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Eduardo Vicente

Chantecler:
uma
gravadora
popular
paulista

EDUARDO VICENTE
é professor e
vice-coordenador
do Programa de
Pós-Graduação em
Meios e Processos
Audiovisuais
(PPGMPA) do
Departamento de
Cinema, Rádio e TV
(CTR) da ECA-USP.
RESUMO

Este texto busca apresentar a trajetória da gravadora paulistana Chantecler,


que, ao longo dos anos 60 e 70, teve um papel fundamental na formação de
artistas ligados a segmentos então menosprezados pelas grandes gravadoras,
especialmente o sertanejo, a música romântica tradicional e a música regional.
Além disso, o texto traz ainda uma reflexão acerca do processo de estratificação
do consumo de música popular que se verificou no país a partir dos anos 60
e, nesse contexto, do papel que passou a ser ocupado pelas gravadoras nacio-
nais diante das empresas internacionais (majors) que estavam se instalando
no país.

Palavras-chave: música popular brasileira, indústria fonográfica, música ser-


taneja, gravadora Chantecler.

ABSTRACT

This text seeks to present an account of the history of Chantecler, a record com-
pany from São Paulo, which throughout the 1960s and 1970s played a key role
in forming artists linked to genres then underrated by major record companies,
especially country, traditional romantic and regional music. Besides that, this
text reflects on the process of stratification of popular music consumption, which
started to be noticed in the country in the 1960s; and also, in that context, on
the role that was taken up by national record companies as major international
companies were establishing themselves in the country.

Keywords: Brazilian popular music, record industry, Brazilian country music,


Chantecler record company.
O
INTRODUÇÃO

objetivo deste texto é

apresentar a trajetória

da gravadora Chantecler

que, fundada em 1958,

teve um papel fundamen-

tal para o desenvolvi-

mento da música popular

paulista, especialmente a música sertaneja.

Além disso, sua história ajuda a evidenciar

o frequentemente esquecido papel das

gravadoras nacionais dentro do cenário da

produção fonográfica do país, especialmen-

te no que se refere à música regional e aos

gêneros musicais ligados às populações de

menor poder aquisitivo – tradicionalmente

menosprezados no âmbito das gravadoras


internacionais instaladas no país.

A Chantecler teve como seu primeiro

diretor artístico o músico e compositor Dio-

go Mulero, o “Palmeira” da dupla Palmeira

e Biá. Biaggio Baccarin, mais conhecido

como Dr. Brás, foi um de seus sucessores

e permaneceu na direção artística da gra-

vadora mesmo após a venda da empresa à

Continental, em 1972. Grande parte das in-

formações sobre a Chantecler apresentadas

neste texto foram obtidas a partir de dois

depoimentos que me foram concedidos pelo

Dr. Brás nos anos 1999 e 2007, motivo pelo

qual lhe dedico o presente texto.

