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Capitulo 15 - CAES DE GUARDA: Q's »». A. (ex Ati) 0 Gate € . : ENTRE JORNALISTAS E CENSORES! A Dirapona: Yo Awos Défoid. ; Beatriz Kushnir* — 7 . Bavne , Sf: Eduse, 2oo' (0s jornalistas (...J a liberdade de imprens Emi ter opiniao, mas 0s jornais tém suas opi ue estdo presentes nos editoriais e nos textos das pessoas q fam resumo ds capituls 45 da minha ese de doutoramen ends junto a9 Programa de Pic grauacio ems Hits (Cemi/Unicamp, ABRAMO, Cl lo: Companhia ew poms Cars to ONDE FOLHAS, TRONCOS E RAIZES SE ENCONTRAM (0 intuito da reflexio ode buscar a génese dos intrincados éaminhos ~ €relagdes entre imprensa e poder a pati dos encontros de jornalistase cen sores. Assim, se foi possivelconstatar que, se listas, em uma parte da grande imprensa, no periodo pés-1968, havia jorna- listas que sram policais. Nest enti, trata-se de mapear uma experiéncia de colaboracionismo de uma part a imprensa com 08 Gros de repressio no _ Os-AI-S, Ou sea; tem-se como moteaatuacio de alguns setores das com- “ nicagbes do pats e suas estreita iermisivas) conexdes com a dtadura civif nilitar do pés-1964.Além deni fie frente ao regime e as suas formas vio- Jentas de ago, parte da imprensa também apoiou a batbatie. Assim, como Cléudio Abramo sublinha, se bi ate comete €0 dé que, no Bratiljo Esta [Lum equivoco que equed er 0 dominant, donos. Ostado nal, Como havia censurs preva durante o rel para Mit ingénuos fcow aimpresio de qu ees € 0 patio tinham'o mesmo interese erm cram policais ou sé tornaram Bit esteve por algum tempo nc cpio cso joa ec OS POLICIAIS DIARIO OFICIAL DA OBAN (O jornalista Antonio Aggio dirigiuyo Cidade de Santos, do mesmo Gru- \ transito nas fontes, 4 Folha da Tarde porque “o jornal nao vendia’. O reco ‘com as inagens do combates na Rua Maria Antonia, em 3/10/1368, ‘omercializaram onze mil exemplares/di, enquanto.a média er plares por dia. Havia sido “explicagio oficial” permanente para se substituir Miranda Jordao: a baixa venda do jornalea falta de recursos para executar um similar competitivo com 0 Jornal da Tarde. De Santos, Aggio trouxe ainda Holey Anténio Destro e Jos “tomou posse” do jornal a ca, remanescente da redagi pe que sobreviveu a0 Al res). O Horley vinha armsdo de wm {IV Comarefizia um género amigo, Rememorando esta tajetéria, 0 to mais tirde,em meadios da década substituigdo a Aggio, “talvezfosse co fe de reportagem Carlos Dias PM, na época mejor, Edson Ci 257 set ee ai Comes Eo A proposta de Antonio Aggio, quando assuraiu a Folha da Tarde era torné-lo 0 oposto daquele do periodo ditigido por Miranda Jordi, intensi cando a énfase as narrativas policiaisTem-se a impressio, a0 consultar 0 pe- iddico, que a gestio de Miranda foi percebida por Aggio como uma ilha. 0. novo editor construi uma ponte sobre ela, unindo outra vee o jornal & sua suposta “génese”, com excegdo, € claro do reconecimento e manutengio da tecnologia offset, 0 grande avango de modernizaio grifica da época. ‘Um exemplo.que corrobora essa aparente necessidade de distanciar ag redacdes de Miranda Jordao ¢ de Aggio fi & cobertura dada & prisio de Frei Betto. Em nenkum momento a Folha da Tarde mencionow que 0 jornalistate- Fla pertedcido aos quadros no jornal. Nem Betto, nem nenhum dos outros mi litantes presos ¢ que tinham trabathado do jornal, No mesmo dia 69, 4 Folha da Tarile, a Folha de S. Paulo € O Estado de S, Paulo relataram a pristo dodominicano no Rio Grane do Sul. 0 Estadio foi o inico a mencionar que Frei Betto era ex-chefe de reportagem da Folha da Tande. Appressio sobre os donos do jornal era muito