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PROVÉRBIOS COMO FONTES HISTÓRICAS EM LÍNGUA IORUBA

Por
Bamisile Sunday

RESUMO

Desde que o homem existe, até aos dias de hoje, os provérbios serviram e são
continuamente usados, de modo diverso, por homens e mulheres das mais diferentes
comunidades, para retratarem, tipificarem e emitirem juízos sobre as mais variadas
situações e ocasiões das suas respectivas mundividências. Nesta apresentação vamos
examinar alguns provérbios em língua Ioruba, tomando-os como fonte ou repositório de
informação histórica. O nosso objetivo é mostrar de que modo estes elementos orais
evocam acontecimentos e circunstâncias particulares e gerais de uma certa
comunidade,- façanhas, situações de doença, de conflitos tribais, de fome, ou
festividades como as entronizações entre outras, e ainda se assumem como crítica a
procedimentos errados ou criticáveis. Com este ensaio, esperamos poder apresentar
provérbios como fonte fiável de informação testada pelo uso e que alguma da
informação assim obtida serve para análise das diferentes acontecimentos históricos e
situações, de uma dada sociedade.

Palavras-chave: Provérbios, informação histórica.


ABSTRACT

PROVERBS AS HISTORICAL REFERENCES IN YORUBA


By
Bamisile Sunday1

Since the existence of human race and up to the contemporary days, proverbs
served and are continually used in various ways by men and women to describe
different situations at different occasions. In this presentation we shall examine some
Yoruba proverbs as the basis and sources of historical information. Our objective is to
show how these oral elements perform the roles of presenting ideas and describing
different circumstances in various ways, as well as, how they bring back to memory
general or specific events such as heroic deeds and misdeed, sickness, individual and
inter-tribal conflicts, starvation, festive activities and enthronement among others in a
society where these oral elements are used and are transmitted from generation to the
other. We hope that through this essay, we shall be able to portray proverbs as reliable
sources of information, tested by usage and that, some of the data obtained from them
are sources of different historical events and situations in any given society.

Key-words: Proverbs, historical data.

1
Bamisile is a Phd Student of Comparative Studies Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa.
1. Introdução: A Decorrência Histórica entrevista em provérbios da Cultura e
da Língua Yoruba.

A história é um meio privilegiado para passar acontecimentos a sucessivas


gerações. Se uma nova geração não estiver ao corrente dos factos da história, ela estará
desfamiliarizada com os acontecimentos históricos que foram preservados para ela, pela
geração anterior. Neste sentido devemos dizer que a cultura Yoruba, como qualquer
outra, preocupada com a explicação dos factos históricos, não encara o percurso
histórico de ânimo leve. De facto, na abrangência histórica em que se inscreve a cultura
Yoruba, contam-se inúmeros factos de épocas diversas que se referem à vida e à
personalidade de muitas figuras notáveis desta região da África. Algumas dessas figuras
são justamente lembradas pelos seus feitos e acções, enquanto outras, por razões
contrárias mas com o mesmo efeito, não são esquecidas pela acção nefasta que tiveram
em vida. O comportamento reprovável que muitos tiveram em vida lança continuamente
uma sombra de receio e horror sobre as gerações do presente que buscam fazer a leitura
histórica dos tempos passados. E por definição os provérbios são, em si mesmos, o
repositório das lições da história e das experiências de vida dos nossos ancestrais.

É este entendimento que nos leva a estudar os provérbios numa perspectiva


histórica. Com esse propósito vamos estudar sete provérbios que aludem a diferentes
acontecimentos caldeados da vida social e da cultura orubana.

Em termos estruturais, este ensaio consiste em três partes interligadas. A


primeira é composta por uma breve introdução onde nos debruçamos sobre a
metodologia adoptada e também sobre a definição, importância e limitações dos
provérbios em contexto histórico. Na segunda parte centramos a nossa atenção nos sete
provérbios por nós escolhidos, tendo em conta a conjugação de temas e situações neles
abordados. Na parte final daremos atenção à importância dos provérbios, atendendo ao
contexto histórico de que decorreram e sublinhando também a importância dos
provérbios ou aforismos populares, em sentido lato. Esperamos que este trabalho seja
assim um contributo acrescido para a compreensão da história do povo da etnia Ioruba,
ainda relativamente pouco conhecido no ocidente e aqui apresentado numa visão
intercultural. Esse traço de interculturalidade é, até certo ponto, o resultado da
experiência de vida em mim próprio aglutinada, enquanto cidadão de origem iorubana,
mas há mais de uma década radicado no seio da cultura portuguesa, tão dissemelhante
nas suas mundividências como no modo de as formular e expressar, mas com um
substracto comum de valores universais que sempre irmana toda a a humanidade nas
suas referências ao que é justo fazer-se, através do que os nossos avoengos nos legaram.
Naquilo que nos deixaram dito e por nós foi adoptado como “lições de vida”, sob a
forma de provérbios, rifãos populares, máximas ou adágios

