1927 - Desde o advento do cinema sonoro, os filmes, a televisão e as mídias não se
dirigem apenas a visão. Um estudo que muito tempo não era valorizado devido a supervalorização da imagem. O fato de o cinema ter sido concebido, originalmente, como uma técnica da imagem em movimento nunca serviu de justificativa para predominância das análises centradas no campo das imagens. A necessidade de um estudo sistemático que busca um estudo do som feito a partir de “palavras rigorosas”, um trabalho de descrição fundado na percepção e que encontra seu limite nos limites da própria linguagem através da incompletude que a define, na relação entre som e imagem e a construção da percepção da Audiovisão no espectador (audioespectador). Pensar a relação entre imagem e som como contrato audiovisual em que a percepção sonora e visual coexistem, somando-se e influenciando uma a outra, cada qual tem suas particularidades, não é uma relação natural. "Não vemos a mesma coisa quando ouvimos e não ouvimos a mesma coisa quando vemos" Pensando nas diferenças e especificidades estruturais entre imagem e som. O porquê da inexistência da "banda sonora", não existe quadro sonoro de sons. Podemos dizer pista sonora para a montagem de sons em determinado filme. Para Chion existe uma centralidade da imagem que é reforçada pelo som. Para Chion o cinema tem uma definição ontologicamente visual. A imagem possui um lugar que é o quadro - A tela. Ela garante as imagens variadas uma estrutura mais unificadora que inclusive pré existe em relação as imagens projetadas. A imagem possui como estrutura unitária o plano também. O som não possui tela, o altofalante projeta o som, não é em si um suporte ou tela. O som se divide entre o visível e o invisível de acordo com o que está representado no quadro, na imagem, por não há banda sonora, os sons são construídos de forma sobreposta, o que na imagem não é possível sem quebrar o realismo, por isso as imagens são justapostas. (Essa é uma questão que podemos problematizar como sendo um senso comum sobre a visualidade e será que o som não tem um suporte, não existem outras telas para o som?) A imagem tem como característica puxa o sons para si - Magnetização do som pela imagem. O som nesse caso projeta valores e sentidos sobre a imagem. O som continua a ser o que nos faz ver na tela aquilo que ela quer que nela vejamos. Som e imagem são apenas materiais a trabalhar; e, no cinema, a trabalhar em conjunto. Existe uma diversidade dentro do campo sonoro que impossibilita uma unidade pelo fato de ser composta de linguagem, música (estão dentro de uma escuta semântica, que associa os sons a códigos estabelecidos culturalmente) e ruído (através de uma escuta causal quando identificamos sua fonte ou através apenas da escuta reduzida que trata das qualidades e das formas específicas do som independente da sua causa e de seu sentido, tem a ver com a sua materialidade, sua especificidade enquanto verdadeiros objetos enquanto forma e matéria em si.) Por isso a impossibilidade de dizer que existe banda sonora, a faixa sonora não pode ser ouvida sozinha, precisa ser amparada pela imagem que lhe da estrutura. O som divide a imagem da mesma maneira que a imagem divide o som: é o que eu chamo de audiodivisual. Os sons vão ser divididos em in, fora de quadro ou off pela imagem. Essa diferença de estrutura entre o campo sonoro e visual serve de argumento para defender a fragilidade do som na percepção. Pois o som seria magnetizado por acontecimentos retratados na tela. Sendo necessário impor uma separação entre som e imagem. Chion estabelece nas sua introdução a analise do audiovisual um método das mascaras que consiste em analisar separadamente o som e depois a imagem. Pelo fato dessa analise surge uma série de conceitos que sistematizam o resultado desse encontro entre imagem e som. O contrato audiovisual, a audiovisão. Conceitos como Valor Acrescentado que faz menção à alteração de uma percepção da imagem graças ao som e vice-versa. Dizendo ainda que a maior parte das pessoas experimenta os efeitos dessa relação sem necessariamente pensá-la como tal, síncrise (ponto de sincronia que gera uma sintese), contraponto etc. Apesar de enfatizarem uma dicotomia entre imagem e som. São estratégias de valorização do universo sonoro que era necessário em um contexto onde o som era considerado por muitos como redundante, Chion mostra que ele nunca é redundante, ele sempre acrescenta algo na imagem. Sobre realismo sonoro, fidelidade. Mas