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ISSN 0103-5355

Arquivos Brasileiros de

NeurocirurgiA
brazilian archives of neurosurgery
Órgão oficial: sociedade Brasileira de Neurocirurgia e sociedades de Neurocirurgia de Língua portuguesa

Volume 30 | Número 3 | 2011


PA R A O T R ATA M E N T O D A D O R

benfotiamina
O NEUROPROTETOR DE ALTA
1,2
BIODISPONIBILIDADE

10X mais potente que a tiamina (VITAMINA B1)


benfotiamina
em concentrações equivalentes4

* Diclofenato e nimesulida.
Mais eficácia no alívio da dor em
benfotiamina
comparação com complexo B5

Biodisponibilidade até 15x maior


benfotiamina
que a tiamina em doses equivalentes6

Potencializa os efeitos dos AINHs3*


benfotiamina

1 VEZ Apresentação
com 30 drágeas
AO DIA**7 de 150 mg7
** Esta posologia refere-se ao
tratamento de manutenção.

Referências bibliográficas: 1. Loew D. Pharmacokinetics of thiamine derivatives especially of benfotiamine. Int J Clin Pharmacol Ther. 1996;34(2):47-50. 2.Balakumar P, et al. The multifaceted therapeutic potential of benfotiamine. Pharmacol Res. 2010;61(6):482-8. 3. Rodrigues LA, et
al. Potencialização do efeito antiinflamatório e antinociceptivo do diclofenaco e da nimesulida por vitaminas do complexo B. Rev. ciênc. farm. básica apl. 2007;28(1):45-9. 4. Brownlee M. The pathobiology of diabetic complications: a unifying mechanism. Diabetes. 2005;54(6):1615-25.
5. Simeonov S, et al. Therapeutic efficacy of “Milgamma” in patients with painful diabetic neuropathy. Folia Med (Plovdiv).1997;39(4):5-10. 6. Schreeb KH, et al. Comparative biovailability of two vitamin b1 preparations: benfotiamine and thiamine mononitrate. Eur J Clin Pharmacol
1997;51:319-20. 7. Bula do produto.

MILGAMMA* (benfotiamina). INDICAÇÕES: MILGAMMA é usado para o tratamento da polineuropatia diabética e da polineuropatia alcoólica sintomáticas. CONTRAINDICAÇÕES:
MILGAMMA é contraindicado para pacientes que já apresentaram hipersensibilidade à benfotiamina ou a qualquer um dos componentes da fórmula do produto. ADVERTÊNCIAS E
PRECAUÇÕES: Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas, lactantes, por crianças e jovens com idade inferior a 18 anos sem orientação médica ou do cirurgião-
dentista. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Até o momento, não houve relato de interações medicamentosas ou de interações com alimentos com MILGAMMA. Nos estudos clínicos
realizados com MILGAMMA, não foram observadas alterações nos exames laboratoriais avaliados. POSOLOGIA E MODO DE USAR: Adultos - 300 mg a 450 mg de benfotiamina,
dependendo da gravidade da polineuropatia, durante pelo menos quatro a oito semanas (2 drágeas de MILGAMMA 50 mg, três [de 8 em 8 horas] a quatro [de 6 em 6 horas] vezes por
dia, ou 1 drágea de MILGAMMA 150 mg, duas [de 12 em 12 horas] a três [de 8 em 8 horas] vezes ao dia). Após este período inicial, recomenda-se 150 mg de benfotiamina ao dia (=
1 drágea de MILGAMMA 50 mg, três vezes ao dia [de 8 em 8 horas], ou 1 drágea de MILGAMMA 150 mg, uma vez ao dia). REAÇÕES ADVERSAS: Transtornos do sistema imunológico
- Muito raros (≤ 1/10.000 (≤0,01%)): reações de hipersensibilidade, como erupções cutâneas, urticária, reações anafiláticas. Transtornos gastrintestinais - Nos estudos clínicos com
a benfotiamina, houve documentação de transtornos gastrintestinais como náuseas, em casos isolados. MS 1.0093.0267 VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SE PERSISTIREM OS
SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Mais informações à disposição da classe médica no departamento científico da Mantecorp.

CONTRAINDICAÇÕES: MILGAMMA é contraindicado para pacientes que já apresentaram hipersensibilidade à benfotiamina ou


a qualquer um dos componentes da fórmula do produto. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: Até o momento, não houve relato de
interações medicamentosas ou de interações com alimentos com MILGAMMA. Nos estudos clínicos realizados com MILGAMMA,
não foram observadas alterações nos exames laboratoriais avaliados.
Distribuição exclusiva à classe médica. Material produzido em Setembro/2011.
ISSN 0103-5355

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NeurocirurgiA
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Órgão oficial: sociedade Brasileira de Neurocirurgia e sociedades de Neurocirurgia de Língua portuguesa

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Gilberto Machado de Almeida
Conselho Editorial
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Arnaldo Arruda João Cândido Araújo Marcos Barbosa


Fortaleza, CE Curitiba, PR Coimbra, Portugal

Atos Alves de Sousa Jorge Luiz Kraemer Marcos Masini


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Benedicto Oscar Colli José Alberto Gonçalves Mário Gilberto Siqueira


Ribeirão Preto, SP João Pessoa, PB São Paulo, SP

Carlos Telles José Alberto Landeiro Nelson Pires Ferreira


Rio de Janeiro, RJ Rio de Janeiro, RJ Porto Alegre, RS

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Rio de Janeiro, RJ Botucatu, SP
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Evandro de Oliveira José Perez Rial Sérgio Cavalheiro


São Paulo, SP São Paulo, SP São Paulo, SP

Fernando Menezes Braga Jose Weber V. de Faria Sergio Odoni


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Francisco Carlos de Andrade Luis Alencar Biurrum Borba Waldemar Marques


Sorocaba, SP Curitiba, PR Lisboa, Portugal

Hélio Rubens Machado Manoel Jacobsen Teixeira


Ribeirão Preto, SP São Paulo, SP

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Antonio de Salles Michael Lawton Robert F. Spetzler


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Beatriz Lopes Nobuo Hashimoto Rungsak Siwanuwatn


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Clement Hamani Oliver Bozinov Volker Sonntag


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Daniel Prevedello Paolo Cappabianca Yasunori Fujimoto


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Felipe Albuquerque Peter Black


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Jorge Mura Peter Nakaji


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Primeiro Secretário Presidente Eleito do Congresso (CBN 2014)


Eberval Gadelha Figueiredo Luís Alencar Biurrum Borba (PR)

Secretário Auxiliar Ex-Presidente (Gestão 2008 - 2010)


Modesto Cerioni Júnior Luiz Carlos de Alencastro

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Cid Célio Jayme Carvalhaes
Secretário
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Diretor de Políticas
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Diretor de Divulgação de Projetos Atos Alves de Sousa
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Kunio Suzuki
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reprodução de ilustrações coloridas.
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Publishers; 1973.
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relacionados à dor no câncer. [tese]. São Paulo: Escola de
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Enfermagem da Universidade de São Paulo; 1995.
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Corrêa CF. Tratamento da dor oncológica. In: Corrêa CF,
de magnificação e coloração; reprodução de ilustração já
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publicada deve ser acompanhada da autorização, por escrito,
Brasileiro e Encontro Internacional sobre Dor; 2005 outubro 19-
dos autores e dos editores da publicação original e esse fato
22; São Paulo, Brasil. São Paulo: Segmento Farma. p. 110-20.
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Volume 30 | Número 3 | 2011

89 Abordagem posterior para transferência nervosa do nervo acessório para o nervo supraescapular
Posterior approach to accessory nerve transfer to supraescapular nerve
Ricardo de Amoreira Gepp, José Mauro Cardoso Couto, Marcio Mendonça de Cardoso, Eidmar Augusto Neri, Regis Tavares da Silva

94 Perfil socioeconômico dos cuidadores de crianças com hidrocefalia


Socioeconomic profile of familial caregiver’s hydrocephalus
Débora Moura da Paixão Oliveira, Carlos Umberto Pereira, Záira Moura da Paixão Freitas

99 Perfil clínico-epidemiológico de traumatismo cranioencefálico do Hospital de


Urgências e Traumas no município de Petrolina, estado de Pernambuco
Clinical and epidemiological profile of head trauma at the Urgências
e Traumas Hospital in the city of Petrolina, Pernambuco
José Carlos de Moura, Bruno Lázaro Ramos Rangel, Sheila Cristiane Evangelista Creôncio, José Ricardo Barros Pernambuco

105 Concordância entre diagnósticos neuropatológicos premortem e


postmortem em 90 pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida,
submetidos à necrópsia em um hospital de ensino no Brasil
Agreement between premortem e postmortem neuropathological diagnoses in 90 patients with
acquired immune deficiency syndrome, submitted to autopsy at a teaching hospital in Brazil
Ana Cristina Araújo Lemos da Silva, Blenda Sousa Carli Rodrigues, Everton Nunes de Melo Moura,
Antonio Carlos Oliveira de Meneses, Adilha Misson Rua Micheletti, Mario Leon Silva Vergara, Sheila Jorge Adad

110 Suboccipital craniectomy and duraplasty for Arnold-Chiari


malformation 1: experience with 26 patients
Craniectomia suboccipital e duroplastia para o tratamento da malformação
de Arnold-Chiari tipo 1: experiência com 26 pacientes
Fabiana Policarpo, Jose Carlos Lynch, Celestino Esteves, Ricardo Andrade, Vicente Temponi

116 Signaling pathways in cerebral vasospasm


Vias sinalizadoras em vasoespasmo cerebral
Flávio Ramalho Romero, Eberval Gadelha Figueiredo, Manoel Jacobsen Teixeira

120 Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo


Psychosurgery for the treatment of obsessive-compulsive disorder
Leila Maria Da Róz, Eduardo Santamaria Carvalhal Ribas, Gerson Ballester, Eberval Gadelha Figueiredo,
Manoel Jacobsen Teixeira

129 Espondilolistese traumática do áxis – Experiência em 41 casos


Traumatic spondylolistesis of axis: a study of 41 cases
Rodrigo Moreira Faleiro, Newton José Godoy, Rafael Cardoso Campos, Geraldo Ávila

132 Atypical teratoid/rhabdoid tumor of the brain – A case with three secondary implants
Tumor rabdoide/teratoide atípico de encéfalo – Um caso com três implantes secundários
Pedro Radalle Biasi, Paulo Sérgio Crusius, Cláudio Albano Seibert, Marcelo Ughini Crusius, Charles André Carazzo,
Cassiano Ughini Crusius, Cassiano Mateus Forcelini, Adroaldo Baseggio Mallmann

137 Hematoma intradiploico: tratamento cirúrgico e relato de caso


Intradiploic hematoma: surgical treatment and case report
Ricardo de Amoreira Gepp, Eidmar Augusto Neri, Altamir Monteiro Junior, Ricardo Karam Kalil

142 Meningioma intramedular cervical: relato de caso e revisão da literatura


Intramedullary cervical meningioma: a case report and literature review
Ricardo Brandão Fonseca, Josildo Pereira Marins Filho, Gray Portela, Nilson Bandeira Castelo Branco, Luciene Seixas

146 Aneurismas infecciosos: incidência, diagnóstico e tratamento


The infectious aneurysms: incidence, diagnosis and treatment
Saulo Simões Garcia, Eberval Gadelha Figueiredo, Manoel Jacobsen Teixeira
Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia

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Assinatura para o exterior: US$ 35,00.
Arq Bras Neurocir 30(3): 89-93, 2011

Abordagem posterior para transferência


nervosa do nervo acessório para
o nervo supraescapular
Ricardo de Amoreira Gepp1, José Mauro Cardoso Couto2, Marcio Mendonça
de Cardoso1, Eidmar Augusto Neri2, Regis Tavares da Silva2

Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.

RESUMO
Objetivo: Os autores realizaram uma avaliação comparativa entre a abordagem anterior e posterior do
nervo acessório para transferência nervosa para o nervo supraescapular. Método: Foram estudados
pacientes submetidos à neurotização do nervo supraescapular utilizando como doador o nervo
acessório, no período de janeiro de 2007 a janeiro de 2010. Os registros cirúrgicos foram avaliados
para analisar as vantagens e desvantagens das duas formas de abordagem desses nervos na cirurgia.
Foram avaliados os marcos anatômicos utilizados para a localização dos nervos durante a cirurgia e
as dificuldades ocorridas nas duas formas de abordagem. Resultados: Foram estudados ao todo 29
pacientes, sendo que 22 deles foram abordados pela via anterior e sete por via posterior. A localização
do nervo supraclavicular foi considerada mais fácil pela via posterior, enquanto a localização do
nervo acessório foi feita mais rapidamente pela via anterior. Em nenhuma das cirurgias foi necessária
a interposição de enxerto nervoso. Não ocorreram complicações cirúrgicas nas duas técnicas.
Conclusão: A análise comparativa das duas abordagens cirúrgicas demonstra que a anatomia
desses dois nervos é importante fator na dificuldade técnica apresentada na cirurgia. Novos estudos
devem analisar se há uma melhora dos resultados funcionais com a abordagem pela via posterior.

PALAVRAS-CHAVE
Transferência de nervo, nervo acessório, plexo braquial.

ABSTRACT
Posterior approach to accessory nerve transfer to supraescapular nerve
Objective: The authors conducted a comparative evaluation between the previous approach and later
transfer accessory nerve to nerve nervous supraescapular. Method: Patients undergoing the nerve
supraescapular transfer to the accessory nerve, in the period January 2007 to January 2010 were
studied. Surgical records were evaluated to analyze the advantages and disadvantages of the two ways
to approach these nerves in surgery. The anatomical landmarks used for localization of nerves during
surgery were evaluated and the difficulties that occurred in the two forms of approaches. Results:
Were studied in all 29 patients, with 22 of these were addressed through anterior and 7 through
posterior. The location of supraclavicular nerve was considered easier through posterior approach,
while the localization of accessory nerve was made more quickly through anterior. In none of the
surgeries were required the interposition graft nervous. Non-surgical complications occurred in two
techniques. Conclusion: A comparative analysis of two forms of surgical approach demonstrates that
knowledge of the anatomy of these two nerves is important factor in technical difficulty presented in
surgery. New long-term studies should examine whether there is an improvement of the functional
results with the approach through posterior.

KEYWORDS
Nerve transfer, accessory nerve, brachial plexus.

1. Serviço de Neurocirurgia Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília, DF, Brasil.


2. Sorocaba, SP, Brasil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 89-93, 2011

Introdução Técnica cirúrgica


As lesões da porção superior do plexo braquial Via anterior: Paciente posicionado em decúbito
(C5 e C6) ocasionam déficit de função do ombro e dorsal, com a cabeça vertida para o lado contralateral
de flexão do cotovelo.3 Esses movimentos são impor- a abordagem cirúrgica, é feito uma incisão transversal
tantes para o funcionamento do membro superior, na porção lateral cervical externamente ao músculo
servindo o ombro como apoio e centro para a flexão esternoclidomastoídeo. Após a abertura do músculo
do antebraço sobre o braço, permitindo, assim, uma platisma, é feita a dissecção do plexo braquial com iden-
ação efetiva da mão do paciente. A transferência do tificação do nervo supraescapular após a sua saída do
nervo acessório para o nervo supraescapular é um tronco superior. O nervo acessório é localizado próximo
dos procedimentos cirúrgicos mais utilizados para à porção superior do plexo cervical e apresenta como
restabelecer a função de abdução do ombro executa- marco anatômico superficial a emergência dos nervos
do pelo músculo supraespinhoso.2 Classicamente, a auricular maior e occipital menor. Após a localização
abordagem desses nervos é realizada cirurgicamente do nervo acessório este é dissecado distalmente para
pela via anterior, na região supraclavicular.3,4 Mais que o nervo alcance sem tensão na sutura o nervo su-
recentemente, descrições têm sido feitas a respeito da praescapular. A anastomose é feita com microcirurgia
abordagem posterior desses nervos, principalmente utilizando fio mononylon 9-0.
quando associada à transferência nervosa de ramos Via posterior: O paciente é posicionado em decú-
do nervo radial para o nervo axilar.1 bito ventral. São feitas as marcações de pontos de refe-
Os autores realizaram uma avaliação comparativa rência na pele para a localização dos nervos (Figura 1). Para
entre as técnicas cirúrgicas de abordagem anterior e identificação do nervo acessório, traça-se uma linha ao
longo da borda superior da escápula, entre o processo
posterior do nervo acessório para transferência nervosa
espinhoso e o acrômio, e marca-se o ponto do nervo
para o nervo supraescapular, em pacientes portadores
cerca de 40% da distância partindo-se da linha média.
de lesão do plexo braquial, descrevendo os detalhes
O músculo trapézio é aberto na direção das suas fibras
técnicos e avaliando as vantagens e desvantagens de
e utiliza-se o estimulador de nervo que auxilia na sua
cada método cirúrgico.
posição. Para a localização do nervo supraescapular, o
ângulo superior da escápula e o acrômio são marcados;
no ponto médio entre estas duas referências encontra-
-se o nervo supraescapular. Após a incisão, o músculo
Método trapézio é aberto para em seguida realizar a palpação
da borda superior da escápula e localizar a incisura
Foram estudados pacientes vítimas de lesão escapular onde se encontra o nervo. Após a abertura
completa ou parcial do plexo braquial, que foram do ligamento, o nervo supraescapular está liberado para
submetidos à neurotização do nervo supraescapular receber o nervo acessório que é rebatido em sua direção.
utilizando como doador o nervo acessório. A avalia- A sutura é feita com fio 9-0 e utilizando o microscópio
ção retrospectiva dos prontuários compreendeu os cirúrgico (Figura 2).
pacientes operados no período de janeiro de 2007 a
janeiro de 2010. Todos os pacientes foram submetidos
à avaliação clínica por examinador independente e
a pelo menos um exame neurofisiológico – os casos
selecionados tinham que apresentar exame clínico e
eletroneuromiografia demonstrando que não houve
lesão associada do nervo acessório. Todos os casos
analisados foram submetidos a estudo de imagem
pré-operatória, por meio de ressonância magnética
nuclear ou mielotomografia da região cervical. Os
registros cirúrgicos foram avaliados para analisar as
vantagens e desvantagens das duas formas de abor-
dagem desses nervos na cirurgia. Foram estudados os
marcos anatômicos utilizados para a localização dos Figura 1 – Paciente em decúbito ventral para a realização
nervos durante a cirurgia e as dificuldades ocorridas da abordagem posterior. A linha superior traçada entre a
linha média da coluna e o acrômio mostra a posição do nervo
nas duas formas de abordagens. A seguir, descrevemos acessório (AN). A linha inferior representa a escápula e o nervo
as técnicas cirúrgicas utilizadas. supraescapular (SS).

90 Abordagem posterior para transferência nervosa do nervo acessório para o nervo supraescapular
Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 89-93, 2011

Figura 2 – (A) Exposição do nervo acessório. (B) Liberação do nervo supraescapular na incisura da escápula. (C) Nervos acessório e
supraescapular expostos. (D) Anastomose entre os dois nervos sem interposição de enxerto.

Resultados A localização do nervo acessório foi feita mais


rapidamente pela via anterior em virtude dos marcos
Foram estudados por meio de revisão de prontuários anatômicos do plexo cervical superficial. A incisão
ao todo 29 pacientes – 22 deles foram abordados pela cirúrgica variou entre a transversal acima da clavícula
via anterior e 7 por via posterior. Os pacientes do sexo e longitudinal seguindo a borda lateral do músculo
masculino eram 27 do total. A lesão completa do plexo esternoclidomastoídeo. A presença dos marcos anatô-
micos baseados nos nervos superficiais do plexo cervical
braquial ocorreu em 16 casos, e nos 13 restantes a lesão
facilitou a localização do nervo acessório na superfície
foi parcial, com acometimento superior do plexo. Nos
do músculo levantador da escápula. O nervo acessório
casos em que houve a lesão superior, sete pacientes
apresentou uma maior dificuldade de ser localizado
apresentaram alterações em C5, C6 e C7, enquanto em pela via posterior, mas a utilização do estimulador de
seis casos a lesão era apenas de C5 e C6. nervo foi muito útil nessa localização após a abertura
Na análise dos relatos cirúrgicos, a localização do do músculo trapézio.
nervo supraescapular foi considerada mais fácil pela via Em todos os procedimentos cirúrgicos, foram
posterior por causa dos pontos anatômicos de referência possíveis a localização dos nervos e a realização da
na escápula. Na via anterior, o nervo supraescapular ne- anastomose direta sem a necessidade de interposição
cessitou de maior dissecção e, em lesões graves do plexo, de enxerto de nervo sural. Não ocorreram lesões
a sua localização foi mais demorada, principalmente vasculares, danos a outros nervos ou complicações
quando havia lesões associadas do tronco superior. cirúrgicas nas duas técnicas. Não houve nenhum caso

Abordagem posterior para transferência nervosa do nervo acessório para o nervo supraescapular 91
Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 89-93, 2011

de infecção pós-operatória superficial ou profunda preferencial, na maioria dos casos devido a três fatores:
nesta série de casos. A dor pós-operatória não foi a fácil localização dos nervos após familiarização com
significativa nas duas formas de abordagem cirúrgica a técnica cirúrgica, a possibilidade de ocorrer uma
e não se observou restrição na mobilização do ombro anastomose direta sem interposição de enxerto ner-
ou pescoço pelas intervenções. voso e a transferência nervosa ocorrer mais próximo
do músculo efetor do movimento, no caso o músculo
supraespinhoso. Novos estudos em longo prazo devem
analisar se há uma melhora dos resultados funcionais
com a abordagem pela via posterior.
Discussão As duas formas de realização da anastomose do
nervo acessório com o nervo supraescapular são efeti-
Classicamente, o tratamento das lesões do plexo
vas. Atualmente, utiliza-se a via posterior como forma
braquial era feito pela abordagem cirúrgica direta ao
de eleição para essa anastomose, mas em situações
plexo, com estudo neurofisiológico e reparo direto da
em que não há necessidade de realização de nenhum
lesão.3 Mais recentemente, a realização de transferências
procedimento em decúbito ventral utiliza-se a via
nervosas modificou a forma de tratamento e tornou-se
anterior (Tabela 1). Nos pacientes em que será feita
a forma preferencial de tratamento das lesões de plexo
a transferência de ramo do nervo radial para o nervo
braquial para vários autores.2,5-7
axilar, utiliza-se preferencialmente a abordagem pos-
As transferências distais apresentam vantagens em
terior. A não necessidade da mudança de decúbito do
relação à cirurgia direta do plexo, pois não necessi-
paciente, quando este é submetido à anastomose axilar
tam de ampla dissecção na região do plexo braquial e
com o nervo radial, é um fator importante na redução
permitem a inervação próxima ao músculo efetor do
do tempo cirúrgico. Nos casos em que será feita apenas
movimento. Além desses dados, as respostas funcionais
uma anastomose do nervo ulnar para o nervo muscu-
têm se demonstrado superiores à abordagem direta ao
locutâneo, usa-se preferencialmente a via anterior, mas
plexo braquial.
pode ser feita também a via posterior.
Inicialmente, a via preferencial da transferência ner-
vosa do nervo acessório para o nervo supraescapular é
a abordagem cervical na região supraclavicular. Apenas
mais recentemente, maior atenção tem sido dada à via
posterior, principalmente após o estudo de Colbert e Conclusão
Mackinnon1 sobre a dupla transferência posterior. An-
teriormente pouco descrita, a via de acesso posterior ao Esta série de casos demonstrou que a realização da
plexo braquial tem sido mais utilizada, principalmente transferência do nervo acessório para o nervo supraes-
quando o objetivo da cirurgia é o tronco inferior, de- capular pela via posterior é efetiva e prática, principal-
monstrando, assim, que o acesso cirúrgico não deve ser mente quando da necessidade da realização de outras
padronizado, e sim definido pelo objetivo da cirurgia.6,8 transferências com o paciente em decúbito ventral. As
A análise comparativa das duas formas de abor- dificuldades técnicas são resultantes do conhecimento
dagem cirúrgica demonstra que o conhecimento da anatômico e da experiência com a via de acesso, mas
anatomia desses dois nervos é importante fator para no momento não há dados que demonstrem que o
a diminuição da dificuldade técnica apresentada na resultado funcional é melhor. Estudos futuros compa-
cirurgia. Apesar de necessitar de reposição do paciente rando os resultados funcionais entre as duas formas de
para o decúbito ventral, a via posterior tem sido a opção abordagem são necessários.

Tabela 1 – Resumo das propostas de via de acesso em relação ao objetivo da cirurgia de transferência nervosa

Lesão do plexo Cirurgia proposta Via de acesso acessório-supraescapular


Completa Anastomose frênico-musculocutâneo Anterior
Incompleta Anastomose radial-axilar Posterior
Incompleta Anastomose ulnar-musculocutâneo Anterior ou posterior

92 Abordagem posterior para transferência nervosa do nervo acessório para o nervo supraescapular
Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 89-93, 2011

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Ricardo de Amoreira Gepp
and upper extremity surgery. Tech Hand Up Extrem Surg.
Rua SQSW, 300, bloco M, ap. 204, Sudoeste
2008;12(1):20-33. 70673-014 – Brasília, DF, Brasil
6. Mackinnon SE, Novak CB, Myckatyn TM, Tung TH. Results Telefone: (61) 3342-2420
of reinnervation of the biceps and brachialis muscles with E-mail: ricardogepp@zipmail.com.br; rgepp@sarah.br

Abordagem posterior para transferência nervosa do nervo acessório para o nervo supraescapular 93
Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 94-8, 2011

Perfil socioeconômico dos cuidadores


de crianças com hidrocefalia
Débora Moura da Paixão Oliveira1, Carlos Umberto Pereira2, Záira Moura da Paixão Freitas3

Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil.

RESUMO
Objetivo: Caracterizar cuidadores de crianças com hidrocefalia em relação ao perfil socioeconômico.
Método: Estudo descritivo, quantitativo, utilizando a técnica de entrevista padronizada com cuidadores
atendidos no ambulatório de um hospital universitário entre novembro de 2007 e agosto de 2008.
Foram coletados os dados socioeconômicos como idade, gênero, parentesco, procedência,
escolaridade, situação conjugal, moradia, ocupação, renda familiar, número de moradores no
domicílio. Para análise estatística, foram utilizados os testes de qui-quadrado de Pearson, exato de
Fisher e McNemar. Resultados: A amostra foi composta por 54 cuidadores procedentes do interior
do estado de Sergipe, Bahia e Alagoas, com média de idade de 27,3 ± 7 anos e predomínio absoluto
do gênero feminino. Observou-se um efeito significativo (p = 0,00004) sobre o número das que
deixaram de trabalhar para ser cuidadoras. Vinte e três (42,6%) cursaram até oito anos de estudo.
Trinta cuidadoras (55,6%) possuem renda familiar de um salário-mínimo. Conclusão: Os achados
sugerem que cuidadoras de crianças com hidrocefalia são donas de casa sem remuneração, com
baixo grau de instrução e pouca orientação profissional. Deixaram de trabalhar para ser cuidadoras
e possuem recursos financeiros reduzidos.

PALAVRAS-CHAVE
Criança, cuidadores, família, hidrocefalia.

ABSTRACT
Socioeconomic profile of familial caregiver’s hydrocephalus
Objective: To characterize the socioeconomic profile of caregivers of hydrocephalus patients.
Method: Descriptive and quantitative study using the interview technique. The survey was performed
with caregivers at a University Hospital between November 2007 and August 2008. We collected
socioeconomics data as age, gender, relationship, origin, scholarship, marital status, residence, job,
familial income, number of people at home. For statistical analyses was utilized chi-square, Pearson,
Fisher exact and McNemar tests. Results: Fifty-four caregivers answered the interview, 38 (70.4%)
come from rural zone the state of Sergipe, Bahia and Alagoas with mean age 27.3 ± 7 years, and
absolute predominance of females. There was a positive correlation on the number that they had left
to work to be caregivers (p = 0.00004). Twenty-three (42.6%) studied only eight years. Thirty caregivers
(55.6%) have lower family income a month. Conclusion: The caregivers of hydrocephalus patients are
mothers without remuneration with have a poor education level and they received little professional
information. They had left to work to be caregivers and reduced financial resources.