1.i Metodologia adoptada:


Nesta nosso estudo e apresentação usamos um método de abordagem que remete
para a historicidade dos provérbios, procurando estar em conformidade com
procedimentos frequentemente utilizados por historiadores, politólogos, economistas,
cientistas sociais e também antropólogos Schutt (2006), Neumann (2003) e Charmaz
(2000). Nesta perspectiva, o estudo da história implica olhar para o passado numa
tentativa de o interpretar e perceber com a falibilidade inerente à análise de testemunhos
não preenciais. Assim também os críticos literários e os sociólogos estudam os
acontecimentos históricos que são parte de contextos literários e sociais, para
descobrirem porque é que certos acontecimentos ocorreram e, sobretudo, para
entenderem o significado social que esses acontecimentos tiveram e ainda têm (Babbie,
2001).

A consciência histórica de uma determinada nação não está tão interessada em


saber como é que a globalidade dos homens se desenvolveu, mas, pelo contrário, como
é que as pessoas de um determinado povo se tornaram no que são hoje e como é que
cada um dos eventos estudados concorreu para isso, que factores propiciaram ou
permitiram que isso acontecesse num determinado lugar, muito especificamente
(Neumann, 2003). De um modo geral a análise histórica exige sempre um estudo dos
acontecimentos, do seu processo de ocorrência e das instituições existentes nas
civilizações passadas, com o propósito de se encontrarem aí as origens e os antecedentes
da vida social contemporânea. Deste modo se chega a uma interpretação justificável da
natureza dos factos e do seu modo de ocorrência. A ideia subjacente é que as formas de
organização social do presente, os nossos costumes e modos de vida têm as suas raízes
no passado e que nós podemos explicá-los melhor mediante um estudo de investigação
que vá até à sua origem (Inkeles, 1987).

Além disso, nesta busca de regresso ao passado, recorremos, sempre que


possível a testemunhos que permitem análise qualitativa. Entre outras “provas”
socorremo-nos, por exemplo, de fotografias, que são uma fonte mais recente e
importante para fixação e ilustração do passado. Neste sentido, a análise de conteúdo do
que é dito, vindo do passado, é um testemunho ilustrativo de como foi o passado,
através do que se continua a dizer, num presente que continua a vivenciar dados de
informação semelhante.método. Deste modo o provérbio tem o valor de “fotografia do
passado” com a actualização ao presente em que este continua a exercer-se com razão
de ser, mesmo se em contextualizações evolutivas.

1.ii. Provérbios escolhidos como representativos da cultura Ioruba


Os provérbios são um aspecto fundamental da cultura de uma comunidade e são
usados como veículo facilitador de comunicação, além de outras funções. Na sociedade
do povo Yoruba, como na portuguesa, que são a base da minha formação sócio-cultural,
os provérbios são usados em actividades diárias, nos mais diversos contextos.

Na língua Yoruba, aquilo que se diz só é considerado algo bem dito e inteligente
quando está enlaçado com provérbios, e estes são inúmeros nas diferentes culturas
destes países. Tendo em atenção várias definições de provérbios que nos são formuladas
por diversos críticos e estudiosos desta temática, designadamente Yusuf, (1994, 1995),
Meider (1989), Ruth Finnegan (1981), Harris (2004), Holman e Harmon (1986) e
Bamisile (2009 e 2011), verifica-se haver um consenso que define os provérbios como
ditos sábios que nos ajudam a explicar comportamentos e situações apenas em poucas
palavras. É o caso destes dois provérbios em Yoruba:

i. Em yoruba:“Bí òwe bí òwe ni à n lu ìlù àgidígbo,2 o l gb n ni ó n o omoràn


ni ó m n o”
Em português: Toca-se o tambor agidigbo para se enviar mensagens que são
como os provérbios, apenas quem sabe consegue dançar ao seu ritmo e só
quem tem conhecimento é capaz de decifrar tais mensagens.
ii. Em yoruba“ we l sin r , r l sin òwe, bí r b s n , òwe ni a fi ñ wa”
Em português: Um provérbio é como um cavalo que nos leva rapidamente à
ideia que procuramos.

