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DOI: 10.5212/Emancipacao.v.11i1.

0001

Apontamentos acerca dos métodos de pesquisa


nas ciências sociais

Research methods in social sciences

Márcia Sgarbieiro*
Jussara Ayres Bourguignon**

Resumo: Este texto apresenta apontamentos acerca do método de pesquisa


nas Ciências Sociais. Para tanto, apoiamo-nos em três clássicos do pensamento
moderno: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Durkheim, com seu
método comparativo, baseado nas ideias positivistas; Weber, com seu método
compreensivo; e Marx, com seu método materialista dialético, influenciaram e
ainda influenciam as pesquisas nas áreas das Ciências Sociais. Ao final, refletimos
acerca da concepção de metodologia de pesquisa, baseada em Minayo (2007),
considerando que, no processo de investigação, a metodologia é construção
decorrente da relação sujeito/objeto, orientada por fundamentos teóricos claros
e precisos.
Palavras-chave: Método. Pesquisa. Ciências Sociais.

Abstract: This article presents discusses research methods in the Social Sciences.
To this end, the work of authors such as Émile Durkheim, Max Weber and Karl Marx
who discuss the modern thought are considered. Durkheim with his comparative
method based on positivistic ideas; Weber with his “understanding” method; and
Marx with his materialistic dialectical method. These authors have influenced
research in the Social Sciences. The article also reflects about the concept of
research methodology based on Minayo (2007) that considers that in the process
of investigation the methodology derives from the relation between subject and
object guided by clear and precise theoretical support.
Keywords: Method. Research. Social Science.

Recebido em: 15/11/2009. Aceito em: 01/09/2010.

* Assistente Social. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Docente do departa-
mento de Serviço Social da UEPG. Ponta Grossa, Paraná, Brasil. E-mail: marcia.sgarbieiro@yahoo.com.br

** Assistente Social. Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Docente da graduação
em Serviço Social e mestrado em Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ponta Grossa, Paraná,
Brasil. E-mail: jubourg@yahoo.com.br

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Márcia SGARBIEIRO; Jussara Ayres BOURGUIGNON

1 Introdução: Método de pesquisa científica científico, não eram procedimentos utilizados


para este fim na Grécia e na Idade Média.
O exercício da pesquisa exige clareza tanto
quanto aos fundamentos teóricos que orientam Nesse último período, a Idade Média, as
a investigação, como quanto aos procedimentos afirmações religiosas e a autoridade de alguns
e instrumentos que o pesquisador elege para a pensadores eram colocadas como critérios para
busca de elementos empíricos que elucidem a a aceitação científica.
problemática elaborada em torno de um objeto Pensamos na relação direta entre ciência e
bem delimitado e problematizado teoricamente. método, pois “o método [está] sujeito às mesmas
Chizzotti (2008, p. 20) alerta que: interferências, determinações e transformações
a que a ciência como um todo está sujeita”. (AN-
A pesquisa científica caracteriza-se pelo es-
forço sistemático de – usando critérios claros,
DERY et al., 2003, p. 15). Tanto o método quanto
explícitos e estruturados, com teoria, método a ciência dependem da relação com o momento
e linguagem adequada – explicitar ou compre- em que surgem e também das interferências que
ender os dados encontrados e, eventualmen- provocam e sofrem em diferentes momentos
te, orientar a natureza ou as atividades huma- históricos aos quais estão ligados.
nas. A pesquisa pressupõe teorias ou visões No processo de produção do conheci-
de mundo que, em diferentes domínios do co- mento, a metodologia é construção resultante
nhecimento, moldam a atividade investigativa da relação sujeito-homem/objeto-natureza, que
e auxiliam a pesquisa. se dá no processo de pesquisa, orientada pelo
Quanto ao método científico, Andery et al. método científico.
(2003, p.14-15) escrevem: No próximo tópico trataremos dos funda-
mentos metodológicos das Ciências Sociais a
O método científico é um conjunto de concep- partir dos clássicos Émile Durkheim, Max Weber
ções sobre o homem, a natureza e o próprio e Karl Marx. Ao final do texto abordaremos a
conhecimento, que sustentam um conjunto de nossa concepção de metodologia de pesquisa
regras de ação, de procedimentos, prescritos
com base em Minayo. (2007a, 2007b).
para se construir conhecimento científico [...]
O método científico é historicamente determi-
nado e só pode ser compreendido dessa for- 2 Émile Durkheim
ma. O método é o reflexo das nossas neces-
sidades e possibilidades materiais, ao mesmo Durkheim é considerado o responsável por
tempo em que nelas interfere. conseguir dar à Sociologia um caráter rigoroso
e científico e de teoria globalizante, que busca
Com base na citação acima, percebemos compreender, de forma disciplinada e metódica,
que o conhecimento, a ciência e a pesquisa o “fato social”,1 elevando a mesma à categoria
estão diretamente relacionados com o método de ciência.
científico, uma vez que o investigador faz uso de Quanto ao método de análise da realidade,
um suporte teórico e metodológico para produzir Durkheim (1995, p. 127) afirma:
conhecimento. O método, assim como o conhe-
cimento científico, é historicamente determinado, Temos apenas um meio de demonstrar que
ou seja, modifica-se historicamente ao passo um fenômeno é causa de outro: comparar os
casos em que eles estão simultaneamente
que o homem evolui. À medida que surgem
presentes ou ausentes e examinar se as
novas necessidades, surgem novos métodos variações que apresentam nessas diferentes
para supri-las. combinações de circunstâncias testemunham
Andery et al. (2003, p. 14) nos dão um que um depende do outro. Quando eles
exemplo de como o método é historicamente
construído:
1
Segundo Durkheim (2004, p. 52), “é fato social toda manei-
A observação e a experimentação, por exem-
ra de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo
plo, procedimentos metodológicos que pas- uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão
sam a ser considerados, a partir de Galileu de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria,
(século XVI), como teste para conhecimento independente das manifestações individuais que possa ter”. (gri-
fos do autor).

