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ARTE, NPANCLAE PORNACAO DEPROFESSORES Néo & novidade que a relacdo entre 2 produgao artistico-cultural e as instituigdes de ensino é, por principio conceitual, conflituosa. Afinal, se a area artistica tem na trensgressao sua mola propul sora, sua caracteristica essencial, as instituicSes de ensino, por ‘sua vez, pautam-se pela normatizaco. Como ento favorecer um espago de criago, de formulagao,e vivencia de significados € N sentidos mltiplos no proceso educative? (0 conjunto de experiéncias das autoras com formagao de profes- sores, em tempos e espaces diversos, dentro e fora da uni dade, anima o debate em tomo dessa questo e fol o que su! ‘a reunido dos artigos que compdem o livro, Assim, a andlise de temas varlados ~ como 0 registro ¢ a documentacao de experién- cias no cotidiano educative, 0 gosto musical, 0 desenho da ctianga, os matizes do fazer pedagégico (ou sua tinta cinzenta), as relagdes possiveis entre cinema e educacéo, além dos gestos na ‘educagéo Infantil - converge para uma questo central: @ educagao estética e suas diversas facetas. red, 198N 85.308-0742-1 PAPIRUS EDITORA BPORMACAOD PROFESSORES AUTORIAE TRANSGRESSAO 7 Bdigdo LUCIANA £. OSTEDT( PAPIRUS EDITOR Luciana Esmeralda Ostetto ¢ peda- goga (UFSC), mestre em Educagao (Ufscar) @ doutoranda em Educago (Unicamp). Atualmente & professora do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Ciéncias da Edu- cago (CED/UFSO). Foi professora de ceduicagao infantile coordenadora peda- ‘g6gica da rede pablica de Floriandpolis ‘¢ pedagoga de creche da rede munt- cipal de Sao Paulo. Entre suas publica ‘ges, encontram-se Encontrose encan- tamentos na educacao infantil (como organizadora); Museu, educagao 0 ‘cultura (como coorganizadora), ambas pela Papirus; Deixando marcas... € Educagio infant om Florianopolis, pela Cidade Futura Maria Isabel Leite é professora de Arte Hélio Rodrigues) © padagoga ( ‘mestre em Educagao (PUC- Fo) e doutora em Educagdo (Unicamp). ‘Além de professora titular do curso de ‘Artes Visuals e do Programa de Pés- graduagdo om Educagao (PPGE), ambos da Unesc, 6 também pesquisa- dora do Laboratério de Estudos Audiovisuais (Otho) da Faculdade de Educagio da Unicamp; do Grupo de Estudos e Pesquises sobre Infancia, Educagao e Escola (Geplee) da UFSCe coordenadora do Grupo de Pesquisa, Ensino @ Extenséo em Educacao Estética (Gedest/Unesc). Foi profes- sora de educacao infant, professora de arle até 0 ensino fundamental e coordenadora, supervisora.e diretora de ‘escola no Rio de Janeiro, E coorganiza- dora das obras Infancia: Fios ¢ desafios da pesquisa: Inféncia e produgdo cultural Infancia © educagao infant Museu, educagao ¢ cultura, todas pela Papicus; Ata e desata: Partithando uma ‘experiéncia de formagao continuada e Educagéo infantilemcurso, pola Ravi ARTE, INFANCIA E FORMAGAO DE PROFESSORES AUTORIA E TRANSGRESSAO APRESENTAGAO DA COLECAO Agere, termo latino, 6 fonte primeira de duas palavras de uso corrente em portugues: agir (que chegou a nds do frances, agir) e arte (de ars, artis). ‘Assim, escolhemos Agere para denominar uma colegio ‘que busca instigar 0 debate e desenvolver a critica tanto no agir educacional, no sentido amplo, relacionado as vérias disciplinas que integram o currfculo (campo do universo objetivo), quanto no campo da arte, via de expressio privilegiada do universo subjetivo e espelho das culturas e de seu tempo. LUCIANA E. OSTETTO MARIA ISABEL LEITE, ARTE, INFANCIA E FORMACAO DE PROFESSORES AUTORIA E TRANSGRESSAO. PAPLRUS EDITORA oot Penando Cnn get cape ectenes& Pree SUMARIO sare ade net Flos APRESENTACAO... 7 Mario Isabel Leite ¢ Luciana Esmeralda Ostet 1. FORMACAO DE PROFESSORES: 0 CONVITE DA ARTE, umantioniaagasiaioataanaeans Maria Isabel Lette « Luciana Esmeralda Ostet ‘heats Ongena gia eins carbone Balt 10008 emearemts oo peat ne Yost OFS {Eling Poeun) end ashe Laas © ‘romance tnenoe ion acne coaa pS. EXPRESSAO.... etiam immense Moria Isabel Leite 3. “MAS AS CRIANGAS GOSTAM!” OU SOBRE GOSTOS E REPERTORIOS MUSICAIS..... Luciana Esmeralda Osteto ‘A DESENHA OU 0 DESENHO CRIANCA? IGNIFICACAO DA EXPRESSAO PLASTICA DE. CRIANCAS E A DISCUSSAO CRITICA DO PAPEL DA Friikotenes recap ntemet ery ESCRITA EM SEUS DESENHOS. Maria Isabel Leite 5, DO-CINZENTO AO MULTICOLORIDO: LINGUAGEM ORAL, LINGUAGEM ESCRITA E PRATICA PEDAGOGICA NA EDUCAGAO INFANTIL. Luciana Esmeralda Ostetto od 6. EDUCACAO E CINEMA: UM RECORTE SOBRE, O PAPEL CULTURAL DOS FESTIVAIS... o7 Maria Isabel Leite "TEXTOS DO CORPO oe Euclana Esmeralda vse Td APRESENTACAO Aideia deste ivro nasceu em Campinas, na Faculdade de Educagio da Unicamp, onde nos conhecemos. Jé haviamos lido livros ¢ textos uma da outra, mas 0 encontro pessoal se daria numa reunifio do grupo de 108 apresentadas pela professora doutora Ana Angélica ina e participante das bancas agiio e defesa de tese da Maria Isabel Ambas pedagogas de formagdo, logo percebemos que vinhamos trithando uma trajet6ria cheia de pontos de encontro. A arte era um deles. As semelhangas foram se c Assim, no cotidiano do grupo de nossos interesses — que envolvia a arte como area de conhecimento, falando de nossas vivéncias e costurando questées que nos mobilizaram nos mobilizavam. Em 2003, por ocasitio do IIT Congresso Paulista de Educagio Infantil, decidimos ensaiar a experiéncia do trabalho coletivo, escrevendo o texto “Formacio de professores: O convite da arte”. Com ele, traziamos a tona experiéncias com formagdo de professores que vemos separadamente, em diferentes tempos ¢ espacos, dentro ¢ fora da universidade, e que nos possibilitaram problematizar caminhos que Are, infanciaetormagiodeprotessores 7 precisam, urgentemente, ser discutidos em esferas mais amplas: 0 didlogo 08 conflitos entre a arte, a inffincia e a formacdo de professores, A partir dai, a ideia de procurar a Papirus Editora e propor uma série de obras que ampliasse essa discussto fez nascer este nosso primeiro livro juntas. Além daquele texto eserito a quatro maos, reunimos aqui is artigos que, produzidos individualmente, de pontos de partida distintos, convergem para a discussio central acerca da educagio estética suas diversas facetas. A colegio Agere pareceu perfeita para abrigar essas discussbes. essa fortna, abrindo nosso livro esté o artigo em que partilhamos, ja € com o qual tudo comeou, “Formagdo de professores: O da arte”, , Maria Isabel, baseando-se na experiénci , reflete sobre a necessidade de registro, tanto para a formagdo de criangas ¢ adultos quanto para a comunicagio com as familias, também, mente, para as diferentes possibilidades expressivas desveladas 's. Apesar de a bibliografia e a pesquisa de campo terem se a de zero a seis anos, a proposta do texto é ampliar essas nnessas pi situado na reflexdes para os demais segmentos escolares. Com base na pergunta-provocagio “gosto ndo se discute?”, Luciana escreve “Mas as criangas gostam!” Ou sobre gostos ¢ repertérios colocando em discussto o aparentemente Na trama dos gostos musicais, vai formulando outras perguntas, preocupagées e intrigas em torno da formago artistico-cultural dos professores que atuam na educaedo das criangas, ‘A concepsao vigente de desenho ¢ a problematizagio da escrita mesmos so discutidas por Maria Isabel em “A crianga desenha ou 0 desenho crianca? A ressignificagto da expressao pléstica de criangas e a discussao critica do papel da escrita em seus desenhos”, O texto dialoga, com as teorias da arte em contraponto a bibliografia mais usada na pedagogia, Parte da tese de doutorado da autora, esse texto trabalha com uma amostra de desenhos de meninos € meninas feitos no Museu Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro, quando da exposigtio de Salvador Di “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza...":é assim que Luciana, chamando as vozes do poeta e da cantora no texto “Do cinzento 20 multicolorido: Linguagem oral, linguagem escrita e pratica pedagdgica na educagao infantil”, coloca em cena a tinta pedagégica, por vezes to cinzenta que chega a encobrir a vida que pulsa no entre meninos e meninas. Como 0 educador podera abrir espago para as cores, a musicalidade, 05 sons, os movimentos ¢ a alegria de dizer @ palavra? Reconhecer e descobrie a sua propria possibilidade criadora é tum ponto de pattida essencial. Um recort da pesquisa atual de Maria sabel € trazido em “Educagao € cinema: Um recorte sobre 0 papel cultural dos festivais”, que, com base em depoimentos recolhidos no 31* Festival de Cinema de e conflituosas relagdes entre arte e educagio, tendo 0 cinema como eixo de andlise. 0 texto prioriza a defesa da necessidade de formago cultural de sujeitos, formaso e qualificagio de plateia, entre outras questées. “Dos gestos na educagdo infantil: Textas do corpo” pretende ser, mais que um texto de palavras, um texto de imagens. Por intermédio do fragmento captado pela fotografia, Luciana apresenta educadoras de bebés. Os corpos. Os gestos, A fotografia. Miltiplas leituras, intimeros sentidos io abertos ao contemplador projetando, ao mesmo tempo, outras imagens no sonho de dangar a educacio — movimento, eftculo, roda do universo tem que habita o ser da poesia presente-escondido no adulto-educador, Esa reunido de pesquisas, estudos ¢ ensaios pretende colocar, rho paleo das discussdes atuais, a necessidade de rever conceitos e de lo conhecimento que se situa na 0 se sigam outros e que esse debate possa se fortalecer mais e mais! Maria Isabel Leite e Luciana Esmeralda Ostetto. ‘Ate infBnciaformagtodeprotessores & 1 FORMAGAO DE PROFESSORES: O CONVITE DA ARTE! Maria Isabel Leite Luciana Esmeralda Ostetto cto entre a produgéo ensino ~ seja ela espago de educaga |, conflituosa. Se, por um lado, a area art na transgressdo a mola propulsora de sua construgdio, as institaigGes acima citadas pautam-se na normatizagio. Como, entio, favorecer um espago de transgresstio e criagao, de formactio de sentidos e significados dessas instituigdes? Como trabalhar cercado de grades curriculares Organizacdo em seriagdes? Tendo de dar conta de avaliagdes percentuais? ‘A despeito de reconhecer a dificuldade de conquistar novos espagos ‘que engendrem novas praticas, tem crescido nas instancias formadoras 0 debate sobre a necessidade de trazer uma outra dimenséo para.a formagiio de professores: uma abordagem que vise ampliar othares, escutas e 1. Trabalho apresentado no III Copedi, em Aguas de Lindoia (SP), de 28 0 31/5/2003 a, nféncae formagaode professors 11 movimentos sensiveis, despertar linguagens adormecidas, acionar esferas diferenciadas de conhecimento, mexer com corpo ealma, diluindo falsas dicotomias entre corpo e mente, ciéncia e arte, afetividade ¢ eogniao, realidade e fantasia. Eo convite da arte que chega, chamando ao ensaio de novos ares, a0 dar-se conta do olhar, do ato de contemplar uma pintura, de entrar na danga, arriscando passos, de fazer, experimentar, sentir a sensagio de caos, da frustragao, do erro e também a satisfagto da realizagdo, do acerto, Arte ¢ isto: totalidade! E também um conhecimento em pode ser pretexto para nada. O conhecimento art ser chamado para tomnar 0 facil, para tornar tudo mais gostosinho... Nao! ‘Quando reclamamos a contribuigdo da arte formagio do professor, femos em mente que ela congrega um conhecimento que trabalha com as polaridades: ao possibilitar 0 gostoso, também engendra desgostoso; a0 dar prazer, também provoca o desprazer; se traz satisfago, igualmente da frustragao; se permite trazer 8 tona a uz da existéncia, também mexe ‘com as sombras do ser humano; o sublime e 0 horrivel, 0 belo e 0 feio: esti tudo ai,no processo artistico. Na arte, em suas diferentes linguagens, fo emerge apenas a fada, mas a bruxa, os édios, o fundo do bat da arte mexe com @ totalidade, E néo é de totalidade que estamos em falta? ireza de ser Ao falarmos de arte, neste contexto, falamos da educador e acrescentamos, 20s polos competéncia ¢ compromisso, lade ~ que abre caminho para o encentamento, 0 ingredientes essenciais para a recriagiio do cotidiano pessoal e profissional, rompendo com a forma, ousando outros desenhos. para o dia a dia, Novas paisagens. Sublinhando a importancia dessa abordagem, algumas is maiores pela formacao inicial dos professores nas em seus cursos de 42 Paps tions eaescuta senstveis do sujeito-professor-em-formagio, A maioria ainda as la “arte-educagao” ~ nome cunhado num momento marcadamente hist6rico, nos anos 60, 70 do século passado, para designar o movimento encampado por artistas em busca do didlogo com a educagdo. Essa aproximagdo acabou criando uma terceira esfera que jé ndo era a da arte ‘etampouco a da educagio como tal — algo que se parece mais com uma adjetivagtio para propostas pedagégicas que se usam da arte; portanto, que fazem o chamado trabalho de educacdo airavés da arte... Defendemos, diferentemente, que a arte tem seu status proprio ¢ que nao deve ficar a servigo da educagao ou nela enclausurada, Portanto, essa disciplina a que nos referimos, presente nos cursos de pedagogia, deve ser marcada niio pelo ensino de tenicas — como era comum ig0s cursos de formagio