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Coordenadores Tarcisio Vieira de Carvalho Neto Telson Lufs Cavalcante Ferreira DIREITO ELEITORAL aspectos materiais e processuais Admar Gonzaga Neto Angelo Goulart Vile ‘Birbara Mendes Labo Amaral Carlos Baste Horbach Carlos Eduardo Frario Deniane Mingia Furtado Daniel Castro Gomes da Costa Diogo Mendonga Cruvinel lilene abo ‘Bduardo Augusto Vieira de Carvalho ‘eid Desiree Salgado Flévio Cheim Jorge Flivio Henrie Unes Peeira Flivio La Yarshel (Geilea Finan Cavalcanti Diniz ilmar Ferreira Mendes Henrique Neves da slva "ale Fioravanti Sabo Mendes Jol Marcos Amaral Joelson Dias Jonge OctivioLavocat Galvio Josaph Francisco dos Santor Antonio Diss Toffl, José Cruz Macedo cians Léssio LudgoreLiberato Lr Carlos dos Santos Gongalves ale Fux Marcelo Abelha Rodrigues Marcelo Ramos Peregrino Ferreira Méscio Luis Silva Marco Aurélio Mello Mareot A. Souto Maior Filho Marcus Vinicius Furtado Codlho Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro Marilda de Paul Silveea Michel Rertoni Soares Monica Herman Caggiano Paulo Henrique dos Santor Lucon Rodolfo Viana Pereira ‘Tecisio Vieira de Carvalho Noto ‘Tarzo Duarte de Tassie Tolion Luis Cavalcante Ferceira © Tribunal ate ao que eigoamen- cial 0 uso s meios de raagaran- ‘bra ilumi- sontempo- ssileiro, de slvimento, Sumario A democracia participativa e a inconstitucionalidade do financiamento pri- vado das campanhas eleitorais por pessoas juridicas Marco Aurélio Mello Fidelidade partidéria e sua nova versio segundo a minirreforma eleitoral. Admar Gonzaga Nero A inelegibilidade decorrente da condenagio por improbidade administra- tiva (art. 1,1, “I”, da LC 64/90). Regra ou excegio? Eduardo Augusto Vieira de Carvalho Abuso de poder eleitoral: o alcance da nogio de gravidade e de legitimidade do pleito tendo por pressuposto o principio da minima intervene Flévio Henrique Unes Pereira ¢ Barbara Mendes Lébo Amaral Distirbios da Democracia Representagio Politica ¢ suas patologias. A Reforma Eleitoral no Brasil atende a essas isfungdes? Monica Herman Caggiano Direito de Antena partidério e inconstitucionalidade de sua mitigacio por Lei Ordinaria .. Mércio Luiz Silua 29 49 9 93 Inclegibildade pela rejeigio de contas piblicas: 0 dilema entre moral- dade e probidade administrativas ¢ ajudicializagio da politica Joelson Dias ¢ Michel Bertoni Soares Leis que mudam muito ¢ juizes que ficam pouco: reflexdes sobre Direito Intertemporal ¢ seguranga juridica no Direito Eleitoral Angelo Goulart Villela e Luiz. Carlos dos Santos Goncalves O Decreto-Lei n* 7.586/1945 ¢ a Reconstrucio da Justiga Eleitoral no Brasil: uma anilise juridica e politico-institucional... T'talo Fioravanti Sabo Mendes 0 novo Cédigo de Processo Civil ¢ 0 processo cleitorl Flivio Laie Yarshell Ostracismo do povo e ilegitimidade do processo .. Edilene Lobo (A prestagio de contas de campanha perante a Justiga Eleitoral Josaple Francisco dos Santos Revisitando o art. 22, XIV, da LC n* 64/90: a inconsisténcia tedrica da di- cotomia entre inelegibilidades como efeitos secundarios (art. 1°, I ¢ alineas) ‘¢ como sangio (art. 22, XIV) ¢ a discussio no RE n* 929.670/DF . Carlos Eduardo Frazdo A retroatividade da lex mitior na seara eleitoral: uma andlise das san- ges pecuniirias impostas aos partidos politicos em prestario de contas partidirias (art. 37 da Lei n* 9,096), na perspectiva da Lei n® 13.165/2015 Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro 7 135 155 165 179 191 207 Relagao entre demandas eleitorais Paulo Henrique dos Santos Lucon ‘Sumério 4. Microssistema eleitoral 2, Demandas eleitoras. 3. Acdo de impugnacdo de registro de can- Aidatura 4. Agio de investigacdo judicial eleitoral. 5. Acao de impugnacio de mandato eletivo. 