KEYWORDS
Child, caregivers, family, hydrocephalus.

Introdução que diferem da rotina de uma criança saudável.1,20 Esses


procedimentos acabam fazendo parte da vida desses
A hidrocefalia é uma condição em que a principal indivíduos e de suas famílias, uma vez que, em situação
característica é o acúmulo excessivo de líquido nos de doenças crônicas, os cuidados nunca cessam.8,25
ventrículos cerebrais.17,31 O tratamento da hidrocefalia Os cuidados necessários dependem da idade da
consiste em reduzir a quantidade de líquido no cérebro, criança, da causa da hidrocefalia e do tipo de intervenção
a fim de diminuir a pressão intracraniana.31 A criança médica a ser realizada. No domicílio, a criança recebe
com hidrocefalia passa por diversos procedimentos cuidados de pessoas com algum grau de parentesco e

1. Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil.
2. Departamento de Medicina da UFS, Aracaju, SE, Brasil.
3. Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, UFS, Aracaju, SE, Brasil.
Extraído da dissertação Caracterização do cuidador familiar em relação ao conhecimento sobre hidrocefalia, apresentada ao Núcleo de Pós-
-Graduação em Medicina e Saúde da Universidade Federal de Sergipe.
Arq Bras Neurocir 30(3): 94-8, 2011

proximidade física ou afetiva, geralmente do gênero Para a coleta de dados, utilizou-se um formulário
feminino, que se dedicam, sem remuneração, a empreen- de perguntas fechadas para entrevista padronizada,
der cuidados na vida cotidiana para aquelas que inspiram englobando variáveis definidas para o objetivo da pes-
cuidados especiais, supervisão e assistência.13,16,29 quisa. O instrumento foi testado em um estudo piloto
O cuidador realiza práticas de cuidado dentro da com dez cuidadores. Verificou-se não haver problemas
sua realidade, visando amenizar sintomas, oferecer com as questões. Os resultados demonstraram ótima
alimentação adequada, cuidar do vestuário e aplicar compreensão e entendimento com um tempo médio
medidas de conforto visando à prevenção de compli- de 40 minutos para seu preenchimento.
cações pós-operatórias.1,23 Foram coletados os dados socioeconômicos como
Entretanto, há de se considerar que a hidrocefalia idade, gênero, parentesco, procedência, escolaridade,
envolve questões além da própria enfermidade, envolve situação conjugal, moradia, ocupação, renda familiar,
a estrutura e o aspecto socioeconômico familiar.15,30 número de moradores no domicílio.
O tratamento da criança com hidrocefalia exige da A coleta de dados procedeu-se no período de no-
família capacidade cognitiva dos cuidadores para rea- vembro de 2007 a agosto de 2008 após a aprovação do
lizar cuidados técnicos, muitas vezes complexos, visitas projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa
regulares a serviços de saúde e, em algumas situações, com nº 0126.0.107.000-07. Para análise estatística,
despesas extras não cobertas pelos benefícios sociais.27 foram utilizados os testes qui-quadrado de Pearson,
Vários autores demonstraram o efeito do status exato de Fisher e McNemar com a ajuda do programa
socioeconômico da família na saúde da criança,19,21,26 SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 15.0.
verificando-se que uma renda mais baixa foi associada
com maior necessidade de cuidados médicos e piores
resultados sociais e cognitivos.
Kulkarni et al.15 identificaram que as disparidades
socioeconômicas permanecem como importantes Resultados
causas determinantes de maior qualidade de vida em
crianças com hidrocefalia. Os autores perceberam que Em relação ao gênero, revelou-se a predominância
crianças de famílias com maior renda têm melhor acesso do gênero feminino N = 54 (100%), com idade variando
ao cuidado e acreditam que o impacto de fatores socio- de 18 anos a 52 anos (média 27,3 ± 7 anos).
econômicos da hidrocefalia também esteja relacionado A análise do grau de parentesco do cuidador de-
a diferentes tipos de acesso ao cuidado. monstrou predominância significativa de mães (p <
Este estudo teve como objetivo descrever o perfil 0,0001), sendo 53 (98,1%) mãe biológica e uma avó
socioeconômico de cuidadores de crianças com hidro- (1,9%).
cefalia em uma capital do nordeste do país, uma vez Em relação à procedência dos cuidadores, observou-
que pensar no bem-estar dos cuidadores é interferir -se que 38 (70,4%) procederam do interior, não só do
indiretamente na qualidade de vida das crianças com estado de Sergipe, mas dos estados da Bahia e de Alagoas
hidrocefalia. (p = 0,003).
No que se refere ao grau de instrução, 13 (24,1%)
cursaram menos de quatro anos de estudo, 23 (42,6%),
entre quatro e oito anos e 18 (33,3%), até 11 anos de
estudo.
Casuística e método A análise da situação conjugal verificou que 44
cuidadoras (81,5%) vivem com um companheiro (p <
Foi realizado um estudo descritivo, por meio de uma 0,0001) e outros filhos e 10 (18,5%) cuidadoras vivem
abordagem quantitativa, com cuidadores familiares de sem o pai da criança (18,5%).
crianças com hidrocefalia. Quanto à moradia, apenas 11 (20,3%) possuem casa
A população-alvo foi constituída por 54 cuidadores própria, sendo a maior proporção de cuidadores (43%
de crianças com hidrocefalia escolhidas aleatoriamente – 79,7%) residentes em casa alugada ou de parentes.
segundo a sua presença para consulta no Ambulatório Em relação à ocupação, observou-se que antes do
de Neurocirurgia da Universidade Federal de Sergipe, nascimento da criança 27 cuidadoras (50%) possuíam
na cidade de Aracaju. A amostra foi acidental, não atividade remunerada; após o nascimento da criança,
probabilística. apenas nove (16,7%) mantiveram seus empregos, ou seja,
Neste estudo foi considerado como cuidador 18 (66,6%) cuidadoras afastaram-se do trabalho para
principal o cuidador exclusivamente familiar, não dedicar-se aos cuidados. Verificou-se um efeito significa-
remunerado, responsável pelo cuidado domiciliar, e tivo (McNemar p = 0,00004; N = 54) sobre o número das
que permanece a maior parte do tempo com a criança. que deixaram de trabalhar para ser cuidadoras (Figura 1).

Perfil socioeconômico dos cuidadores de crianças com hidrocefalia 95


Oliveira DMP et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 94-8, 2011

50 Em relação ao parentesco, percebeu-se predominân-


46
45 cia de mães cuidadoras. Estudos coincidem em afirmar
40 que a própria mãe acredita que ninguém está à altura de
35 cuidar de seu filho e protegê-lo.10,22 Essa determinação
30 27 27 está ligada a fatores como a proximidade afetiva com a
n 25
pessoa que requer o cuidado e ao vínculo consanguíneo,
20
bem como está inscrita socialmente no papel de mãe.10
15
9 Esse papel é visto como natural, no entanto, quanto
10
5 maior o vínculo familiar, maior será a sobrecarga física
0 e emocional envolvida no processo de saúde e doença.5
Antes do nascimento Após o nascimento A procedência do cuidador foi pesquisada com o
Ocupação dos cuidadores objetivo de observar possíveis tendências migratórias
Trabalha Não trabalha para o município de Aracaju, fato esse confirmado com
um número expressivo de cuidadores procedentes de
Figura 1 – Número de cuidadoras que deixaram de trabalhar outros municípios. Observa-se uma correspondência
para dedicar-se ao cuidado. entre as características das cuidadoras aqui analisadas
com as de outros estudos. Os autores investigaram o
local de residência das famílias, constatando que gran-
Em relação à renda familiar, 30 cuidadoras (55,6%) de parte delas residia em municípios do interior do
têm renda de um salário-mínimo, apenas oito (14,8%) estado.3 Em São Paulo, uma investigação com crianças
têm renda familiar de até dois salários-mínimos e 16 com hidrocefalia demonstrou que 62% de moradores
(29,6%) vivem com menos de um salário-mínimo. eram procedentes do interior do estado e 15%, de outros
A análise do número de pessoas existente por do- estados do país.14
micílio mostrou que 34 cuidadoras (63%) convivem Considerando que o local da realização da pesquisa
com mais de quatro pessoas (p < 0,0001), 14 (25,9%) é referência para todo o estado de Sergipe, os resultados
conviviam com três pessoas e seis (11,1%) vivem com permitem supor que moradores de outros municípios
apenas duas pessoas no domicílio. e estados vizinhos deslocam-se para a capital em busca
de tratamento especializado.
Observou-se um bom índice de alfabetização entre
as entrevistadas, porém a escolaridade média localiza-
-se em maior proporção entre cuidadoras que cursaram
Discussão quatro a oito anos de estudo. Os resultados encontrados
por outros autores no Brasil também demonstram um
A hidrocefalia envolve questões não só a respeito padrão de escolaridade mínima, semelhante a esta ca-
da própria enfermidade, como relativas ao aspecto suística; as mulheres que assumem o cuidado cursaram
socioeconômico familiar. A caracterização dos cui- apenas o ensino fundamental.12,19,22,28 A baixa escolari-
dadores deste estudo em relação ao gênero revelou a dade observada no estudo pode ser relacionada à ins-
predominância do gênero feminino. Nossos achados tituição local de pesquisa, que atende às classes sociais
estão de acordo com a literatura, que destaca o papel da menos favorecidas usuárias do Sistema Único de Saúde.
mulher como cuidadora. É comum afirmar que compete Porém, é preciso considerar a capacidade da família
à mulher a tarefa de cuidar da casa, dos filhos ou dos para cuidar de seus membros, uma vez que a educação
idosos e, apesar da inserção da mulher no mercado de em saúde está relacionada à capacidade de aprendiza-
trabalho, ela ainda mantém características de prover gem das pessoas.24 As informações só são assimiladas
cuidados.10,12,16 a partir do momento em que haja capacidade cognitiva
A média de idade dos cuidadores encontrada da família, caso contrário não haverá aprendizado nem
neste estudo foi de 27,3 anos, o que se aproxima da compreensão sobre a importância do tratamento.7 Em
média etária encontrada em outros estudos. Um es- 2008, no Canadá, uma investigação demonstrou que
tudo desenvolvido por Ludueña e Prada18 descreveu nenhum familiar com nível universitário foi determi-
a prevalência de mielomeningocele em filhos de mães nante para menor qualidade de vida em crianças com
jovens. Uma investigação com cuidadores, realizada hidrocefalia.15
em 1999, mostrou que a idade das mães variou entre O estudo mostrou que as cuidadoras viviam em
15 e 43 anos, sendo metade da amostra com idade entre casas alugadas. A falta de moradia própria é um
19 e 29 anos.4 Essas mães acabam participando como problema observado na literatura. Gaiva et al.9 perce-
cuidadores muito cedo, uma característica importante beram que cuidadores de crianças com espinha bífida
também observada neste estudo. também viviam em casas alugadas ou cedidas e poucos

96 Perfil socioeconômico dos cuidadores de crianças com hidrocefalia


Oliveira DMP et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 94-8, 2011

possuíam casa própria, o que pode estar relacionado vivem sem o pai da criança. Esse fato pode ser inerente
a pouco recurso financeiro. ao efeito adverso da pior função familiar, sendo igual-
Cuidar de enfermo também envolve dimensões mente possível dizer que o funcionamento da família
financeiras, assim sendo foram analisados os cuidadores se deteriora secundariamente nas famílias de crianças
em relação a sua ocupação e renda. Esse resultado con- com saúde mais pobre.15
corda com outros estudos, em que as mães cuidadoras Porém, o fato de conviverem com o companheiro
eram donas de casa sem remuneração e deixaram seus e outros filhos pode identificar que muitas cuidadoras
empregos para dedicar-se ao cuidado. As cuidadoras precisam dividir o seu tempo entre os afazeres domés-
ocupavam-se com serviços domésticos em seus próprios ticos e o cuidado com a família, o que pode gerar a
domicílios; algumas relataram não poder assumir uma sobrecarga do cuidador.5
ocupação remunerada extradomiciliar em virtude dos
cuidados dispensados ao doente.4,28
Um estudo desenvolvido em 2006 no Brasil mos-
trou que o impacto causado pelo desemprego afeta um
número bem maior de pessoas, uma vez que o desem- Conclusão
pregado integra uma família que, consequentemente,
será afetada. Esse impacto dependerá da posição que Os resultados obtidos permitiram concluir que os
o trabalhador ocupa na família e dos recursos de que cuidadores de crianças com hidrocefalia são jovens
dispõe.2 O estudo também mostrou que o desemprego mães, procedentes do interior, com baixo grau de ins-
concentra-se nos segmentos mais jovens e entre as trução. São donas de casa sem remuneração, uma vez
mulheres. que deixaram de trabalhar para ser cuidadoras, possuem
A dificuldade financeira é um problema importante recursos financeiros reduzidos e não possuem moradia
vivenciado pelas famílias de pacientes crônicos; pessoas própria. Vivem com um companheiro e mais de quatro
de classes sociais mais baixas são mais frequentemente pessoas no domicílio, demonstrando a situação de po-
acometidas por essas doenças.3,18,22 Uma investigação breza em que vivem essas famílias.
em 150 crianças com defeitos do tubo neural na cidade
Os autores declaram inexistência de conflito de
de São Paulo registrou um nível socioeconômico baixo,
interesses na realização deste trabalho.
com altos contingentes de origem nordestina.19
Esses resultados podem indicar que a incidência
de hidrocefalia é maior em famílias de menor renda.
Mães de crianças deficientes têm taxas de empregos
menores que mães de filhos saudáveis, com isso apresen- Referências
tam em média recursos mais reduzidos que famílias em
geral, uma vez que muitas vezes essas famílias enfrentam 1. Andrade MB, Dupas G, Wernet M. Convivendo com a
custos extras.27 criança com hidrocefalia: experiência da família. Cienc Cuid
O tamanho da família também está associado à sua Saude. 2009;8(3):436-43.
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Perfil socioeconômico dos cuidadores de crianças com hidrocefalia 97


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Universidade Federal de São Paulo; 2000. Débora Moura da Paixão Oliveira
Av. Augusto Maynard, 245, ap. 404, São José
20. Oliveira DMP. Assistência de enfermagem à criança com 49015-380 – Aracaju, SE, Brasil
hidrocefalia. In: Pereira CU. Neurocirurgia pediátrica. Rio Telefone: (79) 9987-3209
de Janeiro: Revinter; 2000. p. 57-60. E-mail: debora_aju@yahoo.com.br

98 Perfil socioeconômico dos cuidadores de crianças com hidrocefalia


Oliveira DMP et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 99-104, 2011

Perfil clínico-epidemiológico de
traumatismo cranioencefálico do Hospital
de Urgências e Traumas no município
de Petrolina, estado de Pernambuco
José Carlos de Moura1, Bruno Lázaro Ramos Rangel2, Sheila Cristiane
Evangelista Creôncio3, José Ricardo Barros Pernambuco4

Hospital de Urgências e Traumas Dr. Washington Antônio de F. Barros.

RESUMO
Objetivo: No Brasil, dentre o conjunto de lesões decorrentes das causas externas, o traumatismo
cranioencefálico (TCE) destaca-se em termos de magnitude, tanto em mortos quanto em feridos.
Este estudo visa avaliar epidemiologicamente os casos de TCEs ocorridos no Vale do São
Francisco, analisando-os quanto a idade, sexo, procedência, etiologia do trauma, conduta e exames
complementares. Método: Foram estudados, de forma descritiva e analítica, com abordagem
quantitativa, os prontuários dos pacientes vítimas de TCE admitidos no Hospital de Urgências e
Traumas, entre os meses de dezembro de 2008 a junho de 2009. No total, foram avaliados 101
prontuários. Conclusão: A etiologia do TCE mais frequente foram os acidentes motociclísticos,
seguidos por queda. O sexo masculino é o mais acometido e a faixa etária mais acometida foi a dos
21 aos 40 anos. Com relação à classificação de gravidade do TCEs, 53,47% foram classificados
como leves, 25,73%, como moderados e 20,80%, como graves; evidencia-se a prevalência do TCE
leve, porém com percentual significativo de casos graves.

PALAVRAS-CHAVE
Traumatismos encefálicos, acidentes de trânsito, traumatismos do sistema nervoso.

ABSTRACT
Clinical and epidemiological profile of head trauma at the Urgências e Traumas Hospital in the
city of Petrolina, Pernambuco
Objective: In Brazil, among the set of injuries resulting from external causes, the head trauma
(HT) stands out in terms of magnitude, both in dead and wounded. This study aims to evaluate
epidemiologically the cases of traumatic brain injury occurred in the São Francisco Valley analyzing
them in age, sex, origin, trauma etiology, conduct and additional tests. Method: The medical records
of patients victims of head injury admitted to the Urgências e Traumas Hospital, between December
2008 and June 2009 were studied in a descriptive and analytical with a quantitative approach. A total of
101 medical records were evaluated. Conclusion: The most common etiology of HT were motorcycle
accidents, followed by fall. Male is the most affected gender and most affected age group was 21
to 40 years. Regarding the classification of severity of HT, 53.47% were classified as mild, 25.73%
were classified as moderate and 20.80% classified as severe, indicating the prevalence of mild HT,
but with a significant percentage of severe cases.

KEYWORDS
Brain injuries, accidents, traffic, trauma, nervous system.

1. Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Neurocardio e do Hospital de
Urgências e Traumas, Petrolina, PE, Brasil.
2. Univasf, Petrolina, PE, Brasil.
3. Hospital de Urgências e Traumas, Petrolina, PE, Brasil.
4. Univasf, Hospital de Urgências e Traumas, Petrolina, PE, Brasil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 99-104, 2011

Introdução Entende-se por TCE qualquer agressão de ordem


traumática que acarrete lesão anatômica ou comprome-
No Brasil, no conjunto de lesões decorrentes das timento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges,
causas externas, o traumatismo cranioencefálico (TCE) encéfalo ou seus vasos.11
destaca-se em termos de magnitude, tanto em mortos Estudos demonstram que no Brasil o TCE leve é
quanto em feridos, sendo uma das lesões mais frequen- responsável por cerca de 80% dos casos12,22 em adultos
tes.9 O TCE constitui-se como um dos principais pro- e 63,8% em adolescentes.13 Segundo Melo et al.12, no
blemas de saúde pública mundial, apresentando elevada Brasil, mais de 1 milhão de pessoas ficaram com sequelas
e crescente incidência no mundo moderno e represen- neurológicas irreversíveis devido à ocorrência de TCE,
tando uma importante causa de morbimortalidade em nos últimos dez anos.
adolescentes e adultos jovens, com consequentes perdas Sendo assim, é de fundamental importância o co-
da capacidade produtiva e prejuízos financeiros para a nhecimento das características locais, para que sejam,
sociedade.4,5 Tem-se observado, ainda, um aumento da então, adotadas medidas de prevenção mais efetivas
mortalidade resultante de TCE, particularmente nos baseadas nessa realidade, já que as causas primárias do
países em vias de desenvolvimento.22 TCE variarão de acordo com a população envolvida.
Nos últimos 10 anos, mais de 1 milhão de pessoas O presente estudo pretende ajudar no conhecimento
ficaram inválidas devido a traumas mecânicos no Brasil, das características epidemiológicas de TCE nessa região.
sendo os acidentes de trânsito os principais responsá-
veis por essas taxas. A depender do hospital estudado,
o internamento por trauma mecânico pode atingir
valores acima de 40%.6 Dados de 2004 da Organização
Mundial de Saúde (OMS) mostram que os acidentes
Metodologia
de trânsito são responsáveis por aproximadamente 1,2 Foram estudados os prontuários dos pacientes admi-
milhão de mortes por ano e causam lesões em cerca de tidos no serviço do Hospital de Urgências e Traumas Dr.
50 milhões.16 Washington Antônio de F. Barros (HUT), acometidos
Além do aumento do número de veículos em por TCE, na região do Vale do São Francisco, entre o
circulação, a desorganização, a deficiência geral da período de dezembro de 2008 e junho de 2009. O proto-
fiscalização, as péssimas condições de muitos veículos, colo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê Institucional
o comportamento dos usuários e a impunidade dos de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Vale
infratores fizeram com que nas últimas décadas o Brasil do São Francisco, sob parecer nº 013/2010.
se colocasse entre os campeões mundiais de acidentes Foram analisadas as seguintes variáveis conforme
de trânsito.15 protocolo estabelecido: sexo, idade, profissão, raça,
A incidência geral de TCE varia de acordo com o procedência, data de admissão, etiologia do trauma, área
sexo, sendo mais frequente nos homens do que nas craniana lesada, associação com bebida alcoólica, sinais
mulheres, o que pode refletir diferenças nas situações de e sintomas à admissão, escore da ECG no momento da
risco. Um estudo de revisão de Kraus e Mcarthur10, que admissão e classificação de gravidade do TCE, achados
compara homens com mulheres, refere uma proporção tomográficos, tipo de tratamento instituído, tempo de
de cerca de 2 a 2.8:1. A proporção relativa à mortalidade internamento, alta hospitalar e óbito.
é ainda mais discrepante, aproximadamente de 3.5:1, Após a coleta das informações, elas foram submeti-
indicando maior gravidade de lesão nos homens (dados das a uma análise estatística descritiva, em que os dados
dos Estados Unidos).22 foram transferidos para planilhas do Microsoft Excel e
A mortalidade por TCE está relacionada com a ida- Microsoft Word, para construção dos gráficos e tabelas,
de, verificando-se um número maior de mortos entre contendo números absolutos e percentuais seguidos de
sujeitos mais velhos. Entre as crianças, os TCEs são análise e discussão dos resultados.
referidos como a principal causa de morte em resultado Durante a realização desta pesquisa, não foram de-
de acidentes traumáticos. Porém, as crianças têm uma clarados conflitos de interesse associados à realização
taxa de mortalidade menor do que os adultos.22 deste estudo.
Entre as principais causas de TCE, podem-se citar
acidentes automobilísticos, atropelamentos, acidentes
ciclísticos e motociclísticos, agressões físicas, quedas,
lesões por arma de fogo, entre outras menos frequen-
tes.12 O Brasil, nos últimos anos, vem registrando um Resultados
crescimento exacerbado na frota de motocicletas, o
que vem implicando aumento crescente no número de Foi estudada uma amostra de 101 prontuários de
acidentes envolvendo esse tipo de veículo. pacientes vítimas de TCE. O sexo masculino foi o mais

100 Perfil clínico-epidemiológico de traumatismo cranioencefálico do Hospital de Urgências e Traumas


Moura JC et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 99-104, 2011

acometido, com 87 casos (86,14%), e 14 casos (13,86%)


do sexo feminino (Figura 1). Houve maior incidência 60,00%
na faixa etária dos 21 aos 40 anos, totalizando 51,49% 50,00%
(Tabela 1). Não houve informações nos prontuários 40,00%
acerca da profissão dos pacientes.
30,00% 53,47%
20,00%
25,73% 20,80%
10,00%
90,00% 0,00%
80,00% Leve Moderado Grave
70,00%
60,00% Figura 3 – Gravidade do TCE.
86,14%
50,00%
40,00%
30,00% No universo dos acidentes motociclísticos, houve 22
20,00% (51,16%) casos de TCE leve, 12 (27,91%), moderado e 9
13,86%
10,00%
0,00%
(20,93%), grave. Dentre os acidentes por queda, houve
Masculino Feminino 14 (66,67%) casos de TCE leve, 4 (19,04%) moderado
e 3 (14,29%) grave. Em se tratando de acidente auto-
Figura 1 – Incidência por sexo.
mobilístico, houve 6 (60%) casos de TCE leve, 1 (10%)
moderado e 3 (30%) grave. Quanto aos atropelamentos,
houve 5 (38,46%) casos de TCE leve, 4 (30,77%) mo-
derado e 4 (30,77%) grave. Com relação às agressões
Tabela 1 – Incidência por idade (em anos) físicas, houve 2 (33,33%) casos de TCE leve, 3 (50%)
0-20 21,78% moderado e 1 (16,67%) grave.
21-40 51,49%
Quanto à procedência dos pacientes, os municípios
foram assim distribuídos: Petrolina com 69 (68,32%)
41-60 15,84%
casos e cidades vizinhas somando 32 (31,68%) casos
61-80 8,91%
(Tabela 2).
80 ou mais 1,98%

As principais causas de TCE foram: 45 casos Tabela 2 – Cidade de origem e números de casos
(44,55%) por acidente motociclístico, 23 casos (22,78%)
Petrolina 69 68,32%
por queda, 12 casos (11,88%) por atropelamento, 10 ca-
Outras cidades 32 31,68%
sos (9,9%) por acidente automobilístico, 6 casos (5,94%)
por agressão física e outros casos não especificados TOTAL 101 100%

somaram cinco casos (4,95%). (Figura 2) Quanto à gra-


vidade do TCE, 54 (53,47%) foram leves, 26 (25,73%),
moderados e 21 (20,8%), graves. (Figura 3) O exame neurológico apresentou-se alterado na
maioria dos casos. Os principais sinais clínicos apresen-
tados foram: alteração do nível de consciência com 38
Acidente motociclístico
casos (37,62%), cefaleia com 17 casos (16,83%), vômito
5,94% 4,95%
com 16 casos (15,84%), otorragia com 9 casos (8,91%)
Queda
9,90% e coma com 6 casos (5,94%) (Tabela 3).
44,55% Atropelamento

22,78% Acidente Tabela 3 – Sinais clínicos prevalentes na


11,88% automotociclístico admissão e número de casos
Agressão física Diminuição do nível de consciência 38 37,62%
Cefaleia 17 16,83%
Outros
Vômito 16 15,84%
Otorragia 9 8,91%
Figura 2 – Etiologia do trauma.
Coma 6 5,94%

Perfil clínico-epidemiológico de traumatismo cranioencefálico do Hospital de Urgências e Traumas 101


Moura JC et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 99-104, 2011

Na nossa casuística, em 50 prontuários (49,5%) hemorragia subaracnoidea (HSA), com 9,9%, hemato-
havia a referência documentada sobre uso de bebida ma subdural (HSD), com 5,94%, e lesão axonal difusa
alcoólica (Tabela 4). (LAD), com 0,99% dos casos. Dos pacientes que foram
submetidos à TC, 61,39% tiveram alguma alteração,
17,82% não apresentaram nenhuma alteração e em
Tabela 4 – Uso de bebida alcoólica e
número de casos documentados
20,79% das fichas não havia o laudo (Figura 5).

Não 50 49,5%
Tabela 6 – Área craniana lesada e número de casos
Sim 51 50,5%
Total 101 100% Frontal 25 24,75%
Temporal 12 11,88%
Temporoparietal 12 11,88%
Dentre os exames complementares, 11 pacientes Parietal 9 8,91%
(10,89%) realizaram apenas radiografia de crânio, 38
Occipital 6 5,94%
(37,62%) realizaram apenas tomografia computadori-
Parietofrontal 6 5,94%
zada (TC) de crânio, 49 (48,51%) realizaram ambos os
Frontotemporal 4 3,96%
exames, enquanto 3 (2,98%) não realizaram nenhum
dos dois tipos de exames (Figura 4). O domingo foi Temporo-occipital 2 1,98%

o dia da semana em que ocorreu o maior número de Fratura de base de crânio 2 1,98%
atendimentos por TCE, com 25 casos (24,75%), seguido Sem informação 23 22,78%
pela segunda-feira, com 18 casos (17,82%); os outros Total 101 100%
dias somam 58 (57,43%) casos (Tabela 5).

