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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007

A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO NA
REGIÃO NORDESTE: DIFICULDADES E
POTENCIALIDADES

Ana Cristina Sales Oliveira (UECE)


anacristinaso@bnb.gov.br
Roberto Ednísio Vasconcelos Rocha (UFPB)
robertoevr@bnb.gov.br
Maurício Melo Cavalcante (EPE)
mauriciocavalcante@epe.gov.br
Fernando Ribeiro de Melo Nunes (UFC)
ferimene@secrel.com.br

O presente trabalho apresenta uma avaliação da Indústria de Petróleo


na Região Nordeste, bem como uma relação de dificuldades e
potencialidades. As observações foram feitas a partir de pesquisa
bibliográfica e documental. Foram realizadas aanálises da indústria
de petróleo no âmbito brasileiro e mais detalhadamente no campo de
atuação nordestino. As questões logísticas ligadas à integração e
adensamento da cadeia produtiva a partir da atração de investimentos,
infra-estrutura e capacitação tecnológica são apontadas como temas
recorrentes ao alavancamento da Indústria na Região.

Palavras-chaves: Petróleo, Logística, Região Nordeste


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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007

1. Introdução
Atualmente, o petróleo é a principal fonte mundial de energia que serve também a muitas
outras finalidades, pois tornou-se matéria-prima para fabricação de milhares de produtos que
fazem parte do cotidiano das pessoas em todo o mundo como, por exemplo, plásticos,
enchimento de colchões, tintas, combustíveis, lubrificantes, solventes, pneus, borrachas,
fósforos, chicletes, filmes fotográficos, fertilizantes etc.
O petróleo é caracterizado como uma mistura de hidrocarbonetos constituída de diversos tipos
de moléculas formadas por átomos de hidrogênio e carbono e, em menor parte, de oxigênio,
nitrogênio e enxofre, agrupados de forma variável, conferindo características diferenciadas
aos diversos tipos de crus encontrados na natureza (PETROBRAS, 2007). A dificuldade para
se descobrir novas jazidas e a incapacidade de auto-renovação deste produto aliadas aos altos
preços impostos pelos maiores produtores mundiais fazem com que se aumente o esforço pelo
desenvolvimento de novas fontes de energia sustentável fazendo com que, no longo prazo,
ocorra um declínio da importância do petróleo como fonte de energia.
No Brasil, em 2006, atingiu-se a auto-suficiência em produção de petróleo, isto é, a
quantidade de petróleo que é produzida no país é suficiente para atender à demanda interna.
Porém, ainda não se chegou à auto-suficiência em refino do óleo. O desafio agora é manter
essa auto-suficiência produtiva e investir em tecnologias de refino que permitam processar
internamente todo o petróleo produzido no país, atendendo, dessa forma, toda a demanda
nacional por derivados.
O objetivo deste trabalho é traçar uma caracterização sobre a Indústria do Petróleo na Região Nordeste a partir de alguns aspectos da
produção, socioeconômicos e mercadológicos, bem como o levantamento de suas dificuldades e potencialidades.

2. Gerenciamento da cadeia de suprimento


Fleury; Wanke & Figueiredo (2000, p. 38) apresentam o conceito de gerenciamento da cadeia
de suprimento ou supply chain management (SCM) não como uma simples extensão da
logística estratégica, pois inclui processos de negócios que extrapolam seus limites de atuação
e a necessidade de integração de processos na cadeia de suprimentos como o desenvolvimento
de novos produtos, compras e desenvolvimento de fornecedores. O SCM excede as fronteiras
organizacionais, levando em consideração tanto os trade-offs internos quanto os
interorganizacionais para estruturar o canal de distribuição mais adequado.
Lambert; Stock & Vantine (1998) adotam a definição de SCM como a integração dos
processos de negócios que vão desde o consumidor final até os fornecedores que oferecem os
produtos, serviços e informações que adicionam valor para o cliente e salientam que o SCM
pode ser caracterizado a partir da análise de alguns elos, internos ou entre empresas, tais como
a administração de fornecedores e transportes.
A produção de bens manufaturados vem se tornando um comércio globalmente estruturado e,
geralmente, dominado por grandes corporações internacionais. Como é difícil para qualquer
empresa gerenciar os recursos necessários para concomitantemente projetar, fabricar e
distribuir os produtos, o adicionamento de valor ao longo de uma cadeia depende,
principalmente, da capacidade que cada elo (empresa) tem em prover o melhor nível de
serviço na cadeia de suprimentos. Com essa redistribuição de atividades de adição de valores
entre os parceiros da cadeia de suprimentos, pode-se afirmar que os produtos ou serviços
pertencem à cadeia de suprimentos e não a um elo (empresa) isoladamente (CONCEIÇÃO &
QUINTÃO, 2004).