de \édio -, mas por experiéncias estéticas significativas para aquele em formago. Este texto visa partthar algumas experiéncias que, desenvolvidas no Sudeste e no Sul do Brasil, em diferentes tempos, trazem em comum a marca da busca ¢ do debate sobre “educagdo estética” e formagio de professores. ‘Do eu ao outro: Construindo identidades criadoras Essa experiéneia foi desenvolvida em uma universidade particular lina antes chamada “arte-educaco” 108, © pequeno espago da sala, a actistica imprépria, a ‘auséncia de local para materiais ou exposigdo de trabalhos, o m inadequado para as propostas, a hanenhuma experiéncia anterior eaarte era como “fazer croché, bordar, copiar, ampliar desenhos, pintar Acestratégia, ento, foi pensar em imagens, sons, videos porcelana’ _ita intra etormagto depeotessares 13 ¢ movimentos que pudessem suscitar 0 desejo de busca, despertar a cutiosidade, abi s canais de interlocugao, sempre reafirmando, todavia, a necessidade de estar com os educadores: fazendo, pensando, criando, contemplando, sentindo, integrando todos os sentidos. Comegow-se pelo que aparentava ser mais proximo: os livros de arte publicados para criangas, uma vez que a maioria dos alunos ja exercia fungio de professor de criangas e costumava manipular esse tipo de ‘material. Um debrucar critico sobre a qualidade imagét necessério. Em seguida, levantou-se 0 repert6rio que gem. Foram mais de 50 reprodugdes de ,estilos e movimentos colocados nas paredes -de-arte. Olhates eram atraidos e também as possibil diferentes art da sala-que- i eu!” Partiu-se da pesquisa imagética para a exploragio dos materiais e para a elaborago de autoimagens. Desenhos estereotipados, tragos pouco orados, vergonha, nfo saber fazer era o que mais fortemente eclodia no grupo. Fazer escolhas parce! meu esta certo?” ensinar como faz’ ,niio sei desenhar” “Nao levo jeito para iss Do eu, foi-se para 0 experiéncia ede ver a poss xr com 0 uso de diferentes lentes, culos, Tunetas, espethi olhos—0 cotpo também era acionado, tateou-se-¢ sentiu-se 0 outro e, em seguida, jogos teatrais entraram em cena. Brincar dramatizer, Reconhecer brinquedos artesanais que surgiam numa grande mala, Resgataram-se brinquedos ¢ brincadeiras da infémeia. A fantasia deixava de ser “coisa de crianga” para ser de todo ser humano. A cena foi montada no cho, o trago feito no contomo, os papéis divididos nos grupos, nos materiais escolhidos ~ a reunio deles transformou-se num painel colorido. O orgulho do grupo diante de sua prépria producdo era ‘um movimento novo e fez com que quisessem partilhé-la, 14 Papicustioe Dessa forma, comedores forum invadios ~ a expresso fia das quatro paredes da sala ¢ contemplava. Af ujeitos; éa escuta do gutro que da vida & nossa fala ou canto; assim também foi o olhar alheio que deu sentido ao painel. rincar com o outro, cantar com o outro ~corais de diferentes vozes Joram feitos. As salas de aula vizinhas ja ndo se cal 2 reclamam. O “bacul ganhava forca ¢ movimento cada vezmaiores: baldes, vassouras, pas, esfiegdes, lixeiras, bacias ~ qualquer nstramento usado para limpeza era valido. A inquictagio cresci grupo. Cada vez que pareciam ter “compre: vara fazer”, mudava-se o paradigma de ago: trug0, novo 10. O objetivo era desestabilizar o estabelecido, desacomodar, sgargar 0 tecido necrosado pela mesmice e abrir novos cansis, sempre nais e mais. O setor de limpeza veio saber do que se tratavae gostou de ver, ressignificada, sua mat ima de trabalho. Extrair som, separar ipos, acompanhar com movimentos, criar uma coreografia. Dessa vez, a8 alas do andar de baixo também reclamaram. As condigées de produgio aferecidas tém de levar em conta a especificidade dessas experiéncias — ali @ rompia com o status quo a forga! O video com o grupo nova-iorquino Stomp veio coroar esse percurso. Feitos sons © movimentos d -se para a produgdo le objetos. Novamente imagens invadem a sala ~ desde parangolés de ica a mébiles do Calder. Tudo que fosse diferente daqui ceditasse a ideia de utilitarismo na arte; tudo que fugisse dos padres mpostos pela midia televisiva, Somaram-se arames, alicates, cabides, suarda-chuvas, roupas, panos, botdes, fos, tecidos... oda sorte de coisas, recolhida, observada, sentida e transformada, Personagens ganharam ida, personalidade, nome, histérias ~ e fugiram mais uma vez. da sala le aula, invadindo a lanchonete, pendurando-se nos encanamentos. “O ue é isso? Malhagdo de Judas?!” Chamavam a atengo, Faziam pensar. nstigavamn o olhar. Convidavam 20 didlogo ~ esse era 0 propésito; essa ‘itera eformapsode professors 15 fangto precipua da arte, Os 30 alunos, agora autores, jé achavam a fem chegar aos encontros contando da reagto que tinham ouvido pelos corredores. O dial we a arte e a tecnologia também se fazia necessério oferecida, mais uma vez, foi impeditiva, pois se dispunha de recursos especificos. Ui a-oficina® foi realizada e a turma pode descobrir as possi ngelamento de imagens ¢ vivenciar experiéncias fotogrificas com Polaroid. A realidade parecia, agora, aprisionada momentaneamente no papel fotogréfico ~ mas Jevou.os a buscar o registro do movimento: brincar flips, animagdo com massinha e deseno... sempre novas buscas, novas experiéncias estéticas e sensoriais. Paralelamente as oficinas, a turma dividira-se em grupos temiticos: teatro, arte ¢ tecnologia, musica, literatura, danga, artes fotografia, Uma mala, agora com livros, chegava na sala: era a joteca ambulante” chegando ao vivo. Textos eram lidos, visitas eram as e partilhadas no grupao. A primeira avaliago escrita exigida pelo to universitério, com data e hora marcadas, saiu do relatério de temitica confrontado com a bibliografia. Esses pequenos grupos ganhavam forga ¢ o desejo de partilhar ‘05 outros ctescia também. Na universidade, havia a programagiio de um semindrio surgi a ideia de abrir oficinas teméticas para seus participantes, oferecidas por esses alunos. Assim, aqueles alunos que no inicio nd se viam nem sequer como autores, depois de debrugarem-se por ‘um semestre sobre textos ¢ experimentarem diferentes linguagens, foram ccapazes de planejar ¢ partilbar of ccolegas, fechando um ‘outro, algando sua esfera de significagao. 2. Agradecemos & professora Angelice Marins Faria n presenga ness 16 Papwusectora Encontros com a obra: Ensaios de othares lade publica em lina “fundamentos ¢ metodologia de ensino de ida depois da reformul ar de 1995, ‘da base comum do curso de pedagogia, Sem is consequencias histéricas daquela denominacéo, atualmente ainda mais questionada, o simples fato da incluso de uma disciplina que trazia a arte para conversar com a educago carre; em si, um ar de mudanga e seus objetives apontavam para 0 “no ampliago dos fundamentos essenciais para a formago do professor. Entre seus objetivos destacamn-se: “reftetirsobre os significados da arte; possibilitar vivencias com diferentes materiais e téonicas de criagio, promovendo o resgate ¢ a reflexdo sobre tantas formas de expresso ossiveis (¢ tantas vezes esquecidas no adulto!); ampliara sensibilidade © a percepeio para as diferentes linguagens do mundo: a educagao do educador”. A chave para o movimento, traduzida nos objetivos, estava na educagao do educador, compreendida como um processo de provocagio € construgo do “sensivel olhar-pensante”, no dizer de Miriam Celeste Martins (1996). arte-educago” foi passando a ser uma disci esquecer as marcas Em oficinas de vivéncias com diferentes materiais e técnicas de criago e expresso, os alunos entraram em contato com a danga, com intura corporal e com uma diversidade de géneros musi ‘les uma dpera, Cantar ¢ cantar e cantar... Soltar a vor i materiais até entio desconhecidos para eles ¢ ousar eriar composigdes riscando, rabiscando, colorindo, pesquisando formas etc E importante assinalar que nessa proposta: propésito de provocar a cada um ¢ ao mesmo tempo reprimida, sempre identificada na queixa- revelagio “eu nfo sei faze ‘Arte inna elomagiode protessores 17, Mas nflo bastava apenas fazer, experimentar, conhecer materia: plar, estar diante da obra fruir! Assim, entre as atividades da disei ssa museuse galerias de arte, saidas para espetdculos de danga e teatro. Encontros com 2 obra, construgéo iagio de repertérios: nada pode ser comparado, por era essencial ver, co exemplo, @ s que, entre out ker. Inesquect vendo e contemplando os movimentos, as harmonias de gestos e musica, deixando-se envolver € contagiat pela totalidade paico-plateia? Da mesma forma, a provocagaio de visitas a muscus e galerias de programa desenvolvido, Em geral, os alunos néo conheciam ‘0s museus da cidade, nao tinham o habito de visitar galerias e exposigées de arte. Com uma das turmas foram programadas visitas mensais & galeria de arte da universidade, na qual acontecia, a cada més, a nova exposicéo com obras de diferentes artistas. Dessa forma, construia-se um campo ‘comum para discuss e ampliagdo de repertérios, além do convite a0 ‘o.com aarte.Ao final de um semestre, 0 grupo elaborow um ensaio até mesmo como iniciacdo a dizerem que “nfo entendiam de arte”, por ins, A seguir, alguns trechos reflexes das aluunas sobre 0 processo de olhar, de estar diante da obra, que apontam para essa perspectiva de superagao e ensaio de novos olhares. Uma aluna diz: as visitas tentava apenas entender o que o artista queria nio conseguia entender. Muitas vezes, me se ilo estava conseguindo me soltar da forma do ol conelusio de que sentia medo de ndo conseguir fazer uma leitura conreta, Agora, depois da experiéneia das visitas, sei que realmente 18 PapiusE tore no existe um ca forma de interpretar uma obra e que ver & um proceso de formulagdo, onde o olhar & uma construgto que s6 eu ‘mesma posso fazer, Outra aluna afirma; ‘Ainda tenho muitas dificuldades de olhar como qu fixa e escava, Mas tenho procurado no meu olhar & ingui esiranhamento até para as coisas mais Gbvias, além das aparéncias, (A contribuigdo das visitas & galeria amo edueadora ficou no exercicio da © semestre, quando a professora props nossas idas & gtleria, achamos que nio ‘aprendemos também a admirar e a nos questionar, tar, nos espantar sobre as manifestagbes de cada artiste, Foi um convite para chegar mais perto! Ao refletirmos sobre a contribuigo da arte na formagao de professores, estamos, de alguma forma, dialogando com concepsdes € riticas. Nessa diregao, a experiéncia de incorporar saidas da sala de aula pera ver de perto, contemplar, apreciar obras de arte em galerias, muscus, teatros, palcos de dangas toma-se uma diregdo importante. E preciso destacar: trabathamos com adultos e, portant idades e vivéncias para adultos. Buscamos superar uma proposta, comum desenvolvida, de fazer com adultos para que fagam com as criangas ou fazer com adultos mostr: ‘como fazer com as criangas”. E fundamental tocar no repertério do grupo, mexer com outras dimensoes ‘que no apenas a cognitiva, racional, cientifica, Ate nlinsiaefornagdodoprofessores 19 Assim como essas estratégias de formaglo iniial se preocuparam ‘essa construgio de cor ento diferencinda, experiéncias de com é formagdo permanente em servigo também passa a ter esse enfoque. Buscar o préprio brilho: Reinventar 0 prazer e a beleza de saber e fazer vemos nm gar ond bia estes, ue ess sels no Ech se brio. ls bscam oi fos de, lp serttando {queso capazas Porisso, sentem-semenoces,Ainds precisa de wna fade macdinha que as encorje a simplesmenteserem o que io! Sere bvihay,comoasriangs, sem medo, sem vergonha nem preconeeito Sorrir um sotiso aberto Franco, verdadero, Sent ocheto, gosto mas que continua ali. E preciso ir ats dee. -Essas palavras foram escritas por duas professoras que participaram lagens na educago infantil: Saberes ¢ fazeres de 2 experiéncia de formagiio contimuada, desenvolvida 20 ‘com um grupo de 30 profissionais da educagio infantil — projeto educadores! tora de uma creche pi sugerido na fala das professoras, a proposta vei ; eal profissionais que “buscavam seu brilho” e queriam brithar no dia a dia ‘com as criangas, reinventando o cotidiano, ampliando repertorios de seu proprio fazer educativo. ‘a dos profissionais, comegou-se um trabalho que teve um espago de formago continuada, em no objetivo central constr fa"*Creche do Pantanal”, em especial 3, Beessencial agradecer 2 acolhida dos edvcadores da “Cre r PepirasEtors tinham em média de trés a cinco minutos para desenhar. 