Você está na página 1de 18

Instrumentação Industrial - 1

Medidas de nível
Atualmente existe uma grande variedade de medidores de nível de líquidos,
sólidos e, em alguns casos, de sólidos que se apresentem em pequenas
partículas na forma granular ou de pó. Na maioria das aplicações necessita-se
de apenas uma indicação grosseira do nível, de modo que a incerteza não é
algo a se preocupar. Mas em sistemas de controle e automação de ensaios e
processos industriais, torna-se necessário o emprego de modernas técnicas de
medição de nível, cujos princípios de funcionamento serão expostos a seguir.

Contínuo Discreto
Medida de nível
Líquidos Sólidos Líquidos Sólidos
Capacitivo √ -- √ √
Condutivo - - √ -
Hidrostático √ - - -
Pressão diferencial √ - - -
Radiométrico √ √ √ √
Ultrassônico √ √ √ √
Eletromecânico - √ - -
Vibração - - √ √
Dispersão Térmica √ - √

A medida de nível pode ser discreta ou contínua. Na medição contínua, um


transdutor sempre irá fornecer uma saída proporcional ao nível que se deseja
medir. Já na medição discreta, o que tem-se é no máximo uma indicação de
uma faixa de presença material que se deseja medir o nível. Dentro desta
classificação encontram-se também as chaves de nível, que indicam se um
determinado nível foi ou não atingido. As figuras a seguir apresentam medidas
nível em líquidos (a) e em sólidos (b).

(a) (b)
A seguir tem-se alguns esquemas simplificados de controle empregando
chaves de nível.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 2

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 3

Visores de nível

É o método mais simples para a indicação do nível. Consiste de uma janela de


vidro ou outro material transparente colocado diretamente na própria parede do
tanque de armazenamento, ou um tubo de vidro montado externamente ao
tanque. Neste último caso, por se tratarem de vasos comunicantes, o nível no
tanque e no tubo serão os mesmos, fornecendo a indicação desejada.

Estes mecanismos são robustos, de baixo custo, confiáveis e de fácil manuseio


e manutenção. Na montagem de peças externas são incluídas válvulas de
bloqueio ou isolação, suspiro e dreno, para permitir a manutenção ou
substituição. A seguir tem-se alguns modelos comerciais comumente
encontrados no mercado.

Uma variante do sistema visor de nível é o chamado nível magnético, sendo


particularmente adequado onde tem-se gases ou líquidos tóxicos e perigosos,
proibindo o acesso à atmosfera e, também, quando o perigo de falha em
materiais comumente empregados em visores de nível tradicionais, devido à
fadiga e à corrosão, não puder ser tolerado.

No medidor de nível magnético o fluido a ser medido fica confinado em uma


câmara selada de aço inoxidável, onde uma bóia de aço ou de titânio,
firmemente solidária a um ímã permanente, se movimenta livremente, atuando
sobre as pastilhas magnéticas do indicador montado fora da câmara. Com uma
movimentação da bóia, cada pastilha gira de 180° mostrando uma cor
contrastante.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 4

Na figura anterior, as bandeiras acima da bóia irão mostrar a cor branca,


enquanto as que estão abaixo irão mostrar a cor vermelha. Sendo assim, o
mostrador apresenta uma indicação precisa e claramente definida do nível
dentro da câmara. Outras cores também podem ser usadas a fim de indicar a
ultrapassagem de limites.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 5

Sistema com bóias

Medir a posição de uma bóia na superfície de um líquido por meio de um


transdutor apropriado é um método bastante comum para se medir o nível de
um líquido. O sistema usando um potenciômetro, mostrado na figura a seguir é
muito comum e bastante conhecido para esta aplicação para monitorar o nível
em tanques de combustível em veículos.

