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Por
Bamisile Sunday
RESUMO
Desde que o homem existe, até aos dias de hoje, os provérbios serviram e são
continuamente usados, de modo diverso, por homens e mulheres das mais diferentes
comunidades, para retratarem, tipificarem e emitirem juízos sobre as mais variadas
situações e ocasiões das suas respectivas mundividências. Nesta apresentação vamos
examinar alguns provérbios em língua Ioruba, tomando-os como fonte ou repositório de
informação histórica. O nosso objetivo é mostrar de que modo estes elementos orais
evocam acontecimentos e circunstâncias particulares e gerais de uma certa
comunidade,- façanhas, situações de doença, de conflitos tribais, de fome, ou
festividades como as entronizações entre outras, e ainda se assumem como crítica a
procedimentos errados ou criticáveis. Com este ensaio, esperamos poder apresentar
provérbios como fonte fiável de informação testada pelo uso e que alguma da
informação assim obtida serve para análise das diferentes acontecimentos históricos e
situações, de uma dada sociedade.
Since the existence of human race and up to the contemporary days, proverbs
served and are continually used in various ways by men and women to describe
different situations at different occasions. In this presentation we shall examine some
Yoruba proverbs as the basis and sources of historical information. Our objective is to
show how these oral elements perform the roles of presenting ideas and describing
different circumstances in various ways, as well as, how they bring back to memory
general or specific events such as heroic deeds and misdeed, sickness, individual and
inter-tribal conflicts, starvation, festive activities and enthronement among others in a
society where these oral elements are used and are transmitted from generation to the
other. We hope that through this essay, we shall be able to portray proverbs as reliable
sources of information, tested by usage and that, some of the data obtained from them
are sources of different historical events and situations in any given society.
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Bamisile is a Phd Student of Comparative Studies Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa.
1. Introdução: A Decorrência Histórica entrevista em provérbios da Cultura e
da Língua Yoruba.
Na língua Yoruba, aquilo que se diz só é considerado algo bem dito e inteligente
quando está enlaçado com provérbios, e estes são inúmeros nas diferentes culturas
destes países. Tendo em atenção várias definições de provérbios que nos são formuladas
por diversos críticos e estudiosos desta temática, designadamente Yusuf, (1994, 1995),
Meider (1989), Ruth Finnegan (1981), Harris (2004), Holman e Harmon (1986) e
Bamisile (2009 e 2011), verifica-se haver um consenso que define os provérbios como
ditos sábios que nos ajudam a explicar comportamentos e situações apenas em poucas
palavras. É o caso destes dois provérbios em Yoruba:
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O tambor agidigbo da cultura Yoruba é usado nos principais eventos culturais e festas religiosas.
. Este instrumento musical é um objecto de dimensão considerável, definido como um lamelofone
percutido com os dedos da mão, entre os Yoruba na Nigeria. Na sua aparência assemelha-se a um piano
ou caixa rectangular em Madeira. Quem toca o instrumento fica com uma corda enrolada à volta do
pescoço o que o ajuda a manter o instrumento ao nível do peito, facilitando-lhe a execução musical. O
músico utiliza o gargalo de uma garrafa enfiada no dedo polegar para percutir os lados da caixa de
resonância que abraça com ambas as mãos. Nessa posição ele usa os dez dedos das mãos para percutir as
linguetas de metal deste instrument que ao vibrarem produzem apreciáveis sonoridades, ao mesmo tempo
que há acompanhamento musical de uma sekere, ou waka ou uma pequena banda musical ( apala )
No seguimento da definição anteriormenteste estabelecida sobre aquilo em que se
confugura um provérbio, vamos agora passar a sublinhar de que modo os provérbios são
importantes no seio de uma determinada comunidade:
- Eles servem para nos fazer entender melhor uma situação, com recurso a um
pequeno número de palavras incisivas;
- Alguns provérbios invocam acontecimentos particulars (guerra, doença,
cerimónias, festas, etc.) da vida das comunidades;
- Os provérbios podem servir como uma afirmação de facto ou como uma aviso
contra certos procedimentos e situações;
- O conhecimento dos provérbios ajuda a aperfeiçoar o conhecimento da vida;
- Eles facultam-nos um melhor entendimento das culturas em que surgem.
ii. Em yoruba : Iyalode Tinubu, kiniu eru jeje olugbeja awon eru
Em português: Tinubu, líder das mulheres de Abeokuta e também de Lagos,
defensora dos escravos, alguém que dispõe de grande quantidade de armas,
balas e pólvora, além de muito dinheiro.