grande ¢,além da presen- 6 policial na equipé de redao, da substituigzo do espaco do editorial -o lu- garonde a equipe de redacio opina sobre as questBes do momento ~ por char- ‘ges e da guinada & direita, 0 tabldide adotou a censura interna e autocensura Neste sentido, sublinha Boris Casoy, que foi editor-chete da Fotha de Sto Pi Jo, "por uma questio de sobrevivéncia, o Grupo Folha nio tinha censor. - Do mesmo modo, as marichetes da primeira pigina da Folha da Tarde, além de difundiem informesoficia's— que vam outra versio verdade dos fatos ~ criavam tim pacto com o cativo piiblicoletor. © tom agressvo, apre- {goavam, aumentava as vendks: 12" Entrevista & autora, em 1813/1999, 258 Cin 15 evi nt ci cme + "Terorsta fee « morre metahado’, em 414197, sabre a morte de Dorival, ‘03 politicos pelo embeixadoralemso: *"Chantagem sexual é arma do tron Lourengo Goines que se ‘mais tarde, se suicidou: in hospital carion”, de 3/8/1971, sabre oassito& cin rego represio et aque ano que, anes ira, na plenéria de 25/4/1984, peas “Diretas dos os jornais do pais noticiaram a intimidagao que o general Newton Cruz realizou, fazendo exertcas militares e cercando 0 Congresso Nacional, com, twopas da PM, do fim, da tarde a &s 21 horas"O general Cruz, ex-chefe do SNI, era, desde agosto de 1983, esponsivel pelo Comando Militar do Planal- to.eda 112 Regido Militar, com séde em Brasilia, ¢ 6 executor‘de medidas de ‘emergéncia. Usindo desseinstrumento, o general declarou ter antecipado 0 ‘esquema de seguranga em 24 horas, Para evitar 0 acesso nid autorizado a0 Congresio: No entatito, 0 cerco sé deu,apés oitocentos estudantes kerem se : ica atéa votagio, Para a Folha da Tarde, todo o episédio no passou de um téste de adestramento. é QUANDO JORNALISTAS E POLICIAIS SE CONFUNDEM. A Folha da Tarde foi um porta-vor,e, como tal,conhecida como 0 Did rio Oficial da Oban, a0 reproduzir informes do governo como se fossein ma- 259 Ares Ca se ‘térias feitas pelo proprio jornal. As imagens, construidas para além da verda- de dos fatos, ditavam uma diregio de raciocinio. Esses foram 0s “servigos prestados” pelo jornal de julho de 1969 a 7/5/1984. O grande poder da Folha dia Tarde, segundo Aggio,estava na sua alta Vendagem. Se este foi um dos mo- tivos que jstficatam alia paicilesca durante a década de 1970, em mea- dos dos anos 80 a reiidadé comegou a se alterar. Na perspectiva de Carlos Brickman, . {quando o grip de Agia dso de nde joa cin Ao mee Bors Ca- sy definiv'actscom in precisa Ptha da Te era de extrema dria por- ie o regineer de externa diet, So repime fos de extrema exquerd, a Fo Tia Tarde setngeinhs, com oF mesinas drigenteseseria de eteia exguer- da. Na verdad Fl Sea Policia fosea Gest 5 po, como a nase pei KGB, seria KGB nama boa, sem problems smo da Fala da Tarde, nebura rie connie apes supremacia da ordem que li.” © destino do joma jt estava, porém, slado, Ein meados de abril de 1964, antOnio Ago fi convidado & sala de Octivio Frias de Oliveira, onde “tambéan estavao fib. Nao havi, segundo os dono’ do jornal, mais espago para aquela Folia da Tae no préio da Barto de Limeira. Na primeisa sexta- fia de mai, dia 4~pouco mais de wma semana depois da derrota das Di- retas Je”, Antonio Ago assinow um longo artigo de pagina inteia. Contra- “riando 0 acordado, em wma espécie de editorial intitulado “Plebiscito e refe~ rend, instrume fcas e definigbes de Estado e democracia, ficavam mis Flin da Tarde comm of novos ramos da empresa. Aggio deixou o jornal depois de escrever essa sua “carta ios, eo porue, para 0 Grupo Folha, ee simbglizave um passa a sar de cena esr esquecido, O