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Não será possível estudarmos todos os transtornos da Psiquiatria por razões óbvias.
Primeiro porque seria necessária uma disciplina à parte levando-se em consideração que numa
cadeira de Psicologia Pastoral do curso de Teologia existem outros temas de igual importância
que devem ser contemplados. Segundo, porque caberia mais uma abordagem mais profunda
dentro do curso de Psicologia ou Medicina. Veremos, então, os que mais ocorrem no dia a dia.
CONCEITUANDO...
Não confundir tristeza com depressão. Ficar “deprê” de vez em quando é normal.
É normal sentir-se triste por curtos períodos, principalmente se algo de ruim ocorreu em
nossa vida.
Não é falta de fé. A fé um suporte para sair da depressão.
TRISTEZA
• Perda de uma figura importante. Desânimo penoso. Menor prejuízo das relações
Interpessoais. Menor durabilidade dos sintomas
DEPRESSÃO
• Perda de uma figura “emocional”. Grandes prejuízos nas relações interpessoais.
Sintomas permanecem por longo tempo
CAUSAS
FATORES ENDÓGENOS
Queda de neurotransmissores no sistema límbico - serotonina e noradrenalina. Fatores
genéticos
FATORES EXÓGENOS
Causas diversas – perdas (luto mal elaborado), separação conjugal, perda de emprego,
traumas, abuso sexual, etc...
MULHERES E IDOSOS
• Atenção aos idosos É fato que a idade não é um fator determinante para o
aparecimento da depressão, porém, estudos comprovam que a incidência da doença é
maior entre a população idosa. De acordo com o psiquiatra Edson Hirata, "o fato de
idosos terem mais doenças físicas, usarem mais medicamentos e frequentemente
ficarem mais isolados socialmente aumenta o risco de depressão nesta faixa etária".
SINTOMAS
• Sentimentos melancólicos
• Perda do interesse por atividades consideradas agradáveis anteriormente
• Perda do apetite ou ganho de peso
• Dificuldade para dormir ou excesso de sono
• Sentimento de cansaço ou indisposição, irritabilidade
• Sintomas físicos nem sempre aparecem (dor de cabeça e no corpo)
• Sentimento de inferioridade ou culpa
• Crises de choro
• Dificuldade de concentração, organização do pensamento, memória ou para tomar
decisões
• Pensamentos de morte ou suicídio.
TIPOS DE DEPRESSÕES
TRATAMENTO
O QUE É ?
O TABP pode iniciar na infância, geralmente com sintomas como irritabilidade intensa,
impulsividade e aparentes “tempestades afetivas”. Um terço dos indivíduos manifestará a
doença na adolescência e quase dois terços, até os 19 anos de idade, com muitos casos de
mulheres podendo ter início entre os 45 e 50 anos. Raramente começa acima dos 50 anos, e
quando isso acontece, é importante investigar outras causas.
CAUSAS
A causa exata do transtorno bipolar ainda é desconhecida, mas a ciência acredita que diversos
fatores possam estar envolvidos nas oscilações de humor provocadas pela doença, como:
TIPOS
TIPO 1 – A pessoa apresenta episódios de mania, que pode se manifestar como psicose
TIPO 2 - Menos grave. A pessoa apresenta hipomania — fica acelerada, dorme mal, tem
exaltação de humor
SINTOMAS
Fase maníaca
Distrair-se facilmente.
Redução da necessidade de sono.
Capacidade de discernimento diminuída
Pouco controle do temperamento
Compulsão alimentar, beber demais e/ou uso excessivo de drogas
Manter relações sexuais com muitos parceiros
Gastos excessivos
Hiperatividade
Aumento de energia
Pensamentos acelerados que se atropelam
Falar em excesso (logorreia)
Autoestima muito alta (ilusão sobre si mesmo ou habilidades)
Grande envolvimento em atividades
Grande agitação ou irritação.
Fase depressiva
TRATAMENTO
Psicoterapia
Medicamentos estabilizadores do processo de ciclotimia: Lítio (Carbolitium, Litiocar,
Carbolim), Carbamazepina (Tegretol), Topiramato (Topamax) e outros.
O QUE É ?
“Eu não consigo fazer parar a minha mente … ela está-me deixando louco!”