2
O tambor agidigbo da cultura Yoruba é usado nos principais eventos culturais e festas religiosas.
. Este instrumento musical é um objecto de dimensão considerável, definido como um lamelofone
percutido com os dedos da mão, entre os Yoruba na Nigeria. Na sua aparência assemelha-se a um piano
ou caixa rectangular em Madeira. Quem toca o instrumento fica com uma corda enrolada à volta do
pescoço o que o ajuda a manter o instrumento ao nível do peito, facilitando-lhe a execução musical. O
músico utiliza o gargalo de uma garrafa enfiada no dedo polegar para percutir os lados da caixa de
resonância que abraça com ambas as mãos. Nessa posição ele usa os dez dedos das mãos para percutir as
linguetas de metal deste instrument que ao vibrarem produzem apreciáveis sonoridades, ao mesmo tempo
que há acompanhamento musical de uma sekere, ou waka ou uma pequena banda musical ( apala )
No seguimento da definição anteriormenteste estabelecida sobre aquilo em que se
confugura um provérbio, vamos agora passar a sublinhar de que modo os provérbios são
importantes no seio de uma determinada comunidade:
- Eles servem para nos fazer entender melhor uma situação, com recurso a um
pequeno número de palavras incisivas;
- Alguns provérbios invocam acontecimentos particulars (guerra, doença,
cerimónias, festas, etc.) da vida das comunidades;
- Os provérbios podem servir como uma afirmação de facto ou como uma aviso
contra certos procedimentos e situações;
- O conhecimento dos provérbios ajuda a aperfeiçoar o conhecimento da vida;
- Eles facultam-nos um melhor entendimento das culturas em que surgem.

1.iii. Limitações ou inadequações extemporâneas dos provérbios.

Os provérbios podem, por vezes, vir a ficar ultrapassados pelos


acontecimentos do presente. Exemplos retirados da cultura yoruba:

i. Em yoruba: “Ogun omode ki isere ga ogun odun”


Em português:Vinte crianças não brincarão juntas vinte vezes.

Há cerca de cento e cinquenta anos a verdade deste provérbio era auto-


evidente, reportada às condições de vida incerta do povo Yoruba a que o
provérbio aludia, num tempo em que grassava a escravidão, as doenças
assolavam as populações africanas e os serviços de tratamento médico
vindos do ocidente eram escassos
Mas a situação mudou e, sendo outra, também o provérbio é agora usado
para nos dizer que por muito amigas que duas ou mais pessoas sejam, a vida
fará com que elas se separem um dia.

ii. Em yoruba: “Kosi bi a a ti pe laye to, eran ogun nise”.


Em português: Não importa quanto tempo um cão viva, -ele é carne para
sacrifício em honra de Ogun ou sera morto em sacrifío a Ogun, o deus do
trovão.

Este provérbio era importante na sociedade Yoruba tradicional, antes da


chegada da cultura ocidental, tempo em que as pessoas ainda adoravam
deuses pagãos como Ogun, deus do trovão. Mas agora a realidade é outra,
pois que actualmente a maioria dos nigerianos são cristãos ou mussulmanos.
Tratam os cães como animais de estimação, como pertencendo à família.
Além disso há hoje grupos de defesa dos animais que se opõem de modo
determinado à matança de animais. Assim, as novas circunstâncias de vida
que se vão desenvolvendo ao longo dos tempos tornam este e outros
provérbios obsoletos e inapropriados.