Gostaria de acrescentar que esses depoi-

mentos fazem parte do acervo que constituí

dentro do Departamento de Cinema, Rádio


e TV (CTR) da ECA-USP a partir do pro- partir da década de 20, especialmente depois
jeto de pesquisa “O Outro Lado do Disco: do advento do cinema sonoro (1927).
a Memória Oral da Indústria Fonográfica Um aspecto a se reter desse relato é
no Brasil”. O projeto contou com apoio da o de que a indústria fonográfica criava
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado uma nova categoria de distinção no meio
de São Paulo (Fapesp) e da Pró-Reitoria musical: entre as obras que eram e as que
de Cultura e Extensão da Universidade de não eram gravadas. Como o aparato de
São Paulo. registro e reprodução sonora possibilitado
Mas, antes de apresentar a trajetória da pela indústria ficava sob o controle de seus
Chantecler, gostaria de desenvolver uma re- proprietários, cabia a eles a decisão sobre os
flexão sobre o desenvolvimento da indústria gêneros musicais que seriam privilegiados
fonográfica no país, tentando situar tanto o em sua atividade, algo que era feito em
papel das empresas nacionais dentro de um função de suas preferências pessoais e, é
mercado que foi gradativamente dominado claro, dos interesses de seu público-alvo.
por grandes gravadoras internacionais, as Assim, quando nos reportamos à história
chamadas majors, como oferecer uma breve da música popular desenvolvida ao longo
reflexão sobre o processo de estratificação do século XX, vale recordar que frequen-
do consumo de música popular no país e temente estamos nos referindo às músicas
as hierarquizações daí resultantes. que, de alguma maneira, ingressaram no
processo de industrialização através do
registro fonográfico.
Devemos manter essa questão em mente.
A MÚSICA GRAVADA Ao contrário do repertório erudito, que teve
suas possibilidades de afirmação de autoria,
Se nos reportarmos aos primórdios da sobrevivência ao tempo e disseminação
produção fonográfica nos países centrais, geográfica garantidas pelo desenvolvimento
poderemos identificar na seleção do reper- da escrita musical, a música popular – antes
tório inicialmente gravado pelas empresas do surgimento das técnicas de gravação –
aquilo que o pesquisador Reebee Garofalo dependia quase que totalmente das incertas
(1993, p. 22) denomina como um “refe- perspectivas oferecidas pela tradição oral
rencial elitista de alta cultura, [no qual] para a sua perpetuação. Nesse sentido,
a música europeia era considerada muito decisões dos executivos das gravadoras
superior à música popular produzida nos sobre que músicas populares seriam ou não
EUA”. E, com o objetivo de oferecer esse gravadas, distribuídas e divulgadas por suas
conteúdo cultural distintivo às classes empresas tiveram papel crucial na consa-
abastadas que podiam adquirir o aparelho, gração de gêneros musicais e na definição
Fred Gaisberg, diretor artístico da Victor do repertório que chegaria até nós.
Machine Company, percorria a Europa
já em 1901 com o objetivo de gravar os
cantores de maior destaque das principais
companhias de ópera daquele continente. O INÍCIO DA INDÚSTRIA NO
Por esse meio, “a série ‘Red Label’, top
line da Victor, pôde incluir gravações de BRASIL
canções e árias em todas as línguas euro-
peias e em muitas línguas orientais, bem Ao analisarmos a questão do início da
como gravações da Ópera Imperial Russa” indústria fonográfica no Brasil, veremos
(Garofalo, 1993, p. 22). que aqui ela não se dá sob a égide da pro-
A música popular, ligada às classes dução de música erudita. Conforme relato
menos abastadas da sociedade foi, segundo de Tinhorão (1981), Frederico Figner, um
o autor, frequentemente ignorada, numa tcheco de origem judaica radicado nos
situação que só começou a ser superada a EUA, desembarca em Belém do Pará em