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podem ser artificialmente produzidos pelo A particularidade dos fenômenos é secun-


observador, o método é a experimentação dária. A autora ainda exemplifica que a diferença
propriamente dita. Quando, ao contrário, e a mudança que a história traz também são
a produção dos fatos não está à nossa secundárias. Apesar de Durkheim acreditar na
disposição e só podemos aproximá-los tais
objetividade da ciência, ele dá um papel impor-
como se produziram espontaneamente, o
método empregado é o da experimentação
tante ao investigador:
indireta ou método comparativo. De fato, apesar de negar o papel ativo do cien-
tista na investigação do real, Durkheim confe-
Segundo Dias (2005, p. 185),
re um sentido próprio à comparação: é ele (e
O método consiste em tomar todas as ma- não os dados) que afirma que da comparação
nifestações particulares do fenômeno sob se devem retirar os aspectos comuns, que se
investigação, compará-las e retirar as carac- repetem. Por que o que “salta aos olhos” não
terísticas comuns – comuns a todas. No iní- são as diferenças? (DIAS, 2005, p. 185).
cio da pesquisa parte-se das características
aparentes, atingindo-se, sempre pela compa-
É o cientista que tira da comparação os
ração, as características menos visíveis, mais aspectos comuns que se repetem. Durkheim
profundas. propunha estudar as sociedades mais simples
para buscar os aspectos que deveriam ser com-
Tomam-se primeiramente as característi- parados, e não as mais complexas. Dias (1995,
cas aparentes do fenômeno e, em seguida, as p. 187-188) ainda escreve que:
mesmas são submetidas à comparação. De-
[...] o fundamental é o que permanece; se
pois, buscam-se as características que sejam
assim é, então, o que muda é secundário. A
comuns a todos os fenômenos. Dias (2005, p. possibilidade de ida para a origem, momento
185) continua: privilegiado para detectar as determinações
Utiliza-se o método comparativo, na busca mais gerais presentes em sociedades mais
das semelhanças; pela indução chega-se ao complexas, indica que na história o funda-
geral – o geral é o que é comum, o que se mental não se altera. Reitera-se, pois, o ser
repete; produz-se a categoria geral por gene- secundário da mudança.
ralização. Se, por esse procedimento, cons-
troem-se os conceitos científicos; se, por esse
Para Durkheim, o que muda na história é
procedimento, definem-se os “fenômenos em o secundário, pois o fundamental não modifica.
geral”; então, por esse procedimento, retém- O que se altera, o que é particular a cada fenô-
-se o essencial, o fundamental. meno, é secundário na pesquisa.
Outra regra metodológica em Durkheim
No ato de comparar as características
diz respeito às sensações. Ele escreve que a
encontradas no processo com características
“sensação [é] matéria-prima necessária de todos
de outros fenômenos, utiliza-se o método com-
os conceitos”. (DURKHEIM, 1995, p. 44). É pela
parativo. E pelo método indutivo – do particular
sensação que se alcança o exterior das coisas.
para o geral – as características que são comuns
a todos os fenômenos constituem o geral. Para É da sensação que emanam todas as idéias
Durkheim, com as generalizações, constroem- gerais, verdadeiras ou falsas, científicas ou
-se os conceitos científicos. Assim se encontra o não. Portanto, o ponto de partida da ciência
ou conhecimento especulativo não poderia
essencial através de fenômenos que se repetem.
ser outro que o do conhecimento vulgar ou
O geral é o comum, a diferença é secundária.
prático. É somente além dele, na maneira
[...] o que diferencia as manifestações parti- pela qual essa matéria comum é elaborada,
culares é secundário, ou seja, a diferença que que as divergências começam. (DURKHEIM,
a história introduz é secundária; em suma, a 1995, p. 44).
mudança é secundária. A construção das ca-
Mas a sensação é subjetiva; então,
tegorias gerais desqualifica a diferença como
fundamental: importa o que, apesar da dife-
Durkheim afirma que o sociólogo deve tomar as
rença, é constante; o que, apesar da mudan- mesmas precauções que o físico e afastar os
ça, permanece. (DIAS, 2005, p. 186). dados que podem ser demasiados pessoais ao
observador.