“Está ficando tarde, ele já deveria estar aqui há 20 minutos! Oh meu Deus, ele deve ter
tido um acidente! “
“Eu não consigo dormir, só sinto medo … e não sei porquê!”
As preocupações, dúvidas e medos são uma parte normal da vida. É natural ficarmos ansiosos
sobre nosso próximo teste ou preocupar-nos com as finanças após termos recebido contas
inesperadas para pagar. A diferença entre preocupação “normal” e transtorno de ansiedade
generalizada, é que a preocupação envolvida no TAG é: Excessiva, Intrusiva, Persistente,
Debilitante.
Por exemplo, depois de assistir a uma reportagem sobre um atentado terrorista no Médio
Oriente, a pessoa comum pode sentir uma sensação temporária de desconforto e
preocupação. Mas, se você tem transtorno de ansiedade generalizada, provavelmente, você
pode acordar durante a noite, e em seguida, continuar preocupado durante vários dias sobre
um cenário idêntico que possa ocorrer no local onde vive.
SINTOMAS DO TAG
Sintomas físicos:
Biológicas:
Desequilíbrio de neurotransmissores que ocorrem naturalmente em nosso cérebro, a
exemplo da serotonina, dopamina e norepinefrina.
Fatores genéticos e hereditários
Doenças cardíacas
Hipotireoidismo e hipertireoidismo
Menopausa
Psicológicas:
A base psicodinâmica das ansiedades está no sentimento de desamparo.
Afetos ligados a sentimentos primitivos de ter sido preterido a outrem (demanda de
amor)
Traumas de infância: as crianças que sofreram abuso ou algum tipo de trauma, ou que
até mesmo testemunharam eventos traumáticos (grave enfermidade ou morte dos pais)
estão em maior risco de desenvolver transtorno de ansiedade generalizada em algum
momento da vida.
Exposição precoce e contínua de bebês e crianças a tablets, smartphones, etc .
Sobrecarga a crianças e adolescentes de atividades (curso de línguas, balet, academia,
aula de reforço, treinos esportivos, etc). A mensagem subliminar é: “seja melhor que
todo mundo”.
Abuso de substâncias
Uso excessivo de drogas ou álcool pode piorar e até levar ao transtorno de ansiedade
generalizada.
A cafeína e a nicotina, presente no cigarro, também podem aumentar a ansiedade e
conduzir o indivíduo à doença.
STBNB – Psicologia Pastoral – Prof Marcos A M Bittencourt
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TRATAMENTO E CUIDADOS
DEFINIÇÃO
SINTOMAS
Taquicardia
Sensação de falta de ar, dificuldade de respirar, sufocamento.
Formigamentos
Vertigem, tontura
Dor ou desconforto no peito
Despersonalização, sensação de irrealidade
Medos...medo de perder o controle, medo de enlouquecer, sensação de morte iminente,
medo de desmaiar.
Sudorese
Tremores
Náuseas ou desconforto abdominal
Calafrios ou ondas de calor
Boca seca
Obs: Nem todos esses sintomas podem estar presentes nas crises, mas alguns sempre
estarão. Há crises mais completas e outras menores, com poucas manifestações. Os sintomas
começam de súbito e se acentuam rapidamente, muitas vezes acompanhados por uma
Enquanto, nas Fobias, a pessoa teme uma situação ou um objeto específico, fora dela, no
Pânico, ela teme o que ocorre no próprio corpo. Podemos considerar os casos de Pânico como
fobias nas quais o que assusta são as reações do próprio corpo; é para essas reações que se
volta a atenção, como deflagradoras das crises de Pânico.
O Pânico é um Transtorno de Ansiedade; isso significa que os sintomas têm como carro-chefe
a ansiedade - um estado emocional de apreensão, uma expectativa de que algo ruim aconteça,
um medo sem objeto definido, daí se afirmar que é o “medo de ter medo”.
ANSIEDADE ANTECIPATÓRIA
A expectativa constante de ter uma nova crise é uma das características da Síndrome
do Pânico. Com essa ansiedade antecipatória, as pessoas passam a evitar certas
situações e acabam restringindo suas vidas.