1am cadeiras e os papéis eram previamente arr de modo a aproveitar dos ‘em potes no centro das mesas, ‘Talvez.as condigées anteriores jé expliquem o porqué de, mesmo nfo tendo si fadas, 21% das criangas colocarem seus dados escolares: es: outros. A data foi inserida em 10% deles. No caso desses desenhos, 0 2 marca de trabalho dirigido, dir limitado, tema preconcebido, intengio encomendada pelo educador ete. c que 0 desenho solicitado pelo servigo educativo do armente entendido como tatefa escolar ou trabalho pedagdgico e isso traz reflexos ao produto ‘Além dessa caracterizago, provoca-me a grande quanti ‘outros registros escritos feitos nas folhas desses desenhos. Tomando por base a perspectiva de Panofsky (1991) anteriormente explicads, a fim de fazer uma anilise pré-iconografica dos 63 desenhos, diante de cada papel observava suas formas ¢ procurava separé-lasdotodo, encontrando, assim, 69 motivos artisticos (forma pura) com 37 mensagens escritas. Apenas uma delas ndo era transcrigao do desenho para a linguagem escrita, mas um bilhete para o pintor: “nat Dali voce pinta bem em. Pi ouve uma tentativa de traducdo em 53% das imagens da amostra. Sem ignorar que algumas dessas mensagens poderiam ser uma espécie de titulo para o desenho (assim considerei aqueles que ofizeram de forma destacada), 0 que faz com que o desenhista use a linguagem imagstica para expressar-se, produzindo ume narrativa visual para ser vista ea complemente com uma tradugao feita em linguagem escrita, com um texto para ser lido? Al ar-se, também, de setas indicativas ou mesmo do ball sado em hist6rias em quadrinhos ‘como recursos explicativos: “Eu sow Dalt lindo e maravithoso! Gostou? ‘ra, tance tormagsodepicfessores 71 Busco em Almeida (1999), em seus estudos sobre imagens, elementos para essa reflextio. Para 0 autor, os esc nio sao como legendas de filme, tradugio da “fala” para outras Diferentemente, “fazem parte das imagens, como imagens de alavras e compoem os recursos figurativos eretéricos do conjunto representative, (-) Uma gramética de imagens e palavras, para tornar estas imagens cna iteis” (B. 51), Desse prisma, podertamos entender que a crianga, da mesma forma que fala enquanto desenha, poderie querer SicfeVer em seus desenhos ~ sua palavra ocuparia os intervalos entre case sci Parte integrante de sua composigf, Partculamente, no aso dessa amostra, fica a minha desconfianga sobre essa gram de {fagens e palavras,sabendo-se das condigées de produgio dos desenhos, destacando a condigdo de alunos a que esti submetida a mares dessas satéas-desenhistas ~ situago que me impulsiona a pensar outres So para a questo aqui proposta:estariam essas 0? O que vocé fez aqui? s descri¢des sejam fruto de uma trajetéria marcada pela cobranga da devolugdo, pela valorizagéo do modelo, pelo julgamento. Tenho para mim que, como as criangas dessa amostra so alfabetizadas, atenuam o trabalho do mo1 for/professor, evitando que ele precise eserever de préprio punho sobre suas imagens, © hos encaminhamos por ai, algumas questBes emergem necessidade de controle? Ou, ainda, sob a roupagem de dar satisfagiio veces ssitn como eles, sto adultos que nao suportam a idéia de “dessaber” diante daqucla imagem ali posta? Verdade ¢ que relaci Se com desenhos de criangas, nos quais, muitas vezes, nao conseguimos distinguir os significadas primeirios, pode ser ansiogénico, especialmente 72 Papinusktora 1c, a0 longo da historia da humanidade, foram Perceber esses significados para pais e educadores ria total © absi revestidos da sabedoria total ; rige um movimento dialticamente objetivo e subjetivo, de associagdoe Sse, proximasio istancanent, Nose trad respots cenes ou erradas, mas de impregaar-se de ideia de que exercitar © = h decifré-lo nao apenas hho nga sem itraponto de olhar um de = sonfeed eran um conbec wento proprio e distinto daquele dosadatos some ainda ressignifica as relagdes hierdrquicas de poder entre adulto cor ecrianga. ‘or outra via, poderia x: ser que essas escritas em seus Por outra via, poderia perguntar: soré que essas escritas em. é inseparivel deserthos estio associadas & ideia de quea fala é companheira inseps da imagem? . quase ume abstrago Seeger ja fala (...). Acrescente sonora, que a confi representéveis em imagens (..). (Almeida 1999, p. 46) Gobbi (1996) nto entende 0 desenho separate da ‘ale de sus autores. Na mesma linha, Ferreira (1998), ancorada em sa sass que a fala faz emengir 0 trago; ¢ este dé sport fal, am fo aoe se insepardveis. Observar criangas desenhando, especial 7 pouca idade, faz-nos deparar com meninos ¢ meninas que se mexem, idade, faz- -parar com m ct wvein-se, col a ificados primarios, enham, Tudo posigdo dos signil 7 peanut ¢ nos contetidos de seus desenhos. Em bore eu me desprezo a importincia da palavra como mediadora ¢ es ae processo criativo; questiono, sim, a necessidade que tem rnos desenhos. im dominio do eédigo escrito, tuigdes de educagio falam, gesticu iano de sabido que, no c entretanto, ee infantil, onde criangas de zero a seis anos passam grande pat ‘Arte, infncia eexmagao de potessores 73, dias, comumente educadores escrevem em seus desenhos na de traduzir imagens para eles Aa, mas friso que devemos manté-la, inseri-la, em seus Tivos ¢ existentes, como jomais, livros, revistas, Onde tituigBes escolares, encontramos paredes com placas 28 “parede”, cadeiras identiicadas como “cadeira”etc.? Sao, 2 ‘meu ver, priticas de utilizapdo artificial e descontext ‘mesma forma que a eser terferissem Parece-me que seria étimo espantoso egbes de caneta mas que hidrogrificas e lapis de todas as cores continuem ‘adindo os desenhos das criangas, Benjamin (1993a, p. 223) diz que “quanto mais o ouvinte se Aitece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que éouvido” Assim, também as imagens ~ deveriamos, entio, deinarinoy noe os desenhos das criangas. Procurar deslocé-los da condigto de objetos sscolates eotidianos ¢ encaré-los como objetos que se mostram ¢ que nos aererenra um metgutho em suas ondas, que reverberam e se configuram histéria, um processo expressivo Braficos no convencionais ou Tepresentado por simboll pré-codificados, 74 Paprustettora ‘A oralidade e 0 movimento corpéreo que rel ioe acompanham so linguagens cues a eet al into cata mais apart, ura vee qo rsd cones, lo nas separadamente, 00 as misias 08 gests ou as plavras ch cant, Qn det, pron ‘se no momento narrativo oes imagens ¢ ee — ‘emogo” (Almeida 1999, p. don penta no deer 0 qu et soos, na i 9 movimento imagem/texto, mediar a atribuigao de Signicaos, indo de uma coisa & outra de forma que possa a ambas incorporar uma interpretagio ao mesmo tempo visual ¢ verbal. As palavras, resco ome da cols ue ren : i Robert Irwin Bibliografia ALBANO, Ana Ang orrugal, Gverno Civil de COQUET, Fiduarda (1998), Anne Prank: Une histria ce hoje. Portugal Braga ‘nteinfncae formagio do professores 75 ts Li 0 7) Dion de Andee pag (crf i ope se Nd Paulo (93s. ‘onto Sis ae FOU TERANIA Si(099)Inegog esa mdse decronga Campin: Papas, CALARD, Sem (1997) Abele do get, So Paul: Edu, Meio infant. Porto Alege: Anted CORRE Miri (1890) Lis vemelho & de mulhecnt: Desenho infantil relapses de [RENEI0 © educapio infant "age de mestrado. Campinas: FE/t GOBBI, Mivcia e LEITE, Ma abordagens da produ a Isabel org) Ata desata: Pa de Jiro: Ravi GUSMAO, Newza MM. (1993) Socitzago g gy slate: A cringe negra no rural” Cadernoy Codes 032. Campioas:Papcas, pp 40a oe yp ab, cla e sleridade: Imagens do OutH0". Cadernas de "Passa 2107 See Pane Fundaedo Carles Chagas, MERDERHOLZ, Barbara (1878), Barty chido Towa: WMC Brown Company Publishers, ‘Texto apresentade na reuno “in Pomatene de Edocero Infantil do Ride hee (Mineo) “Pesquisa com criangas Clinica Pés-sraduagao » Clon args, chron’ mind Nova York Avon KOSSOVITCH, Leon (1993), “Ate eaconzibuigdo da pesquisa hist inet FERRARA, Lucreciae VERNASCR ineridades. Sio Bevo: EauspICNPa, pp 5G LETTE, Maria sabe, re tlt: Quests eta polémeas KRAMER, bel (OnE). Itc e product extra Campinas: Pepiras, BARBOSA, ite (0ts,).O ensine das artes nas 2001). "0 que ecomo desenham sean? Retetindo sobre a condigtes de pred, Ye infncin”. Yes de doutorade, Carpi FEVUnicamp. (2002). New fase de grafstno, em exerci Psicomotor: © desento como 76 Paoiusttora "In MACHADO, Maria Lia (org). Encontos Paulo: Comer, pp. 268-274 1969). O desenho Infanal. Port: Civilizagso Signifado nas artes vsuais. Sao Paulo: Perspective. ste na. edveago infant” ining: © pap ate Porto Alege tendo do lar no emi da ate Post Al STERN, Amo (1962). Compreensién del arte infil. Buenos Aires: Kapelaz a {Ama (I what sores 77 ‘ts, inférciaormapaode pre ‘Versio ampliada de trabalho apresentado no 14°C 5 DO CINZENTO AO MULTICOLORIDO: LINGUAGEM ORAL, LINGUAGEM ESCRITA E PRATICA PEDAGOGICA NA EDUCAGAO INFANTIL* Luciana Esmeralda Ostetto Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza A palavra no muro Ficou coberta de tnta Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza 8 ficou no muro Tristeza e tna fresea és que pessamas apreseados elas ruas da cidade Merecemos ler as letras E as palavras de Gentleze lizado em Campinas (SP), em juho de 2003. 1. ifanciae tormagboce protessores 78 A voces mo mundo Se mais inteligen O livre ow a sabedoria Ao compor e cantar + homergeiso poet ous ge inscrevendo seus ve Marisa Monte amp beleza, bondade e gent Compost de Marsa Monte do (2000). Agradego, com erin oun pean cE*esl(agosto2000), eta Centileza (1917-1996) - S na cidade, 2 Marisa Monte fata da misica ‘0 significado de auas palavran e 80 Papiustultora Quando escolhi essa musica para abrir o debate, construi alguns sentidos que nio sero os tinico: poesia forte, os temas dos, a sen: Nesses sentidos, vislumbrei boas razdes para um ens, imaginagao e pritica pedagégica na educagéo infa tocada pelas vozes do poeta, da cantora e de tantos pois “o enunciador nio é a voz. que clama sozinho voz hi vozes”, ¢ ento constituo meu discurso. deserto: na sua Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza ‘Onde foi isso? Minha imaginagao leva-me a escola, a creche, as instituigdes de educago infantil, que apagam tudo ¢ deixam tudo sem cor, cinzento, quando irnpdem as criangas uma tnica forma de vere dizer ‘mundo. Quando propdemo ensino em modelos rigidos, transmitidos pela tudo de cinza, quando desenho mimeografado, os exercicios de prontidio. Ail Que imaginago! Ha tantas cores por ai, na natureza, tantas brincadeiras e folguedos pelas ruas, variedades imensas de movimentos, sons, formas ¢ desenhos no mundo, como nao os vejo? Ah! Por onde eu passei, pintaram tudo de cinza. 'S6 ficow no muro tristeza e tinta fresca Lé onde no esta a cor, a profustio de movimentos e tons, trazidos por cada crianga e todos, a tristeza chega ¢ se instala, configurando lum cotidiano que se atrasta, tedioso, porque uniforme, rigido, sem movimento, Nao ¢ novidade que um grande nimero de meninos € meninas softe, no inicio da escolaridade, com o aprendizado da leitura eda escrita ‘ite ifnciaotermapiodeprofescores St Nunea & demais perguntarmos: por que, para tantas eriangas, é dificil e penoso esse aprendizado? O que acontece? Por que a tristeza que fica? Ser porque a tinta pedagégica, cinzenta, encobriu a palavra vida da etianga e do profess: ¢ encantamentos ¢ tho facilmente turvada e apagada pela sisudez do pedagégico, que ensina a letra e nfo a linguagem, que ensina o nffo a criagao. _No espaco da educagao infantil, cinda sio muito comuns os exercicios de prontidao, a cépia do alfabeto, o treino de habilidades motoras como preparagdo para a alfabetizacfo. Uma tristeza! Cinza escuro encobrindo aquela vida que clama para deixar ser vivida c criagdo, entusiast tamento no aprendizado de ser criat envolvida nas mitiplas linguagens. ae Merecemos ler as letras ¢ as patavras de gentileza Somos educadores. Multiplicadores de cores, sons, movimentos? ‘ores do cinza, silenciadores das vozes e repressores dos t08? No dia a dia educativo, sto muitos e diversos os caminhos a seguir. Hé escolhas a fazer. E entio? Para nao cairmos na rigidez de uma ica pedagégica cinzenta, “merecemos ler as letras ¢ as bbusca de nossas préprias linguagens, de nossas proprias cores. Se linguagens, minhas formas de expressio estio reprimidas, es iadas ¢ reduzidas & eserita, como propor para as criangas que miiltiplas linguagens, dando formas c it , 3s colordas a suas difere expressdes? Impossiv aeeers Ouvir palavras de gen poderemos viver com as era a imaginagéo. 