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História Econômica da Austrália

A História da “Austrália Europeia” começa em 1788 com a chegada dos


colonizadores ingleses, e apesar da falta de documentação afetar construção de
um resgate temporal profundo, alguns pontos merecem ser ressaltados das
civilizações pró-europeias, os aborígenes, para entender até que ponto eles
influenciaram na Austrália de hoje.

São imprecisos os dados em relação a população de nativos da região


antes da chega dos europeus, as estimativas são de aproximadamente 300.000
(podendo algumas fontes variar até 1 milhão) pessoas habitando onde hoje é
conhecido como Austrália e após o assentamento dos colonizadores houve um
assustador impacto demográfico negativo causado por doenças e violência.
Sendo possível dizer que, dado o tamanho continental do país, a sociedade
moderna australiana foi construída meio a uma densidade populacional
consideravelmente baixa.

Os aborígenes são povos tradicionalmente nômades, o que significa que


os povos pré-coloniais contavam com estruturas físicas que não tinham objetivo
de serem permanentes, isso quando sequer existiam. Quando comparamos com
o pano de fundo do desenvolvimento europeu, e até mesmo asiático, temos
países que tiveram aumento expressivo de acumulação de capital e
produtividade, porém em cima de sociedades que já possuíam casas, pontes,
portos, sistemas de viários, sendo desenvolvidos a séculos, no caso da Austrália,
e também Estados Unidos e Canadá, as condições iniciais para o
desenvolvimento partem de pontos de partida muito distantes das sociedades
milenares citadas.

É importante ressaltar que diferente do que aconteceu em algumas das


nações invadidas pelos ingleses, como a Índia por exemplo, que já tinha
formação econômica e social de certa forma mais complexas e tiveram sua
exploração imediata por meio de impostos ou implementação de comércio, no
caso estudado, a economia aborígine não possuía acumulo de capital o qual os
europeus poderiam usar de recursos de maneira imediata.

O recurso mais importante absorvido por parte dos colonizadores das


tribos originais foi, talvez, o conhecimento do terreno. Apesar de toda a
exploração e subestimação sofrido pelos aborígenes, sua capacidade de
transmitir conhecimento referente ao domínio das características geográficas de
um ecossistema tão inóspito como é o território australiano, foi de grande
importância para o estabelecimento de terras rurais que se tornaram a base do
desenvolvimento econômico do país.

Sobre o período da chegada dos europeus propriamente dito é importante


antes de tudo entender eles não foram atraídos para Austrália de imediato, uma
vez que diferentemente de regiões como América do Sul, onde foi encontrado
ouro e prata rapidamente, ou a região do sudoeste asiático, a qual o mercado
consumidor e comércio de especiarias eram ponto de atração; a região
australiana por sua vez, era vista como um mero ponto de descanso e de
revitalização para os navios que já estavam em suas rotas.

O principal fator que levou a Grã-Bretanha a iniciar de fato a colonização


da área foi o medo de que a França passasse a ter interesse, e vidando barrar
essa possibilidade iniciou-se uma modalidade de colonização nada
convencional, colônia carcerária. Foram transportados para região, por meio de
supervisão militar, cerca de 160.000 condenados a partir de 1788 e durante o
período de 80 anos. Até os tempos atuais é motivo de constrangimento nacional,
principalmente porque é comum na cultura australiana a comparação com a
colonizações vivida nos Estados Unidos, um país descendente de puritanos.
Entretanto, cabe um momento de reflexão sobre quem eram os prisioneiros da
época, a título de ilustração um crime punível com o transporte para a colônia
era por exemplo protestos sociais.

Analisando estritamente sob um olhar econômico é importante ressaltar


as vantagens da colonização penal, sobre tudo porque os colonizadores tinham
o poder de decidir quem habitaria a Austrália. Tal fato permitiu que a
maximização da força de trabalho uma vez que houve seleção por gênero, idade
e condições físicas da população.

Na narrativa australiana, após o assentamento inicial e o progresso em


garantir a manutenção dos suprimentos de comida da colônia, o avanço mais
além subsistência implicou em desafios, uma vez que as condições de
produtividade, características do terreno e a inserção na geopolítica,
demandavam importações por parte da comunidade de “New South Wales”. A
coroa britânica foi responsável, no curto prazo, por uma série de subsídios a
importação para Austrália, entretanto manter a capacidade de importar
pressionava significativamente a economia interna.

