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Diplomacia 360o – Módulo Atena – História do Brasil – Aula 15

Prof. Daniel de Araújo – 20.09.2018

SEGUNDO REINADO – POLÍTICA EXTERNA (PARTE 1)

Política interna e política externa estão diretamente relacionadas. Um Estado forte tende a ter
uma política externa mais assertiva. Se há muitos problemas internos, esse Estado tende a ter
uma política externa “em negativo”, conforme termo cunhado por José Murilo de Carvalho.

❖ Grande nome da Política Externa Brasileira durante o Segundo Reinado:


→ Paulino José Soares de Souza
- Membro da “Trindade Saquarema” – foi Secretário dos Negócios Estrangeiros por 2 vezes.

❖ Principais pontos a serem discutidos:


→ Controle da política comercial:
- Tarifa Alves Branco – tarifa liberal e protecionista (mais altas).
- Tarifa Silva Ferraz – tarifa conservadora e pró-livre-comércio (mais baixas).

→ Fornecimento de mão de obra:


- Tema relacionado também com a Economia.
- Lei Eusébio de Queirós, Bill Aberdeen, etc.

→ Definição das fronteiras brasileiras:


- 40% das fronteiras atuais do Brasil foram definidas durante o Segundo Reinado.

Como delimitar as fronteiras?


Congresso do Panamá (1856): por influência de Simon Bolívar, ganhou força a ideia de que
questões lindeiras deviam ser resolvidas por meio de arbitragens ou negociações bilaterais.

Império do Brasil opta pelas negociações bilaterais. POR QUÊ?


- Brasil tinha receio de que seus vizinhos hispano-americanos se unissem contra nós.
- Opção pela divisão dos vizinhos – negociações bilaterais para impedir possíveis coalizões.
- Império do Brasil era mais forte que qualquer um de seus vizinhos individualmente.
- Porém, com a união de todos esses vizinhos, Brasil poderia ser ameaçado.
- A livre navegação do Rio Amazonas foi um item de barganha do Brasil nessas negociações.
- 1866: abertura da navegação do Rio Amazonas (Zacarias Góes e Vasconcelos).

A preferência do Brasil por negociações foi rompida somente na Questão de Palmas (1895)
- Já durante a República, a Questão de Palmas foi a primeira arbitragem fronteiriça do Brasil.

CACD 2017 – 1a Fase – Questão 49


4. No final da década de 40 do século XIX, foi adotada a doutrina de limites a ser seguida pelo
Império a fim de proteger o status quo territorial, a qual estabelecia: o princípio do uti
possidetis; a restrição da validade do Tratado de Santo Ildefonso aos casos em que não
houvesse ocupação efetiva do território; a negociação bilateral; e o arbitramento em última
instância.
Gabarito: CERTO. A base das negociações era o “uti possidetis facto” em detrimento da ideia
do “uti possidetis iuris”.
→ Contenção da Argentina:
- A região do Prata é importantíssima para o Império do Brasil.
- Possibilidade de acesso ao Centro-Oeste brasileiro por via fluvial.
- Brasil defende abertura do Prata, mas mantém a navegação do Amazonas fechada (barganha).
- Havia interesse de latifundiários sulistas do EUA em transferir fazendas para a Amazônia.
- Após a Guerra de Secessão, essa ameaça norte-americana diminuiu significativamente.

Juan Manuel de Rosas foi um caudilho argentino que pretendia centralizar o poder em Buenos
Aires, gerando uma série de atritos com caudilhos do interior, como o General Urquiza.

Na década de 1830, Rosas conseguirá impor seu poder não só na Argentina, mas na região do
Prata como um todo, aproveitando-se da fraca e tímida posição brasileira durante o período da
Regência (segundo Amado Cervo, havia um “imobilismo brasileiro no Prata”).

Porém, foi na década de 1830 que ocorreram as “Missões Duarte da Ponte Ribeiro”, que
pretendiam fazer com que o Brasil se voltasse para os países latino-americanos, afastando-se da
visão europeísta de D. Pedro I.

Com a coroação de D. Pedro II, o Império do Brasil necessita preparar-se para tornar sua política
externa mais atuante. A Secretaria de Negócios Estrangeiros, durante o período regencial, era
desorganizada, caótica. D. Pedro II, em 1841, implementará a Reforma Sepetiba, muito
importante como tentativa de organizar a estrutura da Secretaria. Entre as principais conquistas
dessa reforma, está a criação de um arquivo oficial (fundamental, por exemplo, para as
discussões lindeiras).