0,99% 0,99%
5,94% HED
10,89% 2,98% 5,94%
19,82% Contusão cerebral
HSA
TC e Rx de crânio 9,90%
48,51% Hemorragia subgaleal
TC 17,82% HSD
37,62%
Rx de crânio LAD
Não realizou exame
Fratura de base

Figura 5 – Achados tomográficos.


Figura 4 – Exames complementares realizados.
Em relação ao tipo de tratamento instituído, 71,29%
dos casos receberam tratamento clínico, enquanto
Tabela 5 – Dias do atendimento e número de casos 28,71% receberam tratamento cirúrgico. A média de
tempo de internamento de cada paciente foi de 5,99
Domingo 25 24,75%
dias. Quanto ao desfecho, 88,12% dos casos receberam
Segunda-feira 18 17,82% alta, enquanto 7,92% evoluíram para o óbito (Figura 6).
Outros dias 58 57,43%
Total 101 100%

90,00%
A área craniana lesada mais frequente em nossa pes- 80,00%
quisa foi a frontal, com 24,75%, seguida pela temporal e 70,00%
temporoparietal, com 11,88% cada uma, parietal, com 60,00%
50,00%
8,91%, occipital e parietofrontal, com 5,94% cada uma, 88,12%
40,00%
frontotemporal, com 3,96%, e temporo-occipital e fra- 30,00%
tura de base do crânio, com 1,98% cada uma (Tabela 6). 20,00%
Em 22,78% dos prontuários não havia essa informação. 10,00% 7,92% 3,96%
Com relação aos achados tomográficos, obteve-se 0,00%
Alta Óbito Transferidos para
maior incidência de hematoma extradural (HED), com outros serviços
19,82%, seguido por contusão cerebral, com 17,82%, Figura 6 – Evolução.

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Moura JC et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 99-104, 2011

Discussão hematoma extradural frontal traumático confirmado


por TC. A média de internamento dos pacientes da
Conhecer o perfil dos pacientes atendidos em cada nossa casuística foi de 5,99 dias, média maior do que
serviço é essencial, pois o esclarecimento dos dados a encontrada por Franciozi et al.7, que foi de 4,1 dias.
epidemiológicos, sinais e sintomas clínicos, tipos e O uso de métodos diagnósticos adequados é essen-
resultados de exames de imagem realizados, tempo de cial para minimizar custos e melhorar o resultado do
permanência hospitalar, procedimentos cirúrgicos e tratamento a ser instituído ao paciente traumatizado,
evolução clínica antes e após a alta é um passo essen- sendo fundamental para o estabelecimento de medidas
cial para o planejamento de ações preventivas e para a terapêuticas clínicas e/ou cirúrgicas.2 Mesmo quando
melhoria do atendimento. qualquer método diagnóstico for instituído, é essencial
Dessa maneira, para que fosse conhecido o perfil dos o monitoramento clínico contínuo do paciente.14
pacientes que sofreram TCE do HUT, foram analisados Embora existam lesões que não sejam detectadas
os prontuários dos meses de dezembro do ano de 2008 pela TC, ela no momento é a maneira inicial mais
a junho do ano de 2009. Soares e Barros23 sugerem que rápida para a detecção de lesões com necessidade de
a implantação e a manutenção de medidas de segurança intervenção cirúrgica.14 Houve em nossa casuística
no trânsito sejam efetivas para diminuir a gravidade dos maior frequência de lesões da área craniana frontal e
acidentes, tendo em vista a redução de óbitos por TCE; o achado tomográfico mais incidente foi o HED. Dos
para isso, é necessário conhecer o perfil dessas vítimas, pacientes que foram submetidos à TC, 61,39% tiveram
a fim de intervir de forma mais direcionada. alguma alteração, 17,82% não apresentaram nenhuma
No presente estudo, houve predominância do sexo alteração e em 20,79% não havia a descrição. Pereira et
masculino, correspondendo a 86,14% das vítimas, se- al.,21 em seu estudo, constataram que apenas 31% dos
melhante a outros estudos publicados.3,7,8,13,17,18,20,21 Em casos apresentaram alterações tomográficas.
estudo realizado por Pereira et al.21, houve a relação de Com relação à classificação de gravidade do TCE, foi
2,7:1 em relação à incidência do sexo masculino sobre utilizada a Escala de Coma de Glasgow (ECG), na qual
o feminino. Neste trabalho, a relação encontrada foi de 53,47% foram classificados como leves, 25,73%, como
6,21:1, o que denota a peculiaridade de nossa amostra. moderados e 20,80%, como graves. A exemplo de outras
A exemplo de vários outros estudos,1,3,8,13,17,18,20,21 em pesquisas, prevaleceu o TCE leve.3,13,19,21,23 Diferente de
nossa amostra prevaleceu a faixa etária dos 21 aos 40 um estudo realizado por Braga et al.,3 obteve-se neste
anos, com 51,49%. Com relação à procedência, a maior trabalho um maior número de atendimentos entre
parte dos casos era advinda do município de Petrolina, domingo e quarta-feira, sendo domingo o dia de maior
com 68,32% do casos. atendimento por TCE, com 24,75%, fato curioso em
Nesta pesquisa, a etiologia do trauma que prevaleceu nossa pesquisa.
foi a de acidentes motociclísticos, com 44,55% do total Com relação à evolução do trauma, 88,12% pa-
da amostra, seguidos por queda, com 22,78%; 11,88% cientes receberam alta hospitalar; 7,92% dos casos
evoluíram para óbito e os que foram transferidos para
foram vítimas de atropelamento, 9,9% sofreram acidente
outros serviços hospitalares somaram 3,96% dos casos.
automobilístico, 5,94% sofreram agressão física e outros
Esses dados obtidos são semelhantes aos encontrados
casos somaram 4,95% dos casos. Essa maior prevalência
por outros autores.3,8,21
de TCE por acidente motociclístico pode ser explicada
pelo grande aumento dos usuários desse tipo de trans-
porte, além de esse fato ser também corroborado por
outros estudos.3,8,23
Em 49,5% dos casos, houve registro do uso ou não Conclusão
de bebidas alcoólicas antes do acidente. Alguns outros
estudos também demonstram que a bebida alcoólica A etiologia do TCE mais frequente foi a de acidentes
está associada à ocorrência dos acidentes.3 motociclísticos, seguidos por queda. O sexo masculino
Dos pacientes atendidos no período do estudo, é o mais acometido e a faixa etária mais acometida foi
71,29% receberam tratamento clínico, enquanto os a dos 21 aos 40 anos.
que receberam tratamento cirúrgico somaram 28,71%. Com relação à classificação de gravidade do TCE,
A exemplo da nossa pesquisa, Melo et al.13 encontraram 53,47% foram classificados como leves, 25,73%, como
maior prevalência do tratamento clínico. Em um estudo moderados e 20,80%, como graves, evidenciando a
realizado por Pereira et al.,18 houve predominância do prevalência do TCE leve, porém com percentual signi-
tratamento cirúrgico, pois todos os pacientes sofreram ficativo de casos graves.

Perfil clínico-epidemiológico de traumatismo cranioencefálico do Hospital de Urgências e Traumas 103


Moura JC et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 99-104, 2011

Agradecimentos 10. Kraus JF, Mcarthur DL. Epidemiology of brain injury. In:
Evans RW, editor. Neurology and trauma. Philadelphia: WB
Saunders Company; 1996. p. 3-17.
Os autores agradecem aos funcionários do Hospital 11. Macedo KC. Características clínicas e epidemiológicas de
de Urgências e Traumas pela contribuição para a reali- crianças e adolescentes com traumatismo cranioencefálico
zação desta pesquisa. leve e análise de fatores associados à fratura de crânio e
lesão intracraniana [tese]. Belo Horizonte: Universidade
Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina; 2006.
12. Melo JR, Silva RA, Moreira ED Jr. Características dos
pacientes com trauma cranioencefálico na cidade do
Salvador, Bahia, Brasil. Arq Neuropsiquiatr. 2004;62(3-
Conflitos de interesse A):711-5.
13. Melo JRT, Lemos-Júnior LP, Matos LT. Principais causas
Não foram declarados conflitos de interesse asso- de trauma craniencefálico na cidade de Salvador, Bahia,
Brasil. Arq Bras Neurocir. 2005;24(3):94-8.
ciados à publicação deste artigo.
14. Morais DF, Spott AR, Tognola WA. Contribuição da ressonância
magnética encefálica no traumatismo craniencefálico
fechado. Arq Bras Neurocir. 2006;25(3):125-31.
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da Tarde, caderno 01, p. 03, em 17 de julho de 2002. estado de Sergipe. Arq Bras Neurocir. 2006;25(1):8-16.
7. Franciozi CES, Tamaoki MJS, Araújo EFA, Dobashi ET, 22. Santos ME, De Sousa L, Castro-Caldas A. Epidemiologia
Utumi CE, Pinto JA, et al. Trauma na infância e adolescência: dos traumatismos cranioencefálicos em portugal. Acta Med
epidemiologia, tratamento e aspectos econômicos em um Port. 200;16(2):71-6.
hospital público. Acta Ortop Bras. 2008;16(5):261-5. 23. Soares DFPP, Barros MBA. Gravidade dos acidentes de
8. Gawryszewski VP, Coelho HM, Scarpelini S, Zan R, Jorge trânsito ocorridos em Maringá, PR. Ciência, Cuidado e
MH, Rodrigues EM. Perfil dos atendimentos a acidentes Saúde Maringá. 2006;5(Supl):77-84.
de transporte terrestre por serviços de emergência em
São Paulo, 2005. Rev Saude Publica. 2009;43(2):275-82. Endereço para correspondência
9. Koizumi MS, Lebrão ML, Mello-Jorge MH, Primerano José Carlos de Moura
V. Morbimortalidade por traumatismo cranioencefálico Rua Joaquim Nabuco, 798, Centro
no município de São Paulo, 1997. Arq Neuropsiquiatr. 56304-040 – Petrolina, PE, Brasil
2000;58(1):81-9. E-mail: jcdemoura@uol.com.br

104 Perfil clínico-epidemiológico de traumatismo cranioencefálico do Hospital de Urgências e Traumas


Moura JC et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 105-9, 2011

Concordância entre diagnósticos


neuropatológicos premortem e
postmortem em 90 pacientes com
síndrome da imunodeficiência
adquirida, submetidos à necrópsia
em um hospital de ensino no Brasil
Ana Cristina Araújo Lemos da Silva1, Blenda Sousa Carli Rodrigues2,
Everton Nunes de Melo Moura3, Antonio Carlos Oliveira de Meneses4,
Adilha Misson Rua Micheletti4, Mario Leon Silva Vergara5, Sheila Jorge Adad6

Trabalho realizado na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) – MG.

RESUMO
Objetivo: Estudar as lesões anatomopatológicas no SNC, analisando se contribuíram para o óbito
desses pacientes e avaliar a concordância entre os diagnósticos neuropatológicos premortem e
postmortem. Método: Estudo retrospectivo com análise de 90 necrópsias sequenciais de SIDA,
realizadas entre 1989 e 1996, além de busca de dados epidemiológicos/clínicos e comparação
com a suspeita clínica para avaliar concordância entre diagnóstico pre e postmortem. Resultados:
Idade média 34 ± 11 anos; 81,1% do sexo masculino; todos apresentavam alguma alteração
no SNC, sendo relevantes para o óbito em 54 (60%) casos. Apenas em 15 (27,8%) desses 54
casos houve suspeita clínica da lesão. As lesões encontradas no SNC foram: toxoplasmose
(34,4%), criptococose (12,2%), citomegalovirose (4,4%), encefalite nodular microglial (3,3%),
meningite bacteriana (2,2%), infecção pelo vírus JC (2,2%), tuberculose/micobacteriose (2,2%),
histoplasmose (1,1%) e paracoccidioidomicose (1,1%). As alterações não relacionadas ao óbito
(40%) foram: gliose, fibrose meníngea focal, infarto antigo, calcificações e edema. Conclusão:
Este estudo confirma que existem diversas alterações no SNC de pacientes com SIDA,
sobretudo infecções oportunistas, frequentemente não suspeitadas clinicamente, evidenciando
a importância da necrópsia. Esses achados sugerem que investigação minuciosa deveria ser
feita no SNC de pacientes com SIDA, particularmente naqueles com diagnóstico tardio ou que
não estão respondendo ao tratamento.

Palavras-chave
Sistema nervoso central/lesões, síndrome de imunodeficiência adquirida, autopsia.

ABSTRACT
Agreement between premortem e postmortem neuropathological diagnoses in 90 patients with
acquired immune deficiency syndrome, submitted to autopsy at a teaching hospital in Brazil
Objective: The aim was to study the anatomopathological lesions in CNS, analyzing if they have
contributed to the death of those patients, and to evaluate the agreement between premortem
and postmortem neuropathological diagnoses. Method: Retrospective study on 90 necropsies
on patients with AIDS, performed between 1989 and 1996, besides having been performed the
search for clinical and epidemiologycals datas, was done a comparison with the clinical suspicion,
to analyze the concordance between premortem and postmortem diagnoses. Results: The patients’

1. Mestre em Patologia, professor-assistente, disciplina de Patologia Especial da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), MG, Brasil.
2. Acadêmico de Medicina, UFTM, bolsista de iniciação científica, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
MG, Brasil.
3. Acadêmico de Medicina, UFTM, bolsista de iniciação científica, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), MG,
Brasil.
4. Doutor em Patologia, professor adjunto, disciplina de Patologia Especial, UFTM, MG, Brasil.
5. Doutor em Clínica Médica, professor adjunto, disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias, UFTM, MG, Brasil.
6. Doutor em Patologia, professor-associado, disciplina de Patologia Especial, UFTM, MG, Brasil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 105-9, 2011

mean age was 34 ± 11 years, 81.1% were male. CNS lesions were found in all of the cases. In 54
(60%) cases, CNS lesions of relevance to the death were found, but there had only been clinical
suspicion of such lesions in 15 (27.8%) of them. The lesions consisted of toxoplasmosis (34.4%),
cryptococcosis (12.2%), cytomegalovirosis (4.4%), microglial nodular encephalitis (3.3%), bacterial
meningitis (2.2%), JC virus infection (2.2%), tuberculosis/mycobacteriosis (2.2%), histoplasmosis
(1.1%) and paracoccidioidomycosis (1.1%). The unrelated lesions with the death (40%) were: gliosis,
meningeal fibrosis, old infarct, calcifications and edema. Conclusion: This study confirms that
several changes occurred in the CNS of patients with AIDS, especially opportunistic infections, that
frequently are not suspected clinically. These findings suggest that detailed investigation should be
conducted on CNS of patients with AIDS, particularly those who are not responding to treatment
or with late diagnoses.

Keywords
Central nervous system/injuries, acquired immunodeficiency syndrome, autopsy.

Introdução mucicarmim, Fite-Faraco, PAS, Luxol fast blue, além de


imuno-histoquímica para confirmação microbiológica
O envolvimento do sistema nervoso central em de citomegalovirose (CMV) e toxoplasmose.
pacientes com SIDA é muito frequente5,6,11 e, por vezes, Com os dados obtidos por meio da revisão micros-
mais difícil de ser tratado, quando comparamos com cópica, foi feita uma análise comparando-se a causa
as mesmas infecções extracerebrais.11,6 A infecção pelo de óbito do paciente com as alterações encontradas no
vírus da imunodeficiência (HIV) é frequente no mundo SNC, na tentativa de verificar se essas lesões tiveram
inteiro e há, no Brasil, mais de 500 mil casos de SIDA.4 participação direta na causa da morte ou se foram
Entretanto, existem poucos estudos com grandes séries achados irrelevantes em relação ao óbito. A seguir, nos
de necrópsias de SNC/SIDA tanto no Brasil6,16 quanto casos cujas lesões anatomopatológicas do SNC eram sig-
em outros países2,5,8,10,11,14,15. Ademais, muitos pacientes, nificativas, fez-se a comparação com a suspeita clínica,
pelo menos em países subdesenvolvidos, morrem sem a fim de estabelecer a concordância pre e postmortem.
diagnóstico das lesões no SNC. O objetivo deste estudo Para cada caso, consideramos que houve concordância
foi estudar as lesões do SNC analisando se contribuíram entre os diagnósticos clínicos premortem e os diag-
para o óbito desses pacientes e avaliar a concordância nósticos postmortem, quando ambos eram similares.
entre os diagnósticos premortem e postmortem. Foi considerado discordante quando o diagnóstico
neuropatológico postmortem foi diferente da hipótese
clínica ou não foi estabelecida hipótese clínica neuropa-
tológica premortem. Essa forma de classificar representa
Métodos uma simplificação do proposto por Goodman et al.9,
aproximando-se mais da prévia simplificação feita por
Estudo retrospectivo de 90 necrópsias consecutivas Almeida et al.1 A razão pela qual agrupamos as discre-
de pacientes HIV positivos com SIDA, de um total de pâncias classes I (doença importante que, se diagnos-
847 necrópsias, realizadas no período de janeiro de 1989 ticada clinicamente, alteraria o prognóstico) e II (não
a dezembro de 1996, na Universidade Federal do Triân- diagnóstico de doença importante que, se diagnosticada
gulo Mineiro (UFTM), Uberaba – MG. Todos os casos clinicamente, não alteraria o prognóstico) deve-se ao
tinham confirmação sorológica da infecção por HIV. fato de serem essas classificações usualmente aplicáveis
Foram revistas lâminas com cortes histológicos de à análise de todas as doenças presentes no indivíduo e
material fixado em formol e processado para inclusão não apenas às alterações neuropatológicas.
em parafina do SNC (áreas de lesões macroscópicas e Os resultados foram expressos por análise descritiva
amostras de regiões macroscopicamente normais do colocando-se a frequência das principais alterações do
córtex frontal, temporal, parietal e occipital, hipocampo, SNC observadas à necrópsia, sua associação com a causa
núcleo lenticular, ponte, medula e cerebelo). A avaliação de óbito, assim como em relação à hipótese premortem.
inicial foi em cortes corados pela técnica de hematoxi- Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e
lina-eosina e, para investigação de agentes infecciosos Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
e doenças desmielinizantes, foram utilizados Grocott, em 27/11/2006 (número 831).

106 Concordância diagnóstica neuropatológica premortem e postmortem na SIDA


Silva ACAL et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 105-9, 2011

Resultados demais casos, as lesões não pareciam relevantes clinica-


mente (glioses focais, calcificações e fibroses meníngeas
Houve no período estudado 92 necrópsias de focais), ou eram edemas associados à septicemia e/
pacientes HIV; entretanto, 2 casos foram excluídos ou anóxia. Alterações pelo HIV, no SNC, não foram
desta análise por não apresentarem SIDA. Desses 90 diagnosticadas.
casos que fizeram parte do estudo, 73 (81,1%) eram
do sexo masculino e 17 (18,9%), do sexo feminino,
com média de idade de 34 ± 11 anos, variando entre
18 e 67 anos.
Em todos os casos foram encontradas lesões no SNC, Discussão
sendo relevantes para o óbito em 54 (60%) dos 90 casos.
Apenas em 15 (27,8%) desses 54 casos houve suspeita A média de idade dos pacientes estudados (34 anos)
clínica da lesão encontrada à necrópsia. As principais foi similar à encontrada em outros estudos brasileiros3,7
lesões foram infecções, em geral oportunistas, que ocor- e menor do que aquela verificada nas séries de países
reram em 54 (60%) dos 90 casos (Tabela 1). Nenhum desenvolvidos (38 anos), provavelmente devido ao
caso de neoplasia no SNC foi encontrado neste período. maior tempo de sobrevida dos pacientes nesses países,
A lesão mais frequente foi neurotoxoplasmose (31 apesar de essa comparação estar sendo feita com estudos
casos; 34,4%), seguida pela neurocriptococose (11 casos; realizados em época semelhante, ou seja, anterior ao uso
12,2%), citomegalovirose (4 casos; 4,4%), encefalite da terapia antirretroviral combinada.
nodular microglial (3 casos; 3,3%), meningite bacte- Analisando as lesões encontradas no SNC, o percen-
riana (2 casos; 2,2%), infecção pelo vírus JC (2 casos; tual de infecções oportunistas (60%) foi similar ao de
2,2%), tuberculose/micobacteriose (2 casos; 2,2%), Moskowitz et al.13 (50%), maior do que o de Wainstein
histoplasmose (1 caso; 1,1%) e paracoccidioidomicose et al.16 (35%) e de Lang et al.11 (40%) e menor do que
(1 caso; 1,1%). Em três (3,3%) casos havia duas infecções o de Chimelli et al.6 (65,4%) e Jellinger et al.10 (67,4%).
concomitantes (toxoplasmose + meningite purulenta; Essas diferenças talvez possam ser explicadas pela maior
toxoplasmose + citomegalovirose; paracoccidioidomi- ou menor amostragem do SNC para microscopia em
cose + citomegalovirose). cada estudo.
Dentre os 36 (40%) casos restantes havia um infarto Considerando o tipo de infecção oportunista, a
antigo extenso e outro com diversos focos necrótico- mais prevalente neste estudo foi neurotoxoplasmose
-calcificados por sequela de antiga toxoplasmose. Nos (34,4%), similar ao encontrado por Chimelli et al. 6

Tabela 1 – Achados morfológicos no sistema nervoso central em 90 necrópsias de pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida
Alterações n %
Infecções oportunistas* 54 60,0
Protozoário
Toxoplasmose 31 34,4
Fungos
Criptococose 11 12,2
Histoplasmose 01 1,1
Paracoccidioidomicose 01 1,1
Bactérias
Meningite purulenta 02 2,2
Tuberculose/micobacteriose 02 2,2
Vírus
Citomegalovírus 04 4,4
Vírus JC (LMP) 02 2,2
Encefalite nodular microglial 03 3,3
Outras lesões (edema, gliose, fibrose meníngea,
infarto antigo, calcificações...) 36 40,0
*Havia 3 (3,3%) casos com 2 infecções concomitantes (toxoplasmose + meningite purulenta; toxoplasmose + citomegalovírus; citomegalovírus + paracoccidioidomicose); LMP – leucoencefalopatia
multifocal progressiva.

Concordância diagnóstica neuropatológica premortem e postmortem na SIDA 107


Silva ACAL et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 105-9, 2011

(34,1%), Moskowitz et al.14 (30,8%) e maior do que o de necrópsia para melhor conhecimento das alterações.
Anders et al.2 (6,7%), Petito et al15 (10%) e Jellinger et Esses achados sugerem que investigação minuciosa deve
al.10 (20,4%). Essas discordâncias podem ter relação com ser feita no SNC em pacientes com SIDA, especialmente
diferenças geográficas e socioeconômicas dos locais de aqueles com diagnóstico tardio da infecção pelo HIV
estudo, além da maior ou menor amostragem do SNC. e consequentemente já muito imunocomprometidos
A segunda infecção mais frequente foi criptoco- e, também, naqueles que não estão respondendo ao
cose, diagnosticada em 12,2% dos casos, assim como tratamento.
no estudo de Anders et al.2 (12,4%), Wainstein et al.16
(12%) e Chimelli et al.6 (13,5%) e bem mais frequente
que no estudo de Moskowitz et al.14 (1,9%), Petito et
al.15 (menor que 3%), Lang et al.11 (4%), Funata et al.8
(6,6%) e Jellinger et al.10 (4,4%). O elevado percentual Agradecimento
de criptococose neste estudo e, possivelmente das outras
séries brasileiras, talvez possa ser explicado pelo fato Apoio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa
de muitos pacientes não fazerem acompanhamento do Estado de Minas Gerais (Fapemig – CDS 2029/05 e
clínico regular, a julgar pelo que verificamos em nossos CDS-APQ 5583-4.01/07)
casos por meio da revisão dos prontuários, não sendo, Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Conselho
então, submetidos ao tratamento dessa infecção, que é Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
facilmente diagnosticada pelo exame do liquor. (CNPq) – 309174/2008-2.
A alta frequência de toxoplasmose e criptococose
em nosso meio deve-se, provavelmente, à ausência
de tratamento devido a fatores socioeconômicos. 6
A frequência de infecção por CMV foi baixa (4,4%), se
comparada com outras séries,2,9,10,15 que variaram de 4%
Referências
a 26%. Por outro lado, estudo brasileiro de Porto Alegre16 1. de Almeida MC, Couto LA, da Silva LH, Carvalhal Sdos
não diagnosticou nenhuma infecção por CMV em 138 S. [Anatomo-clinical diagnosis correlation. Retrospective
casos de necrópsia. assessment of the clinical diagnosis in necropsies]. Rev
Nossos pacientes apresentaram várias complicações Saude Publica. 1989;23(4):285-91.
2. Anders KH, Guerra WF, Tomiyasu U, Verity MA, Vinters HV.
por toxoplasmose e criptococose (que podem ser facil-
The neuropathology of AIDS. UCLA experience and review.
mente tratadas quando diagnosticadas corretamente) e Am J Pathol. 1986;124(3):537-58.
provavelmente não sobreviveram tempo suficiente para 3. Borges AS, Ferreira MS, Nishioka Sda A, Silvestre MT,
desenvolver outros tipos de lesões, como infecções virais Silva AM, Rocha A. Agreement between premortem
e neoplasias. Esta pode ser a razão pela qual não identifi- and postmortem diagnoses in patients with acquired
immunodeficiency syndrome observed at a Brazilian
camos nenhum caso de neoplasia do SNC neste estudo,
teaching hospital. Rev Inst Med Trop Sao Paulo.
fato que também ocorreu na série de Waisntein et al.16 1997;39(4):217-21.
Por outro lado, considerando que a região em que 4. Brasil, Ministério da saúde. Aids em números. AIDS
foi realizado este estudo tem um passado recente de área no Brasil. DST – Aids. [Acesso em: 24 maio 2010].
endêmica para a doença de Chagas, seria de se esperar Disponível em: <http://www.aids.gov.br/data/Pages/
LUMIS13F4BF21ITEMID0CE4429BFBAD4595A0
algum caso de reativação devido à imunodeficiência, o
DC9FE9327EDC83PTBRIE.htm >
que não foi detectado nesta série de necrópsias. Estudo 5. Budka H, Costanzi G, Cristina S, Lechi A, Parravicini C,
anterior comparativo entre meningoencefalite chagásica Trabattoni R, et al. Brain pathology induced by infection
e toxoplasmótica, feito na região, detectou 2 casos ne- with the human immunodeficiency virus (HIV). A histological,
crópsiados de reativação de doença de Chagas, porém, immunocytochemical, and electron microscopical study of
100 autopsy cases. Acta Neuropathol. 1987;75(2):185-98.
ambos eram de Uberlândia.12
6. Chimelli L, Rosemberg S, Hahn MD, Lopes MB, Netto MB.
Pathology of the central nervous system in patients infected
with the human immunodeficiency virus (HIV): a report of
252 autopsy cases from Brazil. Neuropathol Appl Neurobiol.
1992;18(5):478-88.
Conclusão 7. Cury PM, Pulido CF, Furtado VM, da Palma FM. Autopsy
findings in AIDS patients from a reference hospital in Brazil:
Este estudo confirma que existe o risco de diver- analysis of 92 cases. Pathol Res Pract. 2003;199(12):811-4.
sas manifestações patológicas no SNC em pacientes 8. Funata N, Maeda Y, Koike M, Okeda R. Neuropathology of
the central nervous system in acquired immune deficiency
com SIDA, sendo principalmente doenças infecciosas syndrome (AIDS) in Japan. With special reference to human
oportunistas na nossa região, frequentemente não sus- immunodeficiency virus-induced encephalomyelopathies.
peitadas clinicamente, evidenciando a importância da Acta Pathol Jpn. 1991;41(3):206-11.

