Cadernos PDE
II
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR
TURMA 2014/2015
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
UFPR
CURITIBA
2014
Edilson José Krupek
UFPR
CURITIBA
2014
SUMÁRIO
Apresentação.......................................................................................................... 05
Referências............................................................................................................. 65
5
Apresentação
tratadas, possibilitando o ajuste das atividades que virão a seguir. Além disso, a
primeira produção servirá também para a avaliação de todo o processo, quando
confrontada com a “produção final”, reelaborada a partir de todos os conhecimentos
adquiridos na exploração do gênero. Essa exploração se dará por meio de
“módulos” – os quais, neste material didático, chamaremos de “oficinas” –
desenvolvidos por meio da abordagem dos elementos constitutivos do gênero
relacionados às condições de sua produção, sua estrutura composicional, seu estilo
e seu conteúdo temático. Nesta SD, dada a complexidade do gênero selecionado, e
da grande quantidade de conteúdos a serem explorados e de atividades de leitura e
escrita demandadas, foram previstas 11 oficinas, além de uma atividade final
compreendendo a divulgação dos contos a serem produzidos. O tempo de cada
oficina vai variar de acordo com o ritmo da turma e da necessidade que se instaurar
em cada etapa, no entanto o planejamento prevê que todo o processo se dê no
primeiro trimestre letivo, considerando-se quatro aulas semanais.
Os contos selecionados para as atividades da SD compõem a coletânea Os
cem melhores contos brasileiros do século, obra organizada por Moriconi (2009). A
escolha dessa obra deve-se, primeiro, pelo fato dela concentrar uma quantidade
representativa de contos brasileiros do século XX e, segundo, por ser esta uma obra
que compõe o acervo das bibliotecas das escolas públicas paranaenses, sendo
assim de fácil acesso aos estudantes e principalmente aos professores que
desejarem utilizar-se deste material didático.
Na construção do material, alguns desafios se fizeram prementes. Em
primeiro lugar, apesar de haver a preocupação de se utilizar dos pontos positivos da
metodologia em favor do trabalho de ampliação do conhecimento linguístico dos
estudantes, o objetivo maior seria o de torná-los bons leitores de textos literários.
Assim, seria mister atenuar os efeitos da “didatização” do gênero, uma vez que
esse, mesmo sendo um objeto da comunicação interpessoal, quando adentra a
escola é também um objeto de ensino, como apontam Dolz & Schneuwly (2004).
Tentar inserir o conto literário numa “camisa de força”, aliás, seria até incoerente,
pois conforme análise de Bosi (1974), esse gênero é proteiforme, assumindo formas
de surpreendente variedade (de tons, temas, formatos de composição e
significados). Essa variedade, portanto, será explorada e valorizada neste trabalho
e, acreditamos, se configurará também como uma significativa e atraente
7
possibilidade de aguçar nos estudantes o esmero pela escrita autoral e pela reflexão
sobre sua produção escrita, prática extremamente necessária no Ensino Médio.
Em segundo lugar, seria preciso comprovar a pertinência de se promover a
prática da escrita desse gênero na escola, frente à discordância relacionada ao
discurso poético existente entre alguns estudiosos do ensino de gêneros, os quais
defendem que cabe à instituição escolar somente produzir bons leitores e não
escritores literários. Quanto a isso, neste material defende-se, concordando com
Garcia (2010), que não podemos privar os estudantes de exercitarem, além da
leitura, também a elaboração de textos poéticos e literários, porém sem condicionar
a avaliação dos estudantes à presença ou não de literariedade em suas produções.
Por fim, seria necessário contemplar na SD, de forma contextualizada e
significativa, alguns conteúdos estipulados na proposta pedagógica curricular do 1.º
ano do nível médio da escola que receberá a intervenção pedagógica, relacionados
às práticas discursivas da leitura, oralidade e escrita, bem como a prática
pedagógica da análise linguística, a partir da abordagem dos elementos que
caracterizam, segundo Bakhtin/Volochínov (1992, 2006), todo gênero discursivo: o
conteúdo temático, a construção composicional e o estilo. Para tanto, deveriam ser
formuladas atividades que não tomassem o gênero como objeto para o mero estudo
da estrutura da língua, mas para a análise dos elementos que o compõem e reflexão
sobre suas funções na promoção dos efeitos de sentido depreendidos.