6.Relagio entre demandas 1, Microssistema eleitoral Processo, sob o ponto de vista juridico, enquanto instrumento da jurisdigao esta- Oz existe para dar atuacdo as normas de direito material. £ para atender a esse fim que a sua estrutura é concebida e 6 sob essa dptica que as suas normas sfo inter- Pretadas. Em aten¢ao a isso, sem desconsiderar a pertinéncia do estudo da teoria geral do proceso ea sua insuperdvel contribuicao & compreensdo de fenémenos comuns processualistica,'é sempre oportuno ressaltar que cada ramo do processo merece ser estudado de acordo com as particul fim de garantir a efetiva satisfacdo desses direitos, Assim, enquanto o direito processual civil, seguindo a maxima chiovendiana lades do direito material que eles visam a atuar do “tutto quello proprio quello”, destina-se essencialmente a assegurar ao titular do direito material violado tudo aquilo a que ele teria direito se essa violagao nao tivesse ocorrido; eo direito processual penal, em atengao ao principio da presungao de inocéncia, presta-se a instrumentalizar o exercicio do ius puniendiestatal,o direito Processual eleitoral, ao dar atuacdo as suas normas de direito material visa a garantir 4 satisfagdo dos direitos politicos de todos os cidadaos, a igualdade de oportunida- de entre os candidatos em uma eleicdo e a lisura dos pleitos eleitorais, constituindo, Por isso, um ramo auténomo da ciéncia processual que merece ser estudado a partir nntonio Carlos de Aratijo Cintra-Ada Pellegrini Grinover-Céndido Rangel Dinamar- 0, Teoria Geraldo Processo, 25*ed., Malheiros: Sao Pauilo, 2009, 397 dessas suas premissas.* A fim de atender a esses objetivos, preveem-se fundams Juridicos especificos para a propositura de cada demanda eleitoral. 2. Demandas eleitorais Embora o foco da doutrina processual como um todo no recaia mais sq a figura da “aco” -0 que ocorreu especialmente no inicio do ultimo século quad da fase autonomista do direito processual -,estando voltado nos dias de hoje pri palmente para o estudo das diversas modalidades de tutela jurisdicional, no do direito processual eleitoral uma atengdo maior em torno desse instituto ai Justifica, na medida em que sdo previstas na Constituigao Federal e na legislagao ing constitucional acées eleitorais com hipsteses de cabimento e caracteristicas espe cas. Por isso, procurar-se-d investigar alguns aspectos da causa de pedir das princi demandas eleitorais, a fim de, em seguida, verificar de que maneira essas demand se relacionam. 3. Agio de impugnacio de registro de candidatura Todo aquele que pretende participar de processo eleitoral deve atender asp digdes de elegibilidade previstas na Constituigdo Federal e sobre ele no pode inci qualquer causa de inelegibilidade ou de impedimento, Para apurar o preenchi unio desses requisitos, exige-se dos partidos politicos e das coligacSes partida 4 atuar, citada aqui apenas a titulo de ilustragdo, j& que nao é este 0 escopo p desse ensalo, é 0 fato de que em eventual processo que possa implicar a declara inelegibi ide de um cidadao, suspendendo-se, com isso, a sua capacidade eleita passi deve-se exigir do julgador um grau de convencimento superior aquele tip das agdes veis. Além disso, também em funcio da particular natureza dos dirett envolvidos, a legitimidade para a propositura das aces eleitorais, é concorrente e dag juntiva, assim como ocorre nos processos de natureza coletiva, ou seja, a propositu de uma agdo por um partido ou por uma coligacao politica nao impede a propositura d uma ago do Ministério Piblico Eleitoral no mesmo sentido, veem-se fundamen mulacdo perante a Justica Eleitoral de um pedido de registro de candidatura. Cinco apés a publica¢ao do edital pelo érgio da Justica Eleitoral competente em que stam os pedidos de registro formulados, qualquer candidato, partido politico, co- 1740 OU 0 Ministério Piiblico pode impugnd-los, dando origem assim a ago de im- ugnacao de registro de candidatura, © Oprocesso que entio se inicia busca demonstrar que o pretenso candidato ndo ldo recaia mais soby jatende a uma das condigdes de elegibilidade, ou entao, que sobre ele incide uma causa de inclegibilidade ou de impedimento. Esses s4o, portanto, os fundamentos juridicos que compdem a causa de pedir préxima da acdo de impugnacao de registro de candi- datura. A causa de pedir, como se sabe, ora identificada com o fato constitutivo do direito deduzido pelo autor em juizo (teoria da substanciacao), ora com a relaco jurf- ena legislacao i ica da qual se extrai o pedido (teoria da