dois textos foram muitas vezes lidos, nas décadas
seguintes, como os dois pólos - um hedonista, outro o oposto disto - duma mesma distopia, a
que os sinais dos tempos davam e dão plausibilidade. Esta distopia bipolar é identificável em
grande parte com a ideia de modernidade; e hoje a invocação da modernidade, sempre na
boca dos políticos e dos capitães da indústria, soa aos nossos ouvidos tanto a ameaça como a
promessa.
Do texto de Aldous Huxley, o que entrou na linguagem corrente, traduzido para todas as
línguas, foi o sobretudo o título: "admirável mundo novo". A expressão é utilizada em toda a
parte mesmo por quem nunca leu a obra: das mesas dos cafés aos blogues, das crónicas dos
jornais aos debates nos media. Do texto de Orwell, toda a gente utiliza, própria ou
impropriamente, expressões como Big Brother, newspeak (que até teve, em português, honras
de tradução: "novilíngua"), ou ainda doublethink. Uma coisa é certa: nenhuma destas
expressões se teria conservado até hoje no uso corrente se não tivesse referentes no real
quotidiano.
A mesma sorte não teve 1985, de Anthony Burgess, publicado em 1978. Um texto anterior de
Burgess, também ele distópico, é de longe mais conhecido, talvez pela versão filmada que dele
fez Stanley Kubrik: A Clockwork Orange. 1985 recupera alguns temas e tropos deste texto e
apresenta-se como um balanço crítico de Nineteen Eighty-Four. Divide-se em duas partes: um
ensaio sobre o texto de Orwell e a construção duma distopia alternativa, imaginada por
Burgess 29 anos mais tarde. A frase final da primeira parte do livro é: 1984 is not going to be
like that at all. Frase corajosa, vinda dum escritor que admirava e respeitava o objecto da sua
crítica. E é com ela que Burgess nos autoriza a fazermos nós também o balanço crítico da sua
alternativa, decorridos mais que outros tantos anos desde a sua publicação.
Vejamos então o que sobreviveu melhor ao curso da história: se Nineteen Eighty-Four aos
últimos 60 anos, se 1985 aos últimos trinta e um.
As diferenças entre as duas distopias não surpreendem, sabendo que uma foi escrita por um
socialista libertário, pouco à vontade no seu estatuto social de nascença que o colocava nas
franjas do poder, e a outra escrita por um conservador a quem o facto de pertencer a uma
elite social e intelectual não incomoda minimamente. Na primeira, o opressor é um Estado por
assim dizer anti-utilitarista, ou seja: inteiramente dedicado à prossecução do maior mal do
maior número. Burgess faz notar, na sua crítica a Orwell, que um Estado assim nunca existiu
nem pode existir. Mesmo os regimes que mais se aproximam deste modelo são
intrinsecamente instáveis: Calígula acabou assassinado, e o Império nazi, que era para durar
mil anos, durou doze. Reconhece Burgess, contudo, que Orwell tem bons modelos para a sua
terrível invenção: o franquismo contra o qual lutou, o estalinismo que assassinou na Catalunha
os seus camaradas anarco-sindicalistas, ou o nazismo, de cujos horrores se começava a tomar
conhecimento quando o livro foi escrito. Bastou a Orwell absolutizar e levar ao extremo do
concebível estas realidades históricas, et voilà: aí temos o Ingsoc, abreviatura de English
Socialism, ou seja: Socialismo Inglês.
Burgess nota, com a indulgência a que as suas próprias contradições o obrigam, a ironia de um
socialista chamar socialismo ao regime mais monstruoso que consegue imaginar; mas não
precisa de explicar, e não explica, as razões óbvias desta opção. Nós, habitantes do Século XXI,
habituados pela propaganda vigente a equacionar "esquerda" com "estatismo", também
podemos ver ironia na escolha deste nome. As razões de Burgess para notar esta ironia são,
contudo, um pouco diferentes das nossas. Burgess não era um anti-estatista doutrinário, mas
sim um conservador na tradição burkeana, a quem a ideologia anarco-capitalista e
revolucionária representada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan repugnaria tanto como a
qualquer militante da esquerda dita radical. Não acredita que o Estado seja a emanação do
Mal, mas exige dele essa coisa fora de moda que é a responsabilidade moral. No
capítulo "Clockwork oranges" de "1985", declara os seus pressupostos ético-políticos:
A chemical substance injected into [Alex's] blood induces nausea while he is watching the films,
but the nausea is also associated with the music. It was not the intention of his State
manipulators to introduce this bonus or malus: it is purely an accident that, from now on, he
will automatically react to Mozart or Beethoven as he will to rape or murder. The State has
succedeed in its primary aim: to deny Alex free moral choice, which, to the State, means choice
of evil. But it has added an unforeseen punishment: the gates of heaven are closed to the boy,
since music is a figure of celestial bliss. The State has commited a double sin: it has destroyed a
human being, since humanity is defined by moral choice; it has also destroyed an angel.
O Estado aqui descrito não é imoral, como o de Orwell, por opção metafísica da oligarquia que
o dirige: é, mais realisticamente, um Estado amoral. Há, e houve, Estados imorais, mas nunca
houve nenhum que se definisse exclusivamente pela imoralidade. Burgess tem razão neste
ponto. Monstros desta natureza relevam mais de ficções como Harry Potter ou Lord of the
Rings do que da realidade política que vivemos. O Mal absoluto, diz Burgess, é tão
desinteressado como o Bem; e todas as tiranias estáveis estão ao serviço de interesses.
Não é que não nos sintamos tentados, por vezes, a elaborar fantasias deliciosamente
assustadoras sobre os "Senhores do Mal"; mesmo nós, portugueses, cá no nosso cantinho,
detectamos um eco distante destas fantasias quando ouvimos um político, um economista ou
um empresário deixar no ar a ideia de que tudo o que é impopular é necessariamente justo e
acertado e tudo o que beneficia o cidadão comum é injusto e desastroso. Levada inteiramente
a sério, esta ideia implicaria uma negação total e radical da democracia; mas somos, tal como
Burgess, demasiado sensatos para levar muito a sério ou muito à letra tudo o que diz o poder,
e é por isso que não confundimos José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues com Voldemort.
Ao contrário de Thatcher e de Reagan, Burgess não via no Estado a única, nem
necessariamente a principal, fonte de opressão. O Estado que Burgess denuncia não é o
pesadelo de Orwell, que para Burgess não passa disso mesmo: dum pesadelo. Nem é o Moloch
burocrático da lenda negra anti-socialista. É, acima de tudo, o Estado de Ivan Petrovitch Pavlov
e de Burrhus Frederic Skinner:
The Soviet State wished to remake man and, if one knows Russians, one can sympathize. Pavlov
deplored the wild-eyed, sloppy, romantic, indisciplined, inefficient, anarchic texture of the
Russian soul, at the same time admiring the cool reasonableness of Anglo-Saxons. Lenine
deplored it, too, but it still exists. Faced with the sloth of the waiters in Soviet restaurants
(sometimes three hours between taking the order and fulfilling it), the manic depression of
Soviet taxi-drivers, the sobs and howls of Soviet drunks, one can sometimes believe that
without communism this people could not have survived. But one baulks, with a shudder, at the
Leninist proposal to rebuild, with Pavlov's assistance, the entire Russian character, thus making
the works of Chekhov and Dostyevsky unintelligible to readers of the far future.
B. F. Skinner foi um behaviourista radical, bem conhecido pelos professores como teórico da
Educação cujas teses ainda hoje têm influência política no nosso País e noutros. Mas tem
outras facetas menos conhecidas: como filósofo político, produziu em 1948 Walden Two, uma
eutopia - ou distopia, conforme o ponto de vista - em que as técnicas de psicologia do
comportamento conduzem a uma harmonia social perfeita; como filósofo moral, produziu em
1971 Beyond Freedom and Dignity, título este que não pode deixar de dar calafrios a Burgess -
e, creio bem, a muitos de nós. Burgess denuncia o Estado Soviético não tanto por pretender
privar o homem da sua liberdade económica como por pretender privá-lo, na esteira de Pavlov
e Skinner, da sua liberdade moral.
Mas se o Estado não é a única nem a principal fonte potencial de opressão, então não basta a
Burgess denunciar o Estado, como em A Clockwork Orange; é preciso enumerar e denunciar as
outras forças potencialmente hostis à liberdade (leia-se: liberdade moral) do ser humano:
There are, indeed, forces always ready to diminish State power, though oppressive enough in
their own ways. Multinational companies that can make and break governments but don't give
a damn about matters of responsibility to thought, art, sentiment, health, morality, tradition.
The manipulators, the true investigators into the power of propaganda, meaning doublethink,
subliminal suggestion, rendering us unfree in the realm of what we consume. Trade unions.
Minority groups of all kinds, from the women's liberationists to the gay sodomites. And where
we expect the State, that takes our money, to protect us from the more harmful of the anarchic
forces of the community, there we find the State peculiarly powerless.
Se Burgess soa aqui como um cruzamento anti-natural entre um manifestante anti-
globalização e um moralista reaccionário, reflictamos que o texto foi escrito antes de, quer o
neoliberalismo, quer o movimento politicamente correcto terem adquirido o estatuto de
verdades dificilmente questionáveis.
Na segunda parte de 1985, Burgess já não toma como alvo o Estado de Pavlov e Skinner, mas
sim uma das forças que enumera nos capítulos anteriores. O vilão principal de Burgess é, nesta
narrativa, o movimento sindical. Não o movimento sindical tal como existiu nos países
democráticos ao longo dos séculos XIX e XX, mas aquilo em que ele parecia estar a tornar-se
no Reino Unido em 1978: um sindicalismo totalitário que se substitui ao Estado e regula
despoticamente todos os aspectos da vida em sociedade. Este retrato do movimento sindical
era em parte, mesmo naquele tempo e lugar, pura e mal intencionada propaganda; mas
propaganda em que Burgess acreditou. Tal como Orwell se tinha alegrado, trinta anos antes,
com a vitória avassaladora do partido Trabalhista nas primeiras eleições que se seguiram à
Guerra, é possível que Burgess se tenha alegrado com o triunfo de Margaret Thatcher, no ano
seguinte ao da publicação de 1985, com base num programa explicitamente anti-sindical. Se
assim foi, esta alegria deve ter durado pouco.
Na novela de Burgess, a personagem principal é um professor de História e línguas clássicas,
desafecto a um sistema que não lhe permite ensinar nada que possa ser considerado "elitista".
Esta dissidência leva-o primeiro à demissão e à escolha de um trabalho manual (pasteleiro)
que não lhe suscita problemas deontológicos, depois à clandestinidade e por fim à prisão
perpétua.
Em Nineteen Eighty-Four a personagem principal é um burocrata chamado Winston Smith; o
professor que protagoniza 1985 chama-se Bev Jones. A escolha dos nomes não é trivial, como
assinala explicitamente Burgess a propósito do nome que escolheu para o protagonista de A
Clockwork Orange: Alex, diminutivo de Alexander, ou seja, em grego, "salvador de homens". "
Smith" e "Jones" são os sobrenomes mais banais do mundo anglo-saxónico. O nome próprio
"Winston" produz, associado a "Smith", um efeito dissonante que se repercute em " Bev Jones.
O nome próprio dado à personagem pelo pai pode constituir uma homenagem a uma de três
figuras históricas: Ernest Bevin, organizador sindical, dirigente do Partido Trabalhista e
Ministro do Trabalho a partir de 1940 no governo de coligação de Winston Churchill; Aneurin
Bevan, Ministro da Saúde a seguir à vitória trabalhista de 1945, arquitecto do Serviço Nacional
de Saúde, e Ministro do Trabalho a partir de 1951, cargo de que se demitiu em protesto contra
a introdução de taxas moderadoras destinadas a financiar a participação britânica na Guerra
da Coreia; ou William Beveridge, parlamentar do Partido Liberal cujo relatório, apresentado
em 1942, veio a servir de base à instituição do Welfare State no Reino Unido.
Bev Jones é, assim, simultaneamente a continuação e o oposto de Winston Smith, facto que se
reflecte nas óbvias diferenças e nas surpreendentes semelhanças entre os dois textos.
Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e Bev Jones são
ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente, como de resto em Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a qualquer poder de facto ou de direito que se
dedique à destruição de livros; mas o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois
textos é o relevo que Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de que a tirania
necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os dois textos
partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções muito próximas da liberdade.
Para a personagem principal de Orwell, ser livre significa poder acreditar que 2+2=4; para
Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess aponta
a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen Eighty-
Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma
interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais,
mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum
bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica
esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a
autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua norma
culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos urbanas,
como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma coisa
essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e
muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de tudo
veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele esperava
protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura com o passado,
vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da contra-cultura
dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes empresas inundam os media.
Os bilionários já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição que lhes
move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de
"saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a mesma confiança simples
e cega com que um bom muçulmano se submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado
com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a condição de
"homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que afirma, entre outras
coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por cada vez menos
dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão
todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de acompanhar os
textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marques tem estado a publicar
no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as novas gerações"
Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou releitura dos livros que aqui
comento ajude a clarificar as estratégias de marketing político que o apoiam.
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young
women were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the
young men. In 2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again
found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those were
reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women were the
perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was associated with more
frequent violence among women (adjusted odds ratio [AOR]=2.3; 95% confidence
interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26; 95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury,
men were more likely to inflict injury than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5),
and reciprocal intimate partner violence was associated with greater injury than was
nonreciprocal intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
a woman’s perpetration of violence was the strongest predictor of her being a victim of
partner violence.
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como tantos
outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de subsidiar os
pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis têm que ser
defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida capacidade de
introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal, embarca na viagem da
política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e acaba por se tornar um
entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus senhores em Washington,
fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir o mal) enquanto os seus agentes
na sombra assassinam, torturam e "desaparecem" pessoas sem quaisquer entraves.
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos (sempre
designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal a política é a
arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem, entendendo-se por
maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer os seus princípios morais.
Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem eles, ou pelo menos com a prática
de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A História há-de dar-lhes razão, concluem - a
História com a sua visão de longo prazo.
Tem acontecido pessoas recém-chegadas ao poder jurarem a si próprias praticar uma política
de verdade, ou pelo menos uma política que evite a mentira. É possível que Fidel Castro tenha
sido em tempos uma destas pessoas. Mas como é breve o tempo até as exigências da vida
política tornarem impossível ao homem no poder distinguir a mentira da verdade!
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus julgamentos
idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas pessoas aduzem
sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são feitas são sempre utopicas,
irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que nunca
são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao lado da
verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As pessoas estão
ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes. Daqui a sua fome
(uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e inteligível o que outras
pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores ao mundo político -
académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando até o
seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de forças da
política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado no mentiroso e
na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se descobria e
aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria evidente e imediata na
qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que tenhamos
melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente. Uma melhoria
significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de recrutamento, que se
fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo as escolas, para tal, com
outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia
a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de remuneração, quer de
estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de
entre estas, a que mais afronta a tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos
portugueses: tempo livre para reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do
que qualquer outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais qualificados,
então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por escolher apenas os
melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro, pelo
Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir aqui):
trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um
ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção dos pais, as
condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores aprendizagens terá que
actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente contribui
para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente, só
parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação
será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele que
seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um compromisso entre ideologias e
agendas políticas diversas; mas espero que seja ao menos adequado, isto é: que contribua,
ainda que imperfeitamente, para a melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua
melhoria enquanto funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que
apenas com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário do
actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que aquelas a que der
azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação seja adequado exige-se, no mínimo,
que não seja contraproducente.
Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele que
seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez de punir
como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo perfeitos
mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações legítimas e
exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem suficientemente bons,
deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de onde nunca deviam ter
saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate, este,
sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando deste
debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor. Não
seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos
um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
.
Princípios gerais
1. A Escola Republicana é uma instituição da Sociedade Civil e tem por função transmitir entre
gerações o património científico, cultural, artístico e técnico adquirido pela sociedade e pela
humanidade em geral. Deste modo, a conservação e a inovação são os dois pólos do
seu ethos, que se realizará, quer na conservação e continuação do património adquirido, quer
na sua contestação crítica.
5. A avaliação dos professores deve incidir na proficiência com que exercem as funções que
lhes são próprias. A proficiência em funções ou tarefas subsidiárias é presumida a partir do
resultado da avaliação naquelas, e, se tiver que ser sujeita a procedimentos avaliativos
específicos, sê-lo-á a título supletivo e residual.
9. A progressão na carreira depende por um lado da avaliação do professor e por outro da sua
experiência profissional, estando as duas vertentes integradas entre si segundo uma fórmula
simples, clara, racional e unívoca. É além disso subsidiária da avaliação prévia da escola.
10. Só um cidadão pode formar cidadãos. O direito-dever de o professor ser avaliado articula-
se com o seu direito-dever de avaliar a escola e as políticas educativas que lhe cabe executar,
sem prejuízo da legitimidade dos órgãos de soberania para terem a última palavra em relação
a estas.
Assim:
13. A atribuição das classificações mais elevadas não deve pressupor ou implicar a renúncia,
por parte do professor, ao exercício dos seus direitos laborais e humanos, nomeadamente os
que dizem respeito à duração do trabalho, ainda que esta renúncia possa ser representada
como voluntária.
14. Nenhuma avaliação pode ser absolutamente objectiva; sendo forçoso assumir uma
vertente subjectiva, deve proceder-se de modo a que em caso algum o avaliado fique
dependente da subjectividade de uma só pessoa ou de um conjunto reduzido de pessoas. O
número e a variedade dos participantes nesta vertente do processo deve ser tal que os erros
resultantes da avaliação subjectiva de cada interveniente sejam compensados e corrigidos
pelo acerto, ou pelos erros em sentido contrário, dos restantes.
15. A reputação profissional do professor será tida na conta de uma mais-valia para ele e para
a escola. A componente subjectiva da avaliação permite minorar discrepâncias entre os seus
resultados e a reputação profissional do avaliado, que, a verificarem-se seriam sentidas como
injustas pela comunidade escolar, comprometendo a idoneidade de todo o processo. A
componente subjectiva permite, por acréscimo, ter em conta aspectos cruciais, mas não
mensuráveis, do desempenho do professor.
II
18. O processo será informal e expedito e terá duas componentes: uma, subjectiva com um
peso de 40% na classificação e outra, objectiva, com um peso de 60%.
21. Os formulários não deverão ser uniformes para toda a escola. Pode ser elaborado um
formulário para cada ciclo, para cada ano ou para cada turma. Na mesma turma, porém, não
serão utilizados formulários diferentes.
22. Os formulários estarão redigidos em português correcto, claro, exacto e adequado à idade
dos alunos. Tirar-se-á partido, sempre que possível, da terminologia habitualmente utilizada
pelos alunos no que respeita a vida na escola.
23. Os critérios submetidos à apreciação dos alunos serão decididos pelo Conselho
Pedagógico. Entre estes critérios contar-se-ão, obrigatoriamente, os seguintes:
24. Nenhum formulário ultrapassará, em extensão, o limite do que pode ser contido numa
página de formato A4.
26. Os professores ou funcionários intervenientes neste processo ficarão sujeitos, caso tenham
conhecimento fortuito da identidade de algum dos alunos envolvidos, ao dever de segredo.
27. A participação deste grupo será indirecta, e realizar-se-á através da sua intervenção no
Conselho de Escola e/ou das reclamações, queixas, sugestões, elogios ou críticas que tenham
formalizado por escrito e feito chegar aos órgãos directivos.
28. O avaliado elabora, no fim do ano lectivo, um documento em que refere a classificação que
entende merecer, numa escala de zero a 20, e as razões por que assim entende. Este
documento não poderá exceder em extensão o conteúdo de duas páginas de formato A4.
31. Os professores serão livres de definir em conjunto o critério ou critérios a ter em conta
nesta seriação. A elaboração e impressão do formulário resultante dos critérios definidos
serão efectuadas na sequência de uma reunião anterior ou num intervalo da reunião de
seriação.
32. Os formulários preenchidos serão introduzidos num invólucro que será selado e entregue
ao membro da direcção da escola a quem tenha sido conferida a autoridade para supervisionar
todo o processo.
Uma pensão é um direito que se ganha trabalhando e descontando. Tanto direito tem a
ela um milionário como um pobre. Já o complemento social é um mecanismo de
solidariedade e de redistribuição, pelo que só deve ter direito a ele quem realmente
precisa. Feita esta ressalva, concordo com a proposta, que pode ser financiada, tal como
a seguinte, através dum imposto sobre as grandes fortunas idêntico ao que existe em cada
vez mais países europeus.
Claro que sim. A separação entre Estado e empresas é hoje tão vital para a democracia
como há duzentos anos a separação entre Estado e Igreja.
E das duras também. Por uma questão de princípio: o Estado não tem o direito de
criminalizar comportamentos privados; e por uma questão de utilidade: a
crimininalização falhou em toda a parte e em toda a linha, criando males muito piores
do que os que pretendia eliminar.
Desde que com limites... Não quero ninguém a branquear os dentes à minha custa.
Há tragédias que se devem à ignorância das pessoas em matéria sexual. Esta ignorância
deve, portanto, ser combatida. Mas não vamos cair na armadilha de rejeitar a moral
judaico-cristã para pôr no seu lugar uma moral politicamente correcta: seria saltar da
frigideira para cair no lume.
12. Limitação do número de alunos por turma (máximo de 20 para o primeiro ciclo, 22
para os demais).
Outro trade-off: está muito bem desde que se criem turmas de nível, ainda mais pequenas,
para os alunos com maiores dificuldades. Duvido que esta contrapartida agrade muito
ao BE.
Melhor seria penalizar, por via fiscal, a comercialização de bens ou serviços produzidos
em Portugal ou no estrangeiro por empresas delinquentes. Mas isto seria matéria para
umas eleições europeias, não para eleições nacionais.
Outra banalidade que só em Portugal é vista como um bicho de sete cabeças. Deste
imposto depende a viabilidade de muitas das outras propostas. Inteiramente de acordo.
20. Direito à reforma sem penalização a quem já cumpriu 40 anos de trabalho e descontos.
Em vez disto: direito à reforma em qualquer idade e com qualquer carreira contributiva.
Cálculo do montante da pensão tendo em conta estes factores. Possibilidade de acumular
pensão com pensão e pensão com salário, de forma que um reformado com uma carreira
contributiva de quarenta anos recebesse algo mais que outro com dez carreiras
contributivas de quatro anos (já que este beneficiou de várias antecipações).
Acabar com o truque do pagamento em espécie para fugir aos impostos. Acho bem. Nesta
matéria, o CDS não tem razão nenhuma.
24. Reforço dos quadros do Ministério Público e da Polícia Judiciária para combater o
crime.
26. Levantamento do segredo bancário para efeitos de verificação das declarações dos
contribuintes e do combate à evasão fiscal.
E mais: publicação anual, a exemplo do que se faz na Suécia, duma lista universal de
contribuintes de que conste o rendimento declarado e o imposto pago.
Obviamente.
28. Substituição até 2011 de todas as lâmpadas incandescentes.
Só servem para facilitar a corrupção. Foram criados, de resto, com este objectivo. Fora
com eles.
Discordo. A independência em relação aos combustíveis fósseis deve ser uma prioridade
nacional.
Pode muito bem ser que a cultura seja a indústria do futuro. Concordo.
43. Franquear a cidadania eleitoral aos cidadãos estrangeiros a viver há mais de três anos
em Portugal.
As pessoas devem votar nos países em que vivem, que são aqueles a cujas leis estão
sujeitos, e não naqueles de que são naturais.
Desde que tenham cumprido com aproveitamento (e não apenas com "sucesso") a
escolaridade obrigatória.
Concordo.
Não é nada de impensável. Nas próprias cúpulas da NATO se põe hoje em questão a
actualidade da aliança.
50. Pôr termo à cedência da base das Lajes aos Estados Unidos.
Discordo. A Líbia está aqui ao pé e tem mais poder militar que nós.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 22:25 Sem comentários:
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Utopias, eutopias e distopias
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TEXTOS LONGOS
Blogue de apoio ao "As Minhas Leituras"
Acerca de mim
Nada do que é social e humano é mais real que as utopias. Na sua vertente eutópica, as
utopias constituíram sempre o fundamento simbólico e mítico sem o qual nenhuma forma de
organização social se sustenta, justifica ou sobrevive. E criam, tanto na vertente eutópica como
na distópica, o vocabulário da revolução e da mudança: sem os amanhãs que cantam (ou
choram) teríamos, em vez de História, um presente intemporal e eterno - como o dos faraós
ou o de Francis Fukuyama.
Aldous Huxley publicou o seu Brave New World em 1932. George Orwell, que não tinha em
grande conta este livro ou o seu autor, publicou 17 anos depois a sua própria
distopia, Nineteen Eighty-Four. Entre estas duas datas interpôs-se a Segunda Grande Guerra:
não admira que na primeira a técnica básica da opressão do Estado fosse a manipulação
genética e que na segunda, depois do descrédito em que o regime nazi lançou o eugenismo, as
técnicas principais da opressão sejam a lavagem ao cérebro, a crueldade gratuita e a
manipulação da linguagem.
Apesar desta e de outras diferenças, os dois textos foram muitas vezes lidos, nas décadas
seguintes, como os dois pólos - um hedonista, outro o oposto disto - duma mesma distopia, a
que os sinais dos tempos davam e dão plausibilidade. Esta distopia bipolar é identificável em
grande parte com a ideia de modernidade; e hoje a invocação da modernidade, sempre na
boca dos políticos e dos capitães da indústria, soa aos nossos ouvidos tanto a ameaça como a
promessa.
Do texto de Aldous Huxley, o que entrou na linguagem corrente, traduzido para todas as
línguas, foi o sobretudo o título: "admirável mundo novo". A expressão é utilizada em toda a
parte mesmo por quem nunca leu a obra: das mesas dos cafés aos blogues, das crónicas dos
jornais aos debates nos media. Do texto de Orwell, toda a gente utiliza, própria ou
impropriamente, expressões como Big Brother, newspeak (que até teve, em português, honras
de tradução: "novilíngua"), ou ainda doublethink. Uma coisa é certa: nenhuma destas
expressões se teria conservado até hoje no uso corrente se não tivesse referentes no real
quotidiano.
A mesma sorte não teve 1985, de Anthony Burgess, publicado em 1978. Um texto anterior de
Burgess, também ele distópico, é de longe mais conhecido, talvez pela versão filmada que dele
fez Stanley Kubrik: A Clockwork Orange. 1985 recupera alguns temas e tropos deste texto e
apresenta-se como um balanço crítico de Nineteen Eighty-Four. Divide-se em duas partes: um
ensaio sobre o texto de Orwell e a construção duma distopia alternativa, imaginada por
Burgess 29 anos mais tarde. A frase final da primeira parte do livro é: 1984 is not going to be
like that at all. Frase corajosa, vinda dum escritor que admirava e respeitava o objecto da sua
crítica. E é com ela que Burgess nos autoriza a fazermos nós também o balanço crítico da sua
alternativa, decorridos mais que outros tantos anos desde a sua publicação.
Vejamos então o que sobreviveu melhor ao curso da história: se Nineteen Eighty-Four aos
últimos 60 anos, se 1985 aos últimos trinta e um.
As diferenças entre as duas distopias não surpreendem, sabendo que uma foi escrita por um
socialista libertário, pouco à vontade no seu estatuto social de nascença que o colocava nas
franjas do poder, e a outra escrita por um conservador a quem o facto de pertencer a uma
elite social e intelectual não incomoda minimamente. Na primeira, o opressor é um Estado por
assim dizer anti-utilitarista, ou seja: inteiramente dedicado à prossecução do maior mal do
maior número. Burgess faz notar, na sua crítica a Orwell, que um Estado assim nunca existiu
nem pode existir. Mesmo os regimes que mais se aproximam deste modelo são
intrinsecamente instáveis: Calígula acabou assassinado, e o Império nazi, que era para durar
mil anos, durou doze. Reconhece Burgess, contudo, que Orwell tem bons modelos para a sua
terrível invenção: o franquismo contra o qual lutou, o estalinismo que assassinou na Catalunha
os seus camaradas anarco-sindicalistas, ou o nazismo, de cujos horrores se começava a tomar
conhecimento quando o livro foi escrito. Bastou a Orwell absolutizar e levar ao extremo do
concebível estas realidades históricas, et voilà: aí temos o Ingsoc, abreviatura de English
Socialism, ou seja: Socialismo Inglês.
Burgess nota, com a indulgência a que as suas próprias contradições o obrigam, a ironia de um
socialista chamar socialismo ao regime mais monstruoso que consegue imaginar; mas não
precisa de explicar, e não explica, as razões óbvias desta opção. Nós, habitantes do Século XXI,
habituados pela propaganda vigente a equacionar "esquerda" com "estatismo", também
podemos ver ironia na escolha deste nome. As razões de Burgess para notar esta ironia são,
contudo, um pouco diferentes das nossas. Burgess não era um anti-estatista doutrinário, mas
sim um conservador na tradição burkeana, a quem a ideologia anarco-capitalista e
revolucionária representada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan repugnaria tanto como a
qualquer militante da esquerda dita radical. Não acredita que o Estado seja a emanação do
Mal, mas exige dele essa coisa fora de moda que é a responsabilidade moral. No
capítulo "Clockwork oranges" de "1985", declara os seus pressupostos ético-políticos:
A chemical substance injected into [Alex's] blood induces nausea while he is watching the films,
but the nausea is also associated with the music. It was not the intention of his State
manipulators to introduce this bonus or malus: it is purely an accident that, from now on, he
will automatically react to Mozart or Beethoven as he will to rape or murder. The State has
succedeed in its primary aim: to deny Alex free moral choice, which, to the State, means choice
of evil. But it has added an unforeseen punishment: the gates of heaven are closed to the boy,
since music is a figure of celestial bliss. The State has commited a double sin: it has destroyed a
human being, since humanity is defined by moral choice; it has also destroyed an angel.
O Estado aqui descrito não é imoral, como o de Orwell, por opção metafísica da oligarquia que
o dirige: é, mais realisticamente, um Estado amoral. Há, e houve, Estados imorais, mas nunca
houve nenhum que se definisse exclusivamente pela imoralidade. Burgess tem razão neste
ponto. Monstros desta natureza relevam mais de ficções como Harry Potter ou Lord of the
Rings do que da realidade política que vivemos. O Mal absoluto, diz Burgess, é tão
desinteressado como o Bem; e todas as tiranias estáveis estão ao serviço de interesses.
Não é que não nos sintamos tentados, por vezes, a elaborar fantasias deliciosamente
assustadoras sobre os "Senhores do Mal"; mesmo nós, portugueses, cá no nosso cantinho,
detectamos um eco distante destas fantasias quando ouvimos um político, um economista ou
um empresário deixar no ar a ideia de que tudo o que é impopular é necessariamente justo e
acertado e tudo o que beneficia o cidadão comum é injusto e desastroso. Levada inteiramente
a sério, esta ideia implicaria uma negação total e radical da democracia; mas somos, tal como
Burgess, demasiado sensatos para levar muito a sério ou muito à letra tudo o que diz o poder,
e é por isso que não confundimos José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues com Voldemort.