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1891 trazendo alguns fonógrafos. A partir música sertaneja no país. O episódio é
de então, percorre o país fazendo exibições razoavelmente conhecido, mas gostaria de
pagas dos equipamentos. Em 1897 abre no retomá-lo. Ainda em 1928, Ariowaldo Pires,
Rio de Janeiro a sua primeira loja, a Casa o Capitão Furtado, sobrinho de Cornélio,
Edison, já com o intuito de comercializar os atua como seu tradutor numa conversa
aparelhos. Em 1902 passa a atuar também com o norte-americano Wallace Downey,
na gravação de música popular e seus pri- diretor artístico da Columbia do Brasil. Na
meiros artistas contratados são os cantores conversa, Cornélio propõe a gravação de
de serenata Antônio da Costa Moreira, músicas e anedotas de sua Turma Caipira3.
o Cadete, e Manuel Pedro dos Santos, o Downey apresenta Cornélio a Byington, que
Baiano. Nesses primeiros trabalhos, fo- deve tomar a decisão final sobre o assunto.
ram registrados choros, lundus, modinhas, Byington recusa a proposta por considerar
além de músicas diversas executadas pela que não existiria no país um mercado para
recém-criada Banda do Corpo de Bombei- esse tipo de produção, mas os dois acabam
ros (formada pelo maestro e compositor chegando a um acordo em que a empresa
Anacleto de Medeiros em 1896). Baiano se dispõe a gravar os discos desde que
seria ainda o intérprete, em 1917, de “Pelo Cornélio assuma os custos de sua produção
Telefone” (de autoria assumida por Donga e prensagem. Os discos então saem pela 1 “Um Império Musical no
Brasil”, in Gazeta Mercantil,
e Mauro de Almeida), a primeira música a gravadora com um selo de cor distinta do da São Paulo, 5/11/99.
ser gravada no país (e pela Casa Edison) Columbia e por uma série especial (a Série
2 Informações fornecidas
sob a denominação de “samba”. Cornélio Pires). Posteriormente a gravado- por Biaggio Baccarin em
As produções da Casa Edison eram fei- ra, impressionada com a rapidez com que os depoimento prestado em
11/10/1999. A melhor fase
tas a partir de uma parceria com a empresa discos são vendidos, acaba estabelecendo da Continental ocorreu
alemã Zonophone, que enviou um técnico um contrato com Cornélio4. entre as décadas de 30 e
50, quando lançou artistas
ao país para as primeiras gravações: “As Mas gostaria de examinar esse episódio como Orlando Silva, Aracy
músicas eram gravadas aqui e os discos sob a perspectiva da indústria. A gravação de Almeira, Emilinha Borba,
Anjos do Inferno, Sivuca, Di-
eram produzidos na Europa” (Franceschi, e impressão de discos sob demanda não é lermando Reis e Luis Bonfá,
2002, p. 312). Em 1904, Figner torna-se um comportamento tradicional das grava- entre outros. Passaram ainda
representante exclusivo da gravadora Odeon doras. Porém, a ação da Continental em pela gravadora nomes como
Noel Rosa, Vadico, Para-
no país, o que leva à implantação, por parte relação a Cornélio Pires, provavelmente guassu, João Pernambuco,
da empresa, da primeira fábrica de discos pelo seu sucesso, levou a empresa a manter, Garoto, Marlene, Dorival
Caymmi, Lamartine Babo,
do Brasil, em 19131. durante boa parte de sua existência, um Mário Reis, Novos Baia-
Nas décadas seguintes, outras gravado- departamento destinado especificamente a nos, Sílvio Caldas, Altamiro
Carrilho, Ney Matogrosso
ras seriam criadas no país. Em 1928, por oferecer esse tipo de serviço, denominado e Secos & Molhados, entre
exemplo, a empresa paulista Byington & “matéria paga”. O produtor musical Pena outros (“Warner Recupera
Acervo Histórico de MPB da
Cia., dirigida por Alberto Jackson Byington Schmidt, que atuou na Continental em Continental”, in O Estado de
Jr., firma contrato com a Columbia norte- diferentes períodos, chegou a dirigir esse S. Paulo, 25/10/1993).
americana para a prensagem e distribuição departamento durante os anos 70 e detalha 3 Recomendo, a esse respeito,
de seus discos no país. Simultaneamente, seu funcionamento: a audição dos dois depoi-
mentos de Capitão Furtado
a empresa inicia também a gravação de que integram a Coleção
discos de música brasileira que, assim como “O conceito de matéria paga era assim Aramis Millarch (http://
www.millarch.org/audio/
o catálogo da Columbia, são lançados com (simulando um diálogo): capit%C3%A3o-furtado).
o selo Columbia do Brasil. As primeiras – Quero gravar um disco na Continental.
4 Outros nomes da música
gravações nacionais surgem já em 1929 – Perfeitamente, quantos discos? sertaneja seriam gravados
e, em 1943, com o fim do contrato com a – Eu quero três mil discos. pela Continental ainda em
seus primeiros anos, como o
Columbia, que passa a ser representada pela – Ah, tá bom, você já sabe as músicas que já citado Paraguassu, além de
Odeon, a gravadora cria seu próprio selo, você quer gravar? Jararaca e Ratinho,Tonico e
Tinoco, entre outros. Segun-
o Continental2. – Ah, eu tenho uma listinha aqui. do Baccarin, a Continental
A empresa de Byington, como se sabe, – Mas em que estilo você quer gravar? também produziu curtas-
metragens com artistas da
iria se tornar, a partir de sua relação com – Ah, eu quero fazer igual ao Milionário música sertaneja, mas que
Cornélio Pires, a pioneira na gravação de e José Rico. acabaram perdidos.