Os sistemas com bóias também são muito empregados como chaves de nível.
As figuras a seguir apresentam modelos comerciais para este tipo de
aplicação.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 6

Um sistema alternativo, o qual é usado em um grande número de aplicações,


consiste em transmitir o movimento de uma bóia a uma polia, através de um
cabo e um contrapeso. Acoplado à polia tem-se um mecanismo para acionar
um ponteiro, pena, ou um mecanismo de transmissão elétrica ou pneumática.

Este sistema de medida basicamente mecânico pode alcançar um elevado


nível de exatidão, requerendo, no entanto, uma constante manutenção. O
movimento da bóia não depende da densidade do fluído, porém é sensível a
turbulências e espuma, causando erros na medição. A seguir tem-se modelos
de registradores de nível que empregam esta técnica de medição.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 7

Sistema com flutuadores


Os medidores de nível flutuadores têm seu princípio de funcionamento
baseado na lei de Archimedes, onde um elemento com densidade maior que o
líquido que se deseja medir o nível, fica parcialmente submerso no líquido e
suspenso por uma mola, um dinamômetro ou uma barra de torção.

À medida que o nível do líquido aumenta, o peso aparente da bóia ou flutuador


diminui, fazendo atuar o mecanismo de indicação ou de transmissão. Para o
uso adequado deste medidor, a densidade do líquido deve ser conhecida e
constante.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 8

Medição por pesagem

Outro método utilizado para medição volumétrica ou quando os materiais são


muito corrosivos ou de difícil aplicação dos métodos convencionais, consiste na
medição contínua do peso do reservatório junto com o material.

O valor do peso pode ser relacionado ao nível quando são conhecidos a área
ou seção transversal do reservatório e a densidade do material.

O peso é medido por balanças mecânicas convencionais ou por strain gauges,


colocados estrategicamente nos elementos de suporte do reservatório.

Medição da pressão hidrostática

A pressão hidrostática oriunda de um fluído é diretamente proporcional à sua


profundidade e, consequentemente, do nível da sua superfície. Vários
instrumentos que usam este princípio estão disponíveis e são largamente
empregados em indústrias, principalmente em ambientes químicos severos.

No caso de tanques abertos, ou ainda quando existem tampas providas de


ventanas, o nível pode ser medido através de um medidor de pressão
apropriado montado na parte inferior do tanque ou suspenso, como mostrado a
seguir.

O nível do líquido, h, será então relacionado com a pressão medida, P, através


da seguinte expressão:

h = P / ρg

onde ρ é a densidade do fluído e g é a aceleração local da gravidade.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 9

As figuras a seguir apresentam alguns modelos de medidores hidrostáticos de


nível comerciais disponíveis no mercado.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 10

Quando o recipiente ou tanque é totalmente selado, o nível do fluído pode ser


obtido através da pressão diferencial entre as partes inferior e superior do
tanque. Neste caso, o nível será relacionado à diferença de pressão, ∆P,
segundo a seguinte relação.

h = ∆P / ρg

O sistema com borbulhador é uma variante da medição por pressão


hidrostática e consiste em um tubo, com extremidade aberta, alimentado com
ar comprimido. O ar comprimido irá escapar sob a forma de bolhas,
permanecendo apenas a pressão equivalente à coluna de fluído. Esta pressão
é obtida através de um transdutor ou manômetro calibrado em nível, sendo
levada em consideração, a densidade do fluído. A figura a seguir ilustra o
exposto.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 11

Sensores capacitivos

Os sensores capacitivos têm sido atualmente largamente empregado para a


medição de nível em líquidos e sólidos na forma granular ou de pó, sendo
bastante adequados para medição em condições extremas, tais como em
metais líquidos (alta temperatura), gases líquidos (baixas temperaturas),
líquidos corrosivos (ácidos, etc.) e processos de alta pressão.

