Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
O golpe e
a ditadura militar: 40 anos depois (1964-2004). Bauru, SP:Edusc, 2004.
Em 1974, dez anos depois de instaurada a ditadura, só foi possível falar com
liberdade sobre o assunto em encontros realizados no exílio.
Mais tarde, em 1984 e 1994, quando bateram os sinais dos 20 e dos 30 anos do
regime militar, a sociedade, embora tendo recobrado as liberdades democráticas, não
pareceu ainda muito propensa a debater o tema, como se estivesse mais inclinada a
esquecer do que a recordar.
“Em 2004, quarenta anos depois, pode-se constatar que o cerco do
esquecimento enfraqueceu-se. Multiplicaram-se as reportagens e os dossiês, os
seminários e os encontros.”
“Uma grata surpresa. Auditórios lotados, em todas as grandes cidades do país,
principalmente por gente jovem, querendo ouvir, ler, saber, participar das batalhas de
memórias, reapropriar-se criticamente do passado, o seu passado, o de seu país, para
situar-se melhor no presente e poder descortinar perspectivas de futuro.” DELGADO, Lucilia
de Almeida Neves
“Para um melhor entendimento sobre a produção do conhecimento histórico e
historiográfico há que se considerar ao menos dois tempos específicos: o referente ao
desenrolar dos acontecimentos e processos, e o relativo à produção de interpretações
e narrativas sobre esses mesmos acontecimentos e processos.”
Golpe de 64 estimulou inúmeras interpretações: “o olhar dos autores que a
analisam; os vínculos teóricos desses intérpretes e a época ou período nos quais
produziram sua interpretação.
- INTERPRETAÇÕES ESTRUTURALISTAS E FUNCIONAIS
1ª-Deposição do governo João Goulart se deu por problemas ligados à
realidade nacional (subdesenvolvimento e atraso na industrialização no Brasil)
2ª-Colapso do populismo no Brasil (1971)
3ª-Processo de industrialização tardia no Brasil; denúncia do “pacto populista”;
inevitabilidade do golpe.
Sem querer travar uma batalha semântica. 1964 não foi propriamente uma
“revolução”, o próprio Geisel afirma “o que houve em 1964 não foi uma revolução. As r
evoluções se fazem por uma ideia, em favor de uma doutrina.
“Para o vitorioso de 1964 , o movimento se fez contra Goulart , contra a
corrupção, contra a subversão. Estritamente falando, afirmou o general, o movimento
liderado pelas forças armadas não era a favor da construção de algo novo no país.”
“Mais apropriado seria então afirmar que 1964 significou um golpe contra a
incipiente democracia política brasileira; um movimento contra as reformas sociais e
políticas.”
Anos 1970. Proliferação da imprensa alternativa no combate à ditadura.
Momento de uma multiplicidade de modelos de enfrentamento e resistência.
KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: entre jornalistas e censores. In: REIS, Daniel
Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (orgs.). O golpe e a ditadu ra
militar: 40 anos depois (1964-2004). Bauru, SP:Edusc, 2004.
jornalistas x censores
“Se muitos dos censores eram jornalistas, ema uma parte da grande imprensa, no
período pós -1968, havia jornalistas que eram policiais. Neste sentido, trata-se de mapear
uma experiência de colaboracionismo de uma parcela da imprensa com os órgãos de
repressão no pós-AI-5. Ou seja, tem-se como mote a atuação de alguns setores das
comunicações do país e suas estreitas (permissivas) conexões com a ditadura civil-militar
no pós-1964. Além d e não fazer frente ao regime e às suas formas violentas de ação,
parte da imprensa também apoiou a barbárie. ”
A Folha da Tarde renasce em 1967, muito diferente do jornal existente entre
1949 -1959 linha editorial de oposição ao governo, até quando se permitiu maioria dos
jornalistas tinha alguma relação com a militância, ainda que ao menos simpatizante.
“Com a decretação do A I-5, muitos proprietários de empresas de jornal criam
alternativas para se adaptarem aos “novos tempos”. Na mesma semana que o regime
autoritário endureceu, em vários órgãos de imprensa os jornalistas mais combativos foram
demitidos. ”
E aqui distinguimos muito bem os jornalistas dos donos de jornal. É preciso que
se diga, a bem da verdade, que muitos jornalistas arriscaram seus empregos e mesmo a
vida, enviando notícias para o exterior e passando algumas informações apesar da
censura. Jornais, como a Folha de S. Paulo, transformaram-se em porta-vozes do governo
militar e mesmo cúmplices de algumas ações.
“Por uma questão de sobrevivência, o Grupo Folha não tinha censor. Tinha
decidido não enfrentar o regime. Fez autocensura. ” (Boris Casoy, entrevi sta à autora por
e-mail 18/03/1999)
Ao meu ver, Boris Casoy definiu a coisa com mais precisão: a Folha da Tarde
era de extrema direita porque o regime era de extrema direita. Se o regime fosse de
extrema esquerda, a Folha da Tarde seria igualzinha, com os mesmos dirigentes, e seria
de extrema esquerda. Na verdade, a Folha da Tarde era o jornal da Polícia.