22 Papiruststora E mais inteligente o livro ou a sabedoria? mais significativo 0 contetido ou a imaginaso que envolve © proceso de conhecimento? “A imaginagao é mais importante que © ‘pois o conhecimento é limitado, enquanto a imaginago pode abranger tudo o que existe no mundo, incentiva o progresso, ¢ fonte de evolugao e, no sentido estrto, € fator real de investigagao cientitice” (Einstein apuc! Garcia 2000, p. 12). Ensinar a linguagem, permitindo o fluirde significados e sentidos no espago educativo, em situagdes sociais reais de enunciagfo,¢ ir além dos aspectos formais do con escolarizado. E seguir abrindo caminhos para a imaginaco, € possibilitar ferramentas para as criangas centrarem cada vez mais no mundo simb6lico da nossa cultura, que se expressa também, mas niio s6, pela escrita. Asabedoria esté no mundo, no encerrada nos livros. Ndo fagamos, da educagio infant lia de conhecimentos sistematizados, ‘mas um mundo de sabedoria, recheado de imaginegdo e convivéncia. conheciment Para mudar a sociedade, ecessarios homens criativos que saibem usar sua imaginagto... Desenvolvamos (..)a criatividade de todos para mudar 0 mundo!” (Rodari).. O mundo é uma escola, a vida é 0 circo Vislumbrar o espeticulo: a vida 60 circo.A escola éna vida, Poderd, ive) ser um circo? Colorido, alegre, muitos cenérios, miltiplos a escola (a educagi terioso, envolvente, ‘que aprende? O adulto que dé a dirogdo ¢ a crianga que .gas em relagdo? Homens e mulheres, ensina eo ‘ite, infinciafermagiodeprotessores 83 meninos ¢ meninas, curiosas idades? Ativos, passivos? Individualistas, cooperativos? Abertos, fechados? Mondlogos, didlogos? Do circo a festa, o camaval: camavalizar a vida, cam educaedo. Nao seria um belo espeticulo? Diferentes paps sentidos; novas cenas, encharcadas de linguagens, eriadas e recriadas, a cada ato, a cada fato, a cada personagem, no sabor dos encontros, Investira linguagem da educagio, com as linguagens no mundo. Deixar- se penetrar por essa vida que pulsa no circo, no carnaval, no mundo, para que assim o impulso criador se manifeste no cotidiano educativo, “Musicalizar a vida, poetizar a vida, sentir o cheiro da vida, saborear a vida, cantar e dangar a vida, ver a beleza da vida, tornar a vida bela” (Garcia 2000, p. 12). Quantas vezes, no dia a dia do fazer pedagégico, ‘encerramos a vida numa lista de “como fazer”. Quantas vezes, retirando o colorido camavalesco ¢ circense, controlando a ordem diditica do ensino, empobrecemos a vida e a experiéneia, nossa e das criangas? Amor, palavra que liberta, jé dizia o profeta Palavras de amor! Amor, palavra que liberta, Sim! HA. nas palavras, é verdade, pois “ sentido ideolégico ou vivencial” (Bakhtin 1992, p. 25). Que palavras temos pronunciado com/pata as criangas? Temos cultivado 0 afeto, a sensibilidade na amos preocupados somente como meétodo, com o ensino, com o contetido? m & viva, muitas ¢ muitas palavras podem ser € cantadas, criando espagos ¢ momentos de interlocuggo, partilhando afetos e conhecimento. E a linguagem escrita? Hé também Jngar para ela na educagio infantil, claro, pois vivemnos numa sociedade letrada, que faz uso da leitura e da escrita em seu cotidiano, Isso no 4 Papiucediora quer dizer que devamos ensinar “as letras” para as criangas desde a tenra dade, como tampouco, em oposigao, retirar todo material escrito das salas de educagao infantil. E preciso, antes de tudo, no esquecer que a escrita esta dentro da escola porque esté fora del ndo: a escrita nfo & um objeto escolar! E igualmente necessétio pensar na fung@o social da escrita: para que ler e escrever? Para fazer as ligdes escolares? Para repetir a palavra da professora? Para cumprir um objetivo escolar, destituido de sentido? A escrita, como tantos outros objetos culturais, também esté presente na educago infantil. Todavia, para aproximar mais as criangas desse objeto simbélico de nossa cultura, niio precisamos langar mio daquele ditado antigo “a letra com sangue entra”, passando ligdes enfadonhas de copiar as letras, decorar 0 alfabeto, seguir 0 modelo, escreverna linha esquecer, jamais, que a fungao pri no éaalfabetizago, aqui entendida como aquisiga0 temiética e continuamente desenvolvida no ensino fundamental, Antes da escrita, outras nguagens devem ser privi ago infantil. Se um programa educativo contemplar 0 ensino sistemaitico da leitura e da escrita, certamente estar deixando de lado outras linguagens mais essenciais nesse periodo de ia das criangas, E uma questo até objetiva, de tempo e organizacio: desenho, a pintura, a modelagem com argila, as experiéncias com agua e areia etc.? Onde ficam a vivencia e a experiéncia de ser crianga? Nao transformemos meninas e meninos, na educagio infantil, em alunos do ensino find: tecipacio, a.calmma: nao, nfo, Nada disso, Ha tantas formas de dizer sobre um tema, ‘no é mesmo? Talvez tenha ficado um tanto enviesada a minha forma de 2taniancine ormagso de proessores AS falar sobre linguagem, mas, como disse no incio, a misicn ea poesia de Marisa Monte ¢ Gentileza abrem o debate, a partir de sentidos por mim consttuidos,E s6 um comeso. Continuemos, pois Falar de linguagem é falar de ser humano, pois, como diz: ‘Weotsky, E pela mediagao da progressivamente 20 grupo. E pela mediagao sim ‘oma-se um “individuo social, ou se, humanizado”( 1991, p.36). de exmitttsem, linguagens. Linguegem: fala. Linguagem: formas expressio, leitura ¢ representagao do mundo, E preciso destacar que a crianga ‘mais ou menos estiveis,e sentidos mutive de expresso e comunicagso, 2) linguagem como formas Em Vygotsky, vemos a énfase na origem social d do pensamento, considerando o desenvolvimento cogni processe determinado pela culturana qual osujcitoestéinserido, Assim,» tuigao do conhecimento doplan social paroinividal:énmineraiocmccues ee linguagem, que o homem transforma-se de biolégico em Siciohistéteo, ceaacZando um processo em que os “modes culturalmente constuldos Ge ordenar o real” sustentam a base do desenvolvimento psicolégico (Ostet 1994). Como disse Angel Pino (1991, p. 34); : Sociais eculturais que constituem uma form Psicolégicas sto efeito/causa da atividade resultado de um processo Pata tornar-se um ser “hurmano”, ac iano", acrisnga teré de’ (nto simplesmente reproduzir) (20 zit) 0 que jé € aquisicao da espécic. Isto poe Drocessos de interapto e intercomunicagdo socials que 96 Sto possivis raga a sites dee as de meat amen con produzidos socialmente. : ae ae 26 Papiusdtora Nesse sentido, a linguagem, como principal sistema simbdlico de todos os grupos humanos, cumpre um papel essencial de constituidora da consciéncia ¢ organizadora do pensamento. Para Vygotsky, a linguagem cumpre duas fungSes basicas: intercémbio social ~ & para se comunicar com os outros que o homem cria e utiliza sistemas d linguagem ordena o categoria conceitual” (Oliveira 1993, p. 33). A generalizacio e a abstragio 86 se dao pela linguagem: é sua aquisi¢ao que transforma as “funges sociocultural Poderiamos indagar: entdo, a crit com aaquisigao da linguagem, quando comega falar? Nao é bem as Antes de nguagem, a crianga demonstra capacidade para desenvolver problemas praticos eatingit certos objetivos, utilizando- se de instrumentos e meios inditetos. “A crianga pré-verbal exibe essa espécie de inteligéncia pratica, que permite a aco no ambiente sem a mediagdo da linguagem” (Oliveira 1993, p, 36). Por isso, assinalar que “e crianga ja nasce ‘ida nela como objeto do discurso do outro. Desde o inicio, ela 6 0 sujeito de agdes significantes para o outro, o que a insere itremediavelmente no cireuito do si (Pino 1991, p. 36). Bo nlerago com outros membros de Inara que ja dispoem salto qualitativo no pensamento verbal da erianga. Uma questo fundamental apontada por Vygotsky deve ser ressaltada: a questo do significado das palavras. Eno significado que se encontra a unidade entre as duas fungdes de linguagem —comunicago mento conceitual. E por meio dos significados das palavras que ito pode compreender o mundo ¢ agir sobre e Ao afirmar que “uma palavra sem significado um som vazio; © significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente -Artainrcinetomagsode potessores 87 indispensdvel”, Vygotsky ainda distingue dois aspectos desse significado: o significado propriamente dito € 0 sentido, O significado propriamente jo social, de natureza ivamente estavel de compreensto das palavras, compartilhado por todos que a utilizam” iveita 1993, p. 50). Por outro lado, o sentido, estabelecido em situagdes 7 isa ads, diz respeito ao significado da palavra para cada individuo, num tempo e espago definidos por suas vivéncias, Posemes dizer que as palavras “adquirem seu sentido no contexto do iscurso. A variagiio de contexto implica, portanto, v > ae ortanto, vatiagdo de sentido’ Essa ideia de “contexto definindo o sentido” : x in ido” ndo foi desenvolvi por Vygotsky € veremos n fete ido que a palavra s6 se concretiza no contexto real de sua enunciacto, porque ndo existem palavras vazias. Segundo ele, “a palavra é 0 modo mais puro de relado social (..)é fendmeno ideol6gico por natureza” (Bakhtin 19: se como espa 60 1 qual se confrontam valores sociais contraditérios, Por isso, dir, todo discurso é ideoldgico e pol pet De outra forma, a linguagem s6 existe porque existe 0 outro, lade discursiva, onde alguém diz a alguém. Se, portanto, na abordagem s6 Considerar a construido ao longo ei 0 que veicula significados convencionais, menos estaveis, ¢ sentidos mutaveis, é admitir a polissemia das balers lade de sentidos que pode emergir de situagées ic interlocucdio entre diferentes autores-sujeitos (Ostetto 1994). Isto tem implicagdes diretas no fazer educativo, nas formas de organizé-lo qualidade das trocas entre educadores e educandos. Como? 188 Popirusstora Odiscurso que perpassa a instituigao educativa, ou que é produzido dentro dela, nfo é mera informaedo ou pretexto para ensinar contetidos, para ensinar a ler e escrever. Marcando uma posigéo, dé uma direra0, provoca tomada de consciéncia dos sujeitos que compartilham de seu cotidiano, pois, como diz Bakhtin, nfo existem palavras vazias. As palavi to podem esclarecer como omi igdes, semtidos € significados. Da mesma forma, se as condigGes objetivas em que vive a crianga determinam a dimens#o de mundo que vé ou a organizagtio do que vé, pode-se dizer da relatividade dessa organizacto, de sua provisoriedade, que, pot isso mesmo, pode se reorgenizar em virtude “das condigbes, de interagao a que vier a ser exposta”. A crianga vai sendo modificada “Pela troca constante, numa construgtio pela finguagem do “out intersubjetiva, a partir de relagdes reais entre sujeitos, as ‘leituras de mundo’ se teconstroem, fruto da apropriag#o e da transformagao de diferentes vozes que se entreeruzam” (Locatelli 1991, p. 6). Uma vez que as experiéncias individuais podem se reorganizar ¢ ampliar na interlocug2o com outros sujeitos, é justamente esse entrecruzamento de diferentes vozes que vai redimensionar tanto a experiéneia quanto a reflexiio sobre ela. nossos espagos a? Que tipo de relagao tem tomado lugar educativos? Uma relagio de fala-escuta e escuta-cala, com diregaio Uma relagto de fala-escuta-fala-negocia, com diregdo miltipla? Que jeito tem essa relagdo? Que tipo de interagao a organizagtio de nossos espagos: permite? Hé lugar para a expressto das diferentes vozes ali presentes? Como o professor pode contribuir para estabelecer esse ambiente? uo, partithando was ‘E necessério criar espagos e momentos de a palavra com as criangas, ouvindo sues histérias, deixando fui vivencias, possibilitando que cada um e todos se transformem em protagonistas de uma histéria que s6 pode ser coletiva. Sé assim 0 professor estar criando, mais que tudo, a possibilidade de “discutir ¢ ignificados”. Pois, como ressaltamos, a linguagem veiculada questionar ‘te ntanciaeformacaode professores 89 fem sala ndo serve apenas para con também e fundament inicar ideias, pontos de vista, mas rente pata orientar as ages dos sujeitos. Essa concepeao traz, necessariamente, consequéncias importantes para 0 curso da pritica pedagdgica, para seu redirecioname perou da educagao brasil professor, ora na técnica, ora no conteido, ora.no aluno. Vygotsky ¢ ‘Bekhtin permitem-nos ajustar 0 foco dos dois termos, aluuno e professor, iluminando a relagdo que constrocm nos espacos escolares. Dessa forma, © considerando que a crianga é modificada pela linguagem do “outro”, coloca-se em evidéncia a importineia da intervengao de diferentes interlocutores, dentre os quais certamente o professor esta incluido, mas, igualmente, as outras criangas, Isso aponta para 0 rompimento de uma relagao hierarquicamente estabelecida, firmando a posigdo do professor ‘como termo exclusive dos pontos de vista posstveis, Assim, mais do que dar @ voz e a vez as eriangas, dé forma que possam participar ¢ falar realmente de suas coisas, cabe 20 professor investir nesse processo, via linguagem, via didlogo, estabelecendo a polifonia, deixando emergir a polissemnia, rompencio coma interpretagio ‘inica tradicionalmente instalada nos espagos educativos Nesse sentido, ao falarmos de aprendizagem que se realiza na interaco por meio da linguagem, vai importa ~ muito! — a dimensio interativa presente em todo 0 cotidiano educativo: nas pequenas nas pequenas atitudes se diz ow se deixa de dizer, idos ou no (Ost 10 1994), Imaginemos as seguintes situagdes: 1, Um menino, morador de uma favela no Rio de Janeiro the ser pedida uma frase com a palavra boca diz ‘onti mataro quatro 14 na boca’, e € repreendido por dizer besteira (.,)” (Locatelli 1991, p. 4), ima crianga empurra a outra, que cai no. Professora: quanclo quebrar a cabeca vocé me avisa?” (Kramer 1993). {90 Pepirusttora 3, Discussdo entre eriangas na sala: ““Eu ajudo minha mie pra ‘caramba: eu cozinho, fago comida.’ /Eu ajudo minha mie, Eu lavo roupa.’/“Mentira sua. Voc nfo faz nada pra sua mee."