individualizacao). Assim, enquanto que para acteristicas especif a teoria da substanciacdo, seria permitido ao autor pleitear novamente a satisfacdo do mesmo direito se a nova demanda for fundada sobre outros fatos, para a teoria da individualizagao, eventual mudanga dos fatos nao implicaria a alteragao da demanda. Neste caso, a coisa julgada cobriria todos os possiveis fatos constitutivos do direito do autor, que nao possui, portanto, o énus de afirmé-los na demanda inicial? ‘Uma diferenca essencial entre as duas teorias esté na diversa relagdo que elas estabelecem com o direito material. A teoria da substanciacao afasta a causa de pedir do direito material, na medida em que cabe ao juiz examinar todas as normas apli- wrsuiealiedinn cAveis a0 caso.‘ Outra diferenca prética entre as duas teorias se verifica nos casos de le nao pode incidig *© preenchimento ages partidérias a demandas que versam sobre um direito de natureza real, ou um dit ito de personali- dade. A teoria da substanciago sempre impée ao autor o 6nus de indicar o fato cons- titutivo do direito que pretende ver reconhecido. Jé para a teoria da individualizacao {sso ndo seria necessério nesses casos, uma vez que pelo contetido desses direi 80 eleitoral deven srial que elas visamt © escopo principal cara declaracao de spacidade eleitoral etior Aquele tipice ureza dos direitos Ver: Ernst Heinitz, | limit oggettivi della cosa giudicata, Padova: CEDAM, 1937, p.147. Ver: Enusr Harz, |limiti oggettivi della cosa giudicata, Padova: CEDAM, 1937, p. 161. N3o incumbe ao autor, portanto, indicar precisamente o fundamento legal que embasa 2 sua pretensdo, Deve o julz fazer a subsungao dos fatos narrados na peticao inicial as respectivas disposicées legals. A jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justia € unts- sona nesse sentido; por todos, confira-se:“(..) como é natério, no ordenamento juridico concorrente e dis- brasileiro, pouco importa a qualificagao legal que a parte dé a determinado conjunto de ‘¢ja, a propositura fatos, cabendo ao magistrado enquadrar a descrigao dos acontecimentos no plano da © a propositura de realidade as disposigées normativas” (2" T., AgRg no REsp 918486/MG, rel. Min. Mauro Caurasit Marques, em 05/02/2009, DJ 02/03/2009). eles s6 poderiam subsistir uma tinica vez entre as mesmas partes. Nas demand, tratam de direitos obrigacionais néo existe divergéncia entre essas duas teor ambas consideram sempre necessério a indicagio na demanda inicial do fatorg tutivo do direito alegado.* Enquanto instrumento para o exercicio de um direito puiblico, a demand, ial no pode ser um ato dispositivo, cujo contetido possa ser determinado livre pelo autor. A adocao de uma ou outra daquelas teorias, portanto, no é uma e que incumbe ao intérprete, mas sim ao legislador. Nesse sentido, costuma-se af que 0 Cédigo de Processo Civil brasileiro adotou a teoria da substanciacdo, nag dda em que impée ao autor o énus de indicar na peticao inicial o fato constitut seu direito (causa de pedir remota).*O mesmo dispositivo, contudo, impée 20 énus de indicar também os fundamentos jurfdicos do seu pedido (causa de pedif xima),’sob pena de ser indeferida a peticdo inicial, Nesse sentido, diz-se que o 5 Ver, sobre esse tema a sintese de Francesco Paolo Luisos “I diritti assoluti in gened compres! i diritti reali, edi diritti che hanno ad oggetto un bene determinato (e i diritti personali di godimento, come locazione, affitto, etc.) si identificano sulla di tre elementi: il titolare del dirito, il bene che ne costituice l'oggetto, e il utilita garantito dall'ordinamento, cio’ il tipo di diritto che ha ad oggetto quel diritti appartenenti a questa categoria si deniominano autoindividuat, in quanto nd ® elemento identificatore la loro fattispecie costitutiva, Per individuare il dritto’h c'B bisogno di stabilire in virth di quale fattispecie esso ® sorto. II dritto & sempre i desimo, anche se carbia la fttspecie osttutivail mutare dellafattspecieacquil rnon muta l'identita del dirtto(..) peri diritti di credito gli element identificatori soi Voggetto e la fattispecie costitutiva del dritto. 