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Notas Eletromagnetismo – Parte II

R. Bufalo ∗
Departamento de Fı́sica, Universidade Federal de Lavras,
Caixa Postal 3037, 37200-000 Lavras, MG, Brazil

8 de julho de 2019

Resumo

Nesta nota de aula encontra-se um resumo dos tópicos discutidos na aula do curso de
Fı́sica C, referente à segunda avaliação.


E-mail: rodrigo.bufalo@dfi.ufla.br

1
Sumário

I Potencial elétrico 4

1 Potencial elétrico 4
1.1 Energia potencial eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Superfı́cies equipotenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Cálculo do campo elétrico a partir do potencial . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 Potencial devido a cargas puntiformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.5 Cálculo do potencial para distribuições contı́nuas de carga . . . . . . . . 18
1.5.1 Potencial no eixo de um anel carregado . . . . . . . . . . . . . . 18
1.5.2 Potencial de uma linha de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5.3 Potencial e campo elétrico de um disco carregado . . . . . . . . . 20
1.5.4 Potencial devido a um plano infinito de cargas . . . . . . . . . . . 22
1.5.5 Potencial de uma casca esférica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.5.6 Potencial de uma esfera carregada uniformemente . . . . . . . . 25
1.5.7 Potencial de uma casca esférica oca . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.6 Energia potencial eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.6.1 Ruptura dielétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

II Capacitância 33

2 Capacitores 34
2.1 Capacitância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.1.1 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.1.2 Capacitor de placas paralelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.1.3 Capacitores cilı́ndricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.2 Armazenamento de energia elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.2.1 Energia do campo eletrostático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3 Capacitores, bateria e circuitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3.1 Associação de capacitores em paralelo . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.3.2 Associação de capacitores em série . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4 Dielétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

2
2.5 Visão molecular de um dielétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

III Corrente elétrica e circuitos 62

3 Corrente elétrica e circuitos de corrente contı́nua 62


3.1 Corrente e o movimento de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.2 Densidade de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3.3 Resistência e lei de Ohm . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.4 Energia e potência em circuitos elétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.5 Trabalho, energia e Fem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.6 Combinação de resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
3.6.1 Resistores em série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.6.2 Resistores em paralelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.7 Leis de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.7.1 Circuitos de malhas simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.7.2 Circuitos de múltiplas malhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
3.8 Circuitos RC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
3.8.1 Carregando um capacitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
3.8.2 Descarregando um capacitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3.8.3 Conservação de energia durante a carga de um capacitor . . . . . 107

3
Parte I

Potencial elétrico
1 Potencial elétrico
Neste capı́tulo estabeleceremos a relação entre o campo elétrico e o potencial elétrico,
e calcularemos o potencial elétrico para algumas distribuições contı́nuas de carga.

• Como o potencial elétrico é um campo escalar, em muitas circunstâncias é mais


fácil calculá-lo do que o campo elétrico (um vetor). Ademais, representa um pode-
roso auxı́lio conceitual e computacional.

Os conceitos de energia potencial elétrica e potencial elétrico serão ferramentas essenciais


na análise de circuitos elétricos (capacitância e resistência), que será desenvolvido nos
capı́tulos a seguir.

1.1 Energia potencial eletrostática


Podemos introduzir o conceito de energia potencial eletrostática da mesma forma que
discutimos a energia potencial gravitacional, ao movimentarmos uma partı́cula massiva
sob efeito de um campo gravitacional externo.
Da mesma forma, podemos definir a diferença de energia potencial elétrica de uma
carga teste q0 quando ela se move de um ponto inicial i para um ponto final f num campo
elétrico

• Desloquemos uma carga teste de um ponto para outro num campo elétrico. A
diferença de energia potencial elétrica da carga teste entre esses pontos é o negativo
do trabalho realizado pela força eletrostática, através do campo elétrico, sobre esta
carga, durante seu movimento

∆U = U f −Ui = −Wi f (1.1)

Como a força eletrostática realiza trabalho sobre a carga, por meio do campo elétrico,
costuma-se dizer que o campo realiza trabalho sobre a carga.

4
A diferença de energia potencial elétrica da carga teste entre dois pontos é indepen-
dente da trajetória seguida entre esses pontos. Isto é, a força eletrostática, assim como a
gravitacional, é uma força conservativa.
Definiremos o potencial elétrico de tal forma que ele dependa apenas da carga fonte,
e não da carga teste q0 ; sendo assim uma caracterı́stica exclusiva do campo elétrico em
estudo.
De fato, define-se o potencial elétrico como a energia potencial por unidade de carga.
Disto segue a definição de que a diferença de potencial entre dois pontos quaisquer (num
campo elétrico) é
∆U Wi f
∆V = V f −Vi = =− (1.2)
q0 q0
Agora, a partir do conhecimento do vetor campo elétrico em todos os pontos ao longo da
trajetória ligando os pontos, podemos calcular a diferença de potencial entre dois pontos
quaisquer num campo elétrico.
Para isto, determinamos primeiramente o diferencial de trabalho realizado pelo campo

5
sobre uma carga teste, quando ela sofre um deslocamento d~`:

dW = ~F.d~` = q0~E.d~` (1.3)

disto segue que a diferença de potencial pode ser escrita como

dU dW
dV = =− = −~E.d~` (1.4)
q0 q0

e para um deslocamento finito entre dois pontos, a diferença de potencial é


Z f
Wi f
V f −Vi = − =− ~E.d~` (1.5)
q0 i

A função V é denominada potencial elétrico; ademais, ele é frequentemente referido


como o potencial.

• Assim como o campo elétrico, o potencial V é uma função da posição.

• Diferentemente do campo elétrico, V é uma função escalar, enquanto ~E é uma


função vetorial.

6
• Assim como a energia potencial U, apenas diferenças no potencial V têm signifi-
cado fı́sico.

Somos livres para escolher o potencial como zero em qualquer ponto conveniente; es-
colhemos então o potencial elétrico e a energia potencial de uma carga teste como zero
num ponto arbitrariamente distante (ra → ∞), assim Va = Ua = 0. Sob esta condição,
escrevemos
U W∞ f
V= =− (1.6)
q0 q0
Como o potencial elétrico é a energia potencial por unidade de carga, a unidade para o
potencial e para a diferença de potencial no SI é o joule por coulomb, denominada volt

1V = 1J/C (1.7)

A diferença de potencial entre dois pontos é comumente chamada de voltagem entre os


dois pontos.
Das equações acima, vemos que as dimensões do potencial também são aquelas para
o produto do campo elétrico pela distância. Portanto, a unidade do campo elétrico é igual
a um volt por metro
1N/C = 1J/m (1.8)
Na fı́sica atômica e nuclear, frequentemente temos partı́culas que têm cargas de magni-
tude e, tais como elétrons e prótons, movendo-se através de ddps de vários milhares ou
milhões de volts. Como energia tem dimensões de carga elétrica multiplicada por poten-
cial elétrico, uma unidade de energia é definida como o produto da unidade fundamental
de carga e e um volt. Esta unidade particularmente útil é denominada elétron-volt (eV).
Esta unidade é uma unidade conveniente para processos atômicos e moleculares

1eV = 1, 60 × 10−19C.V = 1, 60 × 10−19 J

7
1.2 Superfı́cies equipotenciais
O local geométrico em que pontos possuem o mesmo potencial tem um nome especial,
e é chamado de superfı́cie equipotencial.

De maneira similar às linhas de campo, pode-se utilizar superfı́cies equipotenciais


para representar o campo elétrico numa certa região.
Ademais, o campo elétrico não realiza nenhum trabalho sobre uma carga quando ela
se move entre dois pontos sobre uma mesma superfı́cie equipotencial, como se conclui a
W
partir de V f −Vi = − qi0f .
Por simetria, as superfı́cies equipotenciais para uma carga puntiforme ou uma distribuição
de carga esfericamente simétrica constituem uma famı́lia de esferas concêntricas.
A partir do exemplo anterior, vimos que para trajetórias perpendiculares às linhas
de campo elétrico o potencial é zero (trajetória ic), i.e. o trabalho realizado é nulo. E
este é um resultado geral, pois superfı́cies equipotenciais são sempre perpendiculares às
linhas de campo elétrico. Assim, se o campo não fosse perpendicular a uma superfı́cie
equipotencial (trajetória c f ), ele realizaria trabalho sobre a carga e assim esta não seria de
fato uma superfı́cie equipotencial.
Desta forma, para assegurarmos um valor constante para o potencial e assim defi-
nir uma superı́cie equipotencial, é necessário que o campo elétrico seja perpendicular à
superfı́cie.

8
Exemplo: Vamos calcular a diferença de potencial de uma partı́cula teste positiva em
movimento num campo elétrico uniforme entre dois pontos i e f que estão separados por
uma distância d.

9
a) Se o deslocamento da carga é paralela à direção do campo temos que o desloca-
mento diferencial d~` aponta no mesmo sentido do campo elétrico ~E, logo
Z f Z f Z f
V f −Vi = − ~E.d~` = − E (cos 0) d` = − Ed` (1.9)
i i i

ademais, como o campo é uniforme, E é constante em todos os pontos da trajetória, assim


Z f
V f −Vi = −E d` = −Ed (1.10)
i

Este sinal negativo mostra que o potencial no ponto f é menor que o potencial no ponto i.
E isto é um resultado geral: o potencial sempre decresce ao longo de uma trajetória que
se estende na direção em que apontam as linhas do campo.
b) Consideremos agora a carga segue a trajetória ic f como mostra a figura. Qual é a
ddp experimentada pela carga?
Veja que em todos os pontos da linha ic o deslocamento diferencial d~` é perpendicular
ao campo elétrico ~E, enquanto na trajetória c f temos que eles fazem um ângulo de 45o ,
desta forma
Z f Z c Z f
V f −Vi = − ~E.d~` = − ~E.d~` − ~E.d~` (1.11)
i i c
Z f Z f
o
=− E (cos 90 ) d` − E (cos 45o ) d` (1.12)
i i
Z f
E E
= −√ d` = − √ d 0 (1.13)
2 i 2

todavia
d 0 d √
sin 45o = → d = = 2d
d0 sin 45o
assim
E
V f −Vi = − √ d 0 = −Ed (1.14)
2

Trata-se do mesmo resultado obtido no item a), como deve ser, pois como discutimos
anteriormente a diferença de potencial entre dois pontos não depende da trajetória que os
une. (força conservativa).

10
1.3 Cálculo do campo elétrico a partir do potencial
Se colocarmos uma carga positiva q0 em um campo elétrico ~E e a soltarmos, ela será
acelerada na direção e sentido deste campo. Como a energia cinética da carga aumenta,
sua energia potencial diminui. A carga, portanto, é acelerada em direção à região onde
sua energia potencial elétrica é menor.
Ademais, a energia potencial U é relacionada ao potencial elétrico V por U = q0V ,
assim para uma carga teste positiva, a região onde a carga tem menor energia potencial é
também a região de menor potencial elétrico.
Resumindo, O campo elétrico ~E aponta na direção e sentido no qual o potencial V
diminui mais rapidamente.

Até agora usamos o conhecimento sobre o campo elétrico para calcular o potencial
elétrico
dV = −~E.d~` (1.15)

Todavia, a situação pode ser vista de um ponto de vista oposto, e usarmos o conhecimento
da função potencial para calcular o campo elétrico.
Por simplicidade podemos considerar inicialmente o caso unidimensional em que o
potencial depende apenas de x; temos assim que

d~` = dxî (1.16)

e encontramos  
dV = −~E.d~` = − ~E.î dx = −Ex dx

então
dV (x)
Ex = − (1.17)
dx

11
Podemos agora considerar um caso geral em que o deslocamento pode ser escrito como

d~` = dxî + dy jˆ + dzk̂ (1.18)

e calcular o campo elétrico resultante. Todavia, a partir da discussão anterior, podemos


usar o fato de que um vetor que aponta na direção e sentido da variação máxima de uma
função escalar e que tem módulo igual à derivada desta função com relação à distância
naquela direção é denominado o gradiente da função.
Portanto, vemos que o campo elétrico é o negativo do gradiente do potencial V

~E = −~∇V (1.19)

ou em componentes cartesianas
 
~E = −~∇V = − ∂V î + ∂V jˆ + ∂V k̂ (1.20)
∂x ∂y ∂z

Isto é, a direção e o sentido do campo elétrico são os mesmos que a direção e o sentido da
máxima taxa de decréscimo da função potencial com relação à distância.
De maneira geral, podemos mostrar o resultado acima como

dV = −~E.d~` = − (E cos θ ) d` = −E` d`

sendo que E` = E cos θ é a componente do campo ~E ao longo do deslocamento d~`, temos


assim
∂V
E` = − (1.21)
∂`
Um caso de particular interesse é para uma distribuição esfericamente simétrica de carga
centrada na origem, um potencial pode então ser uma função apenas da coordenada radial
r. Neste caso um deslocamento na direção radial é escrito como d~` = drr̂. Lembre que
deslocamentos perpendiculares à direção radial não provocam variação em V (r). Por-
tanto, temos que  
dV = −~E.d~` = − ~E.r̂ dr = −Er dr

12
então
dV (r)
Er = − (1.22)
dr

1.4 Potencial devido a cargas puntiformes


O potencial elétrico em um ponto P a uma distância r de uma carga puntiforme q
localizada na origem pode ser calculado a partir de
Z P
VP −Vre f = − ~E.d~` (1.23)
re f

Como discutimos anteriormente, escolhemos o ponto de referência tal que o potencial


seja nulo, i.e. Vre f = 0. Ademais, o campo elétrico devido à carga puntiforme é ~E = kq
r2
r̂,
assim Z P Z P Z P
~ ~ kq  ~ kq
VP − 0 = − E.d ` = − 2
r̂.d ` = − 2
dr (1.24)
re f re f r re f r

sendo que dr = r̂.d~` é a varição na distância r associada ao deslocamento d~` na direção r̂.
Temos então Z P  
1 1 1
VP = −kq 2
dr = kq − (1.25)
re f r r p rre f
Este é o potencial devido a uma carga puntiforme. Novamente, como temos a liberdade
de escolher a locação do ponto de referência, podemos escolhê-lo de tal forma a termos
uma forma algébrica mais simples para o potencial; e isto é condizente com o fato do
potencial também ser nulo, e um ponto que satisfaz estas condições é rre f → ∞. Portanto,
denotamos por potencial de Coulomb a seguinte expressão

kq
V= (1.26)
r

a carga nesta expressão pode ser positiva ou negativa, i.e. q = Q ou q = −Q.


Podemos ainda escrever a expressão para a energia potencial de uma carga puntiforme
q0 localizada a uma distância r da carga q como

kqq0
U = q0V = (1.27)
r

13
Exemplo: Energia potencial de um átomo de hidrogênio a) Qual é o potencial elétrico
a uma distância r0 = 0, 529 × 10−10 m de um próton? b) Qual é a energia potencial elétrica
de um elétron e de um próton a esta separação?
Calculamos o potencial devido à carga no próton como

8, 99 × 109 Nm2 /C2 1, 6 × 10−19C


 
kq ke
V= = = (1.28)
r r0 0, 529 × 10−10 m
(8, 99) (1, 6)
= Nm/C = 27, 2Nm/C = 27, 2V (1.29)
0, 529

enquanto a energia potencial segue para q0 = −e, assim

U = q0V = (−e) (27, 2V ) = −27, 2eV

Veja a discussão no livro sobre energia de ionização (energia necessária para remover um
elétron de um átomo)!! Tipler páginas 76 e 77.
Por fim, podemos determinar o potencial lı́quido criado por um grupo de cargas pun-
tiformes num ponto qualquer com o auxı́lio do princı́pio da superposição. Encontramos
então para n cargas temos que o potencial lı́quido num ponto P qualquer devido a essas
cargas é
n n
kqi
V = ∑ Vi = ∑ (1.30)
i=1 i=1 ri

aqui qi é o valor da i-ésima carga e ri é a distância radial desta carga ao ponto em questão.
Veja que a soma acima é algébrica e não vetorial como no caso do cálculo do campo
elétrico. Esta é uma vantagem importante, do ponto de vista de cálculos a favor do po-
tencial: é muito mais simples somar várias grandezas escalares do que várias grandezas
vetoriais, cujas direções e sentidos devem ser considerados.