Podem ocorrer reações fóbicas secundárias, que geralmente estão relacionadas às
situações nas quais a pessoa teve as primeiras crises (no elevador, dirigindo, passando
por um determinado lugar etc.). A partir daí, a pessoa passa a associar essas situações
às crises.
TRATAMENTO
TEPT: O QUE É ?
TEPT: CAUSAS
Quando se fala de ameaça à vida, há várias dimensões da vida que podem ser
ameaçadas: dimensão física, dimensão psíquica (ameaças como assédio, humilhações
e outras violências psíquicas), dimensão social (micro e macro social) e ainda a
dimensão espiritual.
TEPT: SINTOMAS
TEPT: TRATAMENTO
Diminuir os sintomas
Prevenir complicações
Melhorar desempenho na escola ou no trabalho
Melhorar relacionamentos sociais e familiares
Tratar transtornos associados (como depressão e alcoolismo).
Fobia nem sempre é uma doença em si. Pode ser um sintoma de outra causa
subjacente – geralmente um transtorno mental. De qualquer forma, o medo sentido por
pessoas que têm fobia é completamente diferente da ansiedade que é natural dos seres
humanos.
O medo, por si só, é uma reação psicológica e fisiológica perfeitamente que surge em
resposta a uma possível ameaça ou situação de perigo. Já a fobia não segue uma lógica
propriamente dita, e a ansiedade nesses casos é incoerente com o perigo real que
aquilo representa.
FE: TIPOS
FE: CAUSAS
A causa de muitas fobias ainda é desconhecida pelos médicos. Apesar disso, há fortes
indícios de que a fobia de muitas pessoas possa estar relacionada ao histórico familiar,
levando a crer que fatores genéticos possam representar um papel importante na origem
do medo persistente e irracional.
No entanto, sabe-se também que as fobias podem ter uma ligação bastante direta com
traumas e situações passadas. Isso acontece porque a maioria dos problemas
emocionais e comportamentais é desencadeada por dificuldades que uma pessoa
enfrentou ao longo da vida. Todas as pessoas passam por momentos difíceis, mas
algumas delas podem desenvolver, com o tempo, sentimentos de angústia que podem
evoluir para um quadro de fobia.
Histórico familiar: Se alguém de sua família tiver algum tipo fobia, você tem mais
chances de desenvolvê-la também. Esta poderia ser uma tendência hereditária, mas
especialistas suspeitam que crianças sejam capazes de aprender e adquirir fobia
somente observando as reações de uma pessoa próxima, da mesma família, a alguma
situação de pouco ou nenhum perigo.
Evento traumático: Passar por uma situação traumática ou por uma série de eventos
traumáticos ao longo da vida podem levar ao desenvolvimento de uma fobia.
FE: SINTOMAS
Os sinais e sintomas dependem muito do tipo de fobia que a pessoa tem. No entanto,
independentemente do tipo, algumas características são notadas em todos os indivíduos que
apresentam fobias:
FE: TRATAMENTO
TOC: O QUE É?
TOC: TIPOS
TOC: CAUSAS
Os médicos ainda não são capazes de entender completamente o que está por trás do
transtorno obsessivo-compulsivo, mas podem ser listadas algumas daquelas que se
repetem nos casos clínicos.
Na biologia temos casos de disfunção cerebral no córtex orbital e alterações nos
neurotransmissores (deficiência de Serotonina).
Herança genética.
Causas psicológiocas: abordagem psicodinâmica: Esta é a teoria que afirma que
distúrbios no desenvolvimento sexual e desejos inconscientes estão no coração do
TOC. Quanto ao desenvolvimento, a teoria é de que o conflito entre o pensamento e o
raciocínio parte da mente e a parte que quer sua própria maneira é tratada de uma
forma instável pela criança e que causa problemas mentais na vida adulta. Um exemplo
STBNB – Psicologia Pastoral – Prof Marcos A M Bittencourt
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pode ser um verificador compulsivo de torneiras que, de acordo com esta teoria, queria
inundar a casa quando criança. Com os desejos inconscientes, a teoria pode dizer que,
por exemplo, a pessoa que teme atropelar pessoas com seu carro realmente quer fazer
isso. Para manter a isso fora de sua consciência, ela usa uma enorme quantidade de
energia que dá ao pensamento uma qualidade obsessiva e causa estresse, culpa,
vergonha.