108 Concordância diagnóstica neuropatológica premortem e postmortem na SIDA


Silva ACAL et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 105-9, 2011

9. Goldman L, Sayson R, Robbins S, Cohn LH, Bettmann M, 14. Moskowitz LB, Hensley GT, Chan JC, Gregorios J, Conley
Weisberg M. The value of the autopsy in three medical eras. FK. The neuropathology of acquired immune deficiency
N Engl J Med. 1983;308(17):1000-5. syndrome. Arch Pathol Lab Med. 1984;108(11):867-72.
10. Jellinger KA, Setinek U, Drlicek M, Böhm G, Steurer A, 15. Petito CK, Cho ES, Lemann W, Navia BA, Price RW.
Lintner F. Neuropathology and general autopsy findings Neuropathology of acquired immunodeficiency syndrome
in AIDS during the last 15 years. Acta Neuropathol. (AIDS): an autopsy review. J Neuropathol Exp Neurol.
2000;100(2):213-20. 1986;45(6):635-46.
11. Lang W, Miklossy J, Deruaz JP, Pizzolato GP, Probst A, 16. Wainstein MV, Ferreira L, Wolfenbuttel L, Golbspan L, Sprinz
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12. L a z o J E , M e n e s e s A C , R o c h a A , F re n k e l J K ,
Marquez JO, Chapadeiro E, et al. [Toxoplasmic and
chagasic meningoencephalitis in patients with human
Endereço para correspondência
immunodeficiency virus infection: anatomopathologic and Ana Cristina Araújo Lemos da Silva
tomographic differential diagnosis]. Rev Soc Bras Med Trop. Disciplina de Patologia Especial
1998;31(2):163-71. Av. Getúlio Guaritá, 130
13. Moskowitz L, Hensley GT, Chan JC, Adams K. Immediate 38025-440 ─ Uberaba, MG, Brasil
causes of death in acquired immunodeficiency syndrome. Telefone: (34) 3318-5152
Email: anacals@gmail.com
Arch Pathol Lab Med. 1985;109(8):735-8.

Concordância diagnóstica neuropatológica premortem e postmortem na SIDA 109


Silva ACAL et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 110-5, 2011

Suboccipital craniectomy and duraplasty


for Arnold-Chiari malformation 1:
experience with 26 patients
Fabiana Policarpo1, Jose Carlos Lynch1, Celestino Esteves1,
Ricardo Andrade1, Vicente Temponi1

Hospital Federal dos Servidores do Estado, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

ABSTRACT
Objective: Observe whether the suboccipital foramen magno decompression, duraplasty
and microsurgery lyses of arachninodal bands are a safe and an effective treatment. Method:
A retrospective study was carried out with 26 consecutives patients with CM1 malformations
diagnosed, evaluated and operated at the Neurosurgical department of Servidores do Estado Hospital
(HSE), from 1986 to 2010. The radiological studies, patient records, surgical descriptions, and when
available, surgical videos, were reviewed, creating a database from which information pertinent to
the present study was collected. The follow-up varied from 8 to 168 months (mean, 48 months).
Results: Twenty-six patients underwent posterior fossa decompression with duraplasty. In this
series, there is no operative death. We noticed beneficial outcome in 69.2% of patients, and 4 cases
of transient postoperative complications. Conclusion: This experience with 26 cases CM1 proved
that suboccipital craniectomy; duraplasty with autologus pericranium and microlysis of adhesions
is a safe and effective procedure.

KEYWORDS
Decompression surgical, Arnold-Chiari malformation/physiopathology, Arnold-Chiari malformation/
surgery, syringomyelia.

RESUMO
Craniectomia suboccipital e duroplastia para o tratamento da malformação de Arnold-Chiari
tipo 1: experiência com 26 pacientes
Objetivo: Observar se a descompressão cirúrgica do forâmen magno associada à duroplastia é um
procedimento seguro e eficaz para o tratamento da malformação de Arnold-Chiari tipo 1. Método:
Realizaram-se revisão retrospectiva dos prontuários, descrições cirúrgicas e imagens de 26 pacientes
com malformação de Arnold-Chiari 1 operados no Hospital dos Servidores do Estado (HSE) no período
entre 1996 e 2010. Resultados: O tratamento em 18 pacientes (68%) constitui-se de craniectomia
suboccipital, remoção do arco posterior de C1 e duroplastia. Os mesmos procedimentos foram
acrescidos de laminectomia de C2 em 8 indivíduos (32%). Nesta série, não ocorreu nenhum óbito
cirúrgico e observou-se melhora sintomática em 68% dos pacientes. Conclusão: A craniotomia occipital
com a remoção do arco de C1 e/ou laminectomia de C2 e duroplastia mostrou-se eficaz, com baixa
morbidade e sem mortalidade.

PALAVRAS-CHAVE
Descompressão cirúrgica, malformação de Arnold-Chiari/fisiopatologia, malformação de Arnold-
Chiari/cirurgia, siringomielia.
Introduction suboccipital decompression without duraplasty (PFD).3,8,9,11-
18,20,23,24,26-28
This paper presents our experience with suboc-
The Chiari malformation 1 (CM1) is regarded as a cipital decompression with duraplasty and microsurgery
pathological hindbrain maldevelopments characterized lyses of arachninodal bands in 26 consecutives patients.
by downward herniation of the cerebellar tonsils at least
3 to 5 mm below the foramen Magnum.4,10,22
There has been open debate on the best operative
treatment of this disease. Ellenbogen et al.5 described over Material and method
20 different practiced operations directed at CM1, but the
optimal surgical management of CM1 is still unclear. Nowa- A retrospective study was carried out with 26 con-
days there is two main accepts techniques to treat the CM1: secutives patients with CM1 diagnosed, evaluated and
suboccipital decompression with duraplasty (PFDD) and operated at the Neurosurgical Department of HSE, from

1. Neurosurgical Department of Hospital Federal dos Servidores do Estado, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 110-5, 2011

1996 to 2010. The radiological studies, patient records,


surgical descriptions, and when available, surgical
videos, were reviewed, creating a database from which
information pertinent to the present study was collected.
The follow-up varied from 8 to 168 months (mean, 48
months). This paper is a retrospective study; it has in-
herent biases and drawbacks; only a large prospective
study can overcome this weakness.
Surgical procedure: In all cases the same micro-
surgery technique was used, following these general
steps: general anesthesia with a carefully endotracheal
intubation, then the patient is carefully placed in ventral
decubitus position resting on the thoracolumbar support,
and the head placed in the Mayfield. The procedure starts
with the use of a 4,5x loupe and co-axial lightning. With
a scalpel, a rectilinear midline incision is made starting
in the superior occipital line and extending down to C3/
C4 level. The fascia is opened in midline with a scalpel
and the paravertebral muscles are carefully disinserted
and laterally retracted with a periosteum elevator. With
the autostatic retractors the exposure and the suboc-
cipital scama, the posterior arch of C1 and the spinous
processes and lamina of the C2 are visualized. Removal
of the posterior arch of C1 is performed with the use of
air drill and Laksell rongeur, if the cerebellar tonsils are
at or bellow C2, the spinous processes and lamina of the
C2 is removed as well. We perform a limited suboccipital
craniectomy (4 x 4 cm) to enlarge the foramen magnum
(FM) and allow for both decompression and mainte-
nance of the posterior fossa neural elements.
During the whole procedure, careful hemostasia is
performed with bipolar forceps under saline irrigation
to keep the field bloodless, to prevent adhesions that can
be induced around the spilled blood. At this moment,
surgical microscope is introduced, and using a 10 to 16x
magnification the dura mater is sectioned in Y-shaped
fashion allowing access to neural element. The free
border of the dura mater is sutured in the paravertebral
musculature. Following, we made the microlysis of the
adhesions that involves the brainstem, spinal cord and
posterior inferior artery with extremely care to lyses only
the adhesions without damage functional tissue or ves-
sels, avoiding complications and, if necessary, the reduc-
tion or amputation of cerebelar tonsils, establishing an
outlet for the forth ventricule. Duraplasty is performed
with pericranium to prevent straitening of the dural sac
diameter and adhesions to the medulla or spinal cord.
(Figures 1 A, B, C and D e Figures 2 A, B, C and D)
Figure 1 – (A) Preoperative sagital T1 MR imaging demonstrating
Valsalva maneuver is performed aiming to detect the cerebellar tonsil herniation through the FM. (B) Postoperative
existence of a cerebral spinal fluid (CSF) leakage, which is sagital T2 imaging after FM decompression and partial reduction
sutured if present. Biological glue has been recently used of cerebelar tonsils, showing the CSF around brainstem and
cerebellum, indicating that adequate decompression was achieved.
on the suturing line with the purpose of preventing CFS (C) Operative image of the same patient demonstrating herniation
fistula. The closure of the paravertebral musculature and of both cerebellar tonsils through the FM. (D) Operative image
fascia is performed in 3 planes to prevent muscle atrophy after partial subpial aspiration of cerebellar tonsils and lyses of
adhesion, revealing reduction of the tonsils size and the spinal
and cervical pain; the skin is sutured with 3.0 nylon. medullary junction.

Suboccipital craniectomy and duraplasty for Arnold-Chiari malformation 1 111


Policarpo F et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 110-5, 2011

Figure 2 – (A) Sagital T2 RM revealing CM with compression of brainstem and syringomyelia (arrow). (B) Post-operative T2 RM showing
foramen magno decompression and decreased of the syringomyelia (arrows). (C) Intraoperative photographs demonstrating herniation of
both tonsils. (D) Operative view of the posterior inferior artery, after tonsillectomy.

Results There is no operative death in this series, but oc-


curred 4 (15.3%) cases of postoperative transient com-
In this series, there were 14 men and 12 women plications without definitive neurological repercussion:
ranging in age from 5 to 72 years (Figure 3). one case of meningitis was cured with antibiotics. One
The duration of the symptoms varied from 2 months patient developed CSF fistula that needed operative clo-
to 14 years (Figure 4). The signs and symptoms can be sured, another one with postoperative cerebellar ptosis
appreciated in the table 1. needed cranioplasty, and a case of pseudo meningocele
The syringomyelia was present in 10 individuals that resolved without further treatment.
(38.4%). Scoliosis was detected in 6 patients (23%). We During the follow up, we observed early beneficial out-
diagnosed 4 cases (15%) of basilar invagination; one come in 18 patients (69.2%), stabilization of the disease in
of them needed a trans oral odontectomy followed by 8 individuals (30.7%). Of this group, 6 (23.3%) showed late
posterior fixation. deterioration. In 10 patients diagnosed with syringomyelia
Eighteen patients (69.2%) underwent posterior fossa only 3(30%) had a sustained improvement, as oppose as
decompression and removal of the posterior arch of in the individuals without syringomyelia that present a
C1 with duraplasty. In 8 patients (30.7%), because the permanent improvement in 10 individuals (62.5%) of the
cerebelar amygdales reach the level of C2, we added cases. Two patients died for clinical problems not related
C2 laminectomy. In 6 (23%) patients, we added tonsil- to CM1. One died of upper GI bleeding 3 years after the
lectomy to improve the CSF flow. surgery and the other died of pulmonary cancer.

112 Suboccipital craniectomy and duraplasty for Arnold-Chiari malformation 1


Policarpo F et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 110-5, 2011

9 The majority published series showed the benefits of


8
7 the association of suboccipital craniectomy to enlarge
6 8
the FM and duraplasty in achieving good surgical
5 results.1,2,5,6,8,13-15,19-21,23,24,26-28
4
3 5 6 But duraplasty and intradural manipulation have
2 been associated with morbidity in certain series and
1 2 2
0 1 1 1 some surgeons are advocating bony decompression
5-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 only, as there appears to be a subset of patients who
respond to this more simple intervention.3,9,11,13,14,24,28
Figure 3 – Bar graphs revealing the age of 26 patients with CM1. The literature shows a low complication rate after non
duraplasty decompression, but several patients submit-
ted to bony decompression alone did not improved and
needed reoperations.5,13,16
5 5
The advantage of opening the dura is that it provides
< 12 the necessary exposure to allow the microlysis of the
2
13 to 24
2 adhesions that involves the brainstem, spinal cord and
8 25 to 36
2
37 to 48 posterior inferior artery and if necessary the reduction
49 to 60 or tonsillectomy. The microlysis of the adhesion is an
> 60 important part of surgery. We are not in agreement with
the authors who claim that a carefully performed mi-
crosurgery intradural operation creates more scarring
Figure 4 – Pie chart showing duration of signs and symptoms
(in months) of 26 patients with CM1. and subsequent failure than an extradural procedure.
Bindal et al.2 concluded that symptoms secondary
to brain stem compression seemed reversible with de-
compressive surgery with duraplasty, whereas results
Table 1 – Sing and symptoms of 26 patients with CM1 with syringomyelia were much less dramatic with the
n % same procedure.
Pararesis 16 64 Saez et al.21 presented the surgical decompression
Hiperreflexia 13 52 and duraplasty experience of 60 cases. They reported
Babinski 12 48 beneficial outcome in 65% of adult patients. The inci-
Arms paresis 12 48 dence and quality of postoperative improvement were
Headache 12 48 greater initially but tended to decrease after several
Ataxia 11 44
years.
Disestesias 11 44
In the experience of Paul et al.18, 69 patients under-
went suboccipital craniectomy and C 1-3 laminectomy.
Nistagmo 4 16
In addition to the decompression, a fascial graft was
Dismetria 3 12
interposed between the edges of the dural incision.
Hands muscle atrophy 2 8
They reported early improvement of the preoperative
Torcicolo 2 8
symptoms in 82% of patients.
S. Horner 2 8 Tubbs et al.26,27 recommend that patients with CM1
Disartria 2 8 and syringomyelia undergo a decompressive surgery
Disfagia 2 8 and duraplasty, if the veils are present, they should be
Diplopia 2 8 fenestrate.
Milhorat and Bolognese13 and Milhorat et al.14 report
that the most effective procedure with minimal com-
plications has been a tailored osseous decompression
of the craniocervical junction, duraplasty employing
Discussion autologus pericranium, and microlysis of arachnoidal
adhesions and tonsillar shrinkage as determined by
There are several mechanisms to explain patho- intraoperative color Doppler ultrasonography.
genenesis of syringomyelia5,7 but this is discussion is McGirt et al.12 advocated decompression with dura-
beyond the scope of this article. plasty only for the patients with tonsillar herniation to or
There has been open debate on the best operative bellow C2 and in the cases with associated syringomy-
treatment of this disease.3,6,8,9,11-18,20,23,24,26-28 elia. They used ultrasound in 279 cases of suboccipital

Suboccipital craniectomy and duraplasty for Arnold-Chiari malformation 1 113


Policarpo F et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 110-5, 2011

and C1 bony decompression alone, normal systolic duraplasty is an interesting new area of research with po-
pulsation of the tonsils and expansion of subarachnoid tentially important clinical implications, but more work
space was observed in 46% of the patients. is necessary before definitive conclusions can be made.
Mutchnick et al.16 performed a review of CM1 de-
compressions in 121 patients, 56 underwent PFD and
64 patients underwent PFDD. Of the 56 PFD patients,
7 (12.5%) needed a subsequent PFDD for symptomatic
recurrence and they concluded PFD was associated References
with a higher rate of repeated decompression but they 1. Alden TD, Ojemann JG, Park TS. Surgical treatment of Chiari
believe that may be justified by the significantly lower I malformation: indications and approaches. Neurosurg
morbidity rate. Focus. 2001;11(1):E2.
Furtado et al.6 preferred a durotomy in addition to 2. Bindal AK, Dunsker SB, Tew JM Jr. Chiari I malformation:
c l a s s i f i c a t i o n a n d m a n a g e m e n t . N e u ro s u rg e r y.
bone decompression at the FM. This preference, they 1995;37(6):1069-74.
believe, is based in the presence of arachnoidal veils 3. Caldarelli M, Novegno F, Vassimi L, Romani R, Tamburrini G,
at the foramen of Magendie that also contribute to Di Rocco C. The role of limited posterior fossa craniectomy
obstruction of CSF flow at the FM. in the surgical treatment of Chiari malformation type I:
experience with a pediatric series. J Neurosurg. 2007;106(3
Among Us, Silva et al.8 preferred a craniectomy,
Suppl):187-95.
aspiration of the tonsils and dural graft, creating a large 4. Carmel PW, Markesbery WR. Early descriptions of the
cisterna magna. Taricco e Melo25 performed PFDD plus Arnold-Chiari malformation. The contribution of John
fourth ventricule shunting in 29 individuals. They no- Cleland. J Neurosurg. 1972;37(5):543-7.
ticed improvement in 84% of them. Romero e Pereira20 5. Ellenbogen RG, Armonda RA, Shaw DW, Winn HR.
Toward a rational treatment of Chiari I malformation and
operated 6 patients with PFD and 10 with PFDD and
syringomyelia. Neurosurg Focus. 2000;8(3):E6.
suggested that patients with syringomyelia may have a 6. Furtado SV, Thakar S, Hegde AS. Correlation of functional
higher like hood of improvement after PFDD. outcome and natural history with clinicoradiological factors
The aforementioned studies clearly showed that in surgically managed pediatric Chiari I malformation.
optimal surgical management of CM1 is still unclear. Neurosurgery. 2011;68(2):319-27.
7. Gardner WJ, Angel J. The mechanism of syringomyelia
This current experience with 26 cases of CM1 with and its surgical correction. Clin Neurosurg. 1958;6:131-40.
suboccipital craniectomy, duraplasty with autologus 8. Silva JA, Melo LR, Araújo AF, Santos Jr AA. Resolution
pericranium and microlysis of adhesions proved a safe of syringomyelia in ten cases of “up-and-down Chiari
and effective procedure with symptomatic improving malformation” after posterior fossa decompression. Arq
Neuropsiquiatr. 2010;68(5):694-9.
of 69.2%, result similar to others published series in
9. James HE, Brant A. Treatment of the Chiari malformation
the literature.2,16,18,21 In patients with syringomyelia, we with bone decompression without durotomy in children and
observed that the improvement were much less dramatic young adults. Childs Nerv Syst. 2002;18(5):202-6.
with the same procedure. To date, there is no a clear 10. Koehler PJ. Chiari’s description of cerebellar ectopy (1891).
answer if the patients, after an adequate FM decompres- With a summary of Cleland’s and Arnold’s contributions
and some early observations on neural-tube defects. J
sion, but with a maintained syringomyelia should be
Neurosurg. 1991;75(5):823-6.
reoperated and which procedure should be done. We 11. Krieger MD, McComb JG, Levy ML. Toward a simpler
did not reoperated a single patient with a maintained surgical management of Chiari I malformation in a pediatric
syringomyelia. population. Pediatr Neurosurg. 1999;30(3):113-21.
12. McGirt MJ, Attenello FJ, Datoo G, Gathinji M, Atiba A,
Weingart JD, et al. Intraoperative ultrasonography as a
guide to patient selection for duraplasty after suboccipital
decompression in children with Chiari malformation type I.
J Neurosurg Pediatr. 2008;2(1):52-7.
Conclusion 13. Milhorat TH, Bolognese PA. Tailored operative technique
for Chiari type I malformation using intraoperative color
The neurosurgeon can elect either PFDD or PFD as Doppler ultrasonography. Neurosurgery. 2003;53(4):899-
the appropriate treatment, but the surgery must enlarge 905; discussion 905-6.
14. Milhorat TH, Chou MW, Trinidad EM, Kula RW, Mandell M,
the foramen magnum and allow for both decompression Wolpert C, et al. Chiari I malformation redefined: clinical
and maintenance of the posterior fossa neural elements and radiographic findings for 364 symptomatic patients.
and reestablish the CSF flow. A further investigation is Neurosurgery. 1999;44(5):1005-17.
needed to define with clarity which surgery is better for 15. Munshi I, Frim D, Stine-Reyes R, Weir BK, Hekmatpanah
J, Brown F. Effects of posterior fossa decompression with
a specific individual. What is appropriate for one patient
and without duraplasty on Chiari malformation-associated
is not necessarily appropriate for other. hydromyelia. Neurosurgery. 2000;46(6):1384-9.
The use of color Doppler US during surgery to taylor 16. Mutchnick IS, Janjua RM, Moeller K, Moriarty TM.
the foramen Magno decompression and the necessity of Decompression of Chiari malformation with and without

114 Suboccipital craniectomy and duraplasty for Arnold-Chiari malformation 1


Policarpo F et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 110-5, 2011

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José Carlos Lynch
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management of Chiari I malformation and syringomyelia. 22461-000 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Childs Nerv Syst. 2004;20(5):341-8. E-mail: cneuroamericas@uol.com.br

Suboccipital craniectomy and duraplasty for Arnold-Chiari malformation 1 115


Policarpo F et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 116-9, 2011

Signaling pathways in
cerebral vasospasm
Flávio Ramalho Romero1, Eberval Gadelha Figueiredo2, Manoel Jacobsen Teixeira2

São Paulo University, São Paulo, SP, Brazil.

ABSTRACT
Cerebral vasospasm is a deadly complication following the rupture of intracranial aneurysms. One
new development in the experimental treatment of cerebral vasospasm is the looming target of
signaling pathways. The pathogenesis of cerebral vasospasm involves multiple signaling pathways
in proliferation, inflammation, cell death, smooth muscle phenotype changes, vascular remodeling,
and contraction. A review of all of these areas is beyond the scope of this article, and as such, three
systems that mediate these vascular responses have been selected: the tyrosine kinase-MAP kinase
pathway, the sphingosine-1-Rho myosin light chain kinase pathway and protein kinase C.

KEYWORDS
Cerebral vasospasm, signaling pathways, protein kinase C.

RESUMO
Vias sinalizadoras em vasoespasmo cerebral
O vasoespasmo cerebral é a complicação mais grave após a ruptura de um aneurisma intracraniano.
Um novo foco experimental de tratamento de vasoespasmo cerebral são as vias sinalizadoras.
A patogênese do vasoespasmo cerebral envolve múltiplas vias de sinalização na proliferação,
inflamação, morte celular, alterações fenotípicas da muscultura lisa, remodelamento vascular e
contração. Uma revisão de todas essas áreas é o objetivo deste artigo, e três sistemas que comandam
essa resposta vascular foram selecionados: a via da tirosina quinase-MAP quinase, a via esfingosina-
1-Rho miosina quinase e a proteína quinase C.

PALAVRAS-CHAVE
Vasoespasmo cerebral, vias de sinalização, proteína quinase C.

Introduction medical therapy, including hemodynamic therapy and


nimodipine.4,7,27,28
Cerebral vasospasm is a deadly complication follo- The available treatment strategies include mecha-
wing the rupture of intracranial aneurysms.4,19,23,28 The nical dilation of spastic cerebral arteries (angioplasty)
time course of cerebral vasospasm is unique in that it and non-selective vasodilatation such as by Ca2+ channel
is slow developing, usually takes 4-7 days to peak, but blockers.4,7,9,15,27,28 One new development in the experi-
lasts up to 2-3 weeks, and is resistant to most known mental treatment of cerebral vasospasm is the looming
vasodilators.4,23,27 These special features make cerebral target of signaling pathways. Understanding vasospastic
vasospasm the most important determinant in the ou- signals in cerebral arteries might offer a new avenue for
tcome of patients suffering subarachnoid hemorrhage. selective treatment of cerebral vasospasm in the future.
Vasospasm adversely affects 10% to 20% of patients with The pathogenesis of cerebral vasospasm involves
aneurysmal SAH.4,5,7,11,15,19 Although it is present on ca- multiple signaling pathways in proliferation, inflam-
theter angiograms in 40% to 70% of patients with SAH, mation, cell death, smooth muscle phenotype changes,
only 20% to 30% will develop clinical vasospasm.11,15,27,28 vascular remodeling, and contraction.20,22,24 A review
Up to 15% of patients surviving the ictus of SAH expe- of all of these areas is beyond the scope of this article,
rience stroke or death from vasospasm despite maximal and as such, two systems that mediate these vascular

1. Neurosurgery Division of São Paulo University, São Paulo, SP, Brazil.


2. Neurosurgery Division of Hospital das Clínicas of Medical School of São Paulo University, São Paulo, SP, Brazil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 116-9, 2011

responses have been selected: the tyrosine kinase-MAP Sphingosine-1 and Rho/
kinase pathway and the sphingosine-1-Rho myosin myosin light chain kinase
light chain kinase pathway. Papers related to endothe-
lin, nitric oxide, free radicals and gene therapy are not Sphingosine-1-phosphate (S1P) is a bioactive sphin-
included in this review. golipid metabolite that is known to mediate diverse
cellular responses including cell growth, survival, and
migration.2,24 Most of these effects have been attributed
to its binding to a specific subfamily of G protein-
-coupled receptors (GPCR), namely S1P. Recent studies
Tyrosine kinase and mitogen-
have suggested that S1P also plays a prominent role
actived protein (MAP) kinase in the contraction of various types of smooth muscle.
This review provides a brief overview of its role in this
MAP kinase has been suggested to be one of the
process and also highlights how S1P-dependent signa-
most important signaling pathways involved in cerebral
ling serves as an important regulator of smooth muscle
vasospasm based in part on the role of MAP kinase in
contraction.2,24
cell differentiation, proliferation, contraction, death
Sphingosine 1-phosphate (S1P) is stored in plate-
and remodeling.1
lets and released on their activation. Similar to MAP
MAP kinase is involved in the regulation of CA2+ in
kinase, many stimuli such as growth factors, cytokines,
cerebral smooth muscle cells and in the contraction of
G-protein coupled receptors coupled receptor agonist,
cerebral arteries.1,2,10 Blood clot components including
and antigens have been shown to increase sphingosi-
hemoglobin and vasoactive agents released from the
ne kinase activity and SP1 formation in different cell
vessel wall such as endothelin-1 enhance MAP kinase
types, including smooth muscle cells. Indeed, SP1 has
expression and activity in cerebral arteries. Free radicals
been implicated in the regulation of several important
activate MAP kinase in vascular smooth muscle cells.
cellular processes, such as proliferation, differentiation,
MAP kinase inhibitors were reported to decrease MAP
apoptosis and migration in these cells.2,24
kinase expression in vasospastic arteries and to reduce
Sphingosylphosphorylcholine (SPC), a sphingolipid,
the degree of cerebral vasospasm in animal models.1
is a novel messenger for Rho kinase-mediated Ca2+
A recent study1 demonstrated that antisense oligodeo-
sensitization in the bovine cerebral artery but not for
xunucleotides to MAP kinase abolished MAP kinase
protein kinase C. Rho and Rho kinase are believed to
activity and phosporylated MAP kinase and reduce va-
play roles in smooth muscle contraction and cytoskele-
sospasm in a rat model of subarachnoid hemorrhage.1,10
ton reorganization. Rho kinase, wich is activated by the
Because MAP kinase is a substrate of tyrosine kina-
small guanosine triphosphatase. Rho, phosphorylates
se, the possible role of tyrosine kinase as an upstream
not only myosin light chain but also myosin phosphatase
modulator of MAP kinase in cerebral vasospasm needs
at its myosin binding subunit, thus inactivating myosin
to be addressed.6 Tyrosine kinase regulates intracellu-
phosphatase.2,24
lar Ca2+ and smooth muscle contraction induced by
spasmogens including blood clot components and
vasoactive agents.1,6,24 Tyrosine kinase is involved in
the compaction of fibroblasts. Some G-protein coupled
receptor agonist and growth factors activate tyrosine Protein kinase C
kinase. The level of these G-protein receptor agonist
such as adenosine triphosphate and endothelins, growth Twenty-five years after the discovery of protein
factors, and their receptors are increased in cerebros- kinase C (PKC), the physiologic function of PKC, and
pinal fluid or in cerebral arteries.1 Tyrosine activation especially its role in pathologic conditions, remains a
phosphorylates other substrates such as Ras protein subject of great interest. In the cerebral circulation, PKC
and phosphatidyl inositol-3 kinase tyrosine kinase. Ras plays a role in the regulation of myogenic tone by sen-
is increased after spasmogen stimulation, and phospa- sitization of myofilaments to calcium. Protein kinase C
tidyl-inositol-3 kinase is enhanced after vasospasm in phosphorylates various ion channels including augmen-
animals. The tyrosine kinase inhibitors sumarin but ting voltage-dependent Ca2+ channels and inhibiting K+
not phosphatidylinositol-3-kinase inhibitors reduced channels, which both lead to vessel contraction. These
vasospasm in animal models.1, 16-18,24 actions of PKC amplify vascular reactivity to different
Overall, MAP kinase and particularly the extra- agonists and may be critical in the regulation of cerebral
celular regulated kinase (ERK) system is involved in artery tone during vasospasm.8,18,24
proliferation, differentiation, and contraction of cerebral Evidence accumulated during at least the last decade
arteries after subarachnoid hemorrhage. suggests that activation of PKC in cerebral vasospasm

Signaling pathways in cerebral vasospasm 117


Romero FR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 116-9, 2011

results in a delayed but prolonged contraction of ma- References


jor arteries after subarachnoid hemorrhage. Most of
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O’Kane DJ, Meyer FB, et al. Endothelial nitric oxide synthase
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gene polymorphisms predict susceptibility to aneurysmal
the future. Additional research is required to clarify the subarachnoid hemorrhage and cerebral vasospasm.
roles of these pathways and agents in vasospasm. J Cereb Blood Flow Metab. 2004;24(3):291-7.