Ao considerar esses desafios, esta SD concebe a leitura como um ato
dialógico, interlocutivo, e que está imbricado no contexto social, histórico, político,
econômico e ideológico em que cada leitor está inserido e cada evento enunciativo é
produzido. Assim, as atividades de leitura propostas respeitam o caráter individual
dessa prática discursiva, valorizando a experiência, os conhecimentos prévios e as
vozes que constituem cada leitor. Por meio da exposição constante ao gênero, da
discussão sobre as impressões suscitadas em cada unidade, da identificação dos
recursos linguísticos e estéticos utilizados pelos seus autores e do debate acerca
dos efeitos de sentido propiciados, espera-se que os estudantes ampliem
gradativamente seus conhecimentos linguísticos e discursivos e seu gosto pela
leitura literária, ampliando assim seus horizontes de expectativas.
Atentando para as especificidades da linguagem literária, o encaminhamento
dado à leitura, compreensão e interpretação dos textos apoia-se nos pressupostos
teóricos da “Estética da Recepção”, desenvolvida por Hans Robert Jauss (1994), e
8
Oficina 1
Primeiros contatos
com o gênero
2 Informações mais detalhadas podem ser apresentadas sobre o organizador, que é autor teórico e
literário e professor da UFRJ. Em http://veja.abril.com.br/010801/p_140.html (acesso em set. 2014),
Italo é apresentado como um “intelectual pop”, que gosta de rock, faz poemas homoeróticos e ganhou
projeção organizando antologias (de contos, crônicas e poemas) que são um sucesso de vendagem.
3 http://www.objetiva.com.br/livro_ficha.php?id=117, acesso em set. 2014.
11
Para iniciar a SD, serão apresentados três contos para leitura individual, na
seguinte ordem: 1) O homem nu, de Fernando sabino; 2) Uma vela para Dario, de
Dalton Trevisan; 3) Zap, de Moacyr Scliar.
Os estudantes devem ser orientados a ler o primeiro texto e anotar em seus
cadernos, em poucas palavras, as impressões que tiveram da história. Deve-se
alertá-los de que não se trata de uma interpretação ou resumo do texto, como
provavelmente estão acostumados a fazer, mas sim de um registro do(s)
sentimento(s) que aquela leitura lhes aguçou. A seguir, eles devem ser convidados a
ler seus registros, mas somente ler, sem explicações posteriores. Tal método
objetiva identificar a recepção do texto, a significação alcançada a partir dos
sentidos que cada leitor depreendeu dele, sua percepção estética que revela,
consequentemente, seu horizonte de expectativas4. Não há necessidade, porém, de
que todos leiam, pois é importante deixá-los à vontade neste primeiro momento.
Esse exercício se repetirá com os outros dois contos e, no transcorrer das
leituras das impressões, é importante registrá-las na lousa, para posterior discussão.
Mesmo as declarações incoerentes, provenientes de leituras equivocadas, ou ainda
generalizantes, devem ser acatadas neste momento. Abaixo, um exemplo das
possíveis ocorrências:
4 Termo utilizado pela linha teórica da “Estética da Recepção”, desenvolvida por Hans Robert Jauss
(1994) e apresentada, juntamente com a “Teoria do Efeito” de Wolfgang Iser (1996), na DCE-PR
(PARANÁ, 2008), como fundamentação para o ensino de literatura na rede pública estadual.
12
Importante:
Para finalizar esta etapa, é interessante realizar uma enquete para identificar
qual dos três contos o grupo gostou mais, e por quais motivos se deu a escolha. O
registro dessas informações é importante, pois elas poderão ser recuperadas em
futuras discussões e nos momentos de escrita e reescrita de contos.
espera isso, pois a metodologia das sequências didáticas prevê que a apropriação
do gênero em foco se dê por meio de sua exploração abrangente, numa sucessão
de atividades progressivas e articuladas entre si –, porém já poderão apontar alguns
de seus elementos e compreender minimamente sua estrutura e seus objetivos.