1 diritti di questo tipo si sogliono ch mare anche eteroindividuati, perché hanno bisogno della loro fattispecie acquisiivay essere individuati" (Francesco Paolo Luiso, Dirtto processuale civile, vol. 1, 6+ ed., Mil Giuffre, 2011, pp. 58-61), Nesse mesmo sentido: Ernst Heinitz, I lmiti oggetivi della eB sgiudicata, Padova: CEDAM, 1937, p. 192. © Ver, sobre esse tema: "A causa petendi remota (ou particular) engloba, normalment fato constitutivo do direito do autor associado ao fato violador desse direito, do qi se origina o interesse processual para o demandante” (José Rogério Cruz e Tucci, Ac petendi no proceso civil, 3. ed.,S4o Paulo: RT, 2010, n. 4.4.4, p. 165). Ver, sobre esse tema: “a causa petendipréxima (ou geral) se consubstancia, por sua no enquadramento da situagdo concreta, narrada in status assertions, & previsio ab ‘tes. Nas demandag essas duas teorias,. 1 inicial do fato co asileiro adotou, acertadamente, uma posicao de equilfbrio entre as duas teorias, na pedida em que com a conjungao desses elementos € posstvel identificar com maior jareza a pretensio deduzida pelo autor: Feito esse breve registro teérico e retomando ao tema da causa de pedir na io de impugnacao de registro de candidatura, tem-se que enquanto a causa de pedir éxima nessas ages é composta pela auséncia de uma condicdo de elegibilidade ou pela incidéncia de uma causa de inelegibilidade ou de impedimento, a causa de pedir remota é formada pelos fatos previstos em lel ou na Constituigdo ensejadores dessas -condigdes. Nao basta ao autor de uma acao de impugnacao afirmar, portanto, apenas que o pretenso candidato nao atende a uma condigao de inelegibilidade, ou ento que sobre ele incida uma causa de inelegibilidade £ preciso apontar também precisamen- tequais circunstancias de fato implicam essas condigdes. Se ele ndo fizer isso, odireito iblico, a demanda jf terminado livre de defesa do réu serd comprometido, pois ele néo tera como saber quals os fatos que sero levados em consideracao pelo juiz no momento da decisio. O réu, em outras palavras, teria o énus de demonstrar em sua resposta que atende a todos os requisitos legais para se candidatar, o que seria um verdadeiro contrassenso, jé que ele fez isso quando formulou o seu pedido de registro? Nesse sentido, no art. 14, §3* da Constituigdo Federal, esto previstas as con- digées de elegibilidade que todo candidato a um cargo eletivo deve atender (v.g,, na- cionalidade brasileira, alistamento eleitoral,filiagdo partidéria), enquanto as causas de inelegibilidade, por sua vez, estdo previstas tanto na Constituigdo Federal, m: precisamente no art. 14, §§ 4°, 6* 7°, quanto na legisla¢ao infraconstitucional, especi- ficamente no art. 1° da Lei Complementar n. 64/90. Toggetto, e il tipo Loggetto quel bene ati, in quanto non né ‘iduare il diritto nog trittoe sempre ilmes itispecie acquisitiva Hidentificatori sono 'po si sogliono chia | recie acquisitiva per vol. 1, 6* ed, Milane? fi oggettvi dela cosa trata, contida no ordenamento de direito positivo, e do qual decorre a juridicidade da quela, ¢, em imediata sequencia, a materializagao, no pedido, da consequéncia juridica alvitrada pelo autor” (José Rogério Cruz e Tucci, A causa petendi no process civil, 3. ed., So Paulo: RT, 2010, n. 4.4.4, p. 166). ‘4, normalmente, 0 se direito, do qual 8 Ver, sobre esse tema, José Ignacio Botelho de Mesquita, A causa petendi nas ages reivin- lize Tucci, A causa dicatérias, in Revista de Direito Processual Civil, n, VI, 1967, pp. 183-198. 9 Ver, sobre a relagao entre a dedugo de um direito em juizo e o direito de defesa do réu, sncia, por sua vez, 5,8 previsao abs- Andrea Proto Pisani, Lezion di diritto processuale civil, 5. ed., Napoli: Jovene, 2006, esp. pp.138-140), 401 4, Ago de investigago judicial eletoral A fim de assegurar a igualdade de oportunidades entre os candidatos et cleicdo, bem como a lisura dos pleitos eleitorais, o art. 22 da Lei Complement 64/90 prevé uma acdo de rito especifico, a acto de investigacio judicial eleitor pode ser intentada desde a convencao partidéria para a escolha dos candidatos diplomaczo dos eleitos para apurar a prética de abuso de poder, a captacio ou.o' ilfcto de recursos para fins eleitorais, a captacdo ilicita de sufragio e a pritica det dutas vedadas,”” O legislador estabeleceu o abuso de poder, politico ou econémico, como damento juridico para a propositura de acao de investigacdo eleitoral, por visual nesse tipo de conduta um evidente fator de desequiparacao entre os candidated uma eleigdo. Por se tratar de um termo juridico indeterminado nao é posstvel ida car aprior’a causa de pedir remota dessa acao. 0 art. 22, inc. XVI, da Lei Complemé 1. 