Ao contrário de Thatcher e de Reagan, Burgess não via no Estado a única, nem
necessariamente a principal, fonte de opressão. O Estado que Burgess denuncia não é o
pesadelo de Orwell, que para Burgess não passa disso mesmo: dum pesadelo. Nem é o Moloch
burocrático da lenda negra anti-socialista. É, acima de tudo, o Estado de Ivan Petrovitch Pavlov
e de Burrhus Frederic Skinner:
The Soviet State wished to remake man and, if one knows Russians, one can sympathize. Pavlov
deplored the wild-eyed, sloppy, romantic, indisciplined, inefficient, anarchic texture of the
Russian soul, at the same time admiring the cool reasonableness of Anglo-Saxons. Lenine
deplored it, too, but it still exists. Faced with the sloth of the waiters in Soviet restaurants
(sometimes three hours between taking the order and fulfilling it), the manic depression of
Soviet taxi-drivers, the sobs and howls of Soviet drunks, one can sometimes believe that
without communism this people could not have survived. But one baulks, with a shudder, at the
Leninist proposal to rebuild, with Pavlov's assistance, the entire Russian character, thus making
the works of Chekhov and Dostyevsky unintelligible to readers of the far future.
B. F. Skinner foi um behaviourista radical, bem conhecido pelos professores como teórico da
Educação cujas teses ainda hoje têm influência política no nosso País e noutros. Mas tem
outras facetas menos conhecidas: como filósofo político, produziu em 1948 Walden Two, uma
eutopia - ou distopia, conforme o ponto de vista - em que as técnicas de psicologia do
comportamento conduzem a uma harmonia social perfeita; como filósofo moral, produziu em
1971 Beyond Freedom and Dignity, título este que não pode deixar de dar calafrios a Burgess -
e, creio bem, a muitos de nós. Burgess denuncia o Estado Soviético não tanto por pretender
privar o homem da sua liberdade económica como por pretender privá-lo, na esteira de Pavlov
e Skinner, da sua liberdade moral.
Mas se o Estado não é a única nem a principal fonte potencial de opressão, então não basta a
Burgess denunciar o Estado, como em A Clockwork Orange; é preciso enumerar e denunciar as
outras forças potencialmente hostis à liberdade (leia-se: liberdade moral) do ser humano:
There are, indeed, forces always ready to diminish State power, though oppressive enough in
their own ways. Multinational companies that can make and break governments but don't give
a damn about matters of responsibility to thought, art, sentiment, health, morality, tradition.
The manipulators, the true investigators into the power of propaganda, meaning doublethink,
subliminal suggestion, rendering us unfree in the realm of what we consume. Trade unions.
Minority groups of all kinds, from the women's liberationists to the gay sodomites. And where
we expect the State, that takes our money, to protect us from the more harmful of the anarchic
forces of the community, there we find the State peculiarly powerless.
Se Burgess soa aqui como um cruzamento anti-natural entre um manifestante anti-
globalização e um moralista reaccionário, reflictamos que o texto foi escrito antes de, quer o
neoliberalismo, quer o movimento politicamente correcto terem adquirido o estatuto de
verdades dificilmente questionáveis.
Na segunda parte de 1985, Burgess já não toma como alvo o Estado de Pavlov e Skinner, mas
sim uma das forças que enumera nos capítulos anteriores. O vilão principal de Burgess é, nesta
narrativa, o movimento sindical. Não o movimento sindical tal como existiu nos países
democráticos ao longo dos séculos XIX e XX, mas aquilo em que ele parecia estar a tornar-se
no Reino Unido em 1978: um sindicalismo totalitário que se substitui ao Estado e regula
despoticamente todos os aspectos da vida em sociedade. Este retrato do movimento sindical
era em parte, mesmo naquele tempo e lugar, pura e mal intencionada propaganda; mas
propaganda em que Burgess acreditou. Tal como Orwell se tinha alegrado, trinta anos antes,
com a vitória avassaladora do partido Trabalhista nas primeiras eleições que se seguiram à
Guerra, é possível que Burgess se tenha alegrado com o triunfo de Margaret Thatcher, no ano
seguinte ao da publicação de 1985, com base num programa explicitamente anti-sindical. Se
assim foi, esta alegria deve ter durado pouco.
Na novela de Burgess, a personagem principal é um professor de História e línguas clássicas,
desafecto a um sistema que não lhe permite ensinar nada que possa ser considerado "elitista".
Esta dissidência leva-o primeiro à demissão e à escolha de um trabalho manual (pasteleiro)
que não lhe suscita problemas deontológicos, depois à clandestinidade e por fim à prisão
perpétua.
Em Nineteen Eighty-Four a personagem principal é um burocrata chamado Winston Smith; o
professor que protagoniza 1985 chama-se Bev Jones. A escolha dos nomes não é trivial, como
assinala explicitamente Burgess a propósito do nome que escolheu para o protagonista de A
Clockwork Orange: Alex, diminutivo de Alexander, ou seja, em grego, "salvador de homens". "
Smith" e "Jones" são os sobrenomes mais banais do mundo anglo-saxónico. O nome próprio
"Winston" produz, associado a "Smith", um efeito dissonante que se repercute em " Bev Jones.
O nome próprio dado à personagem pelo pai pode constituir uma homenagem a uma de três
figuras históricas: Ernest Bevin, organizador sindical, dirigente do Partido Trabalhista e
Ministro do Trabalho a partir de 1940 no governo de coligação de Winston Churchill; Aneurin
Bevan, Ministro da Saúde a seguir à vitória trabalhista de 1945, arquitecto do Serviço Nacional
de Saúde, e Ministro do Trabalho a partir de 1951, cargo de que se demitiu em protesto contra
a introdução de taxas moderadoras destinadas a financiar a participação britânica na Guerra
da Coreia; ou William Beveridge, parlamentar do Partido Liberal cujo relatório, apresentado
em 1942, veio a servir de base à instituição do Welfare State no Reino Unido.
Bev Jones é, assim, simultaneamente a continuação e o oposto de Winston Smith, facto que se
reflecte nas óbvias diferenças e nas surpreendentes semelhanças entre os dois textos.
Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e Bev Jones são
ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente, como de resto em Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a qualquer poder de facto ou de direito que se
dedique à destruição de livros; mas o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois
textos é o relevo que Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de que a tirania
necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os dois textos
partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções muito próximas da liberdade.
Para a personagem principal de Orwell, ser livre significa poder acreditar que 2+2=4; para
Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess aponta
a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen Eighty-
Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma
interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais,
mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum
bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica
esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a
autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua norma
culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos urbanas,
como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma coisa
essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e
muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de tudo
veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele esperava
protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura com o passado,
vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da contra-cultura
dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes empresas inundam os media.
Os bilionários já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição que lhes
move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de
"saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a mesma confiança simples
e cega com que um bom muçulmano se submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado
com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a condição de
"homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que afirma, entre outras
coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por cada vez menos
dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão
todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de acompanhar os
textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marques tem estado a publicar
no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as novas gerações"
Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou releitura dos livros que aqui
comento ajude a clarificar as estratégias de marketing político que o apoiam.
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young
women were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the
young men. In 2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again
found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those were
reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women were the
perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was associated with more
frequent violence among women (adjusted odds ratio [AOR]=2.3; 95% confidence
interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26; 95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury,
men were more likely to inflict injury than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5),
and reciprocal intimate partner violence was associated with greater injury than was
nonreciprocal intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
a woman’s perpetration of violence was the strongest predictor of her being a victim of
partner violence.
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como tantos
outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de subsidiar os
pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis têm que ser
defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida capacidade de
introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal, embarca na viagem da
política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e acaba por se tornar um
entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus senhores em Washington,
fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir o mal) enquanto os seus agentes
na sombra assassinam, torturam e "desaparecem" pessoas sem quaisquer entraves.
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos (sempre
designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal a política é a
arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem, entendendo-se por
maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer os seus princípios morais.
Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem eles, ou pelo menos com a prática
de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A História há-de dar-lhes razão, concluem - a
História com a sua visão de longo prazo.
Tem acontecido pessoas recém-chegadas ao poder jurarem a si próprias praticar uma política
de verdade, ou pelo menos uma política que evite a mentira. É possível que Fidel Castro tenha
sido em tempos uma destas pessoas. Mas como é breve o tempo até as exigências da vida
política tornarem impossível ao homem no poder distinguir a mentira da verdade!
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus julgamentos
idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas pessoas aduzem
sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são feitas são sempre utopicas,
irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que nunca
são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao lado da
verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As pessoas estão
ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes. Daqui a sua fome
(uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e inteligível o que outras
pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores ao mundo político -
académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando até o
seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de forças da
política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado no mentiroso e
na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se descobria e
aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria evidente e imediata na
qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que tenhamos
melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente. Uma melhoria
significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de recrutamento, que se
fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo as escolas, para tal, com
outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia
a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de remuneração, quer de
estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de
entre estas, a que mais afronta a tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos
portugueses: tempo livre para reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do
que qualquer outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais qualificados,
então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por escolher apenas os
melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro, pelo
Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir aqui):
trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um
ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção dos pais, as
condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores aprendizagens terá que
actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente contribui
para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente, só
parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação
será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele que
seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um compromisso entre ideologias e
agendas políticas diversas; mas espero que seja ao menos adequado, isto é: que contribua,
ainda que imperfeitamente, para a melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua
melhoria enquanto funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que
apenas com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário do
actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que aquelas a que der
azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação seja adequado exige-se, no mínimo,
que não seja contraproducente.
Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele que
seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez de punir
como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo perfeitos
mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações legítimas e
exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem suficientemente bons,
deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de onde nunca deviam ter
saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate, este,
sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando deste
debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor. Não
seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos
um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
.
Princípios gerais
1. A Escola Republicana é uma instituição da Sociedade Civil e tem por função transmitir entre
gerações o património científico, cultural, artístico e técnico adquirido pela sociedade e pela
humanidade em geral. Deste modo, a conservação e a inovação são os dois pólos do
seu ethos, que se realizará, quer na conservação e continuação do património adquirido, quer
na sua contestação crítica.
5. A avaliação dos professores deve incidir na proficiência com que exercem as funções que
lhes são próprias. A proficiência em funções ou tarefas subsidiárias é presumida a partir do
resultado da avaliação naquelas, e, se tiver que ser sujeita a procedimentos avaliativos
específicos, sê-lo-á a título supletivo e residual.
9. A progressão na carreira depende por um lado da avaliação do professor e por outro da sua
experiência profissional, estando as duas vertentes integradas entre si segundo uma fórmula
simples, clara, racional e unívoca. É além disso subsidiária da avaliação prévia da escola.
10. Só um cidadão pode formar cidadãos. O direito-dever de o professor ser avaliado articula-
se com o seu direito-dever de avaliar a escola e as políticas educativas que lhe cabe executar,
sem prejuízo da legitimidade dos órgãos de soberania para terem a última palavra em relação
a estas.
Assim:
13. A atribuição das classificações mais elevadas não deve pressupor ou implicar a renúncia,
por parte do professor, ao exercício dos seus direitos laborais e humanos, nomeadamente os
que dizem respeito à duração do trabalho, ainda que esta renúncia possa ser representada
como voluntária.
14. Nenhuma avaliação pode ser absolutamente objectiva; sendo forçoso assumir uma
vertente subjectiva, deve proceder-se de modo a que em caso algum o avaliado fique
dependente da subjectividade de uma só pessoa ou de um conjunto reduzido de pessoas. O
número e a variedade dos participantes nesta vertente do processo deve ser tal que os erros
resultantes da avaliação subjectiva de cada interveniente sejam compensados e corrigidos
pelo acerto, ou pelos erros em sentido contrário, dos restantes.
15. A reputação profissional do professor será tida na conta de uma mais-valia para ele e para
a escola. A componente subjectiva da avaliação permite minorar discrepâncias entre os seus
resultados e a reputação profissional do avaliado, que, a verificarem-se seriam sentidas como
injustas pela comunidade escolar, comprometendo a idoneidade de todo o processo. A
componente subjectiva permite, por acréscimo, ter em conta aspectos cruciais, mas não
mensuráveis, do desempenho do professor.
II
18. O processo será informal e expedito e terá duas componentes: uma, subjectiva com um
peso de 40% na classificação e outra, objectiva, com um peso de 60%.
21. Os formulários não deverão ser uniformes para toda a escola. Pode ser elaborado um
formulário para cada ciclo, para cada ano ou para cada turma. Na mesma turma, porém, não
serão utilizados formulários diferentes.
22. Os formulários estarão redigidos em português correcto, claro, exacto e adequado à idade
dos alunos. Tirar-se-á partido, sempre que possível, da terminologia habitualmente utilizada
pelos alunos no que respeita a vida na escola.
23. Os critérios submetidos à apreciação dos alunos serão decididos pelo Conselho
Pedagógico. Entre estes critérios contar-se-ão, obrigatoriamente, os seguintes:
24. Nenhum formulário ultrapassará, em extensão, o limite do que pode ser contido numa
página de formato A4.
26. Os professores ou funcionários intervenientes neste processo ficarão sujeitos, caso tenham
conhecimento fortuito da identidade de algum dos alunos envolvidos, ao dever de segredo.
27. A participação deste grupo será indirecta, e realizar-se-á através da sua intervenção no
Conselho de Escola e/ou das reclamações, queixas, sugestões, elogios ou críticas que tenham
formalizado por escrito e feito chegar aos órgãos directivos.
28. O avaliado elabora, no fim do ano lectivo, um documento em que refere a classificação que
entende merecer, numa escala de zero a 20, e as razões por que assim entende. Este
documento não poderá exceder em extensão o conteúdo de duas páginas de formato A4.
31. Os professores serão livres de definir em conjunto o critério ou critérios a ter em conta
nesta seriação. A elaboração e impressão do formulário resultante dos critérios definidos
serão efectuadas na sequência de uma reunião anterior ou num intervalo da reunião de
seriação.
32. Os formulários preenchidos serão introduzidos num invólucro que será selado e entregue
ao membro da direcção da escola a quem tenha sido conferida a autoridade para supervisionar
todo o processo.
Uma pensão é um direito que se ganha trabalhando e descontando. Tanto direito tem a
ela um milionário como um pobre. Já o complemento social é um mecanismo de
solidariedade e de redistribuição, pelo que só deve ter direito a ele quem realmente
precisa. Feita esta ressalva, concordo com a proposta, que pode ser financiada, tal como
a seguinte, através dum imposto sobre as grandes fortunas idêntico ao que existe em cada
vez mais países europeus.
Claro que sim. A separação entre Estado e empresas é hoje tão vital para a democracia
como há duzentos anos a separação entre Estado e Igreja.
E das duras também. Por uma questão de princípio: o Estado não tem o direito de
criminalizar comportamentos privados; e por uma questão de utilidade: a
crimininalização falhou em toda a parte e em toda a linha, criando males muito piores
do que os que pretendia eliminar.
Desde que com limites... Não quero ninguém a branquear os dentes à minha custa.
Há tragédias que se devem à ignorância das pessoas em matéria sexual. Esta ignorância
deve, portanto, ser combatida. Mas não vamos cair na armadilha de rejeitar a moral
judaico-cristã para pôr no seu lugar uma moral politicamente correcta: seria saltar da
frigideira para cair no lume.
12. Limitação do número de alunos por turma (máximo de 20 para o primeiro ciclo, 22
para os demais).
Outro trade-off: está muito bem desde que se criem turmas de nível, ainda mais pequenas,
para os alunos com maiores dificuldades. Duvido que esta contrapartida agrade muito
ao BE.