Assim, os estudantes devem ser indagados a apontar, a partir de seus
conhecimentos prévios e das conclusões a que chegaram pela leitura dos três
contos apresentados nesta oficina, como definem um conto literário. Os
apontamentos devem ser registrados na lousa a fim de que, ao final, construa-se no
coletivo um conceito. Ao professor cabe o papel de organizador do texto, mas é
claro que ele também pode oferecer subsídios para sua elaboração, caso esses não
sejam suficientemente oferecidos pelos estudantes. Em suma, o conceito deve
apontar os seguintes elementos:
Importante:
Oficina 2
Mais contos para ler
e um para escrever
3. Pedir que relatem casos de que tiveram conhecimento, seja por meio
de sua própria vivência ou porque souberam por meio da mídia.
4. Mostrar ao menos um exemplo de violência doméstica infantil que
repercutiu na imprensa recentemente, juntamente com resultados de
pesquisas que apontam os índices desse crime no Brasil e a análise do
impacto dessa prática na formação das crianças. Tais informações
podem ser encontradas na matéria jornalística Os impactos da
violência doméstica infantil, de Lívia Machado, disponível em
http://delas.ig.com.br/filhos/os-impactos-da-violencia-domestica-
infantil/n1237628538965.html (acesso em set. 2014).
Essa atividade fornecerá tanto informações prévias sobre o tema abordado
nos dois contos a serem analisados quanto subsídios para uma discussão posterior
acerca da abordagem de questões da realidade em textos literários e seus objetivos
(que estão longe de ser doutrinários, moralistas, didáticos ou de utilidade pública).
O procedimento de leitura para cada conto será o mesmo realizado na oficina
anterior: leitura individual → registro e socialização das impressões → leitura em voz
alta → aferição da compreensão dos textos → contato com informações sobre o
autor e o contexto de produção do conto → interpretação via discussão coletiva.
Em linha gerais, pretende-se que os leitores apontem – respondendo a
provocações do professor, se necessário – as semelhanças quanto ao tema
presente nos dois contos e as diferenças de contexto em que se encontravam os
personagens que sofreram agressão. Tais conclusões permitem que se desvenda
ou subentenda-se as intenções do autor, bem como compreenda-se suas escolhas
na construção de sua narrativa, as quais lhe conferem qualidade literária,
diferenciando-a de uma mera exposição sequencial e objetiva de fatos. Assim, os
apontamentos básicos devem estar próximos aos constantes no quadro abaixo:
Negrinha Um cinturão
Negrinha Um cinturão
Importante:
Agora, eles realizarão uma atividade que reforçará essa conclusão e os fará
confirmar a excelência do texto literário escrito em relação às narrativas orais (ou
aos textos escritos que apenas reproduzem fatos narrados oralmente). Nessa
conclusão, é claro que não devem conferir inferioridade à linguagem falada, mas
entender que existem formas diferentes de uso da língua, cada qual cumprindo –
adequadamente – a propósitos específicos. O objetivo maior é fazê-los identificar e
valorizar a linguagem literária e esmerar-se na produção de seus próprios contos.
A atividade consiste em dividir a turma em dois grupos. O primeiro lerá
silenciosamente o conto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector; o segundo,
Conto de verão nº 2: Bandeira Branca, de Luis Fernando Verissimo. É importante
também dar a cada grupo um tempo posterior à leitura para que troquem impressões
sobre suas histórias, pois isso fará com que a compreensão do texto seja mais
homogênea.
A seguir, cada grupo deve eleger um de seus membros para contar oralmente
a história ao outro, porém sem o apoio do texto impresso. Sua apresentação será
registrada por meio de um gravador de voz para posterior análise.
Após ouvir a nova história, cada grupo terá acesso ao conto original.
Concede-se então mais um tempo para a leitura individual, discussão entre o grupo
para otimizar a compreensão do texto e análise das diferenças entre as duas formas
de apresentação da narrativa – a oral e a escrita.
Por fim, num grande círculo, os grupos devem expor suas conclusões. Nesse
momento, a gravação das apresentações deve ser exibida ao menos uma vez para
confirmação dos apontamentos e exemplificações. A interpretação dos contos
focalizados também é objetivo deste momento, cabendo ao professor lançar
questionamentos.
