UNIVERSITY
LIBRARY
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FELICIANO GALDINO A
lendas
matogrossenses
1919
. . .- .' v .v\'r J
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417368
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v.
-
Luz e sombras.
Lyrio e violeta.
A Região dos mares.
Lendas matogrossenses.
Os fanaticos.
A bastão, a chicote !
Novellas do coração.
Waldemiro— drama em 4 actos.
A legião das covas— drama em 3 actos.
Paginas intimas.
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v
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' V4 L'.Vi...
rõ illastre matogrossen.se <$om
nossa terra.
azul
A princesa branca do vestido
já
e
não voltam, melancolia infinda que nos
a
a
cidade passou, como um sonho, para nun
ca mais voltar, tudo isso nos faz mesmo
crer, quando
já
.".'"
.'.
..
Caminhou, tendo encontrado estrada
a
e
amedrontadinha.
do João Leme
E,
ao chegar margem
á
'
encontrou uma Senhora que ao vel-a, se
approximou delia e, sorrindo, a tomou de
licada e carinhosamente pelo bracinho:
— Vêm comigo, belleza, vem comigo flor,
tua boa mãe te procura.
E a mimosa creaturinha, toda espantadi-
nha, a seguiu, fitando-lhe os çlhos, com a
boquinha entre-aberta, toda admirada pela
sua incomparavel belleza, pelo perfume
das suas vestes azues e pela bastidão dos
seus cabellos doirados.
Na villa, por toda parle, era procurada,
desesperadamente a loura creança.
Os escravos, uns percorriam os bosques
e outros, acompanhavam, impressionada-
mente, o curso dos riachos proximos.
Julgavam haver desapparecido, de uma
vez, a innocente creaturinha.
E a bella moça que a guiava, tendo che
gado com ella á entrada da villa c, prestes
a encontrar-se com aquelles, que desde ce
do procuravam a innocente, parou:
— Sabes quem te conduz de onde esta
vas, para pertinho da tua querida mãe?
— Não, não sei.
— Pois, si t'o perguntarem, dize-lhes que
é a melhor das mães, a melhor das ami
gas: — a princesa branca do vestido azul.
A moça abençoou a creança e sumiu por
entre o arvoredo reclolente...
417368
]2 Zcnda» matogío»aiuaiâ
•-
Seíiciano §aí?vno 2 1
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ÍcÍÍcíomo Qafêíne 23
X
TTFTT
I 'alavanca mysíeriosa
Uma jazida riquissima havia attrahi-
do a attenção dos novos povoadores da
terra predestinada.
Isto se déra num dos intersticios do
outeiro da Prainha que partindo.. da hoje
capital matogrossense, deriva ondeante pa
ra o Nordeste, onde o São Jeronymo se
altêa como atalaia soberbo da cidade ri
dente.
Num d'aquelles desvãos, que abrem
passagem por entre morros, numa apo-
theóse festiva se altêa a chimbuveira e a
.chagueira com as suas grandes favas odo
riferas; braceja o tarumeiro, a nohre arvo
re dos nossos sertões opulentos que hom-
brêa ao loureiro flexivel, ao aricà de bella
apparencia e ás galhúdas tarumaránas ...
Alli, naquelle tempo, as cabaceiras se
curvavam sob seus vireos pingentes a es-
pelharem-se nos olheirões, de onde, aqui por
entre as arêas, alli, por entre a pederneira
rebrilhante, derivam as fitas de agua excel-
lente. que se vão precipitar, algumas de-
28 Senda» matog^o»»efwco
'* * *
-,
Miliciano ê<xt2ino 37
ti,
l
durante nossa vida. Senhora das Brotas
a
a
nome deste sitio que escolheste para
o
morada.
Virgem Santissima abençoou aquel-
E
a
bôa gente
a
a
e
amava.
já
berço.
a
o
creança
a
a
já
e
38 SinSai inato^tojaíttNj.)
*
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A
Scliciano QaÚíuo 45
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4() Lcn3aa matoato»aen»ía
I
^ãpssg^ç^
lenhora do livramento
matacões penetrantes;
e
a
região benéfica productiva que se expan
e
orla Cuiabá;
o
efe
%'pproximava-se uma grande fa
zenda uma léva de indios de uma das
maiores tribus matogrossenses.
Uma india ainda moça trazia uma cre-
ancinha, lindo bugrinho de seus seis me
ses de idade, sua primogenita.
Acompanhava indio esposo era
o
a
e
primeira vez que visitava casa de civili
zados.
mulher do dono da fazenda, logo
A
a
e
nantemente dar.
fazendeira foi ao fundo da casa,
A
IV
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efeticianc áaf?ino 67
/-
De volta, caminho de onde a cruelda*
de lhe roubara o filho, o gallinho da cam
pina, calhandra matogrossense,— pareceu
então cantar no coração de Jalr.
'*,
cíeftciãiio SafíHuo 7 1
*.
*
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*
.
valentes boróros.
Encostado em uma das paredes do in
terior, dono da fazenda, tendo em posição
o
* *
No dia seguinte, humilde e abatido,
chegava áaldêa o dono da fazenda acompa
nhado de dois capangas desarmados, levan
do ao -velho cacique, a titulo de presentes,
correntes de ouro e muitas outras preciosi
dades.
76 £*n3o9 -mcUoyvoiSínetc
E o ancião,
ferido no seu orgulho de
monarcha das selvas matogrossenses, a-
aprumou o busto lançando ao fazendeiro
um olhar austéro. Um sorriso incolor, sor
riso de irreductivel desdém lhe crispou os
labios morenos, acostumados á pronuncia
grave da sua audacia irreductivel e so
berana :
— E clle!...
—Pára ou morre !
Os perseguidores tendo tomado a to
da a brida a direcção do perseguido, ti
nham confiança na força e agilidade dos
seus cavallos.
E aquelle homem perseguido era um
bom português, accusado ao poviléo amo
tinado de haver enterrado grandes frascos
Scdcic.no §al2ino. . . 81
■,*,<
-•
e parecia que era então de maior numero
de cavalleiros. E eis que, tendo-se posto de
novo a correr, se lhe depararam á frente al
guns cavalleiros que vinham do Pary, e a*
medrontado, julgando. serem elles os seus
perseguidores, rodou o cavallo para a es
querda, mas. á vista do carautazal que ahi
se enfeixava expesso, intranzitavel, ia cor
rendo para o outro lado, quando dá frente
a frente com os inimigos a quem dando
mais uma vez rápido engano, num zig-zag,
passou por entre elles mais que depressa
Atravessou ligeiramente um arvoredo e deu
com um caminho, á cuja margem, uma ve
lha cruz de madeira abria os seus mise
ricordiosos braços como que para abraçar
o christão perseguido.
0 cavallo parou de repente; estava ex
tenuado de forças; cahlu afinal, com o ca-
valleiro que, graças á sua agilidade, nada
soffreu.
. Os perseguidores já vinham ainda ou
tra, vez perto. O tropel dos seus cavallos
íá se ouvia perfeitamente e o pobre per
seguido,, vendo-se completamente perdido,
se resignou a morrer, mas morrer abra
çado com a cruz.
Aquella cruz de madeira, plantada um
dia á beira da estrada, para indicar aos
transeuntes que um christào chamado às
contas finaes por Deus, entregou seu cor
po álli, ao pó de que foi formado, aquella
34 CrnSas inatocj£da>ciix^
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J
a^3) — —o— —@u-@u
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Coração de escravo
Senhor de muitos escravos, estava
seriamente furioso e passeiava pela frente
de dois dos seus carrascos que se acha
vam em pé, tendo nas mãos terriveis chi
batas.
—Escravos, força e valor, vergastem o
miseravel que derrubou uma arvore da mi
nha mata para tirar mél. Força e valor,
derrubem no, quero vel-o retalhado, a ver
ter sangue. Escravo passar a mél?!...
Escoltado por dois companheiros de
servidão, chegava um vistoso crioulo, tra
zendo nalma a triste sombra do temor e
das duvidas.
Amarrado pelo pescoço a uma arvore
do páteo do grande sitio, exclama:
—Meu senhor. podeis fazer de mim o
que quizerdes, sou um misero escravo.
Eo senhor ordenou o açoite:
—Chibata, chibata sobre o tirador de
mél.
E as chibatas começaram a estalar no
corpo do infeliz escravo
92 Ílett3a» iwoío^«sssíH»e»
— Chibata, chibata
no escravo que quer
passar bem,extrahindo mél da minha mata I
0 corpo do infeliz Gualberto já esta
va todo cortado e deitava sangue em abun
dancia.
Um e outro escravos que vinham che
gando, passavam de largo, atemorizados e
de cabeça baixa. 0 seu senhor era violen
to e cruel; mandava açoitar seus servos
por um simples capricho ou por qualquer
dá cá aquella palha. Si os seus escravos
tremiam diante d'elle, os membros de sua
familia o não receiavam menos.
0 infeliz cahiu sem forças, todo dila
cerado e gemendo tristemente.
— Agora basta. Levem-no d'aqui, dêm-
lhe um banho de salmoura, não mais ha
de querer tirar mel.
0 bárbaro e poderoso senhor, foi ao
quarto onde havia prendido sua filha, a re-
prehendeu e a ameaçou brutalmente por
lhe ter pedido que perdoasse o seu servi
dor. Esta o ouviu calada e de cabeça baixa
e sahiu da sua prisão.
O homem terrivel tomou o seu cavai-
lo e sahiu offeguento, e preoccupado a ga
lope. Ia correr os campos e as roças mais
próximas. Ia, como de costume, não tanto
para inspeccionar os trabalhos dos seus
numerosos escravos, mas, para ter o gos
to de castigar alguns d'elles.
Emilia foi immediatamente ao rancho
onde gemia o seu escravo predilecto e co
meçou a tratar d'elle da melhor maneira e
a toda a hora lá estava, porém, escondi
da de seu pae que não consentiria, certa
mente, em semelhante tratamento. Mas E-
milia amava muito e muito o seu bom Gual-
berto que tanto cuidado teve com ella na
infancia e que tantas satisfações lhe vi
nha proporcionando na mocidade.
O rancho de palha onde estava o do
ente era um dos menores dentre os que
ficavam á beira da mata, ao fundo da lu
xuósa habitação do rico sertanejo.
O doente chegou a ficar muito mal, po
rém, Emilia, foi incançavel em lhe minis
trar os seus cuidados; não poupou esfor
ços para o seu completo restabelecimento;
94 SU/nSa» matojtcw»eníw
Annos correram.
Gualberto, tendo deixado bem ampa
rada a sua bôa senhora, foi ver si ainda
existiam os paes de Emilia, porque correu,
por aquella paragem, a noticia da sua gran
de ruina e completo abandono.
Montado no burrinho de sua senho
ra, chegou disfarçado, depois de alguns
dias de viagem, pelas visinhanças do sitio.
Nem uma só das habitações que por
alli havia, encontrou mais, porquanto, só
existiam os seus vestigios.
No logar onde se levantava outr'ora o
grande sitio do seu soberbo senhor, somen
te as ruinas do grande incendio se viam,
cobertas de hervas damninhas.
Tudo tinha desapparecido.
Gualberto, parou, esquecidas horas, no
logar e, comparando o que foi e a que esta
va reduzido então, sacudiu a cabeça e sus
pirou :
— Como se acabam as glorias do mun
do !
— Gualberto !
— Emilia?!...
Naquella agri-doce exclamação, Gual
berto distinguiu, com pasmo, a voz rouque-
nha do seu antigo Senhor.
— Gualberto, vive ainda a minha Emi
lia ? Você me tem perdoado ? De você e
de minha filha somente mui vagas e des
encontradas noticias tenho tido, apezar de
ter plena certeza de que escapou com el-
Ia da grande desgraça a que os quis sub-
metter, quando cego pelas fallacias d'este
mundo, fazia das mesquinhas vinganças
uma das partes integrantes da honra.
—Mas, a que misero estado ficou redu
zido o meu antigo senhor !
— Assim se acabam as glorias do mun
do, Gualberto, não extranhe. A riqueza sem
virtude conduz o homem á maior humilha
ção. Eu te disse que o soberbo senhor des
tas terras morreu, sim, é verdade: morreu
para a gloria e para o mal e quem nelle vive
nãoésinãoum pobre humilhado, para dizer
aos ricos que passam por esta estrada que
Deus humilha o soberbo e exalta o humil
de, para lhes dizer finalmente, que tudo no
mundo se não aproveita, tudo desapparece
a não ser a virtude e a pratica das bôas
obras.
Gualberto, mui compadecido do misero
estado dos seus antigos senhores, tirou do
102 2cnèa9 ■matoytomvnae
..
mas, lançou-o ao fundo do rio, logo qne
chegou com os seus antigos senhores.
Gualberto trabalhava sempre; em casa
nada faltava, servia sempre e de coração
alegre a todos os seus; vivia sempre conten
te porque tinha a gloria de ver felizes a bôa
Emilia e os seus velhos paes.
«í»
*
I
Frei
pesca k José
o
escaldante do mês de Agosto os alegres
e
maviosa prole.
Era nessa quadra ingrata para via
o
da civilização christan.
Seguido de dois bons sertanistas, que
conheciam, para assim dizer, palmo pal
a
ESPIÕES
O epilogo do
«sm-
ladainha nos mz
v
depois de alguns mêses,
Certa tarde,
uma algazarra clamorosa e entrecortada,
enchia o espaço.
—Ladainha nos aresl
Era o papagaio amansado que passa
va, inesperadamente, pela primeira e der
radeira vez, por cima da casa, á frente de
um bando enorme de companheiros de to-
fiUcioM* gaí3i«o '
127
.....
Brotas 33
Iguatemy
....
39
Senhora do Livramento 47
A licção do Morubixaba 53
O oasis d'alma 79
A nostalgia do indio 87
Coração de escravo 91
A pesca de Frei José lo5
Kspiões ; . . . 109
O epilogo de uma existencia . . . .117
Ladainha nos ares . ., 125
Sabedoria de vaqueiro 129
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Date Due
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THE HECKMAN BiNDFRY
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