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– Perfeitamente, então vou marcar estúdio “defendia a pesquisa do folclore (música
pra você, te ligo, você passa no caixa e paga popular) como fonte de reflexão temática e
os três mil discos… técnica do compositor erudito preocupado,
Isso é a matéria paga, você faz por en- num primeiro momento, com a criação de
comenda, usa o know-how da empresa, uma música nacional”. Mas nas décadas
os arranjadores, o carimbo de ‘disco da de 30 e 40, quando o desenvolvimento da
Continental’… Muita coisa, muito artista radiodifusão no país leva a uma ampla divul-
da Continental entrou como matéria paga, gação da música popular, o tema se desloca
porque lá havia um enxame de produtores, para essa área de produção e se realiza sob
e nego ouvia e falava: ‘essa música é boa, a égide do governo Vargas, onde a vocação
vou dar pro fulano gravar’, pega a música disciplinadora e civilizatória do Estado se
de um matéria paga, dá pro outro… era o integra à questão nacionalista. O samba,
tempo todo essas histórias e isso era feito de elevado à condição de música nacional,
uma forma muito objetiva. O tal do sucesso será o objeto central desse debate. Visto
era uma coisa perceptível e que passava na por intelectuais orgânicos do regime como
sua frente… Esse lance da matéria paga “feio, indecente, desarmônico e arrítmico”,
era amazônico. Não contaminava, não o samba deve ser “educado” para se tornar a
chegava nada aqui, eram países diferentes, síntese de nossa nacionalidade. Opositores
e a Continental ia lá em todos esses cantos. do “samba-malandro”, mais ligado à cul-
A Continental tinha essa característica que tura dos morros, esses intelectuais verão o
separava das outras gravadoras. A gente “samba-exaltação” – que tem na “Aquarela
falava: a Continental trabalha com o Brasil do Brasil” (Ary Barroso, 1940) sua obra
do lado de lá da Marginal Pinheiros, com o paradigmática – como uma resposta às suas
interior. As outras companhias trabalhavam preocupações, já que transformara o samba
da Marginal para cá, na direção do Rio de num “digno e elegante representante do
Janeiro”5. espírito musical de nossa gente”6.
Após o final do Estado Novo e durante
toda a década de 50 o debate aparentemen-
te arrefece. Esse período corresponde ao
A ESTRATIFICAÇÃO predomínio do rádio como principal mídia
5 Depoimento do produtor de entretenimento no país, através do qual
musical Pena Schmidt conce-
dido ao autor em setembro DO CONSUMO MUSICAL acabou se consolidando toda uma geração
de 2007 dentro do projeto de intérpretes formada por nomes como
“O Outro Lado do Disco: a
Memória Oral da Indústria Vale sublinhar a expressão de Pena Sch- Marlene, Emilinha, Dalva de Oliveira,
Fonográfica no Brasil”. midt: “lado de lá da Marginal Pinheiros”. Francisco Alves, Alvarenga e Ranchinho,
6 Eu discuto esse tema em: A metáfora traz a ideia de uma segregação, Ary Barroso, Carmen Miranda e Orlando
Vicente, 2009. As citações uma divisão entre as produções musicais Silva, entre outros. Vale observar que, nesse
aqui apresentadas constam
desse texto e são, respecti- de diferentes origens. Uma hierarquização momento, o rádio não parecia estabelecer
vamente, de Álvaro Salgado entre segmentos e artistas que talvez seja hierarquizações entre esses artistas ou entre
e Pedro Anísio.
uma das características mais marcantes de os segmentos musicais a que pertenciam.
7 Essa era a base, por exemplo,
do projeto da Rádio Gazeta
nossa música popular. Por isso, gostaria de Assim, embora o ingresso da música ser-
que, fundada em 1943, tinha me situar melhor em relação a esse tema, taneja no meio fonográfico tenha, como
uma sala de concerto, um
que me parece essencial para melhor com- vimos, enfrentado alguma resistência ini-
elenco próprio de cantores
e foi responsável pelas pri- preendermos a atuação da Chantecler e de cial, não me parece que maiores restrições
meiras montagens no país de muitas das gravadoras tradicionais do país ao gênero tenham se mantido até os anos
diversas óperas. Era a partir
dessa estrutura que a rádio no contexto da indústria. 50, quando uma hierarquização talvez só
se apresentava como uma O debate sobre o tema da música popular pudesse ser encontrada na relação entre a
“emissora da elite” – em-
bora preservasse horários do país, nos meios intelectuais, parece ter música popular e a erudita7.
em sua programação para seu momento inicial na década de 1920, com Mas a partir do final dos anos 50 teremos
a música popular e mesmo
para a música sertaneja (cf.
Mário de Andrade ocupando um papel cen- uma importante mudança nesse cenário: a
Guerrini, Jr., 2009). tral. Mário, segundo Arnaldo Contier (s.d.), bossa nova surge e acaba por se estabelecer