a minha opção por falar em expressão sonora se deve ao fato bem concreto pelo qual a noção de realismo dentro do cinema se dá pela nossa experiência com os próprios filmes. E os sons que nós escutamos nos filmes não correspondem em grande parte àquilo que escutamos fora do cinema, na vida cotidiana. A separação que Chion faz do som e imagem é tanto no sentido ontológico como também analítico. (Podemos dizer que essa leitura entende o filme com uma soma de sons e imagens e a totalidade é uma soma, consequência do contrato audiovisual.) Em relação Um elemento que o autor evoca acerca da especificidade do som é o poder dele de avocar outra dimensão, quando nada na imagem lhe corresponde ou realça. E só podemos fazer uma análise melhor ao fazer o método das mascaras. Existe o mundo da tela que podemos nomear e existe o som de outro mundo que não é designado, o que ele chama de audiovisão oca, uma outra forma de realidade e combinação que não é valor acrescentado nem contraponto. Alem de existir o personagem acúsmetro que a imagem da sua fonte não esta incluída. Outra noção importante que o autor aborda é o sentido de trans-sensorialidade que entende que existe percepções que não são de nenhum sentido em particular, podem buscar o canal de outro sentido para ser percebida. Não estão fechados nos domínios do 5 sentidos, eles são apenas passagens e canais. Um exemplo é o ritmo, o textual e o espacial. O que transforma completamente a noção da percepção do sendo comum: a percepção atraves de sentidos determinados. O conceito aparece a partir de uma argumentação sobre questões temporais apresentadas a imagem que são percebidas como auditivas e questões espaciais expressas no som percebidas como visuais. O ritmo esta em um terreno da percepção que transcende visão e escuta. (Se a percepção é transensorial qual é a relevância de se enfatizar uma primazia do visual para o cinema?) O Som é símbolo de uma percepção que atravessa nos sentidos e da impressão de continuar em algum lugar além... Será que a imagem também não evoca esse fora de campo conceitual, será que a imagem com outras formas de vida não ultrapassa o quadro em que ela esta delimitada? Quando sensações cinéticas são transmitidas por um único canal de sensorial podem traduzir atraves desse canal outros sentidos por ex: No "cinema mudo", dando a entender que os sons estavam lá, mas nós não os escutávamos. O cinema mudo na sua ausência de som síncrono exprimia os sons por vezes melhor do que o próprio som e a musica acusmática na sua rejeição consciente do visual acarreta visões imagéticas. Chion se utiliza do termo "off" para se referir aos sons não diegéticos, por exemplo. Que seria tanto uma música de fosso ou uma fala de um narrador. Para se referir aos sons diegéticos, utiliza os termo "in" e "fora de campo". Sendo "in" aqueles sons que conseguimos identificar sua causa originária dentro do enquadramento da imagem. E "fora de campo" os sons que são escutados mas que sua causa permanece invisível. Mas basicamente em qualquer situação de um filme você tem sons in, dentro do quadro, onde a fonte sonora é presente na imagem, e sons fora de quadro ou off . Esses sons podem ser escutados isoladamente se você decide não olhar a imagem. Mas dentro do filme eles existem através da relação com ela, produzindo uma série de efeitos oriundos dessa relação. Então, dizer que a pista sonora não existe significa na verdade dizer que o estudo do som de um filme como uma entidade autônoma, independente da imagem, não tem sentido algum.. A pista sonora não existe na medida em que ela não é no filme uma estrutura independente. É na sua relação com a imagem que os sons acham o seu lugar no filme e, reciprocamente, a percepção da imagem também é influenciada pelo som. Então a pista sonora permanece como um termo técnico, mas que por si só não faz nenhum sentido desde o momento em que nós misturamos as duas coisas. Quando nós estamos na rua, percebemos a realidade com todos os nossos sentidos. Além de adotarmos uma postura ativa, nós podemos interagir com ela a qualquer momento. No cinema, nós estamos em uma postura passiva diante de uma realidade que, a princípio, só existe a partir das imagens que vemos e dos sons que escutamos. Então é normal que o cinema procure através desses sons e imagens despertar no espectador toda uma outra série de sensações. O que a interação entre som e imagem produz são representações de espaço, a instauração de uma temporalidade.