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A cadeia de suprimentos como um todo adiciona valor ao produto ou serviço que será
disponibilizado para o cliente final, ainda que cada empresa pertencente à cadeia tenha seus
clientes diretos. Assim, o objetivo do SCM é maximizar a interação entre todos os elos da
cadeia, a fim de responder ao cliente final da maneira mais eficiente possível. O objetivo é
minimizar os recursos necessários que proporcionem o nível exigido de serviço ao cliente em
um determinado segmento de mercado, tornando os processos de negócio mais eficientes e
eficazes, a partir de: redução de custos, de níveis de estoque, melhoria da qualidade e criação
de vantagem competitiva e valor para a cadeia de suprimentos (MAIA; CERRA & ALVES
FILHO, 2005).
3. Aspectos da produção de Petróleo no Brasil
A indústria de petróleo faz parte do complexo químico e sua cadeia divide-se em três
segmentos: i) prospecção, exploração, perfuração e completação; ii) produção; iii) transporte,
refino e distribuição (TEIXEIRA & GUERRA, 2003).
O óleo cru, na forma como é extraído, precisa ser processado para ter utilização econômica.
Após ser retirado dos poços, o petróleo tem que ser transportado para as refinarias, o que é
feito por meio de oleodutos ou navios petroleiros. A Petrobras, maior produtora nacional de
petróleo, possui uma subsidiária – Transpetro – encarregada do transporte e armazenamento
do óleo e de seus derivados.
Nas refinarias, ocorre o processamento que permite a produção de diversos derivados, entre os
quais os mais conhecidos são: gás liquefeito (GLP) ou gás de cozinha, gasolinas, naftas, óleo
diesel, querosenes de aviação e de iluminação, óleos combustíveis, asfaltos, lubrificantes,
combustíveis marítimos, solventes, parafinas, coque. O processo de refino gera não apenas
produtos finais, mas também matérias-primas para outros produtos. Isso possibilita a
integração da indústria petroquímica aos mais diversos segmentos presentes nas várias cadeias
produtivas em que o petróleo e seus derivados apresentam-se como insumos. Além disso, o
petróleo também alavanca os potenciais fornecedores da cadeia petrolífera (de caldeira a
petroleiros, gasodutos, plataformas e refinarias), gerando novos negócios, renda e empregos.
As refinarias nacionais não têm tecnologia adequada para refinar todo o petróleo extraído no
país. Isso ocorre porque a maior parte das refinarias brasileiras foi estruturada para trabalhar
com óleo leve, o tipo existente nos primeiros campos explorados, e os últimos campos
descobertos e explorados fornecem óleo pesado, que exige tecnologia diferenciada para
refino. Por isso, parte do petróleo pesado brasileiro é exportada para ser processada no
exterior e depois retornar ao Brasil na forma de derivados, e parte do petróleo leve processado
nas refinarias nacionais é importada de outros países.
O Brasil atualmente tem uma auto-suficiência quantitativa, e não financeira, na exploração e produção de petróleo, devido ao tipo
predominante de petróleo que se produz, à tecnologia de refino presente nas refinarias nacionais e à diferença de preços, devida ao valor
agregado, entre os produtos importados e exportados presentes na pauta comercial deste setor.
No setor de refino nacional, a situação é mais preocupante, pois para atender à demanda interna, o parque de refino nacional, que está hoje no
limite de sua capacidade, precisará ser ampliado, ou corre-se o risco, a partir de 2010, de depender demasiadamente da importação de
derivados combustíveis e insumos petroquímicos.

O gráfico abaixo mostra o histórico do déficit da balança comercial de petróleo e o superávit


atingido em 2006, ou seja, a auto-suficiência produtiva.

