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0001
Márcia Sgarbieiro*
Jussara Ayres Bourguignon**
Abstract: This article presents discusses research methods in the Social Sciences.
To this end, the work of authors such as Émile Durkheim, Max Weber and Karl Marx
who discuss the modern thought are considered. Durkheim with his comparative
method based on positivistic ideas; Weber with his “understanding” method; and
Marx with his materialistic dialectical method. These authors have influenced
research in the Social Sciences. The article also reflects about the concept of
research methodology based on Minayo (2007) that considers that in the process
of investigation the methodology derives from the relation between subject and
object guided by clear and precise theoretical support.
Keywords: Method. Research. Social Science.
* Assistente Social. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Docente do departa-
mento de Serviço Social da UEPG. Ponta Grossa, Paraná, Brasil. E-mail: marcia.sgarbieiro@yahoo.com.br
** Assistente Social. Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Docente da graduação
em Serviço Social e mestrado em Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ponta Grossa, Paraná,
Brasil. E-mail: jubourg@yahoo.com.br
[...] uma sensação é tanto mais objetiva quan- Nessa perspectiva, o juízo de valor deve
to maior a fixidez do objeto ao qual ela se ser considerado na análise do pesquisador. O
relaciona; pois a condição de toda objetivida- cientista deve, portanto, “distinguir com o má-
de é a existência de um ponto de referência, ximo rigor entre os enunciados que exprimem
constante e idêntico, ao qual a representação
um ‘conhecimento empírico’ e os que exprimem
pode ser relacionada e que permite tudo o
que ela tem de variável, portanto, de subjeti-
‘juízos de valor’”. (COHN, 1997, p. 22). Weber
vo. (DURKHEIM, 1995, p. 45). acreditava “que a validade do conhecimento obti-
do se mede pelo confronto com o real e não com
Por essa razão, segundo a lógica de quaisquer valores ou visões do mundo.” (COHN,
Durkheim, o essencial na história não modifica, 1997, p. 22). Mas isso não é tudo. Existe, sim,
para garantir mais objetividade. Quanto mais fixo uma validade dos valores, quando esses
for o ponto de partida, o ponto de referência, mais
[...] orientam a escolha do objeto, a direção da
objetiva será a análise.
investigação empírica, aquilo que é importan-
te e acessório, o aparelho conceitual utilizado
3 Max Weber e a problemática de pesquisa e questões que
se colocam ou não à realidade [...] Contudo,
Segundo Cuin e Gresle (1994, p. 87), “Max se os valores orientam a eleição das ques-
Weber é hoje considerado – e com razão – o tões, Weber postula a necessidade da neu-
maior sociólogo que a Alemanha produziu”. Essa tralidade axiológica quando do encaminha-
afirmação se baseia no fato de “que ele conse- mento das respostas: elas devem ser neutras,
guiu dar à sociologia um quadro conceitual”. Isso já que a pesquisa deve caminhar por regras
porque Weber era conhecido pela “intensidade objetivas e universais. Os pressupostos da
da dedicação à pesquisa e à reflexão metodoló- pesquisa são subjetivos, mas os resultados
gica”. Sua dedicação o fez ser conhecido como devem ser válidos e objetivamente aceitáveis.
(BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 34).
um dos grandes pensadores das Ciências So-
ciais modernas Assim, segundo Weber, os valores do
Quanto à postura teórica de Weber, seu pesquisador (o que é subjetivo) devem orientar o
nome está ligado: início da pesquisa, suas escolhas e a direção que
À formulação de um conceito básico para a irá tomar. Mas no processo de análise e resposta
análise histórico-social: o “tipo ideal”. Trata-se da pesquisa, a neutralidade deve prevalecer para
de recurso metodológico para ensejar a orien- garantir respostas objetivas à realidade.
tação do cientista no interior da inesgotável Weber também negava a utilização de
variedade de fenômenos observáveis na vida um mesmo método para as Ciências Sociais
social. Consiste em enfatizar determinados e Naturais. Verificamos isso na citação abaixo:
traços da realidade. (COHN, 1997, p. 8).