Traumas infantis, situações de abandono e abuso sexual.
Convém mencionar que é preciso escutar a pessoa pois não se pode estabelecer de
antemão uma causa provável dentro de um “menu de causas”. Cada ser é ímpar no
mundo. É preciso escutar sua história.
TOC: SINTOMAS
TOC: TRATAMENTO
De acordo com a ciência médica TOC não tem cura, mas o tratamento disponível para o
transtorno pode ajudar a controlar os sintomas e evitar que eles interfiram ainda mais na
qualidade de vida do paciente. Em geral pessoas precisam de tratamento por toda vida, seja
somente com medicação ou associado com outras abordagens como psicoterapia.
As duas principais abordagens de tratamento para TOC são a psicoterapia e o uso de
medicamentos. No entanto, o tratamento é mais eficaz quando há uma combinação das duas.
Psicoterapia de base Cognitivo comportamental tem sido a mais indicada. Mas a linha
psicanalítica também é eficiente, isso porque não resolve apenas combater o sintoma,
mas também deve-se chegar às raízes do sintoma.
Medicamentos: costuma-se optar primeiramente por antidepressivos, porém outras medicações
como antipsicóticos e ansiolíticos também são usadas para tratar ou controlar os sintomas.
Anafranil, Assert, Citalopram, Clomipramina, Escitalopram, Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina.
STBNB – Psicologia Pastoral – Prof Marcos A M Bittencourt
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TPB: O QUE É ?
TPB: CAUSAS
vergonha pelos seus fracassos. Aos poucos a criança iria parando de tentar expressar
as suas vontades podendo levar a falhas na clarificação psíquica de si e do outro.
Pessoas com TPB também são mais propensas a reportarem que os cuidadores de
ambos os sexos negavam validação de seus pensamentos e sentimentos. Cuidadores
também foram reportados por terem falhado em prover a proteção necessária e por
terem negligenciado os cuidados físicos com suas crianças.
TPB: TRATAMENTO
Os transtornos mentais, em geral, são aqueles nos quais a pessoa sai da realidade e
vive num mundo que é só dela, alternando momentos de realidade e fora da realidade. Com a
cronicidade da doença por falta de tratamento a pessoa poderá não voltar mais à realidade.
Estudaremos apenas a Esquizofrenia.
10.4.1 – ESQUIZOFRENIA
O QUE É?
CAUSAS
SINTOMAS
1. Delírios: são ideias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta. Por
exemplo, ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas, acredita
que os vizinhos ou as pessoas que passam na rua querem lhe fazer mal.
2. Alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais
comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes
que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas
vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstância. Outras
formas de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também na
esquizofrenia.
TIPOS DE ESQUIZOFRENIA
1.5.1 – Paranóide - É a forma mais comum e de melhor diagnóstico. Aparecem aqui com
frequência alterações do juízo de realidade e da sensopercepção, como por exemplo, delírios
e alucinações (geralmente auditivas) bem sistematizados. O quadro do paciente lembra muito
o da doença chamada Paranoia (A paranoia é uma doença constituída de um único sintoma:
delírios).
1.5.4 – Simples – Apesar do nome, é a forma mais rara e a mais grave de Esquizofrenia. O
que caracteriza essa forma é a instalação lenta e progressiva dos sintomas e o
comprometimento gradual da personalidade, processo em que a pessoa vai ficando cada vez
mais isolada, reclusa, numa postura autista. O tratamento medicamentoso é de pouca valia,
pois a tendência é que a pessoa vá “afundando” cada vez mais em sua reclusão, até chegar
a um estado irreversível.
TRATAMENTO
psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para prevenir novas recaídas. A
maioria dos pacientes precisa utilizar a medicação ininterruptamente para não ter novas
crises. Assim o paciente deve submeter-se a avaliações médicas periódicas; o médico
procura manter a medicação na menor dose possível para evitar recaídas e evitar
eventuais efeitos colaterais. As abordagens psicossociais são necessárias para promover
a reintegração do paciente à família e à sociedade. Devido ao fato de que alguns
sintomas (principalmente apatia, desinteresse, isolamento social e outros) podem persistir
mesmo após as crises, é necessário um planejamento individualizado de reabilitação do
paciente. Os pacientes necessitam em geral de psicoterapia, terapia ocupacional, e
outros procedimentos que visem ajudá-lo a lidar com mais facilidade com as dificuldades
do dia a dia.