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Márcia SGARBIEIRO; Jussara Ayres BOURGUIGNON

[...] uma sensação é tanto mais objetiva quan- Nessa perspectiva, o juízo de valor deve
to maior a fixidez do objeto ao qual ela se ser considerado na análise do pesquisador. O
relaciona; pois a condição de toda objetivida- cientista deve, portanto, “distinguir com o má-
de é a existência de um ponto de referência, ximo rigor entre os enunciados que exprimem
constante e idêntico, ao qual a representação
um ‘conhecimento empírico’ e os que exprimem
pode ser relacionada e que permite tudo o
que ela tem de variável, portanto, de subjeti-
‘juízos de valor’”. (COHN, 1997, p. 22). Weber
vo. (DURKHEIM, 1995, p. 45). acreditava “que a validade do conhecimento obti-
do se mede pelo confronto com o real e não com
Por essa razão, segundo a lógica de quaisquer valores ou visões do mundo.” (COHN,
Durkheim, o essencial na história não modifica, 1997, p. 22). Mas isso não é tudo. Existe, sim,
para garantir mais objetividade. Quanto mais fixo uma validade dos valores, quando esses
for o ponto de partida, o ponto de referência, mais
[...] orientam a escolha do objeto, a direção da
objetiva será a análise.
investigação empírica, aquilo que é importan-
te e acessório, o aparelho conceitual utilizado
3 Max Weber e a problemática de pesquisa e questões que
se colocam ou não à realidade [...] Contudo,
Segundo Cuin e Gresle (1994, p. 87), “Max se os valores orientam a eleição das ques-
Weber é hoje considerado – e com razão – o tões, Weber postula a necessidade da neu-
maior sociólogo que a Alemanha produziu”. Essa tralidade axiológica quando do encaminha-
afirmação se baseia no fato de “que ele conse- mento das respostas: elas devem ser neutras,
guiu dar à sociologia um quadro conceitual”. Isso já que a pesquisa deve caminhar por regras
porque Weber era conhecido pela “intensidade objetivas e universais. Os pressupostos da
da dedicação à pesquisa e à reflexão metodoló- pesquisa são subjetivos, mas os resultados
gica”. Sua dedicação o fez ser conhecido como devem ser válidos e objetivamente aceitáveis.
(BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 34).
um dos grandes pensadores das Ciências So-
ciais modernas Assim, segundo Weber, os valores do
Quanto à postura teórica de Weber, seu pesquisador (o que é subjetivo) devem orientar o
nome está ligado: início da pesquisa, suas escolhas e a direção que
À formulação de um conceito básico para a irá tomar. Mas no processo de análise e resposta
análise histórico-social: o “tipo ideal”. Trata-se da pesquisa, a neutralidade deve prevalecer para
de recurso metodológico para ensejar a orien- garantir respostas objetivas à realidade.
tação do cientista no interior da inesgotável Weber também negava a utilização de
variedade de fenômenos observáveis na vida um mesmo método para as Ciências Sociais
social. Consiste em enfatizar determinados e Naturais. Verificamos isso na citação abaixo:
traços da realidade. (COHN, 1997, p. 8).
No campo das ciências sociais, [...] o que nos
Uma questão metodológica muito impor- interessa é o aspecto qualitativo dos fatos. [...]
tante em Weber é que ele acreditava na neutra- Nas ciências sociais, se trata da intervenção
lidade2 das Ciências Sociais, ou seja, “O cientista de fenômenos espirituais, cuja “compreen-
deve abster-se de qualquer juízo de valor na sua são” por revivência constitui uma tarefa es-
análise, precisamente porque enquanto cientista pecificamente diferente da que poderiam, ou
quereriam, resolver as fórmulas do conheci-
não lhe cabe reivindicar um caráter imperativo
mento exato da natureza. (WEBER, 1997, p.
para as suas conclusões”. (COHN, 1997, p. 19). 90, grifos do autor).

As leis que regem as ciências da natureza


2
não poderiam reger as Ciências Sociais. Sobre
Com relação à questão da neutralidade científica, concorda-
mos com Japiassu (1975, p. 24-25), que defende: “Ela [atividade o método de apreensão do espírito humano (in-
científica] é uma atividade humana e social como qualquer outra. telecto) em relação aos elementos constitutivos
Está impregnada de ideologias, de juízos de valor, de argumentos
de autoridade, de dogmatismos ingênuos.” Cabe ao pesquisador,
das Ciências Sociais, segundo Weber (1997, p.
reconhecendo a impossibilidade da neutralidade, exercer a vigi- 96), os fenômenos espirituais evoluíram menos
lância rigorosa do conjunto de valores que interferem no processo para a formulação de leis:
de investigação da realidade.