Na lousa, o professor ou um aluno voluntário deve registrar as diferenças
apontadas. O quadro final deve ser registrado por todos em seus cadernos, o qual
deverá conter, dentre outras, essencialmente as informações abaixo:
Importante:
Oficina 3
Um gênero
democrático
Importante:
Importante:
Oficina 4
Uma "radiografia"
dos contos
5O quadro esquemático dos elementos da narrativa foi construído a partir de pesquisa comparativa
em três conceituados manuais didáticos para o ensino de literatura, que são os de Abaurre (2008),
Cereja (2013) e Rodella (2005).
30
Importante:
Uma votação entre os estudantes pode ser realizada para eleger o melhor
final escrito, e seu autor premiado com um livro de contos. Nesse caso, o final
original só deve ser revelado após a escolha, para evitar que as ideias mais
próximas das do autor sejam mais valorizadas.
34
Importante:
O conto As mãos de meu filho foi adaptado pela Rede Record de Televisão
em 2010, com direção de Adolfo Rosenthal. O telefilme está disponível no site de
compartilhamento de vídeos Youtube e pode ser utilizado como a representação
de “uma leitura” da história, construída com o auxílio de recursos audiovisuais. No
entanto, cabe ressaltar aos estudantes que os sentidos depreendidos e as
sensações provocadas em cada pessoa podem variar muito no contato com cada
forma de apresentação da comovente história de Gilberto, D. Margarida e
Inocêncio. Afinal, são linguagens diferentes (a literária e a cinematográfica).
Desse modo, paralelamente às discussões acerca do enredo do conto, é
importante realizar um levantamento das diferenças entre as linguagens,
enfatizando-se que qualquer adaptação jamais poderá substituir a leitura da obra
original.
35
Oficina 5
Conto: abrigo de
todos os falares
No início da aula, os estudantes devem ter um tempo para a leitura dos três
contos elencados acima. A seguir devem ser convidados a apresentar,
espontaneamente, suas impressões sobre as histórias. Antes, porém, de uma
análise mais aprofundada sobre cada história – e apontamento dos elementos da
narrativa, pois a partir da oficina anterior certamente os estudantes estarão mais
propensos a identificá-los –, é preciso questioná-los se observaram alguma
diferença marcante em cada um, relacionada à linguagem. Espera-se que a
conclusão do grupo, ainda que estimulada pelo professor, seja próxima à
apresentada no quadro abaixo:
36
Importante:
Oficina 6
Recursos expressivos
para a literariedade
3. “(...) e o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida
foi mulher. Apiedou-se.” (Negrinha, parágrafo 65, linhas 2 e 3)
4. “Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança:
parece que foi pregada a martelo.” (Um cinturão, parágrafo 10, linhas 1
e 2)
5. “Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos
achatadas.” (Felicidade clandestina, parágrafo 1, linhas 2 e 3)
6. “Como alguém que vomitara a alma e nunca a teria de volta.” (Conto
de verão nº 2: Bandeira Branca, parágrafo 21, linha 2)
7. “Ela apertou o braço do marido e sorriu, a sentir que um júbilo quase
angustioso jorrava de seu íntimo.” (O vitral, parágrafo 27, linhas 1 e 2)
8. “A tosse passou, emudeceram as molas; ficaram só os grilos e os
relógios.” (A partida, parágrafo 11, linhas 4 e 5)
9. “(...) desejava algo para apagar o fogo que arranhava o corpo por
dentro.” (Guri, parágrafo 4, linha 16 e 17)
10. “Talvez fosse a dança de tantos rostos a meu redor...” (Nos olhos do
intruso, parágrafo 3, linhas 3 e 4)
11. “A luz circular do refletor envolve o pianista e o piano, que neste
instante formam um só corpo, um monstro todo feito de nervos
sonoros.” (As mãos de meu filho, parágrafo 1, linhas 4 a 6)
12. “Se numa mesa de primeira ganhava uma ponchada de balastracas,
reunia a gurizada da casa, fazia – pi! pi! pi! pi! – como pra galinhas e
semeava as moedas, rindo-se do formigueiro que a miuçalha formava,
catando as pratas no terreiro.” (Contrabandista, parágrafo 6)
Ao final desse exercício, é preciso que compreendam que o texto literário
desencadeia mais de um plano de leitura, e que em cada plano de análise, as
figuras podem desencadear outra interpretação. Nele podem aparecer figuras de
linguagem (ou de estilo) que remetem a algo presente no mundo natural, porém são
utilizadas como recursos para dar expressividade ao discurso, conferindo-lhe mais
força, intensidade, beleza. Também é necessário que concluam que há construções
figurativas que causam estranheza, dada a combinação de figuras diferentes e
improváveis, e que isso trata-se também de uma estratégia do autor para chamar a
atenção do leitor.