É muito comum na Igreja aceitar o fato de que um cristão pode ficar enfermo do corpo
(embora existam alguns grupos fundamentalistas que defendem que se alguém adoece é
porque está em pecado) e inclusive ninguém questiona um crente que procura um cardiologista
ou um gastroenterologista para se consultar e fazer um tratamento medicamentoso. Porém
quando a enfermidade é da alma, ou seja, dos afetos, das emoções, do humor e da mente,
alguns acreditam que o problema é espiritual e tem a ver com algum pecado cometido pela
pessoa.
Muitos dos que criticam crentes que têm transtornos psicológicos se esquecem que
apesar de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, nos tornamos pecadores com
o pecado dos nossos primeiros pais. O pecado, por sua vez, criou uma barreira entre nós e
Deus e, a partir daí, fomos inseridos no campo do “in” (“im”) : insanos, insuficientes, insalubres,
imperfeitos, intolerantes, ingratos. É essa precariedade que caracteriza o humano e pelo fato
de sermos humanos e pecadores adoecemos no corpo, na alma e no espírito.
Quando a Bíblia fala em Êxodo 20:5 que o Senhor visita “a maldade dos pais sobre os
filhos até a terceira e quarta gerações...” podemos fazer comparações com aquilo que a
Ciência tem descoberto sobre a herança genética e também herança comportamental dos
transtornos psíquicos. Lembro que essa herança não é “fatal”, é “facilitadora” para o
desenvolvimento de um transtorno psíquico.
Hoch e Noé (2003, p.73) falam da “divina vocação da igreja”, passando pela
compreensão de Lutero da igreja como “hospital para pecadores” e de Jesus, aquele que veio
para os enfermos e não para os sãos (Mc.2:17). Diante dessa compreensão todos nós
teríamos, tivemos ou temos algum tipo de transtorno por mais leve que seja. A igreja, seria na
compreensão de Hoch e Noé (2003, p.73) “o local onde os doentes podem encontrar a cura, o
alívio e o conforto que tanto precisam”. Mas o que vemos é que na maior parte das vezes a
igreja é o local onde se promove o adoecimento e uma vez adoecidas, as pessoas encontram a
rejeição, o julgamento e a exclusão. Como levar a termo as palavras de Jesus em João 6:37:
“Aquele que vem a mim de modo nenhum lançarei fora” ? Essas palavras se aplicam também
àqueles que enfrentam algum tipo de transtorno ou sofrimento psíquico, certamente. Com base
nessa premissa, Hoch e Noé (2003, p.74) postulam três fundamentos bíblicos para o
acolhimento do ser humano na igreja: “a visão bíblica da integralidade humana”, “a imagem
bíblica da igreja como um corpo” e “a ênfase bíblica no relacionamento fraterno”.
Sobre o(a) pastor(a) e seu relacionamento com a pessoa que sofre de algum transtorno
psicológico, esses autores levantam algumas observações importantes:
b) O(a) pastor(a) participa de momentos tão importantes da vida do crente tais como
nascimento, batismo, formatura, casamento, enfermidades, luto, etc. Ao lado da
família, o pastor é muitas vezes o único que pode estar ao lado de uma pessoa
que tem transtornos psíquicos.