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a) porque o conhecimento de leis sociais não de que se utiliza; e quanto ao modo de utilizá-
é um conhecimento do socialmente real, mas los, o investigador encontra-se evidentemente
unicamente um dos diversos meios auxiliares ligado às normas de nosso pensamento.
que o nosso pensamento utiliza para esse Porque só é uma verdade científica aquilo que
efeito, e pretende ser válido para todos os que querem
a verdade. (WEBER, 1997, p. 100, grifos do
b) porque nenhum conhecimento dos acon- autor).
tecimentos culturais poderá ser concebido
senão com base na significação que a reali- Os valores que dominam um investigador
dade da vida, sempre configurada de modo de uma época dão a direção do método utilizado
individual, possui para nós em determinadas na pesquisa. Mas não podemos dizer que o que
relações singulares. (grifos do autor). é válido para um investigador não é válido para
A mente humana não absorve o real, mas outro. Só pode ser considerado verdade aquilo
sim o que ela própria seleciona do real. Aqui que é válido para toda a comunidade científica.
também entra a questão da individualidade, pois Mas o que foi verdade científica numa
cada pesquisador pode absorver a realidade com determinada época, pode sofrer modificações
algumas diferenças em relação aos demais. Isso e não ser mais válido para a época posterior.
justifica o apelo de Weber para deixar os valores Mesmo que a ideia original ainda continue por
de lado e promover um distanciamento entre o consequência, ou influência, com o passar do
pesquisador e a realidade; o recurso à neutra- tempo ela se modifica. Isso dá uma ideia de
lidade. Quanto à questão dos valores, Weber linearidade histórica. Essa ideia linear é bem
(1997, p. 98, grifos do autor) escreve: diferente da ideia de Marx, que via o processo
histórico contraditório e dialético em relação ao
Por certo que sem as idéias de valor do in- modo de produção capitalista.
vestigador não existiria qualquer princípio
de seleção nem conhecimento sensato do
real singular e, assim como sem a crença do 4 Karl Marx
pesquisador na significação de um conteúdo Marx, por meio de sua produção marcada
cultural qualquer, resultaria completamente
pelo método histórico dialético, apresenta uma
desprovido de sentido todo o estudo do co-
nhecimento da realidade individual, também
nova concepção de conhecimento.
a orientação da sua convicção pessoal e a A produção das idéias, das representações
difração dos valores no espelho da sua alma e da consciência está, a princípio, direta e
conferem ao seu trabalho uma direção. E os intimamente ligada à atividade material e ao
valores a que o gênio científico refere os ob- comércio material dos homens; ela é a lin-
jetos da sua investigação poderão determinar guagem da vida real. As representações,
a “concepção” que se fará de toda uma épo- o pensamento, o comércio intelectual dos
ca. Isto é, não só poderão ser decisivos para homens aparecem [...] ainda como a ema-
aquilo que, nos fenômenos, se considera “va- nação direta de seu comportamento material.
liosos”, mas ainda para o que passa por ser (MARX; ENGELS, 1989, p. 20).
significativo ou insignificante, “importante” ou
“secundário”. É a atividade material que determina as
ideias, e não o contrário. O mesmo acontece
Weber admite que os valores do pesqui-
com a produção intelectual.
sador deem uma direção individual à pesquisa.
Esses valores também podem mostrar carac- São os homens que produzem suas
terísticas específicas de cada época histórica representações, suas idéias etc., mas os
diferente. homens reais, atuantes, tais como são con-
dicionados por um determinado desenvol-
Apenas as idéias de valor que dominam o vimento de suas forças produtivas e das
investigador e uma época podem determinar relações que a elas correspondem, inclusive
o objeto do estudo e os limites desse estudo. as mais amplas formas que estas podem
No que se refere ao método da investigação – tomar. (MARX; ENGELS, 1989, p. 20).
o “como” – é o ponto de vista dominante que
determina a formação dos conceitos auxiliares

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As forças produtivas dadas na realidade Nessa citação percebemos que a concep-


