Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal analisar e discutir a noção de ser na Crítica
da Razão Pura (1781) de Immanuel Kant, mostrando suas consequências e importância para
ontologia moderna. Investigaremos o motivo pelo qual Kant sustentou o conceito de existência
como não sendo um predicado real, e qual a diferença entre possibilidade lógica e possibilidade real.
Com isso, pretende-se ressaltar o novo entendimento da ontologia não mais como filosofia primeira,
mas como uma análise crítica do conhecimento humano e das capacidades cognitivas que em última
instância não se remete a realidade existencial efetiva como postulava Aristóteles, mas a uma analítica
transcendental.
Palavras Chave: Ser; Kant; ontologia moderna; analítica transcendental.
Introdução
1Onde Kant fala do ‘ser’, especialmente na relação com sua crítica das provas ontológicas da existência
de Deus, ele usa o termo de modo idêntico ao conceito de ‘existência’. Sua tese principal é que ser não é
um predicado real que possa ser adicionado ao conceito de algo, mas ‘meramente a posição de uma coisa
ou de certas determinações em si mesmas’ (KANT, 2001, A598/B626). Na distinção do uso lógico do ‘é’
como cópula, o existencial ‘é’ indica que o sujeito e seu predicado estão postos. Tal postulação diz respeito
ao objeto em relação ao seu conceito.
apresentando de modo mais claro o sentido ser em geral atribuído pelo filósofo
bem como suas consequências. Deste modo, pretende-se analisar o motivo pelo
qual Kant define o predicado da existência não como real, abandonando a teoria
substancialista aristotélica do ser enquanto ser.
16
Edegar Fronza Junior
_____________________________________________________________
2É importante salientar que após a contribuição da ontologia kantiana o conceito de objeto ganha ênfase
na filosofia. Ulteriormente tínhamos o conceito em uso ser, ente, entidades. A partir dessa nova
concepção, começa a ser valorizada a importância dos sentidos para o conhecimento, de modo que após
Kant é praticamente irrefutável a ideia de que não podemos falar das coisas em si, mas de como elas se
dão ao nosso entendimento. As únicas entidades acessíveis ao nosso conhecimento seriam aquelas
passiveis de se dar na sensibilidade conforme as determinações dos conceitos do entendimento. Aquilo
que não se dá e que não é dado na sensibilidade ou é ideia vazia ou é nada. (Nota do pesquisador)
17
Enciclopédia | Pelotas, vol. 06, Verão 2016.
___________________________________________________________________________________
Ao postular que algo existe isso não modifica nada a coisa, apenas
estabelece uma possibilidade da coisa ser enquanto objeto sensível, ou seja, o
mesmo pode ser experenciado.
Assim como a existência, o conceito de possibilidade na visão de
Kant, não contribui em nada para o objeto, mas apenas se refere ao modo como
um objeto pode ser dado. A possibilidade lógica está relacionada ao conceito,
enquanto que a possibilidade real denominada pelo filósofo de transcendental
se refere à própria coisa. Por vezes, se confundem as duas possibilidades, todavia
a distinção fica clara na passagem da Analítica Transcendental: “A ilusão de tomar
a possibilidade lógica do conceito (já que ele não se contradiz a si próprio) pela
possibilidade transcendental das coisas (em que um objeto corresponde ao
conceito) só pode enganar e satisfazer os inexperientes” (KANT, 2001,
A244/B302).
O que caracteriza em sentido amplo a realidade objetiva de um objeto
é a concordância não apenas com sua possibilidade lógica, mas também com a
18
Edegar Fronza Junior
_____________________________________________________________
19
Enciclopédia | Pelotas, vol. 06, Verão 2016.
___________________________________________________________________________________
Considerações Finais
3 Note-se, que Kant jamais negou a possibilidade de haver determinações das coisas mesmas
independentes do modo como elas aparecem para uma consciência, nem a possibilidade de objetos não-
empíricos. O que negava, sim era a existência de algum acesso a tal dimensão.
20
Edegar Fronza Junior
_____________________________________________________________
Referências:
21