118 Signaling pathways in cerebral vasospasm


Romero FR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 116-9, 2011

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Signaling pathways in cerebral vasospasm 119


Romero FR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

Psicocirurgia para tratamento de


transtorno obsessivo-compulsivo
Leila Maria Da Róz1, Eduardo Santamaria Carvalhal Ribas1, Gerson
Ballester2, Eberval Gadelha Figueiredo2, Manoel Jacobsen Teixeira2

RESUMO
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma patologia incapacitante tanto na esfera social como
na ocupacional. Está associado a uma morbidade bastante alta quando comparado a outras condições
psiquiátricas e estima-se atualmente uma prevalência de 2% a 3% na população. Alguns estudos
sugerem uma provável relação com uma disfunção do córtex frontal e do cíngulo, envolvendo o circuito
de Papez. Esse circuito parece mediar os sintomas ansiosos, visto que lesões cirúrgicas dessas
áreas afetam a ansiedade geralmente associada ao TOC. A neurocirurgia ablativa para o tratamento
de distúrbios psiquiátricos foi muito utilizada até o desenvolvimento de psicofármacos efetivos.
Recentemente, com os avanços técnicos do procedimento cirúrgico, auxiliado pelo conhecimento
neurofisiológico, a psicocirurgia tornou-se mais precisa e segura. Porém, sua indicação se restringe
como uma alternativa ao tratamento de pacientes com TOC refratário à terapia comportamental e/
ou medicamentosa.

PALAVRAS-CHAVE
Transtorno obsessivo-compulsivo/classificação, transtorno obsessivo-compulsivo/etiologia, transtorno
obsessivo-compulsivo/fisiopatologia, psicocirurgia, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos,
procedimentos neurocirúrgicos.

ABSTRACT
Psychosurgery for the treatment of obsessive-compulsive disorder
The obsessive-compulsive disorder (OCD) is a both socially and occupationally incapacitating disease.
It is associated with a quite high morbidity if compared to other psychiatric conditions and currently
it is estimated a lifetime prevalence rate of 2% to 3%. Some studies suggest a probable relation with
a dysfunction in the cingulate and the frontal cortex, involving the Papez circuit. Anxious symptoms
seem to be mediated by that circuit, considering surgical lesions of these areas affect the anxiety
usually associated with OCD. The ablative neurosurgery for the treatment of psychiatric disorders was
widely used until the development of effective psychopharmacological medication. Recently, thanks
to the technical advances of the surgical procedure, aided by the neurophysiological knowledge,
the psychosurgery became more accurate and safer. Yet, its indication is restricted as an alternative
treatment to refractory OCD patients.

KEYWORDS
Obsessive-compulsive disorder/classification, obsessive-compulsive disorder/etiology, obsessive-
compulsive disorder/physiopathology, psychosurgery, surgical procedures, minimally invasive,
neurosurgical procedures.

Introdução à insanidade ou à religião, porém a hipótese de que esta-


riam vinculados a uma disfunção cerebral foi proposta
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) interfere apenas na última metade do século XIX.5
significativamente nas atividades domésticas, sociais As primeiras teorias envolviam a ideia de possessão
e profissionais cotidianas dos pacientes. Atualmente, por forças estranhas e a necessidade da realização de
recebe especial atenção da comunidade psiquiátrica, ri­tuais de exorcismo por médicos-bruxos, místicos ou
pois revela-se menos raro do que se pensava até recen- líderes religiosos visando à expulsão dos invasores inde-
temente.24 A ineficácia do tratamento convencional, em sejados. Freud desenvolveu a primeira hipótese racional,
alguns casos, leva à procura de outros métodos, sendo conceituando a sintomatologia do TOC por meio de ques-
a psicocirurgia uma das alternativas. tões psicossexuais relacionadas à teoria da libido. Alguns
Quadros obsessivo-compulsivos têm sido descritos teóricos enfatizaram elementos particulares, como a raiva
há pelo menos 300 anos, sendo muitas vezes associados reprimida, mas a ideia de controle de impulsos sexuais

1. Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), São Paulo, Brasil.
2. Departamento de Neurocirurgia do HC-USP, São Paulo, Brasil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

hostis e inaceitáveis ainda predominava. Mesmo antes de preocupações habituais. Além disso, o paciente deve
Freud, o comportamento bizarro do indivíduo obsessivo- reconhecer os pensamentos ou impulsos obsessivos
-compulsivo já fora relacionado à sua aflição, mas só como produtos de sua própria mente e esforçar-se para
recentemente o valor adaptativo de tal comportamento ignorá-los ou suprimi-los, ou neutralizá-los por meio
foi reconhecido mais claramente: as preocupações insis- de outro pensamento ou ação. Já as compulsões são
tentes do indivíduo ocupam de tal maneira sua atenção, caracterizadas por comportamentos repetitivos ou atos
que ele não consegue dedicar-se a qualquer outro tipo de mentais executados pelo paciente em resposta a uma
pensamento, distraindo-se de todo o restante.32 obsessão ou conforme regras que devem ser rigidamente
empregadas.4 Elas têm o objetivo de prevenir ou reduzir
o sofrimento e/ou ansiedade causados pelas obsessões
ou algum evento ou situação que cause temor1,4,32, entre-
tanto devem ser claramente exageradas ou incoerentes
Epidemiologia com o que se deseja neutralizar ou evitar, e isso deve ser
reconhecido pelo paciente no decorrer do transtorno.
Apesar de o conceito de TOC estar estabelecido Ainda segundo o DSM-IV, para a caracterização do
há muito tempo, os critérios diagnósticos utilizados TOC, as obsessões ou compulsões devem ser marca-
nas investigações são relativamente recentes. Isso se damente perturbadoras, consumir mais de uma hora
deve parcialmente à possibilidade de seus sintomas por dia e interferir nas atividades normais do paciente.4
ocorrerem concomitantemente aos de outras doenças
e, portanto, ser discutível até que ponto constituem
fenômenos distintos.4,24 Além disso, há grande dificul-
dade no estabelecimento de métodos diagnósticos para
o cálculo da prevalência dessa patologia, já que o modo Qualidade de vida
de avaliação dos indivíduos é muito subjetivo.9
Os primeiros estudos clínicos relatavam prevalên- Apesar da existência de vários estudos epidemiológi-
cias próximas de 0,3% e 1%9, porém, atualmente, estudos cos sobre a morbidade relacionada ao TOC e de insisten-
epidemiológicos, baseados no DIS (Diagnostic Interview tes pesquisas na origem dos sintomas e dos transtornos
Schedule) estimam uma prevalência ao longo da vida funcionais causados por ele, poucos realmente se em-
entre 2% e 3%23,30,33 e uma prevalência em seis meses penharam na avaliação de seu impacto na qualidade de
entre 1% e 2% na população adulta de diversos países, vida de seus portadores. Em um desses, pacientes com
entre eles os Estados Unidos.4,12,24 TOC de moderado a intenso, não medicados, foram
No Brasil, as prevalências estimadas para homens comparados à população em geral dos Estados Unidos
e mulheres são respectivamente de 1,7% e 0,7% em e a pacientes com depressão ou diabetes. Os portadores
Porto Alegre e de 0,5% e 0,4% em Brasília.9 Apesar de de TOC obtiveram uma pontuação média mais alta em
diversos estudos utilizando o DIS demonstrarem uma todos os domínios relacionados à saúde física como
maior proporção de indivíduos do sexo feminino,4,24 há determinante da qualidade de vida (função física, limita-
indícios de que estes não possuem maior predisposição ção devido a problemas físicos e dores no corpo) do que
para o TOC; na verdade, percebe-se que geralmente os pacientes com diabetes e depressão, porém semelhante
homens apresentam o início dos sintomas mais preco- à da população em geral. Em contraste, em todos os
cemente. De modo geral, a doença afeta pessoas jovens: domínios de saúde mental (função social, limitação
60% dessas reportam os primeiros sintomas antes dos 25 devido a problemas emocionais, e saúde mental), os
anos e 30% delas apresentam-nos entre os 5 e 15 anos.9,29 pacientes com TOC obtiveram uma pontuação média
bem abaixo da população em geral (quanto mais grave
o transtorno, mais baixa a pontuação), já a pontuação
média dos com diabetes e depressão foi semelhante.
Assim, a intensidade do TOC foi negativamente rela-
Quadro clínico cionada à função social, demonstrando um importante
impacto negativo dessa moléstia na qualidade de vida de
Os portadores de TOC podem apresentar obsessões, seus portadores.23 Um agravante desse problema é que
compulsões ou ambos os sintomas conjuntamente. As geralmente há um grande período entre os primeiros
obsessões são definidas pelo DSM-IV como a presença sintomas e o início do tratamento apropriado.24 Além
intrusiva de pensamentos, impulsos ou imagens re- disso, pode haver refratariedade ao tratamento conven-
correntes e persistentes, frequentemente repugnantes, cional, casos em que a neurocirurgia surge como uma
levando à ansiedade ou ao sofrimento do paciente. alternativa, já que atualmente se mostra mais precisa e
Essa intrusão deve ser maior que a experimentada em segura no tratamento de pacientes psiquiátricos.

Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo 121


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

Fisiopatologia Uma teoria que propõe o envolvimento de uma alça


fronto-estriato-pálido-talâmico-frontal afirma que o
A causa do TOC ainda não foi esclarecida, embora TOC poderia ser o resultado tanto de desequilíbrios
não pareça ser determinado por nenhum fator etio- da atividade modulatória da conexão fronto-caudado-
lógico específico. Possivelmente, resulta da interação -pálido-talâmica como de uma alteração da atividade
de múltiplos fatores: genéticos, biológicos e sistemas primária da conexão órbito-frontal-talâmica.33 Lesões
familiares.29 Contudo, a literatura neurocirúrgica sugere na área órbito-frontal, no trato órbito-frontal-talâmico
provável associação dessa perturbação a uma disfunção ou nos núcleos talâmicos anteriores mediais melhoram
do córtex frontal e cíngulo, crendo-se no envolvimento os sintomas obsessivo-compulsivos, apresentando o
do circuito de Papez, do qual essas estruturas fazem par- provável papel desse circuito na patogênese do TOC.
te, na mediação de sintomas característicos de ansiedade A anatomia cerebral encontra-se, muitas vezes, al-
e de outros distúrbios emocionais, conforme descrito. terada em pacientes com TOC, como demonstrado em
Algumas manifestações obsessivo-compulsivas estudos de imagem com tomografia computadorizada
estão começando a ser definidas por meio de sua (TC) e ressonância magnética (RM) de alta resolução,
fisiopatologia, no entanto podem representar apenas com redução do volume médio do cíngulo, comparado
alterações intermediárias, e não a etiologia primária a controles normais. Entretanto, não há descrições de
determinante. Há fortes evidências da associação de alteração estrutural evidente da substância branca da
fatores neurobiológicos e psicológicos na patogênese do área frontal em alguns pacientes.33
TOC.12,24 Relatos de distúrbios neurológicos em que há O achado mais consistente acerca da fisiopatologia
comprometimento do lobo frontal, núcleo caudado, glo- do TOC aponta para uma anormalidade na neuro-
bo pálido, e possivelmente do lobo temporal, associados transmissão mediada por serotonina,12,24 porque há boa
a sintomas de TOC, indicam o possível envolvimento resposta terapêutica com o uso de inibidores seletivos
de tais estruturas na gênese dos sintomas.33 da recaptação de serotonina. O uso de inibidores da
Os circuitos possivelmente relacionados à patogêne- recaptação de noracrenalina ou de antagonistas do-
se de transtornos afetivos, ansiosos e psicóticos, em sua paminérgicos não demonstra melhora do quadro.12,24
maioria, envolvem conexões entre o giro do cíngulo e o Estudos com tomografia por emissão de pósitrons (PET)
neocórtex do lobo frontal.34 Os transtornos obsessivo- demonstraram a ocorrência de mudanças neurobiológi-
-compulsivos, por apresentarem sintomas variados, cas no sistema nervoso central tanto durante tratamento
possuem diversas hipóteses descritas, envolvendo farmacológico como durante psicoterapia.12,24 Já níveis
estruturas anatômicas distintas. anormais de neurotransmissores e neuromoduladores
Para melhor compreensão da base anatômica do foram encontrados no fluido cerebroespinhal de pacien-
TOC, é necessário citar os três principais circuitos tes com TOC não tratados, no entanto após tratamento
límbicos: o circuito medial, o basolateral e o de reação efetivo ocorreu a normalização daqueles.24
de fuga e luta. Dentre esses, somente os dois primeiros A avaliação neuropsicológica frequentemente iden-
parecem estar envolvidos em transtornos afetivos e tifica anormalidades visuoespaciais.24 Um estudo en-
ansiosos, sendo o circuito límbico medial o clássico controu significativamente mais sinais de disfunção do
circuito de Papez, com conexões do giro do cíngulo ao sistema nervoso central (por exemplo: anormalidades
hipocampo, fórnix, corpos mamilares e núcleo anterior na coordenação motora fina e na função visuoespacial e
do tálamo e então ao córtex orbitofrontal e núcleo septal. movimentos involuntários) em pacientes com TOC em
O circuito basolateral envolve o lobo temporal ante- relação a controles. Esse mesmo estudo reportou uma
rior, amígdala, núcleo dorsomedial do tálamo e córtex correlação entre sinais mais brandos e a gravidade das
orbitofrontal.34 O circuito de Papez parece mediar os obsessões, bem como um excesso de anormalidades
sintomas ansiosos15,33 e o basolateral, o comportamento localizadas à esquerda e déficit visuoespacial, ambos
obsessivo-compulsivo, principalmente porque lesões consistentes com disfunções do hemisfério cerebral
cirúrgicas que alteram as relações funcionais dessas direito. Também existem relatos de maior déficit de
áreas parecem melhorá-los.33,34 A utilidade clínica des- memória não verbal recente, talvez relacionado à
ses procedimentos parece ser baseada mais na análise hipótese preexistente da maior associação da área
pragmática de sua eficácia em relatos anteriores do que mesial temporal direita a memórias não verbais, sendo
um completo conhecimento de sua base científica.34 o hipocampo e a amígdala geralmente considerados
Um dado concreto é que a estimulação elétrica do giro como centralmente envolvidos na memória recente.
do cíngulo em pacientes com epilepsia refratária à me- O prejuízo da memória também foi identificado em
dicação, com eletrodos implantados a fim de localizar humanos após lesões diencefálicas, do prosencéfalo
o foco de origem da crise, induz movimentos motores basal e do giro do cíngulo. Portanto, há forte evidência
repetitivos e estereotipados similares aos de rituais de que os achados neuropsicológicos e os sintomas do
compulsivos.33 TOC devem-se particularmente a disfunções dos lobos

122 Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

frontal e temporal e primariamente, mas não exclusiva- vezes utilizando metodologias distintas para a seleção
mente, do lobo temporal direito.33 de pacientes, o que torna difícil a comparação entre os
diversos resultados.29
Antes do abandono das formas mais conservadoras
de tratamento, é prudente rever o diagnóstico, excluir
qualquer outra morbidade psiquiátrica (dependência
Indicação cirúrgica de droga, psicose ou transtorno de humor) e afastar os
estressores psicossociais. Além disso, antes da indica-
Tratamentos específicos como terapias compor-
ção do procedimento cirúrgico, devem-se balancear os
tamentais (resposta preventiva e a exposição in vivo)
riscos da não intervenção (complicações sociais, físicas
provaram ter sucesso em diminuir rituais compulsivos
e psicológicas, incluindo risco de suicídio) e os da in-
em 70% a 80% dos pacientes. O uso de medicação deve
tervenção (disfunção do lobo frontal e complicações
ser visto como uma alternativa em casos irresponsivos à
psicológicas, tais como alteração da personalidade,
primeira forma de tratamento, contudo, se o TOC ainda
abuso de substâncias e suicídio), minimizados com as
se apresentar refratário, a psicocirurgia torna-se uma
opção de tratamento. Assim, pacientes extremamente técnicas atuais. As indicações para a realização desses
doentes e incapacitados são encaminhados para o pro- procedimentos são essencialmente as mesmas para as
cedimento neurocirúrgico após serem selecionados por várias técnicas existentes e entre os diversos serviços
rigoroso critério.22,26 médicos.34
A neurocirurgia psiquiátrica (“psicocirurgia”) é Abaixo se encontram relacionados os critérios de
definida como uma forma de neurocirurgia funcional seleção em psicocirurgias para tratamento de TOC.
destinada ao tratamento de distúrbios psiquiátricos, – Os sintomas preenchem os critérios para TOC.
ocupando uma posição central, apesar de controversa, – A doença persiste por mais de cinco anos.
principalmente na década de 1940 e início dos anos – O paciente encontra-se na faixa etária entre 18 e
1950, especialmente nos Estados Unidos. No entanto, 65 anos (em alguns serviços, realiza-se o procedimento
muitos desses procedimentos provocavam efeitos co- em pacientes com 20 a 69 anos).
laterais importantes, como hemorragia, epilepsia e a – O TOC causa importante sofrimento e tem consi-
“síndrome do lobo frontal”, caracterizada por apatia, derável impacto psicossocial na vida do paciente.
impulsividade etc.20 Assim, em 1954, com a introdução – Os seguintes tratamentos falharam ou não foram
da clorpromazina, um antipsicótico, houve uma cons- tolerados: testes adequados de todos os inibidores da
cientização a respeito das morbidades relacionadas à recaptação de serotonina (alguns centros exigem testes
psicocirurgia. Já na década de 1960, esses procedimen- de apenas três) e de um inibidor da MAO; combinação
tos despertaram grande interesse, acompanhados por de no mínimo um inibidor da recaptação de serotonina
uma evolução contínua dos princípios estereotáxicos, com dois outros agentes (lítio, clonazepam ou buspiro-
refinamento da técnica e redução dos efeitos indesejá- na, um mês cada) e, em pacientes com tiques associados,
veis causados anteriormente. Próximo à década de 1970, um neuroléptico em dose baixa; no mínimo 20 horas
novamente houve uma mobilização, devido a questões de terapia comportamental.
políticas, contra essa abordagem para tratamento de – O paciente não tem um bom prognóstico sem a
transtornos psiquiátricos.6,17 cirurgia.
Recentemente, observa-se um novo interesse pelo – O paciente deve estar informado sobre o proce-
tratamento cirúrgico de pacientes psiquiátricos, visto dimento e consenti-lo, concordando com a realização
que os procedimentos neurocirúrgicos atuais são con- de uma avaliação pré-operatória e de uma reabilitação
siderados relativamente seguros, com letalidade extre- pós-operatória.
mamente baixa e morbidade pós-operatória transitória,6 – O médico que indicou a cirurgia dispõe-se a reali-
porém a indicação de psicocirurgia restringe-se àqueles zar o acompanhamento pós-operatório e a longo prazo.
em que o tratamento convencional não demonstrou É importante manter ou recomeçar os tratamentos
eficácia.27,29 farmacológicos e/ou psicológicos no pós-operatório,
Os procedimentos cirúrgicos podem tanto atuar di- pois os pacientes podem apresentar-se responsivos a
retamente no circuito de Papez (cingulotomia anterior), intervenções anteriormente sem sucesso.16,19
em conexões entre o córtex frontal e o sistema límbico O paciente também deve apresentar condições
(tractotomia do subcaudado e capsulotomia), ou em físicas favoráveis; não apresentar história pregressa de
ambos (leucotomia límbica).6 convulsões, derrames ou anormalidades radiológicas
Atualmente, há quatro técnicas mais frequentemente cerebrais; nunca ter realizado cirurgias cranianas; ter
utilizadas no tratamento de transtornos psiquiátricos, condições para ser submetido à anestesia geral durante o
sendo cada uma associada a determinado centro, muitas procedimento, se preciso; não ter evidência de infecção

Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo 123


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

local craniana ou cerebral. Para técnicas estereotáxicas estereotáxica,6 guiada por RM, do giro do cíngulo an-
guiadas por RM, não pode possuir implantes de objetos terior e do feixe do cíngulo.
metálicos ou de marca-passo cardíaco. O paciente deve A cirurgia é realizada sob anestesia geral ou local
ser considerado competente nas esferas legal, mental e (com sedativo intravenoso) e envolve somente peque-
psiquiátrica, com envolvimento ativo no processo de na tricotomia. São realizadas trepanações bilaterais de
decisão de pelo menos um membro próximo da família aproximadamente 12 mm de diâmetro, posteriores 4,5
e um psiquiatra designado para proporcionar atenção cm ao násio e laterais 1,5 cm (em relação à linha média),
primária contínua após a realização do procedimento. feitas juntamente com a utilização de imagens de RM,
Um segundo psiquiatra responsável também deve a fim de uma melhor visualização dos alvos. Origi-
participar de avaliação independente do paciente para nalmente, a localização era feita por ventriculografia
indicação do procedimento. O paciente deve concordar aérea (historicamente, o método mais comum para o
com a realização de uma RM craniana após seis semanas cálculo de coordenadas na cirurgia estereotáxica)34 e
da realização da cirurgia. estereotática.
Após a verificação do critério de elegibilidade, de- São identificados dois alvos laterais ao giro do
vem ser realizadas outras avaliações preventivas antes cíngulo, entre 2 e 4 cm posteriores à borda anterior do
da contemplação do procedimento, incluindo avalia- corno anterior do ventrículo lateral, e aproximadamente
ções independentes do paciente e de seus familiares 7 mm laterais à linha média.10 As lesões estendem-se 2
próximos por um especialista em bioética, ou pessoa cm dorsalmente ao corpo caloso e têm entre 8 e 10 mm
similarmente treinada, ou por grupo especificamente de diâmetro lateral,29 sendo feitas com a utilização de
designado composto por advogados e médicos de di- sondas termocoagulantes por radiofrequência (1-1,5
ferentes especialidades. O objetivo dessa avaliação é a mm de diâmetro), ajustadas entre 80 e 85oC durante
verificação de que tanto o paciente quanto sua família 60 a 100 segundos. A primeira lesão é feita a 8 mm de
compreendem plenamente os riscos e benefícios da profundidade, respeitando o ponto-alvo, e a segunda
cirurgia. A avaliação de cada caso, antes e por longo é feita 10 mm superficialmente à primeira, resultando
tempo após a operação, por um grupo específico da em uma área total de aproximadamente 10 por 20
instituição composto por médicos, advogados e repre- mm.2,10,19 Geralmente, após a cirurgia, realiza-se uma
sentantes religiosos, também é recomendável como uma TC de crânio para documentação do local da lesão e
segurança final para o paciente.34 para descartar a presença de hemorragia.10,19 Resultados
de exames de imagem com utilização de 133Xe demons-
tram diminuição do fluxo sanguíneo regional na região
frontoparietal em pacientes submetidos à cingulotomia,
comparados ao seu estado anterior à cirurgia.10
Técnicas cirúrgicas O prognóstico desses pacientes é bem favorável, com
indícios de que aproximadamente 25% deles se encon-
Existem quatro procedimentos psicocirúrgicos
tram funcionalmente bem um mês após o procedimento
geralmente utilizados: cingulotomia, capsulotomia,
e outros 31% apresentam grande melhora em 8,6 anos
tractotomia do subcaudado e leucotomia límbica.
de seguimento.3 Os efeitos colaterais restringem-se a
A capsulotomia anterior é a preferida nos Estados Unidos,
1% de casos de epilepsia, controlados com medicação.10
enquanto as outras são mais utilizadas na Europa,10 mas
Um detalhado estudo de coorte prospectivo, reali-
todos os procedimentos envolvem desconexões bilaterais
zado em 1977 no Massachusetts Institute of Technology
de um ou mais circuitos límbicos, auxiliados pela este-
(MIT), avaliou, mediante testes neuropsicológicos,
reotaxia e por métodos de imagem neurorradiológica, o
pacientes submetidos à cingulotomia anterior, demons-
que permite alta acurácia na localização das estruturas
trando que, diferentemente das lobotomias frontais an-
(mais ou menos 1 mm³). Durante a cirurgia, utiliza-se
teriormente realizadas, não há evidência de déficits das
anestesia local, com leve sedação; enquanto os alvos são
funções intelectuais ou emocionais nesses pacientes.6
lesados, os pacientes não referem sensação subjetiva.19
No relatório mais recente do Massachusetts General
Hospital, descrevendo cingulotomias estereotáxicas
realizadas em 34 pacientes com TOC ou distúrbios
afetivos maiores desde 1991, consta que 38% dos pa-
Cingulotomia anterior cientes respondem muito bem ao procedimento, 23%
são possivelmente responsivos ao tratamento e 38%
Envolve a excisão das fibras anteriores supracalosas são considerados como não responsivos. A partir desse
do giro do cíngulo, interrompendo o circuito límbico estudo (e também de outros anteriores com resultados
medial.10 A cingulotomia implica a termocoagulação semelhantes), conclui-se que aproximadamente ¼ dos