Melhor seria penalizar, por via fiscal, a comercialização de bens ou serviços produzidos
em Portugal ou no estrangeiro por empresas delinquentes. Mas isto seria matéria para
umas eleições europeias, não para eleições nacionais.
Outra banalidade que só em Portugal é vista como um bicho de sete cabeças. Deste
imposto depende a viabilidade de muitas das outras propostas. Inteiramente de acordo.
20. Direito à reforma sem penalização a quem já cumpriu 40 anos de trabalho e descontos.
Em vez disto: direito à reforma em qualquer idade e com qualquer carreira contributiva.
Cálculo do montante da pensão tendo em conta estes factores. Possibilidade de acumular
pensão com pensão e pensão com salário, de forma que um reformado com uma carreira
contributiva de quarenta anos recebesse algo mais que outro com dez carreiras
contributivas de quatro anos (já que este beneficiou de várias antecipações).
Acabar com o truque do pagamento em espécie para fugir aos impostos. Acho bem. Nesta
matéria, o CDS não tem razão nenhuma.
24. Reforço dos quadros do Ministério Público e da Polícia Judiciária para combater o
crime.
26. Levantamento do segredo bancário para efeitos de verificação das declarações dos
contribuintes e do combate à evasão fiscal.
E mais: publicação anual, a exemplo do que se faz na Suécia, duma lista universal de
contribuintes de que conste o rendimento declarado e o imposto pago.
Obviamente.
28. Substituição até 2011 de todas as lâmpadas incandescentes.
Só servem para facilitar a corrupção. Foram criados, de resto, com este objectivo. Fora
com eles.
Discordo. A independência em relação aos combustíveis fósseis deve ser uma prioridade
nacional.
Pode muito bem ser que a cultura seja a indústria do futuro. Concordo.
43. Franquear a cidadania eleitoral aos cidadãos estrangeiros a viver há mais de três anos
em Portugal.
As pessoas devem votar nos países em que vivem, que são aqueles a cujas leis estão
sujeitos, e não naqueles de que são naturais.
Desde que tenham cumprido com aproveitamento (e não apenas com "sucesso") a
escolaridade obrigatória.
Concordo.
Não é nada de impensável. Nas próprias cúpulas da NATO se põe hoje em questão a
actualidade da aliança.
50. Pôr termo à cedência da base das Lajes aos Estados Unidos.
Discordo. A Líbia está aqui ao pé e tem mais poder militar que nós.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 22:25 Sem comentários:
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Utopias, eutopias e distopias
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TEXTOS LONGOS
Blogue de apoio ao "As Minhas Leituras"
Acerca de mim
Nada do que é social e humano é mais real que as utopias. Na sua vertente eutópica, as
utopias constituíram sempre o fundamento simbólico e mítico sem o qual nenhuma forma de
organização social se sustenta, justifica ou sobrevive. E criam, tanto na vertente eutópica como
na distópica, o vocabulário da revolução e da mudança: sem os amanhãs que cantam (ou
choram) teríamos, em vez de História, um presente intemporal e eterno - como o dos faraós
ou o de Francis Fukuyama.
Aldous Huxley publicou o seu Brave New World em 1932. George Orwell, que não tinha em
grande conta este livro ou o seu autor, publicou 17 anos depois a sua própria
distopia, Nineteen Eighty-Four. Entre estas duas datas interpôs-se a Segunda Grande Guerra:
não admira que na primeira a técnica básica da opressão do Estado fosse a manipulação
genética e que na segunda, depois do descrédito em que o regime nazi lançou o eugenismo, as
técnicas principais da opressão sejam a lavagem ao cérebro, a crueldade gratuita e a
manipulação da linguagem.
Apesar desta e de outras diferenças, os dois textos foram muitas vezes lidos, nas décadas
seguintes, como os dois pólos - um hedonista, outro o oposto disto - duma mesma distopia, a
que os sinais dos tempos davam e dão plausibilidade. Esta distopia bipolar é identificável em
grande parte com a ideia de modernidade; e hoje a invocação da modernidade, sempre na
boca dos políticos e dos capitães da indústria, soa aos nossos ouvidos tanto a ameaça como a
promessa.
Do texto de Aldous Huxley, o que entrou na linguagem corrente, traduzido para todas as
línguas, foi o sobretudo o título: "admirável mundo novo". A expressão é utilizada em toda a
parte mesmo por quem nunca leu a obra: das mesas dos cafés aos blogues, das crónicas dos
jornais aos debates nos media. Do texto de Orwell, toda a gente utiliza, própria ou
impropriamente, expressões como Big Brother, newspeak (que até teve, em português, honras
de tradução: "novilíngua"), ou ainda doublethink. Uma coisa é certa: nenhuma destas
expressões se teria conservado até hoje no uso corrente se não tivesse referentes no real
quotidiano.
A mesma sorte não teve 1985, de Anthony Burgess, publicado em 1978. Um texto anterior de
Burgess, também ele distópico, é de longe mais conhecido, talvez pela versão filmada que dele
fez Stanley Kubrik: A Clockwork Orange. 1985 recupera alguns temas e tropos deste texto e
apresenta-se como um balanço crítico de Nineteen Eighty-Four. Divide-se em duas partes: um
ensaio sobre o texto de Orwell e a construção duma distopia alternativa, imaginada por
Burgess 29 anos mais tarde. A frase final da primeira parte do livro é: 1984 is not going to be
like that at all. Frase corajosa, vinda dum escritor que admirava e respeitava o objecto da sua
crítica. E é com ela que Burgess nos autoriza a fazermos nós também o balanço crítico da sua
alternativa, decorridos mais que outros tantos anos desde a sua publicação.
Vejamos então o que sobreviveu melhor ao curso da história: se Nineteen Eighty-Four aos
últimos 60 anos, se 1985 aos últimos trinta e um.
As diferenças entre as duas distopias não surpreendem, sabendo que uma foi escrita por um
socialista libertário, pouco à vontade no seu estatuto social de nascença que o colocava nas
franjas do poder, e a outra escrita por um conservador a quem o facto de pertencer a uma
elite social e intelectual não incomoda minimamente. Na primeira, o opressor é um Estado por
assim dizer anti-utilitarista, ou seja: inteiramente dedicado à prossecução do maior mal do
maior número. Burgess faz notar, na sua crítica a Orwell, que um Estado assim nunca existiu
nem pode existir. Mesmo os regimes que mais se aproximam deste modelo são
intrinsecamente instáveis: Calígula acabou assassinado, e o Império nazi, que era para durar
mil anos, durou doze. Reconhece Burgess, contudo, que Orwell tem bons modelos para a sua
terrível invenção: o franquismo contra o qual lutou, o estalinismo que assassinou na Catalunha
os seus camaradas anarco-sindicalistas, ou o nazismo, de cujos horrores se começava a tomar
conhecimento quando o livro foi escrito. Bastou a Orwell absolutizar e levar ao extremo do
concebível estas realidades históricas, et voilà: aí temos o Ingsoc, abreviatura de English
Socialism, ou seja: Socialismo Inglês.
Burgess nota, com a indulgência a que as suas próprias contradições o obrigam, a ironia de um
socialista chamar socialismo ao regime mais monstruoso que consegue imaginar; mas não
precisa de explicar, e não explica, as razões óbvias desta opção. Nós, habitantes do Século XXI,
habituados pela propaganda vigente a equacionar "esquerda" com "estatismo", também
podemos ver ironia na escolha deste nome. As razões de Burgess para notar esta ironia são,
contudo, um pouco diferentes das nossas. Burgess não era um anti-estatista doutrinário, mas
sim um conservador na tradição burkeana, a quem a ideologia anarco-capitalista e
revolucionária representada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan repugnaria tanto como a
qualquer militante da esquerda dita radical. Não acredita que o Estado seja a emanação do
Mal, mas exige dele essa coisa fora de moda que é a responsabilidade moral. No
capítulo "Clockwork oranges" de "1985", declara os seus pressupostos ético-políticos:
A chemical substance injected into [Alex's] blood induces nausea while he is watching the films,
but the nausea is also associated with the music. It was not the intention of his State
manipulators to introduce this bonus or malus: it is purely an accident that, from now on, he
will automatically react to Mozart or Beethoven as he will to rape or murder. The State has
succedeed in its primary aim: to deny Alex free moral choice, which, to the State, means choice
of evil. But it has added an unforeseen punishment: the gates of heaven are closed to the boy,
since music is a figure of celestial bliss. The State has commited a double sin: it has destroyed a
human being, since humanity is defined by moral choice; it has also destroyed an angel.
O Estado aqui descrito não é imoral, como o de Orwell, por opção metafísica da oligarquia que
o dirige: é, mais realisticamente, um Estado amoral. Há, e houve, Estados imorais, mas nunca
houve nenhum que se definisse exclusivamente pela imoralidade. Burgess tem razão neste
ponto. Monstros desta natureza relevam mais de ficções como Harry Potter ou Lord of the
Rings do que da realidade política que vivemos. O Mal absoluto, diz Burgess, é tão
desinteressado como o Bem; e todas as tiranias estáveis estão ao serviço de interesses.
Não é que não nos sintamos tentados, por vezes, a elaborar fantasias deliciosamente
assustadoras sobre os "Senhores do Mal"; mesmo nós, portugueses, cá no nosso cantinho,
detectamos um eco distante destas fantasias quando ouvimos um político, um economista ou
um empresário deixar no ar a ideia de que tudo o que é impopular é necessariamente justo e
acertado e tudo o que beneficia o cidadão comum é injusto e desastroso. Levada inteiramente
a sério, esta ideia implicaria uma negação total e radical da democracia; mas somos, tal como
Burgess, demasiado sensatos para levar muito a sério ou muito à letra tudo o que diz o poder,
e é por isso que não confundimos José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues com Voldemort.
Ao contrário de Thatcher e de Reagan, Burgess não via no Estado a única, nem
necessariamente a principal, fonte de opressão. O Estado que Burgess denuncia não é o
pesadelo de Orwell, que para Burgess não passa disso mesmo: dum pesadelo. Nem é o Moloch
burocrático da lenda negra anti-socialista. É, acima de tudo, o Estado de Ivan Petrovitch Pavlov
e de Burrhus Frederic Skinner:
The Soviet State wished to remake man and, if one knows Russians, one can sympathize. Pavlov
deplored the wild-eyed, sloppy, romantic, indisciplined, inefficient, anarchic texture of the
Russian soul, at the same time admiring the cool reasonableness of Anglo-Saxons. Lenine
deplored it, too, but it still exists. Faced with the sloth of the waiters in Soviet restaurants
(sometimes three hours between taking the order and fulfilling it), the manic depression of
Soviet taxi-drivers, the sobs and howls of Soviet drunks, one can sometimes believe that
without communism this people could not have survived. But one baulks, with a shudder, at the
Leninist proposal to rebuild, with Pavlov's assistance, the entire Russian character, thus making
the works of Chekhov and Dostyevsky unintelligible to readers of the far future.
B. F. Skinner foi um behaviourista radical, bem conhecido pelos professores como teórico da
Educação cujas teses ainda hoje têm influência política no nosso País e noutros. Mas tem
outras facetas menos conhecidas: como filósofo político, produziu em 1948 Walden Two, uma
eutopia - ou distopia, conforme o ponto de vista - em que as técnicas de psicologia do
comportamento conduzem a uma harmonia social perfeita; como filósofo moral, produziu em
1971 Beyond Freedom and Dignity, título este que não pode deixar de dar calafrios a Burgess -
e, creio bem, a muitos de nós. Burgess denuncia o Estado Soviético não tanto por pretender
privar o homem da sua liberdade económica como por pretender privá-lo, na esteira de Pavlov
e Skinner, da sua liberdade moral.
Mas se o Estado não é a única nem a principal fonte potencial de opressão, então não basta a
Burgess denunciar o Estado, como em A Clockwork Orange; é preciso enumerar e denunciar as
outras forças potencialmente hostis à liberdade (leia-se: liberdade moral) do ser humano:
There are, indeed, forces always ready to diminish State power, though oppressive enough in
their own ways. Multinational companies that can make and break governments but don't give
a damn about matters of responsibility to thought, art, sentiment, health, morality, tradition.
The manipulators, the true investigators into the power of propaganda, meaning doublethink,
subliminal suggestion, rendering us unfree in the realm of what we consume. Trade unions.
Minority groups of all kinds, from the women's liberationists to the gay sodomites. And where
we expect the State, that takes our money, to protect us from the more harmful of the anarchic
forces of the community, there we find the State peculiarly powerless.
Se Burgess soa aqui como um cruzamento anti-natural entre um manifestante anti-
globalização e um moralista reaccionário, reflictamos que o texto foi escrito antes de, quer o
neoliberalismo, quer o movimento politicamente correcto terem adquirido o estatuto de
verdades dificilmente questionáveis.
Na segunda parte de 1985, Burgess já não toma como alvo o Estado de Pavlov e Skinner, mas
sim uma das forças que enumera nos capítulos anteriores. O vilão principal de Burgess é, nesta
narrativa, o movimento sindical. Não o movimento sindical tal como existiu nos países
democráticos ao longo dos séculos XIX e XX, mas aquilo em que ele parecia estar a tornar-se
no Reino Unido em 1978: um sindicalismo totalitário que se substitui ao Estado e regula
despoticamente todos os aspectos da vida em sociedade. Este retrato do movimento sindical
era em parte, mesmo naquele tempo e lugar, pura e mal intencionada propaganda; mas
propaganda em que Burgess acreditou. Tal como Orwell se tinha alegrado, trinta anos antes,
com a vitória avassaladora do partido Trabalhista nas primeiras eleições que se seguiram à
Guerra, é possível que Burgess se tenha alegrado com o triunfo de Margaret Thatcher, no ano
seguinte ao da publicação de 1985, com base num programa explicitamente anti-sindical. Se
assim foi, esta alegria deve ter durado pouco.
Na novela de Burgess, a personagem principal é um professor de História e línguas clássicas,
desafecto a um sistema que não lhe permite ensinar nada que possa ser considerado "elitista".
Esta dissidência leva-o primeiro à demissão e à escolha de um trabalho manual (pasteleiro)
que não lhe suscita problemas deontológicos, depois à clandestinidade e por fim à prisão
perpétua.
Em Nineteen Eighty-Four a personagem principal é um burocrata chamado Winston Smith; o
professor que protagoniza 1985 chama-se Bev Jones. A escolha dos nomes não é trivial, como
assinala explicitamente Burgess a propósito do nome que escolheu para o protagonista de A
Clockwork Orange: Alex, diminutivo de Alexander, ou seja, em grego, "salvador de homens". "
Smith" e "Jones" são os sobrenomes mais banais do mundo anglo-saxónico. O nome próprio
"Winston" produz, associado a "Smith", um efeito dissonante que se repercute em " Bev Jones.
O nome próprio dado à personagem pelo pai pode constituir uma homenagem a uma de três
figuras históricas: Ernest Bevin, organizador sindical, dirigente do Partido Trabalhista e
Ministro do Trabalho a partir de 1940 no governo de coligação de Winston Churchill; Aneurin
Bevan, Ministro da Saúde a seguir à vitória trabalhista de 1945, arquitecto do Serviço Nacional
de Saúde, e Ministro do Trabalho a partir de 1951, cargo de que se demitiu em protesto contra
a introdução de taxas moderadoras destinadas a financiar a participação britânica na Guerra
da Coreia; ou William Beveridge, parlamentar do Partido Liberal cujo relatório, apresentado
em 1942, veio a servir de base à instituição do Welfare State no Reino Unido.
Bev Jones é, assim, simultaneamente a continuação e o oposto de Winston Smith, facto que se
reflecte nas óbvias diferenças e nas surpreendentes semelhanças entre os dois textos.
Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e Bev Jones são
ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente, como de resto em Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a qualquer poder de facto ou de direito que se
dedique à destruição de livros; mas o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois
textos é o relevo que Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de que a tirania
necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os dois textos
partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções muito próximas da liberdade.
Para a personagem principal de Orwell, ser livre significa poder acreditar que 2+2=4; para
Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess aponta
a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen Eighty-
Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma
interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais,
mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum
bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica
esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a
autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua norma
culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos urbanas,
como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma coisa
essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e
muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de tudo
veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele esperava
protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura com o passado,
vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da contra-cultura
dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes empresas inundam os media.
Os bilionários já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição que lhes
move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de
"saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a mesma confiança simples
e cega com que um bom muçulmano se submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado
com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a condição de
"homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que afirma, entre outras
coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por cada vez menos
dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão
todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de acompanhar os
textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marques tem estado a publicar
no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as novas gerações"
Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou releitura dos livros que aqui
comento ajude a clarificar as estratégias de marketing político que o apoiam.
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young
women were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the
young men. In 2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again
found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those were
reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women were the
perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was associated with more
frequent violence among women (adjusted odds ratio [AOR]=2.3; 95% confidence
interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26; 95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury,
men were more likely to inflict injury than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5),
and reciprocal intimate partner violence was associated with greater injury than was
nonreciprocal intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
a woman’s perpetration of violence was the strongest predictor of her being a victim of
partner violence.
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como tantos
outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de subsidiar os
pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis têm que ser
defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida capacidade de
introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal, embarca na viagem da
política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e acaba por se tornar um
entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus senhores em Washington,
fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir o mal) enquanto os seus agentes
na sombra assassinam, torturam e "desaparecem" pessoas sem quaisquer entraves.
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos (sempre
designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal a política é a
arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem, entendendo-se por
maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer os seus princípios morais.
Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem eles, ou pelo menos com a prática
de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A História há-de dar-lhes razão, concluem - a
História com a sua visão de longo prazo.
Tem acontecido pessoas recém-chegadas ao poder jurarem a si próprias praticar uma política
de verdade, ou pelo menos uma política que evite a mentira. É possível que Fidel Castro tenha
sido em tempos uma destas pessoas. Mas como é breve o tempo até as exigências da vida
política tornarem impossível ao homem no poder distinguir a mentira da verdade!
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus julgamentos
idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas pessoas aduzem
sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são feitas são sempre utopicas,
irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que nunca
são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao lado da
verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As pessoas estão
ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes. Daqui a sua fome
(uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e inteligível o que outras
pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores ao mundo político -
académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando até o
seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de forças da
política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado no mentiroso e
na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se descobria e
aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria evidente e imediata na
qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que tenhamos
melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente. Uma melhoria
significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de recrutamento, que se
fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo as escolas, para tal, com
outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia
a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de remuneração, quer de
estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de
entre estas, a que mais afronta a tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos
portugueses: tempo livre para reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do
que qualquer outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais qualificados,
então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por escolher apenas os
melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro, pelo
Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir aqui):
trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um
ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção dos pais, as
condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores aprendizagens terá que
actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente contribui
para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente, só
parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação
será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele que
seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um compromisso entre ideologias e
agendas políticas diversas; mas espero que seja ao menos adequado, isto é: que contribua,
ainda que imperfeitamente, para a melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua
melhoria enquanto funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que
apenas com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário do
actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que aquelas a que der
azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação seja adequado exige-se, no mínimo,
que não seja contraproducente.
Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele que
seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez de punir
como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo perfeitos
mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações legítimas e
exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem suficientemente bons,
deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de onde nunca deviam ter
saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate, este,
sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando deste
debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor. Não
seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos
um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
.
Princípios gerais
1. A Escola Republicana é uma instituição da Sociedade Civil e tem por função transmitir entre
gerações o património científico, cultural, artístico e técnico adquirido pela sociedade e pela
humanidade em geral. Deste modo, a conservação e a inovação são os dois pólos do
seu ethos, que se realizará, quer na conservação e continuação do património adquirido, quer
na sua contestação crítica.
5. A avaliação dos professores deve incidir na proficiência com que exercem as funções que
lhes são próprias. A proficiência em funções ou tarefas subsidiárias é presumida a partir do
resultado da avaliação naquelas, e, se tiver que ser sujeita a procedimentos avaliativos
específicos, sê-lo-á a título supletivo e residual.
9. A progressão na carreira depende por um lado da avaliação do professor e por outro da sua
experiência profissional, estando as duas vertentes integradas entre si segundo uma fórmula
simples, clara, racional e unívoca. É além disso subsidiária da avaliação prévia da escola.
10. Só um cidadão pode formar cidadãos. O direito-dever de o professor ser avaliado articula-
se com o seu direito-dever de avaliar a escola e as políticas educativas que lhe cabe executar,
sem prejuízo da legitimidade dos órgãos de soberania para terem a última palavra em relação
a estas.
Assim:
13. A atribuição das classificações mais elevadas não deve pressupor ou implicar a renúncia,
por parte do professor, ao exercício dos seus direitos laborais e humanos, nomeadamente os
que dizem respeito à duração do trabalho, ainda que esta renúncia possa ser representada
como voluntária.
14. Nenhuma avaliação pode ser absolutamente objectiva; sendo forçoso assumir uma
vertente subjectiva, deve proceder-se de modo a que em caso algum o avaliado fique
dependente da subjectividade de uma só pessoa ou de um conjunto reduzido de pessoas. O
número e a variedade dos participantes nesta vertente do processo deve ser tal que os erros
resultantes da avaliação subjectiva de cada interveniente sejam compensados e corrigidos
pelo acerto, ou pelos erros em sentido contrário, dos restantes.
15. A reputação profissional do professor será tida na conta de uma mais-valia para ele e para
a escola. A componente subjectiva da avaliação permite minorar discrepâncias entre os seus
resultados e a reputação profissional do avaliado, que, a verificarem-se seriam sentidas como
injustas pela comunidade escolar, comprometendo a idoneidade de todo o processo. A
componente subjectiva permite, por acréscimo, ter em conta aspectos cruciais, mas não
mensuráveis, do desempenho do professor.
II
18. O processo será informal e expedito e terá duas componentes: uma, subjectiva com um
peso de 40% na classificação e outra, objectiva, com um peso de 60%.
21. Os formulários não deverão ser uniformes para toda a escola. Pode ser elaborado um
formulário para cada ciclo, para cada ano ou para cada turma. Na mesma turma, porém, não
serão utilizados formulários diferentes.
22. Os formulários estarão redigidos em português correcto, claro, exacto e adequado à idade
dos alunos. Tirar-se-á partido, sempre que possível, da terminologia habitualmente utilizada
pelos alunos no que respeita a vida na escola.
23. Os critérios submetidos à apreciação dos alunos serão decididos pelo Conselho
Pedagógico. Entre estes critérios contar-se-ão, obrigatoriamente, os seguintes:
24. Nenhum formulário ultrapassará, em extensão, o limite do que pode ser contido numa
página de formato A4.
26. Os professores ou funcionários intervenientes neste processo ficarão sujeitos, caso tenham
conhecimento fortuito da identidade de algum dos alunos envolvidos, ao dever de segredo.
27. A participação deste grupo será indirecta, e realizar-se-á através da sua intervenção no
Conselho de Escola e/ou das reclamações, queixas, sugestões, elogios ou críticas que tenham
formalizado por escrito e feito chegar aos órgãos directivos.
28. O avaliado elabora, no fim do ano lectivo, um documento em que refere a classificação que
entende merecer, numa escala de zero a 20, e as razões por que assim entende. Este
documento não poderá exceder em extensão o conteúdo de duas páginas de formato A4.
31. Os professores serão livres de definir em conjunto o critério ou critérios a ter em conta
nesta seriação. A elaboração e impressão do formulário resultante dos critérios definidos
serão efectuadas na sequência de uma reunião anterior ou num intervalo da reunião de
seriação.
32. Os formulários preenchidos serão introduzidos num invólucro que será selado e entregue
ao membro da direcção da escola a quem tenha sido conferida a autoridade para supervisionar
todo o processo.
Uma pensão é um direito que se ganha trabalhando e descontando. Tanto direito tem a
ela um milionário como um pobre. Já o complemento social é um mecanismo de
solidariedade e de redistribuição, pelo que só deve ter direito a ele quem realmente
precisa. Feita esta ressalva, concordo com a proposta, que pode ser financiada, tal como
a seguinte, através dum imposto sobre as grandes fortunas idêntico ao que existe em cada
vez mais países europeus.
Claro que sim. A separação entre Estado e empresas é hoje tão vital para a democracia
como há duzentos anos a separação entre Estado e Igreja.
E das duras também. Por uma questão de princípio: o Estado não tem o direito de
criminalizar comportamentos privados; e por uma questão de utilidade: a
crimininalização falhou em toda a parte e em toda a linha, criando males muito piores
do que os que pretendia eliminar.
Desde que com limites... Não quero ninguém a branquear os dentes à minha custa.
Há tragédias que se devem à ignorância das pessoas em matéria sexual. Esta ignorância
deve, portanto, ser combatida. Mas não vamos cair na armadilha de rejeitar a moral
judaico-cristã para pôr no seu lugar uma moral politicamente correcta: seria saltar da
frigideira para cair no lume.
12. Limitação do número de alunos por turma (máximo de 20 para o primeiro ciclo, 22
para os demais).
Outro trade-off: está muito bem desde que se criem turmas de nível, ainda mais pequenas,
para os alunos com maiores dificuldades. Duvido que esta contrapartida agrade muito
ao BE.
Melhor seria penalizar, por via fiscal, a comercialização de bens ou serviços produzidos
em Portugal ou no estrangeiro por empresas delinquentes. Mas isto seria matéria para
umas eleições europeias, não para eleições nacionais.
Outra banalidade que só em Portugal é vista como um bicho de sete cabeças. Deste
imposto depende a viabilidade de muitas das outras propostas. Inteiramente de acordo.
20. Direito à reforma sem penalização a quem já cumpriu 40 anos de trabalho e descontos.
Em vez disto: direito à reforma em qualquer idade e com qualquer carreira contributiva.
Cálculo do montante da pensão tendo em conta estes factores. Possibilidade de acumular
pensão com pensão e pensão com salário, de forma que um reformado com uma carreira
contributiva de quarenta anos recebesse algo mais que outro com dez carreiras
contributivas de quatro anos (já que este beneficiou de várias antecipações).
Acabar com o truque do pagamento em espécie para fugir aos impostos. Acho bem. Nesta
matéria, o CDS não tem razão nenhuma.
24. Reforço dos quadros do Ministério Público e da Polícia Judiciária para combater o
crime.
26. Levantamento do segredo bancário para efeitos de verificação das declarações dos
contribuintes e do combate à evasão fiscal.
E mais: publicação anual, a exemplo do que se faz na Suécia, duma lista universal de
contribuintes de que conste o rendimento declarado e o imposto pago.
Obviamente.
28. Substituição até 2011 de todas as lâmpadas incandescentes.
Só servem para facilitar a corrupção. Foram criados, de resto, com este objectivo. Fora
com eles.
Discordo. A independência em relação aos combustíveis fósseis deve ser uma prioridade
nacional.
Pode muito bem ser que a cultura seja a indústria do futuro. Concordo.
43. Franquear a cidadania eleitoral aos cidadãos estrangeiros a viver há mais de três anos
em Portugal.
As pessoas devem votar nos países em que vivem, que são aqueles a cujas leis estão
sujeitos, e não naqueles de que são naturais.
Desde que tenham cumprido com aproveitamento (e não apenas com "sucesso") a
escolaridade obrigatória.
Concordo.
Não é nada de impensável. Nas próprias cúpulas da NATO se põe hoje em questão a
actualidade da aliança.
50. Pôr termo à cedência da base das Lajes aos Estados Unidos.
Discordo. A Líbia está aqui ao pé e tem mais poder militar que nós.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 22:25 Sem comentários:
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Utopias, eutopias e distopias
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TEXTOS LONGOS
Blogue de apoio ao "As Minhas Leituras"
Acerca de mim
Nada do que é social e humano é mais real que as utopias. Na sua vertente eutópica, as
utopias constituíram sempre o fundamento simbólico e mítico sem o qual nenhuma forma de
organização social se sustenta, justifica ou sobrevive. E criam, tanto na vertente eutópica como
na distópica, o vocabulário da revolução e da mudança: sem os amanhãs que cantam (ou
choram) teríamos, em vez de História, um presente intemporal e eterno - como o dos faraós
ou o de Francis Fukuyama.
Aldous Huxley publicou o seu Brave New World em 1932. George Orwell, que não tinha em
grande conta este livro ou o seu autor, publicou 17 anos depois a sua própria
distopia, Nineteen Eighty-Four. Entre estas duas datas interpôs-se a Segunda Grande Guerra:
não admira que na primeira a técnica básica da opressão do Estado fosse a manipulação
genética e que na segunda, depois do descrédito em que o regime nazi lançou o eugenismo, as
técnicas principais da opressão sejam a lavagem ao cérebro, a crueldade gratuita e a
manipulação da linguagem.
Apesar desta e de outras diferenças, os dois textos foram muitas vezes lidos, nas décadas
seguintes, como os dois pólos - um hedonista, outro o oposto disto - duma mesma distopia, a
que os sinais dos tempos davam e dão plausibilidade. Esta distopia bipolar é identificável em
grande parte com a ideia de modernidade; e hoje a invocação da modernidade, sempre na
boca dos políticos e dos capitães da indústria, soa aos nossos ouvidos tanto a ameaça como a
promessa.
Do texto de Aldous Huxley, o que entrou na linguagem corrente, traduzido para todas as
línguas, foi o sobretudo o título: "admirável mundo novo". A expressão é utilizada em toda a
parte mesmo por quem nunca leu a obra: das mesas dos cafés aos blogues, das crónicas dos
jornais aos debates nos media. Do texto de Orwell, toda a gente utiliza, própria ou
impropriamente, expressões como Big Brother, newspeak (que até teve, em português, honras
de tradução: "novilíngua"), ou ainda doublethink. Uma coisa é certa: nenhuma destas
expressões se teria conservado até hoje no uso corrente se não tivesse referentes no real
quotidiano.
A mesma sorte não teve 1985, de Anthony Burgess, publicado em 1978. Um texto anterior de
Burgess, também ele distópico, é de longe mais conhecido, talvez pela versão filmada que dele
fez Stanley Kubrik: A Clockwork Orange. 1985 recupera alguns temas e tropos deste texto e
apresenta-se como um balanço crítico de Nineteen Eighty-Four. Divide-se em duas partes: um
ensaio sobre o texto de Orwell e a construção duma distopia alternativa, imaginada por
Burgess 29 anos mais tarde. A frase final da primeira parte do livro é: 1984 is not going to be
like that at all. Frase corajosa, vinda dum escritor que admirava e respeitava o objecto da sua
crítica. E é com ela que Burgess nos autoriza a fazermos nós também o balanço crítico da sua
alternativa, decorridos mais que outros tantos anos desde a sua publicação.
Vejamos então o que sobreviveu melhor ao curso da história: se Nineteen Eighty-Four aos
últimos 60 anos, se 1985 aos últimos trinta e um.