Algum tempo depois, Rosas irá propor uma aliança com D. Pedro II. Estavam ambos com
problemas internos: Rosas com Urquiza e Pedro II com Bento Gonçalves.

“O Tratado de Aliança foi assinado por Pedro II, em 24 de março de 1843, e seguiu para
Buenos Aires, para ser ratificado por Rosas, o qual, porém, desautorizou as gestões de Güido,
argumentando que nenhum acordo podia ser negociado sem o consentimento de Manuel
Oribe. Na realidade, Rosas dispensou a aliança com o Império porque fora afastada a ameaça
de intervenção anglo-francesa contra si e Corrientes fora pacificada. No Brasil, essa recusa foi
interpretada como uma afronta a Pedro II e, mais, fez com que os governantes brasileiros se
convencessem de que Rosas era um inimigo do Império e, portanto, montaram uma
estratégia para enfrentá-lo. (...)”

Francisco DORATIOTO. O Império do Brasil e a Argentina (1822-1889)

O QUE O BRASIL FARÁ?

→ Missão Pimenta Bueno (1844)


Principal objetivo: o reconhecimento formal brasileiro em relação ao Paraguai.
.

Histórico:
- Em 1811, o caudilho Gaspar Francia fará a independência do Paraguai
- Francia: política de isolacionismo, mesmo com o reconhecimento unilateral de D. João VI.
- Com a morte de Francia, assume Carlos Lopez, que promoverá a abertura do Paraguai.
- Paraguaios tinham desconfiança em relação ao Rosas e Brasil aproveita para fazer um aliado.
1845: Tratado de Poncho Verde
→ Dará um ponto final à Revolução Farroupilha.
- Império vai preferir negociar com estancieiros gaúchos revoltosos, pois precisa deles.
- Governo necessita da Cavalaria gaúcha e das alianças externas que esses gaúchos tinham.
- Bento Gonçalves e a República Rio-grandense eram muito bem relacionados.
- Império do Brasil herda os parceiros de Bento Gonçalves.
- Aliança do Brasil com Urquiza (inimigo de Rosas ao norte da Argentina – Corrientes/Entrerríos).
- Governo brasileiro fará aliança com Rivera no Uruguai (Colorado, inimigo de Oribe).

O governo imperial brasileiro sentiu, ao final da década de 1840, a necessidade de levar sua
política externa na América do Sul para além de Paraguai, Argentina e Uruguai. Assim, Paulino
José Soares de Souza enviará Duarte da Ponte Ribeiro novamente a países vizinhos como Chile,
Peru e Bolívia, para assinar acordos bilaterais (até mesmo tratados de limites).

Livro: Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos. O Império do Brasil e as Repúblicas do Pacífico.

→ Final dos anos 1840 –novas missões Duarte da Ponte Ribeiro – Chile, Peru e Bolívia
- Obter neutralidade diante de guerra contra Rosas e, quando possível, acordos de limites.
- Para países mais ao Norte (Colômbia e Venezuela), Paulino designou Miguel Maria Lisboa.

CACD 2016 – 3a Fase

QUESTÃO 4

Em 1o de março de 1851, o Secretário dos Negócios Estrangeiros do Império do Brasil,


Paulino José Soares de Souza, expediu as instruções para a “Missão Especial nas Repúblicas
do Pacífico e na Venezuela”, que foi chefiada por Duarte da Ponte Ribeiro.

1. Discorra sobre a política externa brasileira nas décadas de 40 e 50 do século XIX e situe a
“Missão Especial nas Repúblicas do Pacífico e na Venezuela” nesse contexto, apontando
seus objetivos e seu alcance.
→ Objetivo: política de contenção a Rosas; política de intervencionismo no Prata; não havia
expansionismo por parte do Brasil.
→ Alcance: não concluímos todos os tratados de limites, mas deixamos rascunhos
importantes para o futuro. Conseguimos sucesso em obter a neutralidade dos vizinhos em
relação à nossa política de contenção a Rosas.

2. Comente a atuação de Duarte da Ponte Ribeiro na diplomacia brasileira do século XIX.


Duarte da Ponte Ribeiro foi a principal referência da diplomacia brasileira em relação aos
nossos vizinhos latino-americanos. Já havia participado de outras missões a esses países
latinos na década de 1830, realizando importantes acordos. Das décadas de 1840 e 1850,
Duarte da Ponte Ribeiro será o principal desenhista e articulador das questões fronteiriças.

3. Descreva o desenvolvimento da “Missão Especial nas Repúblicas do Pacífico e na


Venezuela” e analise seus desdobramentos e seus resultados.
→ Ao final dessas missões, o governo brasileiro sentiu-se preparado para enfrentar Rosas.