No campo das ciências sociais, [...] o que nos
Uma questão metodológica muito impor- interessa é o aspecto qualitativo dos fatos. [...]
tante em Weber é que ele acreditava na neutra- Nas ciências sociais, se trata da intervenção
lidade2 das Ciências Sociais, ou seja, “O cientista de fenômenos espirituais, cuja “compreen-
deve abster-se de qualquer juízo de valor na sua são” por revivência constitui uma tarefa es-
análise, precisamente porque enquanto cientista pecificamente diferente da que poderiam, ou
quereriam, resolver as fórmulas do conheci-
não lhe cabe reivindicar um caráter imperativo
mento exato da natureza. (WEBER, 1997, p.
para as suas conclusões”. (COHN, 1997, p. 19). 90, grifos do autor).
a) porque o conhecimento de leis sociais não de que se utiliza; e quanto ao modo de utilizá-
é um conhecimento do socialmente real, mas los, o investigador encontra-se evidentemente
unicamente um dos diversos meios auxiliares ligado às normas de nosso pensamento.
que o nosso pensamento utiliza para esse Porque só é uma verdade científica aquilo que
efeito, e pretende ser válido para todos os que querem
a verdade. (WEBER, 1997, p. 100, grifos do
b) porque nenhum conhecimento dos acon- autor).
tecimentos culturais poderá ser concebido
senão com base na significação que a reali- Os valores que dominam um investigador
dade da vida, sempre configurada de modo de uma época dão a direção do método utilizado
individual, possui para nós em determinadas na pesquisa. Mas não podemos dizer que o que
relações singulares. (grifos do autor). é válido para um investigador não é válido para
A mente humana não absorve o real, mas outro. Só pode ser considerado verdade aquilo
sim o que ela própria seleciona do real. Aqui que é válido para toda a comunidade científica.
também entra a questão da individualidade, pois Mas o que foi verdade científica numa
cada pesquisador pode absorver a realidade com determinada época, pode sofrer modificações
algumas diferenças em relação aos demais. Isso e não ser mais válido para a época posterior.
justifica o apelo de Weber para deixar os valores Mesmo que a ideia original ainda continue por
de lado e promover um distanciamento entre o consequência, ou influência, com o passar do
pesquisador e a realidade; o recurso à neutra- tempo ela se modifica. Isso dá uma ideia de
lidade. Quanto à questão dos valores, Weber linearidade histórica. Essa ideia linear é bem
(1997, p. 98, grifos do autor) escreve: diferente da ideia de Marx, que via o processo
histórico contraditório e dialético em relação ao
Por certo que sem as idéias de valor do in- modo de produção capitalista.
vestigador não existiria qualquer princípio
de seleção nem conhecimento sensato do
real singular e, assim como sem a crença do 4 Karl Marx
pesquisador na significação de um conteúdo Marx, por meio de sua produção marcada
cultural qualquer, resultaria completamente
pelo método histórico dialético, apresenta uma
desprovido de sentido todo o estudo do co-
nhecimento da realidade individual, também
nova concepção de conhecimento.
a orientação da sua convicção pessoal e a A produção das idéias, das representações
difração dos valores no espelho da sua alma e da consciência está, a princípio, direta e
conferem ao seu trabalho uma direção. E os intimamente ligada à atividade material e ao
valores a que o gênio científico refere os ob- comércio material dos homens; ela é a lin-
jetos da sua investigação poderão determinar guagem da vida real. As representações,
a “concepção” que se fará de toda uma épo- o pensamento, o comércio intelectual dos
ca. Isto é, não só poderão ser decisivos para homens aparecem [...] ainda como a ema-
aquilo que, nos fenômenos, se considera “va- nação direta de seu comportamento material.
liosos”, mas ainda para o que passa por ser (MARX; ENGELS, 1989, p. 20).
significativo ou insignificante, “importante” ou
“secundário”. É a atividade material que determina as
ideias, e não o contrário. O mesmo acontece
Weber admite que os valores do pesqui-
com a produção intelectual.
sador deem uma direção individual à pesquisa.
Esses valores também podem mostrar carac- São os homens que produzem suas
terísticas específicas de cada época histórica representações, suas idéias etc., mas os
diferente. homens reais, atuantes, tais como são con-
dicionados por um determinado desenvol-
Apenas as idéias de valor que dominam o vimento de suas forças produtivas e das
investigador e uma época podem determinar relações que a elas correspondem, inclusive
o objeto do estudo e os limites desse estudo. as mais amplas formas que estas podem
No que se refere ao método da investigação – tomar. (MARX; ENGELS, 1989, p. 20).