Exemplo 1: Duas cargas puntiformes de +5, 0nC estão no eixo x, uma na origem e a
outra em x = 8, 0cm. Determine o potencial a) no ponto P1 = (4, 0cm, 0) e b) no ponto
P2 = (0, 6, 0cm).
a) Calculamos o potencial resultante no ponto P1 = (4, 0cm, 0) através de

2
kq1 kq2
V = ∑ Vi = + (1.31)
i=1 r1 r2

14
neste primeiro caso

r1 = r2 = 0, 04m = r (1.32)
q1 = q2 = +5, 0nC = q

portanto

8, 99 × 109 Nm2 /C2 5, 0 × 10−9C


 
kq kq kq
V = + =2 =2 = 2247V = 2, 2kV (1.33)
r r r 0, 04m

Observe que neste ponto o campo elétrico resultante é zero (no ponto médio entre as
cargas), todavia o potencial não é.
b) Já no ponto P2 = (0, 6, 0cm), temos que
p
r2 = 82 + 62 cm = 10cm (1.34)

15
então
kq kq
V= +
r1 r2
8, 99 × 109 Nm2 /C2 5, 0 × 10−9C 8, 99 × 109 Nm2 /C2 5, 0 × 10−9C
   
= +
0, 06m 0, 10m
= 749V + 450V = 1, 2kV (1.35)

Exemplo 2: Um dipolo elétrico consiste de uma carga puntiforme positiva +q no eixo x


em x = +`/2 e uma carga netativa −q também no eixo x no ponto x = −`/2. Determine
o potencial no eixo x num ponto P = x > `/2 em termos do momento de dipolo ~p = q`î.
A configuração do sistema é

O potencial resultante no ponto P = x é

2
kq1 kq2
V = ∑ Vi = + (1.36)
i=1 r1 r2

sendo que

r1 = x − `/2, r2 = x + `/2 (1.37)


q1 = −q2 = q

portanto
   
kq kq 1 1 ` kp
V = − = kq − = kq 2 2
= 2 (1.38)
r1 r2 x − `/2 x + `/2 x − ` /4 x − `2 /4

16
Por fim, para pontos distantes, tal que x  `/2, encontramos

kp kp kp
V= = ≈ (1.39)
x2 − `2 /4 x2 1 − `2 x2
 
4x 2

Um dipolo tem uma carga total nula e portanto esperamos que a grandes distâncias, o
potencial deve decrescer com o aumento da distância ao dipolo mais rapidamente que
para uma configuração de cargas em a carga lı́quida é não-nula, e isto de fato é verdade
pois aqui temos um decréscimo de 1/x2 , enquanto para uma configuração com carga
lı́quida não-nula temos 1/x que decresce mais lentamente.

17
1.5 Cálculo do potencial para distribuições contı́nuas de carga
Quando uma distribuição de carga é contı́nua (por exemplo, uma barra ou disco car-
regado), escolhemos um elemento de carga dq, a fim de determinar o potencial dV em P.
Então, ao invés de termos uma somatória, temos então uma integral

n ∞
kdqi kdqi kdq
Z
dV = ∑ → V = lim ∑ = (1.40)
i=1 ri dq→0 i=1 ri r

Esta resultado considera que V = 0 a uma distância infinita das cargas. Por isso, podemos
usar a fórmula acima apenas para distribuições de carga finitas, e não sendo válida por
exemplo para uma linhas infinita de cargas ou um plano infinito de cargas.

1.5.1 Potencial no eixo de um anel carregado

Consideremos um anel uniformemente carregado de raio a e carga Q no plano z = 0 e


centrado na origem.

Qual é o potencial elétrico num ponto no eixo do anel P = z > 0? Temos

kdq
Z
V=
r

18

a distância de um elemento de carga dq ao ponto P é r = a2 + z2 (constante), assim

kdq k kQ kQ
Z Z
V= = dq = =√ (1.41)
r r r a2 + z2

Observe que, quando |z|  a, o potencial tende a mesma expressão que o potencial devido
a uma carga puntiforme Q na origem.
Calcule Ez = − dV
dz e compare.

1.5.2 Potencial de uma linha de carga

Consideremos uma barra fina de plástico de comprimento ` e com uma densidade li-
near de carga uniforme λ . Qual é o potencial elétrico num ponto P = a > 0 (perpendicular
à barra, e encontra-se à esquerda da barra)?

Temos que o elemento de carga é dq = λ dx, enquanto a distância deste elemento de



carga até o ponto P é r = a2 + x2 . Logo, escrevemos o potencial dV como

kdq kλ
dV = =√ dx (1.42)
r a2 + x2

19
obtemos o potencial ao integrarmos
Z ` Z `
kλ dx
V= √ dx = kλ √ (1.43)
0 a2 + x 2 0 a2 + x2

podemos usar o resultado da integral

dx
Z  p 
√ 2
= ln x + a + x 2
a2 + x2

e obter

√ 
" √ #
  p  2
`+ a +`2
V = kλ ln ` + a2 + `2 − ln a2 = kλ ln (1.44)
a

1.5.3 Potencial e campo elétrico de um disco carregado

Vamos agora determinar o potencial no eixo de um disco de raio a que contém uma
carga total Q distribuı́da uniformemente em sua superfı́cie.

Consideremos que o eixo do disco é o eixo x e como anteriormente trataremos o disco


como um conjunto de anéis carregados.
O anel de raio r e espessura dr tem uma área infinitesimal 2πrdr. Desta forma temos
que o elemento de carga é dq = σ dA = σ (2πr) dr em que σ = Q/πa2 é a densidade
superficial de carga.

20
O potencial no ponto P = x > 0 dvido à carga deste anel é dado por

kdq kσ (2πr)
dV = =√ dr (1.45)
r0 r 2 + x2

agora, integrando a expressão acima, temos


Z a Z a Z a2 +x2
kσ (2πr) 2rdr du
Z
V= dV = √ dr = πkσ √ = πkσ √
0 r 2 + x2 0 r 2 + x2 x2 u

em que fizemos a mudança de variáveis u = r2 + x2 , assim

1
! !
√ 
r
u 2
a2 +x2
p a2
V = πkσ 1 x2
= 2πkσ a + x − x2 = 2πkσ |x|
2 2 1+ −1 (1.46)
2
x2

Observe que, quando |x|  a, o potencial tende a mesma expressão que o potencial devido
a uma carga puntiforme Q na origem.
Podemos ainda calcular o campo elétrico através da diferenciação direta através de
Ex = −dV /dx, e as outras componentes são nulas devido a simetria da distribuição de
carga Ey = Ez = 0. Assim
 p 
dV d  p  d d |x|
Ex = − =− 2πkσ a2 + x2 − |x| = −2πkσ a2 + x2 −
dx dx dx dx
 
1
= −2πkσ √ 2x − sign (x)
2 a2 + x2 
1
= 2πkσ sign (x) 1 − q (1.47)
 

a2
1 + x2

onde usarmos sign (x) = x/ |x|. Este resultado reproduz exatamente a expressão calculada
anteriormente para Ex .

21
1.5.4 Potencial devido a um plano infinito de cargas

A priori se considerarmos a muito grande, nosso disco uniforme carregado se apro-


ximará de um plano infinito. Todavia, não podemos utilizar a expressão calculada acima
para o disco, pois uma das condições utilizadas no cálculo foi de que V = 0 no infinito, e
dessa forma terı́amos uma contradição.
Para distribuições de carga com dimensões infinitas, não podemos escolher V = 0 em
um ponto a uma distância infinita das cargas. Em vez disso, primeiro determinamos o
campo elétrico ~E, e então calculamos o potencial V a partir de dV = −~E.d~`.
No caso particular de um plano infinito de car uniforme com densidade σ no plano
x = 0, o campo elétrico na região x > 0 é

~E = σ î = 2πkσ î (1.48)
2ε0

Para um deslocamento arbitrário d~` = dxî + dy jˆ + dzk̂, temos então que

dV = −~E.d~` = − 2πkσ î . dxî + dy jˆ + dzk̂ = −2πkσ dx


 

integrando ambos lados, temos

V = −2πkσ x +V0 (1.49)

Por outro lado, o campo elétrico na região x < 0 é ~E = −2πkσ î, temos assim

V = 2πkσ x +V0 = −2πkσ |x| +V0 (1.50)

Portanto, para valores positivos e negativos de x, o potencial pode ser escrito como

V = −2πkσ |x| +V0 (1.51)

i.e. V = V0 quando x = 0.

22
1.5.5 Potencial de uma casca esférica

Vamos determinar o potencial devido a uma fina casca esférica que tem raio R e carga
Q uniformemente distribuı́da na sua superfı́cie.
Como o campo elétrico para esta distribuição de carga é facilmente obtido pela lei de
Gauss, 
 kQ , r ≥ R
2
E= r (1.52)
0, r≤R

vamos calcular o potencial a partir do campo elétrico conhecido a partir de dV = −~E.d~`.


Do lado de fora da casca esférica, o campo elétrico é o mesmo que se carga a Q fosse
puntiforme e estivesse na origem
~E = kQ r̂ (1.53)
r2
assim  
kQ ~` = − kQ dr
dV = −~E.d~` = − r̂ .d (1.54)
r2 r2
em que dr = r̂.d~` é a componente de d~` na direção radial. Da mesma forma que fizemos
no cálculo do potencial para uma carga puntiforme, tomamos o ponto de referência como
rre f = ∞ (potencial zero no infinito), assim a integração segue
Z rp
kQ kQ
Z
V= dV = − dr = (1.55)
∞ r2 rp

em que P é um ponto arbitrário na região r p ≥ R.


Dentro da casca esférica, o campo elétrico é igual a zero em todos os pontos. Inte-
grando novamente do ponto de referência ao infinito, sendo que r p ≤ R, assim
Z rp Z R Z rp
kQ kQ
Z
V= dV = − ~E.d~` = − dr − (0) dr = (1.56)
r 2 R
∞ ∞ R

Vemos assim que o potencial em todos os pontos dentro da casca é constante com valor

23
kQ/R. Portanto, por conveniência escrevemos r p = r, então

 kQ , r ≥ R
r
V = kQ (1.57)
 , r≤R
R

A superfı́cie de um condutor carregado em equilı́brio eletrostático é uma superfı́cie equi-


potencial.
Um erro comum é pensar que o potencial deveria ser zero no interior da casca esférica,
uma vez que o campo elétrico é zero naquela região.

24
1.5.6 Potencial de uma esfera carregada uniformemente

Utilizamos novamente o resultado do campo elétrico conhecido calculado anterior-


mente para determinar o potencial elétrico de uma esfera de raio R.
Fora da esfera, o campo elétrico é o mesmo que o de uma carga puntiforme. Assim, o
potencial segue para r ≥ R
Z rp
kQ kQ
Z
V= dV = − 2
dr = (1.58)
∞ r rp

agora, dentro da esfera, r ≤ R, temos que o campo elétrico é dado por

~E = kQr r̂
R3
temos assim que
Z rp Z R Z rp
kQ kQr
Z
V = dV = − ~E.d~` = − dr − dr (1.59)
∞ ∞ r2 R R3
kQ kQ 1 2
2

= − 3 r −R (1.60)
R R 2 !p
kQ r2p
= 3− 2 (1.61)
2R R

Portanto 
kQ
 , r≥R
r 


2

V = kQ
2R 3 − Rr 2 , r ≤ R (1.62)

 kQ ,

r=R

R

Note que em r = 0, o potencial é V0 = 3/2 kQ


R = 3/2Vs , e este resultado está condizente
com o fato do campo elétrico apontar no sentido que o potencial diminui.
Questão: Como ficariam as expressões para o potencial de uma esfera, se consideras-
semos o ponto de referência em que V = 0 em r = R?

25
1.5.7 Potencial de uma casca esférica oca

Uma casca esférica condutora, não carregada e oca, tem raio interno a e raio externo
b. Uma carga puntiforme positiva +q está localizada no centro da casca. a) Determine a
carga em cada uma das superfı́cies do condutor. b) Determine o potencial V em todas as
regiões, considerando V = 0 em r = ∞.

a) A fim de determinar as cargas nas superfı́cies deste condutor, é conveniente fazer

26
uso i) da lei de Gauss, ii) todo o excesso de carga em um condutor encontra-se em sua
superfı́cie, e iii) de que o campo elétrico dentro de um condutor é nulo.
Como a casca é neutra, temos que

Qa + Qb = 0 → Qa = −Qb (1.63)

Agora, ao considerarmos uma superfı́cie gaussiana no interior do material a ≤ r ≤ b,


temos a partir da lei de Gauss

Q Qa + q
I I
Φ= = En dA → = (En = 0) dA → Qa = −q
ε0 ε0

ou seja, a presença de uma carga no centro da casca condutora induz uma carga −q na
superfı́cie de raio r = a, de tal forma a assegura que o campo elétrico resultante dentro do
material seja nulo (i.e. pela lei de Gauss que a carga lı́quida seja nula). Assim

Qa = −Qb = −q

b) O potencial em qualquer ponto é a soma dos potenciais devidos às cargas individuais
(princı́pio de superposição). Anteriormente calculamos que o potencial devido a uma
casca esférica é 
 kQ , r ≥ R
r
V = kQ (1.64)
 , r≤R
R

Para pontos r ≥ b, o potencial resultante é devido somente à carga (uma vez que o condu-
tor é neutro)
kq
V= (1.65)
r
Agora, em pontos a ≤ r ≤ b, temos

kq kQa kQb kq kq kq kq
V= + + = − + = (1.66)
r r rb r r b b

e por fim em pontos 0 < r ≤ a

kq kQa kQb kq kq kq
V= + + = − + (1.67)
r ra rb r a b

27
Portanto 
kq
r,

 r≥b
V= kq (1.68)
b, a≤r≤b

 kq kq kq

r − a + b, 0<r≤a

Observe que o potencial V (r) é contı́nuo em todas as regiões, inclusive em r = a e r = b.


O campo elétrico todavia é descontı́nuo nas superfı́cies do condutor, o que se reflete na
descontinuidade da declividade de V (r) em r = a e r = b.

1.6 Energia potencial eletrostática


Suponhamos que exista uma carga puntiforme q1 no ponto 1. Para trazer uma segunda
carga puntiforme q2 do repouso no infinito para o repouso no ponto 2, a uma distância r12
do ponto 1, é necessário realizar o seguinte trabalho

kq1 q2
W2 = q2V2 = (1.69)
r12
28
em que V2 é o potencial no ponto 2 devido à presença da carga q1 . Eliminamos o sinal
negativo anterior pois estamos interessados no trabalho que nós realizamos em trazer as
cargas do infinito, e não o trabalho realizado pelo campo elétrico. (trabalho negativo retira
energia do sistema, trabalho positiva adiciona energia ao sistema).
Agora, o potencial num outro ponto, ponto 3, a uma distância r13 de q1 e a uma
distância r23 de q2 , é dado por
kq1 kq2
V3 = + (1.70)
r13 r23
e portanto para trazer uma carga puntiforme adicional q3 do repouso no infinito para o
repouso no ponto 3 é necessário realizar um trabalho adicional

kq1 q3 kq2 q3
W3 = q3V3 = + (1.71)
r13 r23

Concluı́mos desta forma que o trabalho total necessário para agrupar as três cargas é a
energia potencial eletrostática do sistema de três cargas puntiformes

kq1 q2 kq1 q3 kq2 q3


Wtotal = U = + +
r12 r13 r23

Em geral, podemos enunciar

• A energia potencial eletrostática de um sistema de cargas puntiformes é o trabalho


necessário para trazê-las desde uma separação infinita até suas posições finais.

Podemos generalizar a expressão para energia potencial para um sistema de n cargas


puntiformes tal que
1 n
U = ∑ qiVi (1.72)
2 i=1

o fator numérico 1/2 é para retirarmos a contagem dupla, proveniente por exemplo do
potencial no ponto 2 devido a carga q1 com o potencial no ponto 1 devido à carga q2 que
contribuem com o mesmo trabalho/energia

1 2
 
1 1 kq2 kq1 kq1 q2
U = ∑ qiVi = (q1V1 + q2V2i ) = q1 + q2 =
2 i=1 2 2 r21 r12 r12

29
1.6.1 Ruptura dielétrica

• Muitos materiais ficam ionizados em campos elétricos muito intensos e se tornam


condutores.

• Este fenômeno, conhecido como ruptura dielétrica, ocorre no ar com um campo


elétrico cuja intensidade é Em ≈ 3 × 106V /m.

• Alguns dos ı́ons existeste no ar são acelerados, atingindo altos nı́veis de energia
cinética antes de colidirem com moléculas vizinhas.