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200,00
172,51
145,35 152,48
150,00
134,34
138,88 138,47 131,94
128,21

Valores em R$ milhões
100,00 100,19
85,76 88,25 84,25
50,00
40,43
6,82 2,39
-

(39,97) (38,28)
(50,00)
(53,12)
(88,26)
(100,00)
(138,53) (112,05)
(150,00)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Importações (M) Exportações (X) Saldo (X-M)

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de informações da ANP (2007)


Figura 1 - Saldos das importações e exportações nacionais de petróleo (2000-2006) em milhões de barris

Os produtos derivados do petróleo dividem-se em grupos: i) Combustíveis: gasolinas, gás


natural e GLP, óleo diesel, óleo combustível, querosene de aviação e combustíveis marítimos;
ii) Lubrificantes: óleos lubrificantes minerais, óleos lubrificantes graxos, óleos lubrificantes
sintéticos e composição betuminosa; iii) Insumos para a Petroquímica: nafta e gasóleo; iv)
Especiais: solventes, parafinas, asfalto e coque. A produção desses derivados ocorre com o
aproveitamento dos diferentes pontos de ebulição das substâncias que compõem o petróleo,
separando-as e transformando-as em produtos finais, e depende tanto da qualidade do petróleo
quanto da estrutura tecnológica da refinaria.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP (2007),
atualmente, apenas pouco mais de 11% do petróleo nacional são produzidos em terra e mais
de 88% provêm da exploração marítima. A expansão do esforço de exploração em direção ao
alto mar fez com que a Petrobras desenvolvesse tecnologia específica, tornando-a a atual líder
mundial em tecnologia de produção de petróleo em águas profundas.
No segmento de exploração, que é o conjunto de operações ou atividades destinadas a avaliar
áreas, objetivando a descoberta e a identificação de jazidas de petróleo, estima-se que o
número de poços de exploração perfurados isoladamente pela Petrobras, ou seja, sem
parcerias, representou aproximadamente 88% do total de poços de exploração perfurados no
Brasil em 2005. Quando se avaliam as atividades de exploração conduzidas em conjunto pela
Petrobras e outros parceiros, esse percentual chega a aproximadamente 92%. Os principais
concorrentes da Petrobras no segmento de exploração de óleo são: a Agip, Devon, Shell,
Maersk, Statoil, Chevron Texaco, Encana e El Paso.
A Petrobras também domina o segmento de produção de petróleo. Segundo as estimativas da
própria empresa, sua participação no mercado foi de aproximadamente 98,2% em 2005, não
possuindo concorrentes significativos nesse segmento no país.
A fase de distribuição compreende aquisição, armazenamento, transporte, comercialização e
controle de qualidade dos combustíveis líquidos derivados de petróleo. Nesse segmento, de
acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e
Lubrificantes – Sindicom, a Petrobras, em 2005, detinha aproximadamente 34% do mercado.
Seus principais concorrentes nesse segmento são: Ipiranga, Shell, Esso e Texaco.

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Segundo a ANP, dentre as etapas da cadeia do petróleo, o refino é o setor que apresenta o
menor nível de abertura e competição no Brasil. Atualmente, oficialmente, há somente duas
refinarias privadas atuando no país (Ipiranga-RS e Manguinhos-RJ) que são responsáveis por
menos de 2% da capacidade de processamento das refinarias brasileiras. Todas as demais
refinarias pertencem à Petrobras.
Entretanto, no dia 19 de março do ano corrente, o consórcio formado pela Petrobras, Braskem
e Grupo Ultra anunciou a compra da Ipiranga, que inclui as atividades de refino, petroquímica
e distribuição de combustíveis. Cabe ressaltar que a operação ainda será analisada pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, pela Secretaria de Direito
Econômico - SDE e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE, órgãos estatais
de defesa da concorrência
4. Metodologia
Considerando as definições de Vergara (2004), a presente pesquisa pode ser classificada,
quanto aos fins, como exploratória, já que há pouco conhecimento acumulado e sistematizado
sobre a Indústria de Petróleo na Região Nordeste.
Quanto aos meios, o trabalho pode ser definido como pesquisa bibliográfica e documental,
onde foram abordadas as principais características da Indústria de Petróleo a partir de
pesquisa em livros e artigos científicos além de documentos da PETROBRAS e da ANP, bem
como se abordou o estado da arte relacionado com a gestão da cadeia de suprimentos.
5. Indústria Nordestina de Petróleo
O maior produtor nacional é o estado do Rio de Janeiro, onde está localizada a Bacia de
Campos que concentra 84,23% da produção brasileira. O Nordeste responde por 72,95% do
total produzido em terra, mas somente por 1,69% do que é produzido em mar. Ao todo, a
produção nordestina representou 9,72% do petróleo produzido no país em 2006.
No Nordeste, há duas refinarias: a Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste –
Lubnor, no Ceará, e a Refinaria Landulpho Alves - RLAM, na Bahia, ambas pertencentes à
Petrobras. Os principais clientes de combustíveis líquidos da RLAM são as grandes
distribuidoras de combustíveis, de nafta, o Pólo Petroquímico de Camaçari (BA) e algumas
distribuidoras de asfalto. A LUBNOR atende à demanda regional de asfaltos (líder nacional
de produção) e, desde 1998, supre também a demanda nacional de óleos básicos naftênicos. A
Figura 2 mostra a distribuição geográfica das refinarias de petróleo no país.
A capacidade instalada no Nordeste para refino de petróleo é insuficiente para atender à
demanda regional por derivados, gerando um déficit suprido por importações inter-regionais
e/ou internacionais. Segundo a ANP (2007), será necessário construir e colocar em operação
três novas refinarias, até 2010, com capacidade individual de 30 mil metros cúbicos diários,
para cobrir integralmente a demanda nacional projetada por derivados petrolíferos para aquele
ano.