124 Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

pacientes com TOC intratável por outros métodos anterior do ventrículo lateral e o superior é 1 cm acima
podem ser ajudados pela cingulotomia.6,15 do alvo inferior.3 Há dois tipos de técnica cirúrgica para
Outro estudo demonstrou resultado semelhante: 18 a realização de capsulotomia: lesão por radiofrequência
pacientes submetidos à cingulotomia foram avaliados ou radiocirurgia (gamacapsulotomia).
após 28,6 meses, demonstrando boa resposta de 28% ao Na primeira, a cirurgia é feita sob anestesia local e
tratamento e resposta parcial em 17% dos casos. Após sedação leve, pequenas trepanações bilaterais são feitas
a avaliação de 35 pacientes durante 25 anos, estima-se logo atrás da sutura coronária, implantando-se eletrodos
que 25%-30% dos pacientes se beneficiaram da técnica, monopolares com 1,5 mm de diâmetro na área-alvo.
apesar de alguns efeitos colaterais como epilepsia (9%), São então produzidas lesões térmicas por meio do ele-
mania (6%) e déficit de memória (3%).10,19 tródio durante 75s, com temperatura próxima a 75oC.
A existência de poucos relatos de disfunções cog- A lesão possui cerca de 4 mm de largura por 15-18
nitivas deve-se às dificuldades em se diagnosticarem mm de comprimento longitudinal. Os pacientes não
mudanças súbitas, como déficit de memória transi- relatam qualquer desconforto sensorial no decorrer do
tório e prejuízo da função cognitiva.15 Apesar de não procedimento. A ocorrência de cefaleia pós-operatória
demonstrado com o uso dos testes convencionais, a também é incomum, apesar de frequente nos outros
intervenção neurocirúrgica pode aumentar o número procedimentos semelhantes (exceto na cingulotomia).
de transtornos do lobo frontal e de funções executivas, Entretanto, pode ser notado médio comprometimento
isso porque o cíngulo anterior relaciona-se a inúmeras da iniciativa e do comando mental nos primeiros dois
regiões cerebrais, incluindo o circuito fronto-estriato- a três meses pós-operatórios, o que parece estar rela-
-palido-tálamo-frontal.15 Mesmo assim, a cingulotomia cionado ao edema perilesional, desaparecendo com a
mostra-se um bom método de escolha para o tratamento redução deste.10,19
neurocirúrgico de TOC refratário, podendo melhorar A gama capsulotomia (gamma knife) difere quanto
de 30% a 50% dos sintomas e apresentando poucos à maneira que as lesões são produzidas; nesse tipo de
efeitos colaterais.19 cirurgia elas são feitas por um feixe estreito de irradiação
de raios gama provenientes do cobalto com a utilização
de estereotaxia, sendo desnecessárias a tricotomia e a
craniotomia. O efeito de cada radiação gama individual
Capsulotomia anterior é desprezível, entretanto o efeito combinado em foco
específico produz uma lesão radiocirúrgica. Tal método
Consiste na lesão da perna anterior da cápsula tem sido utilizado com sucesso por mais de 20 anos no
interna, com a interrupção de conexões entre os lobos tratamento de outras doenças, com a vantagem de não
orbitofrontais e o núcleo talâmico medial, desligando ser necessária a hospitalização dos pacientes para cuida-
tanto parte do circuito basolateral límbico como as vias dos pós-operatórios. O risco de indução pela radiação
corticoestriatotalâmicas.10 Os resultados de estudos ana- de algum tipo de malignidade não é elevado nesse tipo
tômicos confirmaram que a perna anterior da cápsula de procedimento, não existindo relatos desses tipos de
interna contém as radiações talâmicas anteriores (fibras casos nas duas últimas décadas.19
conectando o lobo frontal com o núcleo do tálamo Há estudos demonstrando a inexistência de grandes
medial e anterior) e o trato corticopontino prefrontal,9 diferenças entre esse tipo de cirurgia e a que envolve
envolvidos em sintomas ansiosos. lesão convencional,10 porém é importante salientar que
Estudos pós-operatórios com 133Xe mostraram alte- quanto maior o volume irradiado, menor a chance de
ração do fluxo sanguíneo cerebral,10 quando comparado se predizer como será a lesão, sendo também maior
aos resultados pré-operatórios. Além disso, um estudo a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos.14,19
com PET, incluindo cinco pacientes antes e após a O seguimento de 35 pacientes submetidos a esse
cirurgia, demonstrou diminuição da taxa metabólica procedimento demonstrou melhora em 71% dos ca-
de glicose no giro orbital e núcleo caudado.26 Ambos sos.19 Em outro estudo, foram comparados resultados
sugerem o envolvimento de estruturas anatômicas e pré e pós-operatórios, com seguimento de um ano
suas relações na patogênese do TOC. após a cirurgia: 79% (19 de 24) obtiveram resultados
Como na cingulotomia, a capsulotomia também é satisfatórios, concluindo-se também que é imprová-
auxiliada pela estereotaxia guiada por imagens de RM. vel a ocorrência de mudanças de personalidade após
As imagens de RM, com secções coronais de 5 mm, o procedimento (o que indicaria disfunção do lobo
geralmente mostram a parte mais anterior dos cornos frontal).31 Contudo, um trabalho obteve resultados
frontais do ventrículo lateral. Utilizando-se o corte mais diversos, relatando alterações de personalidade, como
anterior, são escolhidos dois alvos em cada hemisfério: o perda de iniciativa, diminuição da inibição, humor al-
mais inferior é localizado entre 2 e 4 mm lateral a parte terado e conteúdo emocional frívolo.26 Uma metanálise

Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo 125


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

incluindo oito estudos, com um total de 172 pacientes, Atualmente, as lesões da tractotomia do subcaudado
concluiu que 67% foram beneficiados pela cirurgia e são feitas por meio da utilização de ressonância magné-
apenas 8% não.27 tica como guia na introdução estereotáxica da sonda de
Atualmente, pesquisa-se também o auxílio da ele- radiofrequência. O método atual de colocação da sonda
troestimulação em regiões anteriores da cápsula interna é similar ao da cingulotomia, exceto na realização de
como indutora de efeitos benéficos em pacientes com três lesões bilaterais, sendo cada uma de aproximada-
TOC resistente ao tratamento convencional. O procedi- mente 8 mm de diâmetro, localizadas no mesmo plano
mento recentemente demonstrou elicitar alterações da coronal, 15 mm anteriores à base do processo clinoide:
atividade cerebral regional como observado mediante a primeira a 6 mm laterais da linha média e a 10 mm do
imagens de RM funcional e PET.27,28 assoalho da fossa anterior superiormente, a segunda a 6
mm laterais da linha média e a 15 mm do assoalho da
fossa anterior superiormente e a terceira e última lesão
localizada a 14 mm laterais da linha média e a 10 mm
superiores ao assoalho da fossa anterior.19
Tractotomia do subcaudado Desde 1996, uma nova técnica começou a ser utili-
zada e vem modificando o procedimento. Esta utiliza
Consiste em lesão da substância inominata em área o instrumento de Leskell para criar eletrocoagulação
inferior à cabeça do núcleo caudado, abrangendo tractos por alta frequência com termorregulação. O novo pro-
de substância branca entre o córtex orbitofrontal e as cedimento replica com sucesso o antigo método e não
estruturas subcorticais (tálamo, hipotálamo e amíg- muda as características das lesões, sendo mais barato e
dalas). O circuito límbico basolateral é interrompido produzindo resposta clínica em menor tempo.8
juntamente às vias cortico-estriatais-talâmicas.10,21,29 Na Grã-Bretanha, uma análise de tractotomias do
Exames de imagem com 133Xe durante o pós-opera- subcaudado realizadas entre 1959 e 1995 demonstrou
tório mostram diminuição do fluxo sanguíneo cerebral que 34% dos pacientes com TOC encontram-se em
nos lobos frontais dos pacientes submetidos à cirurgia bom estado um ano após a cirurgia. Outros dois es-
em relação aos não submetidos.10 Dados de estudo simi- tudos revelam melhora em 50% dos casos.10 Também
lar, com a utilização de 99Tc hexametil-propilenoamina, foram feitas análises prospectivas de déficit neuropsi-
demonstram aumento do fluxo sanguíneo cerebral no cológico pós-cirúrgico, observando-se a existência de
lobo parietal.10 Essas alterações podem estar relacio- certa deterioração em testes sensitivos do lobo frontal
nadas a resultados de que uma diminuição do fluxo e em memória de reconhecimento após a realização do
sanguíneo cerebral nos lobos do cíngulo e orbitofrontal procedimento cirúrgico, sendo ambos prováveis compli-
associa-se a um bom prognóstico e de que um aumento cações resultantes do edema perilesional, contudo não
do fluxo sanguíneo estaria, ao contrário, associado a foi encontrado déficit algum a longo prazo.13
resultados ruins.10
O procedimento original consistia em fixação
estereotáxica de duas hastes (uma de cada lado) de
90
Y radioativo na substância branca ventral, abaixo da Leucotomia límbica
cabeça do corpo caloso, no lobo frontal ventromedial
(que é a parte que se acredita ser a responsável pelo Trata-se de uma combinação entre cingulotomia
alívio dos sintomas nesses pacientes), a fim de destruir bilateral e tractotomia do subcaudado, sendo as me-
tecido na região da substância inominata,10 utilizando-se nos utilizadas dentre os procedimentos realizados em
para isso a ventriculografia, após a indução de anestesia psicocirurgia.10 A ideia inicial era de que a dupla lesão
geral. Assim, provavelmente haveria a destruição de co- poderia produzir melhores resultados funcionais.6 Nas
nexões para e do córtex orbital posterior e de estruturas últimas duas décadas, poucos casos têm sido descritos
subcorticais, como o giro do cíngulo, amígdala, tálamo na literatura7, entretanto alguns centros consideram-na
e hipotálamo.10 como primeira escolha no tratamento psicocirúrgico
Como o metal possui meia-vida aproximada de 60 do TOC.10
horas, forma-se uma penumbra conhecida de emissão A lesão na região frontal ventromedial visa à inter-
radioativa de ítrio-90 no tecido cerebral, definindo- rupção das conexões frontolímbicas (como na tracto-
-se a área cirúrgica lesional, envolvendo a substância tomia do subcaudado), enquanto a lesão no cíngulo, à
inominata. No entanto, alguns estudos posteriores do circuito de Papez.6 Para otimização da localização
demonstram a frequente não inclusão dessa estrutura dos alvos a serem lesionados, foi relatado o uso de téc-
no perímetro lesionado em muitos pacientes tratados nicas de estimulação da substância inominata durante a
com sucesso.10 cirurgia. Uma lesão é feita somente se houver alteração

126 Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 120-8, 2011

da modulação exercida pelo sistema nervoso autônomo categorias de classificação dos pacientes pós-cirúrgicos
(apneia ou pressão arterial),10 mesmo assim há contro- (A e B, que representam resposta satisfatória) com as
vérsias a respeito da utilidade dessa técnica.10 A seguir, duas piores (D e E, aqueles com resultados insatisfató-
são feitas trepanações bilaterais 9,5 cm posteriores ao rios). Relata-se uma resposta satisfatória em 8 dos 32
násio e a 15 mm da linha média, após tricotomia e pacientes (21%) submetidos à cingulotomia, enquanto
anestesia local ou geral. 5 (16%) não apresentam boa resposta; 9 de 18 pacientes
Ocorre melhora em 89% dos pacientes com TOC (50%) respondem satisfatoriamente à tractotomia do
submetidos a essa cirurgia,10 além disso, há relatos subcaudado, enquanto 3 (17%) não demonstram boa
isolados de eficácia em casos de TOC complicado resposta. Com a leucotomia límbica, obtêm-se um
pela síndrome de Tourette.6,18 Alguns seguimentos resultado satisfatório em 30 dos 49 pacientes (61%),
pós-operatórios demonstram melhora do QI, apesar mas 16% têm uma resposta insatisfatória. Uma revisão
da possível presença de sintomas transitórios como recente sobre capsulotomia (Mindus), incluindo oito
cefaleia, confusão, letargia e distúrbios esfincterianos. estudos num total de 172 pacientes com TOC, relatou
Similarmente às outras cirurgias, o alívio efetivo dos que 116 (67%) apresentaram bons resultados após a
sintomas demora meses para ocorrer.10 cirurgia, em relação a 14 (8%) com resultados insatis-
Em uma avaliação pré e pós-operatória de 26 pa- fatórios. Mesmo com índices de sucesso comparáveis de
cientes, com a tentativa de comparação a um grupo capsulotomia e leucotomia límbica, o volume de tecido
controle com TOC (pareando-se a idade de início da cerebral lesionado na primeira é menor que na última,
doença, duração e gravidade dela), demonstrou-se que o que talvez levasse à preferência na realização daquela
38% dos pacientes submetidos à leucotomia apresentam
na maioria dos centros.
melhora de moderada a intensa quando comparados
A insuficiência de dados comparando as possíveis
aos pacientes do grupo controle em tratamento não
terapias para TOC, principalmente quando este se
cirúrgico, num seguimento de seis meses após o pro-
mostra refratário à abordagem convencional, impede a
cedimento.6 Utilizando-se o mesmo grupo controle, os
racionalização da escolha do tratamento pelo paciente,
autores também avaliaram características neuropsicoló-
que se encontra socialmente excluído por causa de sua
gicas em estudo separado, com o achado de que o grupo
condição. Possivelmente, mesmo uma intervenção com
tratado cirurgicamente não diferia estatisticamente dos
controles quanto a funções intelectual e de memória, riscos de prejuízo neuropsicológico ou de alterações
porém o primeiro teve pior performance numa versão de personalidade seria aceitável considerando-se as
do Wisconsin Card Sort Test, o que é consistente com circunstâncias. Contudo, as relevâncias éticas de uma
observações prévias de que lesões frontais possam pre- indicação psiquiátrica para uma neurocirurgia devem
judicar o desempenho nesse tipo de teste.6 ser revistas, e a realização desta depende não só do
paciente, como da disponibilidade da avaliação de uma
equipe multiprofissional.

Conclusão
A existência de poucos trabalhos comparativos acer- Referências
ca das diferentes técnicas cirúrgicas para o tratamento
1. American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical
de TOC limita o conhecimento da repercussão de tais Manual of Mental Disorders (DSM-IV). 4th ed. Washington:
procedimentos na evolução do paciente. Além disso, há American Psychiatric Press; 1994.
diferenças significativas entre os critérios diagnósticos 2. Baer L, Rauch SL, Ballantine HT Jr, Martuza R, Cosgrove
utilizados nos diversos estudos e desinteresse no relato R, Cassem E, et al. Cingulotomy for intractable obsessive-
de resultados cirúrgicos negativos, podendo resultar em compulsive disorder. Prospective long-term follow-up of 18
patients. Arch Gen Psychiatry. 1995;52(5):384-92.
um viés de aferição e publicação.
3. Ballantine HT Jr, Bouckoms AJ, Thomas EK, Giriunas IE.
Comparando-se as informações de diversos estudos, Treatment of psychiatric illness by stereotactic cingulotomy.
a leucotomia límbica parece fornecer melhor prognós- Biol Psychiatry. 1987;22(7):807-19.
tico, todavia há evidência considerável de o método de 4. Bebbington PE. Epidemiology of obsessive-compulsive
avaliação dos pacientes ser menos criterioso nos grupos disorder. Br J Psychiatry Suppl. 1998;(35):2-6.
que reportaram esses dados. Certamente, nenhuma 5. Berrios GE. Obsessive-compulsive disorder: its conceptual
history in France during the 19th century. Compr Psychiatry.
conclusão definitiva pode ser aferida e necessitam-se
1989;30(4):283-95.
de novos estudos. 6. Binder DK, Iskandar BJ. Modern neurosurgery for
Para obtenção da eficácia relativa dos diferentes psychiatric disorders. Neurosurgery. 2000;47(1):9-21;
procedimentos, foram comparadas as duas melhores discussion 21-3.

Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo 127


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128 Psicocirurgia para tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo


Da Róz LM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 129-31, 2011

Espondilolistese traumática do
áxis – Experiência em 41 casos
Rodrigo Moreira Faleiro1, Newton José Godoy1, Rafael Cardoso Campos2, Geraldo Ávila2

RESUMO
Objetivo: Levantamento epidemiológico retrospectivo da prevalência de espondilolistese traumática
do áxis no período de cinco anos em HJXXIII – FHEMIG. Métodos: Foram avaliados 1.136 casos de
traumatismo raquimedular admitidos no período em HJXXIII – FHEMIG. Resultados: 762 ( 67% )
correspondiam a trauma em segmento cervical, 41 casos ( 5,3% ) a ETA. Predomínio em adultos jovens
do sexo masculino. A etiologia mais comum foi acidente automobilístico. Segundo classificação de
Levine, o tipo de fratura mais comum foi o tipo I (70,8%), seguido pelo tipo II (16%), tipo IIa (9,6%) e
tipo III (3,2%). Conclusão: A espondilolistese traumática do áxis geralmente é uma fratura estável,
sendo satisfatoriamente tratada por meio de órtese externa. Os déficits neurológicos são incomuns
e, quando presentes, geralmente são decorrentes de lesões associadas.

PALAVRAS-CHAVE
Traumatismos da coluna vertebral, espondilolistese, áxis.

ABSTRACT
Traumatic spondylolistesis of axis – A study of 41 cases
Objective: Retrospective epidemiological survey of prevalence of traumatic spondylolisthesis of axis in
period of five years in HJXXIII – FHEMIG. Methods: 1,336 admitted spine injury cases were evaluated
during the period of HJXXIII – FHEMIG. Results: 762 (67%) were trauma in neck segment, 41 cases
(5,3%) to ETA. Predominance in young males. The most common cause was car accident. According
to classification of Levine, the type of fracture was the most common type I (70,8%), followed by type
II (16%), type IIa (9,6%), and type III (3,2%). Conclusion: The traumatic spondylolisthesis of the axis
is generally a stable fracture and satisfactorily trated by external bracing. The neurological deficits
are uncommon and when present are usually due to associated injuries.

KEYWORDS
Spinal injuries, spondylolisthesis, axis.

Introdução Descreve-se, neste trabalho, a experiência em 41


casos de ETA em hospital de referência de trauma em
A espondilolistese traumática do áxis compreende a Minas Gerais.
fratura bilateral da “Pars articularis” da segunda vérte-
bra cervical, com separação dos elementos posteriores e
corpo vertebral. Esse tipo de fratura teve grande atenção
no século passado, com importância médico-legal. Era Metodologia
considerada o tipo de fratura ideal a ser alcançada nos
enforcamentos judiciais (“Fratura de Hangman – en- Realizou-se um estudo retrospectivo de cinco anos,
forcado”). O mecanismo aplicado no enforcamento era no Hospital João XXIII – FHEMIG em Belo Horizonte.
de hiperextensão forçada, seguida de distração (com Trata-se de um hospital referência em politraumatizados
lesão da medula cervical alta e óbito por insuficiência em todo o estado de Minas Gerais.
do centro respiratório).3 Neste período de cinco anos foram admitidos 1.136
Recentemente observamos um tipo radiologicamen- casos de traumatismo raquimedular, sendo que 762
te semelhante de fratura, decorrente de acidentes de alta (67%) correspondiam a trauma no segmento cervical.
velocidade, entre eles o acidente automobilístico. Nesta Dentre os traumatismos cervicais, 41 casos (5,3%)
entidade, também ocorre a fratura bilateral da “Pars corresponderam à espondilolistese traumática do áxis
articularis” do áxis, mas de fisiopatologia diferente da (ETA). Realizou-se o levantamento retrospectivo dos
fratura do enforcado, sendo, portanto, corretamente prontuários, com ênfase na epidemiologia, propedêutica
denominada espondilolistese traumática do áxis (ETA). e conduta dos pacientes.

1. Neurocirurgião, Hospital Felício Rocho e Hospital João XXIII, Belo Horizonte, MG, Brasil.
2. Residente neurocirurgião do Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, MG, Brasil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 129-31, 2011

Utilizamos a classificação de Levine e Edwards6 Por se tratar de uma lesão que aumenta o diâmetro
(1985) para determinar o tipo de fratura. Todos os do canal raquiano, o estado neurológico do paciente
pacientes foram submetidos a controle radiográfico geralmente é bom. No momento da alta, 35 pacientes
mensal por um período mínimo de três meses e a uma (85%) estavam sem déficits, três pacientes com déficit
prova funcional no último mês. leve, um paciente com déficit grave e dois pacientes
dependentes no leito. Não houve óbito. Trinta e cinco
pacientes receberam alta para o domicílio, enquanto
o restante necessitou de reabilitação (ambulatorial ou
hospitalar). O tempo de hospitalização foi relativamente
Resultados curto, com 20 pacientes (49%) permanecendo menos
de sete dias, 19 (46%) entre 7-30 dias e dois pacientes
No período de cinco anos, foram admitidos 1.136 com internação maior de 30 dias. Os pacientes com
casos de traumatismo raquimedular, com 762 (67%) ca- déficits neurológicos geralmente tinham outras lesões
sos de trauma no segmento cervical. A espondilolistese associadas.
traumática do áxis (ETA) corresponde a 5,3% de todos
os traumatismos cervicais (41 casos).
Como em qualquer estudo de patologias traumá-
ticas, essa lesão predominou na população masculina
jovem. Trinta e dois (78%) pacientes eram do sexo Discussão
masculino e nove do sexo feminino. A faixa etária
variou de 4 a 82 anos, com 58% dos pacientes entre 20 A fratura bilateral da “Pars articularis” do áxis foi
e 40 anos de idade. uma entidade de importância médico-legal, principal-
A etiologia mais comum foi o acidente automo- mente no século passado. Era o tipo de fratura ‘ideal’
a ser alcançado nos enforcamentos judiciais. Havia
bilístico, com 23 casos (56%) seguido pela queda de
estudos científicos visando determinar qual a melhor
altura 11 (26,8%). Causas menos frequentes foram a
posição do nó em relação ao mento e também relações
queda da própria altura (3), atropelamento (3) e queda
matemáticas entre o peso do acusado e a altura da
de bicicleta (1).
queda, para que o êxito fosse obtido.1,3 A fisiopatologia
Todos os pacientes foram submetidos a radiogra-
da fratura causada pelo enforcamento baseava-se em
fias em três incidências da coluna cervical (AP, perfil
uma força de hiperextensão súbita seguida de distração
e transo­ral). Tomografia computadorizada da coluna
(determinada pela queda do acusado), com fratura bi-
cervical foi realizada em 70% dos pacientes e mielo- lateral da “Pars articularis” do áxis e separação do seus
tomografia foi necessária em um paciente. Segundo elementos posteriores e anteriores. A distração provoca
classificação de Levine, o tipo de fratura mais comum a lesão da medula cervical alta, comprometendo o cen-
foi o tipo I (70,8%), seguido pelo tipo II (16%), tipo tro respiratório e vasomotor da substância reticular e
II a (9,6%) e tipo III (3,2%). Lesões associadas foram óbito subsequente.3
encontradas em 15 pacientes (36,5%). Um paciente Recentemente, notou-se o surgimento de lesão
com traumatismo cranioencefálico (contusão cerebral) radiográfica semelhante àquela resultante do enfor-
e 14 com outras lesões cervicais, sendo a mais comum camento que foi denominada “fratura do enforcado”
a fratura do odontoide (7) seguido pela lesão do atlas (Hangman’s fracture) por Schneider et al.8 em 1965.
(4) e sub-C3 (3). Embora esse novo tipo de fratura seja radiologicamente
Neste tipo de fratura predomina o tratamento com semelhante à fratura do enforcado, a fisiopatologia é
órtese externa a ser determinado pela classificação da diferente, geralmente resultante de uma força em hi-
fratura. Nas ETA tipo I predominou o colar Miami-J perextensão e compressão axial, merecendo, portanto,
(56%) seguido pelo halo colete (38%). Nas fraturas denominação diferente: “espondilolistese traumática
tipo II, utilizamos o halo colete em 75% e Miami-J do áxis” (ETA).2,3,5
em 25% dos casos. Nos três casos de fratura tipo Existem várias classificações radiológicas para esse
IIa, utilizamos o Miami-J em dois pacientes e halo tipo de fratura, merecendo destaque a classificação de
colete no outro. Houve um caso de fratura tipo III, Effendi et al.1, modificada por Levine e Edwards6, em
que foi tratado cirurgicamente (artrodese anterior 1985. A classificação de Levine baseia-se na análise de 52
com placa). casos de ETA admitidos em um período de cinco anos.
Boa fusão foi alcançada em 100% dos pacientes, As fraturas são classificadas em quatro subtipos (I, II,
embora em 30% ainda havia luxação, mas sem prejuízo IIa, III) a depender de dois fatores: angulação (> 11o)
funcional. A órtese externa era mantida por 12 semanas, e listese (> 3 mm). Para cada tipo de fratura, aplica-se
com controle radiológico mensal. uma fisiopatologia diferente (Figura 1).

130 Espondilolistese traumática do áxis – Experiência em 41 casos


Faleiro RM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 129-31, 2011

Todas as séries estudadas evidenciam um maior Conclusão


acometimento na população jovem do sexo masculino
e como principal fator etiológico o acidente automobi- Concluimos, no presente estudo, que a espondi-
lístico, concordante com o atual estudo.1-6,8 Corresponde lolistese traumática do áxis geralmente é uma fratura
a 20% de todas as fraturas que acometem a segunda estável, sendo satisfatoriamente tratada por meio de
vértebra cervical, sendo a fratura do odontoide a mais órtese externa. Os déficits neurológicos são incomuns
comum.4,5 e, quando presentes, geralmente são decorrentes de le-
Por ser um tipo de fratura que aumenta o diâmetro sões associadas. Bons resultados clínicos e radiológicos
do canal cervical, é infrequente o déficit neurológico, foram obtidos com o tratamento conservador desse
que, quando presente, geralmente decorre de outra tipo de fratura.
lesão associada. Francis et al.2 relataram apenas oito
pacientes com déficit neurológico em sua série de 123
casos de ETA estudados. Esses déficits são bastante
variados, desde parestesias a quadriplegia. O principal
determinante do óbito nesses pacientes é a presença da
Referências
distração após a instalação da fratura, semelhante à fra- 1. Effendi B, Roy D, Cornish B, Dussault RG, Laurin CA.
tura do enforcado. Se no mecanismo de trauma ocorrer Fractures of the ring of the áxis. A classification based
uma distração de tal magnitude, o óbito é imediato e on the analysis of 131 cases. J Bone Joint Surg Br.
1981;63(3):319-27.
esses pacientes não chegam ao hospital.
2. Francis WR, Fielding JW, Hawkins RJ, Pepin J, Hensinger
O tratamento da ETA varia conforme o subtipo R. Traumatic spondylolisthesis of the áxis. J Bone Joint
radiológico. As fraturas tipo I são estáveis, podendo ser Surg Br. 1981;63(3):313-8.
tratadas com colar cervical apenas (Miami J). As fraturas 3. Garfin SR, Rothman RH. Traumatic spondylolisthesis of
the axis (Hangman’s fracture). In: Sherk HH. The Cervical
tipo II e IIa são realinhadas com auxílio de radioscopia
Spine Research Society. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott;
na própria coroa do halo colete e depois fixadas nessa ór- 1983. p. 223-32.
tese, com deambulação precoce. Deve-se ter precaução 4. Greene KA, Dickman CA, Marciano FF, Drabier JB,
ao se aplicar tração nesses pacientes, evitando-se uma Hadley MN, Sonntag VK. Acute áxis fractures. Analysis of
management and outcome in 340 consecutive cases. Spine
distração inadvertida com subsequente lesão medular
(Phila Pa 1976). 1997;22(16):1843-52.
(fratura do enforcado). As fraturas do tipo III são ins- 5. Hadley MN, Dickman CA, Browner CM, Sonntag VK.
táveis e necessitam de tratamento cirúrgico (artrodese Acute áxis fractures: a review of 229 cases. J Neurosurg.
anterior).6 No presente trabalho relatamos solidificação 1989;71(5 Pt 1):642-7.
satisfatória de alguns casos de fratura tipo II e IIa com o 6. Levine AM, Edwards CC. The management of traumatic
spondylolisthesis of the áxis. J Bone Joint Surg Am.
uso de Miami –J apenas. Sendo preferido o uso do halo 1985;67(2):217-26.
colete. Tivemos apenas um caso de fratura do tipo III, 7. Roda JM, Castro A, Blázquez MG. Hangman’s fracture
que foi conduzido com artrodese anterior C2-C3 com with complete dislocation of C-2 on C-3. Case report. J
utilização de placa e parafuso.7 Neurosurg. 1984;60(3):633-5.
Relatamos boa fusão em todos os pacientes dessa 8. Schneider RC, Livingston KE, Cave AJ, Hamilton G.
“Hangman’s fracture” of the cervical spine. J Neurosurg.
série, após um follow up mínimo de três meses quando 1965;22:141-54.
era feita uma prova funcional da coluna cervical. Em
30% dos casos, obtivemos fusão com algum grau de Endereço para correspondência
luxação residual, mas sem prejuízo funcional. Francis et Rafael Cardoso Campos
Rua Rogério Fajardo, 107
al.2 concordam que a luxação residual não compromete 30310-450 – Belo Horizonte, MG
a solidificação da fratura. E-mail: rafaelccampos@hotmail.com

Espondilolistese traumática do áxis – Experiência em 41 casos 131


Faleiro RM et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 132-6, 2011

Atypical teratoid/rhabdoid
tumor of the brain – A case with
three secondary implants
Pedro Radalle Biasi1, Paulo Sérgio Crusius2, Cláudio Albano Seibert2,
Marcelo Ughini Crusius3, Charles André Carazzo3, Cassiano Ughini Crusius3,
Cassiano Mateus Forcelini4, Adroaldo Baseggio Mallmann2

Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil; Instituto de Neurologia e Neurocirurgia, Passo
Fundo, RS, Brasil.