/ “Base cara é mentiroso.” A professora manda calarem a boca (Kramer 1993), 4, Professora diz para a erianga: “TO boba com voc®, Luciano! Logo voc’, dando trela a0 Otavio, Logo voce, que aprende tudo, ficar de bobeira. Deixa o Otévio falar sozinho. Ele nfo esti a fim de aprender. A tia gosta de erianga que presta atengo ao que ela fala e acerta o que ela pergunta” (Locatelli 1991, p. 3). © que podemos ler/ver nessas passagens, relatos de pesquisa, desrespeito & crianga individualismo ea As atitudes apresentadas evidenciam posturas que, no contexto de sala de aula, como um espago em que se veiculam significados ¢ diretamente porque “o processo de constituigto da consciéneia se faz com io/transformagdo das palavras alheias em 1992), Exemplo claro disso & aquele em qi z pesquisadora, numa sala de aula com uma erianga, desenhando, pede istéria do seu desenho € a crianga responde “eu fazendo a mesma proposta, sabem qual sei” (Esteban 1992). (dos, tanto na escola como na infeio do ano a para ela escrever a ainda niio sei”. Ao fi a resposta da crianga? “Eu ni Os processos educativos in educagio infantil, acabam por emudecer 2 crianga, oer: : ide do ainda, da certeza de que pode, de que é capaz; gera Jaetormagdodeprotessores 91 arte, autoimagem negativa, internalizada com base nos “lugares ocupados” nas relagées cotidianas no interior da instituigao educative Na educagdo infantil, aprendemos, “tudo é pedagdgico” , no que se refere a linguagem, tudo passa a contar: os acontecimentos corriqueiros, 0 modo como o professor se dirige ao grupo, as agdes que so permitidas ou nfo (sentar, levantar, falar com o colega, perguntar, calar € tantas mais que podem se configurar), a organizagio do trabalho, por meio das posturas, dos atos coneretos, do disse ou nao disse, os quais vio permitir 0 fluir de significados... ou nao! me Na perspectiva aqui delineada, quando falamos de oral e escrita, o interesse ree: “ ieuagem Sobre as “condigées das interlocuges” estabclecidas, apontando para a percep do processo, de quanto ele Permitiu de troca de ideias e conhecimento, se conseguiu estabelecer # possibilidade de méltiplas formulagées e, principalmente, seu questionamento, Esse é 0 contexto maior do aprendizado. Assumir tal perspectiva pressupde repensara dinfmica ea forma de ‘organizar 0 trabalho pedagégico, onde o espaco da sala sejatransformado em “(... lugar e momento de encontro ¢ articulagao das histérias e dos sentidos de cada um e de todos” (Smolka 1988, p. 93). Objetivemente, ‘fo hd hora para ensinarlinguagem: ela esté permeando todo ovotidiang educative, Foie que quis demonstrar com areflexto proposta Se coloquei énfase sobre a linguagem oral e sobre 0s processos isto da consciéncia, foi justamente para nto cairmos naquela adilha: devemos ou néo alfabetizar na educagao infantil? & luma questo que traz para a cena a discussto sobre a aprendizagem 4a linguagem escrta como consequéncia dos padives devortentes da oralidade, Ea questio do ensino da linguagem, carregada de eid se Ge que nos falava Vygotsky, mais do que 0 ensino das letras. A esertg € 0 modo mais refinado, mais complexo da linguagem humana, Para escrever, é preciso antes dizer. E como a erianga diz? Lembram-se da vetha di oré-histéria da linguagem eseri decon: velha arma ‘40 proposta por Vygotsky sobre @ La esti: choro, balbucio, gesto, fala, 82 Paprustitora brincadeira, desenho, escrita. Entio, se colocamos a escrita na frente, certamente bloquearemos outras finguagens ou forgaremos uma antes da outra. Ah, ¢ 0 desenho? Fica espremido, amassado, entre tantas letras que queremos colocar para as criangas. Da forma como historicamente vem sendo realizado, o ensino da escrita torna-se opressivo, pois, sendo mposto, deixa de ser descoberta, conquista da sua palavra, para se tomar instrumento de dominaggo: a crianga abandona a sua prépria palavra para adotar a palavra do educador (Albano Moreira 1993). Acentuo 0 que disse antes: mais que ensinar a crianga areproduzir as letras, ¢ preciso garantir que ela compreenda o que é¢ para que serve for e escrever, que confie na sua possibilidade de aprender. Enfim, que cla construa ¢ fortalega sua autoconfianga, Como? Desenvolvendo, proporcionando, propondo, no cotidiano, as formas de representagdo, expressio ¢ leitura do mundo: oral, plastica, corporal, musical e... escrita, por que ndio? Ela s6 nao pode ser reduzida & tinica, a0 alvo de todo 0 proceso de aprendizagem ¢ desenvolvimento na educagio infantil (e também no ensino fundamental). f importante que a crianga presencie atos, situagdes concretas ¢ reais tura e escrita de Se a linguagem é viva, como esti dito lé no infcio, muitas & ‘muitas historias precisam ser contadas e ouvides! O educador pode ser esse contador que segue espalhando 2o vento, nos campos, nas cidades, histérias construfdas no cotidiano de ensinar e aprender com as criangas. Além de contador, gosto da imagem do educador como compositor e cantor de diferentes cangées, pois uma cango carrega em si, seja na melodia, seja na poesia, certa dose de utopia, de deniincia, de aniincio, de desejos revelados, de sonhos projetados, Na cango, passamos a ser, construimos mundos, assumimos papéis, personagens: “Agora eu era 0 herdi e.0 meu cavalo s6 falav jangas, o educador precisa, musicalidade, sua 1 (e urgente) fazer compondo com as , Feconhecer-se © descobrir ‘te nfanciaeformagsode profesores 63 educagao com alegria jento, Que & preciso articular razo ¢ emopio para podermos acompanhar as tantas criangas que estardo {junto conosco nessa aventura que é ensinar aprender. E essenci recuperar nossa dimensto a, brinealhona, “cantante”, ‘ousada, aventureira, corajosa. $6 assim poderemos provocar e abrit ‘espacos para 2 cor, a musicalidade e a alegria de dizer a palavra nossa ¢ das criangas! © cotidiano educativo é um reino de possibilidades. A vida é tum reino de poss ades. Nao fagamos dele e dela uma dura cangao, mecniea, Transformemos essa possibilidade nu hhino & invengfo, lembrando sempre que a todo momento precisamos somhar para criar, ALBANO MOREIRA, Ana Angéica(1993).0 espace do detente; A educapto do ecadon ‘So Paulo: Loyo BAKHTIN, Mikhail (1992). Marcie filosofia da lingnagem. Sto Paulo: Hucitec EDWARDS, C. etal. (1999). As com linguagens da crlanga. Porto Alegre: Arted. ESTEBAN, Maria Terese (1992), “Repensande @ facasso escola”, Cadernos Cees, 28. ‘Campinss:Papius, pp. 75-86 FREITAS, Maris Terese de AssungBo (1994).O pensamento de Yygotsky ¢ Bahin no Brasil. OLIVEIRA, Marta Kobl de (1993), Fygotsy, Sto Paulo: Seipione. OSTETTO, Luciana doave ‘Com e para.o outo”.Floianépolis: UPSC. (Mimeo.) 94 Papiustore (200! PINO, Angel (1991 “Misia, poesia, cor © movimento: C podagigico”, Tabatho apresentado no 14® Cole. Campinas, de mong semitics em Vygeshy © Seu papel at ‘ede, 24, Cempines: Papas, pp 3243. ‘aoc otermacto de professores 95 6 EDUCACAO E CINEMA: UM RECORTE, SOBRE O PAPEL CULTURAL DOS FESTIVAIS' Maria Isabel Leite Pesquisar a relagao entre a educacdo e as diferentes linguagens artistico-culturais, em especial a do cinema, pode levar a diversas opebes teérico-metodolégicas como, ainda, a miltiplas categorias de ai Neste momento, opto por refletir criticamente sobre as poss de apropriat e produgao de 2003 no Programa de atarinense (Unese), de pesquisedores catarinenses, um brago em Cany 4 Unicamp, Parte do texto, com o tule “Educapioe sinema: Reflxdes sobre as possibilidades de apropriago cultural oferecdas& sluneseprofessore no Festival de ‘Cinema de Gramado”, fo apresentada no 17*Semingro Nach ‘em Montenegro (RS), em outubro de 2003, e encontr-se publicads nos Anais (124- 128), Agradego a Renata Duminelli Destro pela transcrigao das entrevista, ‘Atte, ifanciaeormagiodeprotessores 97 de aproptiaggo © produgio cultural que os festivais de cinema ~ nando como base o de Gramado,’ no Rio Grande do Sul- oferecem lades locais. 1eretamente aos professores ¢ alunos das c Cereado de glamour, com a pre: constelagdes e de todas as grandezas, 0 Festival de Cinema de Gramado traz imefutaveis beneficios & rede hoteleira, a restaurantes, bares ¢ a0 comércio em geral. Eas discussdes sobre os cinemas bras ampliago d das pessoas da comunidade, existem? Passa a sera questiio central deste texto: que papel o festival assume diante da possibilidade de apropriagao © producdo cultural do cidadao gramadense, em especial alunos e professores? O recorte em torno de alunos e professores é conduzido por meu foco de interesse na interface entre educagao e arte e, mais ainda, pela crenga irrevogavel de que aed descolada da cultura e de que as escolas deveriam « cespacos privilegiados de produgao e apropriagaio culturais. Ci essa ideia o fato de considerar a formagao cultural como direito de todo cidadio, interessando-me pensar criticamente sobre as condigdes a ele oferecidas para a apropriago e a produgo de cultura O cinema como linguagem visual Enquanto para o literato as coisas esto destinadas to é simboles, na expresso nna sua materialidade e na sua realidade Pier Paolo Pasolini 20 31* Festival de Cinema de Gramado ocorteu de 18 2 23 de agosto de 2003, em Gramado, Rio Grande do Sul, 96 Papruseestora Por sua verossimillianga com o real, a imagem ganha contomnos contundentes, ganha poder de verdade e, nd raro, & entendida como tal Sua (con)fusto com 0 objeto concreto é de tal ordem que, em toma o lugar da realidade. Em outras palavras, pode-se dizer mobiliza a racionalidade dos vivendo na tenséo, por correntes contraditérias, so capazes de distoreer sua peteepeaio e seu cntendimento da realidade, Assim, como a imagem passa necessariamente fase em um dos muitos olbares da realidade, guardando, entéo, um forte carter de singul pluralidade que se desdobram em ondas e se expandem, como o som. ‘Quando assistimos a um filme, primeiramente vemos imagens ~0 significado vem depois. A apropriacdo dos simbolos culturais s6 ocorre quando 0 contemplador se coloca como pessoa dialogal diante deles e, assim, hd ressonancia. A significagio & uma agtio transformadore © que aciona nao apenas a cognigto, mas também a afetividade, O sentido ¢ 0 que nos faz sentir e nos afeta, Se no tocar, nio afeta, nfo reverbera. A esse processo dialogel com a imagem, chamamos contemplagao ativa: (Rodari 1982, p. 1 Mais do que simples contemplacdo, sua adjetivagao ativa explicita a incessante busca de acionamentos imagéticos e experiéncias anteriores, com o intuito de estabelecer um espaco de significagao para a obra vista. A atividade abarca, nesse caso, a memeéria, a afetividade e todos os sentidos que, juntos, engendram a dindmica das produgdes linguageiras, como denominam Jobim e Souzae Castro (1997-1998, p. 91), assumindo esse espaco de interlocugdo como um espago de criagdo e produgd Arta, infnciaetormagao deprotessares 88 A inteligibilidade do cinema — isto é, sua significagao ima; — é singular ¢ acontece baseada no reconhecimento de padres e em conhecimentos prévios, ou seja, d4-se na medida em que reconhecemos alguma coisa naquele filme, Nao se trata de comunhao de cédigos chave de interpretagéo de signos convenci dade, de bagagem comum. E um processo din&mico e continuo de aproximagaoe afastamento do real. Mesmo o que no conhecemos, tentamos aproximar de algo conhecido. Interpretamos as imagens, procuramos adequat as lentes, fiexibilizar parametros, ampli Assim, so nossos acer jue viabilizam a decodificagdo de novas imagens que nos chegam. Segundo Almeida (1999), sto figuras que fazem parte do que ja foi memorizado ¢ que sero vistas e rememoradas em outros locais, outros ter representadas, pata a recordagdo visual, em imagens identificadores”, algo como indicios ou pistas. E um processo constante de fabricaco de imagens, de soterramento no esquecimento, para que sejam lembradas, recordadas pos. Serdo Outrossim, estar diante de um filme pode causar impacto e deflagrar uma série de questdes © agdes. Se houver disponibilidade, a obra, em sua forma direta, entra em contato com o contemplador lhe fala coisas sobre ela, sobre o mundo, sobre o proprio espectador. Na arte, vemos nfo apenas as obras, mas a nés mesmos e & sociedade em que vivemos. Ela desacomoda as percepeées, in: jubila, Bla aci toda sorte de sensagdes positivas e/ou negativas, mas, sobretudo, f4z-nos estranhar 0 familiar e pereeber coisas de outros angulos, de outras formas. © realizador de cinema é, na verdade, navegador. Acho uma perfeita. A gente esté navegendo e, justamente. possiblidade faz com que o piiblico experimente isso mestno, Na verdade, é uma mudanga de postura total. O cinema pode ser uma feeramenta; nfo vai sera safda; nfo éa salvago. Ocinema sensibiliza, cinema ¢ arte. Ha uma coisa que eu acho mais bacana na art, seja no ‘cinema, ou em qualquer outralinguagem: é que a arte néo responde; sempre vai questionar: A arte te questiona a pensar, quest 100 Papiuecidtors ccondigo humana; ela é absolutamente interrogativa,(..) O cinema também é esse processo dialético de te questionay, de te xingar, de Drinear contigo de sombra e de te emocionar. (D8) Festival de Cinema de Gramado: Contextualizando a pesquisa [No escurinko do cinema [OInpando drops de anis Longe de qualquer problema Perto de um final felis () Observando o movimento, vi vendo intensamente a cidade naqueles dias e entrevistando 15 pessoas ligadas direta ou indiretamente & educagao ao festival, pareceu undnime a ideia de que este, concretamente, é hoje se educagto do municipio; uma professora de 1! # série do ensino fundamental, vas cootdenadoras e uma dicetora de escola da rede estadual localizada na cidade; a seotetria municipal de educagto de Gramado; coordenadora dos projetessociais da Secretaria de Habitagio e Assisténcia Social; um jomal historidora; um designer com formagao