• A ruptura dielétrica ocorre quando esses ı́ons são acelerados até atingirem energias
cinéticas capazes de propiciar o crescimento da concentração de ı́ons devido às
colisões com moléculas vizinhas.

• A intensidade do capmo elétrico na qual ocorre a ruptura dielétrica no material é


chamada de resistência dielétrica daquele material.

• O choque elétrico que você sente quando toca na maçaneta metálica de uma porta
após caminhar sobre um tapete em um dia seco é um exemplo comum de arco
elétrico (descarga elétrica).

Exemplo 1 Um condutor esférico tem um raio de 30cm. (a) Qual é a carga máxima
que pode ser colocada sobre a esfera antes de ocorrer a ruptura dielétrica do ar em suas
vizinhanças. (b) Qual é o potencial máximo da esfera?
(a) Podemos relacionar o campo elétrico e a densidade superficial de um condutor a
partir de
σ σm
E = → Em =
ε0 ε0
ademais, a carga máxima é relacionada com a densidade σm através de

Qm
σm =
4πR2
logo

2E 2 6V /m

R m (0, 3m) 3 × 10
Qm = 4πR2 σm = 4πR2 (ε0 Em ) = = 9 2 2
= 3 × 10−5C (1.73)
k (8, 99 × 10 N.C /m )

30
(b) O potencial máximo segue de

R2 Em
 
kQm k  
Vm = = = REm = (0, 3m) 3 × 10 V /m = 9 × 105V
6
(1.74)
R R k

Exemplo 2 Dois condutores esféricos carregados com raios R1 = 6cm e R2 = 2cm são
separados de uma distância muito maior que 6cm e conectados por um longo fio condutor
fino. Uma carga total Q = +80nC é colocada em uma das esferas. (a) Qual é a carga em
cada esferas? (b) Qual é o campo elétrico próximo à superfı́cie de cada esfera? (c) Qual
é o potencial elétrico de cada esfera? (a carga do fio é desprezı́vel.)

A carga ficará distribuı́da na esfera 1 Q1 e na esfera 2 com Q2 tal que as duas fiquem
sobre o mesmo potencial.
(a) Uma vez que as esferas estão suficientemente afastadas, V = kQ/R, logo

kQ1 kQ2 R1
V1 = V2 → = → Q1 = Q2
R1 R2 R2

e da conservação da carga
Q = Q1 + Q2
assim
   
R1 R2 Q R1
Q1 = (Q − Q1 ) → 1 + Q1 = Q → Q1 =  = Q
R2 R1 R2
1 + R1 R1 + R2

e  
6cm
Q1 = (80nC) = 60nC
6cm + 2cm
e
Q2 = Q − Q1 = 80nC − 60nC = 20nC

31
(b) Próximo à superfı́cie, o campo elétrico é E = kq/R2 , assim

8, 99 × 109 N.C2 /m2 (60nC)



kQ1
E1 = 2 = = 150kN/C
R1 (0, 06m)2

8, 99 × 109 N.C2 /m2 (20nC)



kQ2
E2 = 2 = = 450kN/C
R2 (0, 02m)2
(c) Por fim, o potencial comum das esferas é

8, 99 × 109 N.C2 /m2 (60nC)



kQ1 kQ2
V= = = = 8, 99kV
R1 R2 (0, 06m)

Efeito de pontas

• Quando a carga é colocada em um condutor de forma não-esférica, como o mos-


trado abaixo, a superfı́cie do condutor será uma superfı́cie equipotencial, porém a
densidade de carga e o campo elétrico na superfı́cie externa do condutor variarão
ponto a ponto.

32
• Nas proximidades de um ponto onde o raio de curvatura é pequeno, como o ponto A
na figura acima, a densidade superficial de carga e o campo elétrico serão grandes,
enquando nas proximidades de um ponto onde o raio de curvatura é grande, como
o ponto B na figura, o campo e a densidade superficial de carga serão pequenos.

• Pode-se compreender essa condição qualitativamente considerando as extremidades


do condutor como sendo esferas de raios distintos. Seja σ a densidade superficial
de carga.

O potencial na superfı́cie de uma esfera de raio R é

kQ
V=
R
A carga total de uma esfera está relacionada à densidade de carga pela expressão Q =
4πR2 σ . Logo
kQ k 4πR2 σ

Rσ ε0V
V= = = →σ = (1.75)
R R ε0 R

• Como ambas esferas estão sujeitas ao mesmo potencial, a esfera com o menor raio
deve possuir a maior densidade de carga. E sendo E = σ /ε0 nas proximidades da
superfı́cie de um condutor, o campo elétrico é máximo nos pontos do condutor onde
o raio de curvatura é menor.

• Se o condutor possui pontos agudos com raios de curvatura muito pequenos, a


ruptura dielétrica ocorerá a potenciais relativamente pequenos.

• Os pára-raios no topo de prédios conseguem atrair as cargas elétricas presentes


nas proximidades das nuvens antes que o potencial atinja altos valores e produza
descargas elétricas de caráter destrutivo.

33
Parte II

Capacitância
2 Capacitores
Nos capı́tulos anteriores discutimos a relação entre campos elétricos e cargas e como a
relação entre as cargas se traduz em energia potencial elétrica. Mostraremos agora usando
o conceito de capacitância, que a energia potencial pode ser armazenada e liberada e a
consequência em circuitos eletrônicos.
Encontramos capacitores (dispositivos que armazenam energia potencial elétrica) numa
grande variedade de circuitos elétricos (basicamente em todos dispositivos eletrônicos,
e.g. flash de máquinas fotográficas).
Um capacitor consiste de dois condutores (de formato arbitrário/placas) separados por
um isolante (dielétrico).
Quando carregado por uma bateria, as placas de um capacitor adquirem cargas iguais,
mas de sinais opostos (a carga lı́quida é zero).
Uma vez que as placas são condutoras, elas constituem superfı́cies equipotenciais:
todos os pontos sobre uma placa têm o mesmo potencial elétrico.

2.1 Capacitância
O potencial V de um condutor isolado devido à sua carga Q é proporcional a Q e de-
pende do tamanho e da forma do condutor. Tipicamente, quanto maior é a área superficial
de um condutor, mais carga ele pode armazenar para um dado potencial.
Por exemplo, se o potencial é escolhido como zero no infinito, o potencial de um
condutor esférico de raio R e carga Q é

kQ
V=
R
A razão Q/V da carga em relação ao potencial de um condutor isolado é denominada
autocapacitância C. Um capacitor é um dispositivo que consiste em dois condutores,
um com carga Q e o outro com carga −Q.

34
Assim, definimos a capacitância de um capacitor como a razão da carga Q pela
diferença de potencial ∆V entre dois condutores

Q
C= (2.1)
∆V

Capacitância é uma medida da capacidade de armazenar carga para uma dada diferença
de potencial.
A capacitância de um condutor esférico é

Q Q R
C= = kQ = = 4πε0 R (2.2)
V k
R

De fato, o resultando que a capacitância não depende da carga Q ou potencial V não é


exclusivo para um condutor esféricos, mas de fato uma conclusão geral para qualquer
geometria das placas, pois a capacitância depende somente do tamanho, forma das placas
e da posição relativa entre os condutores.
A unidade de capacitência no SI é coulomb por volt, que é chamado de farad (F)

1F = 1C/V (2.3)

2.1.1 Capacitores

O processo de carga de um capacitor geralmente envolve a transferência de carga Q


de um condutor para o outro, deixando um deles com uma carga +Q e o outro com carga
−Q.
Para calcular a capacitância, colocamos cargas iguais com sinais opostos nos condu-
tores e, então, encontramos a diferença de potencial ∆V primeiro calculando o campo
elétrico ~E devido às cargas e, depois, calculando a ddp a partir do campo.

2.1.2 Capacitor de placas paralelas

Um capacitor comum é o capacitor de placas paralelas, que utiliza duas placas


condutores paralelas. Na prática, as placas são geralmente final folhas metálicas sepa-
radas e isoladas uma da outra por um fino filme plástico (dielétrico).

35
• Seja A a área da superfı́cie da placa e d a distância de separação, que é muito
pequena comparada ao comprimento e à largura das placas.

• Colocamos uma carga +Q em uma das placas e −Q na outra. Estas cargas se atraem
e se distribuem uniformemente nas superfı́cies internas das placas.

• Como as placas estão muito próximas, o campo elétrico entre elas é uniforme e
pode ser calculado pela lei de gauss (ao traçarmos uma superfı́cie gaussiana na
placa +Q), e tem módulo E = σ /ε0 .

Como o campo é uniforme entre as placas, a diferença de potencial entre elas é igual
à magnitude do campo elétrico E multiplicada pela separação entre as placas d

σd Qd Q Aε0
∆V = Ed = = →C = = (2.4)
ε0 Aε0 ∆V d

e assim obtemos a capacitância de um capacitor de placas paralelas.


• Para um capacitor de placas paralelas, a capacitância é proporcional à área das
placas e é inversamente proporcional ao espaçamento.

• Em geral, a capacitância não depende de Q nem de ∆V , mas sim depende do tama-


nho, da forma e do arranjo geométrico dos condutores. Como veremos a seguir, ela
também depende das propriedades do meio isolante entre os condutores.

2.1.3 Capacitores cilı́ndricos

Um capacitor cilı́ndrico consiste em um longo cilindro condutor de raio R1 e uma


casca cilı́ndrica condutora, concêntrico, de raio R2 . Os cilindros têm o mesmo compri-

36
mento L.

• Um cabo coaxial, como os utilizados em televisão a cabo, pode ser pensado como
um capacitor cilı́ndrico. A capacitância por unidade de comprimento de um cabo
coaxial é importante para determinar as caracterı́sticas de transmissão do cabo.

Um cabo coaxial é um longo capacitor cilı́ndrico que tem um fio sólido como condu-
tor interno e uma blindagem de fio trançado como condutor externo. A blindagem de fio
trançado bloqueia o condutor interno dos campos elétricos do ambiente, pois este condu-
tor conduz informações de interesse (sinais de audio e vı́deo). E como veremos a seguir
os dielétricos aumentam a capacitância de um capacitor.
Vamos determinar agora a expressão para a capacitância para o sistema de cilindros
descrito acima. Colocamos uma carga +Q no condutor interno e uma carga −Q no ex-
terno, e assim calcularemos o campo elétrico a partir da lei de Gauss para em seguida
determinar a ddp.
Consideremos uma superfı́cie gaussiana cilı́ndrica de raio R e comprimento `, sendo
que R1 < R < R2 e `  L. Desta forma, temos pela lei de Gauss

~E.n̂dA = Qint
I
Φ= (2.5)
ε0

sendo que a integral de superfı́cie pode ser decomposta em outras três, nas duas bases e

37
ao longo do comprimento do cilindro,
I Z Z Z
~E.n̂dA = ~E.n̂dA + ~E.n̂dA + ~E.n̂dA
b1 comp b2
Z
= 0+ ER dA + 0
comp
Z
= ER dA = ER (2πR`) (2.6)
comp

temos dessa forma que

Qint 1 Qint
ER (2πR`) = → ER = (2.7)
ε0 2πε0 R`

todavia, considerando que a densidade linear de carga é uniforme, temos que

Q Qint
λ= =
L `
desta forma podemos resolver o campo elétrico em termos da carga total

1 Q
ER = (2.8)
2πε0 RL

38
Por fim, podemos determinar a ddp a partir da integral
Z VR Z R2 Z R2  
2 1 Q
∆V = dV = − ER dR = − dR
VR1 R1 R1 2πε0 RL
1 Q R2 q
Z
=− dR
2πε0 L R1 R
 
1 Q R2
=− ln
2πε0 L R1
e  
1 Q R2
∆V = |VR2 −VR1 | = ln (2.9)
2πε0 L R1
Portanto, determinamos a capacitância como

Q 2πε0 L
C= =   (2.10)
∆V ln RR21

2.2 Armazenamento de energia elétrica


Quando um capacitor está sendo carregado, elétrons (ou cargas positivas) são trans-
feridos do condutor positivamente (negativamente) carregado para o condutor negativa-
mente (positivamente) carregado. De qualquer forma, deve ser realizado trabalho para
carregar o capacitor e, pelo menos parte deste trabalho, é armazenado como energia po-
tencial eletrostática.
Consideremos dois condutores descarregados posicionados a dada separação. Seja q
a carga positiva que foi transferida durante os estágios iniciais do processo de carga (e.g.
bateria).
Mas se agora uma incremento de carga positiva dq seja transferido do condutor nega-
tivo para o positivo através de um aumento de potencial, temos uma quantidade adicional
de trabalho
q
dW = dU = V dq = dq (2.11)
C
O aumento total na energia potencial é a integral de dU quando q aumento desde zero
até seu valor final Q
Q2
Z Q
q
Z
U = dU = dq = (2.12)
0 C 2C
39
Esta energia potencial é a energia armazenada no capacitor. Alternativamente, podemos
expressá-la em termos Q, C e V

1 Q2 1 1
U= = QV = CV 2 (2.13)
2C 2 2

Exemplo: Um capacitor de placas paralelas com placas quadradas, cada uma com lado
de 14cm, separadas por 2, 0mm, é conectado a uma bateria e carregado com 12V . a) Qual
é a carga no capacitor? b) Quanta energia é armazenada no capacitor? b A bateria é,
então, desconectada do capacitor e as placas são afastadas até que a separação entre elas
aumente para 3, 5mm. Qual é a variação da energia armazenada quando a separação entre
as placas aumenta de 2, 0mm para 3, 5mm?
a) Podemos calcular a carga no capacitor a partir da capacitância

Q = CV

sendo que no caso de um capacitor de placas paralelas a capacitância é dada por C =


ε0 A/d, logo
2
8, 85 × 10−12C2 /N.m2 14 × 10−2 m (12V )

ε0 AV0
Q = C0V0 = =
d0 (2 × 10−3 m)
= 10, 4 × 103 × 10−13C
= 1, 04nC (2.14)

40
b) A energia armazenada nas placas do capacitor é

1 1
U0 = QV0 = (1, 04nC) (12V ) = 6, 2nJ (2.15)
2 2
c) como queremos a variação da energia, calculamos

1 1 1
∆U = U −U0 = QV − QV0 = Q (V −V0 ) (2.16)
2 2 2
Logo a variação na energia é proporcional à variação na tensão. Todavia, lembremos que
na superfı́cie do condutor, E = σ /ε0 ; ademais, mas como σ é constante antes e depois
do capacitor ser desconectado da bateria, o campo elétrico permanece constante, portanto
E = E0 , o que implica em

V V0 d
E = E0 → = → V = V0 (2.17)
d d0 d0

Desta forma encontramos então


    
1 1 d0 d 1
∆U = Q (V −V0 ) = Q V0 −V0 = −1 QV0 (2.18)
2 2 d d0 2
   
d0 (3, 5mm)
= − 1 U0 = − 1 (6, 2nJ) (2.19)
d (2mm)
= 4, 7nJ (2.20)

Um aumento na energia potencial provocado por um aumento na separação entre as cargas


é esperado. Isto é verificado pela necessidade de se realizar trabalho para separar as placas
que possuem sinais opostos e se atraem mutuamente. Este trabalho realizado nas placas
resulta em um aumento na energia potencial do sistema.
Um exemplo prático da variação da capacitância são as teclas de um teclado de com-
putador. Uma placa metálica é presa a cada uma das teclas e atua como a placa superior
de um capacitor (e a inferior também é fixa). Ao pressionarmos alguma tecla, diminuı́mos
a separação entre as placas superior e inferior, o que dispara o circuito eletrônico do com-
putador para reconhecimento da tecla.

41
2.2.1 Energia do campo eletrostático

Durante o processo de carga de um capacitor, um campo elétrico é produzido entre as


placas.

• Portanto, por um segundo ponto de vista, o trabalho necessário para carregar o


capacitor pode ser entendido como o trabalho necessário para estabelecer o campo
elétrico.

• Isto é, podemos pensar na energia armazenada no capacitor como sendo a energia
armazenada no campo elétrico, denominada energia do campo eletrostático.

