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Diretora da Soledad
As mulheres não estão mais em casa. O mercado de trabalho não é mais tão masculino. Os ícones
de masculinidade envelheceram. O sustento, antigo lugar de afeto à moda masculina, não é mais
exclusividade deles. Não existe “novo homem” no futuro da masculinidade, mas o início de uma bus‐
ca por novos territórios de afetos e emoções.
Historicamente, o homem ocupa na sociedade o papel do provedor: aquele responsável por sair à
caça e garantir o alimento da família ou, na contemporaneidade, o que se lança ao mercado de traba‐
lho para ganhar o dinheiro su ciente para sustentar sua casa e sua família. Não à toa, a racionalida‐
de, a força e a rigidez sempre estiveram entre as características esperadas por um homem. Se esse
fosse o início do trailer de um lme, ao cortar para 2013, veríamos o início de uma ruptura nessa tra‐
jetória, atravessada pelo avassalador movimento de empoderamento feminino.
Ao dizer aos homens que as ruas não seriam mais seus espaços de poder na campanha “Chega de
Fiu Fiu”, no Brasil, e marchar expondo a violência do feminicídio nos protestos “Ni Una Menos”, na
Argentina, ou o “¡Vivas nos queremos!” na Colômbia, mulheres latinas estavam não só criando seus
espaços em meio a sociedades patriarcais e machistas. Elas também estavam puxando dos homens
uma rede nição de seus papéis. E é isso que estamos assistindo acontecer a partir de agora, em 2019
em diante.
Entre os homens da América Latina, 63% acham que o empoderamento feminino os leva a repensar
seu lugar na sociedade. As mulheres ocuparam mais o mercado de trabalho – consequentemente,
estão ocupando espaços que eram deles. E mais do que isso: espaços que eram simbólicos de um
lugar social desse homem, de provedor. Ao perder esse lugar, estamos vendo homens em busca de
novas formas de demonstrar afeto.
MASCULINIDADE AFETIVA é como chamamos este novo momento, em que, após a força do empodera‐
mento feminino, os homens veem seu lugar tradicional posto à prova e procuram novos territórios de
projetar afetos, longe das demonstrações racionais de poder. Sai o homem provedor, de um tempo
em que prover (trazer dinheiro, ser o chefe da casa, ter a palavra nal) era sinônimo de cuidar, e
entra a possibilidade de mostrar afeto de outras formas – com todas as di culdades inerentes a
inventar para si um novo comportamento, que não seja marcado pelo olhar feminino, que não seja
“coisa de mulher”. Inventar uma via que seja proprietária dos homens e não herdada da norma femi‐
nina, como a vaidade ou a ideia de “dono de casa”.