2. Provérbios como fontes de decorrências históricas, em língua yoruba

i. Em yoruba : Bi o l’aiya ki o ṣe ika bi o ranti iku Gaa ki o ṣe otit


Em português: Se és suficientemente corajoso continua a agir mal, mas
quando te lembrares de como Gaa morreu, logo passarás a falar a verdade e a
agir bem.
Basorun Gaa era um nobre distinto e comandante miliar do antigo reino de Oyo, na
passagem do século XVII para o XVIII. Ele manteve este posto durante o reino de
quatro reis (Alafin) consecutivos e foi decisivo para as conquistas militares durante esse
tempo. Muito aclamado pelas suas feiticeiras, ele conseguiu destituir e foi responsável
pela morte de três reis, antes de ser subjugado pelo rei Abiodun (que reinou no período
de 1770-1789), por meio de astúcias e traições dos generais ao seu serviço. Diz-se que
o mataram, cortando-o em pedaços que lhe eram mostrados e que depois foram
queimados para que ele não pudesse voltar à vida.
A escultura de Basorun Gaa em Ibadan, Estado de Oyo, Nigéria

ii. Em yoruba : Iyalode Tinubu, kiniu eru jeje olugbeja awon eru
Em português: Tinubu, líder das mulheres de Abeokuta e também de Lagos,
defensora dos escravos, alguém que dispõe de grande quantidade de armas,
balas e pólvora, além de muito dinheiro.

Tinubu foi a primeira líder da terra de Egba, que era ao mesmo tempo uma
activista e uma mulher de negócios. Ela enriqueceu negociando escravos e estando
sediada em Abeokuta. Quando visitou Badagry e se apercebeu das condições desumanas
a que os escravos estavam submetidos pelos homens brancos, ela tornou-se
abolicionista. Mais tarde, dedicou-se ao negócio do tabaco e do sal. Em 1855, liderou
uma campanha contra africanos que, após terem terminado os seus contratos, haviam
retornado do Brasil e da Serra Leoa, e agora, em Lagos, estariam a desenvolver uma
oposição ao rei sem respeito pelos costumes locais. Aparentemente, as acções de Tinubu
contra esses imigrantes desagradaram aos colonialistas britânicos, que já há algum
tempo vigiavam as suas acções, desde que ela ajudara o rei Akintoye a recuperar o seu
trono. Ao apoiar o rei local, insistindo para que os resistentes estrangeiros respeitassem
os costumes locais e ao opor-se ao tráfico de escravos, as actividades de Tinubu
interferiam com a política colonial britânica. Em consequência disto, em 1956, as
autoridades coloniais britânicas deportaram-na de Lagos para a sua terra natal, Egba, no
reino de Abeokuta. Aí, ela continuou a fazer negócios com armas de fogo, pólvora e
munições. (Ela também fazia negócio com óleo de palma e outros produtos agrícolas
produzidos na sua propriedade).

Ela estava preocupada com as guerras entre Abeokuta e o Daomé, que ocorriam por
essa altura e acabou por se envolver na política em Egba, onde agora vivia. Tinubu fez
empréstimos de dinheiro, de bens, alimentos e armas ao exército durante o período da
guerra. Ela também ficou responsável pela actividade comercial em tempo de paz.
Contribiu para a defesa de Egba durante as tentativas de conquista pelo Dahomé em
1863, após o que lhe foi conferido o titulo de Iyalode, isto é, líder das mulheres, em
1864, o que a colocou numa posição oficial de poder. Tinubu foi a segunda mulher a
receber este título.
A escultura de Iyalode Tinubu em Tinubu Square, Estado de Lagos, Nigéria

iii. Em yoruba : “Efunsetain Aniwura Iyalode Ibadan to u oba ibomi lo”.


Em português: Efunsetain Aniwura Iyalode Ibadan, mulher que foi líder do
povo de Ibadan, foi muito poderosa e mais influente que a maioria dos reis
de outros povos.

Efunsetain Aniwura, a grande chefe de Ibadan, foi uma heroína mítica e


exemplo da mulher africana que se opôs ao chauvinismo masculino e à desigualdade de
género. Ela foi uma mulher rica e poderosa, destemida, forte e inteligente. Envolveu-se
em negócios com os europeus, trazendo escravos e outros bens do interior do continente
africano para a costa e adquirindo em troca bens importados, especialmente armas e
munições. Para além de fornecer escravos para combaterem como soldados pela sua
comunidade, ela também costumava facilitar vendas a crédito do modo a ajudar os
guerreiros de Ibadan que partiam nas expedições militares.