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como o grande divisor de águas no campo. para a presente reflexão, importa pensar
“Chega de Saudades” (Tom Jobim e Vinicius nessas produções como fornecedoras de
de Moraes, 1958) assume o papel de canção elementos de distinção passíveis de incorpo-
manifesto da bossa nova, que se estabelece ração por novas gerações de consumidores
como a oposição urbana, discreta e moderna dos grandes centros, que eram compelidos
aos temas melodramáticos e interpretações a escolher entre Chico Buarque e Roberto
carregadas típicas dos cantores do rádio. Ao Carlos, Geraldo Vandré e Caetano Veloso,
sintetizar o Brasil moderno e progressista do etc. E, em qualquer caso, oferecia a esses
período JK, a bossa nova não só oferece uma jovens signos de modernidade e distinção
nova configuração de nacionalidade, em que em relação a Nelson Gonçalves, Vicente
o urbano substitui o rural, como constrói e Celestino, Waldick Soriano, Milionário e
legitima sua linha de influenciadores (Noel, José Rico e todo um vasto elenco de ar-
Ary, Mário Reis, Caymmi) e oposições (a tistas que, quase completamente ausentes
fossa, o samba-canção abolerado, o dó de do meio televisivo, tiveram seus nomes
peito…). associados a expressões como “cafona” e
Assim, a partir da bossa nova, o campo “brega”, surgidas para designar sua posição
da produção de música popular adquire sua subalterna no campo.
autonomia, estabelece suas instâncias de Um outro aspecto da presença do merca-
consagração – a crítica escrita, a repercus- do é o da reorganização do setor fonográfico
são internacional, a presença televisiva, a que então se verifica. Em seu contexto
admiração de novas gerações de artistas, etc. teremos, a partir dos anos 60, não apenas a
– e critérios de hierarquização. Em alguma chegada de novas e importantes gravadoras
medida, não era um cenário completamen- internacionais ao país (Philips, em 1960; Milionário e
te novo já que parecia atualizar, embora Warner, em 1976; Ariola, em 1979) como o José Rico,
sobre bases ideológicas bastante distintas, surgimento de gravadoras enquanto braços
Estrada da Vida,
a discussão entre o samba-malandro e o fonográficos de emissoras de TV, sendo o
samba-exaltação promovida pelos intelec- exemplo mais importante o da Som Livre, Chantecler,
tuais estado-novistas. Mas a questão agora criada pela Rede Globo em 1971. Esse 1977
tinha novos aspectos, sendo a presença do
mercado aquele que considero um dos mais
significativos.
Nesse contexto, vale observar que a
década de 60 irá se constituir no momento
de efetiva substituição do rádio pela TV
como principal veículo de comunicação
do país. E a mudança do campo musical
expressa essa situação. Toda uma nova
geração de artistas como Tom, João, Elis,
Jair, Roberto, Erasmo, Chico, Edu, Caeta-
no e Gil, entre muitos outros, irá surgir ou
atingir a consagração a partir de programas
televisivos (“O Fino da Bossa”, “Jovem
Guarda”, “Divino Maravilhoso”, etc.) ou
dos festivais da canção (especialmente os
promovidos pela TV Record).
Eu não quero, evidentemente, reduzir
a importância histórica e cultural desse
momento e nem diminuir o significado do
processo de politização dessa produção
com o Manifesto do CPC (1962) e com a
resistência ao golpe militar de 1964. Mas,

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Abaixo, fenômeno se associa a um extraordinário econômica que se intensificava, surgiriam
Belchior, crescimento do mercado fonográfico, que ainda os chamados “discos econômicos”,
elevará a produção de suportes musicais no que chegavam a custar praticamente metade
Chantecler,
país de 5,5 milhões de unidades, em 1966, do valor dos discos top seller. Eles eram
1977 para 52,6 milhões, em 1979, conforme dados vendidos especialmente por gravadoras
da Associação Brasileira dos Produtores de nacionais e representavam um mercado
Discos (ABPD). bastante instável. Em 1979, por exemplo,
Visando a um mercado urbano de maior eles representaram 12 dos 52,6 milhões de
nível de escolarização e poder aquisitivo, suportes vendidos. Mas dez anos depois,
as grandes gravadoras internacionais e em 1989, logo antes do lançamento dos
conglomerados televisivos estabelecerão CDs no país, eles eram apenas 8,2 dos 76,8
uma espécie de reserva de mercado em milhões de suportes vendidos.
relação a essa nova geração de artistas. Às
gravadoras tradicionais como Continental,
Copacabana e Chantecler, caberá, ao lon-
go da década de 70, vincular-se cada vez A CHANTECLER
mais ao mercado regional e aos segmentos
8 Pela RCA gravaram artistas musicais voltados a um público de menor A gravadora Chantecler surgiu no mo-
como Gastão Formenti,
Vicente Celestino, Orlan- poder aquisitivo. mento inical do processo acima descrito e,
do Silva e Francisco Alves, Um importante sentido econômico assim como a Continental, a partir de uma
entre outros. A empresa
dessa divisão está no fato de que a MPB e parceria com uma empresa internacional
foi vendida em 1987 para
o conglomerado alemão a jovem guarda eram vendidas através de – no caso, a gravadora RCA. Operando no
Bertelsmann AG, tornando- discos de maior valor comercial, com boa Brasil desde 19308, a RCA contava, para a
se parte da Bertelsmann
Music Group (BMG). margem de lucratividade. Já os segmentos distribuição de seus produtos, com os servi-
9 Informações prestadas por mais populares eram comercializados em ços da Cássio Muniz S/A, uma empresa de
Biaggio Baccarin em de- suportes de menor valor e se voltavam a um vendas no atacado e varejo. Localizada na
poimentos prestados ao
autor em 11/10/1999 e
mercado bem mais vulnerável às flutuações Praça da República, esquina com a Rua do
8/11/2007. da economia. A partir de 1977, ante a crise Arouche, a Cássio Muniz contava com uma
rede de representantes espalhada por todo o
país. Por seu intermédio ela distribuía, além
de toda a linha de discos e equipamentos
eletrônicos da RCA-Victor (toca-discos,
rádios e televisores), aviões da Cessna,
veículos da GM e todo um vasto catálogo de
produtos (em sua maioria importados). Ao
decidir criar, em 1956, a sua própria rede de
distribuição no país, a RCA sugere a Cássio
Muniz – como uma forma de compensação
– que crie sua própria gravadora, valendo-se
do know-how da empresa. O acordo era de
que a Cássio Muniz mantivesse, ainda por
dois anos, a distribuição de discos da RCA,
para poder consolidar seu próprio investi-
mento na área9. Nascia assim a gravadora
Chantecler, nome derivado da expressão
francesa chant clair (“voz clara”) e tendo
a imagem de um galo como seu logotipo.
Já no ano seguinte, a Chantecler abria mão
da distribuição da RCA devido ao grande
sucesso de suas próprias produções. Na-
quele momento, segundo Biaggio Baccarin,