O recorte histórico aponta para um período de necessidade crescente em


encontrar um ou mais itens capazes de ser produzidos em grande escala e de
maneira rentável o suficiente para serem atraentes no mercado externo e assim
sustentar a ascensão da produtividade e renda. Entretanto, durante o primeiro
quarto de século depois da colonização nenhum produto rentável suficiente foi
encontrado capaz de propiciar as bases de crescimento de uma indústria voltada
para exportação, todo o crescimento australiano no período foi limitado ao
número de novos condenados que chegavam à colônia e quanto eram capazes
de agregar na economia interna.

A situação muda de cenário quando meio a ascensão da indústria de


tecido britânica, é proposta a criação de uma raça de carneiro do sul de Portugal,
merino, o qual possui caracterizas que permitem seu desenvolvimento
de maneira lucrativa em “New South Wales”. Mesmo com à distância significativa
da indústria final, o volume produzido, além do fato de não ser um produto
perecível, tornavam o produto australiano mais chamativo do que opção
oferecida pelos próprios produtores ingleses ou alemãs, consolidando assim a
Austrália como importante exportador de lã, no centro de revolução no setor
têxtil.

A performance australiana foi surpreendente principalmente quando


analisados os modelos de gravitacionais de comércio de internacional, os quais
apontam para que, ao menos durante os anos iniciais, o fluxo de comércio
bilateral da nação é influenciado pela distância entre os parceiros comerciais.

Com a movimentação economica na colônia surgiu a necessidade de


estabelecer instituições e criar regulamentações, como em 1817 o banco de New
South Wales e em 1825 a adoção da libra esterlina como padrão, contudo por
se tratar de uma colônia penal, eram controladas pelas forças militares. O fato
da maioria dos senhores de terra, exportadores, especulares e empreendedores
serem da ala militar configurou um problema para sociedade Austrália, uma vez
que a corrupção e prática de preços abusivos roubaram a cena até a mudança
de regime que se deu entre os anos 1880 e 1900, com a instauração de uma
monarquia federal sob uma democracia parlamentar.

O crescimento da agropecuária, acarretou em movimentos de penetração


do território australiano, ocupando áreas mais distantes da costa. Nos anos
1830, há uma tentativa de atingir o oeste australiano e duas as regiões de
Melbourne (Victória) e Adelaide (Austrália do Sul) ganham notoriedade.

Figura 3: Mapa da Austrália destacando a região de Melbourne e Adelaide

Adelaide

Melbourne

Fonte: Governo da Austrália

A movimentação dentro do território foi de extrema importância uma vez


que permitiu o boom mineral no país com a descoberta das primeiras reservas
de cobre no sul do país em 1840, garantindo assim maior diversidade produtiva
e vitalidade para colônia em formação. A produção de cobre atingiu 9 mil
toneladas no final dos anos 1860, tornando o sul australiano responsável sozinho
pela produção de 1/10 de todo o cobre mundial. A renda nacional cresceu
enormemente e as regiões ricas em minérios contribuíram
desproporcionalmente para o crescimento Austrália como um todo.

A especialização em minérios proporcionou ao país o que foi o divisor de


águas na produção interna, a exploração e aperfeiçoamento de técnicas
permitiram encontrar ouro em 1840, transformando a História e dando início a
corrida do ouro no continente.

Essa nova fase da economia australiana levou a atração significativa de


pessoas para a região, além de crescimento de todos os setores da economia.
Mesmo com aumento significativo da população, a ascensão da renda foi
agressiva ao ponto de refletir em uma renda per capita mais 6% maior em 1850.

A Austrália contornou a desigualdade e as limitações ao crescimento


propostas pela teoria da maldição dos recursos naturais a partir de repetidos
padrões durante o século que após o boom do ouro permitiram que os benefícios
da commodities fossem distribuídos.

É importante frisas que como todo ciclo produtivo, a descoberta do ouro


levou a efeitos positivos em alguns setores e negativos em outros. Os impactos
favoráveis foram sentidos em atividades diretamente associadas a mineração,
como de equipamentos para extração, transporte de pessoas e de recursos e
até abastecimento dos mantimentos para os trabalhadores. Na outra ponta estão
os setores que perderam trabalhadores para nova demanda. Entretanto, porém,
para o país, mesmo impacto negativo levou a consequência positiva a nação,
uma vez que criou a necessidade dos setores não relacionados a mineração de
aumentar os salários como forma de competir.