43
Figura de Resposta
linguagem / conto
Três ironias em “A excelente dona Inácia era mestra na arte de
Negrinha judiar de crianças.” (Parágrafo 18, linha 1)
““Qualquer coisinha”: uma mucama assada no forno
porque se engraçou dela o senhor.” (Parágrafo 18,
linha 5)
“Certo dezembro vieram passar as férias com Santa
Inácia duas sobrinhas suas.” (Parágrafo 41, linha 1)
Uma metáfora em “(...) duas sobrinhas suas, nascidas e criadas em
Negrinha ninho de plumas.” (Parágrafo 41, linhas 2 e 3)
Uma metonímia em “O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas
Negrinha não lhe tirou da alma a gana.” (Parágrafo 19, linha
1)
Uma sinestesia em “O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do
Negrinha mundo – estas palavras, as primeiras que ela ouviu,
doces, na vida.” (Parágrafo 67, linhas 1 e 2)
44
Figura de Resposta
linguagem / conto
Uma metáfora em “(...) meu pai acordando, levantando-se de mau
Um cinturão humor, batendo com os chinelos no chão, a cara
enferrujada.” (Parágrafo 3, linhas 3 e 4)
Duas metáforas em “Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha
Felicidade delicada.” (Parágrafo 14, linha 8)
clandestina “Não era mais uma menina com seu livro: era uma
mulher com seu amante.” (Parágrafo 16, linhas 1 e
2)
Uma comparação em “Duas vezes por semana ele aplica caol nas partes
A máquina extraviada de metal dourado, esfrega, sua, descansa, esfrega
de novo – e a máquina fica faiscando como joia.”
“(Parágrafo 8, linhas 5 a 7)
Uma metonímia em Vi as pessoas entrando e saindo pelas portarias
Nos olhos do intruso dos prédios, contemplava a fila de cabeças voltadas
para mim.” (Parágrafo 12, linhas 3 e 4)
Uma sinestesia em “Uma música de órgão descia gelada das
Nos olhos do intruso paredes...” (Parágrafo 14, linha 3)
Uma personificação “Forcei minhas pernas a caminhar e vi a calçada
em Nos olhos do fugindo para trás sob meus passos.” (Parágrafo 21,
intruso linhas 1 e 2)
Uma hipérbole em “Agora, o guri sentia na boca uma corrente salgada,
Guri um mar de ardimento e secura, o risco do fósforo
perpetuando-se na garganta.” (Parágrafo 4, linhas
17 a 19)
Duas personificações “O pianista sofre com Beethoven, o piano
em As mãos de meu estremece, a luz mesma que os envolve parece
filho participar daquela mágoa profunda.” (Parágrafo 5,
linhas 1 e 2)
“De súbito os sons do piano morrem.” (Parágrafo
16, linha 1)
45
Figura de Resposta
linguagem / conto
Uma hipérbole em As “Mas, de repente, as águas represadas rompem
mãos de meu filho todas as barreiras, levam por diante a cortina
vaporosa e ilusória, e num estrondo se espraiam
numa melodia agitada de desespero.” (Parágrafo 6,
linhas 8 a 10)
Uma catacrese em “D. Margarida olha com o rabo dos olhos para o
As mãos de meu filho marido.” (Parágrafo 13, linha 1)
Duas metonímias em “Era por isso que a Singer funcionava dia e noite.”