E foi pelo facto de Latoosa, o general do exército e a sua força se recusarem a


pagar-lhe grandes dividas que tinham para com ela, que Efunsetain Aniwura, para não
entrar em falência, se recusou a fornecer – lhes mais munições e soldados para outras
expedições militares. Assim, em 1874, Latoosa iniciou uma outra guerra e solicitou a
ajuda de Aniwura, mas ela recusou. Quando Latoosa regressou da guerra, ele acusou
Aniwura do crime de sabotagem, entre outras acusações. Apesar de ter pagado pesadas
multas e ter conseguido o apoio de chefes proeminentes, mediante oferendas de alto
valor, para que esses chefes intercedessem por ela, Latoosa não lhe perdoou. Outro
problema que muito afectou Aniwura foi a perda da sua única filha durante o trabalho
de parto. Em resultado dessa perda, ela ficou psicologicamente deprimida e descarregou
esse seu mal-estar sobre os seus escravos. Então, ela emitiu uma lei que condenava à
morte qualquer escrava que ficasse grávida, assim como qualquer homem que
engravidasse uma mulher escrava. Por ofensas menores, Aniwura matava cerca de
cinquenta escravos (trinta homens e vinte mulheres). Ela veio a ser condenada por
inúmeras ofensas, incluindo o desprezo pelo conselho dos chefes e tendo sido banida do
conselho dos chefes, recusou essa decisão. E como Tinubu não podia ser executada
publicamente, o conselho dos chefes subornou Kumiyilo, o seu filho adoptivo e outros
familares para a assassinarem.

A escultura de Efusetan em Ibadan, Estado de Oyo, Nigéria

iv. Em yoruba “Agudas3 ò je labé Gèésì4, is w wa làw n é” –


Em português: Nós, os Agudas não estamos sob as ordens da administração
britânica pois que nos sustentamos pelo esforço do nosso trabalho braçal.

Os Agudas são ex-escravos dos portugueses que retornaram a Lagos, na Nigéria, vindos
do Brasil. Durante o tempo em que estiveram no Brasil, eles apreenderam várias
profissões, tais como as de carpinteiro, pedreiro, fundidor, etc., o que os habilitou a
serem capazes de se bastarem a si próprios. Esses agudas opuseram uma resistência

3
Esta palavra é, evidentemente, uma corruptela de “Ajudas” palavra que em português significa aqueles
que auxiliavam ou prestavam ajuda ou serviços ao colono.
4
Gèési é também uma derivação, embora não tão evidente, da palavra “Inglês / English”.
corajosa à administração colonial britânica, ao recusarem-se a trabalhar para os ingleses,
o que originou o seguinte provérbio: Ágùda ò je labé Gèésì, is w wa làwá.

v. Em yoruba “Ab ni n ab ni, afinìs sín nj afinisesin, èwo ni “ p l mb


ar Ìbàdàn l’ó de Sód k ”
Em português: Aceitarei que me maltrates, até entenderei se me apontares ao
meu inimigo, mas o que dizer se me saudares com um “Ol , como est s” eu
que sou de Ibadan, em frente da casa de alguém de Sodeke?
Este provérbio tem dois significados subentendidos, um primeiro, é uma referência à
Guerra de Owu que começou por volta de 1821 e levou à destruição das suas terras,
tendo contribuído também para a destruição do seu povo. Com a ajuda de Sodeke, o
Senhor da Guerra de Egba, o povo de Owu estabeleceu-se em Abeokuta, em 1830. Com
essa ajuda de Sodeke o povo de Egba aventurou-se numa guerra de sobrevivência contra
os seus vizinhos, especialmente os de Ibadan, de que resultou um longo período de
hostilidades, como é notório por volta de 1870. Vivia-se então um período de grande
suspeição entre as duas cidades e por isso, um habitante de Egba que fosse encontrado
em Ibadan era logo morto, o mesmo acontecendo a um habitante de Ibadan que fosse
visto em Egba.

Assim, neste tipo de situação tensa, percebemos a severidade da traição que é


denunciar a presença de alguém de Ibadan nas vizinhanças de Sodeke. O segundo
significado deste provérbio é o que formula um ataque directo àqueles falsos amigos
que, de modo traiçoeiro, entregam os amigos nas mãos dos seus inimigos.

vi. Yoruba: “Ona lo in eru ni baba , e se aye e e nitori ola, to ba e iwo lo leni
ko lopo e koda nitori e lomiran bo ti o ni o o ola”.
Português: “Um escravo é também alguém que nasceu livre na sua terra
distante, antes de ter sido capturado e escravizado, por isso devemos
procurar levar a vida que temos da melhor maneira, pois ninguém sabe o que
nos espera no futuro.”

