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Página Textos da Reforma

Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solo Christus, Soli Deo Gloria
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Responsável: Dawson Campos de Lima
E-mail: dawson@samnet.com.br

A REFORMA PROTESTANTE Gilberto Cotrim


Críticas à Igreja
Fatores que impulsionaram o movimento da Reforma

No início do século XVI, a mudança na mentalidade das


sociedades européias repercutiu também no campo religioso. A Igreja,
tão onipotente na Europa medieval, foi duramente criticada.
A instituição católica estava em descompasso com as
transformações de seu tempo. Por exemplo, condenava o luxo
excessivo e a usura.
Além disso, uma série de questões propriamente religiosas
colocavam a Igreja como alvo da crítica da sociedade: a corrupção do
alto clero, a ignorância religiosa dos padres comuns e os novos
estudos teológicos.
As graves críticas contra a Igreja já não permitiam apenas
consertar internamente a casa. As insatisfações acumularam-se de tal
maneira que desencadearam um movimento de ruptura na unidade
cristã: a Reforma Protestante.
Assim, a Reforma foi motivada por um complexo de causas que
ultrapassaram os limites da mera contestação religiosa. Vejamos
detalhadamente algumas dessas causas.

Novas Interpretações da Bíblia

Com a difusão da imprensa, aumentou o número de exemplares


da Bíblia disponíveis aos estudiosos, e um clima de reflexão crítica e
de inquietação espiritual espalhou-se entre os cristãos europeus.
Surgia, assim, uma vontade individual de entender as verdades
divinas, sem a intermediação dos padres.
Desse novo espírito de interiorização da religião, que levou ao
livre exame das Escrituras, nasceram diferentes interpretações da
doutrina cristã. Nesse sentido, podemos citar, por exemplo, uma
corrente religiosa que, apoiada na obra de Santo Agostinho, afirmava
que a salvação do homem seria alcançada somente pela fé. Essas
idéias opunham-se à posição oficial da Igreja, baseada em Santo
Tomás de Aquino, pela qual a salvação do homem era alcançada pela
fé e pelas boas obras.

Corrupção do Clero

Analisando o comportamento do clero, diversos cristãos passaram


a condenar energicamente os abusos e as corrupções. O alto clero de
Roma estimulava negócios envolvendo a religião, como, por exemplo,
a simonia, comércio de coisas sagradas, como espinhos, falsos, que
coroaram a fronte de Cristo, panos que teriam embebido o sangue de
seu rosto, objetos pessoais dos santos etc.
Além do comércio de relíquias sagradas, a Igreja passou a vender
indulgências (perdão de pecados). Mediante certo pagamento
destinado a financiar obras da Igreja, os fiéis poderiam “comprar” a
sua salvação.
No plano moral, inúmeros membros da Igreja também eram objeto
de críticas. Multiplicavam-se os casos de padres envolvidos em
escândalos amorosos, de monges bêbados e de bispos que vendiam os
sacramentos, acumulando riquezas pessoais.
Esse mau comportamento do clero representava sério problema
ético-religioso, pois a Igreja dizia que os sacerdotes eram
intermediários entre os homens e Deus.

Nova Ética Religiosa


A Igreja Católica, durante o período medieval, condenava o lucro
excessivo – usura – e defendia o preço justo. Essa moral econômica
entrava em choque com a ganância da burguesia. Grande número de
comerciantes não se sentia à vontade para tirar o lucro máximo nos
negócios, pois temia ir para o inferno.
Os defensores dos grandes lucros econômicos necessitavam de
uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista comercial.
Essa necessidade da burguesia foi atendida, em grande parte, pela
ética protestante, que surgiu com a Reforma.

Sentimento Nacionalista

Com o fortalecimento das monarquias nacionais, os reis passaram


a encarar a Igreja, que tinha sede em Roma e utilizava o latim, como
entidade estrangeira que interferia em seus países. A Igreja, por seu
lado, insistia em se apresentar como instituição universal que unia o
mundo cristão.
Essa noção de universalidade, entretanto, perdia força à medida
que crescia o sentimento nacionalista. Cada Estado, com sua língua,
seu povo e suas tradições, estava mais interessado em afirmar as
diferenças do que as semelhanças em relação a outros Estados. A
Reforma Protestante correspondeu a esses interesses nacionalistas. A
doutrina cristã dos reformadores, por exemplo, foi divulgada na
língua nacional de cada país e não em latim, o idioma oficial da Igreja
Católica.

