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LICENCIATURA EM DIREITO

DIREITO ADMINISTRATIVO
Ficha de trabalho II (ato administrativo)

I)

António, proprietário de uma farmácia no Município de Montalegre, fez um


pedido, à Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, IP, de transferência
da sua farmácia para uma nova área daquele município. De acordo com o disposto no
artigo 2º, n.º 2, da Portaria n.º 1430/2007, a localização de uma farmácia deve respeitar
uma distância mínima de 100 metros do centro de saúde. Suponha que a Autoridade
Nacional indeferiu o pedido de António e que este, inconformado, pretende reagir
alegando os seguintes fundamentos:
a) O ato que indefere o seu pedido de transferência é nulo, pois viola de forma
flagrante o artigo 2.º, da Portaria n.º 1430/2007, uma vez que a localização
pretendida para a sua farmácia está afastada em pelo menos 200 metros do
centro de saúde Montalegre.
b) O ato que indefere o seu pedido de transferência é inválido, pois dele não
constava qualquer fundamentação;
c) O ato que indefere o seu pedido de transferência é anulável, pois viola o seu
direito de propriedade sobre a farmácia.

II)
Por deliberação da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, de 17 de
Abril de 2014, João viu deferido, com condicionantes, o seu pedido de licenciamento da
construção de um edifício plurifamiliar e comércio. Em 14 de março de 2015, foi
solicitada a respetiva emissão do alvará de licença de construção. Na sequência de uma
reclamação apresentada pelos vizinhos de João, em 14 de abril de 2015, a Câmara
Municipal de Vila Real de Santo António decidiu anular a sua deliberação de 20 de abril,
de 2015, por entender que a mesma violava diversas normas do Regime Jurídico da
Urbanização e da Edificação (RJUE). João entende que esta decisão de anulação da
deliberação de 17 de abril, é ilegal porquanto:
a) A Câmara não podia em 20 de abril de 2015, anular a sua deliberação de 17 de
abril de 2014;
b) Além disso, João nunca foi ouvido no procedimento que levou à anulação da
decisão de 17 de abril de 2014;
c) Quando muito, a Câmara poderia ter revogado a sua deliberação de 17 de abril de
2014, mas nunca anulado.

III)

Joaquim, cidadão guineense, foi notificado em 04.12.2014 do despacho do Diretor


Nacional Adjunto do SEF que, terminando o «processo de expulsão
nº32/2011», determinou o seu «afastamento coercivo» do território nacional português,
bem como lhe interditou a entrada no mesmo pelo período de 5 anos. Não se conformando
com a decisão de expulsão, Joaquim pretende reagir invocando os seguintes fundamentos:
a) A decisão de expulsão padece de um vício gravíssimo, uma vez que o afasta
irremediavelmente do seu filho menor, violando o direito fundamental de não
afastamento dos filhos dos pais, previsto no artigo 36.º, da CRP.
b) Procurou afincadamente juntar documentos de prova no procedimento que
conduziu à sua expulsão, mas disso foi impedido pelo órgão responsável pela
direção do procedimento que entendeu que tais documentos eram meramente
dilatórios;
c) Por diversas vezes solicitou informações ao órgão responsável pela direção do
procedimento, mas nunca obteve qualquer resposta.

IV)

Por despacho de 16/1/2015, o Diretor Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira,


indeferiu o pedido de Maria de admissão ao concurso interno de acesso misto para a
categoria de assistente administrativo especialista, da carreira de assistente
administrativo, aberto por Aviso (extrato) nº 6329/14, publicado no DR, II série, de
2/11/2014. Não se conformando com a decisão do Diretor-Geral, Maria decidiu impugnar
aquele despacho alegando os seguintes fundamentos:
a) O despacho é nulo, porquanto não foi, como deveria ter sido, afixado no seu local
de trabalho;
Resolução:
Requisitos de validade do ato ≠ requisitos de eficácia.
O desrespeito dos requisitos de validade conduz à invalidade da decisão. O
desrespeito dos requisitos de eficácia conduz à ineficácia da decisão.
Na alínea a) o que está em causa não é um requisito de validade mas um requisito
de eficácia. No procedimento administrativa, á uma fase complementar que é a
ultima fase do procedimento que é constituída por atos que visam conferir eficácia
à decisão tomada no procedimento.
As regras quanto à eficácia do ato administrativo constam dos art.º 155.º a 160
CPA. Regra geral o ato produz efeitos a partir da data em que é praticado – 155
n1 CPA. No entanto, o ato pode produzir efeitos retroativos ou efeitos diferidos-
156.º e 157.º CPA. O art.º 157.º diz-nos quando é que o ato tem eficácia diferida:
 Quando estiver dependente de aprovação ou referendo;
 Quando os seus efeitos dependerem de termo ou condição inicial;
 Quando os seus efeitos pela natureza do ato dependam de um tramite
procedimental posterior e que não respeite à validade do ato.
O tramite procedimental posterior de que pode depender a eficácia do ato pode
consistir na publicação do ato – 158 e 158 CPA- ou pode consistir na notificação do ato
– 160 CPA. No caso se a lei fizer depender a eficácia do ato de uma publicação no local
de trabalho e este não tendo sido publicado no local de trabalho, Maria apenas poderá,
com base neste argumento, suscitar a ineficácia do ato e não a sua invalidade. Em todo o
caso, tratando-se de um ato que restringe interesses da Maria, sempre estaria sujeito a
notificação, nos termos do art.º 160.º e 111.º a 114.º CPA.