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que foi diretor artístico da empresa durante dificuldades para substituir seus antigos
a maior parte de existência, as principais aparelhos reprodutores de discos. Assim,
gravadoras presentes em São Paulo eram Palmeira gravava uma média de quarenta
RCA, Columbia, Copacabana, Continental, discos de 78rpm por mês contra apenas
EMI-Odeon e Sinter10. cinco a seis LPs. Esse número bastante
A Chantecler procurou, desde o seu expressivo de gravações tinha como ob-
início, atuar numa faixa de mercado mais jetivo formar catálogo para a gravadora
popular, especialmente com a música regio- – uma dificuldade adicional enfrentada
nal (sertaneja, guarânias, rasqueados, etc). pelas empresas nacionais que, diante da
Com essa intenção, ela teve Diogo Mulero, instalação de empresas estrangeiras no
o Palmeira da dupla Palmeira e Biá, como país, tinham poucas oportunidades de dis-
seu primeiro diretor artístico. O primeiro tribuir catálogos importados e precisavam,
disco da empresa foi lançado em 1958 e por isso, assegurar rapidamente a posse de
era um LP da orquestra de Zico Mazagão, um grande número de títulos que garantisse
que gravou “Cabecinha no Ombro” e outros sustentação às suas vendas.
sucessos da época. O segundo disco foi Apesar dos sucessos obtidos, a relação
Cascata de Valsas, de Alberto Calçada, só de Palmeira com a gravadora durou pouco
com valsas brasileiras. Logo a Chantecler mais de dois anos. Devido a um desentendi-
obteve grandes sucessos com artistas como mento financeiro com a direção da empresa
Cláudio de Barros (“Cinzas do Passado”), ele deixa a direção artística em 1961, sendo
Leila Silva (“Perdão para Dois”), Edith substituído por Natal César. Mas esse não
Veiga (“Faz-me Rir”), Marta Mendonça conseguiu se consolidar no cargo, que pas-
(“Tu Sabes”) e Luiz Wanderley (“Baiano sou a ser ocupado por Biaggio Baccarin já
Burro Nasce Morto”), José Orlando (“So- no ano seguinte. Biaggio era funcionário do 10 A Sinter seria adquirida
pouco depois pela Philips,
mente Tu”), Wilson Miranda (“Longe de grupo Cássio Muniz desde 1951 e passou a tornando-se a base para
Ti”) e Luis Bordon (harpista paraguaio). trabalhar na gravadora pouco depois de sua a implantação da empresa
no país. Já a Copacabana
Posteriormente, ainda gravariam por ela criação, em função do seu grande interesse foi fundada no Rio em
nomes como Waldick Soriano, Francisco por música. Foi dele, por exemplo, a suges- 1948 e por ela gravaram
Petrônio, Lindomar Castilho, Poly (nome tão para a gravação, em 1959, no primeiro nomes como Elizeth Car-
doso, Ângela Maria,Agnaldo
artístico do multi-instrumentista Ângelo aniversário da Chantecler, da versão integral Rayol, Moacyr Franco e
Apolônio) e Wilson Miranda, entre outros. da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, que Wanderley Cardoso, além
de muitos artistas da música
Mas o maior sucesso da história da grava- foi lançada num pacote com três discos. sertaneja.
dora talvez tenha sido Coração de Luto, Segundo Baccarin, nenhuma gravadora da 11 O long-play, ou LP, de rota-
o primeiro grande sucesso de Teixeirinha América Latina havia, até então, registrado ção 33.1/3rpm, foi lançado
que, segundo Baccarin, vendeu mais de 600 uma ópera ao vivo e O Guarani jamais no mercado norte-america-
no pela CBS ainda nos anos
mil cópias. Ainda assim, a principal área fora gravada integralmente12. Os discos 40. Embora não existam
de atuação da Chantecler foi mesmo a da esgotaram-se rapidamente e foi o sucesso dados estatísticos sobre a
presença do 78rpm no país,
música sertaneja, na qual teve entre seus dessa iniciativa que acabou gerando o con- certamente ele já estava em
primeiros contratados nomes como Tibagi vite para que Baccarin passasse a trabalhar declínio no final dos anos 50,
quando a Chantecler foi fun-
e Miltinho, Tião Carreiro e Pardinho, Zico e na gravadora. dada. As estatísticas oficiais
Zeca, Pedro Bento e Zé da Estrada, Palmeira Segundo Baccarin, Dominique, Jeane, produzidas pela Associação
Brasileira dos Produtores de
e Biá, Zé Bettio e Mário Zan. Zé Augusto, Lorenço e Lorival, Milionário e Discos (ABPD) a partir de
Baccarin aponta que um aspecto im- José Rico, César e Paulinho, Joelma e Nalva 1966 nem mencionam o
portante na estratégia da empresa para
formato.
Aguiar foram alguns dos artistas lançados
atuar em mercados marginais e de menor por ele ainda no início de sua passagem pela 12 Sempre segundo Baccarin, a
gravação foi feita pela Or-
poder aquisitivo foi continuar distribuindo direção artística da gravadora. Foi dele tam- questra Sinfônica Municipal
muitos de seus artistas através de discos bém a iniciativa de contratar os Demônios sob a regência de Armando
Belardi. O elenco de canto-
de 78rpm num momento em que o LP já da Garoa – que passavam por um momento res era o da Rádio Gazeta.
estava em vias de se tornar dominante de baixa na carreira – e sugerir-lhes que Essa gravação foi utilizada
durante muito tempo para
no mercado11. Com isso, assegurava sua gravassem um LP apenas com composições a abertura do programa “A
presença junto a um público que tinha de Adoniran, inclusive a ainda inédita “Trem Hora do Brasil”.