ABSTRACT
Atypical teratoid/rhabdoid (AT/RT) of the brain is a rare malignant pediatric neoplasm that usually
affects children around age two. This report is about a male patient, six months of age, who presented
with seizures and decreased level of consciousness, progressing to numbness, oculomotor nerve
palsy and tetra-spasticity. CT scan showed left cerebellopontine angle tumor. Magnetic resonance
imaging (MRI) showed a solid lesion, hypointense on T1W and heterogeneous hyperintense on T2W,
enhanced after contrast infusion, accompanied by three solid lesions, rounded and irregular in the
left cerebellar hemisphere, occipito-parietal transition and right occipital lobe with no evidence of
leptomeningeal spread, forming secondary implants. We conducted a biopsy, which confirmed AT/
RT. Chemotherapic treatment was ineffective and the patient passed away quickly. In the literature
review we found about 300 cases reported, as it is, therefore, extremely rare tumor with a mean age
at diagnosis of 29 months. It can affect any area of the central nervous system, mainly infratentorial,
being its main differential diagnosis medulloblastomas. The findings of secondary implantation without
leptomeningeal spread seen in this patient are described in only one other case in literature. The
clinical features usually are neurological deficits, seizures and coma. Its genesis stems from mutations
in the gene hSNF5/INI1 on chromosome 22. Neuroimaging studies don’t reveal radiological pattern
suggesting AT/RT and the diagnosis is possible only through a biopsy with immunohistochemical
analysis. The available treatments are ineffective, and death is the outcome, with 84% in six months.

KEYWORDS
Rhabdoid tumor, brain neoplasms.

RESUMO
Tumor rabdoide/teratoide atípico de encéfalo – um caso com três implantes secundários
O tumor rabdoide/teratoide atípico (AT/RT) do encéfalo é uma neoplasia pediátrica maligna rara que
acomete geralmente crianças ao redor dos dois anos. O caso descrito é de um paciente masculino,
de seis meses de idade, que apresentou convulsões e diminuição do nível de consciência, evoluindo
com torpor, paralisia do nervo oculomotor e tetraespasticidade. Exame de tomografia evidenciou
neoplasia do ângulo ponto-cerebelar esquerdo. A ressonância magnética (RNM) demonstrou
lesão sólida, hipointensa em T1, e heterogênea e hiperintensa em T2, realçada após contraste,
acompanhada de três lesões sólidas, arredondadas e irregulares no hemisfério cerebelar esquerdo,
transição occipito-parietal direita e lobo occipital direito, sem sinais de disseminação leptomeníngea,
constituindo implantes secundários. Realizou-se então uma biópsia, que confirmou AT/RT.
O tratamento realizado por meio de quimioterapia foi ineficaz e o óbito ocorreu rapidamente. Na revisão
de literatura encontramos pouco mais de 300 casos descritos, tratando-se, portanto, de neoplasia
extremamente rara, com média de idade ao diagnóstico de 29 meses. Pode acometer qualquer área
do sistema nervoso central, com predomínio infratentorial, sendo seu principal diagnóstico diferencial
os meduloblastomas. Os achados de implantação secundária sem disseminação leptomeníngea
encontrados neste paciente são descritos em apenas um outro caso na literatura. O quadro clínico
costuma cursar com déficits neurológicos, convulsões e coma. Sua gênese decorre de mutações
no gene hSNF5/INI1 do cromossomo 22. As neuroimagens não revelam padrão específico, sendo
o diagnóstico possível somente mediante biópsia com análise imuno-histoquímica. Os tratamentos
disponíveis são ineficazes, e o óbito constitui a via final, ocorrendo 84% destes nos primeiros seis meses.

PALAVRAS-CHAVE
Tumor rabdoide, neoplasias encefálicas.

1. Acadêmico do 5º ano de Medicina da Universidade de Passo Fundo – RS, Brasil.


2. Neurocirurgião do Instituto de Neurologia e Neurocirurgia de Passo Fundo, professor da disciplina de Neurologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de Passo Fundo – RS, Brasil.
3. Neurocirurgião do Instituto de Neurologia e Neurocirurgia de Passo Fundo – RS, Brasil.
4. Neurologista do Instituto de Neurologia e Neurocirurgia de Passo Fundo, professor da disciplina de Farmacologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de Passo Fundo – RS, Brasil.
Arq Bras Neurocir 30(3): 132-6, 2011

Introduction T1W and hyperintense in T2W and FLAIR, with intense


enhancement and homogeneous by contrast means,
Central nervous system (CNS) atypical teratoid/rhab- located in the right cerebellar hemisphere (Figure 2), in
doid tumor (AT/RT), also known as malignant rhabdoid the transition between occipital lobes and parietal on the
tumor, is a rare and aggressive pediatric neoplasm.9,15,20 right (Figure 3), and in the right occipital lobe (Figure
Initially described in 1978 as a rhabdomyosarcomatous 4). There weren’t evidences of leptomeningeal spread.
variant of Wilms’ tumor, it came to be accepted as a It was done a stereotactic biopsy. Histopathology
distinct entity of CNS only in the mid-80 after Rorke et pointed out round neoplastic cells of eosinophilic
al.16-18 studies. Even though the brain is the most com- cytoplasm sometimes of lacy aspect with voluminous,
mon extrarenal place, there are reports of localization in oval or rounded nuclei situated peripherally with
thymus, liver and sites of soft tissue.23 The databases for chromatin and prominent nucleoli; necrotic areas and
research have about 300 cases reported so far. sites of atypical mitosis were found as well. Through
Having an extremely malignant feature, it has a immunohistochemistry these cells showed positivity
typically intra-axial location with predilection for the for cytokeratin markers, EMA (epithelial membrane
posterior fossa (two thirds of cases).15 It usually occurs in antigen), vimentin, Ki-67 and actin, thereby constituting
children who are around two years old, and it can lead to atypical teratoid/rhabdoid tumor.
an easy and common misdiagnosis of medulloblastoma, Four days after the biopsy, the patient showed
which shows similar radiological features.7,15,20 Up to respiratory dysfunction and was placed to mechanical
now this is the first and only CNS pediatric tumor with ventilation. At the same time the first cycle of chemo-
gene identification responsible for tumor suppression. therapy was started by HEAD START II protocol, which
A mutation or deletion in the germline gene hSNF5/ includes cisplatin, cyclophosphamide, etoposide, filgras-
INI1 in chromosome 22q11 is found in 75% of the tim and vincristine. At about twenty days later, another
cases.3,7,9,10,20,23 All kinds of treatment – Radiotherapy, CT was done to check the development of the case.
Chemotherapy and Surgery – have been ineffective with
poor prognosis.7,9,11,20
It’s described the case of a six-year-old patient with
AT/RT diagnosis in topography of the brainstem, with
secondary implantation and a review of the characte-
ristics of previously reported cases.

Case report
A six-year-old male patient, admitted for bronchio-
litis and pneumonia, started having seizures with decre-
ased consciousness level. In the neurological assessment
it was found decreased consciousness level (GCS 09),
oculomotor nerve palsy and tetra-spasticity. Then com-
puted tomography (CT) of brain was performed, which
showed slightly hyperdense brain neoplasm presenting
intense homogeneous enhancement after contrast
infusion going from left cerebellopontine angle to left
cerebral ventricle and trigon of the right lateral ventricle
through tentorium of the cerebellum, with slightly dila-
tation of the lateral and third ventricles. The magnetic
resonance image (MRI) revealed solid expansive lesion
with hypointense signal in T1W sequence and hetero-
geneously hyperintense in T2W sequence, with intense
enhancement and heterogeneous by contrast means
(Figure 1), suggestive intra-tumor necrosis, having
Figure 1 – Coronal MR image on T1W contrasted shows the
surrounding edema determining mass effect over the brainstem AT/RT with heterogeneous contrast enhancement with
IV ventricle. It was seen other three solid lesions, they areas of non-enhanced tumor. The lesion produces mass effect to
were rounded and had irregular outline, hypointense in the left temporal lobe.

Atypical teratoid/rhabdoid tumor of the brain – A case with three secondary implants 133
Biasi PR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 132-6, 2011

Figure 2 – Axial MR image on T1W sequence with contrast


shows the AT/RT with posterior spread and mass effect to the left
temporal lobe. Note the presence of a rounded, high enhanced Figure 4 – Axial MR image on T1W sequence with contrast shows
lesion on the right cerebellar hemisphere, without signs of the AT/RT of the brainstem and other rounded, high-enhance lesion
leptomeningeal spread, constituting secondary implants. on the right occipital lobe, constituting another secondary implant.

This CT, though, revealed persistence of neoplasia with


no sign of answer to the chemotherapy. Afterwards, the
patient developed neutropenia and, consequently, pneu-
monia, which leaded the interruption of chemotherapy.
When the pneumonia was controlled, the patient came
back to the treatment and the second cycle of chemo-
therapy started.
Two months after the admission, CT of control
showed expansion of neoplastic lesion and significant
obstructive hydrocephalus. The patient passed away
because of complications of the neoplasia 77 days later
the initial presentation.

Discussion
The atypical teratoid/rhabdoid tumor is a pediatric
neoplasm extremely aggressive and uncommon.9,15,20
WHO defines it as a CNS malignant embryonal tumor
composed of rhabdoid cells with cell fields like primitive
neuroectodermal tumor (PNET), epithelial tissue and
Figure 3 – Sagittal MR image on T1W sequence with contrast neoplastic mesenchyme. WHO also defines it as grade
shows the AT/RT of the brainstem, the secondary implant on the IV.9 It has as main differencial diagnoses teratomas,
right cerebellar hemisphere and another rounded, high-enhanced
lesion located on the transition between right occipital and chroid plexus papilloma, ependymoma and mainly
parietal lobes, constituting other secondary implant. PNET/Medulloblastomas.9,15,20

134 Atypical teratoid/rhabdoid tumor of the brain – A case with three secondary implants
Biasi PR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 132-6, 2011

AT/RT incidence isn’t known, it affects in most cases differ from other neoplasms. On non-contrasted CT,
from newborns to teenagers, mainly children under two images are typically isodense or slightly hyperdense,
years old.7,15,20 Rahmat et al.15 reports the average age with edema, calcifications, cysts, intratumoral hemor-
to diagnosis is 29 months. There are only 18 reports in rhage and necrosis. After contrast administration, the
adults.24 image becomes heterogeneous, and this is because of
AT/RT tumor may occur in any area of CNS, it was the tumor histologic complexity. These findings are also
described by Meyers et al.12 in a series of 17 cases, a common in Ependymomas and PNET´s. In the MR
predominance of infratentorial region, affecting 47% images, the lesions show mixed signal both reflected
of the cases, others 41% happen in the supratentorial on T1W and T2W, due to intratumoral hemorrhage
region, mainly in the left hemisphere, and 12% (two occurrence with extensive necrosis. At T1W, the solid
cases) in both regions of the brain, constituting invasion component of the lesion appears as hypointense image
by contiguity. The involvement of the spinal cord is des- or isointense image, and T2W as hyperintense image
cribed in few reports.1,4,5,8,13,14,19,21,22,24 Findings of secon- or isointense.3,9,12,15,20,23
dary implantation without evidence of leptomeningeal In the posterior fossa, the AT/RT has tendency to
spread are an extremely unusual way of presentation of occur off-midline, unlikely from what happens with
this pathology, being this the second case found with ependymomas and PNET´s.3,9,10 In the cases located
secondary implantation.6 supratentorially, the neuroimaging is similar to other
The tendency to leptomeningeal infiltration by this tumors.3
tumor makes it clear its malignancy with CSF dissemi- Current treatment techniques consist of multimodal
nation in half of patients and subarachnoid invasion in approaches, including multiple surgeries, use of various
a third.9,15,20,23 chemotherapeutic agents and radiotherapy, but these are
The clinical features usually are focal neurological
still ineffective for curing the disease. Complete tumor
abnormalities, seizures and sudden decrease of cons-
excision surgery is difficult and when it’s performed, it
ciousness level caused by hydrocephalus and/or mass
doesn’t prevent the recurrence of the same.9,11,20 A study
effects caused by the lesion. In cases of supratentorial
of the Children´s Hospital of Cleveland in the United
lesions, there are more neurological deficits and slower
States suggests an approach in second moment for
decay.3,9,23
excision of residual tumors, thus reaching an increase
Although many studies suggest the possibility of
in survival from 9.25 to 14 months.3 In persistence of
diagnosis AT/RT through imaging studies, only the
a tumor, adjuvant therapies are joined, which includes
immunohistochemical findings and light microscopy
are capable of making the diagnosis.3,12,15 At pathologic chemotherapy with multiple agents and radiotherapy in
analysis, it can be checked two types of tumor presen- selected cases.9 The tumor is sensitive to chemotherapy3,
tation, one with rhabdoid cells exclusively, rarer, and but it is not always evident in practice, as in our case,
other with a mixture of cells similar to PNET, whose where after two sessions of HEAD START II protocol,
components are generally larger and more pleomor- the neoplasia continued developing leading the patient
phic than those typically found in medulloblastomas, to death in a time range of three months. The intrathecal
and it responds for 70% of cases. The rhabdoid cell, chemotherapy has shown better results and also it is
main element of this tumor and responsible for its of great importance in cases that the patient persisted
distinctive features, is a cell with hyaline cytoplasmic with residual tumor after surgery but can’t receive ra-
inclusions and abundant eosinophils, of large vesicular diotherapy, fact typically seen in children younger than
nuclei and prominent nucleoli, positive for immuno- three years old.3
histochemical markers vimentin, EMA and smooth The use of radiotherapy shows an improvement in
muscle actin.2,3,9,15 survival, and Hilden et al.7 reached 48 months, much
The histology of this rare tumor is described as a more than the 17 months reported with major frequency
result of genetic mutations in 75% of the cases. Genetic for this tumor. All this, however, is achieved despite a
studies showed an alteration due to monosomy or de- significant cognitive impairment.3, 9
letions on chromosome 22q11 affecting germline gene The stem-cell rescue (SCR) therapy has been a plau-
hSNF5/INI1.3,7,9,20,23 Allen et al.2 showed a mutation in sible and an effective alternative, but it is still object of
exon 9 of the INI1 gene that was the responsible for many studies to demonstrate its applicability. The the-
the progression of an optic pathway ganglioglioma for rapeutic protocol with high doses of chemotherapy and
an AT/RT. SCR for treatment of pediatric brain tumors of high risk
Neuroimaging studies don’t reveal radiological is the objective of study in American pediatric clinical
pattern suggesting AT/RT. Computed tomography and trials currently under development. Their results are
MRI are variable due to intratumoral changes that may expected with anxiety, hoping that they reveal better
occur, and they don’t provide enough information to results than those known nowadays.3

Atypical teratoid/rhabdoid tumor of the brain – A case with three secondary implants 135
Biasi PR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 132-6, 2011

The evolution of this tumor is very variable, but 11. Marachelian A, Butturini A, Finlay J. Myeloablative
chemotherapy with autologous hematopoietic progenitor
the death is premature.3,9,20 Eighty-four percent occur
cell rescue for childhood central nervous system tumors.
in the first six months, even with aggressive therapy, Bone Marrow Transplant. 2008;41(2):167-72.
and in cases of subarachnoid invasion or infratentorial 12. Meyers SP, Khademian ZP, Biegel JA, Chuang SH,
primary site occurs in 2.5 months.15 Korones DN, Zimmerman RA. Primary intracranial atypical
It is clear the attention that must be given to this teratoid/rhabdoid tumors of infancy and childhood: MRI
features and patient outcomes. AJNR Am J Neuroradiol.
peculiar neoplasm, of not estimated incidence due to 2006;27(5):962-71.
its rarity, with difficult suspicion faced to nonspecific 13. Moeller KK, Coventry S, Jernigan S, Moriarty TM.
neuroimaging, but it fits the differential diagnosis of Atypical teratoid/rhabdoid tumor of the spine. AJNR Am J
tumors such as medulloblastomas, particularly common Neuroradiol. 2007;28(3):593-5.
in pediatric patients. The poor prognosis will persist 14. Niwa T, Aida N, Tanaka M, Okubo J, Sasano M, Shishikura
A, et. al. Diffusion-weighted imaging of an atypical teratoid/
while it is not found effective increments to the current rhabdoid tumor of the cervical spine. Magn Reson Med Sci.
treatment techniques. 2009;8(3):135-8.
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rhabdoid tumour of the posterior cranial fossa. Singapore
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Pedro Radalle Biasi
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J Neuroradiol. 2004;25(3):481-3. pr.biasi@brturbo.com.br

136 Atypical teratoid/rhabdoid tumor of the brain – A case with three secondary implants
Biasi PR et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 137-41, 2011

Hematoma intradiploico: tratamento


cirúrgico e relato de caso
Ricardo de Amoreira Gepp1, Eidmar Augusto Neri1,
Altamir Monteiro Junior1, Ricardo Karam Kalil1

Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília, DF, Brasil.

RESUMO
O hematoma intradiploico é uma lesão rara do crânio. Foi descrita inicialmente em 1934 e até hoje
a sua patogênese não é conhecida. Trata-se de uma lesão rara e secundária a um processo reativo
benigno após traumas cranianos leves ou coagulopatias. Paciente de 42 anos apresentava quadro
progressivo de perda da marcha e alteração visual. Foi identificada massa na região occipital
do paciente, de caráter progressivo. Os estudos radiológicos demonstravam lesão de aspecto
heterogêneo, erosiva da calota craniana e com expansão intracraniana. Realizou angiografia digital
que demonstrou trombose de seio sagital superior. Foi submetido à biópsia seguida de ressecção
da lesão associada à cranioplastia. Houve melhora do padrão visual e do desempenho de marcha do
paciente, em relação ao pré-operatório. Os autores relatam um caso raro de hematoma intradiploico,
analisaram os diagnósticos diferenciais e discutem as opções cirúrgicas dessa rara doença.

PALAVRAS-CHAVE
Hematoma epidural craniano/diagnóstico, hematoma epidural craniano/radiografia,  hematoma
epidural craniano/cirurgia, traumatismos craniocerebrais. 

ABSTRACT
Intradiploic hematoma: surgical treatment and case report
Intradiploic hematoma is a very rare lesion of the skull. It was first described in 1934 and until now
his pathogenesis still unclear. It is a rare and benign reactive process that occurs after minor head
trauma. This 42-year-old man presented with difficult to walk and visual loss. It was observed one
growing mass at occipital bone. On computadorized tomography and magnetic resonance image
one destructive lesion, heterogeneous and expansion. One angiographic study was performed and
showed thrombosis of the superior sagital sinus. The patient was submitted to a biopsy and after
the hematoma was radically resected with cranioplasty. The improved his walk condition and visual
capacities. The authors reported one case of intradiploic hematoma, differential diagnosis were
analyzed and discussed about the surgical options of this rare disease.

KEYWORDS
Hematoma epidural cranial/diagnosis, hematoma epidural cranial/radiography, hematoma epidural
cranial/surgery, craniocerebral trauma.

Introdução diferenciada de outras entidades clínicas.1,3 A maioria


dos relatos realizados na literatura é de hematomas de
O hematoma intradiploico é uma condição clínica pequeno volume e em pacientes pediátricos. Os autores
rara, tendo sido descrito originalmente por Chorobski descrevem um caso atípico de um hematoma intradi-
em 1934.2,3 Os autores relatam um caso de um paciente ploico de grande volume em um paciente adulto e que
com um grande hematoma intradiploico com extensão ocasionou trombose de seio sagital superior, tendo sido
intra e extracraniana, que resultou em trombose da o primeiro relato na literatura de estudo por angiografia
porção posterior do seio sagital superior. Existem pou- digital de artérias carótidas e vertebrais, que demonstra-
cos relatos na literatura sobre essa lesão expansiva de ram à trombose do seio secundário a compressão deste
características não neoplásicas do crânio, que deve ser pelo hematoma crônico.

1. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília, DF, Brasil.


Arq Bras Neurocir 30(3): 137-41, 2011

Relato do caso e não pulsátil. O perímetro cefálico era de 62 cm. Apre-


sentava quadro de cegueira cortical com componente
Paciente de 42 anos de idade, epiléptico desde os 7 anosognóstico. O fundo de olho estava normal, as pupilas
anos, apresentou quadro de distúrbio progressivo para eram de tamanho médio, fotorreativas. Trata-se de um
a marcha e alteração visual significativa. Aos 7 anos de paciente muito pouco orientado em relação ao tempo
idade, iniciou-se quadro de epilepsia, sendo a crise ini- ou espaço e com dificuldade de aprendizado. Ele não
cial caracterizada por uma crise parcial complexa com conseguia lembrar-se de data, hora ou dia; exibia discreta
evolução para uma crise tônico-clônica generalizada, apraxia manual; apresentava atrofia muscular, principal-
sendo inicialmente tratado com fenobarbital e fenitoína. mente, com força muscular grau quatro nos membros.
Desde então, o paciente apresentou controle razoável das O paciente exibe uma posição distônica das mãos, com
crises convulsivas. hipertonia. Os reflexos estavam globalmente diminuídos.
O paciente gradativamente começou a apresentar um Os sinais de Babinski e Hoffman foram negativos.
quadro de deterioração da memória e da atenção. Há cerca O paciente realizou estudo de tomografia compu-
de cinco anos, notou-se deformidade em região occipital tadorizada (TC) e ressonância magnética do encéfalo.
bilateral, pior do lado direito, deformidade essa caracteri- Os exames de imagem demonstraram uma grande lesão
zada por tumoração de crescimento lento e progressivo. intra e extracraniana. Na TC, observaram-se a presença
Há um ano, passou a evoluir com alguma dificuldade para de destruição óssea e sinais de que a lesão iniciou-se na
manipular objetos, tendo deixado de se alimentar sozinho. calota (Figura 1). A RMN demonstrou ser uma lesão
Também há cerca de um ano, a mãe notou que o paciente que não invade o encéfalo, com extensa área de reação
não mais enxergava. Atualmente, o paciente apresenta do tecido subgaleal e que vai até a região da confluência
grave dificuldade para a marcha, necessitando de auxílio dos seios venosos (Figura 2). Foram realizados exames
ou uso de cadeira de rodas, assim como incontinência laboratoriais, todos normais, não demonstrando alte-
urinária, associadas a uma apatia severa. Apresenta-se rações hematológicas, metabólicas ou infecciosas. Por
com controle parcial das crises convulsivas. causa da proximidade dos seios venosos, foi realizada
Ao exame neurológico, apresentava-se consciente e uma angiografia digital, que demonstrou ausência de
apático. Observou-se deformidade na região parietoc- fluxo sanguíneo na região do tumor e uma trombose da
cipital, maior no lado direito, não dolorosa à palpação porção distal do seio sagital superior (Figura 3).

Figura 1 – Imagens de tomografia computadorizada demonstrando a erosão óssea e o componente intra


e extracraniano do hematoma intradiploico.

138 Hematoma intradiploico: tratamento cirúrgico e relato de caso


Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 137-41, 2011

Figura 3 – Angiografia digital nas incidências de frente e perfil


demonstrando a trombose do seio sagital superior secundário ao
hematoma intradiploico.

Foi realizada uma excisão cirúrgica da lesão, sendo


inicialmente encontrado um hematoma organizado e
bastante aderido à gálea aponeurótica. Foi feita a reti-
rada da lesão extracraniana em bloco, ficando a porção
intracraniana. Foi realizada uma craniectomia ao redor
do orifício no crânio e retirada da lesão intracraniana,
que era completamente extradural. Após a regularização
do osso, foi realizada uma cranioplastia com acrílico.
Realizou-se exame de controle, que demonstrou ressec-
ção adequada da lesão e adequado posicionamento da
cranioplastia (Figura 4).
O diagnóstico foi de um hematoma intradiploico
crônico. A tumoração extracraniana tinha 258 g, com
11 x 10 x 4 cm de dimensões. A lesão caracterizava-se
por uma lesão reacional com capa de tecido fibroso pe-
riférica, densa, com hemossiderófagos, células gigantes
multinucleadas, fendas de colesterol infiltrado linfocí-
tico e metaplasia óssea focal. Conteúdo hemorragia,
fibrina e tecido degenerado.
O paciente evoluiu de forma adequada no período
pós-operatório. Houve melhora da capacidade visual
após seis meses do procedimento cirúrgico. Após
período de quatro anos de pós-operatório, o paciente
Figura 2 – Sequências de imagem de ressonância magnética
demonstrando uma grande lesão expansiva intra e extracraniana.
apresentava controle das crises convulsivas e houve
Observa-se a reação tecidual da gálea aponeurótica. melhora da visão.

Hematoma intradiploico: tratamento cirúrgico e relato de caso 139


Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 137-41, 2011

Figura 4 – Tomografia de controle pós-operatório. Os exames na parte superior demonstram a cranioplastia realizada com acrílico. As
imagens na porção inferior demonstram a resolução do hematoma.

