Você está na página 1de 1

 

 
 
   
 
MINISTÉRIO  DA  EDUCAÇÃO  
INSTITUTO  FEDERAL  
PARANÁ   SECRETARIA  DA  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  E  TECNOLÓGICA  
Campus  Palmas  
INSTITUTO  FEDERAL  DO  PARANÁ  
 

PSICOLINGUÍSTICA - AULA SEMANA 11 – PROF. DR. JACOB BIZIAK

Exercício de aplicação de teoria – “Freud e a linguagem”, de Ivanaldo Oliveira Santos e “O inconsciente


como linguagem: de Freud a Lacan”, de Julio Cesar Lemes de Castro

I.   Exemplo para trabalho em sala (trecho do conto “Logo”, de Alice Munro):


JULIET SONHOU QUE TINHA VOLTADO A SER CRIANÇA NAQUELA MESMA CASA, EMBRA A
DISTRIBUIÇÃO DOS APOSENTOS FOSSE UM TANTO DIFERENTE. OLHOU PELA JANELA DE UM DOS QUARTOS
QUE NÃO CONHECIA E VIU UM ARCO DE ÁGUA CINTILANDO AO SOL. A ÁGUA VINHA DA MANGUEIRA. SEU PAI,
DE COSTAS PARA ELA, REGAVA A HORTA. UMA FIGURA ENTRAVA E SAÍA DOS CANTEIROS DE FRAMBOESA E,
AO CABO DE ALGUM TEMPO, REVELOU-SE QUE ERA IRENE – SÓ QUE UMA IRENE UM POUCO MAIS INFANTIL,
ÁGIL E ALEGRE. ELA SE ESQUIVAVA DA ÁGUA QUE JORRAVA DA MANGUEIRA. ESCONDIA-SE, REAPARECIA,
QUASE SEMPRE CONSEGUIA ESCAPAR MAS SEMPRE TORNAVA A SER ATINGIDA POR UM INSTANTE ANTES
DE FUGIR. A BRINCADEIRA DEVERIA SER LEVA, MAS JULIET, POR TRÁS DA JANELA, A ASSISTIA COM
REPULSA. SEU PAI FICAVA SEMPRE DE COSTAS PARA ELA, MAS AINDA ASSIM ELA ACHAVA - DE ALGUMA
FORMA ELA ‘VIA’ – QUE ELE SEGURAVA A MANGUEIRA NUMA POSIÇÃO BEM BAIXA, À FRENTE DO CORPO, E
QUE ERA APENAS O BICO METÁLICO QUE ELE VIRAVA DE UMA LADO PARA OUTRO.
O SONHO ERA TOMADO DE UM HORROR PEGAJOSO. NÃO O TIPO DE HORROR QUE PROJETA SUAS
FORMAS PARA FORA DA PELE DA PESSOA, MAS O TIPO QUE SE INFILTRA PELAS PASSAGENS MAIS
ESTREITAS DO SANGUE NO CORPO.
QUANDO ELA ACORDOU, ESSA SENSAÇÃO PERSISTIA. SENTIU VERGONHA DAQUELE SONHO.
ÓBVIO, BANAL. UMA INDULGÊNCIA INDECENTE CONSIGO MESMA.

II.   Exemplo para trabalho de análise em duplas (entrevista de Vinícius de Moraes a Clarice Lispector):
– Vinícius, acho que vamos conversar sobre mulheres, poesia e música. Sobre mulheres porque corre a fama de que
você é um grande amante. Sobre poesia porque você é um, dos nossos grandes poetas. Sobre música porque você é
o nosso menestrel. Vinicius, você amou realmente alguém na vida? Telefonei para uma das mulheres com quem você
casou, e ela me disse que você ama tudo, a tudo você se dá inteiro: a criança, a mulheres, a amizades. Então me veio
a ideia de que você ama o amor, e nele inclui as mulheres.
– Que eu amo o amor é verdade. Mas por esse amor eu compreendo a soma de todos os amores, ou seja, o amor de
homem para mulher, de mulher para homem, o amor de mulher por mulher, o amor de homem para homem, o amor
de ser humano pela a comunidade de seus semelhantes. Eu amo esse amor mas isso não quer dizer que eu
não tenha amado as mulheres que tive. Tenho a impressão que, àquelas que amei realmente, me dei tudo.
– Acredito, Vinícius. Acredito mesmo. Embora eu também acredite que quando um homem e uma mulher se
encontram num amor verdadeiro, a união é sempre renovada, pouco importam as brigas e os desentendimentos: duas
pessoas nunca são permanentemente iguais e isso pode criar no mesmo par novos amores.
– É claro, mas eu ainda acho que o amor que constrói para a eternidade é o amor paixão, o mais precário, o mais
doloroso, certamente o mais doloroso. Esse amor é o único que tem a dimensão do infinito.
– Você já amou desse modo?
– Eu só tenho amado desse modo.
– Você acaba um caso porque encontra outra mulher ou porque cansa da primeira?
– Na minha vida tem sido como se uma mulher me depositasse nos braços de outra. Isso talvez porque esse amor
paixão pela sua própria intensidade não tem condições de sobreviver. Isso acho que está expresso como felicidade
no dístico final do meu soneto “ Felicidade”: “que não seja imoral posto que é chama / mas que seja infinito enquanto
dure”.
(...)
– Fale-me sobre sua música.
– Não falo de mim como músico, mas como poeta. Não separo a poesia que está nos livros da que está nas canções.
– Vinicius, você já se sentiu sozinho na vida? Já sentiu alguém desamparo?
– Acho que sou um homem bastante sozinho. Ou pelo menos eu tenho um sentimento muito agudo de solidão.
– Isso explicaria o fato de você amar tanto, Vinicius.
– O fato de querer me comunicar tanto.
Fonte: Livro Entrevistas de Clarice Lispector, Editora Rocco Ltda., 2007.

PRT 280 – Trevo CODAPAR S/N – Palmas – PR – CEP 85555-000.


Fone/Fax: (46) 3263-8150 Homepage: http://www.ifpr.edu.br

Você também pode gostar