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Então, de onde nascem os meus erros? Apenas e unicamente de que, como a vontade
tem um campo mais lato que o entendimento, não a contenho dentro dos mesmos limites, mas
também a estendo às coisas que não compreendo: por ser indiferente a elas, a vontade deflecte
facilmente do bom e do bem e, deste modo, não só erro com também peco (...)
Ora, quando não concebo bastante clara e distintamente o que é verdadeiro, é claro
que se me abstenho de dar o meu juízo sobre uma coisa procedo retamente e não me engano.
Mas, se a afirmo ou nego, então utilizo retamente o meu livre-arbítrio; e se me inclino para o
lado falso, engano-me totalmente; se, ao contrário, abraçar o outro lado, pode [ser] que por
acaso encontre a verdade, mas não estarei isento de culpa, porque é manifesto pela luz natural
vontade.
Descartes (1988), Meditações Sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, pp. 173-5.