Por exemplo, consideremos um capacitor de placas paralelas; podemos relacionar a ener-


gia armazenada no capacitor à intensidade do campo elétrico entre as placas. A ddp entre
as placas é V = Ed, enqando a capacitância é dada por C = ε0 A/d, logo a energia arma-
zenada é escrita  
1 2 1 ε0 A 1
U = CV = (Ed)2 = ε0 E 2 (Ad) (2.21)
2 2 d 2
a quantidade Ad é o volume do espaço entre as placas do capacitor (e consequentemente
é o volume da região que contém o campo elétrico). Podemos então introduzir uma den-
sidade de energia em um campo elétrico como

energia 1
ue = = ε0 E 2 (2.22)
volume 2

• Apesar do resultado acima ter sido obtido num caso especial de um campo elétrico
entre as placas de um capacitor de placas paralelas, de fato ele tem natureza geral e
se aplica a qualquer campo elétrico. Portanto, a energia por unidade de volume do
campo eletrostático é proporcional ao quadrado da magnitude do campo elétrico.

2.3 Capacitores, bateria e circuitos


A diferença de potencial entre os dois terminais de uma bateria é chamada de tensão.

• Os terminais de uma bateria são conectados a condutores diferentes chamados de


eletrodos, e, no interior da bateria, os eletrodos estão separados por uma lı́quido
condutor ou por uma pasta chamada de eletrólito.

42
• Devido às reações quı́micas na bateria, ocorre transferência de carga de um eletro-
dos para o outro.

• Isto deixa um dos eletrodos da bateria (anodo) positivamente carregado, enquanto


o outro eletrodo (catodo), negativamente carregado; esta separação de carga é man-
tida por reações quı́micas no interior da bateria.

• Quando as placas de um capacitor descarregado são conectadas aos terminais da


bateria, o eletrodo negativo compartilha sua carga negativa com a placa conectada
a ele e o terminal positivo da bateria compartilha sua carga positiva com a placa
conectada a ele.

• Este compartilhamento de carga momentaneamente reduz a quantidade de carga em


cada um dos eletrodos da bateria e, portanto, diminui a diferença de potencial entre
eles.

• Esta diminuição na tensão dispara as reações quı́micas no interior da bateria e


ocorre transferência de carga de um eletrodo para o outro em um esforço para recu-
perar o nı́vel inicial da tensão, que é chamada de tensão de circuito aberto.

• Estas reações quı́micas cessam quando a bateria transferiu suficiente carga de uma
das placas do capacitor para a outra, a ponto de aumentar a ddp entre elas até o
valor da tensão de circuito aberto da bateria.

Basicamente, o que precisamos saber sobre baterias é que são um dispositivo que
armazenam energia, fornecem energia elétrica e bombeiam carga em um esforço para
recuperar a ddp entre seus terminais até atingir o valor da tensão de circuito aberto.

43
Usamos diagramas de circuitos como uma representação pictórica simbolizada do cir-
cuito real. Temos que o sı́mbolo que representa um capacitor, uma bateria (linha mais
longa é o terminal positivo, enquanto a linha menor é o terminal negativo) e uma chave
são

Quando existe uma combinação de capacitores num circuito, podemos, algumas ve-
zes, substituı́-la por um capacitor equivalente, i.e. um único capacitor que tenha a mesma
capacitância que a combinação real dos capacitores. Existem dois tipos de associações de

44
capacitores:

• Associação em paralelo;

• Associação em série.

2.3.1 Associação de capacitores em paralelo

• Dizemos que capacitores combinados estão ligados em paralelo quando uma


ddp aplicada através da combinação resulta na mesma ddp através de cada
capacitor.

• Vemos isto ao perceber que as duas placas dos dois capacitores conectados a um
fio condutor e, portanto, em um potencial comum, e as placas inferiores também
conectadas entre e em um potencial comum.

• A carga é dividida nas placas.

A carga total armazenada nos capacitores é

Q = Q1 + Q2 (2.23)

45
Se as capacitância são C1 e C2 , temos que as seguintes cargas são armazenadas

Q = C ∆V
1 1
(2.24)
Q2 = C2 ∆V

Dizemos então que uma capacitância equivalente é aquela que a mesma carga Q flui
através da bateria enquando este capacitor é carregado. Assim, a capacitância equivalente
de dois capacitores em paralelo é

Q Q1 + Q2 C1 ∆V +C2 ∆V
Ceq = = = = C1 +C2 (2.25)
∆V ∆V ∆V
Portanto, para dois capacitores associados em paralelo, Ceq é a soma das capacitânciais
individuais. O mesmo raciocı́nio pode ser estendido a três ou mais capacitores conectados
em paralelo
n
Ceq = C1 +C2 + ... +Cn = ∑ Ci (2.26)
i=i

• A capacitância equivalente de uma combinação em paralelo de capacitores é a soma


algébrica das capacitâncias individuais e é maior do que qualquer uma delas.

2.3.2 Associação de capacitores em série

• Dizemos que capacitores combinados estão ligados em série, quando uma ddp apli-
cada através da combinação é a soma das ddp através de cada capacitor;

• Mas a carga em cada um deles é a mesma.

A diferença de potencial para a combinação em série é


 
1 1
∆V = ∆V1 + ∆V2 = Q +
C1 C2

sendo Q a carga que passa pela bateria durante o processo de carga. Assim, a capacitância
equivalente de dois capacitores em série é

Q 1 1 1 1
Ceq = = 1 1
→ = + (2.27)
∆V C1 + C2
Ceq C1 C2

46
O mesmo raciocı́nio pode ser estendido a três ou mais capacitores conectados em série

n
1 1 1 1 1
= + + ... + =∑ (2.28)
Ceq C1 C2 Cn i=i Ci

• A capacitância equivalente de uma combinação em série de capacitores é a soma


dos inversos das capacitâncias individuais e é sempre inferior à menor delas.

É importante notar, todavia, que as variações no potencial em qualquer circuito fechado


são sempre nulas. Somar as variações no potencial ao longo de um circuito fechado e
igualar a soma a zero é um procedimento muito útil para a análise de circuitos elétricos.
Conhecida como lei das malhas de Kirchhoff, ela é uma consequência do fato que a ddp
entre quaisquer dois pontos não depende da trajetória desde um ponto até o outro.

• A soma das variações no potencial em qualquer trajetória fechada é sempre igual a


zero. Lei das malhas de Kirchhoff.

47
Exemplo 24-5: dois capacitores em série, com capacitância C1 = 12µF e C2 = 6µF,
são ligados a uma bateria de 12V , podemos mostrar que a carga acumulada em cada um
capacitores é de Q = 48µC, logo a ddp no capacitor 1 é V1 = 8V enquanto no capacitor 2
é V2 = 4V . Logo a soma das variações no potencial somam zero.
Uma outra caracterı́stica de circuitos é a junção que é um ponto em um fio onde ele
se divide em dois ou mais fios. E podemos utilizar o conceito de junção para concluir
que dois capacitores estão conectados em série se a placa de um deles estiver conectada à
placa do segundo por um fio que não contém nenhuma juntção.

Exemplo 24-7: Considere os capacitores mostrados na figura abaixo. Identifique todas


as combinações de capacitores em paralelo e em série.

Os capacitores 4 e 7 estão associados em paralelo (a mesma ddp nas duas placas),


enquanto os capacitores 8 e 9 estão associados em série (nenhuma junção no fio conector).

Exemplo 2: Determine a capacitância equivalente para a seguinte associação de capa-


citores.
Consideremos primeiramente a associação em paralelo, como destacado na figura a):

C(1) = C(1) +C(1) = 1µF + 3µF = 4µF
eq 1 2
(2.29)
Ceq = C +C(2) = 6µF + 2µF = 8µF
(2) (2)
1 2

48
em seguida, consideremos a associação em série, como destacado na figura b):

(3)
 1(3) = 1(3) + 1(3) = 4µF
 1
+ 4µF1 1
= 2µF → Ceq = 2µF
Ceq C1 C2
(3)
(2.30)
 1(4)
 = 1
(4) + 1(4) = 1
8µF
1
+ 8µF = 1
4µF → Ceq = 4µF
Ceq C1 C2

por fim, consideremos a associação em paralelo, como destacado na figura c):


n
(5) (5) (5)
Ceq = C1 +C2 = 2µF + 4µF = 6µF (2.31)

Exemplo 3: Considere três capacitores com capacitâncias C1 = 3µF, C2 = 6µF e C3 =


12µF . Calcule a capacitância equivalente quando elas estão associadas a) em paralelo, e
b) em série.
a) O cálculo para a associação em paralelo segue

(1) (1) (1) (1)


Ceq = C1 +C2 +C3 = 3µF + 6µF + 12µF = 21µF (2.32)

b) Enquanto o cálculo para a associação em série segue

1 1 1 1 1 1 1 7 (2) 12
(2)
= (2)
+ (2)
+ (2)
= + + = → Ceq = µF ≈ 1, 7µF
Ceq C1 C2 C3 3µF 6µF 12µF 12µF 7
(2.33)

Exemplo 4: Dois capacitores com capacitância C1 e C2 (C1 > C2 ) estão carregados à


mesma diferença de potencial ∆Vi , mas com polarização oposta. Os capacitores carre-

49
gados são separados da bateria e suas placas são conectadas como mostra a figura. As
chaves S1 e S2 são, então, fechadas e há uma nova redistribuição das cargas entre os pon-
tos a e b. Determine a energia armazenada nos capacitores antes e depois das chaves
serem fechadas, e a razão entre a energia final e inicial.

Das três formas que a energia armazenada em capacitores

1 Q2 1 1
U= = QV = CV 2 (2.34)
2C 2 2

a fórmula mais conveniente para expressar a energia dos capacitores antes e depois das
chaves serem fechadas é  (i)2 (i)2
U = 1 Q1 + 1 Q2
i 2 C1 2 C2
(2.35)
U = 1 Q1 + 1 Q(2f )2
( f )2
f 2 C1 2 C2
A fim de calcular cada uma dessas energias, é conveniente notar que inicialmente, a carga
total dos capacitores é (bateria e associação em paralelo)

(i) (i)
Q = Q1 + Q2 (2.36)

sendo que, dado que as placas têm polaridade oposta, e escolhendo as placas do lado
esquerdo como referência, temos que

Q(i) = C ∆V
1 1 i
(i)
(2.37)
Q = −C2 ∆Vi
2

50
Logo, a razão entre essas duas cargas é

(i)
Q1 C1 ∆Vi (i) C1 (i)
(i)
=− → Q1 = − Q2 (2.38)
Q2 C2 ∆Vi C2

Assim, podemos reescrever cada uma dessas cargas em termos da carga total dos capaci-
tores
  
Q = Q(i) + Q(i) = − C1 Q(i) + Q(i) = 1 − C1 Q(i) → Q(i) = − C2 Q
1 2 C2 2 2 C2 2 2 C1 −C2
(i) (i) (i) (i)
 
(i) (i)
(2.39)
Q = Q + Q = Q − C2 Q = 1 − C2 Q → Q = C1 Q
1 2 1 C1 1 C1 1 1 C1 −C2

Agora, após as chaves serem fechadas, temos que



Q( f ) = C ∆V
1 1 f
(2.40)
Q( f ) = C2 ∆V f
2

Mesmo após as chaves serem fechadas a carga total no sistema continua a mesma, há
somente uma redistribuição de cargas entre os capacitores, assim

(f) (f)
Q = Q1 + Q2 (2.41)

e procedendo como anteriormente, encontramos que as cargas finais podem ser escritas
em termo da carga total
  
Q = Q( f ) + Q( f ) = C1 Q( f ) + Q( f ) = 1 + C1 Q( f ) → Q( f ) = C2 Q
1 2 C2 2 2
 C2
 2 2 C1 +C2
(2.42)
( f ) ( f ) ( f ) ( f )
Q = Q + Q = Q − C2 Q = 1 − C2 Q → Q = C1 Q ( f ) ( f )
1 2 1 C1 1 C1 1 1 C1 +C2

Encontramos finalmente
 2 2
(i)2 (i)2  
Ui = 1 Q1 + 1 Q2 = 1 1 C1 1 1 C2
+ 2 C2 C1 −C2 Q
C1 −C2 Q

2 C1 2 C2 2 C1
( f )2 ( f )2  2  2 (2.43)
1 Q1 Q C1 C2
U f =

2 C1 + 21 C2 2 = 1 1
2 C1 C1 +C2 Q
1 1
+ 2 C2 C1 +C2 Q

51
e  2
Ui = 1 C1 Q2 1 C2 Q2 1 (C1 +C2 )Q
2 (C1 −C2 )2 + 2 (C1 −C2 )2 = 2 (C1 −C2 )2
(2.44)
U f = 1 C1 Q 2 + 1 C2 Q 2 = 1 Q2
2 2
2 (C1 +C2 ) 2 (C1 +C2 ) 2 (C1 +C2 )

Logo a razão entre a energia final e inicial é

1 Q2
(C1 −C2 )2 C1 −C2 2
 
Uf 2 (C1 +C2 ) 1
= = = <1 (2.45)
Ui 1 (C1 +C2 )Q2 (C1 +C2 ) (C1 +C2 ) C1 +C2
2 (C1 −C2 )2

Esta razão é menor que a unidade, o que indica que a energia final é menor do que a
energia inicial. A priori, podemos pensar que a lei da conservação da energia é violada,
mas a energia “perdida” é radiada na forma de ondas eletromagnéticas, como veremos
adiante.

2.4 Dielétricos
Um material isolante (não-condutor, e.g. ar, vidro, papel, etc) é chamado de dielétrico.

• Quando o espaço entre os dois condutores de um capacitor é ocupado por um


dielétrico, a capacitância aumenta por um fator que é caracterı́stico do dielétrico,
um fato descoberto experimentalmente por M. Faraday.

• A razão para este aumento é que o campo elétrico entre as placas de um capacitor
diminui na presença do dielétrico.

• Assim, pra uma dada carga nas placas (capacitor carregado e em seguida desligado
da bateria antes da inserção do dielétrico), a diferença de potencial ∆V é reduzida e
a capacitância aumenta.

Isto também pode ser visto através da medida da ddp através de um multı́metro nas
situações antes e depois da inserção do dielétrico.
Formalizando a discussão acima. Consideremos novamente um capacitor carregado,
isolado (desligado da bateria), sem um dielétrico entre suas placas. Uma lâmica dielétrica
é, então, inserida entre as placas, preenchendo completamente o espaço entre elas.

52
Se a intensidade do campo elétrico era E0 antes de inserirmos o dielétrico, depois da
inserção a intensidade do campo é
E0
E= (2.46)
κ
em que κ é o fator de aumento da capacitância pela inserção de um dielétrico (dependente
do material), chamada de constante dielétrica. Para um capacitor de placas paralelas com
uma separação d, a ddp entre as placas é

E0 ∆V0
∆V = Ed = d= (2.47)
κ κ

Finalmente, a nova capacitância é então

Q Q Q
C= = ∆V = κ → C = κC0 (2.48)
∆V 0 ∆V0
κ

2.5 Visão molecular de um dielétrico


Um dielétrico enfraquece a intensidade do campo elétrico entre as placas de um ca-
pacitor. Isto acontece porque as moléculas polarizadas do dielétrico produzem um campo
elétrico no interior do material em um sentido oposto ao campo produzido pelas cargas
nas placas. O campo elétrico produzido pelo dielétrico é devido aos momentos de dipolo
elétrico das moléculas do material.

53
Quando um dielétrico é colocado num campo externo (por exemplo no campo de um
capacitor carregado), suas moléculas são polarizadas de forma tal que há um momento de
dipolo resultante paralelo ao campo.

• Se as moléculas são polares, seus momentos de dipolo, orientados de forma aleatória,


tendem a se alinhar devido ao torque exercido pelo campo (aula 03).

• Se as moléculas são apolares, o campo induz momentos de dipolo que são paralelos
ao campo.

Em ambos os casos, as moléculas no dielétrico estão polarizadas na direção do campo


externo.

• O efeito resultante da polarização de um dielétrico homogêneo em um capacitor de


placas paralelas é a criação de cargas na superfı́cie das faces do dielétrico próximas
às placas.

• A carga na superfı́cie de um dielétrico é chamada de carga ligada, pois ela é ligada


às moléculas da superfı́cie do dielétrico e não pode se mover como a carga livre nas
placas condutoras do capacitor. Esta carga induz um campo elétrico, com sentido
oposto ao campo externo.

• Esta carga ligada produz um campo elétrico com sentido oposto ao campo elétrico
produzido pela carga livre nos condutores.

54
• Assim, o campo elétrico resultante entre as placas diminui.