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Fonte: adaptado da Petrobras (2007)


Figura 2 - Localização das refinarias brasileiras de petróleo

Em geral, os processos de refino são adaptados às demandas dos consumidores, e esse é um


dos critérios que determinam a localização das refinarias. Isso se justifica por ser mais
eficiente, em termos de custo, o transporte de grandes volumes de petróleo bruto por
oleodutos do que de seus derivados em menores volumes e por diversos meios de transporte.
Outro critério considerado é a proximidade com os locais de produção ou infra-estrutura
existente para transportar o petróleo do ponto de produção até a planta de refino. Há que se
considerar também o fato de que uma refinaria é uma indústria estratégica que, por sua
ligação com diversas cadeias produtivas, atrai novos investimentos, alavancando o
desenvolvimento da região onde está inserida.
Dados o déficit de derivados de petróleo, que era da ordem de 9,9 milhões de metros cúbicos
em 2002 nas regiões Norte e Nordeste, e a possibilidade de redução de custos com transporte
de derivados para esses mercados, aliados a uma política governamental desenvolvimentista e
de redução das desigualdades regionais, o estado de Pernambuco foi escolhido para receber
uma das refinarias a serem construídas no Brasil nos próximos anos (ANP, 2007).
Na oitava rodada de licitações de blocos exploratórios realizada pela ANP, foram ofertadas
áreas em sete bacias sedimentares. No Nordeste, constavam blocos terrestres nas Bacias
Tucano Sul e Sergipe-Alagoas, e blocos marítimos nas Bacias Pará-Maranhão, Barreirinhas,
Espírito Santo (litoral norte do estado) e Sergipe-Alagoas.
Essa oferta gerou grande expectativa nos agentes econômicos, os quais vislumbravam serem
beneficiados por meio do pagamento de royalties aos estados e municípios, pagamentos de
aluguéis aos proprietários das terras exploradas e a geração de serviços e empregos na região.
Embora a oitava rodada de negociações esteja suspensa por determinação judicial, a
expectativa continua, pois a ANP informou que iniciou estudos geológicos para definir os
blocos licitados na próxima rodada. Estão sendo estudadas áreas em oito bacias sedimentares:
Campos, Santos, Espírito Santo, Pará-Maranhão, Parnaíba, Pernambuco-Paraíba, Potiguar e
Recôncavo. Dessas, cinco localizam-se no Nordeste e uma no litoral norte do Espírito Santo.
Alguns desses blocos de exploração são mais atrativos para empresas de pequeno e médio
porte, considerando as dimensões do setor, porque alguns se localizam em bacias com