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das Onze”, que se tornaria o maior sucesso carro-chefe. Porém, como a aproximação
do carnaval daquele ano (1964). do final dos anos 70, a própria Continental
Assim, a Chantecler acabou atingida pela crise econômica que
se avolumava e, como medida de redução
“[…] acabou sendo uma gravadora do Rio de custos, integrou a Chantecler à sua
Grande do Sul, uma gravadora do Norte- estrutura administrativa em 1978. Assim,
Nordeste, uma gravadora do Brasil central, a empresa deixou formalmente de existir
e uma gravadora de São Paulo e um pouco transformando-se em apenas mais uma
Rio de Janeiro, no Rio de Janeiro ela entrava marca (selo) da Continental.
pouco, apesar de ter alguns artistas que fize- Em 1981, o nome da gravadora ainda
ram sucesso no Rio de Janeiro. Então, pra surgiu com força através do show A Grande
mudar essa linha aí era muito complicado, Noite da Viola, evento que Baccarin concebeu
então nós continuamos navegando nesse e ajudou a realizar. Ocorrido em 20/6/1981
mesmo mar”13. ele reuniu, em pleno Maracanãzinho, no Rio
de Janeiro, grandes estrelas do segmento
Dessa forma, ela se aproximou muito sertanejo como Tonico e Tinoco, Cascatinha
do perfil da Continental, tornando-se tam- (Inhana havia falecido dias antes), Vieira
bém uma gravadora que, para usarmos a e Vieirinha, Milionário e José Rico, Tião
expressão de Pena Schmidt, olhava “para Carreiro e Pardinho, Irmãs Galvão, Berenice
lá da Marginal Pinheiros”. Azambula e Teixerinha, entre outros. O show
Mas a passagem de Baccarin pela direção foi uma promoção conjunta da Chantecler e
artística da Chantecler ocorreu num mo- da Rádio Nacional. Com cobertura da TVS14
mento delicado para o grupo Cássio Muniz, o evento reuniu, segundo Baccarin, um pú-
que perdia as representações de importantes blico de 15 mil pessoas. O evento parece ter
empresas internacionais e ficava cada vez se vinculado, também, a um momento inicial
mais limitado ao mercado de varejo. Com de penetração do segmento sertanejo junto
isso, o lucro obtido pela Chantecler acabava ao público urbano. Entre outros exemplos,
sendo utilizado para cobrir outras carências vale citar o lançamento, em 1979, do filme
do grupo, o que criava graves problemas Estrada da Vida, de Nelson Pereira dos
para a manutenção de seu elenco. Como Santos, estrelado pela dupla Milionário e
consequência, nomes fundamentais como José Rico, e o sucesso da série televisiva
Teixeirinha e Cláudio de Barros, entre ou- Carga Pesada, da Rede Globo, que, lançada
tros, acabaram deixando a gravadora já no no mesmo ano, reunia em sua trilha sonora
final dos anos 60. nomes da música sertaneja e nordestina15.
Uma desavença entre os sócios levou, em Esse processo alcançaria seu ápice no iní-
1970, à separação da Chantecler do grupo cio da década seguinte, quando a música
Cássio Muniz. Nesse período a gravadora sertaneja se tornaria o segmento de maior
chegou a distribuir no Brasil o catálogo da sucesso da indústria através de nomes como
norte-americana MCA. Mesmo a empresa Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo,
enfrentava problemas administrativos e Zezé di Camargo e Luciano, João Paulo e
13 Biaggio Baccarin em depoi- sua crise não foi sanada. Assim, em 1972, Daniel, entre outros.
mento prestado ao autor ela acabou vendida para a Continental. Sempre segundo Baccarin, A Grande
em 2007. A transcrição é
de Rosana Stefanoni. Segundo Baccarin, essa foi em princípio Noite da Viola foi o último momento de
uma boa solução para a gravadora. Sua maior visibilidade da marca Chantecler,
14 “Sertanejos Desembarcam
no Maracanãzinho”, in Jornal estrutura administrativa foi mantida e ela que foi gradualmente abandonada pela
do Brasil, 12/6/1981. funcionava na Rua Aurora, no centro de São Continental. Em 1994, a própria Conti-
15 Como Leo Canhoto e Paulo, enquanto a Continental tinha suas nental foi vendida, transformando-se em
Robertinho, Rock e Ringo,
Sérgio Reis, Renato Teixei- operações na Av. do Estado. Nesse período, parte da Warner Music, que, mesmo nos
ra, Dominguinhos e Luiz além de gravar novos nomes de sucesso relançamentos de fonogramas do catálogo
Gonzaga, entre outros (“Os
como Belchior e Luiz Américo, a Chante- da Chantecler (que passou a lhe pertencer),
Caipiras no Poder”, in Folha
de S. Paulo, 2/9/1979). cler teve Milionário e José Rico como seu acabou por não resgatar o nome.