A densidade de carga ligada σi nas superfı́cies do dielétrico está relacionada à cons-


tante dielétrica e à densidade de carga livre σ nas superfı́cies das placas.
Se o dielétrico é uma lâmina fina entre as placas que estão próximas, o campo elétrico
no interior do dielétrico devido às densidade de carga ligada, +σi à direita e −σi à es-
querda, é simplesmente o campo devido às densidades de carga de dois planos infinitos.
Assim, este campo tem módulo
σi
Ei = (2.49)
ε0
Este campo está dirigido para a esquerda e é subtraı́do do campo elétrico E0 devido à

55
densidade de cargas do capacitor, que tem módulo
σ
E0 = (2.50)
ε0

Podemos então calcular a intensidade do campo resultante E = E0 /κ como a diferença

E0
E = E0 − Ei = (2.51)
κ
ou ainda    
1 1
Ei = 1 − E0 → σi = 1 − σ (2.52)
κ κ
A densidade de carga ligada σi é sempre menor ou igual à densidade de carga σ nas placas
do capacitor, e é zero se κ = 1, que é o caso quando não há dielétrico.

• Todo material dielétrico possui uma rigidez dielétrica caracterı́stica, que é a inten-
sidade máxima do campo elétrico que ele pode suportar sem sofrer ruptura (e.g.a
rigidez dielétrico do ar é 3 × 106V /m, em que ele torna-se ionizado e começa a
conduzir).

• Existe uma ddp máxima (que se excedido o material romperá, originando um cami-
nho condutor entre as placas).

Por fim, no caso de capacitores de placas paralelas preenchido com um dielétrico de


constanta κ temos que sua capacitância é

ε0 A εA
C=κ = (2.53)
d d

em que introduzimos ε = κε0 como a permissividade do dielétrico. Para o vácuo κ = 1,


enquanto para o ar κ = 1, 00059. Desta forma, para situações ordinárias não precisamos
fazer diferença entre o ar e o vácuo, todavia para situações que demandam uma maior
precisão, e.g. desenvolvimento tecnológico, etc, é sim necessário levar em conta toda a
precisão disponı́vel.

56
material constante dielétrica κ
Vácuo 1
Ar (1 atm) 1,00054
Papel 3,5
Óleo de transformador 4,5
Pirex 4,7
Porcelana 6,5
Silı́cio 12
Etanol 25
Água (25 ◦ C) 78,5
Cerâmica 130

• É importante notar que como discutimos inicialmente, o capacitor é carregado e


então desconectado da bateria, ou seja não há mudança na quantidade de carga nas
placas do capacitor quando o dielétrico é introduzido.

• Todavia, a situação é distinta se o capacitor ainda estivesse conectado a uma bateria


quando fosse inserido. Neste caso, a bateria bombearia carga adicional a fim de
manter a ddp original. A carga total nas placas seria então Q = κQ0 .

• Em ambos os casos, a capacitância resultante após a inserção do dielétrico aumen-


taria por um fator κ.

Neste caso, a densidade de energia em um campo elétrico é também modificada como

energia 1 1
ue = = κε0 E 2 = εE 2 (2.54)
volume 2 2

Parte desta energia é a energia associada ao campo elétrico, e o restante é a energia asso-
ciada com o estresse mecânico associado com a polarização do dielétrico.

57
Exemplo 1: Um capacitor de placas paralelas tem placas quadradas de lados de 10cm
de comprimento e uma separação d = 4, 0mm. Uma lâmina dielétrica de constante κ =
2, 0 tem dimensões de 10cm × 10cm × 4mm. a) Qual é a capacitância sem o dielétrico?
b) Qual é a capacitância se o dielétrico preencher o espaço entre as placas? c) Qual
será a capacitância se um dielétrico com dimensões 10cm × 10cm × 3mm for inserida no
espaçamento de 4, 0mm?

a) Se não há dielétrico, a capacitância é

8, 85 × 10−12C2 /N.m2 (0, 10m)2



ε0 A
C0 = = = 22 × 10−12 F = 22pF (2.55)
d (0, 0040m)

b) Agora, quando o capacitor é preenchido com um material com constante dielétrica κ,


a sua capacitância aumenta para

C = κC0 = (2, 0) (22pF) = 44pF (2.56)

c) Para esta nova configuração, assumindo que o capacitor está eletricamente isolado,
mantendo a carga constante, precisamos determinar a ddp entre as placas. Note que a ddp
resultante é composta de duas contribuições, a da parte com o dielétrico e a parte vazia,
i.e.    
3 1
∆V = ∆Vdie + ∆Vvaz = Edie d + Evaz d (2.57)
4 4
Podemos ainda dizer que a intensidade do campo elétrico no vazio é Evaz = E0 (quando
não existe dielétrico), logo, a parte com o dielétrico tem o seguinte campo Edie = Eκvaz = Eκ0 ,

58
substituindo estes resultados acima, encontramos
           
3 1 E0 3 1 3 1 3+κ
∆V = Edie d +Evaz d = d +E0 d = (E0 d) + = ∆V0
4 4 κ 4 4 4κ 4 4κ
(2.58)
Por fim, a nova capacitância é
   
Q0 Q0 Q0 4κ 4κ
C= = = = C0 (2.59)
∆V0 3+κ

∆V 4κ
∆V0 3+κ 3+κ

substituindo os valores
   
4∗2 4∗2
C = (22pF) = (22pF) = 35pF (2.60)
3+2 3+2

Um cheque que podemos fazer é que na ausência do dielétrico temos κ = 1; e substituindo


este valor na expressão da capacitância acima encontramos que C = C0 .

Exemplo 2: Uma combinação em paralelo de dois capacitores de placas paralelas con-


tendo ar entre as placas, cada um com capacitância 2, 00µF, é conectada a uma bateria de
12, 0V . A bateria é desconectada da combinação e então um dielétrico κ = 2, 50 é inserido
entre as placas de um dos capacitores, preenchendo completamente o espaçamento. Antes
de a lâmina ser inserida, determine a) a carga e a energia armazenada em cada capacitor,
e b) a energia total armazenada nos capacitores. Após a lâmina ser inserida, determine
c) a ddp em cada capacitor, d) a carga em cada capacitor, e e) a energia total armazenada
nos capacitores.
a) Como os capacitores estão associados em paralelo, a tensão em cada um deles é a
mesma. Desta forma, a carga deles pode ser calculada a partir da ddp e capacitância

Q1,2
C1,2 = → Q1,2 = C1,2 ∆V = (2µF) (12V ) = 24µC (2.61)
∆V
b) A energia em cada um dos capacitores é

Q∆V (24µC) (12V )


U1 = U2 = = = 144µJ (2.62)
2 2

59
logo a energia potencial total é a soma da energia de cada um dos capacitores

U = U1 +U2 = 2U1 = 288µJ (2.63)

c) Como a capacitância equivalente está relacionada com a ddp e a carga total, temos

Qtot Qtot
Ceq = → ∆V =
∆V 0 Ceq

e após introduzir o dielétrico, temos

Ceq = C1 +C20 = C1 + κC2 = (2µF) + (2, 5) (2µF) = 7µF (2.64)

a carga total continua sendo a mesma (pois não houve adição de carga/ligação bateria)
Qtot = 48µC, calculamos assim a ddp entre as placas após a inserção do dielétrico

48µC
∆V 0 = = 6, 86V (2.65)
7µF

d) Agora, a carga em cada um dos capacitores é



Q0 = C ∆V 0 = (2µF) (6, 86V ) = 13, 7µC
1 1
(2.66)
Q0 = C0 ∆V 0 = (5µF) (6, 86V ) = 34, 3µC
2 2

e) Por fim, a energia total armazenada nos capacitores após a inserção do dielétrico é

Q01 ∆V 0 Q02 ∆V 0  0
0 ∆V
U = U10 +U20
= + 0
= Q1 + Q2
2 2 2
(6, 86V )
= (13, 7µC + 34, 3µC) = 165µJ (2.67)
2
• A diferença entre a energia calculada no item b) e e) é devido a atração do dielétrico
pelas cargas nas placas e, portanto, ele deve ser contido apra não sofrer aceleração
no espaçamento entre as placas.

• Durante este processo, −123µJ de trabalho é realizado sobre o dielétrico pelas


forças de contenção.

60
• Para remover o dielétrico do espaço entre as placas, +123µJ deve ser realizado
sobre ele e este trabalho é armazenado como energia potencial nos capacitores.

Exemplo 3: Se consideramos o mesmo sistema do item anterior, só que agora o dielétrico
é inserido lentamente em um dos capacitores enquanto a bateria permanece conectada.
Determine a) a carga em cada capacitor, e b) a energia total armazenada nos capacitores,
e c) o trabalho realizado pela bateria durante o processo de inserção.
a) Como a bateria continua conectada, com a inserção do dielétrico a ddp nos capaci-
tores permanece 12V . Logo, as cargas nos capacitores são

Q0 = C ∆V = (2µF) (12V ) = 24µC
1 1
(2.68)
Q0 = C0 ∆V = (5µF) (12V ) = 60µC
2 2

b) A energia total armazenada nos capacitores após a inserção do dielétrico é

Q01 ∆V Q02 ∆V  ∆V
U = U10 +U20
= + = Q01 + Q02
2 2 2
(12V )
= (24µC + 60µC) = 504µJ (2.69)
2
c) O trabalho realizado pela bateria durante o processo de inserão é a variação da energia
(durante este processo)

W = −∆U → W = − U f −U0 = − (504µJ − 288µJ) = 216µJ (2.70)

lembre que a energia total do sistema U0 = 288µJ foi calculada no item anterior.

61
Parte III

Corrente elétrica e circuitos


3 Corrente elétrica e circuitos de corrente contı́nua
Nos capı́tulos anteriores, tratamos da eletrostática, i.e. cargas em repouso. Neste
capı́tulo, iniciamos o estudo de correntes elétricas, i.e. de cargas em movimento.
Embora uma corrente elétrica seja um fluxo de cargas em movimento, nem todas as
cargas em movimento consituem uma corrente elétrica.
Quando dizemos que uma corrente elétrica passa através de uma determinada su-
perfı́cie, é porque deve existir um fluxo lı́quido de cargas através daquela superfı́cie.
Podemos esclarecer isto a partir de:

• Os elétrons de condução num pedaço de fio de cobre isolado estão em movimento


caótico com rapidez da ordem de 106 m/s. Se passamos um plano hipotético através
do fio, os elétrons de condução passarão através dele em ambos os sentidos numa
taxa de muitos bilhões por segundo. Contudo, não haverá transporte lı́quido de
carga, e assim, não haverá corrente.

• Mas se ligarmos as extremidades do fio a uma bateria, conduziremos o fluxo num


sentido, de modo que haverá então um transporte lı́quido de carga e consequente-
mente uma corrente elétrica.

3.1 Corrente e o movimento de cargas


Corrente elétrica é a taxa de fluxo de carga através de uma superfı́cie – tipicamente a
seção transversal de um fio condutor.

62
Se ∆Q é a carga que flui através da área da seção transversal A, no tempo ∆t , a corrente
(ou corrente média) é definida como a carga nesta área por unidade de tempo

∆Q
I= (3.1)
∆t
Agora, se a razão na qual o fluxo de carga varia com o tempo, então a corrente também
varia com o tempo; portanto definimos a corrente instantânea Iins como o limite diferencial
da corrente média
dQ
Iint = (3.2)
dt
Todavia, vamos considerar neste desenvolvimento a condição de estado estacionário (i.e.
a corrente não é uma função do tempo). Sob esta condição de estado estacionário, a
cada elétron que entrar no condutor por uma extremidade, outro elétron deve sair pela
outra extremidade, tal que tenhamos um fluxo constante ou ainda que a carga lı́quida seja
conservada.
A unidade de corrente no SI é o ampére (A)

1A = 1C/s (3.3)

Embora a corrente seja um escalar, representamos uma corrente num fio por uma seta
para indicar o sentido em que as cargas estão se movendo.
Em geral desenhamos o sentido da corrente obedecendo à seguinte convenção histórica:
a seta da corrente é desenhada no sentido em que se moveriam os portadores positivos.
Por convenção:
• o sinal da corrente é positivo se a corrente é devida a cargas positivas se movendo
no sentido positivo, ou a cargas negativas se movendo no sentido negativo.

• a corrente é negativa se ela é devida a cargas positivas se movendo no sentido nega-


tivo ou a cargas negativas se movendo no sentido positivo (i.e. a direção da corrente
é oposta à direção do fluxo de elétrons).

3.2 Densidade de corrente


Em um fio metálico, o movimento de elétrons livres é bastante complexo.

63
• Quando não há campo elétrico no fio, os elétrons livres se movem em sentidos
aleatórios com velocidades (relativamente grandes) da ordem de 106 m/s.

• Como os vetores velocidades dos elétrons estão orientados aleatoriamente, a velo-


cidade média é zero.

• Agora, quando um campo elétrico aplicado, o campo exerce uma força −e~E em
cada elétron livre, variando sua velocidade no sentido oposto ao do campo.

• O resultado lı́quido da aceleração e dissipação de energia (por colisões dos elétrons


com os ı́ons da rede no fio) é que os elétrons deslocam-se ao longo do fio com
uma pequena velocidade média, dirigida no sentido oposto ao do campo elétrico,
chamada de velocidade de deriva.

Seja n :

• a densidade de número de portadores de carga (por unidade de volume em um fio


condutor de seção transversal A).

Considere que cada partı́cula tenha uma carga q e se mova no sentido positivo com uma ra-
pidez de deriva vd . Durante o intervalo de tempo ∆t, as partı́culas percorrem uma distância
vd ∆t, logo todas as partı́culas no volume Avd ∆t passam pelo elemento de área.
Logo, número de partı́culas neste volume é nAvd ∆t e a carga total no volume é

∆Q = qnAvd ∆t (3.4)

64
e a corrente é portanto
∆Q
I= = qnAvd (3.5)
∆t

• Esta equação pode ser usada para determinar a corrente devida ao fluxo de qualquer
espécie de partı́cula carregada.

• Se a corrente é o resultado do movimento de mais de uma espécie de carga móvel,


então a corrente total é a soma das correntes para cada uma das espécies individuais
de cargas móveis.

Algumas vezes, estamos interessados na corrente I de um condutor particular (informação


global). Em outras ocasiões, nosso interesse se volta para o fluxo de carga em um ponto
particular no interior de um condutor (informação local).
Um portador de carga (positiva) num determinado ponto fluirá no sentido do campo
elétrico ~E naquele ponto. A fim de descrever esse fluxo, introduzimos a densidade de

65
~ uma grandeza vetorial cuja intensidade é a corrente por unidade de área,
corrente J,

I
J= → J~ = qn~vd (3.6)
A

A corrente através de uma superfı́cie S é definida como o fluxo do vetor densidade de


corrente através da superfı́cie, i.e.
Z
I= ~ n̂dA
J. (3.7)
S

No caso particular de uma superfı́cie plana e em que a densidade de corrente J~ é


uniforme, então a corrente/fluxo pode ser expresso por
Z
I= ~ n̂dA = JA cos θ
J. (3.8)
S

Então 
se θ < 90◦ , a corrente I é positiva
se θ > 90◦ , a corrente I é negativa

A seta com o sinal positivo próximo a cada fio na figura indica a escolha para o sentido
de n̂ nas superfı́cies transversais.

66
Exemplo 1: O fio usado para experimentos em laboratórios para estudantes é geral-
mente feito de cobre e tem raio de 0, 815mm. a) Estime a carga total dos elétrons livres
em cada metro deste fio conduzindo uma corrente que tem módulo igual a 1, 0A. Con-
sidere que haja um elétrons livre por átomo. b) Calcule a rapidez de deriva dos elétrons
livres.
a) Se há um elétron livre por átomo, a densidade de número de elétrons livre n é igual
à de átomos, i.e. n = na .
A densidade de número de átomos na está relacionada à densidade de massa ρm , ao
número de avogrado NA e à massa molar M

ρm NA
na = (3.9)
M

Para o cobre, temos que ρm = 8, 93g/cm3 e M = 63, 5g/mol, logo

8, 93g/cm3 6, 02 × 1023 átomos/mol


 
ρm NA
na = = = 8, 47 × 1028 átomos/m3
M (63, 5g/mol)
(3.10)
A densidade de carga dos elétrons livres é igual à densidade de número de elétrons mul-
tiplicada pela carga
  
−19
ρe = −en = −ena = − 1, 6 × 10 C 8, 47 × 10 1/m = −1, 36 × 1010C/m3
28 3

(3.11)

67
Por fim, a carga é a densidade de carga multiplicada pela volume

Q = ρeV = ρe LA →
   2
2 10 3 −4
Q/L = ρe A = ρe πr = −1, 36 × 10 C/m π 8, 15 × 10 m (3.12)
= −2, 8 × 104C/m (3.13)

b) A fim de calcular a velocidade de deriva usamos

I I I (−1, 0C/s)
I = qnAvd → vd = =− = = 4
= 3, 5×10−2 mm/s (3.14)
qnA enA Q/L (−2, 8 × 10 C/m)

O sinal negativo da corrente nos diz que as cargas negativas estão se movimentado da
esquerda pra direita, sentido que daria uma corrente positiva se as cargas fossem positivas.