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produção já declinante. Mas há setores de elevado potencial e de novas fronteiras de


exploração.
Outros grandes impactos positivos na economia regional decorrem da instalação da Refinaria
Abreu e Lima e de um estaleiro de grande porte em Pernambuco.
A Refinaria é um empreendimento conjunto da Petrobras e da estatal venezuelana PDVSA, e
o investimento total estimado é de US$ 1,25 bilhão. Prevista para entrar em operação em
2012, processará óleo pesado, produzindo basicamente diesel, GLP e nafta, que respondem
pela maioria dos derivados importados pelo Brasil. A expectativa é de criação de dez mil
empregos diretos por ano, na fase de construção, chegando a 16 mil no período de pico; na
fase de produção, a demanda será de 2 mil empregados.
O Estaleiro será construído pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz
Galvão, Aker Promar e Sansung e contará com investimentos da ordem de US$ 170 milhões.
Previsto para entrar em operação em abril de 2008, terá capacidade de fabricar dois navios
para transporte de petróleo e seus derivados simultaneamente e uma plataforma semi-
submersível. Tanto na implantação como na operação, deverá gerar 2 mil empregos, podendo
chegar a 5 mil quando em produção simultânea de plataforma e navio. Estima-se que 65% dos
investimentos para a construção de petroleiros sejam direcionados para a cadeia de
fornecimento de materiais, peças e equipamentos (chapas grossas de aço, tintas e solventes,
caldeiras, quadros, bombas comuns, válvulas comuns e trocadores de calor). Haverá maior
demanda por bens e serviços que poderá ser suprida regionalmente, beneficiando o Nordeste.
6. Aspectos socioeconômicos e ambientais
O Nordeste possui seis bacias sedimentares com potencial petrolífero. São elas: Bacia do
Ceará, no mar; Bacia Potiguar em terra e no mar; Bacia de Sergipe-Alagoas, em terra e no
mar; Bacia do Recôncavo e Tucano Sul, em terra; Bacia de Pernambuco-Paraíba, no mar e
Bacia do Rio do Peixe, Sub-bacia do Souza. Destas, as quatro primeiras são produtoras e as
duas últimas apresentam indícios de óleo.
Os licenciamentos ambientais para exploração de bacias terrestres restritas aos limites de um
único estado são de responsabilidade dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs). Já
no caso das bacias marítimas, esse licenciamento é feito pela Coordenação Geral de Petróleo e
Gás do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama.
Todas as diretrizes para obtenção do licenciamento ambiental são disponibilizadas pela ANP
por ocasião da abertura de rodadas de licitações.
7. Distribuição espacial no Nordeste
No Nordeste, os estados produtores de petróleo são, em ordem de importância, Rio Grande do
Norte, Bahia, Sergipe, Alagoas e Ceará. As duas refinarias existentes localizam-se na Bahia e
no Ceará. Também na Bahia, está localizado o Pólo Petroquímico de Camaçari.
O estado de Pernambuco foi eleito para receber a nova refinaria da Petrobras, assim como o
estaleiro que produzirá plataformas de exploração e produção de petróleo e navios petroleiros.
O estado do Maranhão (Bacia Pará-Maranhão) será incluído, possivelmente, na próxima
rodada de licitação pela ANP de áreas para exploração, assim como Bahia (Bacia do
Recôncavo), Rio Grande do Norte (Bacia Potiguar), Piauí (Bacia do Parnaíba) e Pernambuco
e Paraíba (Bacia Pernambuco-Paraíba).