Com o aumento da renda, era de se esperar consequências como


aumento inflacionário, porém o poder de compra da população foi mantido, uma
vez que, a entrada de imigrantes e de produtos importados no país, controlaram
a oferta de bens e equilibraram os preços. Outro benefício bem aproveitado da
descoberta do ouro foi no quesito estrutural, com o escoamento da produção
pressionando a criação de inúmeras estradas rurais que conectaram as regiões
mais importantes. Politicamente, a riqueza trazida com a exportação financiou
as campanhas pró uma monarquia com parlamento democrático. Em
contraponto, podemos observar que o acesso ao ouro a distribuição da riqueza
produzida, deram um caminho econômico e político completamente diferente
para Austrália, do que aconteceu na América Latina, por exemplo.

A quantidade de ouro e o preço estável do minério também foram


componentes importantes para que não fosse apenas transitórias as mudanças,
além de ser importante ressaltar que esse ganho de capital humano e
conhecimento tácito trazido com a corrida do outro, não foi embora quando o
ciclo do ouro diminui. O número de pessoas se manteve constante, mesmo após
o ápice, o que foi bastante positivo para o desenvolvimento de longo prazo.

A diminuição da euforia nas décadas seguintes, entre 1850 e 1890,


ocasionou declínio gradativo da participação relativa da mineração do outro na
economia interna, e o setor agropecuário novamente ganha destaque na pauta
exportadora australiana.

Durante todo o período antecessor ao século 20, o principal parceiro


comercial da Austrália foi a Grã-Bretanha e a dinâmica de comércio consistia em
o país do continente oceânico vender lã, ouro e produtos rurais e importar
produtos manufaturados do líder tecnológico da época. Porém, nos anos 1900’s
o país passou a se especializar na produção de trigo, transformando as
prioridades e a matriz exportadora.

O cereal antes de se tornar uma cultura constante no país, tinha sua


regularidade dificultada pelo ambiente, mas avanços em pesquisas
proporcionaram grãos mais resistentes e uma maior produtividade mesmo em
terrenos desafiadores. O mais importante dessa nova pauta exportadora foi
como a indústria antes da porteira passou a ser vista como essencial para o país
por sua capacidade de transformação produtiva.

A indústria local de maquinário agrícola passou a se desenvolver e antes


de 1914 a indústria nacional já competia com a importação britânica e estado-
unidense. Apesar da exportação consistir basicamente de produto agrícola,
internamente uma série de linkages transformaram o ciclo produtivo, além de
elevar consideravelmente a produtividade do trabalho rural (em 1911 a
produtividade chegava a 189% da produtividade no Reino Unido), um dos
responsáveis da prosperidade australiana até hoje.
Apesar do aparente caminho promissor a prosperidade foi abalada por
uma sequência de choques negativos durante 25 anos, entre 1914 e 1939,
justamente o período das duas grandes guerras. Quantitativamente foi um
período de queda de mais de 9% do PIB e aumento de 6% no desemprego.
Dentre os desdobramentos da guerra pode-se citar a pressão diplomática para
lutar ao lado da Inglaterra e principalmente a escassez de empréstimos e
diminuição das exportações, além do cenário pós-primeira guerra de
recuperação extremamente prejudicada pela dificuldade em arcar com os gastos
decorrentes do período.

Depois da segunda guerra mundial, a dinâmica política do planeta muda


e o principal parceiro australiano, a Grã-Bretanha, vê sua importância política e
economica diminuir conforme aumenta a dos Estados Unidos da América, nesse
momento a pouca complexidade dos produtos exportados por parte da Austrália
começam a dificultar seu avanço no desenvolvimento nacional sem o
financiamento e apoio inglês, que até o momento, apesar de ter dado início ao
desenvolvimento da indústria montante, a agroindústria jusante se limitou a
exportação de suco de frutas.

O cenário passa ser de bonança novamente apenas quando em 1960


começa a expansão da economia asiática e as vantagens comerciais da
proximidade impulsionam o comércio de recursos naturais e permitem
arrecadação que financie o início de uma produção manufaturada
(especialmente carros e partes automobilísticas) para atender a demanda
interna e de alguma forma criar defesa aos choques externos.