As diferenças entre as duas distopias não surpreendem, sabendo que uma foi escrita por um
socialista libertário, pouco à vontade no seu estatuto social de nascença que o colocava nas
franjas do poder, e a outra escrita por um conservador a quem o facto de pertencer a uma
elite social e intelectual não incomoda minimamente. Na primeira, o opressor é um Estado por
assim dizer anti-utilitarista, ou seja: inteiramente dedicado à prossecução do maior mal do
maior número. Burgess faz notar, na sua crítica a Orwell, que um Estado assim nunca existiu
nem pode existir. Mesmo os regimes que mais se aproximam deste modelo são
intrinsecamente instáveis: Calígula acabou assassinado, e o Império nazi, que era para durar
mil anos, durou doze. Reconhece Burgess, contudo, que Orwell tem bons modelos para a sua
terrível invenção: o franquismo contra o qual lutou, o estalinismo que assassinou na Catalunha
os seus camaradas anarco-sindicalistas, ou o nazismo, de cujos horrores se começava a tomar
conhecimento quando o livro foi escrito. Bastou a Orwell absolutizar e levar ao extremo do
concebível estas realidades históricas, et voilà: aí temos o Ingsoc, abreviatura de English
Socialism, ou seja: Socialismo Inglês.
Burgess nota, com a indulgência a que as suas próprias contradições o obrigam, a ironia de um
socialista chamar socialismo ao regime mais monstruoso que consegue imaginar; mas não
precisa de explicar, e não explica, as razões óbvias desta opção. Nós, habitantes do Século XXI,
habituados pela propaganda vigente a equacionar "esquerda" com "estatismo", também
podemos ver ironia na escolha deste nome. As razões de Burgess para notar esta ironia são,
contudo, um pouco diferentes das nossas. Burgess não era um anti-estatista doutrinário, mas
sim um conservador na tradição burkeana, a quem a ideologia anarco-capitalista e
revolucionária representada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan repugnaria tanto como a
qualquer militante da esquerda dita radical. Não acredita que o Estado seja a emanação do
Mal, mas exige dele essa coisa fora de moda que é a responsabilidade moral. No
capítulo "Clockwork oranges" de "1985", declara os seus pressupostos ético-políticos:
A chemical substance injected into [Alex's] blood induces nausea while he is watching the films,
but the nausea is also associated with the music. It was not the intention of his State
manipulators to introduce this bonus or malus: it is purely an accident that, from now on, he
will automatically react to Mozart or Beethoven as he will to rape or murder. The State has
succedeed in its primary aim: to deny Alex free moral choice, which, to the State, means choice
of evil. But it has added an unforeseen punishment: the gates of heaven are closed to the boy,
since music is a figure of celestial bliss. The State has commited a double sin: it has destroyed a
human being, since humanity is defined by moral choice; it has also destroyed an angel.
O Estado aqui descrito não é imoral, como o de Orwell, por opção metafísica da oligarquia que
o dirige: é, mais realisticamente, um Estado amoral. Há, e houve, Estados imorais, mas nunca
houve nenhum que se definisse exclusivamente pela imoralidade. Burgess tem razão neste
ponto. Monstros desta natureza relevam mais de ficções como Harry Potter ou Lord of the
Rings do que da realidade política que vivemos. O Mal absoluto, diz Burgess, é tão
desinteressado como o Bem; e todas as tiranias estáveis estão ao serviço de interesses.
Não é que não nos sintamos tentados, por vezes, a elaborar fantasias deliciosamente
assustadoras sobre os "Senhores do Mal"; mesmo nós, portugueses, cá no nosso cantinho,
detectamos um eco distante destas fantasias quando ouvimos um político, um economista ou
um empresário deixar no ar a ideia de que tudo o que é impopular é necessariamente justo e
acertado e tudo o que beneficia o cidadão comum é injusto e desastroso. Levada inteiramente
a sério, esta ideia implicaria uma negação total e radical da democracia; mas somos, tal como
Burgess, demasiado sensatos para levar muito a sério ou muito à letra tudo o que diz o poder,
e é por isso que não confundimos José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues com Voldemort.
Ao contrário de Thatcher e de Reagan, Burgess não via no Estado a única, nem
necessariamente a principal, fonte de opressão. O Estado que Burgess denuncia não é o
pesadelo de Orwell, que para Burgess não passa disso mesmo: dum pesadelo. Nem é o Moloch
burocrático da lenda negra anti-socialista. É, acima de tudo, o Estado de Ivan Petrovitch Pavlov
e de Burrhus Frederic Skinner:
The Soviet State wished to remake man and, if one knows Russians, one can sympathize. Pavlov
deplored the wild-eyed, sloppy, romantic, indisciplined, inefficient, anarchic texture of the
Russian soul, at the same time admiring the cool reasonableness of Anglo-Saxons. Lenine
deplored it, too, but it still exists. Faced with the sloth of the waiters in Soviet restaurants
(sometimes three hours between taking the order and fulfilling it), the manic depression of
Soviet taxi-drivers, the sobs and howls of Soviet drunks, one can sometimes believe that
without communism this people could not have survived. But one baulks, with a shudder, at the
Leninist proposal to rebuild, with Pavlov's assistance, the entire Russian character, thus making
the works of Chekhov and Dostyevsky unintelligible to readers of the far future.
B. F. Skinner foi um behaviourista radical, bem conhecido pelos professores como teórico da
Educação cujas teses ainda hoje têm influência política no nosso País e noutros. Mas tem
outras facetas menos conhecidas: como filósofo político, produziu em 1948 Walden Two, uma
eutopia - ou distopia, conforme o ponto de vista - em que as técnicas de psicologia do
comportamento conduzem a uma harmonia social perfeita; como filósofo moral, produziu em
1971 Beyond Freedom and Dignity, título este que não pode deixar de dar calafrios a Burgess -
e, creio bem, a muitos de nós. Burgess denuncia o Estado Soviético não tanto por pretender
privar o homem da sua liberdade económica como por pretender privá-lo, na esteira de Pavlov
e Skinner, da sua liberdade moral.
Mas se o Estado não é a única nem a principal fonte potencial de opressão, então não basta a
Burgess denunciar o Estado, como em A Clockwork Orange; é preciso enumerar e denunciar as
outras forças potencialmente hostis à liberdade (leia-se: liberdade moral) do ser humano:
There are, indeed, forces always ready to diminish State power, though oppressive enough in
their own ways. Multinational companies that can make and break governments but don't give
a damn about matters of responsibility to thought, art, sentiment, health, morality, tradition.
The manipulators, the true investigators into the power of propaganda, meaning doublethink,
subliminal suggestion, rendering us unfree in the realm of what we consume. Trade unions.
Minority groups of all kinds, from the women's liberationists to the gay sodomites. And where
we expect the State, that takes our money, to protect us from the more harmful of the anarchic
forces of the community, there we find the State peculiarly powerless.
Se Burgess soa aqui como um cruzamento anti-natural entre um manifestante anti-
globalização e um moralista reaccionário, reflictamos que o texto foi escrito antes de, quer o
neoliberalismo, quer o movimento politicamente correcto terem adquirido o estatuto de
verdades dificilmente questionáveis.
Na segunda parte de 1985, Burgess já não toma como alvo o Estado de Pavlov e Skinner, mas
sim uma das forças que enumera nos capítulos anteriores. O vilão principal de Burgess é, nesta
narrativa, o movimento sindical. Não o movimento sindical tal como existiu nos países
democráticos ao longo dos séculos XIX e XX, mas aquilo em que ele parecia estar a tornar-se
no Reino Unido em 1978: um sindicalismo totalitário que se substitui ao Estado e regula
despoticamente todos os aspectos da vida em sociedade. Este retrato do movimento sindical
era em parte, mesmo naquele tempo e lugar, pura e mal intencionada propaganda; mas
propaganda em que Burgess acreditou. Tal como Orwell se tinha alegrado, trinta anos antes,
com a vitória avassaladora do partido Trabalhista nas primeiras eleições que se seguiram à
Guerra, é possível que Burgess se tenha alegrado com o triunfo de Margaret Thatcher, no ano
seguinte ao da publicação de 1985, com base num programa explicitamente anti-sindical. Se
assim foi, esta alegria deve ter durado pouco.
Na novela de Burgess, a personagem principal é um professor de História e línguas clássicas,
desafecto a um sistema que não lhe permite ensinar nada que possa ser considerado "elitista".
Esta dissidência leva-o primeiro à demissão e à escolha de um trabalho manual (pasteleiro)
que não lhe suscita problemas deontológicos, depois à clandestinidade e por fim à prisão
perpétua.
Em Nineteen Eighty-Four a personagem principal é um burocrata chamado Winston Smith; o
professor que protagoniza 1985 chama-se Bev Jones. A escolha dos nomes não é trivial, como
assinala explicitamente Burgess a propósito do nome que escolheu para o protagonista de A
Clockwork Orange: Alex, diminutivo de Alexander, ou seja, em grego, "salvador de homens". "
Smith" e "Jones" são os sobrenomes mais banais do mundo anglo-saxónico. O nome próprio
"Winston" produz, associado a "Smith", um efeito dissonante que se repercute em " Bev Jones.
O nome próprio dado à personagem pelo pai pode constituir uma homenagem a uma de três
figuras históricas: Ernest Bevin, organizador sindical, dirigente do Partido Trabalhista e
Ministro do Trabalho a partir de 1940 no governo de coligação de Winston Churchill; Aneurin
Bevan, Ministro da Saúde a seguir à vitória trabalhista de 1945, arquitecto do Serviço Nacional
de Saúde, e Ministro do Trabalho a partir de 1951, cargo de que se demitiu em protesto contra
a introdução de taxas moderadoras destinadas a financiar a participação britânica na Guerra
da Coreia; ou William Beveridge, parlamentar do Partido Liberal cujo relatório, apresentado
em 1942, veio a servir de base à instituição do Welfare State no Reino Unido.
Bev Jones é, assim, simultaneamente a continuação e o oposto de Winston Smith, facto que se
reflecte nas óbvias diferenças e nas surpreendentes semelhanças entre os dois textos.
Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e Bev Jones são
ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente, como de resto em Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a qualquer poder de facto ou de direito que se
dedique à destruição de livros; mas o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois
textos é o relevo que Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de que a tirania
necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os dois textos
partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções muito próximas da liberdade.
Para a personagem principal de Orwell, ser livre significa poder acreditar que 2+2=4; para
Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess aponta
a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen Eighty-
Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma
interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais,
mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum
bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica
esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a
autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua norma
culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos urbanas,
como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma coisa
essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e
muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de tudo
veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele esperava
protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura com o passado,
vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da contra-cultura
dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes empresas inundam os media.
Os bilionários já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição que lhes
move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de
"saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a mesma confiança simples
e cega com que um bom muçulmano se submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado
com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a condição de
"homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que afirma, entre outras
coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por cada vez menos
dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão
todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de acompanhar os
textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marques tem estado a publicar
no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as novas gerações"
Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou releitura dos livros que aqui
comento ajude a clarificar as estratégias de marketing político que o apoiam.
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young
women were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the
young men. In 2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again
found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those were
reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women were the
perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was associated with more
frequent violence among women (adjusted odds ratio [AOR]=2.3; 95% confidence
interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26; 95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury,
men were more likely to inflict injury than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5),
and reciprocal intimate partner violence was associated with greater injury than was
nonreciprocal intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
a woman’s perpetration of violence was the strongest predictor of her being a victim of
partner violence.
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como tantos
outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de subsidiar os
pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis têm que ser
defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida capacidade de
introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal, embarca na viagem da
política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e acaba por se tornar um
entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus senhores em Washington,
fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir o mal) enquanto os seus agentes
na sombra assassinam, torturam e "desaparecem" pessoas sem quaisquer entraves.
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos (sempre
designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal a política é a
arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem, entendendo-se por
maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer os seus princípios morais.
Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem eles, ou pelo menos com a prática
de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A História há-de dar-lhes razão, concluem - a
História com a sua visão de longo prazo.
Tem acontecido pessoas recém-chegadas ao poder jurarem a si próprias praticar uma política
de verdade, ou pelo menos uma política que evite a mentira. É possível que Fidel Castro tenha
sido em tempos uma destas pessoas. Mas como é breve o tempo até as exigências da vida
política tornarem impossível ao homem no poder distinguir a mentira da verdade!
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus julgamentos
idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas pessoas aduzem
sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são feitas são sempre utopicas,
irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que nunca
são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao lado da
verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As pessoas estão
ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes. Daqui a sua fome
(uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e inteligível o que outras
pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores ao mundo político -
académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando até o
seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de forças da
política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado no mentiroso e
na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se descobria e
aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria evidente e imediata na
qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que tenhamos
melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente. Uma melhoria
significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de recrutamento, que se
fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo as escolas, para tal, com
outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia
a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de remuneração, quer de
estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de
entre estas, a que mais afronta a tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos
portugueses: tempo livre para reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do
que qualquer outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais qualificados,
então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por escolher apenas os
melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro, pelo
Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir aqui):
trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um
ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção dos pais, as
condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores aprendizagens terá que
actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente contribui
para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente, só
parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação
será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele que
seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um compromisso entre ideologias e
agendas políticas diversas; mas espero que seja ao menos adequado, isto é: que contribua,
ainda que imperfeitamente, para a melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua
melhoria enquanto funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que
apenas com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário do
actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que aquelas a que der
azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação seja adequado exige-se, no mínimo,
que não seja contraproducente.
Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele que
seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez de punir
como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo perfeitos
mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações legítimas e
exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem suficientemente bons,
deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de onde nunca deviam ter
saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate, este,
sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando deste
debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor. Não
seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos
um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
.
Princípios gerais
1. A Escola Republicana é uma instituição da Sociedade Civil e tem por função transmitir entre
gerações o património científico, cultural, artístico e técnico adquirido pela sociedade e pela
humanidade em geral. Deste modo, a conservação e a inovação são os dois pólos do
seu ethos, que se realizará, quer na conservação e continuação do património adquirido, quer
na sua contestação crítica.
5. A avaliação dos professores deve incidir na proficiência com que exercem as funções que
lhes são próprias. A proficiência em funções ou tarefas subsidiárias é presumida a partir do
resultado da avaliação naquelas, e, se tiver que ser sujeita a procedimentos avaliativos
específicos, sê-lo-á a título supletivo e residual.
9. A progressão na carreira depende por um lado da avaliação do professor e por outro da sua
experiência profissional, estando as duas vertentes integradas entre si segundo uma fórmula
simples, clara, racional e unívoca. É além disso subsidiária da avaliação prévia da escola.
10. Só um cidadão pode formar cidadãos. O direito-dever de o professor ser avaliado articula-
se com o seu direito-dever de avaliar a escola e as políticas educativas que lhe cabe executar,
sem prejuízo da legitimidade dos órgãos de soberania para terem a última palavra em relação
a estas.
Assim:
13. A atribuição das classificações mais elevadas não deve pressupor ou implicar a renúncia,
por parte do professor, ao exercício dos seus direitos laborais e humanos, nomeadamente os
que dizem respeito à duração do trabalho, ainda que esta renúncia possa ser representada
como voluntária.
14. Nenhuma avaliação pode ser absolutamente objectiva; sendo forçoso assumir uma
vertente subjectiva, deve proceder-se de modo a que em caso algum o avaliado fique
dependente da subjectividade de uma só pessoa ou de um conjunto reduzido de pessoas. O
número e a variedade dos participantes nesta vertente do processo deve ser tal que os erros
resultantes da avaliação subjectiva de cada interveniente sejam compensados e corrigidos
pelo acerto, ou pelos erros em sentido contrário, dos restantes.
15. A reputação profissional do professor será tida na conta de uma mais-valia para ele e para
a escola. A componente subjectiva da avaliação permite minorar discrepâncias entre os seus
resultados e a reputação profissional do avaliado, que, a verificarem-se seriam sentidas como
injustas pela comunidade escolar, comprometendo a idoneidade de todo o processo. A
componente subjectiva permite, por acréscimo, ter em conta aspectos cruciais, mas não
mensuráveis, do desempenho do professor.