64/90 estabelece um parametro de aferigdo ao estabelecer que um fato seré ci derado abusivo se demonstrada a gravidade das circunstancias que o caracte independentemente da sua potencialidade de alterar o resultado da eleicio, assim, a vagueza semantica do termo “gravidade” dificulta a identificaco segurat fatos que podem constituir a causa de pedir remota de uma aco de investigacdo.i se sentido, uma fonte segura de orientacdo para o intérprete so as decisées do: nal Superior Eleitoral. Com base nelas e tendo em mente que a eficdcia normati precedentes reside na analogia, o autor de uma aco de investigacao pode ident com maior precisao os fatos que seriam aptos a ensejar a propositura desse ti a¢do. Quanto mais préximos forem os fatos alegados daqueles jé reconhecidos p Tribunal Superior Eleitoral como abusivos, maiores so as chances de serem consh rados aptos a constituir objeto da ago de investigacao. Aasdo de investiga¢ao judicial eleitoral também se volta a reprimir a cap ilicita de sufrégio, popularmente conhecida como “compra de voto”. Trata-se de tif pratica que desequipara os candidatos em uma eleicao e que macula todo o pl eleitoral,jé que uma das premissas ontoldgicas do sistema democrético é ustame livre escolha pelos eleitores daqueles que irdo Ihe representar. Os fatos que caract zam a compra de votos, e que, portanto, devem ser alegados em uma eventual a¢ investigacao judicial eleitoral, esto descritos no art. 41-A da Lei n. 9.504/97. Sao él @ doagio, a oferta, a promessa ou a entrega ao eleitor de qualquer bem, ou vant 10 Ver: José Jairo Gomes, Direito eleitora, 8°. ed., S80 Paulo: Atlas, 2012, p. 466, 402 pessoal de qualquer natureza com a inten¢aio de obter-lhe o voto, De acordo com 0 § 1" desse artigo, nao compoe a causa de pedir remota dessa a¢do a formulacdo de um pedi- do explicito de votos por parte do candidato, basta que esteja demonstrada a existén- cia da intengao de obtengao do voto em troca de um determinado bem ou vantagem. Também constitui objeto de referidas demandas a prética de uma das deno- minadas “condutas vedadas", Inegavelmente, o candidato a um cargo eletivo que de- sempenha uma fungao publica pode dela se valer para por meio da prética de um determinado ato obter uma vantagem na disputa eleitoral. A fim de coibir isso, a Lei 1. 9.504/97 estabeleceu nos seus artigos 73 a 78 uma série de condutas vedadas aos agentes publicos, pois tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candi- datos nos pleitos eleitorais. Desse modo, pode conformar a causa de pedir remota de uma agdo de investigacao, por exemplo, a cessio ou uso de bem pubblico (art. 73, inc. 1); o.uso de um bem ou de um servico publico (art. 73, inc. I); ea cessdo ou uso de servi- dor piblico para atuacdo em comité de campanha eleitoral (art. 73, inc. Il) s candidatos em ei Complementar udicialeleitoral,q dos candidatos até captago ou 92 pritica de con mémico, como Lei Complementag im fato serd consiz | 1€ 0 caracterizam) da eleicdo, Ainda cagio segura dos investigacao, Nes: decisées do Tribue; normativa dos. > pode identificar ura desse tipo dé 2conhecidos pelo e serem conside- 5. Agi de impugnagio de mandato eletivo A fonte da acdo de impugnagao de mandato eletivo é a prépria Constituicéo Federal, segundo a qual o mandato de um candidato eleito pode ser impugnado peran- tea ustica Eleitoral em até quinze dias ap6s a sua diplomagio se demonstrado o abuso do poder econémico, ou a prética de corrupgdo ou fraude durante o proceso eletivo (CF, art. 14, § 109). Esses so, portanto, os fundamentos juridicos dessa aco, Quanto ao abuso do poder econémico como causa de pedir da acio de impugnacao, aplica-se aqui que antes foi dito a respeito da vagueza seméntica desse termo e a necessidade de se fazer uso dos precedentes do Tribunal Superior Eleitoral para se identificar com maior seguranca os fatos que podem ser objetos de uma a¢ao de impugnacdo. 