Foi sugerido por algumas autoridades que as bruxas originais surgiram de uma
raça de origem mongol da qual os lapões são os sobreviventes atuais. Isto pode
ou não ser verdade, mas estes "mongóis" não eram humanos. Eles eram
sobreviventes degenerados de uma fase pré-humana da história do nosso planeta,
geralmente – embora erradamente – classificados como atlanteanos. A
características que os distinguia de outros da sua raça era a habilidade de projetar
a consciência em formas animais e o poder que possuíam de reificar formas-
pensamento. Os bestiários de todas as raças da terra estão entulhados com os
resultados das suas feitiçarias.
Eles eram entidades não-humanas; isto quer dizer que eles eram anteriores à
onda da vida humana neste planeta e seus poderes – que hoje pareceriam
alienígenas – derivavam de dimensões extra-espaciais. Eles impregnaram a aura
da terra com sementes mágicas das quais os fetos humanos finalmente foram
gerados.
Arthur Machen foi, talvez, o que chegou mais próximo deste assunto quando
sugeriu que as fadas e o povo pequeno do folclore eram dispositivos dignos que
ocultavam processos de feitiçaria não-humana repelentes à humanidade. (1)
(1) Veja: The White People, The Shining Pyramid, e outras histórias.
Austin Spare dizia ter tido experiência direta com a existência de inteligências
extraterrestres e Crowley – como sua autobiografia torna abundantemente claro –
devotou toda uma vida para provar que consciências extraterrestres e super-
humanas podem existir independentemente do organismo humano e que existem
de fato. (2)
(2) Veja The Confessions, Moonchild, Magick Without Tears e outros trabalhos de Crowley.
Como explicado em Images and Oracles of Austin Osman Spare, (3) Spare foi
iniciado na corrente vital da antiga e criativa feitiçaria por uma mulher idosa
chamada Paterson, que dizia descender de uma linha de bruxas de Salem. A
formação do Culto do Zos e do Kia, por Spare, deve muito ao seu contato com a
bruxa Paterson, que proveu o modelo para muitos dos seus desenhos e pinturas
"sabbáticos". Muito do conhecimento oculto que ela lhe transmitiu está espalhado
em dois de seus livros – O Livro dos Prazeres e Foco da Vida (5).
Nos últimos anos de sua vida, ele incluiu pesquisas esotéricas posteriores em um
grimório (6), que ele pretendia publicar como uma seqüência dos seus outros dois
livros. Embora a sua morte tenha impedido a sua publicação, os manuscritos ainda
existem, e o conteúdo do grimório forma a base deste capítulo.
(4) O corpo considerado como um todo eu chamo de Zos' (O Livro dos Prazeres, p.45). O Kia é o
"Eu Atmosférico". O "Eu" e o "Olho", sendo intercambiáveis, todo o âmbito do simbolismo do 'olho' –
aos quais repetidas referências têm sido feitas – são aqui aplicáveis. (N.T: Em inglês, a palavra "I",
significando "Eu" e "Eye", significando "Olho" possuem pronúncias muito semelhantes.)
(5) Primeiramente publicados em 1913 e 1921, respectivamente. Houve uma republicação recente
de O Livro dos Prazeres, com uma introdução de Kenneth Grant (Montreal, 1975).
(6) Este livro foi dividido em duas partes: O Livro da Palavra Viva de Zos e O Grimório Zoético de
Zos; no presente capítulo refere-se ao livro simplesmente como o grimório.
Eu acredito na carte "como agora" e para sempre... Pois eu sou a Luz, a Verdade,
a Lei, o Caminho e ninguém chega a nada exceto através da sua carne. Não
mostrei eu a vocês o caminho eclético entre êxtases? Aquele caminho
precariamente funumbulatório... Mas vocês não tiveram coragem, estavam
cansados e temerosos. ENTÃO, ACORDEM! Des-hipnotizem-se da pobre
realidade em que acreditam e vivem. Pois a grande maré do meio-dia está aqui, o
grande sino bateu... Deixe que outros esperem involuntariamente a imolação, a
redenção forçada tão certa para tantos apóstatas da Vida. Agora, neste dia, eu
lhes peço que busquem em suas memórias, pois grandes unidades estão por
perto. O começo de toda a memória é a sua Alma. Vida é desejo, Morte é
transformação... Eu sou a ressurreição... Eu, que transcendo êxtase por êxtase,
meditando em Não Precisa Ser em Auto-Amor...
Este credo, dado pelo dinamismo da vontade de Spare e sua grande habilidade
como artista, criou um culto no plano astral que atraiu para si todos os elementos
naturalmente orientados a ele. Ele se referia ao culto como Zos Kia Cultus e seus
devotos diziam ter afinidade com os seguintes termos:
(19) Crowley definiu a Grande Obra em termos de um "Próximo Passo", implicando que a Grande
Obra não é uma coisa remota e misteriosa, inalcançável aos seres humanos, mas a realização do
"aqui e agora" e a atenção à realidade imediata. Tanto Spare quanto Crowley desaprovaram
veementemente os mentirosos que, assustados pela idéia do trabalho, olham para a "próxima vida"
e o inatingível, ao invés de se apegar à realidade e à vida AGORA. 'Oh, tagarelas, falastrões,...