Mesmo com a produção voltada para o consumo doméstico a


necessidade de regiões ainda menos complexas economicamente, como Papa
Nova Guiné, África do Sul Nova Zelândia, permitiram a comercialização de
produtos manufaturados relativamente sofisticados por parte da Austrália,
aumentando significativamente a participação de produtos manufaturados nas
exportações da nação, porém o que se sabe é que por motivos incertos o país
não aproveitou esse momento importante de diversificação da pauta exportadora
para consolidar qualquer tipo de produção industrial, mesmo com políticas de
tarifarias e regulação do mercado de trabalho pró industrialização a partir da
substituição das importações.
Os anos entre 1970 e 1980 são chamados de anos dourados da economia
australiana com uma prosperidade crescente. Em 1975, por exemplo, ninguém
com menos de 50 anos havia experimentado outra situação se não a de emprego
em tempo integral durante toda a vida adulta, tal era o cenário positivo.

No final dos anos 1980 e início dos anos 1990 a produtividade do país
começa ser questionada e, portanto, as barreiras tarifarias também.
Impulsionado por uma desaceleração dos níveis de prosperidade e aumento do
desemprego, a política ortodoxa ganha força no continente.

A economia política contemporânea da Austrália que começou


aproximadamente em 1995 e que persiste até o momento do presente trabalho
voltou as origens da exportação pautada em recursos naturais, com um declínio
expressivo da participação industrial no PIB, e incentivo a economia aberta e
internacionalizada. A matriz produtiva consiste além dos produtos que desde o
século 19 eram importantes como lã, cobre, carne e ouro, também de uma série
de minerais e de fontes de energia que foram descobertos recentemente no
território: diamantes, alumínio, gás natural, minério de ferro, petróleo, carvão
mineral e uranio. Na figura 5 é possível ver as principais minas dos recursos
citados, assim como ano em que se iniciou a exploração.

Resumidamente é possível dividir a história economica australiana em 3


fases. A primeira delas sendo desde a colonização até 1890 com a economia
orientada para fora e integrada ao sistema internacional imperialista e a política
de desenvolvimento pautada na especialização de produtos naturais, sendo o
primeiro produto a ganhar destaque a lã, seguido pela extração de cobre, depois
o ciclo do ouro e no final do século de 19 o destaque é para o trigo.

A segunda fase começa com a crise de 1890 e depois seguida pelas


guerras e o período entre guerras, nesse momento a economia australiana adota
medidas para se tornar menos susceptível a choques externos e existe por
alguns anos uma tentativa de aumento da indústria, estrutura de economia
voltada para dentro e aumento das regulações.

O terceiro recorte tem seu ponto de partida com a ascensão de políticas


ortodoxas e perdura até hoje, tal estágio busca a estabilidade dos padrões de
desenvolvimento a longo prazo por meio de uma economia voltada para fora,
porém com diversificação dos produtos primários exportados e principalmente
concentrando boa parte da renda do país oriunda do setor de serviços e do
financeiro. Sobre o setor de serviços é possível destacar o fato de parte
importante do PIB ser proveniente da educação, de estudantes estrangeiros que
estudam em faculdades de excelência da Austrália e contribuem com
mensalidades e ativando a economia do país. Outro motor da economia que
merece destaque para ser citado é o do turismo.

Figura 5: Extração mineral

Fonte: Geoscience Australia

A figura 6 ilustra a participação dos serviços no PIB em porcentagem.


Considerando o valor adicionado em toda a cadeia e no comércio varejista
(incluindo restaurante e horeis), além transporte, governo, setor financeiro,
educação, saúde, serviços imobiliários e bancários. Sendo o valor apresentado
o líquido, mas desconsiderando depreciações.
Figura 6: Serviços valor adicionado (% do PIB)

70

68

66

64

62

60

58

56

54
2010
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009

2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Fonte: Banco Mundial

3. É possível o desenvolvimento sem complexidade economica?

O que possível observar pela história economica da Austrália é sua forte


relação com a produção dos produtos primários, com uma economia voltada
para fora o qual a exportação visa equilibrar as contas nacionais. Desde a sua
formação como colônia existe a preocupação por crescer pautado na importação
de bens e a pressão a produção nacional para manter um elevado número de
bens naturais sendo comercializados.