e seu desenvolvimento é que determinam as ção de fatos não se reduz a de coisas, como
representações e ideias dos seres humanos. escreve Durkheim, mas como algo complexo e
“A consciência nunca pode ser mais que o ser que se modifica ao longo do processo e relações
consciente.” (MARX; ENGELS, 1989, p. 20). históricas.
Marx é bem enfático na crítica à concepção Behring e Boschetti (2006, p. 32) escrevem
hegeliana, “que desce do céu para a terra, [...] que os fatos sociais
Não é a consciência que determina a vida, mas
[...] tenderão a certa superficialidade. Se a re-
sim a vida que determina a consciência”. (MARX;
alidade é o ponto de partida do processo de
ENGELS, 1989, p. 21). Essa “inversão” que Marx conhecimento, a descrição de processos e
promove afeta seu método de análise da reali- sua classificação poderão levar a uma repre-
dade. Buscaremos agora apresentar o método sentação caótica do todo e não à apreensão
materialista dialético proposto por Karl Marx. de sua lógica interna.
Segundo Behring e Boschetti (2006, p. 36),
Isto é, se a realidade social é anterior ao
[...] o método crítico-dialético traz uma solu- indivíduo, a análise pode ficar apenas na apa-
ção complexa e inovadora do ponto de vista rência dos fatos em detrimento da essência.
da relação sujeito-objeto: uma perspectiva re- Diferentemente do que veremos em Marx.
lacional, que foge ao empirismo positivista e Lembramos que existem muitos equívocos
funcionalista e ao idealismo culturalista. em relação à interpretação que se faz sobre a
Nessa fala, as autoras fazem um paralelo teoria social de Marx. Alguns afirmam que essa
entre as ideias positivistas de Comte, funciona- não corresponde à eficácia prevista. Como lem-
listas de Durkheim e o idealismo culturalista de bra Munhoz (2006, p. 26), a sua teoria pode ser
Weber. Entende-se que o método materialista criticada, mas não se pode negar a atualidade
dialético de Marx interpreta os fenômenos estu- do método do abstrato ao concreto para a “lei-
dados a partir de uma perspectiva de totalidade. tura dos mais diversos fenômenos da realidade
Com essa perspectiva, entendemos que o mé- humano social”.
todo marxista dialético nos revela o processo Nessa leitura da realidade, Munhoz (2006,
contraditório e complexo que cerca o objeto, p. 27) analisa como se dá esse processo. A au-
estudando o contexto e fugindo da formalidade. tora deixa claro que o
Para Netto (2004, p. 58), [...] fenômeno que se deseja conhecer (a
população de um determinado contexto, a
O procedimento metodológico próprio a essa
violência familiar, a ineficiência do poder ju-
teoria [marxiana] consiste em partir do empíri-
diciário, a educação fundamental, [...]), ini-
co (os “fatos”), apanhar as suas relações com
cialmente se dá ao sujeito como concreto
outros conjuntos empíricos, investigar a sua
figurado, como aparência, como visão ca-
gênese histórica e o seu desenvolvimento in-
ótica. É um concreto sensível (porque pode
terno e reconstruir no plano do pensamento
ser captado pelos sentidos mais imediatos),
todo esse processo. O circuito investigativo,
mas..., que ao mesmo tempo é um abstra-
recorrendo compulsoriamente à abstração,
to, porque, na verdade, pouco se sabe dele
retorna sempre ao seu ponto de partida – e,
(do fenômeno), num primeiro contato. (grifos
a cada retorno compreende-o de modo cada
da autora).
vez mais incluso e abrangente. Os “fatos”, a
cada nova abordagem, se apresentam como Os primeiros elementos do fenômeno que
produtos de relações históricas crescente- se quer conhecer aparecem como algo que pode
mente complexas e mediatizadas, podendo
ser captado pelos sentidos, algo ainda superfi-
ser contextualizados de modo concreto e in-
seridos no movimento maior que os engendra. cial, como abstrato, mas, nesse sentido, abstrato
A pesquisa, portanto, procede por aproxima- porque pouco se sabe dele. Marx (2003, p. 247)
ções sucessivas ao real, agarrando a história deixa claro que, para estudarmos um determi-
dos processos simultaneamente às suas par- nado país, “se começássemos pela população
ticularidades internas. (grifos do autor). teríamos uma visão caótica do todo”. Seria uma

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visão do que é mais aparente em relação a tal abstrato – porque genérico – para consti-
país. tuir-se como compreensão em termos de
Marx (2003, p. 247) continua: essência, tendo em vista que, no processo de
análise do mesmo, o sujeito foi conhecendo
[...] através de uma determinação mais pre- as determinações que o constituem. (grifos da
cisa, através de uma análise, chegaríamos a autora)
conceitos cada vez mais simples; do concreto
figurado passaríamos a abstrações cada vez É o que Marx (2003) chama de “síntese
mais delicadas até atingirmos as determina- de múltiplas determinações”. No começo só se
ções mais simples. conhecia a aparência, o caótico; depois de se
analisarem vários determinantes com relação
A partir de aproximações sucessivas à ao fenômeno dado, é possível conhecer mais
realidade se apreendem aspectos que particu- esse fenômeno, chegando-se a elementos sen-
larizam os fenômenos de estudo. O que Marx síveis. Quando se pensa nesse novamente, já
chama de conceitos “mais simples”, na verdade, se conhecem muitos outros elementos sobre tal
são conceitos mais precisos. Munhoz (2006, p. fenômeno. A isso se chama método do abstrato
27) explica muito bem a citação de Marx: ao concreto, porque “o concreto é concreto por
[...] mas..., através de uma análise, precisan- ser a síntese de múltiplas determinações, logo,
do os elementos que o compõem, chega-se unidade da diversidade”. (MARX, 2003, p. 248).
a conceitos “mais simples” (porque mais pre- O método dialético possibilita revelar o
cisos), onde os elementos constituintes do processo contraditório e complexo que cerca o
fenômeno estarão mais e melhor delimitados; objeto, estudando o contexto e fugindo da for-
vai-se chegando, assim, aos poucos, a “abs- malidade. Nessa perspectiva, também merece
trações cada vez mais delicadas”. (grifos da
destaque a relação sujeito e objeto. Sobre isso
autora).
Kuenzer (1998, p. 60) escreve:
A cada aproximação, como a citada acima, [...] o marxismo relaciona sujeito e objeto
chega-se mais perto da essência do fenômeno na base real em que eles são unificados na
estudado: “o estudioso vai obtendo uma per- história: o movimento do pensamento ocorre
cepção mais clara e precisa dos elementos que através da atividade histórica do homem em
constituem o fenômeno.” (MUNHOZ, 2006, p. seu conjunto, havendo uma coincidência ple-
27). Não que se alcance o resultado final, uma na entre sujeito e objeto; através da prática,
verdade inquestionável, mas uma aproximação no transcurso da história, vão se constituin-
mais precisa da realidade. do, através da relação, o sujeito enquanto
Depois desse percurso é preciso voltar ao objetivado, e o objeto enquanto subjetivado,
deixando de ser objeto em si. Assim, o pen-
elemento inicial, como no exemplo citado por
samento torna-se objetivo, e as leis do pensa-
Marx, a população de um determinado país. Marx mento coincidem com as leis do objeto.
(2003, p. 247) continua:
O movimento do pensamento objetiva a
[...] seria necessário caminhar em sentido
unidade sujeito/objeto através da atividade hu-
contrário até chegar finalmente de novo à
população, que não seria, desta vez, a repre- mana, quando o homem incide sobre o objeto,
sentação caótica de um todo, mas uma rica no decorrer da história.
totalidade de determinações e de relações O método materialista dialético utiliza
numerosas. categorias como totalidade, mediação e contra-
dição. Esses são elementos fundamentais para
Munhoz (2006, p. 27) explica: entender os processos sociais.
Então, aquele concreto figurado (em princí- Com relação à categoria totalidade, Kosík
pio sensível, que se pode ver, quantificar às (1976, p. 33) escreve que essa
vezes até, mas que mesmo assim é abstra-
[...] compreende a realidade nas suas íntimas
to porque não conhecido na sua essência,
leis e revela, sob a superfície e a causalidade
no porquê de sua existência), vai se tor-
dos fenômenos, as conexões internas, neces-
nando cada vez mais percebido, no seu
sárias, coloca-se em antítese à posição do
íntimo, pelo estudioso; vai deixando de ser

