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10/11/2019 Lula provoca Bolsonaro e marca posição como seu maior rival | Brasil | EL PAÍS Brasil

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Lula provoca Bolsonaro e marca posição como seu


maior rival
Ex-presidente usa discurso ácido para antagonizar com posições radicais do
atual mandatário, mas enfrenta o rótulo de "criminoso" depois que saiu da
prisão

CARLA JIMÉNEZ | DIOGO MAGRI

São Paulo 09 NOV 2019 - 22:03 BRT

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Lula discursa em São Bernardo um dia após sua prisão N.DOCE (REUTERS)

O ex-presidente Lula da Silva voltou ao jogo político e já despertou suas bases ao mesmo
tempo em que provocou reações de seus adversários. Em seu discurso, em São Bernardo
do Campo, adoçou o coração de quem o segue com palavras de esperança de um país
melhor, incluindo o aviso de que a esquerda vencerá a extrema direita em 2022. Trouxe
também de volta os fantasmas que alimentam a narrativa do Governo Jair Bolsonaro e a
massa de antipetistas do Brasil. Depois de acusar o presidente Bolsonaro de governar para
os “milicianos do Rio de Janeiro”, e de chamar o ministro Sergio Moro de “canalha”, Lula
mencionou os protestos de rua que o Chile vem enfrentando há duas semanas. Citou os
chilenos como “exemplo” para “resistir” e “lutar”.

Foi a deixa para acusar o ex-presidente de estimular a violência. “Lula, em seu discurso,
mostra quem é e o que deseja para o país. Incita a violência (cita povo do Chile como
exemplo), agride várias instituições, ofende o Pres Rep e mostra seu total desconhecimento
sobre carreira militar”, tuitou o general Augusto Heleno, ministro de Segurança Institucional,
fazendo alusão também ao fato de Lula ter dito que Bolsonaro se aposentou cedo e agora
tira direitos previdenciários com a reforma.

Claudio Couto, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas, avalia que o
discurso inflamado de Lula para o seu público é estratégico para polarizar com Bolsonaro e
posicionar-se como sua principal oposição. “Não foi radical, foi um discurso forte que marca
a distância com a extrema direita [de Bolsonaro]”, completa. O que vai definir o jogo
eleitoral, no entanto, não são palavras ácidas ou dóceis do discurso. “É saber se ele vai
procurar o Ciro Gomes ou não, se será articulador ou se vai se isolar”, completa o professor
da FGV.

A esquerda no Brasil saiu fragmentada da eleição de 2018 após a fratura exposta com o
PDT, hoje dominado por Ciro Gomes, que nunca visitou Lula na prisão e não perde uma
oportunidade de alfinetá-lo. Baixar a guarda é um desafio diante de uma direita que também
se dividiu depois de uma aliança pela eleição do presidente Jair Bolsonaro, mas que deu
sinais neste sábado de quem também pode se reaproximar em nome de combater o petista
que volta à arena política. “A esquerda nunca foi muito unida”, ressalva a cientista política
Maria Hermínia Tavares, que não acredita numa radicalização de Lula e nem do PT. “Ele não
foi radical nem nos discursos mais virulentos. O Lula é um político de negociação, e isso
pode formar um campo amplo de oposição caso se estique até o ‘centrão’, ao MDB, porque

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ele já governou com essa gente”, opina. Mas, agora, o PT precisa juntar as forças primeiros,
opina. “O partido estava preso em Curitiba e agora está solto”.

Couto concorda. “Hoje ele tem mais apoiadores do que detratores, embora também
teremos uma mobilização forte dos bolsonaristas”. O professor entende que se Lula atuar
como articulador da oposição, o discurso da esquerda se fortalece. “Ele só vai conseguir
capitalizar essa vantagem se “brigar menos e conversar mais”. Ele tem a capacidade de
atrair até lideranças do centro, como Renan Calheiros e Roberto Requião, mesmo que o
partido deles tenha atuado pelo impeachment da Dilma”, opina.

Mas o petista tem contra si um rótulo pesado depois da prisão, ainda que
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seu processo seja objeto de questionamento na Justiça, com o recurso de
Livre, Lula
suspeição do ex-juiz Sergio Moro (a ser votado ainda este mês, segundo o acende
ministro Gilmar Mendes), que poderia anular seu processo. “Lula foi esperança de
reanimar uma
condenado e grande parte da população entende que ele é um criminoso.
combalida
A maior parte do Brasil não comemorou sua saída e ele não tem mais o oposição
poder de levar tanta gente para a rua, apesar de sua oratória”, acredita
Sergio Denicoli, diretor de big data da AP Exata. É um flanco que foi E se tivéssemos
explorado por Bolsonaro e Moro neste sábado. O presidente se referiu a um duelo entre
Lula como um “canalha, momentaneamente livre, mas cheio de culpa”. Lula e
Bolsonaro ou
Moro tuitou hoje que não responderia  a “criminosos, presos ou soltos”, Lula e Moro nas
em referência aos ataques de Lula. urnas em 2022?

Se o recurso de suspeição do então juiz Moro, responsável pela sua prisão


em primeira instância no caso do triplex, foi aceito pelo Supremo, teria poder para alterar
seu status, avalia o jurista Marco Aurélio de Carvalho, que vê chances de o ex-presidente
sair vitorioso no julgamento que pode ocorrer ainda este mês na Segunda Turma. “Ele pode
se reabilitar politicamente, e todos os demais processos aos quais ele responde seriam
contaminados pela suspeição de Moro”, diz ele. Nesse caso, Lula teria capacidade de
regeneração política muito maior, avalia o professor Claudio Couto. “Se houver anulação do
julgamento, o jogo muda totalmente de figura”.

Distração provocada

Couto acredita que o antagonismo entre Lula e Bolsonaro traz uma vantagem maior para o
segundo. “O presidente opera o tempo todo sendo anti-PT. Lula fora da prisão lhe dá um
discurso mais efetivo. Agora ele pode falar que a corrupção está vencendo e que o STF está
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cedendo à pressão dos condenados”, analisa. Os movimentos de rua da direita exploraram


exatamente isso neste sábado, incentivando o apoio à PEC que rever a decisão do Supremo
da semana passada sobre segunda instância que libertou Lula e outros desafetos deles,
como o ex-ministro José Dirceu.

Para Bolsonaro, a volta de Lula ao cenário nacional ajuda a redirecionar o debate para um
nível ideológico, “tirando o foco das dificuldades diárias que o seu Governo vem
demonstrando ter”, avalia o analista Thiago de Aragão. “Isso também é o que o Lula quer,
tirar o foco de Bolsonaro enquanto busca apoio dos [partidos] de centro para inibir cada vez
mais a capacidade do presidente de formar uma aliança forte”, completa.

Essa cartada do presidente, porém, é limitada. Ele também tem seus esqueletos no armário
jurídico, com o filho, o senador Flavio Bolsonaro, sendo investigado pelas movimentações
financeiras suspeitas do ex-funcionário de seu gabinete, Fabricio Queiroz, o que ofuscou seu
papel de defensor da luta anti-corrupção. Couto enxerga no fato de Sérgio Moro ser ministro
do Governo um ponto a favor da postura lavajatista do presidente. “Se o Bolsonaro perdeu
essa reputação íntegra, embora não tenha nenhuma trajetória histórica de político
anticorrupção, ele pode retomá-la com a aliança de Moro”, opina. Hermínia Tavares não vê o
presidente se beneficiando e nem se prejudicando com a soltura de Lula. “O fato pode criar
um elo maior. Mas só para os que já estão do lado dele”. Vai ser um jogo de resistência para
os dois campos até 2022.

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