Aprendam primeiro o que é trabalho! E que a Grande Obra não está não distante (O Livro das
Mentiras, Capítulo 52).
(20) 1886-1945.
A palavra Ku tem vários significados em chinês, mas neste caso em particular ele
denota uma forma peculiar de feitiçaria envolvendo elementos que Spare já tinha
incorporado em sua concepção da Nova Sexualidade. Os Adeptos do Ku
cultuavam uma deusa serpente na forma de uma mulher dedicada ao Culto.
Durante um elaborado ritual, ela era possuída e o resultado disso era que ela
projetava, ou emanava, múltiplas formas da deusa como sombras sensientes,
dotadas com todos os encantos possuídos pela sua representante humana. Estas
mulheres-sombras, impelidas por alguma sutil lei de atração, gravitavam até um ou
outro devoto que se sentava em um estado de sonolência ao redor da sacerdotisa
em transe. Então ocorria um congresso sexual com estas sombras e isto era o
começo de uma forma sinistra de controle dos
sonhos, envolvendo jornadas e encontros em regiões infernais.
O sono poderia ser precedido por alguma forma de Karezza (23), durante a qual
um sigilo especialmente escolhido, simbolizando o objeto desejado, é vividamente
visualizado. Desta maneira, a libido é desviada das suas fantasias naturais e
busca satisfação no mundo dos sonhos. Quando se obtiver habilidade, o sonho se
tornará extremamente intenso e dominado por uma sucubo, ou mulher-sombra,
com quem um intercurso sexual ocorre espontaneamente. Se o sonhador tiver
adquirido um grau moderado de proficiência nesta técnica, ele estará consciente
da presença continuada do sigilo. Este sigilo ele deveria unir à forma da succubo,
em um lugar que ficasse no seu campo de visão durante a cópula, isto é, como um
pingente suspenso no seu pescoço; como um brinco; ou como um diadema em
sua testa. O seu lugar deveria ser determinado pelo magista de acordo com a
posição que ele usa durante o coito. O ato irá então assumir todas as
características de um Trabalho de Nono Grau, (24), pois a presença da Mulher-
Sombra será vivenciada com a intensidade vívida de uma sensação e clareza de
visão. O sigilo então se torna sensiente e, no seu curso, o objeto do Trabalho se
materializa no plano físico. Este objeto é, claramente, determinado pelo desejo
personificado e representado pelo sigilo.
(27) Veja Lettes on Od and Magnetism; Karl von Reichenbah, Londres, 1926.
Austin Spare suspeitou, em 1913, que este tipo de energia era o fator básico na
reativação dos atavismos primais, e ele os tratou como se fossem uma energia
cósmica (o "Eu Atmosférico") responsável pela sugestão subconsciente por
meio dos Símbolos Sensientes e através da aplicação do corpo (Zos) de tal
forma que ele poderia reificar atavismos remotos e todas as possíveis formas
futuras.
Durante o tempo em que estava preocupado com estes temas, Spare sonhou
repetidamente com construções fantásticas cujos alinhamentos ele descobriu
ser impossível de lembrar ao acordar. Ele supôs que fossem pistas de uma
futura geometria do espaço-tempo sem relação conhecida com as formas da
arquitetura dos tempos presentes. Eliphas Levi dizia ter um poder similar de
reificar a "Luz Astral", mas ele falhou em mostrar o método preciso da sua
manipulação. Foi para isto que Spare desenvolveu o Alfabeto do Desejo, "cada
letra correspondendo a um princípio sexual". (28) Isto quer dizer que ele notou
certas correspondências entre os movimentos internos do impulso sexual e a
forma externa da sua manifestação em símbolos, sigilos ou letras tornados
sencientes ao serem carregadas por esta energia.
Estas teorias têm suas raízes em práticas muito antigas, algumas das quais –
de uma forma distorcida – proveram as bases do Culto das Bruxas medieval,
covens do qual floresceram na Nova Inglaterra na época dos Julgamentos das
Bruxas de Salem no final do século 17. As perseguições subseqüentes
aparentemente obliteraram todas as manifestações externas tanto do culto
genuíno e das suas contrafações degradadas.
(30) Eles foram herdados das Tradições Draconianas e Typhoninas do Egito pré-dinástico. Veja
O Renascer da Magia, Capítulo 3.
(31) O Caminho dos Atavismos Ressurgentes.
(32) Hécate, a bruxa ou transformadora das trevas em luz, como o girino das águas se
transforma no sapo da terra seca, assim como a lua negra da bruxaria se transforma da
brilhante orbe de radiância mágica e encantamento, exemplificado por Spare na "Bruxa"
Paterson, que se transformou de megera em virgem diante dos seus olhos. Veja Images and
Oracles of Austin Osman Spare, 1975.