b) Ainda que não se entenda que o despacho padece de uma nulidade, seria sempre
anulável por violar o princípio da igualdade;
Resolução:
Requisitos de validade do ato administrativo:
 Requisitos subjetivos - relacionados com os sujeitos
 Requisitos objetivos- relacionados com o conteúdo e objeto da decisão
 Requisitos formais- formas e formalidades
 Requisitos funcionais- fim do ato
No caso a Maria diz que o ato viola o principio da igualdades, ou seja, o conteúdo
decisório viola o principio da igualdade e, portanto, trata-se de um requisito objetivo.
Falta um requisito de validade quanto ao conteúdo. A violação do principio da igualdade
por parte do conteúdo do ato gera um vicio de violação de lei, que neste caso, conduz à
anulabilidade, nos termos do art.º 163.º n.º1 CPA.

c) A impugnação, junto dos tribunais, no dia 20/2/2015, foi tempestivamente


interposta, uma vez que a decisão do Diretor-Geral ainda era, nessa data,
impugnável. (pergunta deste género não sai no teste)
Resolução:
Regime da anulabilidade ≠ regime da nulidade:
A nulidade é invocável a todo o tempo, em regra. A anulabilidade tem prazos para poder
ser invocada pelos interessados. Se a anulabilidade não for invocada pelos interessados
no prazo legal, o ato torna-se inatacável, só podendo ser anulado pela administração
oficiosamente e dentro dos condicionalismo do art.º 168.º CPA.
Para invocar a anulabilidade do ato, os interessados podem fazê-lo de duas formas:
 Através de impugnação jurisdicional: impugnando a decisão no prazo de 3 meses
no tribunal administrativo
 impugnando administrativamente através da reclamação ou recurso. A
reclamação no prazo de 15 dias. O recuso dentro de 30 dias ou 3 meses, consoante
seja necessário pu facultativo.
no caso de a maria pretendia impugnar no tribuna administrativo a decisão tinha
o prazo de 3 meses a contar da sua notificação par o fazer – art.º 58.º CPTA.

V)
António, técnico superior jurista do quadro do SMAS do município do Porto, foi
nomeado Diretor do Departamento Financeiro e de Aprovisionamento dos SMAS, em
regime de substituição e por um período de 6 meses, tendo o conselho de administração
dos SMAS prorrogado posteriormente a nomeação «até ao preenchimento do lugar por
via do concurso».
Tendo em conta que por deliberação 8/4/2015, o Conselho de Administração do
SMAS do Porto fez cessar o regime de substituição em que aquele se encontrava nomeado
no cargo de Diretor, imagine que António considerando-se vítima de um saneamento
político, vem colocar-lhe as seguintes questões:

a) Se a decisão que cessa a nomeação está devidamente fundamentada, uma


vez que só invoca como razão o facto de o «conselho de administração
considerar essencial e urgente introduzir alterações significativas na
estrutura, no modo de funcionamento e na cultura dos serviços» não
invocando mais nenhuma razão; e no caso negativo se o ato padece de
algum vício e qual o tipo de invalidade a que conduz.
b) Se o facto de o parecer dado pela procuradoria jurídica da Câmara se ter
pronunciado contra a cessação da nomeação de António tem relevância
quanto à validade da decisão que veio a ser tomada; e em caso afirmativo
se o ato padece de algum vício e qual o tipo de invalidade a que conduz.
c) Se a decisão que o havia nomeado é constitutiva de um direito, uma vez
que integra um termo e pressupõe o exercício do cargo até ao desfecho do
concurso, não sendo, por isso, passível de revogação – e muito menos sem
audiência prévia; e em caso afirmativo qual o vício de que padece e qual
o tipo de invalidade a que conduz o segundo ato.

VI)
JOÃO, tendo apresentado a sua candidatura ao concurso externo de admissão a
estágio, para três lugares, de técnico de 2.ª classe, na área de Relações
Públicas/Marketing, foi notificado, em 8.4.2015, da decisão do Presidente do Instituto
Politécnico de Leiria, de homologação da lista de classificação final, na qual surge
ordenado em quarto lugar. Neste contexto, pressuponha que JOÃO, suspeitando que
aquela decisão padece de diversos vícios, lhe vem pedir conselho. Mencione, pois,
justificando legal e doutrinalmente, a solução a apontar:
a) Que o ato é nulo, uma vez que nunca fora ouvido em audiência prévia, bem como
nenhum dos outros 20 licenciados em Comunicação Social que também foram
opositores ao mesmo concurso.
Resolução:
Requisito de validade. é um requisito formal o que não se verifica porque está relacionado
com uma exigência procedimental que é a fase da audiência dos interessados – 121.º a
125.º CPA. A audiência dos interessados é uma face obrigatória do procedimento, no
entanto há situações em que pode ser dispensada – 124.º n.º1 CPA. Para saber se houve
ou não violação do direito de João temos que verificar se a audiência podia ou não ter
sido dispensada. No caso, entende-se que sim, pois eram vários os interessados o que
fazia com que a audiência fosse impraticável. No entanto, 20 não é um numero excessivo
de interessados, mas se o fosse a administração deveria ter realizado uma consulta
publica, o que não fez. Há um vicio de forma. Em regra a falta da audiência gera a
anulabilidade da decisão exceto se:
 Se está em causa o direito da audiência que vem consagrado na CRP, no catalogo
dos direitos fundamentais -art.º 32.º n.º5-, nestes caos porque se trata de um
direito, liberdade e garantias, a jurisprudência tem vindo a aceitar que a falta de
audiência gera nulidade
 Quando no procedimento está em causa um exercício de um direito fundamental,
e a audiência não é realizada, também conduz à nulidade.

b) Que a decisão é nula, padecendo de um vício de forma, porque não traz aposta
uma fundamentação suficientemente clara.
Resolução:
Neste caso está em causa a fundamentação do ato de homologação, e estes não têm que
ser fundamentados, mas sim a proposta.

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