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empirismo, que considera as manifestações Mesmo porque a realidade não se esgota,


fenomênicas e causais, não chegando a atin- não existe método que dê conta de todos os
gir a compreensão dos processos evolutivos aspectos da realidade. Acerca da investigação
da realidade. dialética, Kosík (1976, p. 40) escreve que o
O método em Marx pretende considerar Princípio metodológico da investigação dialé-
os fenômenos a partir das conexões internas tica da realidade social é o ponto de vista da
e fugir do empirismo que trabalha com a causa totalidade concreta, que antes de tudo signi-
linear aparente, observando-os apenas na su- fica que cada fenômeno pode ser compreen-
perficialidade. dido como momento do todo. Um fenômeno
“O conceito dialético de totalidade é dinâ- social é um fato histórico na medida em que é
mico, refletindo as mediações e transformações examinado como momento de um determina-
do todo; desempenha, portanto, uma função
abrangentes, mas historicamente mutáveis, da
dupla, a única capaz de dele fazer efetiva-
realidade objetiva.” (BOTTOMORE, 2001, p.
mente um fato histórico [...] (grifo do autor).
381, grifo do autor). Nessa questão, a categoria
totalidade permeia o processo de interpretação Cada fenômeno é um momento do todo,
da realidade social ao considerar diferentes as- observado nas conexões que faz com a realida-
pectos dessa realidade. de. Existe um sentido duplo em relação ao fato
Kuenzer (1998) mostra como se dá a histórico no método dialético: o de definir a si
categoria totalidade, apontando como o objeto mesmo e ao todo.
de pesquisa ao mesmo tempo manifesta e é
Ser ao mesmo tempo produtor e produto; ser
manifestação das relações sociais presentes
revelador e ao mesmo tempo determinado;
no processo:
ser revelador e ao mesmo tempo decifrar a
[...] esta categoria implica na concepção da si mesmo; conquistar o próprio significado au-
realidade enquanto um todo em processo têntico e ao mesmo tempo conferir um sentido
dinâmico de estruturação e de autocriação, a algo mais. (KOSÍK, 1976, p. 40).
onde os fatos podem ser racionalmente com-
preendidos a partir do lugar que ocupam na
Esse movimento da parte e do todo acon-
totalidade do próprio real e das relações que tece ao mesmo tempo. Segundo Kosík (1976,
estabelecem com os outros fatos e com o p. 41), a separação da parte e do todo acontece
todo [...] (KUENZER, 1998, p. 64). artificialmente:

Os fatos aqui são compreendidos no lu- [...] os fatos isolados são abstrações, são mo-
gar que ocupam na realidade social e com as mentos artificialmente separados do todo, os
quais só quando inseridos no todo correspon-
relações que estabelecem com os outros fatos
dente adquirem verdade e concreticidade. Do
e o todo. Mas não podemos esquecer que: “a
mesmo modo, o todo de que não foram dife-
totalidade, não são, por conseguinte, todos os renciados e determinados os momentos é um
fatos, o conjunto dos fatos, o agrupamento de todo abstrato e vazio.
todos os aspetos, coisas e relações.” (KOSÍK,
1976, p. 36). O todo e a parte estão intimamente co-
nectados e um explica o outro no movimento
A dialética da totalidade concreta não é um dialético. Da mesma forma, o objeto de estudo é
método que pretenda ingenuamente conhe-
explicado pelos aspectos nos quais está inserido.
cer todos os aspectos da realidade, sem ex-
ceções, e oferecer um quadro “total” da re-
O objeto é também considerado a partir
alidade, na infinidade dos seus aspectos e das mediações e transformações abrangentes.
propriedades; é uma teoria da realidade e do Com relação à categoria mediação, Bottomore
conhecimento que dela se tem como realida- (2001, p. 263) escreve que “refere-se ao esta-
de. A totalidade concreta não é um método belecimento de conexões por meio de algum
para captar e exaurir todos os aspectos, ca- intermediário”. Para Pontes (2007, p. 78), “as
racteres, propriedades, relações e processos mediações são as expressões históricas das
da realidade; é a teoria da realidade como to- relações que o homem edificou com a natureza
talidade concreta. (KOSÍK, 1976, p. 36, grifos e consequentemente das relações sociais daí
do autor).