c) Nesse sentido o(a) pastor(a) deve estar capacitado(a) para identificar transtornos
psíquicos de manifestações espirituais normais. Assim, deve evitar de “embarcar
na onda” de alguns que reclamam por cultos mais “avivados”, demandas de
manifestações miraculosas e do “Espírito Santo”, onde na verdade, só revelam
STBNB – Psicologia Pastoral – Prof Marcos A M Bittencourt
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A Bíblia diz que o salário do pecado é a morte (Rm.6:23), o que nos leva a crer que se
os nossos primeiros pais não tivessem pecado não haveria a morte e, por isso, também não
existiriam as enfermidades tanto de ordem física quanto de ordem psíquica. É nesse sentido
que podemos compreender o sofrimento que opera nas enfermidades físicas e psíquicas, posto
que o fim de toda ação satânica é a destruição, o aniquilamento da pessoa. O que quero dizer
aqui é que as enfermidades devem ser compreendidas dentro do campo do humano mas, ao
mesmo tempo, Satanás delas se serve para aniquilar, destruir a pessoa. E isso não quer dizer
que ele opera sempre “dentro” da pessoa (a possessão demoníaca), mas na “borda” ou “ao
redor” (I Pd.5:8). Certa vez estive pregando em uma igreja, quando em determinado momento
do louvor uma jovem senhora se manifestou com sintomas bem parecidos com caso de
possessão demoníaca. Os líderes da igreja foram pra cima dela para expulsar o demônio e não
conseguiam êxito. Pedi que me dessem um tempo com ela e a levei a um lugar afastado sem o
barulho dos gritos e do louvor. Eu estava tirando qualquer fator que pudesse sugerir àquela
jovem senhora motivação para agitação psicomotora pela via da histeria. Pude conversar com
ela ouvindo sobre sua vida triste, largada pelo ex-companheiro, sozinha no mundo com filhos
enfrentando enfermidades sem condições financeiras para deles cuidar. Ela tinha entrado
naquele templo como se quisesse pedir socorro e toda aquela pressão dentro de si, todo
aquele sofrimento explodiu numa crise histérica facilitada pelas orações fervorosas, gritos de
Aleluia e cânticos de louvor. Entendi que o diabo não estava “dentro” dela, mas na “borda” de
sua existência, querendo destruí-la junto com seus filhos. Além de falar de Jesus para ela,
pude escutá-la pois é pela mediação da palavra que o sintoma se vai. Não sei dizer se ela ficou
na igreja, nem o que foi feito dela
Alguns dos milagres de Jesus foram operados em pessoas com sintomas típicos de
doenças atualmente conhecidas como é o caso da esquizofrenia (o endemoniado gadareno em
Lc.8:26-34 e sua versão correlata em Mc.5) e a epilepsia (o menino endemoniado em Mc.9:14-
29). O texto bíblico considera esses dois casos como possessão demoníaca. Como poder
discernir se estavam mesmo endemoniados ou se a Bíblia está interpretando espiritualmente
aquilo que está mais no campo científico, ou seja, da Medicina? Proponho aqui separar um dos
casos, o do endemoniado gadareno em Lucas 8:26-34 para estabelecermos as distinções.
Usarei a explanação de Friesen (2000, pp.244-248), organizando seu texto através da tabela
comparativa abaixo:
SINTOMAS DE DOENÇA MENTAL SINTOMAS DE POSSESSÃO DEMONIACA
“Um homem que há muito não se vestia” (v27) – Pessoas
com sensação de angústia intensa experimentam roupas
como sufocantes.
“Nem habitava em casa alguma, porém vivia nos
sepulcros” (v.27). Isolamento social. Mais um fenômeno de
elevada angústia, sensação de contenção e trancamento.
“Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altíssimo? “Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altíssimo?
Conjuro-te por Deus que não me atormentes” (v.28 ; Conjuro-te por Deus que não me atormentes” (v.28 ;
outra versão em Mc.5:6-7). Medo e angústia e, ao mesmo outra versão em Mc.5:6-7). O doente mental rompe seu
tempo, desejo de ser ajudado. contato com o mundo real quando está em surto. Aqui temos
um contato direto no qual Jesus é identificado, principalmente
em termos espirituais (teológicos, inclusive). O gadareno vivia
nos sepulcros, afastado do mundo, sem informações sobre
Jesus. Um doente mental deveria resistir apenas à pessoa de
Jesus, mas um endemoniado resiste à pessoa espiritual de
Jesus.
“Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os
sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras”
(Mc.5:4). Agitação psicomotora, movimentos repetitivos sem
coordenação, autoflagelo, aliviar a dor da alma através de
uma dor que seja maior no corpo.
“Embora procurassem conserva-lo preso com cadeias e “Embora procurassem conserva-lo preso com cadeias e
grilhões, tudo despedaçava” (v.29). Nem todo caso de grilhões, tudo despedaçava” (v.29). Embora um doente
psicose implica em violência mas existem casos de extrema mental adquira uma força maior no surto ela não é suficiente
agressividade e força. para quebrar grilhões.