pais buscava novos ares, @ a Folha se engiara cm informs o pli letorsedento deisas informa- dfntvamente imprescindivel retraros “tras” da redagio. Eles eram um dos simbolos de um Brasil obsoleto e, como a anistia era reci- ‘proca, nio se julgeriain também os seus atos. Em seu ultimo dia dé jornal, 13. Entrevista 3 ator emn 2/4/1999, 260 desalvagio nacional’ com charges, citagBes da Constitui- * ann 5 se gue joints 7/5/1984, Aggio publicou uma pequena nota, despedindo-se de seu piblico, que vinha rareando, e agradeceu & sual equipe “aguertida que sempre praticou a lealdade acima de tudo". Novamente as vendas justiicariam as mudangas da a Tarde. E Aggio tornou-se repérter especial da Agéncia Folhas® se aposentou em 1986. Enquanto policial, manteve o vinculo eipregaticio na Secretitia de Se- jguranga Pablica. O delegado Sequeira também continuo no jornal até 1988,” ditigindo a Internécional. Do antigo trio, Horley Antonio Destro engajou-se no mercado publicititio. Visto desta forma, ao que parece, tudo tomou um higar;apagiguando dilemas; o que pode causar um certo desconforto para quem nio se enqua~ drow na “nova ordem social”, Por isso, & impoitante sublinhar 0 tomy dessa ia Tarde, como no pats. Ela assinala como as elites 8 nfo perderain 0 controle e reafirmaram, nesses episédios, € em muitos outros, a tradigio da conciliagio. ‘Temas tio caros e complexos ~ conciiar, negando a dor, e reafirmar sempre uma heranga democritica brasileira ~ sio imagens fortes que desfo- exorcizar fantasmas € um prego que deve ser pago para garantir a inquestio- nivel democraca. Por esse olhar, os crimes'nio existem ou sio passiveis de ‘que ndo € percebida comd uma conquista, mas esti sempre-esteve deitéda “emi [nosso] bergo espléndido. . No caso da Folha da Tarde, os jornalistas résponsiveis,intimos do cir ._ Silo policial repressivo, trocarain intencionalmente a narrativa de um aconte- cimento pela publicigdo de versbes que corroborassem 9 idedrio.qutoritirio oficial. Certamente,acreditavain em suds agdes, compactuando sempre com 0 __ poder vigente. A essa atitude se pode dar.o nome de autocensura,¢ também, 0 de colibotacio. Fitis aos seus “donds’, esses ces de guard farejaram uma brecha, pro- tegeram uma suposta morada ¢, principalmente, ao defender o casclo,vende- ram & séciedade uma imagem err6nea. Quando o “tabuleiro do poder” modi- 261 peel gon Gi ficou-se, muitos desses servidores foram aposentados, outros construiram para ii uma imagem positivae até mesmo hertic, dstanciando-se do quehha- vim feito. Outros tantos se readaptaram e estao na midia como sempre. De todos esses esquemas ¢ estruturas para perder poucos anéis, algo deve ser su blinkado. O jormal, impresso ou televisionado, é um produto que vende um, seivigo, a informagio, comprada pelos leitores. Asim, muitos pagaram pelo jornal impresso para saberem 0 que se passava nos seus mundos, Outros s0- fieram com o que estava impresso no jornal, mesmo que no dia seguinte este tenha virado simples papel de embrulho de peixe nas feiras. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Kio. A regra do jogo: o jornalismo ¢ a ética do marceneiro. S40 das Letras, 1988, ABREU, Jodo Batista de. As manobras da informagao: analise da cobertura jor palistica da luta armada no Brasil (1965-1979). Rio de Janeiro: Mauad: UPR, 2000. ; BEDARIDA, Frangois. Temps présent et présence de Vhistoire In: IHTP - Ins © tinut @'Histoire dau Temps Présent. Rerire Vhistoire du temps présent, Paris: CNRS, 1993. The social responsability of the historian. Diogéne, n. 168, 1995. 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