o “como” – é o ponto de vista dominante que
determina a formação dos conceitos auxiliares
visão do que é mais aparente em relação a tal abstrato – porque genérico – para consti-
país. tuir-se como compreensão em termos de
Marx (2003, p. 247) continua: essência, tendo em vista que, no processo de
análise do mesmo, o sujeito foi conhecendo
[...] através de uma determinação mais pre- as determinações que o constituem. (grifos da
cisa, através de uma análise, chegaríamos a autora)
conceitos cada vez mais simples; do concreto
figurado passaríamos a abstrações cada vez É o que Marx (2003) chama de “síntese
mais delicadas até atingirmos as determina- de múltiplas determinações”. No começo só se
ções mais simples. conhecia a aparência, o caótico; depois de se
analisarem vários determinantes com relação
A partir de aproximações sucessivas à ao fenômeno dado, é possível conhecer mais
realidade se apreendem aspectos que particu- esse fenômeno, chegando-se a elementos sen-
larizam os fenômenos de estudo. O que Marx síveis. Quando se pensa nesse novamente, já
chama de conceitos “mais simples”, na verdade, se conhecem muitos outros elementos sobre tal
são conceitos mais precisos. Munhoz (2006, p. fenômeno. A isso se chama método do abstrato
27) explica muito bem a citação de Marx: ao concreto, porque “o concreto é concreto por
[...] mas..., através de uma análise, precisan- ser a síntese de múltiplas determinações, logo,
do os elementos que o compõem, chega-se unidade da diversidade”. (MARX, 2003, p. 248).
a conceitos “mais simples” (porque mais pre- O método dialético possibilita revelar o
cisos), onde os elementos constituintes do processo contraditório e complexo que cerca o
fenômeno estarão mais e melhor delimitados; objeto, estudando o contexto e fugindo da for-
vai-se chegando, assim, aos poucos, a “abs- malidade. Nessa perspectiva, também merece
trações cada vez mais delicadas”. (grifos da
destaque a relação sujeito e objeto. Sobre isso
autora).
Kuenzer (1998, p. 60) escreve:
A cada aproximação, como a citada acima, [...] o marxismo relaciona sujeito e objeto
chega-se mais perto da essência do fenômeno na base real em que eles são unificados na
estudado: “o estudioso vai obtendo uma per- história: o movimento do pensamento ocorre
cepção mais clara e precisa dos elementos que através da atividade histórica do homem em
constituem o fenômeno.” (MUNHOZ, 2006, p. seu conjunto, havendo uma coincidência ple-
27). Não que se alcance o resultado final, uma na entre sujeito e objeto; através da prática,
verdade inquestionável, mas uma aproximação no transcurso da história, vão se constituin-
mais precisa da realidade. do, através da relação, o sujeito enquanto
Depois desse percurso é preciso voltar ao objetivado, e o objeto enquanto subjetivado,
deixando de ser objeto em si. Assim, o pen-
elemento inicial, como no exemplo citado por
samento torna-se objetivo, e as leis do pensa-
Marx, a população de um determinado país. Marx mento coincidem com as leis do objeto.
(2003, p. 247) continua:
O movimento do pensamento objetiva a
[...] seria necessário caminhar em sentido
unidade sujeito/objeto através da atividade hu-
contrário até chegar finalmente de novo à
população, que não seria, desta vez, a repre- mana, quando o homem incide sobre o objeto,
sentação caótica de um todo, mas uma rica no decorrer da história.
totalidade de determinações e de relações O método materialista dialético utiliza
numerosas. categorias como totalidade, mediação e contra-
dição. Esses são elementos fundamentais para
Munhoz (2006, p. 27) explica: entender os processos sociais.
Então, aquele concreto figurado (em princí- Com relação à categoria totalidade, Kosík
pio sensível, que se pode ver, quantificar às (1976, p. 33) escreve que essa
vezes até, mas que mesmo assim é abstra-
[...] compreende a realidade nas suas íntimas
to porque não conhecido na sua essência,
leis e revela, sob a superfície e a causalidade
no porquê de sua existência), vai se tor-
dos fenômenos, as conexões internas, neces-
nando cada vez mais percebido, no seu
sárias, coloca-se em antítese à posição do
íntimo, pelo estudioso; vai deixando de ser
Os fatos aqui são compreendidos no lu- [...] os fatos isolados são abstrações, são mo-
gar que ocupam na realidade social e com as mentos artificialmente separados do todo, os
quais só quando inseridos no todo correspon-
relações que estabelecem com os outros fatos
dente adquirem verdade e concreticidade. Do
e o todo. Mas não podemos esquecer que: “a
mesmo modo, o todo de que não foram dife-
totalidade, não são, por conseguinte, todos os renciados e determinados os momentos é um
fatos, o conjunto dos fatos, o agrupamento de todo abstrato e vazio.
todos os aspetos, coisas e relações.” (KOSÍK,
1976, p. 36). O todo e a parte estão intimamente co-
nectados e um explica o outro no movimento
A dialética da totalidade concreta não é um dialético. Da mesma forma, o objeto de estudo é
método que pretenda ingenuamente conhe-
explicado pelos aspectos nos quais está inserido.
cer todos os aspectos da realidade, sem ex-
ceções, e oferecer um quadro “total” da re-
O objeto é também considerado a partir
alidade, na infinidade dos seus aspectos e das mediações e transformações abrangentes.