0 abuso de po- der politico com repercussées econdmicas também pode ser objeto de apuracio nessa demanda. Com relagdo & corrupedo enquanto causa de pedir da acao de impugnacao, 0 Tribunal Superior Eleitoral em uma interpretacio sistemética chegou & conclusio de vrimir a captagéo Trata-se de uma todo o processo 9 éjustamentea 'sque ' as - dosed ue a Constitui¢o ao empregar esse termo pretendeu fazer referéncia ao sentido co- ent a, mesa loquial que ele denota, e nfo ao seu sentido técnico penal, de modo a ampliar o leque od de fatos que podem constituir a causa de pedir remota dessa acio." a, ou vantagem 11 Ver: TSE, REspe n, 28.040/BA, rel. Min. Carlos Ayres Britto, j, em 22.4.2008, DJ 1.7.2008, Pa. 403 6. Relagio entre demandas Como visto, cada uma das demandas eleitorais analisadas possui fundatt Juridicos que visem em linhas gerais a assegurar a satisfacdo dos direitos pol (condigdes de elegibilidade e causas de inelegibilidade), a igualdade de opor des entre os candidatos (abuso de poder), ea lisura do processo eleitoral (co ‘Tendo em vista principalmente que a aco de investigacio judicial eleitoral e a de impugnasio de mandato eletivo produzem efeitos comuns, procurar-se-4 a relagdo que entre essas demandas se estabelece. Diversos sao os instrumentos utilizados pela doutrina para identificar semelhanca entre duas ou mais demandas. Comumente, so utilizados trés el para a identificacio de uma demanda (teoria da triplice identidade): parte, causa de pedir. 0 objeto do processo, assim, é identificado mediante a conjugag pedido e da causa de pedir.” Essas duas nogSes, embora possam ser analisadas petendi, e a causa petendi, por sua vez, s6 tem razio de ser, se a partir dela ovait deduzir um pedido."* A respetto do pedido, cumpre lembrar que ele pode ser de 12 Ver, sobre esse tema, José Rogério Cruz e Tucci: “perante varias situacSes concret teoria da triplice identidade desponta insuficiente para desempenhar o papel que! reservado no confronto de duas ou mais agbes. E, a despeito de sua adocio expr pelo nosso Cédigo, nao pode restar divida de que a doutrina e a jurisprudéncia devel procurar soluges para determinadas que extravasam os limites daquela. Assim, de tals stuagBes excepcionais, que revelam a insuficiéncia da teoria dos tra eadem, regras devem ser observadas quanto & sua incidéncia pratica: a) nao constitui eat jo absoluto, mas, sim, uma ‘boa hipétese de trabalho’, até porque ninguém riscou a apontar outra que a superasse; eb) quando for inaplicdvel, perante uma si so concreta, deve ser relegada a segundo plano, empregando-se, em seu lugar, a tei dda identidade da relacdojuridica” (A causa petendi no processo civil, 3. ed, Sao Paulo:K 2010, n. 4.19 pp. 252-233) 13. Ver, sobre esse tema: Ernst Heinitz,!limiti oggettvi della cosa giudicata, Padova: CEDAM,| 1937, p. 135 14 Ver, sobre esse tema: José Rogério Cruz e Tucci: “A causa petendi, presta-se, em uiltinid anilise, a individualizar a demanda e, por via de consequéncia, para identificar o ped igomo 0 provimento que é requerido ao juiz pelas partes. © pedido compreende um pedido imediato, que diz respeito a tutela jurisdicional requerida (declaratéria, cons- 5 possui findame Bitutiva, condenatéria, mandamental, executiva latu sensu), e um pedido mediato, que dos direitos politi sponde ao bem da vida pleiteado. Nesse sentido, demandas fundadas sob idénti- dade de oportuni ca causa de pedir, mas com pedidos diversos, nio sao demandas idénticas. sleitoral (corrupeag No que diz respeito as demandas eleitorais, na ago de impugnacao de registro ial eleitoral ea ag de candidatura formula-se um pedido declaratério de reconhecimento da inelegibi- lidade de um candidato e consequentemente o nao deferimento de seu registro de candidatura. J4 por meio das ages de investigacio judicial eleitoral, pede-se a de- cretacao de inelegibilidade