Tinubu foi a primeira líder da terra de Egba, que era ao mesmo tempo uma
activista e uma mulher de negócios. Ela enriqueceu negociando escravos e estando
sediada em Abeokuta. Quando visitou Badagry e se apercebeu das condições desumanas
a que os escravos estavam submetidos pelos homens brancos, ela tornou-se
abolicionista. Mais tarde, dedicou-se ao negócio do tabaco e do sal. Em 1855, liderou
uma campanha contra africanos que, após terem terminado os seus contratos, haviam
retornado do Brasil e da Serra Leoa, e agora, em Lagos, estariam a desenvolver uma
oposição ao rei sem respeito pelos costumes locais. Aparentemente, as acções de Tinubu
contra esses imigrantes desagradaram aos colonialistas britânicos, que já há algum
tempo vigiavam as suas acções, desde que ela ajudara o rei Akintoye a recuperar o seu
trono. Ao apoiar o rei local, insistindo para que os resistentes estrangeiros respeitassem
os costumes locais e ao opor-se ao tráfico de escravos, as actividades de Tinubu
interferiam com a política colonial britânica. Em consequência disto, em 1956, as
autoridades coloniais britânicas deportaram-na de Lagos para a sua terra natal, Egba, no
reino de Abeokuta. Aí, ela continuou a fazer negócios com armas de fogo, pólvora e
munições. (Ela também fazia negócio com óleo de palma e outros produtos agrícolas
produzidos na sua propriedade).
Ela estava preocupada com as guerras entre Abeokuta e o Daomé, que ocorriam por
essa altura e acabou por se envolver na política em Egba, onde agora vivia. Tinubu fez
empréstimos de dinheiro, de bens, alimentos e armas ao exército durante o período da
guerra. Ela também ficou responsável pela actividade comercial em tempo de paz.
Contribiu para a defesa de Egba durante as tentativas de conquista pelo Dahomé em
1863, após o que lhe foi conferido o titulo de Iyalode, isto é, líder das mulheres, em
1864, o que a colocou numa posição oficial de poder. Tinubu foi a segunda mulher a
receber este título.
A escultura de Iyalode Tinubu em Tinubu Square, Estado de Lagos, Nigéria
Os Agudas são ex-escravos dos portugueses que retornaram a Lagos, na Nigéria, vindos
do Brasil. Durante o tempo em que estiveram no Brasil, eles apreenderam várias
profissões, tais como as de carpinteiro, pedreiro, fundidor, etc., o que os habilitou a
serem capazes de se bastarem a si próprios. Esses agudas opuseram uma resistência
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Esta palavra é, evidentemente, uma corruptela de “Ajudas” palavra que em português significa aqueles
que auxiliavam ou prestavam ajuda ou serviços ao colono.
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Gèési é também uma derivação, embora não tão evidente, da palavra “Inglês / English”.
corajosa à administração colonial britânica, ao recusarem-se a trabalhar para os ingleses,
o que originou o seguinte provérbio: Ágùda ò je labé Gèésì, is w wa làwá.
vi. Yoruba: “Ona lo in eru ni baba , e se aye e e nitori ola, to ba e iwo lo leni
ko lopo e koda nitori e lomiran bo ti o ni o o ola”.
Português: “Um escravo é também alguém que nasceu livre na sua terra
distante, antes de ter sido capturado e escravizado, por isso devemos
procurar levar a vida que temos da melhor maneira, pois ninguém sabe o que
nos espera no futuro.”
3. Observações conclusivas:
A importância dos provérbios decorrente da sua articulação entre a história do
passado e a vivência do presente pode ser enunciada, de modo sumariado, pelas razões
seguidamente aduzidas: