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CADERNO 25 (1934): Às margens da história: História dos grupos

subalternos
§ 1. Davide Lazzaretti

“para uma elite social, os elementos dos grupos subalternos têm sempre algo bárbaro ou
patológico” p. 131 (morte de Lazzaretti aclamando a republica, que era capaz de se difundir entre
os camponeses, deve ter contribuído para exterminar seu protagonista; bizarramente misturada ao
elemento religioso e profético)

Pq demonstra sua popularidade e espontaneidade p. 132

A tendência subversivo-popular-elementar que podia nascer entre os camponeses, em


decorrência do abstencionismo político clerical e do fato de que as massas rurais, na ausência de
partidos regulares, buscavam dirigentes locais que emergissem da própria massa, misturando a
religião e o fanatismo ao conjunto de reivindicações p. 132

§ 2. Critérios metodológicos

A história dos grupos subalternos é necessariamente desagregada e episódica p.135

A tendência [à unificação] é continuamente rompida pela iniciativa dos grupos dominantes [...]
só a vitoria “permanente” rompe, e não imediatamente, à subordinação. P.135

Mesmo quando parecem vitoriosos, os grupos subalternos estão apenas em estado de defesa, sob
alerta p.135

Todo traço de iniciativa autônoma por parte dos grupos subalternos deve ser de valor inestimável
para o historiador integral p.135

§4. Algumas notas gerais sobre o desenvolvimento histórico dos grupos sociais subalternos na
Idade Media e em Roma

E se acrescentavam ás obrigações civis e sociais, alem do juramento, uma exigência religiosa,


com a assistência comum á missa e a celebração de ofícios divinos, ao mesmo tempo que outras
obrigações comuns, como as de socorrer membros pobres, sepultar os mortos etc, tornavam a
união cada vez mais duradoura e estreita p. 136-7
O povo se constitui cada vez mais em verdadeiro partido político, e para dar maior eficiência e
centralização a sua ação, atribui-se um chefe, o “capitão do povo” [...] revela ao mesmo tempo
origens e funções militares e os políticas p. 137

O povo, que, varias vezes mas esporadicamente, já se armara, reunira, organizara e tomara
deliberações distintas, se constitui como uma instancia à parte, que também se da leis próprias
p.137

Quando o povo não consegue das autoridades comunais as reformas pretendidas, faz a secessão
com apoio de homens eminentes da Comuna e, constituído em assembléia independente, começa
a criar magistraturas próprias [...] a atribuir uma jurisdição ao Capitão do Povo e a deliberar por
autoridade própria, dando inicio a toda uma obra legislativa p.137 (comuna de siena)

[...] Dada a falta de autonomia dos grupos subalternos, suas iniciativas “defensivas” estão
submetidas a leis próprias de necessidade histórica que dirigem e condicionam as iniciativas das
classes dominantes p.138

[...] os grupos subalternos são originalmente de outra raça em relação aos dominantes [...] como
no caso dos escravos. [...] só num certo sentido o “machismo” pode ser comparado a uma
dominação de classe, e portanto, tem mais importância para a historia dos costumes do que para
a historia política e social p.138

[...] e estas instituições [próprias dos subalternos], as vezes, tinham funções estatais, que faziam
do Estado uma federação de grupos sociais com funções diversas não subordinadas, fato que, nos
períodos de crise, dava uma evidencia extrema ao fenômeno do “duplo governo” p.138-9

O Estado moderno substitui o bloco mecânico dos grupos sociais por uma subordinação destes à
hegemonia ativa do grupo dirigente e dominante; portanto, abole algumas autonomias, que, no
entanto renascem sob outra forma, como partidos, sindicatos, associações de cultura p.139

§5. Critérios de método

A unidade [das classes dirigentes] histórica fundamental, por seu caráter concreto, é o resultado
das relações orgânicas entre Estado ou sociedade política e a “sociedade civil” p. 139

As classes subalternas, por definição, não são unificadas e não podem se unificar enquanto não
se tornar “Estado”: sua historia, portanto, está entrelaçada à da sociedade civil [...] e, por este
caminho, da historia dos Estados ou grupos de Estados p.139-40
[...] deve incluir todas as repercussões das atividades de partido em toda a área dos grupos
subalternos em seu conjunto e nos comportamentos dos grupos dominantes, e deve incluir as
repercussões das atividades dos grupos dominantes sobre os subalternos e seus partidos p.140

Entre os grupos subalternos, um exercera ou tenderá a exercer uma certa hegemonia através de
um partido, e é preciso estabelecer isso, estudando também o desenvolvimento de todos os outros
partidos, por incluírem elementos do grupo hegemônico p.140

Para se tornarem Estado [moderno italiano] deviam subordinar a si ou eliminar as primeiras e ter
o consenso ativo ou passivo das outras p.141

O estudo do desenvolvimento destas forças inovadoras, de grupos subalternos a grupos


dirigentes e dominantes, deve investigar e identificar as fases através das quais elas adquiriram a
autonomia em relação aos inimigos a abater e a adesão dos grupos que as ajudaram ativa ou
passivamente p.141

§6. Os escravos em Roma

Um senador propôs que se desse aos escravos uma roupa que os distinguisse, o Senado foi
contrario à medida por temor de que eles se tornassem perigosos, ao se darem conta de seu
grande numero p.142

Neste episodio, estão contidas as razoes político-psicológicas que determinam uma serie de
manifestações publicas: as procissões religiosas, as passeatas, as assembléias populares, as
paradas de todo tipo e também, em parte, as eleições e os plebiscitos p.142

§7. Fontes indiretas. As “utopias” e os chamados “romances filosóficos”

É ver que eles refletiam, inconscientemente, as aspirações mais elementares e profundas dos
grupos sociais subalternos, inclusive os mais baixos, ainda que através do cérebro de intelectuais
dominados por outras preocupações p.142 (cf. caderno 5, §142 e 152, caderno 6 §34 e 157)

Uma parte desta literatura [cahiers de doléance] expressa os interesses dos grupos dominantes ou
apeados do poder e tem caráter retrogrado e reacionário p.142

As utopias se deveram a determinados intelectuais que formalmente retomam o racionalismo


socrático da Republica de Platão e substancialmente refletem, muito deformadas, as condições de
instabilidade e de rebelião latente das grandes massas populares da época p.143
Também O Príncipe de Maquiavel, foi a seu modo uma utopia p.143 (cf. caderno 13, vol 3)

[...] o Humanismo, ou seja, um certo individualismo, foi o terreno propicio para o nascimento
das utopias e das construções político-filosóficas: a Igreja, com a Contra-Reforma, se afastou
definitivamente da massa dos “humildes”, para servir aos “poderosos”; determinados intelectuais
tentaram encontrar uma serie de problemas vitais dos humildes [...] tentaram um nexo entre
intelectuais e povo, portanto, eles devem ser considerados como os primeiros precursores
histórico dos jacobinos e da Revolução Francesa, isto é, do evento que pôr fim à Contra-Reforma
e difundiu a heresia liberal p.144

§8. Cientificismo e seqüelas do baixo romantismo

Estaria ligado [problema da criminalidade] ao fato de que à tendência de esquerda aderiram


Lombroso e muitos de seus mais “brilhantes” seguidores, que então pareciam a suprema
expressão da ciência[...]? Ou se trata de uma seqüela do baixo romantismo de 1848[...]? Ou
estaria ligada ao fato de que, na Itália, impressionava a certos grupos intelectuais a grande
quantidade de crimes de sangue [...] não podiam ir adiante sem ter explicações “cientificamente”
(isto é, naturalisticamente) este fenômeno de barbárie? P.145

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