Duas versões destes medidores são usadas em função das características


elétricas da substância em questão. Para substâncias não condutoras, ou seja,
condutividade elétrica menor que 0,1 µmho/cm3, duas placas de metal em
formato cilíndrico e concêntrico são imersas na substância, como mostrado na
figura a seguir. A substância se comporta como um dielétrico entre as placas à
medida que se aprofunda na substância. Para placas cilíndricas concêntricas
de raios a e b (b > a) e altura total L, a profundidade da substância, h, é
relacionada à capacitância pela seguinte expressão.

C ⋅ ln(b / a) − 2 ⋅ π ⋅ ε o
h=
2 ⋅ π ⋅ ε o ⋅ (ε − 1)

onde ε é a permissividade relativa da substância medida (ε>2) e εo é a


permissividade do vácuo. A capacitância é medida por métodos apropriados.

L
h

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 12

No caso de substâncias condutoras, a mesma técnica é empregada, a única


diferença é que as placas do capacitor são revestidas por um material isolante.
A relação entre C e h na expressão anterior deve, desta forma, ser modificada
a fim de considerar o efeito dielétrico do isolante.

Os sensores capacitivos encontram as mais variadas aplicações, contudo,


pode vir a ser impreciso se a substância a ser medida for contaminada com
outros agentes que venham a modificar a sua constante dielétrica.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 13

Sensores por vibração

Este sensor consiste de dois osciladores piezoelétricos fixados dentro de um


tubo gerando vibrações neste tubo à sua frequência de ressonância.

A frequência ressonante do tubo varia de acordo com a sua profundidade de


imersão no fluído ou material. Um circuito PLL é usado para acompanhar estas
alterações e ajustar a frequência aplicada ao tubo pelos oscilador
piezoelétricos. A medida do nível é obtida em função da frequência de saída do
oscilador quando o tubo está em ressonância. A figura a seguir apresenta
alguns modelos comerciais deste tipo de medidor de nível.

Sensores condutivos

Este tipo de sensor é particularmente aplicável à medição de nível em fluídos


condutivos (condutância igual ou maior que 50µS), não corrosivos e sem
partículas em suspensão.

A sonda é formada por dois eletrodos cilíndricos, ou apenas um, quando a


parede do reservatório for metálica. O sistema é alimentado por uma tensão de
baixo valor (~10V), alternada, a fim de evitar a polarização dos eletrodos.

Em medições contínuas, a sonda é colocada verticalmente e é tão profunda


quanto se deseja monitorar a variação de nível. A corrente elétrica circulante é
proporcional à parcela do eletrodo imersa no fluído condutivo.

Em aplicações de medições pontuais, operação como chave e detecção de


nível, posiciona-se a sonda horizontalmente em relação à superfície do fluído,
resultando em uma corrente elétrica de amplitude constante e estável, tão logo
o nível atinja a sonda.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 14

Sensores por dispersão térmica

Os sensores de nível por dispersão térmica baseiam-se no princípio da


transferência da calor, uma vez que a condutividade térmica um fluído é maior
no estado líquido do que em seu estado gasoso.

A sonda consiste de dois resistores termosensíveis (RTDs). Um RTD é tomado


como referência e mede a temperatura do ambiente onde a sonda está imersa,
enquanto o segundo é semi-aquecido a uma potência constante. Sendo assim,
em um ambiente seco, existirá uma diferença de temperatura entre os dois
sensores.

Este sensor pode ser usado como chave de nível ou como chave de vazão. Na
operação como chave, quando a sonda estiver em contato com o fluído, haverá
uma absorção de calor do RTD aquecido, resultando em um efeito refrigerante
fazendo com que a diferença de temperatura entre os dois RTDs diminua
fornecendo uma indicação de nível. A figura a seguir ilustra o exposto.

Na operação como chave de fluxo a sonda estará permanentemente imersa no


fluído. A diferença é que a troca de calor com o fluído é maior quando este está
em movimento. Sendo assim, a mesma sonda poderá ser empregada, desde
que o valor de seu set-point seja ajustado, controlando-se a sensibilidade do
RTD que mede a temperatura ambiente. A seguir tem-se um sensor de nível
por dispersão térmica, bem como sondas de fluxo que utilizam esta tecnologia.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 15

Sensores ultrassônicos

O sistema de medição de nível por ultrassom é baseado no princípio de que a


energia sonora de uma fonte ultrassônica emitida sobre uma superfície é
refletida a partir desta para um detetor.