A figura 7 visa ressaltar essa busca pelo equilíbrio das contas, sendo no
eixo da lateral esquerda o volume de exportação e importação e no eixo da
direita a variação das contas nacionais. Durante um largo período da história é
conquistado o equilíbrio, o que justificaria também a manutenção de uma
prosperidade de longo prazo no país. A situação muda após os anos 1970, parte
pela mudança do cenário internacional em comparação com os anos iniciais da
colônia e também as mudanças importantes na estrutura economica a partir de
1900, as oscilações assumem tendência de déficit e atinge a prior marca em
2004-2005.
Exportações, importações e resultado da balança comercial 1826-
2016
350,000.0 40,000.0

300,000.0 30,000.0

250,000.0 20,000.0

200,000.0 10,000.0

150,000.0 0.0

100,000.0 -10,000.0

50,000.0 -20,000.0

0.0 -30,000.0
1856

1946-47
1826
1832
1838
1844
1850

1862
1868
1874
1880
1886
1892
1898
1904
1910
1916-17
1922-23
1928-29
1934-35
1940-41

1952-53
1958-59
1964-65
1970-71
1976-77
1982-83
1988-89
1994-95
2000-01
2006-07
2012-13
Exports of merchandise goods - current prices (Recorded trade basis)
Imports of merchandise goods - current prices (Recorded trade basis)
Balance on merchandise goods - current prices (Recorded trade basis)

A figura 8 detalha a participação da manufatura no valor adicionado no


PIB entre 1900, as primeiras fases da indústria voltada para atender a demanda
interna, até o ano 2017. O setor passou por muitas mudanças ao longo das
décadas, em sua primeira fase a participação fica em torno dos 10 a 12% e
apresenta nítida expansão até os anos 1950 e 1960, representando crescimento
mais rápido que os outros setores da economia. Em seu ápice a manufatura
atinge uma participação de 28% do produto interno bruto, porém os recursos
naturais nunca deixaram de ser o real motor da economia australiana
representando mais de 60% nesse mesmo período, não configurando uma
economia industrial de fato.

Como já vimos mais detalhado na seção anterior as políticas em favor de


maior produtividade acabam por adotar uma série de medidas, especialmente
após o partido de coalização neoliberal assumir o poder e atualmente a
participação industrial fica em torno dos 6% do PIB.
Figura 6

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
1900
1905
1910
1915-16
1920-21
1925-26
1930-31
1935-36
1940-41
1945-46
1950-51
1955-56
1960-61
1965-66
1970-71
1975-76
1980-81
1985-86
1990-91
1995-96
2000-01
2005-06
2010-11
2015-16
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Banco mundial e The Treasury Austrália

Com o foco na atividade industrial australiana é importante ressaltar que


existiu de fato um movimento visando a expansão da manufatura e maiores
regulamentações, porém ele não foi suficiente para atingir mudança estrutural e
a partir dessa conclusão são levantadas 3 hipóteses principais visam tentar
explicar séculos de prosperidade sem matriz industrial e atingindo níveis de
complexidade pouco significativos segundo a classificação usada.

1. Condutor do crescimento

A primeira ideia é entender o Índice de complexidade economica não só


para explicar a situação atual, mas também como um direcionamento para
perspectivas futuras.

Hausmann (2014) aborda o tema por meio do exemplo indiano, o qual


aparentemente apresenta o cenário oposto da Austrália, apesar da
complexidade relativamente alta (posição 45 no ranking de complexidade do
Atlas de Complexidade Economica), em relação ao Índice de desenvolvimento
Humano divulgado em 2018 o país ocupa o número 130 da tabela. Porém a
História recente indiana é de um crescimento muito acima da média mundial,
sendo o país que mais cresceu entre as maiores economias do mundo em 2018
e primeiro trimestre de 2019, ou seja, talvez seja um país que já tem o que
precisa para se desenvolver economicamente.

Segundo essa teoria, é preciso ver de maneira dinâmica os números


propostos, e no caso da Austrália, mesmo com o passado generoso, o potencial
de crescimento progressivo seria menos evidente. Detalhando o setor de
serviços, principal meio de ingressos hoje no país, podemos ver alguns limites
preocupantes. A exportação de educação de alto nível é, em última instância,
determinada pela qualidade e a recente expansão do número de estudantes
(principalmente estrangeiros), pode já estar comprometendo os padrões de
oferta domésticos. Também responsável por significativa parte da balança
comercial, o turismo é caracterizado por requerer habilidades gerais e de nível
de complexidade mais modestos, apresentando, portanto, o aumento de
produtividade limitado.