“Perguntou-lhe Jesus: qual é o teu nome: Respondeu
ele: Legião” (v.30). Nos quadros da Esquizofrenia existe um
tipo paranoide, no qual a pessoa tem a mania de grandeza e
pode assumir identidade de grandes personagens históricos,
sentindo-se perseguido por outras pessoas, por entidades
extraterrestres, possuídos por entidades espirituais e até por
elementos físicos (ex: uma cobra viva no estômago).
“Rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles
porcos. E Jesus permitiu” (v.32). Não existe relato de que a
psicose de alguém seja transferida para outros seres, como
nesse caso.
“E saíram a ver o que tinha acontecido, e vieram ter com
Jesus. Acharam então o homem, de quem haviam saído
os demônios, vestido, e em seu juízo, assentado aos pés
de Jesus; e temeram” (v.35). Um doente mental não se cura
de forma imediata. Aliás, do ponto de vista científico, não
existe cura para a psicose. Existe controle através de
medicamentos.
Friesen lembra que : “no Brasil é culturalmente frequente que, quando uma pessoa apresenta alterações de comportamento
decorrentes da doença mental, seus familiares a levem para práticas de exorcismo, para mesas brancas de espiritismo e
outros rituais, mesmo de filosofia cristã e evangélica” (2000, p.248). Isso poderia indicar que casos de psicose também podem
ser, ao mesmo tempo, casos de possessão demoníaca, posto que o doente é exposto às influências espirituais de tais
práticas.
Millard J. Sall (citado por FRIESEN, 2000, p.252) dá algumas dicas para identificação de
quadros de possessão demoníaca posto que é muito comum pastores e crentes em geral
confundirem a possessão demoníaca com sintomas da Esquizofrenia. Para Sall, deve-se
observar o seguinte:
ALMEIDA, Agnaldo. Psicologia pastoral: uma necessidade para os nossos dias? Site
Independencia com Cristo. São Paulo, 2007. Disponível em
<https://independenciacomcristo.com/2007/06/12/psicologia-pastoral-uma-necessidade-para-
nossos-dias/> Acesso em 18 jan 2017
BOCK, Ana Mercês Bahia (et al). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São
Paulo: Saraiva, 2002. 368 pp.
CUNHA, Gladston Pereira da. Aconselhamento Cristão: um desafio para igrejas, pastores
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<http://www.ipb.org.br/portal/artigos-e-estudos/151-aconselhamento-cristao-um-desafio-para-
igrejas-pastores-e-lideres> Acesso em 06 de agosto 2012.
DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2008. 798
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HOCH, L; NOÉ, S.V. Comunidade terapêutica: cuidando do ser através de relações de ajuda.
São Leopoldo: Sinodal, 2003.
KUBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 2008.296p.
NOBRE DE MELO, Augusto Luiz. Psiquiatria. v.1 e v.2. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
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OLIVEIRA, João Domingos Soares. Psicologia das funções eclesiásticas. Joinville: Clube
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______. O ministro evangélico, sua identidade e integridade. Rio de Janeiro: Juerp, 2003
ROSAS, Ivo. Temas de Psicopatologia. Recife: Ed. Nossa Livraria, 2014. 498p.
______. Aconselhamento pastoral. In: Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE,
2008. pp 10-12
SCHIPANI, Daniel. O caminho da sabedoria no aconselhamento pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 2003. 122p
SILVA, Carlos Alberto Alves e Silva. Diferença entre coaching, mentoring, counseling,
consultoria e terapia. Alfa Centauri Desenvolvimento Pessoal e Profissional. São Paulo.
Disponível em <http://www.alfacentauricoaching.com.br/2014/coaching/diferenca-coaching-
mentoring-counseling-consultoria-terapia/> acesso em 21 jan 2017.
SOUSA, Fernando Ferreira de. Aconselhamento bíblico: definição e importância para a igreja
local. Disponível em <http://ethnic.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=42>
acesso em 30 jul 2012.
SOUZA, José Carlos et al (org). Psicopatologia e psiquiatria básicas. São Paulo: Vetor,
2004. 332p.