Exemplo 2: A rapidez de deriva dos elétrons móveis no fio no exemplo anterior é


muitı́ssima pequena. Se os elétrons se movem ao longo dos fios com uma rapidez tão
baixa, por que a luz de uma lâmpada no teto acende instantaneamente quando alguém
aciona o interruptor na parede?

• Sempre há um número muito grande de elétrons de condução através de um fio


metálico.

• Portanto, eles começam a se mover ao longo de todo o comprimento do fio quase


imediatamente quando o interruptor é acionado.

• O transporte de uma quantidade significativa de elétrons em um fio é feito não por


poucos elétrons se movimentando rapidamente no fio, mas por um número muito
grande de elétrons se movendo lentamente no fio.

• Cargas superficiais são estabelecidas nos fios e elas produzem um campo elétrico.
É este campo elétrico produzido por estas cargas que guia os elétrons de condução
através do fio.

Exemplo 3: Em certo acelerador de partı́culas, uma corrente de 0, 50mA é conduzida


por uma feixe de prótons de energia 5, 0MeV que tem um raio igual a 1, 5mm. a) Deter-

68
mine a densidade de número de prótons no feixe. b) Se o feixe atinge um algo, quantos
prótons o atingem em 1, 0s?
a) A densidade de número de prótons está relacionada com

I
I = qnAvd → n p =
qAvd

podemos determinar a rapidez dos prótons a partir de sua energia cinética


s s
m p v2d

2K 2 5, 0 × 106 eV (1, 6 × 10−19 J)
K= → vd = = = 3, 09 × 107 m/s
2 mp (1, 67 × 10−27 kg) (1eV )
(3.15)
por fim, a densidade de número de prótons é

0, 50 × 10−3 A

I
np = = 2
= 1, 4×1013 prótons/m3
qAvd (1, 6 × 10 C) π (1, 5 × 10 m) (3, 09 × 10 m/s)
−19 −3 7
(3.16)
b) O número de prótons N que atinge o alvo em 1, 0s pode ser calculado a partir da carga
que atinge o alvo em um intervalo de tempo ∆t é a corrente multiplicada pelo tempo:
∆Q = I∆t.
Ademais, sabemos que a carga total ∆Q pode ser escrita em termos do número N e a
carga de cada próton q como ∆Q = Nq. Igualando as duas equações acima, temos

0, 50 × 10−3 A (1, 0s)



I∆t
I∆t = Nq → N = = −19
= 3, 1 × 1015 prótons (3.17)
q (1, 6 × 10 C)

3.3 Resistência e lei de Ohm


A corrente em um condutor é conduzida por um campo elétrico ~E no interior do
condutor, o qual exerce uma força q~E nas cargas livres.
(Em equilı́brio eletrostático, o campo elétrico deve ser zero no interior de um condutor,
mas quando há uma corrente, o condutor não estará mais em equilı́brio eletrostático.)
As cargas livres se deslocam em movimento de deriva ao longo do condutor, guiadas
pelas forças exercidas pelo campo elétrico.

• Se as únicas forças nas cargas livres fossem as de origem elétrica, então a rapidez
das cargas aumentaria indefinidamente.

69
• Entretanto, isto não acontece porque os elétrons livres interagem com os ı́ons da
rede que constitui o metal e as forças de interação se opõem ao movimento de
deriva destes elétrons.

A figura a seguir mostra um segmento de fio com comprimento ∆L, seção transversal de
área A com uma corrente I.

Como a direção e o sentido do campo elétrico apontam para a região de menor poten-
cial, o potencial no ponto a é maior que no ponto b (Va > Vb ).
Vamos considerar apenas a condução nos metais, como o cobre. A análise seguirá o
“modelo do elétron livre”, onde assumi-se que os elétrons de condução podem mover-se
livremente através do volume da amostra, como as moléculas de um gás confinado num
recipiente. Supomos ainda que os elétrons não colidem uns com os outros, mas somente
com os átomos do metal.
Quando a ddp sobre o material é nula, os elétrons percorrem caminhos aleatórios com
rapidez média de < v >= 1, 6 × 106 m/s (à temperatura ambiente). Como essa rapidez
é muito grande, e a quantidade de elétrons livres por m3 também o é n ∼ 1029 , o tempo
entre colisões entre os elétrons livres e os átomos (da rede) é minúsculo τ = 3 × 10−14 s.
Agora, quando estabelecemos uma ddp não nula sobre o material, um campo elétrico
~E exercerá força sobre cada uma das cargas livres F = qE. E devido a esta força teremos
o movimento de deriva das cargas e consequentemente a corrente elétrica. (Lembre que
cargas positivas vão da região de maior potencial, para o de menor potencial, enquanto
as cargas negativas tem o movimento em sentido oposto; o sentido da corrrente elétrica
é definida por convenção, como no sentido do movimento de cargas positivas). Mas
agora, como podemos estabelecer a relação entre a ddp aplicada e a corrente gerada?

70
Lembre que I = vd Ane, logo precisamos determinar vd para cada caso em termos dos
dados do problema.
A fim de determinar a rapidez de deriva que as cargas livres adquirem, considere-
mos que F = eE a magnitude da força experimentada por cada carga, logo a aceleração
adquirida pela carga é
F eE
∑ F = me a → a = me = me (3.18)

Após cada colisão dos elétrons com os átomos, eles começarão seu movimento de
deriva novamente, sem “lembrar” de seu movimento pré-colisão. Isto quer dizer que po-
demos assumir que, entre colisões, eles têm uma aceleração constante, e que resultará
numa rapidez média vd = aτ, sendo tau o tempo médio entre colisões (que é uma cons-
tante, e depende somente das caracterı́sticas do material)! Portanto, em qualquer instante,
as cargas terão em média a rapidez

eEτ
vd = aτ = (3.19)
me

Lembremos que para um campo ~E uniforme V = Ed, logo

eV τ
vd = (3.20)
me `

em que V é a ddp aplicada sobre o material, enquanto ` é o comprimento do fio condutor.


Para o caso de um fio de cobre, simplificando V = 1V e ` = 1m,

(1, 6 × 10−19C)(1V )(3 × 10−14 s)


vd = −31
= 5 × 10−3 m/s ∼ 0, 5cm/s (3.21)
(9, 11 × 10 kg)(1m)

Vemos então que os elétrons têm uma rapidez extremamente baixa, e que demoraria 3, 3s
para percorrer todo o fio; e isto segue da conservação da corrente! (ideia de FLUXO).
Agora, substituindo este resultado na expressão da corrente, temos

e2 nτ
   
eV τ VA
I = vd Ane → I = Ane → I = (3.22)
me ` me `

Note que o termo entre parênteses depende apenas das caracterı́sticas/propriedades do

71
material em questão, a esta quantidade damos o nome de condutividade elétrica

e2 nτ
σ= (3.23)
me

pois, se aumentamos σ , maior será a corrente, ou seja melhor condutor o material é.
Podemos ainda introduzir a resistividade do material como o inverso da condutividade,
i.e. ρ = 1/σ . Portanto, temos que a corrente pode escrita
   
A ρ`
I= V →V = I (3.24)
ρ` A

É fácil identificar que o termo entre parênteses depende apenas das caracterı́sticas do
condutor, a isto damos o nome de resistência elétrica do condutor

ρ`
R= (3.25)
A
Desta forma, encontramos a relação de linearidade

V = IR (3.26)

e dizemos que materiais que satisfazem tal relação, obedecem a lei de Ohm. Podemos
enuncı́a-la como

• A lei de Ohm afirma que a corrente fluindo através de um dispositivo é diretamente


proporcional ao potencial aplicado ao dispositivo.

• Ou ainda, que um dispositivo condutor obedece à lei de Ohm quando sua resistência
é independente do valor e da polaridade do potencial aplicado.

A resistência do segmento também pode ser vista como a razão entre a queda de
potencial e a corrente
∆V
R= (3.27)
I
A unidade de resistência no SI, o volt por ampère, é chamada de ohm (Ω)

1Ω = 1V /A (3.28)

72
Para a grande maioria dos materiais, a resistência de uma amostra do material não depende
da queda de potencial nem da corrente. Todavia, há uma classe de materiais em que a sua
resistência depende da queda de potencial aplicada.

Em alguns casos, estamos interessados numa descrição geral de substâncias e não de


um objeto em particular. Nesses casos, é necessário considerar o campo elétrico ~E e a
densidade de corrente J~ num dado ponto ao invés do potenial V e corrente I através de
um segmento. O que resulta que em vez da resistência R, tratamos da resistividade ρ do
material
E
ρ= (3.29)
J
que ainda pode ser escrita numa forma vetorial

~E = ρ J~ (3.30)

que é uma versão alternativa da lei de Ohm. Esta nova versão permite enunciar a lei de
Ohm numa terceira forma:

• Um material condutor obedece à lei de Ohm quando sua resistividade é indepen-


dente do módulo, da direção e do sentido do campo elétrico aplicado.

De fato, a resistividade de qualquer metal depende da temperatura.


Para tais relações, podemos escrever uma expressão empı́rica bastante satisfatória para

73
a resistividade como função da temperatura

(ρ − ρ0 ) /ρ0
ρ − ρ0 = ρ0 α (T − T0 ) → α = (3.31)
T − T0

onde ρ0 é a resistividade à temperatura T0 (em geral 293K) e ρ é a resistividade à tempe-


ratura T .

74
3.4 Energia e potência em circuitos elétricos
• Quando há um campo elétrico em um condutor, os elétrons livres ganham energia
cinética devido ao trabalho realizado sobre eles pelo campo.

• Entretanto, o estado estacionário é rapidamente atingido enquanto o ganho em


energia cinética é continuamente dissipado em energia térmica no condutor por
interações entre os elétrons livres e os ı́ons da rede do material.

• Este mecanismo para aumento da energia térmica de um condutor é chamado de


aquecimento Joule.
Considere o segmento de fio de comprimento L e seção transversal com área A. O fio con-
duz uma corrente estacionária que consideraremos como carga livre positiva se movendo
para a direita.
• Considere agora a carga livre Q inicialmente no segmento. Durante o intervalo de
tempo ∆t, esta carga sofre um pequeno deslocamento para a direita.

• Este deslocamento é equivalente a uma quantidade de carga ∆Q sendo movida da


extremidade esquerda, onde ela tinha uma energia potencial ∆QVa , para a extremi-
dade direita, onde ela tem uma energia potencial ∆QVb .
A variação resultante na energia potencial de Q é

∆U = ∆Q (Vb −Va ) (3.32)

Mas como Va > Vb isto representa uma perda lı́quida na energia potencial. A perda em
energia potencial é então
− ∆U = ∆QV (3.33)

em que V = Va −Vb é a queda de potencial no segmento na direção e sentido da corrente.


A taxa de perda de energia potencial é

∆U ∆Q
− = V (3.34)
∆t ∆t
e quando tomamos o limite de ∆t → 0, obtemos

dU dQ
− = V = IV (3.35)
dt dt
75
sendo I = dQdt a corrente instantânea.
A taxa de decréscimo de energia potencial é a potência P entregue ao segmento con-
dutor (como trabalho é uma medida da energia transferida por uma força, a potência é a
taxa de transferência de energia P = dW dU
dt = − dt ), e é igual à taxa de dissipação de energia
potencial elétrico no segmento
P = IV (3.36)
Se V está em volts e I está em ampères, a potência estará em watts. Esta equação pode
ser aplicada a qualquer dispositivo em um circuito.

• A taxa na qual a energia potencial é entregue ao dispositivo é o produto da queda


de potencial no dispositivo no sentido da corrente e pela corrente através do dispo-
sitivo.

• Em um condutor (o resistor é um condutor), a energia potencial é dissipada como


energia térmica.

Por fim, usando V = IR, podemos reescrever

2 V2
P = IV = I R = (3.37)
R
76
3.5 Trabalho, energia e Fem
Para manter uma corrente estacionária em um condutor/circuito, precisamos de um
fornecimento constante de energia elétrica.

• Um dispositivo que fornece energia elétrica para um circuito é chamado de uma


fonte de fem. (força eletromotriz).

• Exemplos de fontes de fem são uma bateria, que converte energia quı́mica em ener-
gia elétrica, e um gerador, que converte energia mecânica em energia elétrica.

• Uma fonte de fem realiza trabalho não-conservativo na carga que passa através
dela, aumentando ou diminuindo a energia potencial da carga.

• O trabalho por unidade de carga é chamado fem E = dW /dq da fonte. A unidade


de fem é o volt, a mesma da ddp.

• Uma bateria ideal é uma fonte de fem que mantém uma ddp constante entre seus
dois terminais, independentemente da corrente através da bateria (i.e. não oferece
qualquer resistência interna ao movimento da carga de um terminal para o outro).

• A ddp entre os terminais de uma bateria ideal é igual à magnitude da fem da bateria.

Representamos um circuito simples, formado por uma resistência R conectada a uma


baterial ideal (Va > Vb ).

Observe que no interior da fonte de fem, a carga flui da região onde sua energia po-
tencial é baixa para uma região onde seu potencial é alto, ganhando energia potencial
elétrica.

77
• Quando uma carga ∆Q flui através de uma fonte ideal de fem E sua energia poten-
cial aumenta pela quantidade ∆QE.

• A carga então flui através do resistor, onde sua energia potencial é dissipada como
energia térmica.

A taxa na qual a energia é fornecida pela fonte de fem é a potência da fonte

∆W ∆Q
P= = E = IE (3.38)
∆t ∆t

Em uma bateria real, a ddp nos terminais da bateria não é simplesmente igual à fem da
bateria.
Considere um circuito formado por uma bateria real e um resistor variável. Se a
corrente variar através da variação da resistência R e for medida a tensão dos terminais da
bateria V , será constatado que ela diminui com o aumento da corrente, como se houvesse
um resistor no interior da bateria.
Portanto, podemos considerar que uma bateria real consiste em uma fonte ideal de
fem E e um resistor com resistência r, chamado de resistência interna da bateria.
A resistência interna é devida aos condutores usados na construção da bateria real que
não são perfeitos e apresentam uma pequena resistência.
Se a corrente no circuito é I, o potencial no ponto a está relacionado ao potencial no
ponto b por
Va −Vb = E − Ir (3.39)
A tensão nos terminais da bateria diminui linearmente com a corrente. Agora, a queda de
potencial no resistor R é IR e

IR = Va −Vb = E − Ir

logo, resolvendo para a corrente I


E
I= (3.40)
R+r
Se a bateria está conectada como no diagrama acima, a tensão nos terminais é menor que
a fem da bateria devido ao decréscimo no potencial devido à resistência interna da bateria.

78
Exemplo 1 Um resistor de 11Ωé conectado a uma bateria de fem 6V e resistência in-
terna 1Ω. Determine a) a corrente, b) a tensão dos terminais da bateria, c) a potência
fornecida pelas reações quı́micas na bateria, d) a potência entregue ao resistor externo e
e) a potência entregue à resistência interna da bateria. f) Se a bateria é classificada como
150A.h, quanta energia ela armazena?
a) Calculamos a corrente a partir de

E 6V
I= = = 0, 5A (3.41)
R + r 11Ω + 1Ω

b) Logo, a tensão é

Va −Vb = E − Ir = 6V − (0, 5A) (1Ω) = 5, 5V (3.42)

c) a potência fornecida pelas reações quı́micas no interior da bateria é

P = IE = (6V ) (0, 5A) = 3W (3.43)

d) a potência entregue à resistência externa

Pe = I 2 R = (0, 5A)2 11Ω = 2, 75W (3.44)

e) a potência entregue à resistência interna

Pi = I 2 r = (0, 5A)2 1Ω = 0, 25W (3.45)

f) a energia armazenada é a fem da bateria multiplicada pela carga total que a bateria pode
entregar  
3600C
W = QE = 150A.h (6V ) = 3, 24MJ
A.h
lembrando que 1A = 1C/s.
Dos 3W de potência fornecida pelas reações quı́micas da bateria, 2, 75W são entregues
ao resistor externo e 0, 25W é dissipado devido à resistência interna da bateria.

