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Geração à Rasca

Um movimento espontâneo que ganhou um grande número de adeptos nas redes sociais
e que se converteu na revolta de uma geração à rasca que começou numa página de
Facebook e se manifestou por conta própria. Tudo ou nada é o destino desta
manifestação, que pelo menos ficou como a primeira em Portugal a dispensar partidos
ou federações sindicais para dar forma ao descontentamento de uma geração que
contagiou todas as outras.

Penso que a missão desta geração à rasca é de imensa importância, pois contrariar a
natureza de um povo que se desabituou de protestar, que não muda de estilo de vida de
um dia para o outro ou que pertence a uma geração que enquanto estiver apoiada pelos
papás não sai de casa para gritar, chegou ao fim. Esta geração à rasca tem alguns pontos
a seu favor, penso que a conjuntura política e económica é favorável e o segmento a
mobilizar - a juventude - é mais facilmente mobilizável.

Este protesto foi sem dúvida um contaminar até de quem está afastado das redes sociais.
Os que passaram a fasquia dos 45 anos, têm baixas qualificações, caíram no
desemprego, e sabem muito bem como “apertar o cinto”, também bateu à porta dos
universitários com medo do desemprego, entrou em casa dos pais que temem pelo
futuro dos filhos e também dos pais que perderam o emprego: "Há também outras
gerações que têm casa e contas para pagar.

O protesto da geração à rasca ganhou força e está agora em todo o lado, seja nos
monitores dos computadores, seja nos televisores ou nas páginas dos jornais O trunfo
desta manifestação é ter uma base multifacetada, pessoas de várias faixas etárias que
contestam toda a base política social.

E por variados descontentamentos que tenderam num único protesto, que a geração à

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rasca teve um desfecho tão imprevisível, pois sem qualquer “máquina” de apoio a
geração à rasca representa também uma espécie de ameaça aos sindicatos e partidos
habituados a assumir a liderança.

Todas as dúvidas deixaram de fazer sentido quando as praças e as avenidas das oito
cidades portuguesas estiveram repletas de jovens licenciados sem empregos, sem
condições de trabalho nem pespectivas de o conseguir. Contudo, fiquei radiante como
eles se fizeram ouvir na manifestação ao toque da música dos Deolinda.

Todo o ambiente da manifestação me fez reviver o tempo da outra senhora, onde pouco
ou nada se podia fazer e muito pouco dizer, com isto quero dizer que depois de quase
trinta e sete anos de democracia, nunca pensei ter que ouvir jovens qualificados, com
cursos superiores manifestarem-se e para se fazerem ouvir terem que cantar músicas de
intervenção. Tal como ouvia-mos Sérgio Godinho, Fanhais, Correia Oliveira, Zeca
Afonso e tantos outros.

Também agora a nova Geração escolheu Deolinda, mas o que mais gostei foi a forma
como se conseguiu este movimento grandioso e apartidário, através do facebook. Foi a
primeira vez que vi tão grande movimento sem partidos, sem sindicatos, sem
organizações oficiais, é por tudo isto que a juventude está de facto á rasca.

Mas é sobretudo uma contestação que escapou ao "controlo de todos" que fez com que a
geração à rasca tivesse "quase tudo" para se tornar num "marco histórico", com
demonstração da força e entusiasmo que não precisou de um aparelho nem discursos
desgastados e decadentes.

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