Reforma Luterana
A Salvação Não se Alcança Pelas Obras, Mas Somente Pela Fé

Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em Eislebein, na Alemanha.


Era filho de um empreiteiro de minas que atingiu certa prosperidade
econômica. Influenciado pelo pai, foi estudar Direito. No entanto, seu
temperamento inclinava-se para a vida religiosa. Em 1505, após quase
Ter morrido durante uma violenta tempestade, ingressou na Ordem
dos Agostinianos.
Em 1510, viajou a Roma, sede da Igreja Católica. Regressou
profundamente decepcionado com o ambiente de corrupção em que
vivia o clero.
Ética Luterana: Salvação Pela Fé

Entre 1511 e 1513, Lutero aprofundou-se nos estudos teológicos,


até que começou a amadurecer as idéias para a criação de uma nova
doutrina religiosa. Nas epístolas de São Paulo, encontrou uma frase que
lhe pareceu fundamental: O justo se salvará pela fé.
Concluiu Lutero que o homem, corrompido em razão do pecado
original, só poderia se salvar pela fé exclusiva em Deus. A fé, e não as
obras, seria o único instrumento de salvação, graças à misericórdia
divina.

Rompimento com a Igreja Católica

Em 1517, eclodiu o conflito decisivo que provocou o rompimento


de Lutero com a Igreja Católica.
Com o objetivo de arrecadar fundos para a reconstrução da
basílica de São Pedro, o papa Leão X autorizou a concessão de
indulgências aos fiéis que contribuíssem financeiramente com a Igreja.
Na prática, o papa colocou o céu “à venda”.
Escandalizado com essa salvação comprada, Lutero afixou na
porta da Igreja de Wittenberg um manifesto público – as 95 teses - ,
protestando contra a atitude do papa e expondo alguns elementos de
sua doutrina religiosa.
Iniciava-se, assim, a longa discussão entre Lutero e as autoridades
católicas, que terminou com a decretação de sua excomunhão, em
1520. Para demonstrar firmeza e descaso, Lutero queimou em praça
pública a bula papal Exsurge domine, que o condenava.
Em 1529, príncipes alemães protestaram contra as medidas que
impediam cada Estado de adotar sua própria religião. Foi a partir
desse protesto que se espalhou o nome protestante para designar os
cristãos não-católicos.

A Doutrina Luterana

Os pontos básicos da doutrina de Lutero, firmados na Confissão


de Augsburgo (1530), são:
# A fé é o único meio para a salvação.
# A Bíblia é a única fonte para a fé.
# O livre exame pelos fiéis é porta legítima para a Bíblia.
Além disso, a doutrina não aceitava o culto aos santos, a adoração
de imagens, a autoridade do papa etc.

Difusão do Luteranismo

Uma série de fatores sociais e econômicos favoreceram a difusão


do luteranismo na Alemanha. Destaca-se, entre eles, o fato de grande
parte das terras alemã pertenceram à Igreja, havendo grade interesse
da nobreza em se apossar dessas terras. Além disso, a burguesia, com
sede de poder e riqueza, mostrava-se descontente com a Igreja. Por
sua vez, camponeses e artesãos urbanos também responsabilizavam a
Igreja pela situação de miséria e de exploração em que viviam.
Havia portanto um certo consenso entre as diversas classes sociais
contra a Igreja Católica.
Com o apoio das classes ricas (nobreza e alta burguesia), Lutero
conseguiu divulgar sua doutrina religiosa pelo norte da Alemanha, na
Suécia, na Dinamarca e na Noruega.

Reforma Calvinista
A Salvação Depende da Escolha de Deus
João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França, país em
que estudou Teologia e Direito.
Aderindo às idéias protestantes, Calvino foi considerado herege e,
por isso, perseguido pelas autoridades católicas francesas. Em 1534,
acabou fugindo para a Suíça, onde o movimento reformista já se
desenvolvia, sob a liderança de Ulrich Zwinglio.

