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ESTUDOS BÍBLICOS

Melquisedeque era Jesus Cristo pré-


encarnado no Antigo Testamento?
“Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote
eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4)

1 ano atrás
em
14 de maio de 2018
Por
Tiago Rosas

Poucos personagens na Bíblia são tão obscuros como Melquisedeque. Sua


vida é cercada de mistérios: “Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não
tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao
Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (Hb 7.3).
Há apenas três livros que lhe fazem menções na Bíblia (Gn 14.18-20; Sl 110.4;
Hb 5–7), e com informações não muito precisas, mas suficientes para
afastarmos dele a possibilidade de ser uma manifestação
cristofânica no Antigo Testamento.
A única menção histórica de Melquisedeque está em Gênesis, quando do
encontro de Abrão que lhe ofereceu dízimos e a quem deu a sua benção
sacerdotal. As demais menções em Salmos e Hebreus são teológicas, nada
acrescentando sobre o perfil de Melquisedeque (uma exceção, talvez, para
Hebreus 7.3). Segundo Gênesis 14.18-20 (em três versículos apenas!),
Melquisedeque:
 Era rei de Salém (provavelmente antigo nome de Jerusalém), numa época em
que cada cidade costumava ter seu próprio rei e sua independência política
 Era sacerdote do Deus altíssimo (portanto, primeiro sacerdote temente a Deus
de que se tem informação, contemporâneo do patriarca Abrão, e que não
pertencia aos descendentes de Levi, até porque mesmo este nem havia
nascido ainda, e menos ainda Arão e seus filhos que constituíram o sacerdócio
levítico de Israel).
 Ofereceu pão e vinho a Abrão quando este voltava de uma peleja contra os
reis que tinham tomado Sodoma e Gomorra e levado cativo a Ló, seu parente
 Abençoou Abrão e reconheceu-o como servo do mesmo Deus altíssimo
 Recebeu dízimos de Abrão dos bens que este havia recobrado dos inimigos
A menção a Melquisedeque no livro dos Salmos é messiânica e demonstra
como a memória daquele homem que abençoou Abrão foi preservada e
enaltecida por Deus: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um
sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4). A
ninguém mais, senão a Jesus, este texto pode ser aplicado. Afinal, nem Davi
foi sacerdote, e nem os sacerdotes de Israel foram “segundo a
ordem de Melquisedeque”.
Se existiram outros legítimos sacerdotes reconhecidos por Deus na mesma
ordem de Melquisedeque em seu tempo e antes do estabelecimento do
sacerdócio levítico nós não sabemos. Mas sabemos com toda certeza que
Jesus é “sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de
Melquisedeque” (Hb 5.10; 6.20).
A referência a Melquisedeque na carta aos Hebreus – único livro
neotestamentário que o cita – é tipológica e tem tanto no texto de Gênesis
quanto no de Salmos sua base histórica e teológica. Ou seja, Melquisedeque é
tomado como um tipo de Jesus, alguém cujas características o assemelham a
Jesus e o representa antecipadamente.
Todavia, como nenhum tipo (o que representa) é ao mesmo tempo
o antítipo (o que é representado), então por aí já descartamos a possibilidade
de Melquisedeque ser ao mesmo tempo um tipo de Cristo e o próprio Cristo.
Nenhum dos autores do Novo Testamento sequer cita Melquisedeque, a não
ser o autor da carta aos Hebreus. E quando este o faz, jamais trata
Melquisedeque como uma visão de Cristo pré-encarnado. E há uma razão
muito óbvia para isto: Melquisedeque era rei e sacerdote literalmente
falando; Jesus, porém, jamais poderia ser rei e sacerdote sem antes
passar pela cruz, em cuja morte ele cumpriu toda a justiça de Deus, e
demonstrou submissão ao Pai, que “o exaltou soberanamente e lhe deu um
nome acima de todo nome” (Fp 2.9,10).
Jesus sempre seria Deus, todavia seus ofícios de rei e sacerdote lhe são
atribuídos em razão de sua perfeita obra vicária (Hb 2.10; Ap 5.9,10). Ademais,
conforme Hebreus 7.3, Melquisedeque foi “…feito semelhante ao Filho de
Deus”. Ou seja, SEMELHANTE, e não o PRÓPRIO Filho de Deus.
Melquisedeque foi Melquisedeque. Jesus é Jesus! E por ocasião da
ressurreição dos justos, conheceremos pessoalmente ao nosso irmão
Melquisedeque e, distintamente, ao nosso Senhor Jesus.

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