em cinema; um fot6grafe/montador curemetragista captarar falas to dx atores, Por questoes éticas, seus nomes serdo preservados © aqui, se |, D2 ete, Assum intetpretagso, pelo recortee pela organizagao dos dados recothidos © agradego a .dee pola pant de idelas i “Ospaabrin festival 4. Palavras atribuldas 20 prefeito Pedro Bertolucci na reportagems “Ospa ab de cinema na rua Coberta”, do Jornal de Gramado, n0 931, ano 20, p. 14, de 22 de agosto de 2003 Ate infanelalormagio deprotessor0s 101 festival est voltado parao turismo, ‘A imagem de Gramado também é vendida, de uma é bem divalgada. (D3) lade. A comunidad quer conhecer; agurizada quer conhecer ists, entdo, isso é importante, (..) eles mistério da vida do ator, no cinema, na 10, acho que ‘0 € importante para a criana, até para motivé-l para o futuro. (D6) Favorecer 0 acesso do ptiblico tem-se traduzido em favorecer co com os artistas. Tomar 0 evento “mais po over a solenidade de abertura na rua Coberta, bus is20 maior com os visitantes e a comunidade’ Entretanto, cabe contextualizar que este festival nasceu em 1973, precedido por duas bem-suced tras de cinema na cidade. “O festival, cle préprio, uma ousadia. Naquele ano, o cinema no era atividade vista com simpatia pelo sistema” (Nascimento apud 2002, p. 11). A década de 1970, no Brasil, foi m censura € sonegagao de informagdes. A TV vi , 18 em cores, inradiava para a esmagadora maioria da populagao uma imagem de Brasil promissor ¢ equilibrado, Ti uldas a presidente do ev abriu festival de cinema na rua Cober P. 14, de 22 de agosto de 2008, eazelo, na reportagemn “Ospt tal de Gramado, n0%1, ano 20, 102 Papituststora com grande rede de televisio, programas americanos, filmagens a0 iprensa, muito censurada, buscava a hegemonia da opinitio popular. Naquela década, assistiamos a um quadto paradoxal: 7.0, pela primeira vez, a marca de um livro anual p ante; 1 pais se transformara no sexto mercado fonogréfico e no segundo em ro de emissoras de radio; produziram-se indmeros filmes, diversas publicagdes, venderam-se muitas televisdes ~ nunca se produziu e se consumiu tanta cultura e, em contrapos 0 censurado, vivo da guetta nda ¢ interessante, pontos altos, mais até do que as salas de projegio. {Havia}, ent@o, muita troca, muita troca de ideias. (D3) una de expressto da jos, cada pessoa suatda uma embrenga. (Lunardelli apud Quintans 2002, p. 59) De inicio, exclusivamente dedicado ao cinema nacional, abre suas portas para a produgao ibero-americana em 1992, Apenas nos reanizagio do festival acendeu luz verde para o acesso direto a0 cinema em mostras paralelas diversas. [A participagiio da comunigade} € recente, € recente, Vou te dizer: ‘uns cinco, seis anos que esto acontecendo esses filmes nos bairros = Cinema no Bairro ~e isso ¢ importante. (D6) Cola, faz uns dez anos que comegou esse projeto com os cinemas nos bairos, ot um pouco menos... pouco menos. Depois, a Mostra ‘6. Mari Isabel Leite. “Ambiente cultural brasileiro nas déendas do 50, 60 © 7 produzidono interior da pesquisa "Cultura, modemidadee linguagem:Leiture escrita de professores em suas historias de vida eformagdo”, coordsnada pela professors dautora Sona [PUC-Rio, ne sogundo semestre de 1996. (Mirne0) cis elormacsodeprotessores 105, ie, aralela de Cinema Infanti, Entio, seo festival ten 31 anos, jé foram. vinte ¢ poucos anos de festival sem essa preacupagio, né? (D3) Relagéio com a comunidade A relagio do festival com a comunidade traduz-se em variadas ages e projetos, Ha o projeto “Cinema nos Bairros”, que objetivo a descentralizagaio do festi © contato com o cinema nacional” ‘cho que & um prazer para anossa cidade ter um festival de cinema, que es gramadenses possam cada vez mais partcipar também, Ache ‘muito bom esse objetivo que eles t&m de levaro cinema nos bairos (6): Acho isso bastante interessente,(..) Normalmente, 8 filmes aque vo para os bairros nto sto apresentados no festival do cinetna, sto filmes que j passaram ou que sto langamentos, mas que vito cconcorrem no festival, (D2) Neste ano, houve duas sessdes em Piratini ¢ Varzea Grande, uma nos bairros de Casa Grande, Carniel, Moura Floresta e Jardim. Bu participo nos baitros & noite, onde so apresentados filmes pera 5 comunidades, entio, no momento que € apresentado no Cine 7. “Cinema nos bai 931, ano 20, p de Virzea Cami” reporter do Joma de Gram, 1, de 22 de agosto de 2003. des 104 PaplusEaiora Embaixador, no Palicio dos Festivais, também na mesma hora so apresentados e projetados filmes nas comunidades, e isso me ‘emociona muito e gosto muito, porque sinto que a comunidade est integrada ao grande evento de Gramado. A comunidade dos bairros, se sente valorizada, porque a gente nio consegue colocar todos 0s ent, € uma maneira de eles Inevitavelmente, algumas questdes se fazem presentes: se 0 objetivo desse projeto é descentralizar o festival, por que os filmes so outros? Por que a comunidade no tem acesso aos filmes da mostra principal? Todo espago de cultura fica as voltas com o que ecomedevem, ou nfo, veicular. As imagens cinematogrificas congregam, de alguma sempre perpassando as express6es cinematograficas. Portanto, a escolha do filme a ser passado nos projetos nunca éneutra. Viabilizara circulaggo do conhecimento — no caso, estético e cultural ~ e ampliar e qualificar 0 repertério ~ aqui, cinematografico ~, favorecendo a formago de cidadios cos e sensiveis, é uma posture politico-ideolégiea que vai contra a manutengiio do status quo, uma vez que conhecimento confere poder, ‘Também nfio data do inicio dos festivais a Mostra Paralela de Cinema Infantil, que acontece no Centro Municipal de Cultura: ‘mandam uma relagdo dos filmes para que @ gene ten se nt encaisaralgum aque no tena a sings no ano anterior, dentro das possiblidades dn escola, que fh humm horrio em que as criangas possam depos ir embors (.) 33¢ filmes gratuits passados no Centro de Cura (22) te nfaelaetormagSodoprotestores 105, ‘A gente ficou meio decepsionado esse ano, porque as criangas nio ‘iveram acesso ainda a nenhum filme ~ os filmes deste ano para as criangas seriam os mesmos do ano passado. (D13) Assesses eram gratuitas &s 10:30, 14:30 ¢ 16:30 h. Foram feitas nove sess6es para a mostra infantil,’ oferecendo cerca de 300 lugares em cada uma. Algumas sessdes no ficavam f20 cheias ~ porque as criangas jé conheciam o filme, porque horério nao era conveniente ou ‘mesmo porque as escolas ficavam sabendo da programagdo em cima da hora, “Muitas coisas, as vezes, no sa ano de um ano, como eles pretendem, ou de dois meses, ou, sei lé de trés meses de antecedénei , muitas oportunidades aparecem e a alega a diretora do Centro M ‘Nao ha dividas de que & uma iniciativa funda criangas ao cinema, Nesse caso, algumas categorias de anitise insistem em emergir ars pesqulst: para eangas 36 devemos expo filmes da fantil” fem que apro de fies pps para elas os baie, 20 proprio Cento de Cla duran in programa especial para nossa etna, (D8) Nao tem como passar qualquer filme para uma crianga ver, tem que ser mais ou menos adequado, na linguagem que elas enter Porque, para uma crianga de 2 a 4 anos, nio tem como passar filme que uma crianga de 8 anos entenda; 0 vocat que passa no filme tem que ser simples, que fe bast cles identifiquem, (D9) ara ‘crianga, museu para crianga, A psicologia do desenvolvimento em muito contribuiu para essa estatticaro, colocando o foco nas especificidades da 8. Os filmes presentados foram: Menino maluguinko 2 Xi ndes 2; Os 108 Papinus stra criangaem relagdo aoad a leiturafiagmentada desses pressupostos acarretou o excesso de classificagdo e fases que nos soterram e aprisionam, E muito comum, também, falar com criangas no diminutivo ou selecionar ase filmes dbvios previsiveis. Que concepgto de nfincia fica, assim, ” da infincia trazaideia de que criangas reender de outra forma, Diferentemente da concepgio, imy dos filmes, que vé a crianga como ‘2 menos”, defendo que a crianga, como membro de uma coletividade, esté inserida na corrente da lingua e sua con: stijeito-da-e-na-lingua se d4 na linguagem ¢ através dela ~ € que, nesse incessant didlogo coma sociedade, ela vai se posicionando, consituindo-se na cultura e sendo constituidora de ct Tem uma coisa nd fazendo cinema: foi nunca subestimar c-espectador, sja ele crianga, seja ee idosa. E logico, evidente, que hhé uma questi de iconografia de universofiecio crianga conhece, dag as se identificam... ese € ‘0 processo, O processo ¢ indo, sabe? Ele viu um filme assim agora 6 entendido um filme mais profundo ainda, Na verdade, tu tens que jogar com a resisténcia da erianga, tens que instigar a erianga~ essa a sensiblizago total, né? (D7) Ainda cabe aqueles de maior penetragfo pela n ‘ou outros menos acessiveis? A vida contemporinea, com cada vez mais recursos tecnoldgicos, amplifica as possibilidades de retratago das imagens e, com essa reprodutibilidade, amplia-se a veiculac#o. A aceleragao da vei o, acompanhada da ascensfo da informacdo sobre anatrativa, impée tal invasio imagética, carregada de massificagao, que izagio, oferecendo uma dispersio de focos, apressando © io oolhare favorecendo a cegucira, O oar, que se toma fugidio, nao penetra e nao vé. E um olhar desviante, que empobrece & compreensaio critica. ‘asuperarum olhar ingénuo ¢ tornar- se consumidor critico da cultura monoldgica deveria ser fungao central de qualquer politica de formagao cultural, nfo apenas para criangas, mas agar: os filmes que devem ser privilegiados sto omo Xuxa e os duendes, ‘to fren formar de pretasres 107 ainda para os professores. Dessa perspectiva, repetem-se as questdes jé colocadas: por que os filmes dessa mostra nfio so os do festival? Por que se repetem de um ano para 0 outro? “Esse ano néo pude levar porque o filme jé era o que eles havi © ano passado” (D2), ‘Temos de estar atentos para a perspectiva de resto naquilo que se refere, cm especial, 20s projetos voltados as criangas efou pessoas de estrato social menos favorecido — caso contraio, estaremos nos satistazendo com o que sobra, com o pessivel, diluindo 0s esforgos empreendidos na diregao de qualificar as propostas voltadas a esses pill assist Hé, ainda, outros desdobramentos alicergados na perspectiva de expansdo da oferta de programas culturais a comunidades diversas, Segundo reportagem local,’ 0 projeto Rodacine” pretende “lever produsdes cinematogréficas a todos os municipios gatichos”, ressaltando que hoje, nos 497 ios existent quais 80% situam-se na regifio metrop ‘Sao essas ¢ tantas outras iniciativas que indicam caminhos de superaco do abismo que presenciamos hoje. Pessoas do cinema: vendem ingressos para os filmes, faxinam camisetas com o Kiki transportam artistas, re de terefa aparentemente s existitia. B is, fazem nome de filmes, » cartegam malas, Fazem tod za reportager “Ospa abi 4 Jomal de Gramado,n0 931, an0 20, p.I4, © projto promoveu cinco sessbesna praga central, ma ‘no baitro Moura eduas em Pit nema Embaixsdor (Lunardelli qpud Quintans 2002, p. 63), 108 PepicusEtora de termos comunitariamente conseguido construir o nosso cinema ¢ podermos ter um cinema a altura da nossa comunidade pela doagio de cada ser humano daqui(..) mas, na pritica, a relagdo direta com ‘cinema nlo existe, (DI a.um video é 0 Estaria o video substituindo 0 cinema? Assi mesmo que ir ao cinema? Eles [meninos ¢ mi semanalmente Ievam uma fita de video para clas assistirem como ago educativa, que seja; ou apenas como lazer mesmo. A fita de vvideo &4 salvagdo daquele que no tem poder econdmico para pagar ‘uma entrada, (DS) ‘Sem diivida, todas as experiéncias do olhar fazem parte de educago visual. Andando de carro, vemos cenas em movimento —como filme. Este nos oferece uma possibilidade de olhar diferenciado: do alto, de baixo, em sequéncia; possibilita que vejamos através de paredes, sob os mares, dentro do corpo humano ~ intimeros angulos que nfo alcangamos simplesmente com nossos olhos. Tudo isso 0 mbém Viabiliza, portanto, posso entender 0 video ou projegées em outros espagos alternatives como uma “dessacralizaedo au (Benjamin 1993) do cinema, uma possibilidade de circulagaa e divulgacdo de obras, mas a imensidio da tela, a poltrona, as pessoas, 0 volume do som, a acistica, 0 cheiro (de pipoca”) — esses, 86 no cinema, Portanto, o espaco também faz parte da experiéncia estética. 