Este provérbio remete para o período pré-colonial e colonial da Nigéria – um tempo em


que ocorreram guerras entre tribos e diferentes comunidades, cujo fito era a conquista
de territórios e propriedades bem como a captura de seres humanos para serem usados
como escravos. A chegada dos colonialistas europeus também fez com que o comércio
de escravos se tornasse atractivo. E então, muitos africanos foram capturados e vendidos
como escravos para terras estrangeiras. Devido às incertezas que pairavam nesses
tempos, pois também ninguém sabia quem viria a ganhar a guerra – a sabedoria dos
mais velhos aconselhava os donos dos escravos a serem atenciosos e justos para com
eles, pois eles haviam nascido livres nas terras de onde vieram e um dia a maré poderia
voltar-se contra os próprios senhores dos escravos e fazer deles também escravos.

vii. Em yoruba: “Ólek ì órè”


Em português: “A batalha de Ore foi devastadora e chocante”
Este provérbio é uma referência à Guerra Civil nigeriana que ocorreu entre 1966 e 1970,
entre os descendentes da região de Biafra liderados por Odumegu Ojukwu e o governo
da Nigéria de então regido pelo Coronel Yakubu Gowon. Esta guerra levou à perda de
muitas vidas e propriedades. Muitas comunidades foram literalmente exterminadas. Por
isso, Ore é um nome que até hoje serve para referir o grau máximo da carnificina que ali
ocorreu, quando a batalha chegava ao fim.

3. Observações conclusivas:
A importância dos provérbios decorrente da sua articulação entre a história do
passado e a vivência do presente pode ser enunciada, de modo sumariado, pelas razões
seguidamente aduzidas:

• Permitem-nos aprender sobre a importância de pessoas e factos do passado.


• Levam-nos a uma melhor compreensão da nossa própria existência, enquanto
parte da história de uma determinada etnia, nação, cultura e vivências de seus
antepassados, etc.
Podem funcionar como medidas correctivas, veiculando informações que nos
permitem termos um futuro melhor (evitando a repetição das atrocidades de
guerras do passado, mediante a análise das suas causas e incidências). Está aqui
envolvido o tipo de informação que nos ajuda a evitar a repetição de erros
semelhantes, já cometidos no passado.
• Os provérbios ajudam-nos a determinar os efeitos futuros da nossa acção, ao
permitirem a comparação de situações do presente com as já vividas no passado,
bem como as consequências daí havidas.

• Provérbios, rifãos populares, anexins ou adágios, esses lapidares ditos


epigramáticos, são veículo promotor de uma formação cultural mais sólida entre
a população em geral.
Nesta nota conclusiva afigura-se oportuno sublinharmos a importância dos
provérbios, retomando a sua definição em sentido lato. Provérbio ou ditado popular, do
latim proverbium é uma frase de carácter popular, com um texto mínimo de autor
anónimo e que é várias vezes repetido até ser memorizado e utilizado pelo povo que
nele revê o senso comum de um determinado meio cultural, no aconselhamento de
procedimentos, bem como no aviso de consequências sobre as mais variadas
ocorrências e situações do dia-a-dia.
Pela sua importância, os provérbios têm direito a um espaço próprio no Livro
dos Livros. Efectivamente, o Livro dos Provérbios é um dos livros sapienciais do
Antigo Testamento da nossa Bíblia, estando ali inserto entre o Livro dos Salmos e o
Eclesiastes. E conforme ali também se declara na sua introdução, aquele texto sagrado
tem como propósito ensinar a alcançar sabedoria, disciplina e vida prudente, fazendo o
que é correcto com os ensinamentos e a experiência de vida colhida do passado. Os
provérbios, sendo sempre ensinamentos deduzidos da experiência passada, pretendem
instruir sobre o que fazer no presente, mediante expressões que esclarecem sobre factos
e consequências. O conjunto de observações judiciosas e moralizantes que são os
provérbios, ao serem repetidas por sucesivas gerações, valorizam a sabedoria popular e
estabelecem um elo permanente entre as experiências do passado e as vivências do
presente. A sabedoria do passado é assim transportada a um presente onde continua a
ser aceite, enquanto sentença permanentemente actuante. Neste sentido, os provérbios
populares remetem para uma sabedoria ancestral, vinda do fim dos tempos, do próprio
Deus, e daqui o consagrado aforismo que se tipifica na usual expressão – Voz do Povo é
Voz de Deus!
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