II
18. O processo será informal e expedito e terá duas componentes: uma, subjectiva com um
peso de 40% na classificação e outra, objectiva, com um peso de 60%.
21. Os formulários não deverão ser uniformes para toda a escola. Pode ser elaborado um
formulário para cada ciclo, para cada ano ou para cada turma. Na mesma turma, porém, não
serão utilizados formulários diferentes.
22. Os formulários estarão redigidos em português correcto, claro, exacto e adequado à idade
dos alunos. Tirar-se-á partido, sempre que possível, da terminologia habitualmente utilizada
pelos alunos no que respeita a vida na escola.
23. Os critérios submetidos à apreciação dos alunos serão decididos pelo Conselho
Pedagógico. Entre estes critérios contar-se-ão, obrigatoriamente, os seguintes:
24. Nenhum formulário ultrapassará, em extensão, o limite do que pode ser contido numa
página de formato A4.
26. Os professores ou funcionários intervenientes neste processo ficarão sujeitos, caso tenham
conhecimento fortuito da identidade de algum dos alunos envolvidos, ao dever de segredo.
27. A participação deste grupo será indirecta, e realizar-se-á através da sua intervenção no
Conselho de Escola e/ou das reclamações, queixas, sugestões, elogios ou críticas que tenham
formalizado por escrito e feito chegar aos órgãos directivos.
28. O avaliado elabora, no fim do ano lectivo, um documento em que refere a classificação que
entende merecer, numa escala de zero a 20, e as razões por que assim entende. Este
documento não poderá exceder em extensão o conteúdo de duas páginas de formato A4.
31. Os professores serão livres de definir em conjunto o critério ou critérios a ter em conta
nesta seriação. A elaboração e impressão do formulário resultante dos critérios definidos
serão efectuadas na sequência de uma reunião anterior ou num intervalo da reunião de
seriação.
32. Os formulários preenchidos serão introduzidos num invólucro que será selado e entregue
ao membro da direcção da escola a quem tenha sido conferida a autoridade para supervisionar
todo o processo.
Uma pensão é um direito que se ganha trabalhando e descontando. Tanto direito tem a
ela um milionário como um pobre. Já o complemento social é um mecanismo de
solidariedade e de redistribuição, pelo que só deve ter direito a ele quem realmente
precisa. Feita esta ressalva, concordo com a proposta, que pode ser financiada, tal como
a seguinte, através dum imposto sobre as grandes fortunas idêntico ao que existe em cada
vez mais países europeus.
Claro que sim. A separação entre Estado e empresas é hoje tão vital para a democracia
como há duzentos anos a separação entre Estado e Igreja.
E das duras também. Por uma questão de princípio: o Estado não tem o direito de
criminalizar comportamentos privados; e por uma questão de utilidade: a
crimininalização falhou em toda a parte e em toda a linha, criando males muito piores
do que os que pretendia eliminar.
Desde que com limites... Não quero ninguém a branquear os dentes à minha custa.
Há tragédias que se devem à ignorância das pessoas em matéria sexual. Esta ignorância
deve, portanto, ser combatida. Mas não vamos cair na armadilha de rejeitar a moral
judaico-cristã para pôr no seu lugar uma moral politicamente correcta: seria saltar da
frigideira para cair no lume.
12. Limitação do número de alunos por turma (máximo de 20 para o primeiro ciclo, 22
para os demais).
Outro trade-off: está muito bem desde que se criem turmas de nível, ainda mais pequenas,
para os alunos com maiores dificuldades. Duvido que esta contrapartida agrade muito
ao BE.
Melhor seria penalizar, por via fiscal, a comercialização de bens ou serviços produzidos
em Portugal ou no estrangeiro por empresas delinquentes. Mas isto seria matéria para
umas eleições europeias, não para eleições nacionais.
Outra banalidade que só em Portugal é vista como um bicho de sete cabeças. Deste
imposto depende a viabilidade de muitas das outras propostas. Inteiramente de acordo.
20. Direito à reforma sem penalização a quem já cumpriu 40 anos de trabalho e descontos.
Em vez disto: direito à reforma em qualquer idade e com qualquer carreira contributiva.
Cálculo do montante da pensão tendo em conta estes factores. Possibilidade de acumular
pensão com pensão e pensão com salário, de forma que um reformado com uma carreira
contributiva de quarenta anos recebesse algo mais que outro com dez carreiras
contributivas de quatro anos (já que este beneficiou de várias antecipações).
Acabar com o truque do pagamento em espécie para fugir aos impostos. Acho bem. Nesta
matéria, o CDS não tem razão nenhuma.
24. Reforço dos quadros do Ministério Público e da Polícia Judiciária para combater o
crime.
26. Levantamento do segredo bancário para efeitos de verificação das declarações dos
contribuintes e do combate à evasão fiscal.
E mais: publicação anual, a exemplo do que se faz na Suécia, duma lista universal de
contribuintes de que conste o rendimento declarado e o imposto pago.
Obviamente.
28. Substituição até 2011 de todas as lâmpadas incandescentes.
Só servem para facilitar a corrupção. Foram criados, de resto, com este objectivo. Fora
com eles.
Discordo. A independência em relação aos combustíveis fósseis deve ser uma prioridade
nacional.
Pode muito bem ser que a cultura seja a indústria do futuro. Concordo.
43. Franquear a cidadania eleitoral aos cidadãos estrangeiros a viver há mais de três anos
em Portugal.
As pessoas devem votar nos países em que vivem, que são aqueles a cujas leis estão
sujeitos, e não naqueles de que são naturais.
Desde que tenham cumprido com aproveitamento (e não apenas com "sucesso") a
escolaridade obrigatória.
Concordo.
Não é nada de impensável. Nas próprias cúpulas da NATO se põe hoje em questão a
actualidade da aliança.
50. Pôr termo à cedência da base das Lajes aos Estados Unidos.
Discordo. A Líbia está aqui ao pé e tem mais poder militar que nós.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 22:25 Sem comentários:
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Utopias, eutopias e distopias
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TEXTOS LONGOS
Blogue de apoio ao "As Minhas Leituras"
Acerca de mim
Nada do que é social e humano é mais real que as utopias. Na sua vertente eutópica, as
utopias constituíram sempre o fundamento simbólico e mítico sem o qual nenhuma forma de
organização social se sustenta, justifica ou sobrevive. E criam, tanto na vertente eutópica como
na distópica, o vocabulário da revolução e da mudança: sem os amanhãs que cantam (ou
choram) teríamos, em vez de História, um presente intemporal e eterno - como o dos faraós
ou o de Francis Fukuyama.
Aldous Huxley publicou o seu Brave New World em 1932. George Orwell, que não tinha em
grande conta este livro ou o seu autor, publicou 17 anos depois a sua própria
distopia, Nineteen Eighty-Four. Entre estas duas datas interpôs-se a Segunda Grande Guerra:
não admira que na primeira a técnica básica da opressão do Estado fosse a manipulação
genética e que na segunda, depois do descrédito em que o regime nazi lançou o eugenismo, as
técnicas principais da opressão sejam a lavagem ao cérebro, a crueldade gratuita e a
manipulação da linguagem.
Apesar desta e de outras diferenças, os dois textos foram muitas vezes lidos, nas décadas
seguintes, como os dois pólos - um hedonista, outro o oposto disto - duma mesma distopia, a
que os sinais dos tempos davam e dão plausibilidade. Esta distopia bipolar é identificável em
grande parte com a ideia de modernidade; e hoje a invocação da modernidade, sempre na
boca dos políticos e dos capitães da indústria, soa aos nossos ouvidos tanto a ameaça como a
promessa.
Do texto de Aldous Huxley, o que entrou na linguagem corrente, traduzido para todas as
línguas, foi o sobretudo o título: "admirável mundo novo". A expressão é utilizada em toda a
parte mesmo por quem nunca leu a obra: das mesas dos cafés aos blogues, das crónicas dos
jornais aos debates nos media. Do texto de Orwell, toda a gente utiliza, própria ou
impropriamente, expressões como Big Brother, newspeak (que até teve, em português, honras
de tradução: "novilíngua"), ou ainda doublethink. Uma coisa é certa: nenhuma destas
expressões se teria conservado até hoje no uso corrente se não tivesse referentes no real
quotidiano.
A mesma sorte não teve 1985, de Anthony Burgess, publicado em 1978. Um texto anterior de
Burgess, também ele distópico, é de longe mais conhecido, talvez pela versão filmada que dele
fez Stanley Kubrik: A Clockwork Orange. 1985 recupera alguns temas e tropos deste texto e
apresenta-se como um balanço crítico de Nineteen Eighty-Four. Divide-se em duas partes: um
ensaio sobre o texto de Orwell e a construção duma distopia alternativa, imaginada por
Burgess 29 anos mais tarde. A frase final da primeira parte do livro é: 1984 is not going to be
like that at all. Frase corajosa, vinda dum escritor que admirava e respeitava o objecto da sua
crítica. E é com ela que Burgess nos autoriza a fazermos nós também o balanço crítico da sua
alternativa, decorridos mais que outros tantos anos desde a sua publicação.
Vejamos então o que sobreviveu melhor ao curso da história: se Nineteen Eighty-Four aos
últimos 60 anos, se 1985 aos últimos trinta e um.
As diferenças entre as duas distopias não surpreendem, sabendo que uma foi escrita por um
socialista libertário, pouco à vontade no seu estatuto social de nascença que o colocava nas
franjas do poder, e a outra escrita por um conservador a quem o facto de pertencer a uma
elite social e intelectual não incomoda minimamente. Na primeira, o opressor é um Estado por
assim dizer anti-utilitarista, ou seja: inteiramente dedicado à prossecução do maior mal do
maior número. Burgess faz notar, na sua crítica a Orwell, que um Estado assim nunca existiu
nem pode existir. Mesmo os regimes que mais se aproximam deste modelo são
intrinsecamente instáveis: Calígula acabou assassinado, e o Império nazi, que era para durar
mil anos, durou doze. Reconhece Burgess, contudo, que Orwell tem bons modelos para a sua
terrível invenção: o franquismo contra o qual lutou, o estalinismo que assassinou na Catalunha
os seus camaradas anarco-sindicalistas, ou o nazismo, de cujos horrores se começava a tomar
conhecimento quando o livro foi escrito. Bastou a Orwell absolutizar e levar ao extremo do
concebível estas realidades históricas, et voilà: aí temos o Ingsoc, abreviatura de English
Socialism, ou seja: Socialismo Inglês.
Burgess nota, com a indulgência a que as suas próprias contradições o obrigam, a ironia de um
socialista chamar socialismo ao regime mais monstruoso que consegue imaginar; mas não
precisa de explicar, e não explica, as razões óbvias desta opção. Nós, habitantes do Século XXI,
habituados pela propaganda vigente a equacionar "esquerda" com "estatismo", também
podemos ver ironia na escolha deste nome. As razões de Burgess para notar esta ironia são,
contudo, um pouco diferentes das nossas. Burgess não era um anti-estatista doutrinário, mas
sim um conservador na tradição burkeana, a quem a ideologia anarco-capitalista e
revolucionária representada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan repugnaria tanto como a
qualquer militante da esquerda dita radical. Não acredita que o Estado seja a emanação do
Mal, mas exige dele essa coisa fora de moda que é a responsabilidade moral. No
capítulo "Clockwork oranges" de "1985", declara os seus pressupostos ético-políticos:
A chemical substance injected into [Alex's] blood induces nausea while he is watching the films,
but the nausea is also associated with the music. It was not the intention of his State
manipulators to introduce this bonus or malus: it is purely an accident that, from now on, he
will automatically react to Mozart or Beethoven as he will to rape or murder. The State has
succedeed in its primary aim: to deny Alex free moral choice, which, to the State, means choice
of evil. But it has added an unforeseen punishment: the gates of heaven are closed to the boy,
since music is a figure of celestial bliss. The State has commited a double sin: it has destroyed a
human being, since humanity is defined by moral choice; it has also destroyed an angel.
O Estado aqui descrito não é imoral, como o de Orwell, por opção metafísica da oligarquia que
o dirige: é, mais realisticamente, um Estado amoral. Há, e houve, Estados imorais, mas nunca
houve nenhum que se definisse exclusivamente pela imoralidade. Burgess tem razão neste
ponto. Monstros desta natureza relevam mais de ficções como Harry Potter ou Lord of the
Rings do que da realidade política que vivemos. O Mal absoluto, diz Burgess, é tão
desinteressado como o Bem; e todas as tiranias estáveis estão ao serviço de interesses.
Não é que não nos sintamos tentados, por vezes, a elaborar fantasias deliciosamente
assustadoras sobre os "Senhores do Mal"; mesmo nós, portugueses, cá no nosso cantinho,
detectamos um eco distante destas fantasias quando ouvimos um político, um economista ou
um empresário deixar no ar a ideia de que tudo o que é impopular é necessariamente justo e
acertado e tudo o que beneficia o cidadão comum é injusto e desastroso. Levada inteiramente
a sério, esta ideia implicaria uma negação total e radical da democracia; mas somos, tal como
Burgess, demasiado sensatos para levar muito a sério ou muito à letra tudo o que diz o poder,
e é por isso que não confundimos José Sócrates ou Maria de Lurdes Rodrigues com Voldemort.
Ao contrário de Thatcher e de Reagan, Burgess não via no Estado a única, nem
necessariamente a principal, fonte de opressão. O Estado que Burgess denuncia não é o
pesadelo de Orwell, que para Burgess não passa disso mesmo: dum pesadelo. Nem é o Moloch
burocrático da lenda negra anti-socialista. É, acima de tudo, o Estado de Ivan Petrovitch Pavlov
e de Burrhus Frederic Skinner:
The Soviet State wished to remake man and, if one knows Russians, one can sympathize. Pavlov
deplored the wild-eyed, sloppy, romantic, indisciplined, inefficient, anarchic texture of the
Russian soul, at the same time admiring the cool reasonableness of Anglo-Saxons. Lenine
deplored it, too, but it still exists. Faced with the sloth of the waiters in Soviet restaurants
(sometimes three hours between taking the order and fulfilling it), the manic depression of
Soviet taxi-drivers, the sobs and howls of Soviet drunks, one can sometimes believe that
without communism this people could not have survived. But one baulks, with a shudder, at the
Leninist proposal to rebuild, with Pavlov's assistance, the entire Russian character, thus making
the works of Chekhov and Dostyevsky unintelligible to readers of the far future.
B. F. Skinner foi um behaviourista radical, bem conhecido pelos professores como teórico da
Educação cujas teses ainda hoje têm influência política no nosso País e noutros. Mas tem
outras facetas menos conhecidas: como filósofo político, produziu em 1948 Walden Two, uma
eutopia - ou distopia, conforme o ponto de vista - em que as técnicas de psicologia do
comportamento conduzem a uma harmonia social perfeita; como filósofo moral, produziu em
1971 Beyond Freedom and Dignity, título este que não pode deixar de dar calafrios a Burgess -
e, creio bem, a muitos de nós. Burgess denuncia o Estado Soviético não tanto por pretender
privar o homem da sua liberdade económica como por pretender privá-lo, na esteira de Pavlov
e Skinner, da sua liberdade moral.
Mas se o Estado não é a única nem a principal fonte potencial de opressão, então não basta a
Burgess denunciar o Estado, como em A Clockwork Orange; é preciso enumerar e denunciar as
outras forças potencialmente hostis à liberdade (leia-se: liberdade moral) do ser humano:
There are, indeed, forces always ready to diminish State power, though oppressive enough in
their own ways. Multinational companies that can make and break governments but don't give
a damn about matters of responsibility to thought, art, sentiment, health, morality, tradition.