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Baccarin, que se tornara gerente de
produtos da Continental quando a Chan-
tecler foi integrada à sua estrutura, saiu da
empresa em 1981, mas acabou mantendo
um relacionamento com ela na condição
de advogado especializado em direitos
autorais, área em que atua até hoje.

Carlos Gomes,
CONCLUSÕES O Guarani,
Gravadoras nacionais como a Chantecler Chantecler,
foram as responsáveis por um trabalho fun- 1959
damental de documentação da música po-
pular brasileira, registrando os trabalhos de 90, tenha sido preparado pela ação dessas
artistas populares, vinculados a segmentos gravadoras. Entendo que a já citada venda
regionais, num momento em que as grandes da Continental para a Warner, a incorpora-
empresas do setor praticamente ignoravam ção do acervo da Copacabana pela EMI no
a existência desse mercado. Assim, atuaram mesmo período, bem como a contratação de
junto a segmentos como o sertanejo, por artistas formados nessas empresas por parte
exemplo, que só seriam privilegiados pela de grandes gravadoras – caso de praticamente
atuação dessas empresas a partir da década todos os nomes da música sertaneja dos anos
de 90, quando a substituição do LP pelo 90 – ajudam a confirmar essa hipótese.
CD não apenas propiciou um extraordiná- Por conta disso, é importante um es-
rio crescimento do mercado como tornou forço no sentido tanto da recuperação da
menos significativa a variação de preços memória dessas empresas quanto de seus
dos discos representada pela divisão entre acervos musicais, já que uma significativa
LPs top seller e econômicos. parcela do repertório de gravadoras como
Na verdade, acho possível afirmar que Continental, Copacabana e Chantecler,
todo o forte processo de regionalização da entre muitas outras, provavelmente jamais
música do país, verificado a partir dos anos foi digitalizada.

BIBLIOGRAFIA

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