Existem linhas de pensamento e de estudos macroeconômicos


australianos que se preocupam com o país ter caminhado em uma direção que
pode não levar a um crescimento sustentável e uma crescente preocupação com
a desigualdade no país que atualmente segue tendência de alta, como pode ser
visto na declaração feita por Andrew Leigh, professor de economica na
universidade nacional da Austrália e assistente do tesouro em 2010, “Então
quando olhamos para as fontes de crescimento futuras, temos duas opções:
podemos torcer por que mais uma vez nos deparemos com frutos que sejam
fáceis de colher, ou então procurar a nossa própria sorte. Meu lado da política
acredita que devemos escolher a segunda opção” (2018)

Figura

10.000%

8.000%

6.000%

4.000%

2.000%

0.000%
1990

2009
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008

2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017

-2.000%

Australia India

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Mundial


GINI index (World Bank estimate)

1995 2001 2003 2004 2008 2010 2014


GINI index (World Bank
32.6 33.5 33.5 33.1 35.4 34.7 35.8
estimate)

Fonte: Banco Mundial

2. Indústria de Software
Measuring productivity gains from ICTs is now more challenging, as digital
technologies are no longer primarily confined to ‘connected computers’, but are
embedded in all sorts of machinery, equipment and household goods. Changes in
products and processes can be significant, but their productivity effects can be
difficult to quantify. More sophisticated data and analysis, and a multifaceted
approach, are required

Growth accounting, which attributes Australia’s labour productivity growth to


various components, identifies contributions from ‘capital deepening’ (use of capital
assets such as buildings, plant, machinery and equipment increases more rapidly
than labour) and ‘multi-factor productivity’ (MFP; MFP growth comes through
innovation in business products and processes).

That is, IT can reduce the requirements for other forms of capital in the production
of goods and services, which also means a lift in (non-IT) capital productivity.
IT use also has the potential to generate productivity-enhancing effects through
capital saving. Better coordination and information processing achieved through use
of IT enable businesses to conserve on their use of other assets, such as land and
buildings. Examples are the closure of bank branches and the transformation of the
wholesaling function from storage-based operations to minimum-handling logistics.
Vehicles and machinery can be used more sparingly. Overall, the use of information
technology is still generating productivity effects in Australia—in different ways, in
different industries. IT also complements skilled labour and saves certain forms of
capital.

Australia’s productivity growth surged in the 1990s. Multifactor productivity growth


rose to a record high of 2.6 per cent a year in the mid-to-late 1990s, compared with
a long-term average of 0.9 per cent a year.1
It became evident internationally that ICTs were bringing potential productivity
gains, although they were not realised uniformly. Along with the US, Australia was
early to access gains from ICT use.

It was also found that innovative use of ICTs needed other complementary
investments.3 The firms achieving success in innovative use of ICTs were also
investing in intangibles. That is, they invested in firm-specific skills; organisational
structures and means of linking closely to markets so they could better define
directions for productive change

Measuring the effect ICTs and digital technologies have on productivity has become
a lot harder as they have become more sophisticated and pervasive.

Around the late 1990s and early 2000s, analysis of digital productivity was confined
to the productivity effects of hardware and software that is computers, because it
was just after desktop computers became widely available and were connected
through the Internet.

Figure 3.1 (below) shows the very strong investment there has been in IT. Annual
investment in all three forms of technology was below $2 billion (in 2012–13 dollars)
in the early 1990s but is now at $16.9 billion for software, $12.7 billion for hardware
and $9.9 billion for E&E equipment.
Figure 3.1 shows investment in E&E equipment stalled in the mid-2000s, but then
resumed growth in the 2010s. The average rate of growth in the two periods was 15
and six per cent a year respectively. The rate of growth in hardware investment has
been variable since the mid-2000s. It slowed considerably after a brief acceleration
in 2007–08, which may have been prompted by the global financial crisis. There was
a 40 per cent rise in hardware investment in 2013–14, which could possibly be catch-
up after deferred investment

Commented [U1]: Procurar os dados da fonte


Chart Title
25000

20000

15000

10000

5000

0
Jan-2005
Jan-1979
Jan-1981
Jan-1983
Jan-1985
Jan-1987
Jan-1989
Jan-1991
Jan-1993
Jan-1995
Jan-1997
Jan-1999
Jan-2001
Jan-2003

Jan-2007
Jan-2009
Jan-2011
Jan-2013
Jan-2015
Jan-2017

Series1 Series2 Series3

Figure 3.2 shows that strong growth in investment has led to strong growth in capital
stocks. Net capital stocks have grown from below $10 billion in the early 1990s (and
less than $300 million in the case of computers) to $51 billion in software, $26 billion
in hardware and $58 billion for E&E equipment.