The manipulators, the true investigators into the power of propaganda, meaning doublethink,
subliminal suggestion, rendering us unfree in the realm of what we consume. Trade unions.
Minority groups of all kinds, from the women's liberationists to the gay sodomites. And where
we expect the State, that takes our money, to protect us from the more harmful of the anarchic
forces of the community, there we find the State peculiarly powerless.
Se Burgess soa aqui como um cruzamento anti-natural entre um manifestante anti-
globalização e um moralista reaccionário, reflictamos que o texto foi escrito antes de, quer o
neoliberalismo, quer o movimento politicamente correcto terem adquirido o estatuto de
verdades dificilmente questionáveis.
Na segunda parte de 1985, Burgess já não toma como alvo o Estado de Pavlov e Skinner, mas
sim uma das forças que enumera nos capítulos anteriores. O vilão principal de Burgess é, nesta
narrativa, o movimento sindical. Não o movimento sindical tal como existiu nos países
democráticos ao longo dos séculos XIX e XX, mas aquilo em que ele parecia estar a tornar-se
no Reino Unido em 1978: um sindicalismo totalitário que se substitui ao Estado e regula
despoticamente todos os aspectos da vida em sociedade. Este retrato do movimento sindical
era em parte, mesmo naquele tempo e lugar, pura e mal intencionada propaganda; mas
propaganda em que Burgess acreditou. Tal como Orwell se tinha alegrado, trinta anos antes,
com a vitória avassaladora do partido Trabalhista nas primeiras eleições que se seguiram à
Guerra, é possível que Burgess se tenha alegrado com o triunfo de Margaret Thatcher, no ano
seguinte ao da publicação de 1985, com base num programa explicitamente anti-sindical. Se
assim foi, esta alegria deve ter durado pouco.
Na novela de Burgess, a personagem principal é um professor de História e línguas clássicas,
desafecto a um sistema que não lhe permite ensinar nada que possa ser considerado "elitista".
Esta dissidência leva-o primeiro à demissão e à escolha de um trabalho manual (pasteleiro)
que não lhe suscita problemas deontológicos, depois à clandestinidade e por fim à prisão
perpétua.
Em Nineteen Eighty-Four a personagem principal é um burocrata chamado Winston Smith; o
professor que protagoniza 1985 chama-se Bev Jones. A escolha dos nomes não é trivial, como
assinala explicitamente Burgess a propósito do nome que escolheu para o protagonista de A
Clockwork Orange: Alex, diminutivo de Alexander, ou seja, em grego, "salvador de homens". "
Smith" e "Jones" são os sobrenomes mais banais do mundo anglo-saxónico. O nome próprio
"Winston" produz, associado a "Smith", um efeito dissonante que se repercute em " Bev Jones.
O nome próprio dado à personagem pelo pai pode constituir uma homenagem a uma de três
figuras históricas: Ernest Bevin, organizador sindical, dirigente do Partido Trabalhista e
Ministro do Trabalho a partir de 1940 no governo de coligação de Winston Churchill; Aneurin
Bevan, Ministro da Saúde a seguir à vitória trabalhista de 1945, arquitecto do Serviço Nacional
de Saúde, e Ministro do Trabalho a partir de 1951, cargo de que se demitiu em protesto contra
a introdução de taxas moderadoras destinadas a financiar a participação britânica na Guerra
da Coreia; ou William Beveridge, parlamentar do Partido Liberal cujo relatório, apresentado
em 1942, veio a servir de base à instituição do Welfare State no Reino Unido.
Bev Jones é, assim, simultaneamente a continuação e o oposto de Winston Smith, facto que se
reflecte nas óbvias diferenças e nas surpreendentes semelhanças entre os dois textos.
Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e Bev Jones são
ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente, como de resto em Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a qualquer poder de facto ou de direito que se
dedique à destruição de livros; mas o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois
textos é o relevo que Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de que a tirania
necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os dois textos
partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções muito próximas da liberdade.
Para a personagem principal de Orwell, ser livre significa poder acreditar que 2+2=4; para
Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess aponta
a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen Eighty-
Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma
interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais,
mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum
bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica
esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a
autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua norma
culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos urbanas,
como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma coisa
essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e
muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de tudo
veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele esperava
protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura com o passado,
vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da contra-cultura
dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes empresas inundam os media.
Os bilionários já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição que lhes
move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de
"saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a mesma confiança simples
e cega com que um bom muçulmano se submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado
com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a condição de
"homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que afirma, entre outras
coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por cada vez menos
dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão
todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de acompanhar os
textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marques tem estado a publicar
no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as novas gerações"
Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou releitura dos livros que aqui
comento ajude a clarificar as estratégias de marketing político que o apoiam.
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young
women were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the
young men. In 2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again
found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those were
reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women were the
perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was associated with more
frequent violence among women (adjusted odds ratio [AOR]=2.3; 95% confidence
interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26; 95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury,
men were more likely to inflict injury than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5),
and reciprocal intimate partner violence was associated with greater injury than was
nonreciprocal intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
a woman’s perpetration of violence was the strongest predictor of her being a victim of
partner violence.
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como tantos
outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de subsidiar os
pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis têm que ser
defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida capacidade de
introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal, embarca na viagem da
política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e acaba por se tornar um
entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus senhores em Washington,
fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir o mal) enquanto os seus agentes
na sombra assassinam, torturam e "desaparecem" pessoas sem quaisquer entraves.
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos (sempre
designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal a política é a
arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem, entendendo-se por
maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer os seus princípios morais.
Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem eles, ou pelo menos com a prática
de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A História há-de dar-lhes razão, concluem - a
História com a sua visão de longo prazo.
Tem acontecido pessoas recém-chegadas ao poder jurarem a si próprias praticar uma política
de verdade, ou pelo menos uma política que evite a mentira. É possível que Fidel Castro tenha
sido em tempos uma destas pessoas. Mas como é breve o tempo até as exigências da vida
política tornarem impossível ao homem no poder distinguir a mentira da verdade!
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus julgamentos
idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas pessoas aduzem
sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são feitas são sempre utopicas,
irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que nunca
são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao lado da
verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As pessoas estão
ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes. Daqui a sua fome
(uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e inteligível o que outras
pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores ao mundo político -
académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando até o
seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de forças da
política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado no mentiroso e
na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se descobria e
aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria evidente e imediata na
qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que tenhamos
melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente. Uma melhoria
significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de recrutamento, que se
fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo as escolas, para tal, com
outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia
a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de remuneração, quer de
estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de
entre estas, a que mais afronta a tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos
portugueses: tempo livre para reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do
que qualquer outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais qualificados,
então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por escolher apenas os
melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro, pelo
Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir aqui):
trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um
ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção dos pais, as
condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores aprendizagens terá que
actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente contribui
para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente, só
parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação
será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele que
seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um compromisso entre ideologias e
agendas políticas diversas; mas espero que seja ao menos adequado, isto é: que contribua,
ainda que imperfeitamente, para a melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua
melhoria enquanto funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que
apenas com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário do
actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que aquelas a que der
azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação seja adequado exige-se, no mínimo,
que não seja contraproducente.
Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele que
seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez de punir
como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo perfeitos
mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações legítimas e
exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem suficientemente bons,
deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de onde nunca deviam ter
saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate, este,
sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando deste
debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor. Não
seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos
um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
.
Princípios gerais
1. A Escola Republicana é uma instituição da Sociedade Civil e tem por função transmitir entre
gerações o património científico, cultural, artístico e técnico adquirido pela sociedade e pela
humanidade em geral. Deste modo, a conservação e a inovação são os dois pólos do
seu ethos, que se realizará, quer na conservação e continuação do património adquirido, quer
na sua contestação crítica.
5. A avaliação dos professores deve incidir na proficiência com que exercem as funções que
lhes são próprias. A proficiência em funções ou tarefas subsidiárias é presumida a partir do
resultado da avaliação naquelas, e, se tiver que ser sujeita a procedimentos avaliativos
específicos, sê-lo-á a título supletivo e residual.
9. A progressão na carreira depende por um lado da avaliação do professor e por outro da sua
experiência profissional, estando as duas vertentes integradas entre si segundo uma fórmula
simples, clara, racional e unívoca. É além disso subsidiária da avaliação prévia da escola.
10. Só um cidadão pode formar cidadãos. O direito-dever de o professor ser avaliado articula-
se com o seu direito-dever de avaliar a escola e as políticas educativas que lhe cabe executar,
sem prejuízo da legitimidade dos órgãos de soberania para terem a última palavra em relação
a estas.
Assim:
13. A atribuição das classificações mais elevadas não deve pressupor ou implicar a renúncia,
por parte do professor, ao exercício dos seus direitos laborais e humanos, nomeadamente os
que dizem respeito à duração do trabalho, ainda que esta renúncia possa ser representada
como voluntária.
14. Nenhuma avaliação pode ser absolutamente objectiva; sendo forçoso assumir uma
vertente subjectiva, deve proceder-se de modo a que em caso algum o avaliado fique
dependente da subjectividade de uma só pessoa ou de um conjunto reduzido de pessoas. O
número e a variedade dos participantes nesta vertente do processo deve ser tal que os erros
resultantes da avaliação subjectiva de cada interveniente sejam compensados e corrigidos
pelo acerto, ou pelos erros em sentido contrário, dos restantes.
15. A reputação profissional do professor será tida na conta de uma mais-valia para ele e para
a escola. A componente subjectiva da avaliação permite minorar discrepâncias entre os seus
resultados e a reputação profissional do avaliado, que, a verificarem-se seriam sentidas como
injustas pela comunidade escolar, comprometendo a idoneidade de todo o processo. A
componente subjectiva permite, por acréscimo, ter em conta aspectos cruciais, mas não
mensuráveis, do desempenho do professor.
II
18. O processo será informal e expedito e terá duas componentes: uma, subjectiva com um
peso de 40% na classificação e outra, objectiva, com um peso de 60%.
21. Os formulários não deverão ser uniformes para toda a escola. Pode ser elaborado um
formulário para cada ciclo, para cada ano ou para cada turma. Na mesma turma, porém, não
serão utilizados formulários diferentes.
22. Os formulários estarão redigidos em português correcto, claro, exacto e adequado à idade
dos alunos. Tirar-se-á partido, sempre que possível, da terminologia habitualmente utilizada
pelos alunos no que respeita a vida na escola.
23. Os critérios submetidos à apreciação dos alunos serão decididos pelo Conselho
Pedagógico. Entre estes critérios contar-se-ão, obrigatoriamente, os seguintes:
24. Nenhum formulário ultrapassará, em extensão, o limite do que pode ser contido numa
página de formato A4.
26. Os professores ou funcionários intervenientes neste processo ficarão sujeitos, caso tenham
conhecimento fortuito da identidade de algum dos alunos envolvidos, ao dever de segredo.
27. A participação deste grupo será indirecta, e realizar-se-á através da sua intervenção no
Conselho de Escola e/ou das reclamações, queixas, sugestões, elogios ou críticas que tenham
formalizado por escrito e feito chegar aos órgãos directivos.
28. O avaliado elabora, no fim do ano lectivo, um documento em que refere a classificação que
entende merecer, numa escala de zero a 20, e as razões por que assim entende. Este
documento não poderá exceder em extensão o conteúdo de duas páginas de formato A4.
31. Os professores serão livres de definir em conjunto o critério ou critérios a ter em conta
nesta seriação. A elaboração e impressão do formulário resultante dos critérios definidos
serão efectuadas na sequência de uma reunião anterior ou num intervalo da reunião de
seriação.
32. Os formulários preenchidos serão introduzidos num invólucro que será selado e entregue
ao membro da direcção da escola a quem tenha sido conferida a autoridade para supervisionar
todo o processo.
Uma pensão é um direito que se ganha trabalhando e descontando. Tanto direito tem a
ela um milionário como um pobre. Já o complemento social é um mecanismo de
solidariedade e de redistribuição, pelo que só deve ter direito a ele quem realmente
precisa. Feita esta ressalva, concordo com a proposta, que pode ser financiada, tal como
a seguinte, através dum imposto sobre as grandes fortunas idêntico ao que existe em cada
vez mais países europeus.
Claro que sim. A separação entre Estado e empresas é hoje tão vital para a democracia
como há duzentos anos a separação entre Estado e Igreja.
E das duras também. Por uma questão de princípio: o Estado não tem o direito de
criminalizar comportamentos privados; e por uma questão de utilidade: a
crimininalização falhou em toda a parte e em toda a linha, criando males muito piores
do que os que pretendia eliminar.
Desde que com limites... Não quero ninguém a branquear os dentes à minha custa.
Há tragédias que se devem à ignorância das pessoas em matéria sexual. Esta ignorância
deve, portanto, ser combatida. Mas não vamos cair na armadilha de rejeitar a moral
judaico-cristã para pôr no seu lugar uma moral politicamente correcta: seria saltar da
frigideira para cair no lume.
12. Limitação do número de alunos por turma (máximo de 20 para o primeiro ciclo, 22
para os demais).
Outro trade-off: está muito bem desde que se criem turmas de nível, ainda mais pequenas,
para os alunos com maiores dificuldades. Duvido que esta contrapartida agrade muito
ao BE.
Melhor seria penalizar, por via fiscal, a comercialização de bens ou serviços produzidos
em Portugal ou no estrangeiro por empresas delinquentes. Mas isto seria matéria para
umas eleições europeias, não para eleições nacionais.
Outra banalidade que só em Portugal é vista como um bicho de sete cabeças. Deste
imposto depende a viabilidade de muitas das outras propostas. Inteiramente de acordo.
20. Direito à reforma sem penalização a quem já cumpriu 40 anos de trabalho e descontos.
Em vez disto: direito à reforma em qualquer idade e com qualquer carreira contributiva.
Cálculo do montante da pensão tendo em conta estes factores. Possibilidade de acumular
pensão com pensão e pensão com salário, de forma que um reformado com uma carreira
contributiva de quarenta anos recebesse algo mais que outro com dez carreiras
contributivas de quatro anos (já que este beneficiou de várias antecipações).
Acabar com o truque do pagamento em espécie para fugir aos impostos. Acho bem. Nesta
matéria, o CDS não tem razão nenhuma.
24. Reforço dos quadros do Ministério Público e da Polícia Judiciária para combater o
crime.
26. Levantamento do segredo bancário para efeitos de verificação das declarações dos
contribuintes e do combate à evasão fiscal.
E mais: publicação anual, a exemplo do que se faz na Suécia, duma lista universal de
contribuintes de que conste o rendimento declarado e o imposto pago.
Obviamente.
28. Substituição até 2011 de todas as lâmpadas incandescentes.
Só servem para facilitar a corrupção. Foram criados, de resto, com este objectivo. Fora
com eles.
Discordo. A independência em relação aos combustíveis fósseis deve ser uma prioridade
nacional.
Pode muito bem ser que a cultura seja a indústria do futuro. Concordo.
43. Franquear a cidadania eleitoral aos cidadãos estrangeiros a viver há mais de três anos
em Portugal.
As pessoas devem votar nos países em que vivem, que são aqueles a cujas leis estão
sujeitos, e não naqueles de que são naturais.
Desde que tenham cumprido com aproveitamento (e não apenas com "sucesso") a
escolaridade obrigatória.
Concordo.
Não é nada de impensável. Nas próprias cúpulas da NATO se põe hoje em questão a
actualidade da aliança.
50. Pôr termo à cedência da base das Lajes aos Estados Unidos.
Discordo. A Líbia está aqui ao pé e tem mais poder militar que nós.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 22:25 Sem comentários:
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