As mãos de meu filho (Parágrafo 22, linha 5)
“No terceiro, bebeu o dinheiro da única conta que
conseguiu cobrar.” (Parágrafo 27, linhas 3 e 4)
Um eufemismo em “- Sabe o Gaetaninho?
Gaetaninho - Que é que tem?
- Amassou o bonde!” (Parágrafos 32 a 34)
Uma metáfora em “Quando comecei a empinar as blusas com o
Sem enfeite nenhum estufadinho dos peitos, o pai chegou para almoçar,
estudando terreno.” (Parágrafo 3, linhas 1e 2)
Oficina 7
O uso (ou não) do
recurso descritivo
Descrição
Neste momento os estudantes receberão para leitura Gato gato gato, conto
de Otto Lara Resende. Primeiramente deve-se deixá-los livres para absorverem a
história e demonstrarem suas impressões. É bem provável que alguns apontem que
a narrativa é lenta, com poucas ações e muitas descrições, além de conter repetição
“excessiva” de alguns termos e construções sintáticas diferentes das que estão
acostumados.
Para a segunda leitura, a orientação será para que observem principalmente
as descrições e avaliem seu uso, bem como das repetições e do jogo textual que
revela um estilo de escrita incomum nesse autor. Isso para que concluam sobre os
objetivos do escritor com esse texto, sobre quais efeitos ele intentou produzir.
Ao final da discussão, que deve contemplar a compreensão e interpretação
do texto – a abordagem da perversidade de uma criança precisa ser entendida,
também, como uma forma de subversão literária à lógica das histórias infantis – e o
contato com informações sobre o autor e sua obra, os estudantes precisam ter
chegado, com a colaboração do professor, às seguintes conclusões:
1. A exagerada adjetivação privilegia no conto as emoções dos
personagens em detrimento dos fatos narrados.
2. O jogo textual e os recursos poéticos (linguagem figurada) utilizados
promovem no leitor a criação de imagens sensoriais intrigantes.
49
Importante:
Oficina 8
Uma produção a
muitas mãos
Importante:
Oficina 9
A retomada da
produção inicial
Oficina 10
A reestruturação
dos textos
Oficina 11
O contínuo
aprimoramento
Requer
Critérios Adequado
aprimoramento
1. Adequação do título
1.1. O título é instigante? É coerente com a
narrativa? Remete ao principal ponto abordado no
conto (seja uma ação ou um sentimento)?
2. Adequação às condições de produção
2.1. O texto configura-se como uma narrativa
singular?
2.2. O texto difere de uma simples exposição
objetiva de fatos?
2.3. O texto difere de uma narrativa oral?
2.4. O conto possui um “tom” demarcado, seja ele
humorístico, reflexivo, lírico, de aventura, de
suspense, trágico, de drama psicológico etc.?
2.5. O texto atinge o objetivo de todo texto literário,
qual seja o de sensibilizar o leitor para algum
aspecto humano, social ou psicológico?
3. Adequação ao conteúdo temático
3.1. A história narrada possui coerência? Ainda
que seja ficcional, ela é verossímil?
3.2. A abordagem do tema selecionado na história
não tem caráter moralista ou didático?
62
Essa avaliação final, aliada aos comentários do colega de dupla que analisou
seu conto, deve requerer de cada estudante um novo exercício de aprimoramento.
Tal exercício, executado em sala de aula, deve ser supervisionado pelo professor. É
relevante que todos compreendam, no entanto, que um texto literário só pode ser
dado por finalizado no momento em que seu autor o publica. Caso contrário, ele
sempre daria margem para alterações, complementações, aprimoramentos, uma vez
que o escritor, assim como todas as pessoas, constantemente vai ampliando sua
experiência de vida e de leitura e assim, a cada retomada de sua produção escrita,
seu olhar seria diferente.
64
Atividade
final Os contos vão a
público
Referências
_____ (V. N. Volochínov). Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo,
Hucitec, 2006.
ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora
34, 1996, vol. 1.
RODELLA, Gabriela [et.al.]. Português, a sua língua: ensino médio, volume único;
ilustrações Laerte. São Paulo: Nova geração, 2005.
SAVIOLI, Francisco Platão & Fiorin, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação.
São Paulo: Ática, 1999.