Table 3.1 shows the rate of growth in capital stocks slowed after 2003–04 (first two
columns), and the growth in stocks of hardware and E&E equipment slowed in the
second half of the 2000s (last two columns). Growth in hardware slowed after 2007–
08 and in E&E equipment after 2008–09.
A 0.5 of a percentage point contribution to the annual rate of labour productivity
growth is still large. It represents about a quarter of labour productivity growth.

3. Qualidade

Uma das possibilidades apontam para necessidade de avaliar além da


quantidade produzida e sim a qualidade dos produtos, o que explicaria uma
contínua demanda. Em uma tentativa de esclarecer o impacto foi a utilização de
índices de qualidade dos produtos calculados por Feenstra e Romalis (2014).

Para calcular os índices de qualidade das indústrias de cada país,


Feenstra e Romalis (2014) propões as seguintes hipóteses para calcular o índice
de qualidade das indústrias:

1. Países de mesmo nível de preços e exportações líquidas diferentes


possivelmente ofertam produtos com diferentes níveis de
qualidade;
2. Bens com maior qualidade chegam a mercados mais distantes;
3. Maior crescimento faz com que países mesmo com menor nível de
qualidade a tornarem-se exportadores.

A tabela 2 detalha a classificação utilizada no trabalho, a qual diferencia


por tipo de bem e proposta por Sanjaya Lall (2000). A figura 9 apresenta o
número de industrias com qualidade acima da média global, de acordo com a
classificação anteriormente detalhada.

Tabela 2

Classificação Exemplos

Fruta fresca, carne, arroz, cacau, café, madeira, carvão, petróleo


Produtos Primários
cru, gás natural

Produtos Manufaturados
Baseado em recursos naturais
Produtos baseados em Frutas e carnes preparados, bebidas, produtos de madeira, óleo
Agro/florestais vegetal
Produtos baseados em outros Concentrados de minérios, produtos de petróleo e borracha,
recursos cimento, pedras lapidadas, vidro
Baixa tecnologia
Fábricas têxteis, produção de roupa, produção de calçados,
Têxtil e moda manufaturados de couro
Partes e estruturais simples de metal, mobília, joias, brinquedos,
Outras baixas tecnologias produtos plásticos

Média tecnologia
Produtos automotivos veículos de passeio, veículos comerciais, motocicletas
Processos industriais de média Fibras sintéticas, produtos químicos, fertilizantes, plástico, aço
tecnologia
Engenharias industriais de média
tecnologia Engrenagens, motores, maquinaria industrial, navios, relógio

Alta tecnologia
Material de escritório, equipamento de processamento e
Eletrônica e produtos elétricos telecomunicação, televisão, transmissores, turbina, equipamentos
de geração de energia
Outros alta tecnologia Farmacêutica, aeroespacial, instrumentos, câmeras

Outras transações Eletricidade, cinema, transações especiais, ouro, arte, animais

Fonte: QEH Working Paper Series – QEHWPS44, minha tradução

É importante observar que Austrália possui indústrias com elevada


qualidade distribuída entre os diversos setores, segundo Feenstra e Romalis
(2014) o país também ocupa o 13º lugar no ranking de qualidade média da
produção. O que parece sugerir que apesar da baixa complexidade australiana
demonstrada no Índice de Complexidade, sua elevada capacidade produtiva é
capaz de criar externalidades positivas, sendo, portanto, o fator qualidade dos
bens produzidos o diferencial que aparentemente não é capturado na
metodologia usada por Hausmann e Hidalgo.

Figura X: Número de indústrias com qualidade acima da média (1984–2009)


350

300
93
250 86 92
65 69
63 56 62 55 65 27
200 54 57 29 24
27 21 24
25 24 20 19 19 72
150 21 70 64
63 58 52 46 57 52 61
54 49 53
10
100 29
75 82 81
78 79 75 70 68 68 73 71
71 47
50
29 32 38 40 38 35 39 39 38 45 48 45
26
0
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009

Produtos Primários Baseados em recursos Média Tecnologia


Alta Tecnologia Baixa Tecnlogia Outras Transações

Fonte: Estrutura produtiva e crescimento: Uma análise comparativa de Brasil,


Austrália e Canadá

https://www.policyforum.net/australian-economy-simple/

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