de um candidato em fungéo da prética de uma conduta abusiva, ¢ a cassacéo do seu registro ou diploma. Com a edicdo da Lei Complementar 1135/2010, a chamada Lei “Ficha Limpa”, alterou-se o art. 22, inc, XIV da Lei Comple- mentar n. 64/90, de modo que a partir de entao o julgamento de procedéncia de uma aco de investigacao judicial eleitoral realizado apés a diplomacao do candidato eleito pode resultar na cassacao do seu diploma e na consequente perda do seu mandato. Antes dessa alterasao, se julgada procedente apés a diplomacao a acdo de investiga do nao implicava a cassagao, de modo que para atingir tal fim deveria se fazer uso da asio de impugnagio de mandato eletivo, © quadro que se delineia, portanto, apés a reforma legislativa de 2010, 6 que a aco de investigacio judicial eleitoral e a aco de impugnagao de mandato eletivo, se fundadas em elementos comuns, por serem aptas, a produzir os mesmos efeitos juridicos, devem ser analisadas de maneira holistica. Se forem id@nticas, a tramitagio de uma delas deve impedir o processamento da outra, € 0 que foi julgado em uma delas nao pode ser rediscutido em outra. Por outro lado, se constatada uma relacao de semelhanca, deverdo ser elas reunidas a fim de evitar decisdes conflitantes e atos imuiteis. ‘As demandas podem se relacionar entre si por uma relagio de identidade, di- versidade ou analogia. Na primeira hipstese, verifica-se o fenémeno da litispendéncia ara identificar a ra de identidade ou ados trés elementag| de): parte, pedide Ite a conjugacio db er analisadas isola. © extraido da causa partir dela o autor 2 pode ser definido “Uasoes coneretas, har o papel que lhe Ua adogdo expressa isprudéncia devem \uela. Assim, diante dos tria eadem, duas © constitui ela um 4 ensejar a extingdo de uma das causas; no segundo caso, quando as demandas pos- ‘suirem elementos constitutivos distintos, tramitarao elas cada qual em seu curso in- dependentemente uma da outra;jé a terceira situagao — relacdo entre demandas por analogia —, por sua vez, €a que requer maior atencao, pois aqui se verifica que alguns elementos de uma demanda sao id€nticos aos de outra, o que impde ao magistrado 0 ever de analisar qual o resultado para o processo da tramitacao isolada e indepen- lue ninguém se ar- verante uma situa seu lugar, a teoria d., So Paulo: RT, » Padova: CEDAM, sta-se, em ltima lentificar 0 pedi- do, inclusive quanto possibilidade deste” (A causa pevendi no processo civil, 3, ed., Sio Paulo: RT, 2010, n. 4.4.5, p. 171). 405 dente de cada uma dessas demandas." 0 fenémeno da relacao entre demandas, tem de ser analisado pelo prisma das finalidades que ele visa a tutelar no orderg to juridico. A partir de uma visio finalistica, eventuais medidas a serem tomad ‘magistrado por conta da constatacdo de existirem demandas que guardam alguma relacéo de semelhanga deve levar em consideracdo as consequénci processamento auténomo de cada uma dessas demandas pode implicar para osisf Juridico. Nao basta ao magistrado analisar apenas os elementos identificadores, manda de maneira abstrata e isolada visando a reunio ou o tratamento conj demandas conexas; tem ele de se preocupar com os efeitos que o tratamento i dessas demandas pode acarretar para o sistema jurfdico e para as partes — in Ga juridica e decisdes contraditérias. as consequéncias que a tramitagao em separado de cada uma delas produzira ordenamento juridico, Apés a materializacdo dos efeitos concretos é que teré o magh trado condigdes de analisar qual das medidas processuais previstas pelo ordena Juridico é adequada para o caso."* 0 magistrado que no age assim e analisa ap cada demanda de maneira isolada, nao atine ao fato de que um sistema jurfdico © coerente como o que se quer construir nao pode ser alcancado a partir de uma microscépica dos fendmenos juridicos. rocessual e pela harmonia ou uniformidade de decisbes. Quer-se permitr, em sin se, que o magistrado forme uma convic¢do tinica para julgar, seja por meio da re suspensio tempordria de processo subordinado ao resultado de outro. 