Exemplo 2 Para uma bateria com fem igual a E e resistência interna igual a r, que valor
de resistência externa R deve ser colocado nos terminais para obter a potência máxima

79
fornecida ao resistor?
E
Usando I = R+r podemos eliminar I de P = I 2 R, logo
 2
E
P= R (3.46)
R+r

e assim a potência P pode ser vista como uma função de R e das constantes E e r. Calcu-
lando a derivada de P em relação à R, e igualando-a a zero, encontramos
( 2 )  3  2
dP d E 1 E
= R = −2E 2 R+ =0 (3.47)
dR dR R+r R+r R+r

assim  
1
2 R=1→R=r (3.48)
R+r

3.6 Combinação de resistores


A análise de um circuito pode ser, muitas vezes, simplificada substituindo uma combinação
de dois ou mais resistores por um único resistor equivalente que tenha a mesma corrente
ou queda de potencial que a combinação de resistores.
A substituição de uma combinação de resistores por um resistor equivalente é sem-
lhente à substituição de uma combinação de capacitores por um capacitor equivalente.

80
3.6.1 Resistores em série

• Dizemos que uma combinação de resistências está em série quando a queda de


potencial aplicada através da combinação é a soma das quedas de potencial através
de cada uma das resistências.

V = V1 +V2 = IR1 + IR2 = I (R1 + R2 ) (3.49)


em que I é a corrente em cada resistor. Logo, a resistência equivalente Req que corres-
ponde à mesma queda de potencial quando conduz a mesma corrente é

n
V
Req = → V = IReq = I (R1 + R2 ) → Req = R1 + R2 → Req = ∑ Ri (3.50)
I i=1

3.6.2 Resistores em paralelo

• Dizemos que uma combinação de resistências está em paralelo quando a queda de


potencial aplicada através de cada uma das resistências é igual à queda de potencial
através da combinação.
 
V V 1 1
I = I1 + I2 = + =V + (3.51)
R1 R2 R1 R2
em que V é a queda de potencial em cada resistor. Logo, a resistência equivalente Req

81
para a qual a mesma corrente requer a mesma queda de potencial é
  n
V 1 1 1 1 1 1 1
I= =V + → = + → =∑ (3.52)
Req R1 R2 Req R1 R2 Req i=1 Ri

Embora ruins, os resistores são na realidade condutores. Somar mais resistores em para-
lelo significa adicionar mais caminhos condutores para o fluxo de cargas, o que diminui a
resistência equivalente da combinação.

Exemplo 25-8: Considere o circuito que consiste de 6 resistores mostrado na figura


abaixo. Identifique todas as combinações de resistores em paralelo e em série.

82
• Se I1 é a corrente que sai da bateria e passa por R1 , também é a corrente I1 que passa
por R6 em direção à bateria. Logo, os resistores R1 e R6 estão associados em série.
A corrente varia nas junções b, c e d.

• Como os terminais dos resistores R3 e R4 estão nos potenciais Vc e Vd , eles estão


associados em paralelo.

1. Além disso: o resistor R5 está em série com a associação em paralelo formada pelos
resistores R3 e R4 .

2. O resistor R2 está em paralelo com a associação formada pelos resistores R3 , R4 e


R5 .

3. O resistor R6 , a bateria, e o resistor R1 e a associação formada pelos resistores R2 ,


R3 , R4 e R5 estão em série.

Exemplo 2: resistores em paralelo Uma bateria ideal aplica uma ddp de 12V na
associação dos resistores R1 = 4Ω e R2 = 6Ω. Determine a) a resistência equivalente,
b) a corrente total, c) a corrente em cada resistor, d) a potência entregue em cada resistor
e e) a potência fornecida pela bateria.

a) a resistência equivalente da associação em paralelo

2
1 1 1 1 1 1 5 12Ω
=∑ = + = + = → Req = = 2, 4Ω (3.53)
Req i=1 Ri R1 R2 4Ω 6Ω 12Ω 5

b) a corrente total
V 12V
I= = = 5A (3.54)
Req 2, 4Ω

83
c) a corrente em cada resistor

V 12V
I1 = = = 3A (3.55)
R1 4Ω

V 12V
I2 = = = 2A (3.56)
R2 6Ω
d) a potência entregue em cada resistor

P1 = I1V = (3A) (12V ) = 36W (3.57)

P2 = I2V = (2A) (12V ) = 24W (3.58)


e) por se tratar de uma bateria ideal, a potência fornecida por ela é

P = IE = (5A) (12V ) = 60W (3.59)

Veja que a potência fornecida pela bateria é igual à potência entregue aos dois resistores.

Exemplo 3: resistores em série Uma bateria ideal aplica uma ddp de 12V na associação
dos resistores R1 = 4Ω e R2 = 6Ω. Determine a) a resistência equivalente, b) a corrente
total, c) a queda de potencial em cada resistor, d) a potência entregue em cada resistor e
e) a potência fornecida pela bateria.

a) a resistência equivalente em série

2
Req = ∑ Ri = R1 + R2 = 4Ω + 6Ω = 10Ω (3.60)
i=1

84
b) a corrente total
V 12V
I= = = 1, 2A (3.61)
Req 10Ω
c) a queda de potencial em cada resistor

V1 = IR1 = (1, 2A) (4Ω) = 4, 8V (3.62)

V2 = IR2 = (1, 2A) (6Ω) = 7, 2V (3.63)


d) a potência entregue em cada resistor

P1 = IV1 = (1, 2A) (4, 8V ) = 5, 8W (3.64)

P2 = IV2 = (1, 2A) (7, 2V ) = 8, 6W (3.65)


e) por se tratar de uma bateria ideal, a potência fornecida por ela é

P = IE = (1, 2A) (12V ) = 14, 4W (3.66)

Veja que a potência fornecida pela bateria é igual à potência entregue aos dois resistores.

Exemplo 4: resistores em série e em paralelo Considere o circuito descrito na figura


abaixo. Quando a chave S1 está aberta e a chave S2 está fechada, determine a) a resistência
equivalente do circuito, b) a corrente total, c) a queda de potencial em cada resistor, d)
a corrente em cada resistor. Agora, se a chave S1 é fechada, determine e) a corrente no
resistor de 2Ω. Se a chave S2 está aberta (enquanto S1 está fechada), determine f) a queda
de potencial no resistor de 6Ω e no de 12Ω.

85
a) determinamos primeira a resistência equivalente da associação em paralelo

2
1 1 1 1 3
=∑ = + = → Req = 4Ω (3.67)
Req i=1 Ri 12Ω 6Ω 12Ω

o que implica que agora temos uma associação em série, o que nos dá uma resistência
equivalente total do circuito igual a

2
R0eq = ∑ Ri = 4Ω + 2Ω = 6Ω (3.68)
i=1

b) a corrente total
V 18V
I= = = 3A (3.69)
Req 6Ω
c) a queda de potencial em cada resistor

V1 = IR1 = (3A) (2Ω) = 6V (3.70)

a queda de potencial nos outros dois resistores tem o mesmo valor, pois são uma associação
em paralelo. Logo, podemos determiná-la a partir de

VP = IReq = (3A) (4Ω) = 12V (3.71)

d) a corrente em cada resistor

VP 12V
I2 = = = 2A (3.72)
R2 6Ω

VP 12V
I3 = = = 1A (3.73)
R3 12Ω
e) se a chave S1 é fechada, logo a corrente seguirá o caminho de menor resistência, assim
a queda de potencial no resistor de 2Ω é

V1 = 0

f) Se a chave S2 está aberta, logo a corrente seguirá o único caminho disponı́vel, assim a

86
queda de potencial no resistor de 6Ω é

V2 = 0

enquanto a queda de potencial no resistor de 12Ω é

V3 = 18V

Exemplo 5: queimando o fusı́vel Numa noite de estudos, você e alguns amigos, de-
cidem que café, mistos quentes e pipocas são uma boa pedida. Você liga a torradeira,
coloca as pipocas no microondas e o liga. Como seu apartamento está em um edifı́cio
antigo, você sabe que o fusı́vel pode queimar quando você liga muitos aparelhos elétricos
ao mesmo tempo. Você deve ligar a cafeteira? Analisando os aparelhos, você descobre
que a torradeira consome 900W , o microondas 1200W , e a cafeteira 600W . Você sabe
que seu apartamento tem fusı́veis de 20A.

• Primeiramente, podemos considerar que os circuitos domésticos são ligados em


parelelo, i.e. compartilhando a mesma tensão, mas dividindo a corrente, pois isso
não afeta os outros equipamentos do circuito. A tensão doméstica no Brasil é 120V
.

• Podemos então determinar a corrente em cada dispositivo, e então somar a corrente


total e verificar se ela se compara à corrente do fusı́vel.

Ptorr 900W
Itorr = = = 7, 5A
V 120V
Pmicro 1200W
Imicro = = = 10A
V 120V
Pca f e 600W
Ica f e = = = 5A
V 120V
logo a corrente total no fusı́vel será de

I f us = 7, 5A + 10A + 5A = 22, 5A (3.74)

uma corrente está acima dos 20A do fusı́vel.


Podemos ver o problema de um outro ponto de vista.

87
• A potência máxima que pode ser entregue por um circuito de 120V que tem um
fusı́vel de 20A é, Pmáx = ImáxV = (20A) (120V ) = 2400W .

• Ademais, a potência necessária para ligar os três aparelhos simultaneamente é


900W + 1200W + 600W = 2700W , que é 300W maior que o máximo que o cir-
cuito pode entregar.

Exemplo 6: Um cubo de resistores: consideração de simetria A figura abaixo mostra


um cubo feito de 12 resistores, cada um deles de resistência R. Determine a resistência
equivalente R12 desta combinação quando os terminais de um dispositivo de fem são
ligados aos pontos 1 e 2.

• A chave para resolver o problema de uma maneira mais simples, é notar que os
pontos 3 e 6 têm o mesmo potencial, assim como os pontos 4 e 5.

• Quando num circuito dois pontos têm o mesmo potencial, as correntes no circuito
não mudarão se os ligarmos por um fio.

88
• Não existirá corrente no fio porque não existe diferença de potencial entre os seus
extremos. Então, do ponto de vista da eletricidade, os pontos 3 e 6 forma um único
ponto, assim como os pontos 4 e 5.

• Tal fato nos permite redesenhar o cubo, como na figura b). A partir deste ponto,
reduzimos o circuito usando as regras para resistores em série e em paralelo.

1. Inicialmente substituı́mos as cinco associações de resistores em paralelo por seus


equivalentes, cada um deles de resistência R/2. figura c)

2. Em seguida, somamos os três resistores que estão em série na malha da direita,


obtendo a resistência equivalente de 2R. figura d)

3. Em seguida, somamos os dois resistores em paralelo na malha da direita, 1/Req =


1/2R + 2/R → Req = 2R/5. figura e)

4. Em seguida, somamos os três resistores que estão em série R/2 + R/2 + 2R/5 =
7R/5. figura f)

5. Por fim, somamos os dois resistores em paralelo, 1/R12 = 1/R + 5/7R → Req =
7R/12. figura g)

89
3.7 Leis de Kirchhoff
Há muitos circuitos que não podem ser analisados simplesmente substituindo combinações
de resistores por uma resistência equivalente. Por exemplo,

• Os dois resistores R1 e R2 não estão em paralelo (a queda de potencial não é a


mesma nos resistores devido à fonte de fem E2 ).

• Os dois resistores R1 e R2 também não estão em série (a corrente não é a mesma,


há uma junção no fio que os conecta).

Duas regras, chamadas de leis de Kirchhoff, se aplicam a este e a qualquer outro circuito

1. Ao percorrer qualquer malha fechada, a soma algébrica das variações no po-


tencial ao longo da malha deve ser igual a zero.

2. Em qualquer junção em um circuito onde a corrente pode se dividir, a soma


das correntes que chegam na junção deve ser igual à soma das correntes que
saem da junção.

A primeira lei de Kirchhoff, chamada de lei das malhas, segue diretamente da presença
de um campo conservativo ~E. De fato, a lei das malhas de Kirchhoff se aplica apenas à
parte conservativa do campo elétrico.
Dizer que um campo é conservativo significa dizer que
I
~E.d~` = 0 (3.75)
C

onde a integral é calculada em qualquer curva fechada C.

90
As variações no potencial estão relacionados com o campo elétrico a partir de ∆V =
Rb
− a ~E.d~`. Portanto, a equação acima significa que a soma das variações no potencial em
qualquer trajetória fechada é igual a zero.
A segunda lei de Kirchhoff, chamada de lei dos nós, segue da conservação da carga.
A figura abaixo mostra a juntção de três fios conduzindo corrente I1 , I2 e I3 . Como a
carga não é criada nem acumulada enste ponto, a conservação da carga conduz à lei dos
nós que, para este caso é
I1 = I2 + I3 (3.76)

3.7.1 Circuitos de malhas simples

Antes de começarmos a discutir alguns exemplos do uso da lei das malhas de Kir-
chhoff, deixe-nos definir a seguinte convenção de sinais da diferença de potencial

• Como as cargas se movimentam de uma extremidade de maior potencial no resistor


para a outra extremidade de menor potencial, a ddp ∆V pelo resistor é −IR.

91
Como uma primeira aplicação, consideremos o circuito mostrado na figura abaixo, que
contém duas baterias, com resistências internas r1 e r2 , e três resistores externos. Quere-
mos determinar a corrente em termos das fems e das resistências.

Escolhemos o sentido horário para percorrer o circuito e então aplicar a lei das malhas
de Kirchhoff a partir do ponto a

(Vb −Va ) + (Vc −Vb ) + (Vd −Vc ) + (Ve −Vd ) + (Va −Ve ) = 0 (3.77)

expressando as variações no potencial em termos da corrente, das fems e das resistências


fornecidas,

(−IR1 ) + (−IR2 ) + (−E2 − Ir2 ) + (−IR3 ) + (E1 − Ir1 ) = 0 (3.78)

resolvendo esta equação para a corrente I, obtemos

E 1 − E2
I= (3.79)
R 1 + R 2 + R 3 + r1 + r2

Se E2 > E1 , obtemos um valor negativo para a corrente I, logo indicando que ela está no
sentido anti-horário.

92
Exemplo: Consideremos o mesmo circuito acima, mas agora sendo que os elementos
no circuito tenham os seguintes valores E1 = 12V , E2 = 4V , r1 = r2 = 1Ω, R1 = R2 = 5Ω
e R3 = 4Ω. a) Determine os potenciais nos pontos a até e. b) discuta a transferência de
energia no circuito.
a) A corrente no circuito é determinada a partir da equação acima

E 1 − E2 12V − 4V 8V
I= = = = 0, 5A (3.80)
R1 + R2 + R3 + r1 + r2 5Ω + 5Ω + 4Ω + 1Ω + 1Ω 16Ω

Agora, o potencial em cada ponto identificado no circuito

Va −Ve = E1 − Ir1 = 12V − (0, 5A) (1Ω) = 11, 5V (3.81)


Vb −Va = −IR1 = − (0, 5A) (5Ω) = −2, 5V (3.82)
Vc −Vb = −IR2 = − (0, 5A) (5Ω) = −2, 5V (3.83)
Vd −Vc = −E2 − Ir2 = −4V − (0, 5A) (1Ω) = −4, 5V (3.84)
Ve −Vd = −IR3 = − (0, 5A) (4Ω) = −2V (3.85)

A análise de um circuito é, geralmente, simplificada se definirmos o potencial como a


zero em um ponto conveniente do circuito.
Calculamos então o potencial nos outros pontos em relação a este. Como apenas as
ddp são importantes, qualquer ponto no circuito pode ser escolhido como tendo potencial
igual a zero.
Assim, considerendo que o potencial seja zero no ponto e, temos

Va = 11, 5V (3.86)
Vb −Va = −2, 5V → Vb = Va − 2, 5V = 11, 5V − 2, 5V = 9V (3.87)
Vc −Vb = −2, 5V → Vc = Vb − 2, 5V = 9V − 2, 5V = 6, 5V (3.88)
Vd −Vc = −4, 5V → Vd = Vc − 4, 5V = 6, 5V − 4, 5V = 2V (3.89)
Ve −Vd = −2V → Ve = Vd − 2V = 2V − 2V = 0 (3.90)

b) Calculamos a potência fornecida na fonte de fem E1 ,

PE1 = E1 I = (12V ) (0, 5A) = 6W (3.91)

93
Parte desta potência é entregue aos resistores

PR = I 2 R1 + I 2 R2 + I 2 R3 + I 2 r1 + I 2 r2
= (0, 5A)2 (5Ω + 5Ω + 4Ω + 1Ω + 1Ω)
= 0, 25A2 (16Ω) = 4W (3.92)

esta energia potencial elétrica é dissipada, e o restante da potência é usado para carregar
a bateria 2
PE2 = E2 I = (4V ) (0, 5A) = 2W (3.93)

3.7.2 Circuitos de múltiplas malhas

• Em circuitos de múltiplas malhas, muitas vezes o sentido da corrente em um ou


mais ramos do circuito não é óbvio.