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Apontamentos acerca dos métodos de pesquisa nas ciências sociais

decorrentes, nas várias formações sócio-huma- [...] assim, o pensamento deverá mover-
nas que a história registrou”. Nesse processo, -se durante o transcurso da investigação,
o homem se relaciona com a natureza e cria entre os pólos dialeticamente relacionados,
mediações para essa relação: buscando compreender onde e como se in-
cluem/excluem, desaparecem ou originam
[...] as mediações criadas historicamente na uma nova realidade; internacionalização/
complexa relação homem-natureza são in- nacionalização, globalização/regionalização;
dicadores seguros e fecundos, do ponto de padronização/criatividade, centralização/
vista histórico-social, porque efetivamente descentralização, ampliação/fragmentação,
constituem-se na expressão concreta do en- educação/deseducação, qualificação/des-
volver do processo de enriquecimento huma- qualificação, humanização/desumanização,
no, na sua dinâmica de objetivar-se no mundo especialização/politecnia, autonomia/domina-
e incorporar tais objetivações; na sua saga de ção, adesão/resistência, unilateralidade/omni-
buscar mediações cada vez menos “degra- lateralidade, conservação/transformação [...]
dadas e bárbaras” e cada vez mais humano- (KUENZER, 1998, p. 65)
-igualitárias [...] (PONTES, 2007, p. 79).
O pensamento deve mover-se entre os po-
Segundo o autor, a mediação é categoria los contrários, mas relacionados. Não se buscam
constitutiva das relações humanas historicamen- explicações lineares que acabem com as tensões
te construídas. Quando estamos estudando um dos contrários, mas captar-se o movimento do
determinado objeto, o isolamos do todo para fins real, com suas múltiplas determinações.
didáticos. Mas o isolamento ocorre apenas para
se conhecê-lo. Não podemos deixar de lado as
5 Considerações Finais
mediações que compõem esse objeto.
Segundo Minayo (2007a), o conceito de
[...] embora para conhecer seja necessário metodologia é assunto controverso. A autora
uma cisão no todo, isolando os fatos a se-
considera teoria e método dois elementos in-
rem pesquisados e tornando-os relativamente
independentes, é preciso ter clareza de que separáveis, “devendo ser tratados de maneira
esta cisão é um recurso apenas para fins de integrada e apropriada quando se escolhe um
delimitação e análise do campo de investiga- tema, um objeto, ou um problema de investiga-
ção; no contexto do real nada é isolado [...] ção”. (MINAYO, 2007a, p. 44).
(KUENZER, 1998, p. 65). Minayo (2007a, p. 44) pondera a metodo-
logia de maneira abrangente:
Assim, a categoria da mediação tem o
importante papel de buscar as mediações que (a) como a discussão epistemológica sobre
compõem o todo no qual o objeto está inserido. o “caminho do pensamento” que o tema ou
A mediação tem ligação com a relação de con- o objeto de investigação requer; (b) como a
trários. Sobre a categoria contradição a relação apresentação adequada e justificada dos mé-
todos, das técnicas e dos instrumentos opera-
de contrários não precisa necessariamente se
tivos que devem ser utilizados para as buscas
anular. Nessa perspectiva, Kuenzer (1998, p. relativas às indagações da investigação; (c) e
65) escreve: como o que denominei “criatividade do pes-
[...] a pesquisa deverá buscar captar a todo quisador”, ou seja, a sua marca pessoal e es-
momento o movimento, a ligação e a unida- pecífica na forma de articular teoria, métodos,
de resultante da relação dos contrários, que achados experimentais, observacionais ou de
ao se opor dialeticamente, um incluindo-se/ qualquer outro tipo específico de resposta às
excluindo-se do outro, se destroem ou se su- indagações científicas. (grifos da autora).
peram; as determinações mais concretas con-
Em outra obra, a autora escreve:
tem, superando-as, as determinações mais
abstratas [...] Entendemos por metodologia o caminho do
pensamento e a prática exercida na abor-
A pesquisa deve captar o movimento e a dagem da realidade. Ou seja, a metodo-
ligação da relação de contrários. A autora con- logia inclui simultaneamente a teoria da
tinua: abordagem (o método), os instrumentos

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Márcia SGARBIEIRO; Jussara Ayres BOURGUIGNON

de operacionalização do conhecimento (as BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete.