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8. Dificuldades do setor
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelo setor de petróleo, que enfraquece os impactos
positivos que a atividade gera na Região, é a baixa oferta de mão-de-obra qualificada. O
Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural - Prominp, criado
em 2003, tem a missão de transformar a produção de petróleo e gás natural, o transporte
marítimo e dutoviário, o refino e a distribuição de derivados em oportunidades de crescimento
para a indústria nacional, criando empregos e distribuindo renda por meio de salários,
aluguéis e lucros. O maior desafio do Prominp é preparar mão-de-obra especializada para
garantir o atendimento à demanda da cadeia.
Dentro das atividades do Prominp, foi elaborada uma lista de 180 ocupações profissionais a
serem treinadas para trabalhar na cadeia de fornecedores da Petrobras e de seus concorrentes.
Criou-se, então, em novembro de 2005, o Plano de Qualificação Profissional que tem a
intenção de formar 70 mil pessoas até o fim de 2007.
Metas de conteúdo local do Prominp, estabelecidas no início de sua implantação, foram
revistas diante das dificuldades de abastecimento pelos fornecedores de materiais, serviços e
equipamentos. A alta carga tributária, a elevada taxa de juros e o câmbio sobrevalorizado
diminuem a competitividade dos fornecedores nacionais e contribuem para dificultar o
cumprimento das exigências de conteúdo nacional para os grandes projetos brasileiros. Em
conseqüência, para 2007, o percentual de conteúdo nacional caiu de 65,46% para 62,51%.
Não há a cultura da participação nem capacitação tecnológica de pequenas e médias empresas
na exploração não-convencional em campos maduros que não são considerados mais atraentes
devido à baixa escala de produção (BNB, 2006).
A nacionalização do setor promovida pela Venezuela e Bolívia, traz uma insegurança jurídica
e institucional quanto ao cumprimento de contratos e fornecimento de petróleo e gás natural.
9. Potencialidades do setor
A inclusão de áreas de exploração nordestinas nas rodadas de licitações da ANP tem gerado
grande expectativa nos agentes econômicos, os quais poderão ser beneficiados através do
pagamento de royalties, aluguéis e a geração de emprego e renda.
A Petrobras deverá investir em novos empreendimentos entre 2006 e 2011 na Região, com
previsão de gerar 70 mil postos diretos de trabalho. Parte deste investimento será destinada ao
contínuo processo de nacionalização de encomendas de bens e serviços, com um
compromisso de fazer investimentos com 84% de conteúdo nacional, aumentando a demanda
por bens, pessoas e serviços de fornecedores brasileiros.
A diversificação da matriz energética mundial a partir da utilização do etanol vislumbra um
reaquecimento das plantações de cana-de-açúcar principalmente nos estados de Alagoas,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe.
A fabricação do biodiesel a partir de oleaginosas, primordialmente, da mamona, traz uma
nova perspectiva de inclusão social no semi-árido nordestino, incluindo ganhos cambiais para
o país a partir da diminuição da importação do óleo diesel. A Bahia é o maior produtor
nacional. O Programa Brasileiro de Biodiesel permite o aumento progressivo da adição de
biodiesel ao diesel mineral, podendo chegar a 5% em 2010 e 20% em 2020 (BNB, 2006).
A construção do gasoduto ligando a Região Sudeste ao Nordeste (Gasene) pode beneficiar,
além das empresas de construção civil, um grande número de empresas de serviços como:

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projetos executivos, topografia, transportes, escavação e demolição de rochas, caldeiraria,


soldagem, pintura, cadastramento e serviços jurídicos (desapropriação), informática e serviços
gráficos, serviços ambientais, alimentação, vigilância, serviços médicos etc.
10. Conclusões
A Região Nordeste está participando da expansão da indústria nacional de petróleo, haja vista sua inclusão nas Rodadas de licitações da
ANP, nos investimentos diretos da Petrobras e de outras operadoras, nos pagamentos de royalties e de impostos e na criação da infra-
estrutura correlata, sendo beneficiada pela geração de emprego e renda em muitos setores da economia.

Para que o Nordeste possa ser beneficiado de forma mais abrangente, políticas de integração
dos produtores locais aos novos investimentos (tanto na fase de construção como na de
operação) são fundamentais para a ampliação dos impactos no desenvolvimento da Região.
A atração de grandes investimentos como a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro
proporcionará um amplo rebatimento em outras cadeias produtivas como o setor têxtil,
máquinas, calçados, tintas, devido à participação dos derivados da matéria-prima. Ressalte-se
também o impacto na construção civil, comércio, serviços, mercado imobiliário dentre outros
que os canteiros dessas obras e os funcionários contratados movimentarão na economia de
Pernambuco e, possivelmente, da Região. Além do aumento da demanda de aço que reforça a
instalação de uma nova siderúrgica na Região.
No âmbito do Prominp, já está delineada parte da demanda por bens e serviços da cadeia de
fornecedores da indústria petroleira para os próximos anos, o que facilita o estabelecimento de
políticas de integração da cadeia para aumentar o aproveitamento dos insumos e mão-de-obra
regionais. Nesse contexto, é imprescindível o fortalecimento das instituições como
universidades, centros de capacitação, institutos de pesquisa, agências e bancos de
desenvolvimento para atuarem no fomento, principalmente, junto dos agentes econômicos de
pequeno e médio porte integrantes da cadeia de produção e beneficiamento do petróleo.
A diversificação da matriz energética a partir da utilização de fontes de energias renováveis
proporcionará um rebatimento positivo em outras cadeias produtivas com inclusão social no
semi-árido nordestino.
Referências
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