• Felizmente as leis de Kirchhoff não exigem o conhecimento destes sentidos inicial-


mente.

• De fato, o oposto é verdadeiro. As leis de Kirchhoff permitem determinar os senti-


dos das correntes.

Para analisar circuitos contendo mais de uma malha, precisamos usar ambas as leis de
Kirchhoff, com a lei dos nós aplicada às junções.

94
Exemplo 1: Considere o circuito mostrado abaixo, sendo que os elementos no circuito
tenham os seguintes valores V1 = 12V , V2 = 5V , R1 = 4Ω, R2 = 2Ω e R3 = 3Ω. a)
Determine a corrente em cada ramo do circuito. b) determine a energia dissipada no
resistor R1 = 4Ω em ∆t = 3s.

• Há três correntes nos ramos, I, I1 e I2 para serem determinadas, ou seja precisamos
de três equações.

• Uma equação vem da aplicação da lei dos nós ao ponto b (ou e); As outras duas
relações são obtidas aplicando a lei das malhas em qualquer duas das três malhas
do circuito.

a) Aplicando a lei dos nós no ponto b

I = I1 + I2 (3.94)

Agora , aplicamos a lei das malhas em abcde f a

−R2 I2 −V2 − R3 (I1 + I2 ) +V1 = 0 → (R2 + R3 ) I2 +V2 −V1 + R3 I1 = 0

em seguida, aplicamos a lei das malhas em bcdeb

−R2 I2 −V2 + R1 I1 = 0 → −R2 I2 −V2 + R1 I1 = 0

95
podemos determinar I2 ao subtrairmos as equações

(R2 + R3 ) (V2 −V1 )


I2 + + I1 = 0
R3 R3
R2 I2 V2
− − + I1 = 0
R1 R1

assim
(R2 + R3 ) (V2 −V1 ) R2 I2 V2
I2 + + + =0
R3 R3 R1 R1
(2Ω + 3Ω) (−12V + 5V ) 2ΩI2 5V
I2 + + + =0
3Ω 3Ω 4Ω 4Ω
5 7 I2 5
I2 − A + + A = 0
3 3 2 4
13 13
I2 = A
6 12
I2 = 0, 5A (3.95)

Por um outro lado, podemos determinar I1 ao somarmos as equações

V2 −V1 R3 I1
I2 + + =0
(R2 + R3 ) (R2 + R3 )
V2 R1 I1
−I2 − + =0
R2 R2
e
V2 −V1 R3 I1 V2 R1 I1
+ − + =0
(R2 + R3 ) (R2 + R3 ) R2 R2
(−12V + 5V ) 3Ω 5V 4ΩI1
+ I1 − + =0
(2Ω + 3Ω) (2Ω + 3Ω) 2Ω 2Ω
7 3 5
− A + I1 − A + 2I1 = 0
5 5 2
13 39
I1 = A
5 10
I1 = 1, 5A (3.96)

96
Logo, a corrente total é

I = I1 + I2 = 1, 5A + 0, 5A = 2, 0A (3.97)

b) A potência entregue ao resistor R1 = 4Ω é

P = I 21 R1 = (1, 5A)2 (4Ω) = 9W (3.98)

logo, a energia total dissipada neste resistor durante o intervalo de tempo ∆t = 3s é

∆W = P∆t = (9W ) (3s) = 27J (3.99)

Exemplo 2: Considere o circuito mostrado abaixo, sendo que os elementos no circuito


tenham os seguintes valores V1 = 18V , V2 = 21V , R1 = 12Ω, R2 = 6Ω, R3 = 3Ω, R4 = 3Ω
e R5 = 6Ω. a) Determine a corrente em cada ramo do circuito. b) estabeleça v = 0 ao
ponto c e determine o potencial em todos os outros pontos de a a f .

a) Calculemos primeiramente a resistência equivalente dos resistores associados em


paralelo
2
1 1 1 1 3
=∑ = + = → Req = 2Ω (3.100)
Req i=1 Ri 3Ω 6Ω 6Ω
Aplicando a lei dos nós no ponto b

I = I1 + I2 (3.101)

97
Agora , aplicamos a lei das malhas em abe f a

V1 − R1 (I1 + I2 ) − R2 I1 = 0 → V1 − R1 I2 − (R1 + R2 ) I1 = 0 (3.102)

em seguida, aplicamos a lei das malhas em bcdeb



−R3 I2 +V2 − Req I2 + R2 I1 = 0 → − R3 + Req I2 +V2 + R2 I1 = 0 (3.103)

substituindo os valores

18V − 12ΩI2 − (12Ω + 6Ω) I1 = 0


− (3Ω + 2Ω) I2 + 21V + (6Ω) I1 = 0

dividindo por 1Ω

18A − 12I2 − 18I1 = 0 (3.104)


−5I2 + 21A + 6I1 = 0 (3.105)

logo, multiplicando por 3 a segunda equação e somando-as temos

18A − 12I2 − 15I2 + 63A = 0


−27I2 + 81A = 0
I2 = 3A (3.106)

logo, multiplicando por 5 a primeira equação e por 12 a segunda equação e subtraindo-as


temos

90A − 90I1 − 252A − 72I1 = 0


−162A − 162I1 = 0
I1 = −1A (3.107)

logo a corrente total


I = I1 + I2 = 3A − 1A = 2A (3.108)

98
b) O potencial em cada ponto, a partir do valor de referência V = 0 no ponto c, é

Vd −Vc = V2 = 21V → Vd = 21V (3.109)


Ve −Vd = −I2 Req = − (3A) (2Ω) = −6V → Ve = 21V − 6V = 15V (3.110)
V f −Ve = 0 → V f = Ve = 15V (3.111)
Va −V f = V1 = 18V → Va = 15V + 18V = 33V (3.112)
Vb −Va = −IR1 = − (2A) (12Ω) = −24V → Vb = 33V − 24V = 9V (3.113)
Vc −Vb = −I2 R3 = − (3A) (3Ω) = −9V → Vc = 0 (3.114)

3.8 Circuitos RC
• Um circuito contendo um resistor e um capacitor é chamado de circuito RC.

• A corrente em um circuito RC tem apenas um sentido mas a intensidade da corrente


varia com o tempo.

• Um exemplo prático de um circuito RC é o de um dispositivo de lâmpada para um


flash em uma câmera fotográfica.

• Antes de a fotografia ser tirada, uma bateria no dispositivo carrega o capacitor


através de um resistor.

• Quando o capacitor está totalmente carregado, a lâmpada está pronta para disparar.

• Quando a foto é tirada, o capacitor descarrega através da lâmpada.

• A bateria então recarrega o capacitor e um pequeno intervalo de tempo depois o


dispositivo está pronto para outra fotografia.

• Usando as leis de Kirchhoff podemos obter equações para a carga Q e para a cor-
rente I como funções do tempo para a carga e a descarga de um capacitor através
de um resistor.

3.8.1 Carregando um capacitor

Consideremos o circuito abaixo para carga de um capacitor.

99
• O capacitor está inicialmente descarregado.

• A chave, originalmente aberta, é fechada no instante t = 0.

• Imediatamente começa a fluir carga pela bateria.

Se a carga na placa à direita do capacitor no instante t é Q, a corrente no circuito é I e


o sentido horário é o positivo, então a lei das malhas de Kirchhoff fornece

Q
E − IR − =0
C
• A partir desta equação vemos que quando Q = 0, a corrente é I0 = E/R.

• A carga então aumenta e a corrente diminui.

• A carga tende a um valor máximo Q f = EC quando a corrente tende a zero.

Escolhemos o sentido positivo de maneira que, se I é positivo, Q está aumentando, logo


I = dQ
dt . Portanto

dQ EC − Q
−R + =0
dt C
dQ dt
=
EC − Q RC

assim
dQ0
Z t 0
dQ0
Z Q Z Q−EC
dt t
= → =−
0 EC − Q0 0 RC −EC Q0 RC
100
 
Q − EC t 
− τt
 
− τt

ln =− → Q (t) = EC 1 − e = Qf 1−e (3.115)
−EC RC
Ademais, a corrente é obtida como

dQ   t t E t t
I= = EC − − e− τ = e− τ = I0 e− τ (3.116)
dt τ R

Da mesma forma que a carga, a corrente decresce exponencialmente com a constante de


tempo.

Exemplo: Uma bateria de 6V tem uma resistência interna desprezı́vel e é usada para
carregar um capacitor de 2µF através de um resistor de 100Ω. Determine a) a corrente
inicial no resistor de 100Ω, b) a carga final no capacitor, c) o tempo necessário para que a
carga atinga 90% de ser valor final e d) a carga quando a corrente é a metade do seu valor
inicial.

• A carga inicialmente é zero, e portanto a tensão no resistor é igual à fem da bateria,


podemos assim aplicar a lei de Ohm.

• Depois de um longo tempo, a corrente é zero e a tensão no capacitor é igual à fem


da bateria, podemos assim aplicar a definição de capacitância.

a) a corrente inicial no resistor pode ser calculada a partir de

E 6V
I0 = = = 0, 60A = 60mA (3.117)
R 100Ω
101
b) a carga final no capacitor pode ser calculada a partir de

Q f = CE = (2µF) (6V ) = 12µC (3.118)

c) podemos calcular o tempo t para que Q = 0, 90Q f a partir de



− τt
 t
Q (t) = 0, 90Q f = Q f 1 − e → ln 0, 10 = −
τ
e
t = ln 10τ = 2, 3τ = 2, 3 (RC) = 2, 3 (100Ω) (2µF) = 0, 46ms (3.119)
d) aplicando a lei das malhas de Kirchhoff obtemos

Q
E − IR − =0
C
e, sendo que I = I0 /2

I0 RC EC Q f
EC − = Q → Q = EC − = = 6µC (3.120)
2 2 2

102
Exemplo 2: O capacitor de 6µF do circuito mostrado ao lado está inicialmente descar-
regado. Determine as correntes que passam pelos resistores de 4Ω e de 8Ω (a) Imedi-
atamente após a chave ser fechada e (b) um longo tempo após a chave ser fechada. (c)
Determine a carga no capacitor um longo tempo após a chave ser fechada.

(a) Aplicando a regra das malhas à malha externa, temos

Q0
12V − (4Ω) I4 + =0
C
Mas note que inicialmente o capacitor está descarregado, logo a tensão entre os terminais
do capacitor é nula V0 = QC0 = 0. Isso corresponde a dizer que o capacitor atua como se
houvesse um curto-circuito entre os pontos c e d– i.e. o capacitor foi substituı́do por um
fio cuja resistência é nula.
Assim
I4 = 3A

Aplicando a regra das malhas à malha à direita,

Q0
− (8Ω) I8 + = 0 → I8 = 0
C
(b) Após um longo tempo, o capacitor estará totalmente carregado (nenhuma carga fluirá
para suas placas) – neste caso o capacitor atua como um circuito aberto. Logo, aplicando
a lei das malhas à malha interna, temos

12V − (4Ω) I f − (8Ω) I f = 0

103
e
I f = 1A
(c) A fim de determinar a carga no capacitor, após ele ser completamente carregado,
podemos aplicar a lei das malhas novamente à malha à direita

Qf
− (8Ω) I f + = 0 → Q f = (8Ω) I f C = 48µC
C

3.8.2 Descarregando um capacitor

A figura abaixo mostra um capacitor de placas paralelas com carga Q0 em suas placas.
O circuito consiste em um capacitor, um resistor R e um interruptor S.
A ddp no capacitor é, inicialmente, V0 = Q0 /C.

Fechamos a chave no instante t = 0. Como agora há uma ddp no resistor, há também

104
uma corrente no resistor. Esta corrente inicial é
V0 Q0
I0 = = (3.121)
R RC
A corrente é a taxa do fluxo de carga positiva da placa positiva do capacitor para a placa
negativa através do resistor.
Se escolhermos o sentido positivo como o horário, então a corrente é igual à taxa de
diminuição da carga
dQ
I=− (3.122)
dt
Percorrendo o circuito no sentido horário, encontramos uma queda de potencial IR no
resistor e um aumento de potencial Q/C no capacitor; logo a lei das malhas de Kirchhoff
implica
Q
− IR + = 0 (3.123)
C
em que Q e I, ambas funções do tempo (Q = Q (t) e I = I (t)) relacionada acima. Fazendo
uso das equações acima, encontramos

dQ Q dQ Q dQ dt
R + =0→ =− → =− (3.124)
dt C dt RC Q RC

Integrando desde Q0 em t = 0 e Q em t

dQ0
Z Q Z t 0  
dt Q t
=− → ln =− (3.125)
Q0 Q0 0 RC Q0 RC

resolvendo para Q (t), obtemos

Q (t) = Q0 e−t/(RC) = Q0 e−t/τ (3.126)

onde τ chamado de constante de tempo, é o tempo necessário para que a carga decresça
por um fator e−1 : τ = RC.
A figura abaixo mostra a carga do capacitor como uma função do tempo. Este tipo de
diminuição, que é chamado de decaimento exponencial, é muito comum na natureza, e
ocorre sempre ocorre que a taxa na qual uma quantidade diminui é propocional à própria
quantidade.
A constante de tempo τ = RC é o tempo necessário para que a carga diminua por

105
um fator e−1 ; e também é igual ao tempo que seria necessário para descarregar comple-
tamente o capacitor se a taxa de descarga permanecesse constante, como indicado pela
linha tracejada.
Ademais, a corrente é obtida como

dQ Q0 −t/τ
I=− = e = I0 e−t/τ (3.127)
dt RC

Da mesma forma que a carga, a corrente decresce exponencialmente com a constante de


tempo.

Exemplo: Um capacitor de 4µF é carregado a 24V e então conectado a resistor de


200Ω. Determine a) a carga inicial no capacitor, b) a corrente inicial no resistor de 200Ω,
c) a constante de tempo, e d) a carga no capacitor após 4ms.
a) a carga inicial no capacitor pode ser calculada a partir de

Q0 = CV0 = (4µF) (24V ) = 96µC (3.128)

b) a corrente inicial no resistor pode ser calculada a partir de

V0 24V
I0 = = = 0, 12A (3.129)
R 200Ω
c) a constante de tempo é

τ = (200Ω) (4µF) = 800µs = 0, 80ms (3.130)

106
c) a constante de tempo é

Q (t = 4ms) = Q0 e−4ms/τ = (96µC) e−4ms/0,80ms = (96µC) e−5 = 0, 65µC (3.131)

• Na corrente inicial, levaria Q0 /I0 = 0, 80ms para que o capacitor fosse completa-
mente descarregado.

• Mas como a corrente decresce exponencialmente durante a descarga, não é surpre-


endente que leve 4ms para que a carga diminua para menos de 1% de ser valor
inicial.

3.8.3 Conservação de energia durante a carga de um capacitor

Durante o processo de carga, uma carga total Q f = EC flui na bateria. A bateria realiza
trabalho
W = Q f E = CE 2 (3.132)
metade deste trabalho é responsável pela energia armazenada no capacitor

1
U = QfE (3.133)
2
enquanto a outra metade do trabalho realizado pela bateria é dissipada como energia
térmica pela resistência do circuito

dWR 1 1
= I 2 R → WR = CE 2 = Q f E (3.134)
dt 2 2
este resultado é independente da resistência R.

• Assim quando um capacitor é carregado através de um resistor por uma fonte cons-
tante de fem, metade da energia fornecida pela fonte é armazenada no capacitor e
metade é transformada em energia térmica.

• Esta energia térmica inclui a energia que é dissipada pela resistência interna da fonte
de fem.

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