Sendo assim, pode-se inferir sobre o nível de sólidos ou líquidos, medindo-se o


tempo de trânsito que a onda gasta desde a sua emissão até a sua recepção.
Neste caso deve ser tomado um cuidado especial em se considerar a variação
da velocidade do som no ar em função da temperatura, cuja sensibilidade é da
ordem de 0,607 m/s/oC.

A figura a seguir apresenta esquemas de instalação em campo e medição de


nível de diversos elementos.

Um outro método lança mão da variação da frequência recebida em relação à


enviada para se obter o nível. Neste caso, a influência da temperatura fica
praticamente anulada. A figura a seguir ilustra este método.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 16

Em sistemas alternativos, a fonte ultrassônica é colocada no fundo do tanque e


o tempo de trânsito entre a emissão e reflexão da superfície do líquido e
retorno ao fundo é medida. Tal técnica é particularmente interessante quando
se deseja determinar a interface (transição) entre líquidos imiscíveis ou
líquidos/precipitados.

No mercado são encontrados vários modelos de medidores de nível por


ultrassom. A figura a seguir apresenta alguns destes modelos.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 17

Sensores radiométricos

Os medidores radiométricos são baseados na diminuição da penetração dos


raios Gamma numa camada de líquido ou de sólido, à medida que esta
camada aumenta.

O sistema de medição por radiação é constituído de um emissor radioativo (a)


e de um receptor de radiação (b), denominado célula de ionização.

(a) (b)

Uma das principais vantagens deste tipo de medidor é que tanto o emissor
como o receptor não precisam entrar em contato com o material a ser medido,
podendo serem instalados fora do tanque, tornando possível a medição de
nível em condições adversas ou extremas, tais como em altas temperaturas,
líquidos inflamáveis, recipientes fechados e outros.

Alguns exemplos de instalações são apresentados a seguir, tanto para líquidos


(a) como para sólidos (b).

(a) (b)

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni


Instrumentação Industrial - 18

Nesta concepção o emissor é instalado na parte superior do tanque e o


receptor é instalado na parte inferior, externamente ao tanque. A fonte emite
raios Gamma (γ) empregando normalmente o Cobalto (60Co; T=5,3 anos) ou o
Césio (137Cs; T=33 anos). A detecção do nível é uma função da absorção dos
raios Gamma pelo fluído. A radiação, I, medida pelo detetor é relacionada ao
comprimento do mensurando no trajeto da onda, x, de acordo com a seguinte
expressão.

I = I 0 ⋅ e −µρx

Onde I0 é a intensidade da radiação emitida pela fonte, e que seria totalmente


recebida pelo detetor na ausência completa de qualquer elemento
intermediário. µ é o coeficiente de absorção e ρ é a densidade do elemento.

Sendo assim, o nível desejado será dado por:

ln(I / I 0 )
h=− ⋅ cos θ
µ ⋅ρ

Onde θ é ângulo de inclinação formado pela direção que liga o transmissor ao


receptor e a direção vertical.

Uma outra configuração consiste na instalação de ambos, emissor e receptor,


no nível mínimo ou nível máximo, quando o sistema começa a operar como
chave de nível. A figura a seguir ilustra o exposto.

Não obstante à sua extrema flexibilidade, notadamente em relação à sua não


intrusibilidade e aplicação em ambientes hostis, este método não tem
alcançado grande difusão, principalmente em função dos riscos inerentes ao
emprego de fontes radioativas, esbarrando em regulamentações de segurança.

Escola Federal de Engenharia de Itajubá - DON/IEE/EFEI - Prof. Bortoni

Você também pode gostar