Ética Calvinista: Predestinação Divina

Em 1536, Calvino publicou sua principal obra, Instituição da


Religião Cristã, na qual afirmava que o ser humano estava
predestinado a merecer o céu ou o inferno. Explicava que Deus tinha
eleito algumas pessoas para serem salvas, enquanto outras seriam
condenadas à maldição eterna.
De 1541 a 1560, Calvino foi governante absoluto da cidade suíça de
Genebra. Durante esse período, Genebra ficou submetida a um
governo teocrático, misturando-se princípios religiosos e políticos.
A população de Genebra era controlada por severa vigilância
moral calvinista. Entre as atitudes condenadas, estavam o jogo, o culto
a imagens, a dança, o batismo de crianças com nomes não-bíblicos, o
uso de jóias etc. Quem descumprisse as normas ou se rebelasse contra
a doutrina era duramente punido. Muitos chegaram a ser condenados
à morte, como o médico Miguel Servet (1511-1533), que foi queimado
vivo por negar o pecado original.

Fé Burguesa

A prosperidade econômica e a riqueza material foram


interpretadas pelos seguidores de Calvino como um sinal da salvação
predestinada.
Assim, o Calvinismo foi bem recebido pela burguesia comercial,
que desejava uma ética religiosa que justificasse sua ambição material
(o lucro máximo).
Correspondendo aos interesses da burguesia, o Calvinismo
difundiu-se por países onde se expandia o capitalismo nascente:
França, Inglaterra, Escócia e Holanda.

Reforma Anglicana
A Fundação de Uma Igreja Nacional

Henrique VIII (1509-1547), rei da Inglaterra, era fiel aliado do


papa, recebendo, por isso, o título de Defensor da Fé. Entretanto, uma
série de questões políticas e econômicas o levaram a romper com a
Igreja Católica e fundar uma Igreja Nacional na Inglaterra, a Igreja
Anglicana.
Vejamos os principais fatores que provocaram a Reforma
Anglicana.

Interesses do Rei e da Nobreza

A Igreja Católica exercia grande influência política na Inglaterra.


Para fortalecer o poder da monarquia, Henrique VIII percebeu que era
preciso reduzir a influência do papa dentro da Inglaterra.
Além disso, a Igreja era dona de grande parte das terras e
monopolizava o comércio de relíquias sagradas. Interessada em
apossar-se das terras e dos bens da Igreja, a burguesia passou a apoiar
Henrique VIII.

Negação do Divórcio a Henrique VIII

Casado com a princesa espanhola Catarina de Aragão, Henrique


VIII teve com ela uma filha para sucedê-lo no trono. Entretanto, estava
bastante descontente com seu casamento. Primeiro, devido à origem
espanhola de sua esposa, uma vez que a Espanha era inimiga da
Inglaterra. Segundo, porque desejava um herdeiro masculino e porque
pretendia casar-se com Ana Bolena. Assim, em 1529, pediu ao papa
que anulasse o seu matrimônio com Catarina de Aragão, mas seu
pedido foi recusado.

Igreja Anglicana: Conteúdo Protestante, Ritual Católico

Apesar da recusa do papa, Henrique VIII conseguiu que o alto


clero inglês e o parlamento reconhecessem a validade de suas
intenções. Em 1534, o parlamento inglês aprovou o Ato de
Supremacia, pelo qual Henrique VIII tornava-se o chefe supremo da
Igreja da Inglaterra. Criava-se a Igreja Anglicana, cujo culto não foi,
todavia, modificado, continuando católico.
Após a fundação da Igreja Anglicana ocorreram, nos governos
sucessores de Henrique VIII, tentativas de se implantar o Calvinismo
e, também uma reação católica. Somente no reinado de Elizabeth I
(1558-1603) consolidou-se a Igreja Anglicana, com a mistura de
elementos do Catolicismo e da doutrina protestante. Assim, de acordo
com as circunstâncias históricas de cada momento, a monarquia
inglesa dirigia a Igreja Anglicana, enfatizando ora a forma católica ora
a protestante.

FONTE: História Glogal - Brasil e Geral


Gilberto Cotrim
Volume Único
Editora Saraiva

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