0 filme na escola é diferente do filme no cinema, porque o ant fz uma realidade, traz uma magia em tomo do filme, Ni ‘coisa assim de como tu vés na escola, porque na escola é todo mundo sentadinho, ali a TV normal, como todo mundo tem em casa. No cinema, nfo, Esté todo mundo, as cadeiras so diferentes, oambiente & diferente. Elesficam encantados, porque, em primeiro lugar, éaquela ‘enorme com que eles nfo tém convivio e ficam deslumbrados,, porque é bem diferente do que eles tém de normal. (D9) Ane infinelaeformaco doprotessores 109 Cinema e educagao Para onde a escola vai? Sem a poesia, sem a Ao investigar as possiveis aproximagoes cinema-escola, cabe questionar como os profissionais da educagfo as entendem. Normalmente, @ gente fiz antes com as cr sobre o filme, clas falam das expeciatvas que tém, do que jé viramn visto, e depois fazem 0 comentario do que achararn todas as expectativas delas, se frustrou o que iga8 um comer pensavam. (D2) Os professores especiticos da ren montam um projeto. Entéo, © i 's para compreender a arte? E necessitio igé-la? B sabido que a relado entre educagiio e arte & conflituosa, a ‘comerar pela estrutura paradigmiitica que norteia a pedagogia alicergada, ainda, na normatizago, em contraposigo ao fato de a arte pressupor transgresso ¢ devaneio. A estraté historicamente vemos na ‘ um tt po Fl oc enor erm la gnercamens decizola cota um spp de expres, acne prs de conhecimentos, humanizado € que res, sit Ea [Poo deta eta cm Os 110 Papinusaio ara fazer como temas de redacko ou ) Nés s6 usivamos 0 festival rade de muito especial em torno dele. ( sn desse festival por meio de um tabelho de aula, pastes, desenhos, poesia.) (DS) As criangas pat redagdes na sala Qual o sujeito da frase retirada da erdnica? Qual a silaba ténica da palavra destacada na poesia? Qual a caracteristica geogréifica do local onde se passa o filme? Destaque uma palavra proparoxitona nessa misica... enfim! Em todos os casos, so subtraidas as dimensdes estética e pos das produgdes artisticas. A dimensio técnica, isoladamente, nfo dé conta do que elas so — essas manifestagses de -2€ postica) que produz, que faz~ a qual esta iltima tomar-se-ia estér de uma obra, de associagto direta e sin ra devolucao do visto. Assit ficada com a realidade, mata quando entendemos o ido pedagégico, sem estabelecer uma contemplago ativa dele, replic: Perdemos a autonomia de interpretagao e a consequente coautoria, Em contraposigao, vé-lo como obra de arte é compreender justamente esta mediago entre um real © um ideal, condensacio postico caracteri coragio. De expressar experiéncias in de iraagens... (Richter 1999, p. 196) Por isso, experimentar esteticamente, ter possibi contemplar ativamente ¢ dar significado ¢ fundamental ‘Muitos professores se prendem ainda a0 conteido. Ainda se tem ‘essa visio que tem que trabalhar cont ue tem que tabalhar conteddo. Entio, para conseguir mudar esse conceito, acho que teria que ter algum tipo de relagao para poder ganhar esses professores. que ter relago com 0 conteido ~ lanciae ormagdodeprotessore acho que o cinema, todo ele, qualquer filme, é 6 uma riqueza serve para edueas...(D3) Assumir a arte como atividade da cultura — que traz conhecimentos € objetivos espectficos, diferentes daqueles tides como “eseolares”, mas to importantes quanto estes ~é, ainda, um grande desafio parao sistema educativo tual. As escolas, normalmente, tém de enquadtar a linguagem artstica em «questo —no caso, o cinema ~ no projeto, programa ou grade curricular. uma forma de mudar, mas nfo estou vendo mudanga — iio! ~estou vendo’ sero estino projet, fessor com o aluno para arua, porque “Ah! Nio ‘Se nio se encaixa na programagdo previamente estabelecida, fica sendo “perda de tempo”: [Nos elaboramas um jeto com o filme que queremos assistir; & Aarte deve “estar aserv um jeito outro de tama experiénciae que ela pode ser s ela propria é 6 esse cardter que ndo deve ser desconfigurado. escola em que trabathei ainda achava que era mater aula ime. Ainda peguei um pouco desse tempo, (..) “Ah! Mas E a gente sabe que ni ¢,(..) porém, hi ainda fessores que tém essa postura; 0 que é uma pena, né? Que ainda am cinema pars se livrar “do peso”, né? (D3) Interessante percebermos como os profissionai escola, mas ao cinema, entendem essa questo: 112 Papiustdtora Acho o cinema imprescindvel! Primero, porque, se a yente for comparar com todas as ours, & una linguagem nova ~ tem cem nos. O importante no cinema é a quetio da alfabetizgto visual, a sintxe visual. que, na verdaceo impacto visual experéncia audiovisual émaito pontual de assimilagdo muito dives Mas embor agente tena ess relagdo muito doa, dese ropa sue, dessa informagto visual, né ainda no somos afebetizados visualmente, ou seja, « gente 6 “sente” as coisas. Quando a gente 46 um flme, conte repulse, vente atragdo; mas « gente nfo sabe Outrossim, vale o argumento de um dos entrevistados, defendendo a ideia de que, se queremos que a arte entre na escola, se acreditamos uma educagio nao descolada da cultura, hé um trajeto longo e tortuoso a ser percorrido, que passa, entre outras coisas, pela formagto de plateia, Talvez ele tenha raztio em defender que a “pedagogizacao” ou “escolatizagao” da arte, neste momento, seja, ainda, um mal necessério —desde que tenhamos clareza de que a estamos adotando como meio de atingir outros fins; desde que seja entendida como estratégia proviséria de aproximagao, como etapa a ser superada, Ultrapassada a resistencia inicial da “porta de entrada”, a arte assume seu papel de nao submissa ou subordinada a educagdo e deixa de estar “a servigo de” para favorecer a ampliagio de olhares ¢ escutas de alunos ¢ professores. © cinema ser massificado dentro de uma escola & um mal que todos ‘nds corremos, mas acho que vale a pens. O cinema, dentro da escola, soffe essa massificaglo, essa objetivagdo, mas acho que mesmo assim. vale, Mesmo se perdiendlo uma estética — acho que nfo & nem perder, 60 no aprofundamento da estética, da coisa — mesmo assim, tu estés, trabalhando equela coise de composigao de um pablico.(..) Na tua inféncia, se fores ao cinema coma escola, posteriormente, t vais cresoet ‘um adulto que vai querer ir ao cinemas vai queer, dal, nesse momento, procurar um aprofundamento. (..) Aco que mesmo a gente perdendo, ‘io aprofindande o cinema na escola, gente sai ganhando! (D8) etree tarmacao deprotessores 113, HestZo por outro Angulo, eabe pensar néo apenas nz > Mas também nas ages dela decorrentes e possi is na escola Cinema ter tudo a ve cola. ( 2 com a escola, (..) acho que tithe qu pita ais record pra «ul (.)wnbuhar vase sen bathar cinema dentro vjegdo, nfo s6 com a parte deinterpretapd0 defines as n a parte de produso toda de cinema. io abrangente... acho que eleé um modelo para a vida, (D3) Hoje, na relagaio fa com a escola, parece que a i , atte tem servido mais para “suavizar” contetidos escolates, tomar “gostosi oaprendizado, mas sera esse seu papel na educagio? neve : caw de astral de laos epofsoy, endive May, nee cae arc tesem epee pra dines ee Btsoson nous hia eso : aa cone de educagiio que se tem hoje esti na price, reprodutor viente. Ennio Puccini? joga pesado: “(..) queiram ou ndo, cultura fart a diferenga, j& que a educagdo adestra & subservigneia do sistema. Daf os politicos amarem a educacto e repudiarem Povo é livre somente quando cx E de autonomia e de autoria qu essencialmente, falamos 2o falar d ] fe arte. Deveriam ser esses, ta 08 conceitos fundantes da educagdo.! Tree: 13. Not irnda do Jornal co Estado. Cutitiva, 2718/2003 ~ D3, 114 Papirus tora Educagdo estética: Experiéncia permanente na formagdo (.) 1m esforco para fugir dos modos habituais de ‘pensamento ¢ expresso (..) a dficuldade reside is nowas, mas em fgir as antiga, camificam. para os que sao criads, como a ‘meioria de nds foi, em cada canto de nossas mentes. John Maynard Keynes ‘Mesmo que conseguissemos viver intensamente a experiéncia estética do cinema durante o festival, 0 que ocorre quando este se encerra? A arte some de temos [cinema funcionando] aqui apenas sexta, sébado e domingo” (D6), Somente com projetos que visem. 1 continuamente a apropriagie c s diversas linguagens -culturais — nesse caso, do cinema ~ estaremos encarando a questio da formagéo cultural permanente dos cidadaos. “Blevar” sua cultura ea cultura de sua classe é um complement ‘amelhoria da qualidade de vida, Ter acesso & cultura das outras classes 6 um diteto e nfo & (apenas, j4 que é também) mais uma forma de aculturagdo em relagio (...) cultura dominante. (Faria 1993, p. 146) A defes cconstancia, faz com que se deseje que os “eft prosseguir ao longo de todo 0 ano. Para ‘Municipal de Cultura um proj ‘com o objetivo de trazer, mensalmente, cineastas para a ci , envolvendo 0 cestudantes durante o ano todo, (..) todo més ¢ podendo, também, evoluit emo diz a diretora do centro. Recém-iniciado, o projeto espera levar, a0 longo de tod 0 perfodo letivo, debates acerca da sétima arte para sm sabe retomando 0 “clima” dos debates de outrora; os debates iam abrindo um leque, um universo.(...) Os tempos mudaram e os debates foram se transformando, perdendo 0 significado contundente dos anos 70 e 80” (Lunardelli apud Quintans 2002, p. 60). de que a experiéneia estética e cultural exige, também, do festival possam foi criado pelo Centro cas de formagao de plateia sto fundamentais ~ mas no s6 ‘uma plateia para o filme enlatado, 6bvio, previsivel, padronizado, cheio de to infénciaetormagao de protessores 115 chavées, que subestima a capacidade de interlocugiio do espectador. Nas palayras de Francisco Weffort (apud Quintans 2002, p. 19), é importante retomar a perspectiva de “valorizar a busca de qualidade e criatividade, mediante o estimulo a experimentagio e 4 renovagdo da linguagem ¢ Irao cinema, sim, estabelecer a, que exija um movimento de entrega ¢ de distensto ~ “No cinema fa gente] se distrai, relaxa um pouquinho” (D2) ~, mas também de acionamento de imagens, relagdes, trocas, desacomodagées, inedmodo, busca. Nao se trata de um mergull “sem retorno”, apenas no nivel emocional. A experiéncia estética exige um movimento de sai de s pensar criticamente sobre o visto e sobre. vida, ampliando horizontes de ‘compreenstio, Por essa razdio, respeitar 0 gosto e a cultura de professores © criangas ndo é, de modo algum, sinénimo de n ‘em seu universo cultural eminentemente telev (Os Estados Unidos conseguem, também por canta do american way of lif...) {Cria-se] um mereade consumidor educado pata aquele tipo de estética, comprada no mundo is cinema é uma propaganda subliminar ~ as pessoas vee a coisas do cinema, aquele estilo de vida do cinema e elas tondem @ 7 @ gostar daquele estilo, achar que aquela vida é bacana, que poderia ser boa para elas tem Ampliar repertério, desacom estranhamento & papel precipuo de mas de compreender o espago educativo como espago iagto de experiéncias; de construgdo de olhares, escutas © movimentos sensiveis. “Quanto mais a gente adquire cultura, mais a gente tem o que transmitir para os alunos também. A gente s6 trans aguilo que a gente adquire” (D2). 116 Popiusttore No caso do Festival de Cinema de Gramado, o mais dificil ja foi 9, que & a conscientizagio por parte dos organizadores de que o festival tem obrigacdo de dar & cidade mais do que publicidade e retomo turist deixar de ser apenas mais um evento e favorecer a formago cultural do idadio gramadense. O caminho para isso jé esté apontado —parece-me ue falta objetivé-lo mais claramente: uma questo deformago de piblic, né? De oportunizar as pessoas assistirema produgSes,O processo dealfabstizagéo vs sedinesse em coisa que o fos grande festejo des pessoas (..). (D7) Portanto, ¢ importante que no se deixe de levar adiante projeto “Papo com Cinema” ¢ pensar em outros dessa natureza que possibilitem discutir cinema nas escolas; rever hora mostra paralela infantil com filmes renovados, de qua selecionando-os, também, entre os da mostra oficial, rompendo com a ideia de que crianga s6 pode assistir a “filme infan especialmente levando a0 povo 0s filmes da mostra oficial; cobrar que o Palécio dos Festivais abra 20 Jongo do ano, para que criangas e professores possamn assistir a sess6es, sgratuitas ou a precos populares, para que uma formagao visual/cultural de qualidade seja deflagrada; por fim, pensar ndo apenas em politicas de formagao de plateia como também numa formago continueda de professores ndo despregada da cultura (© cinema deveria configurar-se como um espago de troca e de contronto de ideias, de reestruturacao, releitura, reelaboragdo, recriagho. Ninguém cria do nada e nada & criado sem referencias ou parémetros. Todo processo de criago & uma forma de combinar 0 velho de um. novo, inaugural. Fomecer elementos para isso é, entio, missao primeira de qualquer formador ~ seja nos espacos de educayao infantil, seja nos cursos de formagio de professores. tneiaotermarso deprolessores 117 ‘Temos dentro da escola, dentro da base curricular, uma disciplina que se chama “Educaedo para o Turismo”, e dentro dela & desenvalvida 1 parte do cinema, como uma coisa mais elementar, mas sempre isto da dis @ Educagao”, nfo apenas para criangas, mas nos cursos de m: pedagogia e nas licenciaturas. ina ‘A gente vé colegas que gostam, se ineressam, mas nfo sei se tm preparo (..): 0 que € 0 cinema de verdade, o que é linguagem cineratogrifica, que é ur fle, En arisearia dizer que mito poweos que eu contezo te essa visio, Uma pene, mas a realidade, (D3) Nao falo de uma disciplina que estimule a adoragdo de idolos, formando cagadores de autégrafos que se mirem em suas vidas € aventuras, no uma disciplina que reduza cinema aestratégia pedagégica ou recurso diditico, mas um espago que favorega a experiéncia estética de professores e alunos, no qual o ver, estudar e discutir eriticamente o cinema possam ampliar seus horizontes culturais. Uma arte multifacetada e plural que