técnicas) e a criatividade do pesquisador Política Social: fundamentos e história. São Paulo:
(sua experiência, sua capacidade pessoal e Cortez, 2006. (Biblioteca Básica de Serviço Social;
sua sensibilidade). A metodologia ocupa lugar v.2).
central no interior das teorias e está referida a
elas. (MINAYO, 2007b, p. 14). BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento
marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
Para Minayo, método é a “teoria da abor-
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em
dagem”. As uniões do método e das técnicas
Ciências Humanas e Sociais. 2. ed. Petrópolis:
utilizadas na pesquisa formam a metodologia, Vozes, 2008.
juntamente com a “criatividade do pesquisador”.
Percebemos que a figura do pesquisador e suas COHN, Gabriel. Introdução. In: FERNANDES,
particularidades são elementos essenciais no Florestan. (Coord.); COHN, Gabriel (Org.). Max
processo de pesquisa. O investigador mobiliza Weber. Sociologia. Tradução de Amélia Cohn e
elementos de sua subjetividade nesse processo. Gabriel Cohn. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997. (Coleção
Grandes Cientistas Sociais; 13).
Algumas particularidades do investigador, como
seus valores, seu potencial criativo, observação CUIN, Charles-Henry; GRESLE, François. História da
e vontade estão presentes e caracterizam o pro- Sociologia. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São
cesso metodológico da pesquisa. Minayo (2007a, Paulo: Ensaio, 1994. (Série Pequeno Formato;10).
p. 45-46) define o que chama de “criatividade do
DIAS, Cristina Maria Nogueira Parahyba. A sociologia
pesquisador”: como ciência em Durkheim. Revista Praia Vermelha.
Corresponde a sua experiência reflexiva, a Rio de Janeiro: UFRJ, n. 13, p. 174-205, segundo
sua capacidade pessoal de análise e de sín- semestre. 2005.
tese teórica, a sua memória intelectual, o seu
DURKHEIM, Émile. As regras do método
nível de comprometimento com o objeto, a
sociológico. Tradução de Paulo Neves. São Paulo:
sua capacidade de exposição lógica e a seus
Martins Fontes, 1995. (Coleção Tópicos).
interesses [...] Assim o que considero “criativi-
dade do pesquisador” diferencia os resultados _______. Objeto e método. In: FERNANDES,
das investigações, o que pode ser constatado Florestan. (Coord.); RODRIGUES, José Albertino
quando vários trabalhos têm os mesmos ob- (Org.). Émile Durkheim. Sociologia. Tradução:
jetos. Laura Natal Rodrigues. 9. ed. São Paulo: Ática, 2004.
(Coleção Grandes Cientistas Sociais; 1).
Por fim, enfatizamos que a pesquisa nas
Ciências Sociais desafia o pesquisador a bus- JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica.
car uma formação consistente em relação aos Rio de Janeiro: Imago, 1975. (Série Logoteca).
diferentes métodos que sustentam a reconstru- KOSÍK, Karel. Dialética do concreto. Tradução de
ção teórica dos objetos de investigação. Esses Célia Neves e Alderico Toríbio. 2. ed. Rio de Janeiro:
objetos apresentam, na sua singularidade, uma Paz e Terra, 1976.
complexidade sócio-histórica, exigindo rigor teó-
rico e um desenho metodológico flexível, capaz KUENZER, Acácia Zeneida. Desafios teórico-
de apreender essa complexidade. Enquanto metodológicos da relação trabalho-educação e o
papel social da escola. In: FRIGOTTO, Gaudêncio
construção, a metodologia não pode desvincular-
(Org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas
-se dos fundamentos teóricos que orientam o
de final de século. Petrópolis: Vozes, 1998.
pesquisador. Tais fundamentos alimentam o
processo da pesquisa como um todo e o próprio MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia
processo de formação do pesquisador. política. Tradução de Maria Helena Barreiro Alves.
3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção
Clássicos).
Referências
_______; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã.
ANDERY, Maria Amália et al. Para compreender a
Introdução de Jacob Gorender. Tradução de Luís
ciência: uma perspectiva histórica. 12. ed. Rio de
Cláudio de Castro e Costa. São Paulo: Martins Fontes,
Janeiro: Garamond; São Paulo: EDUC, 2003.
1989. (Coleção Novas Direções).

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MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do


conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10.
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_______. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e


criatividade. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2007b.

MUNHOZ, Divanir Eulália Naréssi. Entre a


universalidade da teoria e a singularidade dos
fenômenos: enfrentando o desafio de conhecer a
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NETTO, José Paulo. Marxismo impenitente:


contribuição à história das idéias marxistas. São
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PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço


Social: um estudo preliminar sobre a categoria teórica
e sua apropriação pelo Serviço Social. 4. ed. São
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WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento


nas Ciências Sociais. In: FERNANDES, Florestan.
(Coord.); COHN, Gabriel (Org.). Max Weber.
Sociologia. Tradução de Amélia Cohn e Gabriel Cohn.
6. ed. São Paulo: Ática, 1997. (Coleção Grandes
Cientistas Sociais; 13).

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