INTERVENÇÃO BRASILEIRA NO URUGUAI

Na década de 1820, houve enfrentamento entre a República das Províncias Unidas do Rio da
Prata e o Império do Brasil, em torno da Província Cisplatina. Brasileiros e argentinos disputaram
a Cisplatina, por 3 anos. Ao final, foi assinada uma Convenção de Paz, em 1828, intermediada
pela Inglaterra.

O Uruguai, tornado independente nesse mesmo ano, representava, segundo os ingleses, um


“algodão entre dois cristais”. A Constituição da República Oriental do Uruguai foi promulgada
em 1830. Havia dois partidos políticos uruguaios, cada um com sua preferência externa. Os
Colorados tinham influência maior do Brasil, enquanto os Blancos tinham influência maior da
Argentina.

Bento Gonçalves, líder farroupilha, fará uma aliança sólida com Fructuoso Rivera (presidente
uruguaio – Colorado). Quando explode a grande guerra uruguaia, os Colorados de Rivera (unidos
a Bento Gonçalves – com ajuda dos Carbonari de Garibaldi) lutarão contra os Blancos de Oribe
(unidos a Rosas).

Em 1851, Rivera conseguirá um aliado de peso: o Império do Brasil, que realiza uma exitosa
intervenção no Uruguai. A partir de então, o Uruguai seria, segundo definição de Doratioto, uma
espécie de semi-protetorado brasileiro.

Tratados de 1851 – Império do Brasil x República Oriental do Uruguai

→ Tratado da Perpétua Aliança


- Direito de intervenção do Império em conflitos internos uruguaios.

→ Tratado de Extradição
- Direito de solicitar a extradição de escravos fugidos e criminosos no Uruguai.

→ Tratado de Comércio e Navegação


- Direito de navegar no rio Uruguai e seus afluentes
- Isenção de taxas alfandegárias ao Brasil na exportação de charque e gado vivo.

→ Tratado de Socorro
- Reconhecimento da dívida uruguaia com o Brasil pelo auxílio na Grande Guerra (1839-1851).

→ Tratado de Limites
- Uruguai renuncia suas reivindicações territoriais ao norte do rio Cuareim.
- Direito exclusivo do Império de navegação na Lagoa Mirim e no rio Jaguarão.

CACD 2017 – 1a Fase – Questão 49

1. O contexto da negociação da fronteira entre Brasil e Uruguai, em meados da década de 50


do século XIX, caracterizou-se pela presença em território uruguaio de tropas do Exército
Imperial brasileiro, cujos objetivos incluíam, ainda, a contenção da política expansionista de
Juan Manuel de Rosas, líder da Confederação Argentina.
Gabarito: ERRADO. Já não havia a presença de tropas brasileiras no Uruguai.
O Império do Brasil, juntamente com o General Urquiza, invade Buenos Aires, em 1852. Rosas
será derrotado na Batalha de Monte Caseros, será derrubado e Urquiza torna-se o primeiro
presidente constitucional da Argentina.

→ PAX BRASILEIRA – termo cunhado por Doratioto:


- Diplomacia do Patacão (hegemonia brasileira no Prata).
- Aliado brasileiro no poder na Argentina.
- Semi-protetorado brasileiro no Uruguai.
- Boa relação com o Paraguai.

CACD 2014 – 3a Fase – Questão 1


Analise comparativamente as políticas do Segundo Reinado em relação à navegação
internacional dos rios Amazonas, Paraná e Paraguai, explicando suas motivações.
→ O Brasil será um defensor da livre navegação na Bacia do Prata (chegar ao Centro-Oeste),
enquanto fecha a navegação na Bacia do Amazonas (uso como barganha e receio da presença
norte-americana).

GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)


→ Item de maior importância na política externa do Segundo Reinado
→ Principal guerra da história do Brasil.
→ Definirá o papel do Exército Brasileiro e seu prestígio na sociedade nacional.

A interpretação tradicional:
→ Responsabilidade de Solano Lopez em relação à guerra:
- Império o retratava com um ditador, torturador e expansionista.
- D. Pedro II colocava-se como aquele que salvaria a América do Sul

→ A causa que Solano Lopez defendia: o Grande Paraguai.


- Necessidade de expansão territorial do Paraguai devido à falta de saída para o oceano.
- Objetivo era dominar a Bacia do Prata.
- Com essa finalidade, Solano Lopez tomará diversos territórios, inclusive do Brasil.

OBS.: essa interpretação em relação às causas da Guerra do Paraguai será hegemônica até o
surgimento de uma corrente historiográfica marxista.

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