0 Cédigo} Processo Civil de 2015, nesse sentido, aplicdvel subsidiariamente aos processos + Paulo Henrique dos Santos Lucon, Relagdo entre demandas, Tese apresentada Concurso de Livre-Docéncia de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito da Ui versidade de Sao Paulo, 2015 (no prelo), §1,n.1, pp. Sess. Ver: Paulo Henrique dos Santos Lucon, Relagdo entre demandas, Tese apresentada pe Concurso de Livre-Docéncia de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito da' versidade de Sto Paulo, 2015 (no prelo), 81%, n.2, pp. 10¢ ss. intre demandas, ‘utelar no order a serem tomadas que guardam entre artigo 55, § 3. que “sero reunidos para julgamento conjunto os processos que possam. gerar risco de prolagao de decisdes conflitantes ou contraditérias caso decididos sepa radamente, mesmo sem conexio entre eles”. © oposto de processar e decidir separadamente demandas com elementos co- consequéncias runs, ndo é necessariamente a reunido de processos, porque em muitos casos isso nplicar para o sist pode criar embaracos processuais de diferentes ordens, mas sim o encaminhamento identificadores da d de atividades destinadas a evitar decisdes contraditérias ou conflitantes.” Sao tan- itamento conjunto tas as formulas encontradas pelo sistema processual moderno — distribuicdo por de- o tratamento isoladg pendéncia, suspensao pela prejudicialidade —, que a reunido em processo simulténeo pode ou ndo ocorrer a depender das especificidades da discussao juridica presente em cada caso concreto. 0 que realmente consiste em dever judicial é 0 encaminhamento de atividades destinadas a evitar decisées contraditérias ou contflitantes, que pode ou nio passar pela reunio de processos. 0 magistrado eleitoral que ciente da existéncia foco de atencao pe de demandas comuns nio toma nenhuma medida que vise a evitar decisdes contra- las produziré ditérias ¢ os prejuizos que delas decorrem viola deveres que a ele so impostos dire- 8 é que terd o magish tamente pela prépria Constituicao Federal, como o dever de promocao da seguranga 's pelo ordenamentg Jurfdica, por exemplo.” im e analisa apenas A luz dessas consideracées a respeito do fenomeno da relacdo entre deman- itema juridico coeso: das, e dado que a acdo de investigagao judicial eleitoral e a aco de impugnacéo ao partir de uma visio mandato eletivo podem acarretar 0 mesmo efeito pratico, tem-se que, sob a dtica do direito processual eleitoral, as seguintes situacdes podem ocorrer. Nos casos em que lo de demandas qué a AJE € a AIME tiverem os mesmos fundamentos a extincdo da AIME em func da li- zela pela economia — permitir, em sintes ” ‘or meio da reuniao 0 for possivel, pela dutro, © Cédigo de aos processos elels ndas estabelece no! 17 Ver: Paulo Henrique dos Santos Lucon, Relagdo entre demandas. Tese apresentada para Concurso de Livre-Docéncia de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito da Uni- versidade de So Paulo, 2015 (no prelo), §2,n. 6, pp. 26 ess. 18 Ver cexige, dos Pederes Legislativo, Executivo ¢ Judicidrio, a adogao de comportamentos que rode-se conceituar a seguranca Juridica como sendo uma norma-principio que contribuam mais para a existéncia, em beneficio dos cidados e na sua perspectiva, de um estado de confiabilidade e de calculabilidade juridica, com base na sua cognoscibi ie apresentada para fe de Direito da Uni= dade, por meio da controlabilidade juridico-racional das estruturas argumentativas re- construtivas de normas gerais individuals, como instrumento garantidor do respeito & sua capacidade de — sem engano, frustracao, surpresa e arbitrariedade — plasmar digna e apresentade para * de Direito da Uni- e responsavelmente o seu presente e fazer um planejamento estratégico juridicamente {informado do seu futuro” (Humberto Avila, Seguranca juridica, entre permanéncia, madan- realizacto no dreito tributario, 2. Fd., $20 Paulo: Malheiros, 2012, pp. 274 ess.) 407 tispendéncia é medida que se impée. Se, por outro lado, na AE for investigado. de poder politico e esses mesmos fatos forem objeto de AIME para apuracdo de de poder politico com viés econdmico, a medida a se adotar, em atengao & har de decisdes, 6a reunio dos processos. 408

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