propriedades; é uma teoria da realidade e do Com relação à categoria mediação, Bottomore
conhecimento que dela se tem como realida- (2001, p. 263) escreve que “refere-se ao esta-
de. A totalidade concreta não é um método belecimento de conexões por meio de algum
para captar e exaurir todos os aspectos, ca- intermediário”. Para Pontes (2007, p. 78), “as
racteres, propriedades, relações e processos mediações são as expressões históricas das
da realidade; é a teoria da realidade como to- relações que o homem edificou com a natureza
talidade concreta. (KOSÍK, 1976, p. 36, grifos e consequentemente das relações sociais daí
do autor).
decorrentes, nas várias formações sócio-huma- [...] assim, o pensamento deverá mover-
nas que a história registrou”. Nesse processo, -se durante o transcurso da investigação,
o homem se relaciona com a natureza e cria entre os pólos dialeticamente relacionados,
mediações para essa relação: buscando compreender onde e como se in-
cluem/excluem, desaparecem ou originam
[...] as mediações criadas historicamente na uma nova realidade; internacionalização/
complexa relação homem-natureza são in- nacionalização, globalização/regionalização;
dicadores seguros e fecundos, do ponto de padronização/criatividade, centralização/
vista histórico-social, porque efetivamente descentralização, ampliação/fragmentação,
constituem-se na expressão concreta do en- educação/deseducação, qualificação/des-
volver do processo de enriquecimento huma- qualificação, humanização/desumanização,
no, na sua dinâmica de objetivar-se no mundo especialização/politecnia, autonomia/domina-
e incorporar tais objetivações; na sua saga de ção, adesão/resistência, unilateralidade/omni-
buscar mediações cada vez menos “degra- lateralidade, conservação/transformação [...]
dadas e bárbaras” e cada vez mais humano- (KUENZER, 1998, p. 65)
-igualitárias [...] (PONTES, 2007, p. 79).
O pensamento deve mover-se entre os po-
Segundo o autor, a mediação é categoria los contrários, mas relacionados. Não se buscam
constitutiva das relações humanas historicamen- explicações lineares que acabem com as tensões
te construídas. Quando estamos estudando um dos contrários, mas captar-se o movimento do
determinado objeto, o isolamos do todo para fins real, com suas múltiplas determinações.
didáticos. Mas o isolamento ocorre apenas para
se conhecê-lo. Não podemos deixar de lado as
5 Considerações Finais
mediações que compõem esse objeto.
Segundo Minayo (2007a), o conceito de
[...] embora para conhecer seja necessário metodologia é assunto controverso. A autora
uma cisão no todo, isolando os fatos a se-
considera teoria e método dois elementos in-
rem pesquisados e tornando-os relativamente
independentes, é preciso ter clareza de que separáveis, “devendo ser tratados de maneira
esta cisão é um recurso apenas para fins de integrada e apropriada quando se escolhe um
delimitação e análise do campo de investiga- tema, um objeto, ou um problema de investiga-
ção; no contexto do real nada é isolado [...] ção”. (MINAYO, 2007a, p. 44).
(KUENZER, 1998, p. 65). Minayo (2007a, p. 44) pondera a metodo-
logia de maneira abrangente:
Assim, a categoria da mediação tem o
importante papel de buscar as mediações que (a) como a discussão epistemológica sobre
compõem o todo no qual o objeto está inserido. o “caminho do pensamento” que o tema ou
A mediação tem ligação com a relação de con- o objeto de investigação requer; (b) como a
trários. Sobre a categoria contradição a relação apresentação adequada e justificada dos mé-
todos, das técnicas e dos instrumentos opera-
de contrários não precisa necessariamente se
tivos que devem ser utilizados para as buscas
anular. Nessa perspectiva, Kuenzer (1998, p. relativas às indagações da investigação; (c) e
65) escreve: como o que denominei “criatividade do pes-
[...] a pesquisa deverá buscar captar a todo quisador”, ou seja, a sua marca pessoal e es-
momento o movimento, a ligação e a unida- pecífica na forma de articular teoria, métodos,
de resultante da relação dos contrários, que achados experimentais, observacionais ou de
ao se opor dialeticamente, um incluindo-se/ qualquer outro tipo específico de resposta às
excluindo-se do outro, se destroem ou se su- indagações científicas. (grifos da autora).
peram; as determinações mais concretas con-
Em outra obra, a autora escreve:
tem, superando-as, as determinações mais
abstratas [...] Entendemos por metodologia o caminho do
pensamento e a prática exercida na abor-
A pesquisa deve captar o movimento e a dagem da realidade. Ou seja, a metodo-
ligação da relação de contrários. A autora con- logia inclui simultaneamente a teoria da
tinua: abordagem (o método), os instrumentos