possa ser explorada de diversos Angulos e que englobe tantas outras: cendrio, igurino, fotografia, misica, teatro, s6 para citar algumas. Nio estou falando de imposi¢ao ou superposi¢ao de culturas, ou de jogar fora o passado vivido — ele permanece inscrito, como toda experiéncia, na came de cada um: cago que um menino recebe dos objeto, das coisas, de realidade fisica ~ em outras palavras, dos fendmenos materais da sus condieao social torna-o corporalmente aquilo que € e que seré Por toda & vids, O que é edueada é sua came, como forma de seu espitto. Pasolini 1990, p. 127) ‘No cinema, o elemento detonador de mudangas € externo — mas uma mudanca 6 é legitima quando se dé de dentro para fora, Agugadas as linguagens, abrem-se canais de compreensto do mundo, de sua prépria significagdo, Passa-se a com fer queo mundo nfo &s6 0 nosso lugar, 118 Papirus tora agente sabe que cinema 6180 rico, pode render tanto assunto, tanto apo e tanta troca! Tanta percepedo e tanta coisa I 3) 0 cinema reteata mu teu problema ld assiste quela le so sente igual 0s outros. Fura forma de incluso também; ha igualdade ~€ asim que eu entendo, (D3) O cinema & te importante na formagio de identidade das pessoas, de qualquer pessoa, de um povo. Nés temos um cinema «que, nos éltimos anos, vem se fortalecendo ~ vooé vé que nés temos uma cara, que nds gostamos dessa cara, que o nasto cinema tem pablico; femos um piblico brasileiro que gosta do cinema bras gosta da nossa cara. ( » 'Nés temos como mostrar todo proceso politico do pais através do cinemas nds temos como mostrar 4 histéria do pais, a histéria da Titeraura, a historia das artes — elas esto todas envolvidas dentro do cinema. ( Trata-se, aqui, de defender que olhos ¢ ouvidos sejam abertos na diregdo do outro, do diferente; de compreender que as interagSes so fundantes/estruturantes do sujeito, Trata-se de trabalhar a alteridade, de tocar a subjetividade, a constituigdo de cada um ~ sujeitos nascidos diferentes © éncias diversas a0 ¢a vida tommam-se tara, 3; investigagto, Nele, @ gente vé a nossa identidade; vé 0 nosso pais € niko $6 isso: a gente aprende a se conhecer. O cinema & uma grande experié voveristica, quase de se ver, de penetrar numa historia e se deixar ‘emocionar mesmo ela sendo uma fabula ou algo ndo crivel. (D7) Arta itanciaetormanso de professores 119 Bibliografia ALMEIDA, Milton José de (1994). Jmagense sons: A nova cultra oral, Sto Paulo: Cotes: (1999), Cinema: A arte da meméria, So Paulo: Autores Associados magem em perspectiva”. In: DE ROSSI, Vera Educaxofilosofa,pscologia pp. 65-68. 1992). Mareismo efilosofa da linguagem. Sto Paul: Hucitc, BENJAMIN, Walter (1993). Obras escathides J: Magia e técnica Arte politica Sto Palo: DUARTE, Rosita (2002). Cinema e eaveapdo, Belo Horizonte: Auténticn FARIA, Ana Lécia Goulart de (1993). “Direito& infincia: Métio de Andrade ¢ os parques intents para as riangas de familia operiria na cidade de So Paulo (1935-1938)" Tese de doutorado, Sio Paulo: FE/USP. (Claudia Amorin; CASTRO, Lécia Rabello de; JOBIM © SOUZA, Solange (orgs) (1997). Jnfincia,ctnema e sociedade. Rio de laneiro: Ravi LLEITE, Maria Isabel (2001). "0 que e camo desenam as criangas? Refletindo sobre as condiges de produgdocultrl da infncia, Tese de deutorado, Campinas: FE/Uni (2003), “Eacago,infincia ¢ are: A escola pode serum espaco de ‘xpressio?”. In: QUINTEIRO, Jucirema (org). 4 escola como lugar privileplade da Infancia em nassos tempes. Florianopolis: Gepie/UFSC, (Mimo) PASOLINI, Pie Paolo (1950). "“Gennare feces: Antlogla de enseias cor QUINTANS, Davide (org) (2002). Gramadlo: 30 anos de cinema brasileiro ~ Histéria visual. Gramado: Ciesat. 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Universo que, em regra, tem sido banido da sua vida pessoal e profissional, marcada pela falta de experiéncias estéticas, de fruictio da arte, Qual o tltimo filme @ que assistimos no 1, Trabalho apresentado no IM Copedi, Aguas de Lindoia (SP), de 28 a 31/5/2003, Meus agradecimentos as edueadoras Obétiae Rose, do CE! Maria Zimmerman, ‘em Blumenau (SC), por me receberem gentilmente © me permitirem fotografi-las com as eriangas do bersirio. ‘ite, intanciaetcrmagiode protessores 121 cinema? Hé quanto tempo visitamos uma galeria de arte, um museu? ‘Aum concerto de misica ou ao teatro, quando fomos pela ‘Trabalhando com formacao de professores para a educagio i no curso de pedagogia, fii percebendo, a cada contato com as alunas,acada encontro com diferentes turmas, o aprisionamento (poderia dizer, também, represstc) da dimensto criadora, inventiva, artistica, ousada, Comumente, repertérios empobrecidos e timidos, que revelavam, por 0 olhar tomavam-se embotados pelo drido cotidiano massificado. Mobilizada por tais fatos ¢ constatagdes, € que cheguei & pesquisa sobre as saberes sensiveis. No doutora © compo e a eclucagio, sobre as imagens do corpo na educarao. Desses fundamentos, fui compreendendo que o corpo é um texto e que precisa fo, também como formagto do professor. Tor ss educadores na educagao ive com outros corpos ~ das , © que diria? Assim, desse contexto lade © buscas, emenge 0 trabalho que trago A socializagao; uum trabalho em que o texto escrito foi elaborado com base no encontro ‘com imagens do corpo de educador da minha lente. As fotos mostram mulheres-educadoras com bebés, no dia a dia de um centro de educagao infantil municipal © corpo que aparece no instantineo entrega-se ao observador/eitor como imagem prenhe de significados e, como tal que revelé-lo no encontro de cada um com a imagem estampada. A fotografia diz por si mesma. O corpo também. Se voeé procurar bom, voeé acaba enoontrando do a explicagto (dwvidasa) da vida, ‘mas a poesia (inexplicdivel) da vida (Carlos Drummond de Andrade 122 PaplnusEore ‘it fanciastermagaodeprotessores 125 Que historias conta um corpo? Corpo: texto a ser lido, Nele, esta de regras, comportamentos de incorporagdes, redefini espago. Que hist6rias conta um corpo? Os gestos, formas, posturas, 0 que dizem? Espagos do corpo no tempo. Espagos que educam o corpo no 0: compr , expandindo, prendendo, soltando, reproduzindo, criando gestos. Diferentes tempos, diversos compos. Corpo objeto. Compo metade. Corpo inteiro, Corpo fechado, Corpo aberto, Corpo sagrado. Corpo profanado. Diferentes eédigos, diversas imagens. igGes, marcas, memérias: mposigdes. No corpo, muitas historias: ies, transmutagées de um tempo e de um Vemios, entio: no mundo antigo, 0 corpo era criagao divina, pertencia & ordem da natureza, funcionava no ritmo do universo, Ser humano era Ser um corpo! Na modemidade, 0 corpo é fabricagio, miéquina ordenada, submetida as regras de civilidade. Ser humano é Tet ‘um corpo! Apartando o corpo da alma, a aparéncia é elevada e enquadrada em modelos, cédigos da boa conduta, que definem modos de andar, gesticular, falar, olhar. Firmeza, Utilidade. Beleza, Hoje, 0 mercado de consumo diz ~ impondo suas regras, seus e6digos: cada um pode escolher 0 compo que quiser. Os discursos sobre © corpo esto espalhados na sociedade: revistas, televistio, outdoor, distribuem imagens da mulher baseadas em um paditio de beleza, marcado pelo erotismo, pela aparéncia da boa forma. Lae cf, ouvimos a pregacio: Epossivel mudar 0 corpo, esculpi-lo, perder e ganhar peso, tirare colocat centimetros, milfmetros, buscando a forma ideal, uma beleza fabricada, A beleza do corpo, o embelezamento, toma-se 0 “novo arquétipo da felicidade” dos tempos modemos (Silva 2001). So novos valores que emergem, criados com base em uma “estética caricatural: ser belo € aproximar-se de um ideal, sempre determinado de modo universal, distinto do que é cada corpo, enquanto este, por sua vez, é considerado ‘um ente particular e local” (Sant’ Anna 2001, p. 108). 124 Papiustatora Compo nosso de cada di. ara o trabalho, para 0 dcio. Para o campo, para a cidade, Para a casa, para a rua ‘Mascaras no corpo! ‘Na multidao, na solidao, No coletivo, no individual. ‘Temos um corpo? Somos um corpo? ‘Mods. Jeitos de sex Gestos de educadoras na educagdo infantil: Jeitos de corpo Ediucago infantil: corpos num mesmo espago; corpos corm outros ccorpos, Procuremos as marcas. Onde esto? O que dizem'? O que silenciam? que mostram? © que escondem? Dimensdes que se misturam. Forga, Fraqueza Cansago. Vitalidade. ‘Alegria, Divertimento. Preocupagao. Satisfagso Relagdo? Trova? Toque? Afeto? Distineia? Lado # lado? ‘Movimentos, tantos! Baixa. Levanta. Suspende. Solta, Pega “Terra e Céu. Fogo e at. Abrago. Brago firme, forte. Colo. Aconchego. Coragéo, estos. Justos, ajustados, ‘ite, ifnciaefermagiodoprotescores 125 ‘Apresentagio: identidade Gestos, Admirar um gesto humano é admirar também o passado ¢ 0 futuro scritos nos corpos. O corpo tem histéria e no gesto imediato vé-se, 4 esto, outros gestos a envolver o presente, determinado por gestos assados, que o antecederam e, no agora, indicam e ence sucesso de outros gestos. am uma Na meméria do corpo — quanto carinho, quanta repressio, quanto afago, quanto abandono? -, a matéria para as relagdes com outros compos, com a vida, enfim. Nas marcas do corpo, a possibilidade de redefini-las no encontro com 0 outro. Educagao: Gestos dentro da vide Vite monte Forgas ¢ fraquezas. iene Resontcis sali Relagdes e rupturas, a luo e coletivo, Energies: potencializadas, negadas. Corpo: gestos, vida, sens poderia ser uma obra de arte?" (Fouca tum belo sonho, “construir a vida de s para exercida no cotidian les. “A vida de todo indivi 1 2001, p, la um como obra ‘exposta nos museus e galerias do que para ser ‘Sant’ Anna 2000, p. 88). 120 Paptustttora Corpo. Corpos: encontros, relagdes, vibragées, “territério de ias entre experiéncias de tempos diversos, destituindo-o de dessa espécie de corpo total ‘como uma substancia, ménada -z um corpo concebido menos lada e livre, ¢ mais como um elo entre ide de sua existéncia Reatar os elos: Dangar! ‘As imagens das educadoras junto dos bebés, no fragmento captado pela fotografia, além de oferecer mal a0 contemplador, permitem-me projetar outras imager fragmento, reatando clos ~ da educagto, na vida, Entio, sonho: do pedago estatico & totalidade dinémica ~ los, rodas, danga! Reverbera no sonho a pergunta do filésofo: “O que aconteceria se, em vez de apenas construirmos nossa vida, tivéssemos a loucura ou a sabedoria de daned-la?” (Garaudy 1980, p. 13) Na historia de sua existéncia, os homens dangaram todos os ‘momentos importantes: da guerra & paz, do casamento aos funerais, & ‘mudanga de esiagSes, da plantagao a colheita. A danea como participago e celebragio. Linda imagem! Por que nfio a educago infantil como participago ¢ celebrago, que comega na roda, na danca? Essa é a imagem que me captura e me convida & continuidade da pesquisa: do universo de possibilidades expressivas, criativas e sensiveis dos educadores, pensar o corpo na danga da educago. O que aconteceria se, em vez de apenas darmos sequéncia a procedimentos didéticos no cotidiano edueativo, com os meninos e meninas, tivéssemos a ousadia de dangar a educagdo? sta infnciaotormacto deprofessores 127 Da perspectiva da formagiio de professores para a educagio infantil, os estudos sobre o corpo juntam-se & provocagiio do filésofo, icando-me um caminho para o encontro com o universo de que tenho falado: aquele em que habita o ser da poesia, roubado dos adultos, em especial dos educadores. E na danga, pois, que experimento reatar os elos de “ser educador” por inteiro, aproximando opostos (ou dualidades): razo/emoso, cognigAo/afeto, corpo/alma, luz/sombra, bony/mau, bonito/feio. Por af, s centrando na roda, com no corpo, na danga. professoras, a buscar saberes e fazeres sensiv Bibliografia ANDRADE, Carlos Drummond de (2002). Corpo, 16% el, Rio de Janeiro: Record, Nova Fronteia HILLMAN, James (1993). “A repress da beleza". Dy: BILLMAN, James, Cidade alma ‘So Paula: Studio Nobel SANT’ ANNA, Denise de (2000), “Corpo, ética¢ cultura Jn: BRUHNS, H:7-e GUTIERREZ, GL. (orgs). O corpo eo hidico. Campinas: Autores Associados, __ (2001). Corpos de passagem: Ensaios sobre a subjetvidade co cao: Reflextes acerca de um novo arguétipo ores Associados/Edutse. 98). Imagens da educagdo no corpo, Campinas: Autores Associades. Corpo o histiria, Campin ores Astocindos, |WOSIEN, Berard (2000). Danga: Un camo para a totalidade, Sto Paulo: Tiom, 128 PapiasEatora Outros titulos da Papirus Brineaprende: Dieas lidicas para pais e professores Paulo Sérgio Emerique Ensino das artes Construindo car Sueli Ferreira (org.) Formagao do professor de arte (A) ‘Carmen Liicta Abadi Blasotl Celdon Fritzen Gladir 8. Cabral (orgs.) Infancia ¢ educagao infantil ‘Sonia Kramer Maria Isabel Leite Maria Femanda Nunes Daniela Guimarées (orgs.) Infancia e tinguagem: Bakhtin, ‘Vygotsky © Benjamin Solange Jobim ¢ Souza Jogos teatrais: Exercicios para Maria C., Novelly Metodologia do ensino de teatro lcardo Japiassu Poquena histéria da arte Dutlio Battstont Filho Por que arte-educagéo? Jodo-Francisco Duarte Jr. editora@papirus.combr wna gapirus.com.br {B wonw-papiruseditora. blogspot.com ‘ twiter.comPepinssEditora

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