Discussão O diagnóstico de hematoma intradiploico é uma ex-


ceção e lesões como: cisto epidermoide intradiploico,
O hematoma intradiploico é uma entidade clínica meningioma intraósseo, hemangiomas ósseos, cisto de
rara.1,3 Em 1934, Chorobski e Davis descreveram um aracnoide intradiploico, lesões metastáticas e doenças
cisto intradiploico que foi diagnosticado anos após um granulomatosas.4,5,7
trauma craniano.3,6 A formação dessa lesão está relacio- Os relatos existentes na literatura descrevem lesões
nada a pequenos traumas cranianos em adultos, e em de pequenas dimensões na calota craniana. A maioria
recém-nascidos encontrou-se a deficiência do fator VIII dos relatos descreve hematomas em recém-nascidos
como um fator de predisposição para o surgimento da e associados a doenças hematológicas, sendo o fato
lesão.1 Nos casos descritos até o momento, com exceção da ocorrência de distúrbios da coagulação um fator
de um onde houve um trauma grave, todos os casos comum.2,5 Apesar de ser uma doença benigna, ela tem
ocorreram após pequenos traumas cranianos e que um comportamento progressivo e, como demonstrado
ocorreram de forma repetitiva1,2,5 (Tabela 1). neste caso, pode ocasionar déficit neurológico grave e
O diagnóstico do hematoma intradiploico crônico alterações secundárias importantes.2
é feito pela imagem pré-operatória e confirmado pela O tratamento dessa lesão é cirúrgico. A retirada
análise histopatológica. A lesão apresenta um compor- completa da lesão seguida de curetagem de todo o tecido
tamento progressivo, com erosão da calota craniana e de preenchimento é o tratamento de escolha e deve ser
formação de um tecido reacional fibrótico importante seguido de hemostasia das bordas ósseas.3,6 Ocasional-
e associado a um tecido osteoide.2,8 Observa-se também mente, a biópsia por agulha guiada por imagem pode
a presença de hematoma antigo encapsulado por um preceder a ressecção da lesão, permitindo melhor pla-
cisto em que as paredes são compostas de tecido de nejamento cirúrgico já com o diagnóstico histológico da
granulação ou colágeno.1,5 lesão. Após a ressecção completa do hematoma, deve ser
Os diagnósticos diferenciais são importantes diante realizada a cranioplastia nas lesões amplas e que erodi-
de uma imagem de uma lesão expansiva do crânio. ram também a tábua óssea interna. A cranioplastia pode

140 Hematoma intradiploico: tratamento cirúrgico e relato de caso


Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 137-41, 2011

Tabela 1 – A tabela acima descreve resumidamente


a essa possibilidade diagnóstica diante de uma lesão
as referências atuais encontradas na literatura e expansiva do crânio em pacientes submetidos a trauma
a forma de tratamento cirúrgico realizada repetitivo ou distúrbios da coagulação.
Autor Osso Exame Patologia Tratamento
Marcado, Granuloma Excisão e
1984 Parietal TC reparativo cranioplastia
Palantinsky,
1986 Parietal TC
Granuloma e
hematoma
Excisão e
cranioplastia
Referências
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Yuasa, 1992 Parietal TC diploico cranioplastia
Goel A. Chronic intradiploic hematoma in patients with
Hematoma Excisão e coagulopathy. J Clin Neurosci. 2010;17(8):1047-9.
Sato, 1994 Parietal RMN intradiploico cranioplastia 2. Goel A, Nadkarni T, Mazumdar D. Intradiploic haematoma
Evacuação behaving as a progressive mass lesion. Br J Neurosurg.
Granuloma do 1996;10(6):611-2.
Goel, 1996 Frontal TC hematoma hematoma 3. Mobbs RJ, Gollapudi PR, Fuller JW, Dahlstrom JE, Chandran
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1997 Frontal RMN intraósseo Excisão and literature review. Surg Neurol. 2000;54(1):87-91.
Yucesoy, Hematoma 4. Nagi S, Megdiche H, Daoud H, Bouchriha M, Sebaï R,
1999 Parietal TC organizado Excisão Belghith L, et al. [Intradiploic hematoma: report of two
cases and review of literature]. Tunis Med. 2005;83(7):426-8.
Mobbs, Hematoma
2000 Parietal RMN / TC organizado Curetagem 5. Reeves A, Edwards-Brown M. Intraosseous hematoma in a
newborn with factor VIII deficiency. AJNR Am J Neuroradiol.
Hematoma
2000;21(2):308-9.
Nagis, 2005 Frontal TC organizado Excisão
6. Sato K, Kubota T, Kawano H. Chronic diploic hematoma of the
Hematoma parietal bone. Case report. J Neurosurg. 1994;80(6):1112-5.
Dange, 2010 Frontal RMN organizado Excisão
7. Wani AA, Ramzan AU, Kirmani AR, Bhatt AR, Hamdani N,
RMN/TC Hematoma Excisão e Zargar J. Intradiploic epidermoid causing spontaneous
Relato atual Occipital e angio organizado cranioplastia extradural hematoma: case report. Neurosurgery.
2008;62(4):E971.
ser feita com osso retirado da própria calota craniana 8. Yuasa H, Watanabe H, Uemura Y, Tokito S. Intraosseous
ou preferencialmente utilizando material sintético como hematoma of the skull: case report. Neurosurgery.
1992;30(5):776-8.
acrílico, evitando assim uma área cruenta no osso que
possa gerar novo hematoma.
Endereço para correspondência
O hematoma intradiploico é uma doença rara, de Ricardo de Amoreira Gepp
características benignas, mas que, pelo comportamento SQSW, 300, bloco M, ap. 204, Sudoeste
70673-014 – Brasília, Distrito Federal, Brazil
progressivo, pode ocasionar graves alterações neuroló- Telefone: (61) 3342-2420
gicas no paciente.2 O neurocirurgião deve estar atento E-mails: ricardogepp@zipmail.com.br; rgepp@sarah.br

Hematoma intradiploico: tratamento cirúrgico e relato de caso 141


Gepp RA et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 142-5, 2011

Meningioma intramedular cervical:


relato de caso e revisão da literatura
Ricardo Brandão Fonseca¹, Josildo Pereira Marins Filho², Gray
Portela3, Nilson Bandeira Castelo Branco4, Luciene Seixas4

Hospital Geral e Urgência (HGU), Instituto Mente e Cérebro (IMC), Petrolina, PE,
Hospital São Rafael, Salvador, BA.

RESUMO
Os meningiomas estão entre os tumores benignos mais comuns do canal espinhal, em adultos,
encontrados, predominantemente, nos segmentos torácicos. Segundo a literatura, a ocorrência de
um meningioma intramedular cervical é muito rara, com apenas oito trabalhos científicos relatados
até o momento. Apresentaremos o nono relato de caso – talvez o primeiro relato publicado na
literatura médica brasileira – e revisaremos os estudos anteriores. Paciente, de 40 anos de idade,
iniciou com sintomas de fraqueza na mão direita e dores cervicais que se agravavam durante a noite.
A ressonância magnética revelou lesão intramedular extensa cervical. A paciente foi submetida
somente à biópsia, por causa de dificuldades na ressecção, sendo depois proposta radioterapia.
O tumor teve uma discreta redução, a paciente permaneceu sem piora dos sinais e sintomas durante
os oito anos de evolução. Embora muito raros, meningiomas intramedulares cervicais existem e
devem estar no diagnóstico diferencial de tumores nessa localização. O principal tratamento dessas
lesões, de acordo com relatos anteriores, é a cirurgia, com bons resultados.

PALAVRAS-CHAVE
Meningioma/diagnóstico, meningioma/cirurgia, vértebras cervicais, neoplasias da medula espinal.

ABSTRACT
Intramedullary cervical meningioma: a case report and literature review
Meningiomas are among the most common benign tumours of the spinal canal in adults, found
predominantly in the thoracic segments. According to the literature, the occurrence of an intramedullary
cervical meningioma is very rare, with only eight scientific papers reported in the literature so far. We
present the ninth case report – probably the first reported in the Brazilian medical literature – and
review the previous reports. 40-year-old patient, who started the symptoms with weakness in her
right hand and neck pain that worsened at night. The MRI revealed extensive intramedullary cervical
lesion. The patient underwent biopsy only and, then, underwent radiotherapy. The tumor had a slight
reduction and the patient remained without worsening of signs and symptoms during the eight years
of evolution. Although very rare, intramedullary cervical meningiomas should be in the differential
diagnosis of tumors of this location. The main treatment of these lesions, according to previous
reports, is surgery with excellent results.

KEYWORDS
Meningioma/diagnosis, meningioma/surgery, cervical vertebrae, spinal cord neoplasms.

Introdução Os tumores intramedulares são mais raros, corres-


pondem apenas a 5% dos tumores espinhais, sendo os
Meningiomas estão entre os tumores que mais aco- astrocitomas e ependimomas reconhecidamente os mais
metem o canal espinal nos adultos. Cerca de 25% dos frequentes nessa localização.1
tumores do canal espinhal são meningiomas. Estima-se O acometimento intramedular do meningioma
que 14% a 18,5% localizem-se na região cervical, 75% existe e, em qualquer seguimento, é extremamente
a 82%, na região torácica e 2% a 7%, na região lombar.4 raro, sendo descrito na literatura somente como “relato
São, na sua quase totalidade, extramedulares. de caso”. Até o momento, encontramos cerca de oito

1. Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Hospital Geral e Urgência (HGU), Instituto Mente e Cérebro (IMC), Petrolina, PE.
2. Hospital São Rafael, Salvador, BA.
3. Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).
4. HGU, IMC.
Arq Bras Neurocir 30(3): 142-5, 2011

trabalhos sobre meningiomas intramedulares cervicais diminuição de sensibilidade vibratória, tátil e termoal-
descritos na literatura, todos estrangeiros.1,2,5-10 gésica nos quatro membros.
O presente estudo visa, portanto, relatar mais um A paciente foi submetida, em 2007, à investigação
caso na literatura mundial – talvez o primeiro relato com RNM da coluna cervical (Figuras 1 A e B). que
de caso brasileiro – e revisar os demais estudos sobre o mostrou extensa lesão, intramedular, sem captação
assunto publicados até o momento. importante de contraste, que envolvia a transição bulbo-
-medular até, aproximadamente, o platô inferior de C4.
Foi, então, submetida à cirurgia, na qual se identificou
lesão bastante endurecida, muito aderida ao plano
Caso clínico medular e de difícil ressecção, quando se optou apenas
por biópsia. A biópsia revelou tumor compatível com
Paciente, sexo feminino, 40 anos, professora. Iniciou meningioma meningoteliomatoso. O painel de imu-
quadro em 2002, com queixa de fraqueza em membro nomarcadores, composto por antígeno de membrana
superior direito, principalmente na mão – “Eu deixa- epitelial (E29), proteína ácida fibrilar glial (GFAP),
va as coisas caírem de minha mão e não percebia.” –, proteína S-100 e vimentina filamento intermediário
associado a desconforto (dor) em região cervical, que mesenquimal (V9), foi inconclusivo. O receptor de
piorava à noite. O quadro de perda de força progrediu estrógeno (RE) 1D5 foi negativo.
para os membros inferiores, com preservação das fun- Após discussão com o serviço de oncologia, optou-
ções esfincterianas. -se por radioterapia, em 2008. O exame de controle re-
Seu exame neurológico mostrava uma quadriparesia vela discreta redução da lesão, bem como surgimento de
grau IV (deambula sem ajuda), pior em seguimentos áreas compatíveis com necrose intratumoral (Figura 2).
distais; reflexos tendinosos profundos exaltados em A paciente evolui sem nenhuma piora neurológica
membros superiores, com predileção pelo dimídio até a presente data, no acompanhamento ambulatorial,
direito; reflexos patelares simétricos, sem alterações; após um seguimento de quatro anos do diagnóstico e de
discreta amiotrofia em mãos, mais acentuada à direita; oito anos do início dos primeiros sintomas.

Tabela 1 – Casos de meningioma intramedular cervical publicados na literatura

Idade Nível Sexo Subtipo Tratamento Resultado


Referência/ano
Pansini e ?/? C3/C4 M/M Angioblástico Ressecção total Melhora neurológica
Conti7/1981 C1/C2 psamomatoso seguida de óbito por
complicações respiratórias
Pagni6/1989 ? ? F Papilar ? ?
Salvati et al. /1992
10
67 C2/C4 F Fibroblástico Ressecção total Sem complicações
Moriuchi et 54 anos Medula oblonga até? F Transicional ? ?
al.5/1996
Jallo et al.2/2001 22 meses C3/C5 F Clear cells Duas ressecções Recorrências após ressecção
parciais seguidas de parcial. Sem recidiva local
ressecção radical após ressecção total. Metástase
+ radioterapia para fossa posterior
Covert et al.1/ 2003 ? ? ? ? ? ?

Salehpour et 22 anos Transição M Meningotelial Ressecção parcial Sem progressão até 3


al.9/2008 cervicomedular anos de seguimento
até C3
Sahni et al.8/ 2008 42 C3 até T2 M Meningioma atípico Ressecção total Sem complicações e
grau II (WHO), com melhora clínica
“Exofítico”
Fonseca et al./2011 41 Transição F Meningotelial Biópsia e Estabilidade clínica e não
cervicomedular radioterapia progressão do tumor
até C4
M: masculino; F: feminino; WHO: World Health Organization.

Meningioma intramedular cervical: relato de caso e revisão da literatura 143


Fonseca RB et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 142-5, 2011

Discussão
Até a presente data, identificamos, na literatura
médica, apenas oito trabalhos (Tabela 1) – todos relatos
de casos – a respeito dos meningiomas intramedulares
cervicais. A dificuldade em relação a encontrar estudos
com maiores séries certamente está relacionada à rari-
dade dessas lesões.
Após analisar os trabalhos anteriores, percebemos
que os meningiomas intramedulares cervicais podem se
apresentar nas mais diversas faixas etárias, variando de
22 meses de vida2 até 67 anos de idade,10 predominando,
entretanto, nos adultos. Em relação à distribuição por
sexo, nota-se distribuição, mais ou menos, igualitária
Figura 1A entre homens e mulheres, o que os difere dos demais
meningiomas, os quais acometem mais as mulheres.4
Mas o que chama atenção, particularmente nos
casos desses meningiomas intramedulares, é sua
topografia no canal espinhal. Observa-se uma clara
tendência desses tumores de localizarem-se na região
cervical, principalmente nos seguimentos mais altos,
muitas vezes, inclusive, iniciando-se na região bulbo-
-medular.2,5,7-10 Os demais meningiomas espinhais, ao
contrário, acometem, preferencialmente, a região torá-
cica.3,4 Encontramos apenas um relato de meningioma
intramedular torácio.3
No que diz respeito aos tipos histológicos, podem-se
encontrar os tipos: meningotelial, fibroblástico, tran-
sicional, angioblástico, células claras, papilares,9 além
dos atípicos. Este caso é o segundo descrito do tipo me-
ningotelial, observando-se, nos demais casos descritos,
Figura 1B uma divisão equitativa entre os diversos outros tipos.
Os meningiomas de células claras espinhais são
raros.3 Nota-se, entretanto, que esse tipo – de maior
agressividade – parece ter uma predileção, em termos
proporcionais, para o acometimento espinhal, em espe-
cial no espaço intramedular.2,3 Segundo Kim et al.3, dos
raros casos relatados de meningiomas intramedulares,
dois são de células claras, sendo um torácico e outro
cervical.
A base de tratamento para todos os casos foi a cirur-
gia com resultados satisfatórios. As cirurgias variavam
de biópsia, seguida de radioterapia (presente caso), até
cirurgias radicais, seguindo-se de radioterapia, no caso
de lesão mais agressiva, conforme Jallo et al.2 No caso
mostrado neste trabalho, procedeu-se apenas à biópsia,
em virtude das dificuldades técnicas encontradas no
intraoperatório. Apesar de ressecção insatisfatória, a
paciente evolui bem, no seu seguimento de oito anos
Figura 2 do início dos sintomas e quatro anos do tratamento,
sem progressão do volume tumoral nem dos sinais e
sintomas neurológicos, tendo sido apenas readaptada
no seu trabalho.

144 Meningioma intramedular cervical: relato de caso e revisão da literatura


Fonseca RB et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 142-5, 2011

A patogênese dos meningiomas intramedulares per- 2. Jallo GI, Kothbauer KF, Silvera VM, Epstein FJ. Intraspinal
clear cell meningioma: diagnosis and management: report
manece obscura. Shuangshoti et al.11 sugerem que esses
of two cases. Neurosurgery. 2001;48(1):218-21.
tumores podem ser originários de células mesenquimais 3. Kim MS, Park SH, Park YK. Thoracic intramedullay clear
que revestem os espaços vasculares do neuroeixo. cell meningioma. J Korean Neurosurg Soc. 2006;39:389-93.
Os meningiomas intramedulares são lesões extrema- 4. Levy WJ Jr, Bay J, Dohn D. Spinal cord meningioma. J
mente raras, possuem predileção pela região cervical, Neurosurg. 1982;57(6):804-1.
nos seus seguimentos mais altos, e não têm caracterís- 5. Moriuchi S, Nakagawa H, Yamada M, Kadota T.
Intramedullary spinal cord meningioma – a case report.
ticas próprias de imagem que os diferenciem dos outros Neurol Med Chir (Tokyo). 1996;36(12):888-92.
tipos mais comuns – astrocitomas e ependimomas. 6. Pagni CD. I Meningiomi spinali. Roma: CIC Edizioni
Seu tratamento é cirúrgico, com bom prognóstico, Internazionali; 1989.
dependendo do seu tipo histológico, sendo a radiotera- 7. Pansini A, Conti P. On some rare spreading cervical lesions.
pia uma alternativa em alguns casos, como tratamento J Neurosurg Sci. 1981;25(3-4):255-7.
8. Sahni D, Harrop JS, Kalfas IH, Vaccaro AR, Weingarten D.
complementar. O seguimento, de perto, desses pacientes
Exophytic intramedullary meningioma of the cervical spinal
é fundamental. cord. J Clin Neurosci. 2008;15(10):1176-9.
Os meningiomas intramedulares devem ser lembra- 9. Salehpour F, Zeinali A, Vahedi P, Halimi M. A rare case of
dos nos diagnósticos diferenciais das lesões tumorais intramedullary cervical spinal cord meningioma and review
intramedulares, principalmente cervicais. of the literature. Spinal Cord. 2008;46(9):648-50.
10. Salvati M, Artico M, Lunardi P, Gagliardi FM. Intramedullary
São necessários estudos maiores para melhor avalia- meningioma: case report and review of the literature. Surg
ção da história natural desses meningiomas, bem como Neurol. 1992;37(1):42-5.
forma mais adequada de tratamento para seus diferentes 11. Shuangshoti S, Netsky MG, Jane JA. Neoplasms of
tipos histológicos. mixed mesenchymal and neuroepithelial type. With
consideration of the relationship between meningioma and
neurilemmoma. J Neurol Sci. 1971;14(3):277-91.

Referências
Endereço para correspondência
1. Covert S, Gandhi D, Goyal M, Woulfe J, Belanger E, Miller Ricardo Brandão Fonseca
Av. Cardoso de Sá, 13, ap. 802, Centro
W, et al. Magnetic resonance imaging of intramedullary
56302110 – Petrolina, PE, Brasil
meningioma of the spinal cord: case report and review Telefones: (87) 8843-6199/(87) 9606-2010
of the literature. Can Assoc Radiol J. 2003;54(3):177-80. E-mail: ricardoneurocirurgia@uol.com.br

Meningioma intramedular cervical: relato de caso e revisão da literatura 145


Fonseca RB et al.
Arq Bras Neurocir 30(3): 146-9, 2011

Aneurismas infecciosos: incidência,


diagnóstico e tratamento
Saulo Simões Garcia1, Eberval Gadelha Figueiredo2, Manoel Jacobsen Teixeira3

Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

RESUMO
O objetivo deste trabalho é apresentar a revisão de literatura acerca dos novos parâmetros de
incidência, diagnósticos e terapêuticos, dos aneurismas infecciosos. Foi realizada pesquisa no banco
de dados Bireme e PubMed,com os termos: “aneurysm”, “mycotic” e “infectious”, sendo usados para
o estudo apenas artigos publicados entre 1997 e 2010. Grande parte dos artigos descreve uma alta
incidência de múltiplos aneurismas e a localização preferencialmente proximal, quando associados
à endocardite infecciosa, e distal, quando associados a outras infecções, também relatando a alta
eficiência do tratamento endovascular, contudo uma alta mortalidade quando este é inviável. Novas
técnicas diagnósticas são propostas e merecem mais estudos. A taxa de incidência e a alta taxa
de mortalidade associada a casos em que a intervenção endovascular é inviável justificam exames
direcionados ao diagnóstico precoce desses aneurismas em pacientes potenciais.

PALAVRAS-CHAVE
Aneurisma infectado, endocardite bacteriana, meningite.

ABSTRACT
The infectious aneurysms: incidence, diagnosis and treatment
The objective of this paper is to present a literature review of incidence, diagnosis and treatment of
infectious aneurysms. A search was carried out at the Bireme database and PubMed by the terms:
“aneurysm”, “mycotic” and “infectious”, being used to study only articles published between 1997
and 2010. Most of the articles describe a high incidence of multiple aneurysms, and proximal location
when associated with infective endocarditis and distal when associated with other infections. It
is reported a high efficiency in endovascular treatment, but a high mortality when unviable. New
diagnostic techniques are proposed and deserve further study. The incidence and high mortality
rate associated with cases in which endovascular intervention is not feasible, justify early diagnosis
of these aneurysms in potential patients.

KEYWORDS
Aneurysm infected, endocarditis bacterial, meningitis.

Introdução publicados no período de 1996 a 2010, encontrados por


meio de busca no banco de dados da Bireme e PubMed,
Aneurismas infecciosos, previamente chamados com os termos “aneurysm”, “mycotic” e “infectious” e
de aneurismas micóticos, são formados a partir de suas traduções em português.
um processo tromboembólico, tendo sua etiologia em
uma infecção bacteriana, microbacteriana, fúngica ou
até mesmo viral. Por ser o aneurisma infeccioso uma
complicação secundária à infecção, ele acaba sendo
negligenciado durante o diagnóstico e o tratamento da Revisão de literatura
doença, mesmo sendo causa importante do agravamen-
to do quadro clínico. Em 2007, Kannoth et al.6 analisaram o banco de
Este estudo pretende avaliar os diversos aspectos do dados do Sree Chitra Tirunal Institute for Medical Science
aneurisma infeccioso, pesquisando, para isso, artigos and Technology, no período de 1976 a 2003, em um

1. Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA), Belém, PA, Brasil.


2. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Divisão de Clínica Neurocirúrgica do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP,
São Paulo, SP, Brasil.
3. Departamento de Neurologia da FMUSP, Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP, São Paulo, SP, Brasil.
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acervo de 1.740 cirurgias de aneurisma intracraniano, tiveram tratamento conservador evoluíram para cura.
distinguindo os de origem infecciosa por meio do Receberam tratamento cirúrgico seis aneurismas rompi-
diagnóstico de endocardite infecciosa nos pacientes, dos, tendo todos bons resultados. Os autores concluíram
segundo os critérios de Dukes e os de Thuaites. que, mediante tratamento conservador medicamentoso,
Foram encontrados 25 casos, o que corresponde os pacientes evoluíram bem, contudo se faz necessário
a 1,44% da amostra total. Em 20% dos pacientes, o um acompanhamento permanente.
diagnóstico foi dado a partir de autópsia, sendo dos Chun et al.4 estudaram a eficiência do tratamento
demais pacientes 15% com sintomatologia clínica e 85% multiprofissional no tratamento de aneurisma infeccio-
a partir de achados radiológicos. Foi realizada tomogra- so de 1990 a 2000, tendo uma amostra de 27 aneurismas
fia computadorizada em 15 casos, sendo encontrada em 20 pacientes, sendo 65% dos aneurismas de etiologia
hemorragia em 13 (86,6%) exames, com mais de um na endocardite infecciosa e a principal localização na
foco hemorrágico em alguns pacientes. A angiografia, artéria cerebral média.
realizada em 23 pacientes, detectou aneurisma em 20 Foram tratados por via endovascular cinco dos
casos, e nos outros três foi detectado durante a autópsia. 20 pacientes, 10 por microcirurgia e o restante de
Os aneurismas de origem fúngica tiveram uma locali- maneira conservadora, fazendo o acompanhamen-
zação em artérias proximais em 75% dos aneurismas de to medicamentoso e da evolução do aneurisma. Os
etiologia fúngica, enquanto os de origem infecciosa se autores relatam que os fatores que determinaram o
localizaram em artérias distais em 90% dos aneurismas procedimento a ser tomado com cada paciente foram
com essa etiologia. Os autores destacam as diferenças na a ruptura do aneurisma, hematomas que alteraram a
história natural da doença dos aneurismas infecciosos pressão intracraniana (PIC) e a oxigenação adequada
de acordo com sua etiologia, devendo-se levar tal fator do tecido cerebral. O tratamento medicamentoso foi
em conta quando da escolha do tratamento adequado.
usado em pacientes sem ruptura do aneurisma, e o
Phuong et al.11 publicaram, em 2002, 16 casos
tratamento endovascular, em pacientes sem hematoma
de aneurisma infeccioso em Mayo Clinic, Rochester,
ou em hematomas laminares. O tratamento cirúrgico
ocorridos no período de 1976 a 1999, estando no grupo
foi a primeira escolha nos pacientes com hemorragia ou
de estudo pacientes com aneurisma diagnosticado via
quando houve falha dos demais tratamentos.
angiografia ou autópsia, e infecção, diagnosticada por
No ano 2000, Ruiz et al.12 estudaram casos ocorridos
meio de cultura sanguínea ou vegetação valvular.
de endocardite infecciosa na cidade de Ribeirão Preto –
Os sintomas mais comuns apresentados entre os
SP, analisando a etiologia, a epidemiologia, os aspectos
16 casos foram febre e calafrios (87,5%) e cefaleia não
clínicos e a evolução dos quadros clínicos.
específica (43,7%); seis pacientes (37,5%) apresentaram
O estudo teve uma casuística de 180 casos de endo-
letargia e confusão; três (18,7%) apresentaram quadros
convulsivos e perda da acuidade visual. Foram encon- cardite infecciosa, em 168 pacientes, sendo feita hemo-
trados 29 aneurismas nos 16 pacientes, tendo cinco cultura em 93,8% dos casos e encontrados Staphylococ-
pacientes mais de um aneurisma, variando de dois a cus aureus em 27,2% e Streptococcus viridans em 15,9%
oito aneurismas em cada. A localização foi anterior em dos pacientes. Dentre os pacientes, 40,5% faleceram e
16 aneurismas e posterior nos 13 restantes. Quatro dos 64,4% tiveram alguma complicação, sendo 21,5% dessas
pacientes com apenas um aneurisma não apresentaram complicações aneurismas infecciosos. Conclui-se que
hemorragia, portanto não seriam diagnosticados me- há grande incidência de aneurismas como complicação
diante tomografia computadorizada. de endocardite infecciosa, acarretando o elevado índice
Em 2000, Venkatesh et al.13 reportaram 17 pacientes de mortalidade pela doença.
diagnosticados com aneurisma infeccioso, atendidos Aoun et al.1 investigaram os fatores de risco de mor-
no período de 1989 a 1999. Todos os aneurismas foram talidade intra-hospitalar em adolescentes acometidos
confirmados por angiografia, com diagnóstico prévio com endocardite infecciosa, analisando, para isso, 33
de endocardite infecciosa em 12 pacientes, sendo pos- casos de forma retrospectiva admitidos no Hospital
teriormente confirmado nos demais. Universitário Pedro Ernesto.
Foram encontrados 22 aneurismas nos 17 pacientes: Dentre os 17 casos que evoluíram com complicações
90,9% dos aneurismas encontrados tinham localização resultantes em aneurismas infecciosos, 10 (58,82%)
distal e apenas 9,1%, proximal. Pertenciam à circulação faleceram, enquanto entre os 16 pacientes que não
posterior 60% dos aneurismas. Foram classificados apresentaram tal complicação a mortalidade foi de 25%
como aneurismas pequenos (3-5 mm) 15 dos 22 aneu- (quatro pacientes), sendo essa diferença marginalmente
rismas encontrados, e oito foram classificados como significativa, segundo o autor. Destacou o autor, a partir
médios (6-9 mm). Apresentaram contornos irregulares desse dado, a gravidade de um paciente que evolui com
72,7% do total. Oito dos 10 aneurismas rompidos que aneurismas em casos de endocardite infecciosa, sendo

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Garcia SS et al.
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relevante a investigação de aneurismas no decorrer do Aneurismas distais e fusiformes foram tratados com
tratamento. a oclusão do aneurisma e dos vasos de origem. Todos
Em 2004, Barbosa2 pesquisou o perfil clínico dos pa- os pacientes obtiveram êxito no tratamento, sendo
cientes com endocardite infecciosa na literatura médica, apenas dois acompanhados por complicações transi-
ressaltando a maior incidência da doença em homens tórias (agravamento da hemiparesia e quadrantopsia).
(1.7:1) e a mudança no perfil etário acometido pela A partir da pesquisa, os autores concluíram que o tra-
enfermidade, 47-69 anos atualmente. Ressaltou também tamento endovascular para os aneurismas infecciosos
a alta incidência da infecção relacionada a alterações é plenamente eficaz.
valvares degenerativas e próteses valvares e apontou Braun et al.5 avaliaram de maneira multidisciplinar
os Staphylococcus aureus como principal etiologia da 261 casos de endocardite infecciosa ocorridos entre
endocardite infecciosa. 1980 e 1990, comparando os diversos aspectos, a evolu-
A autora cita que vegetações maiores que 10 mm são ção em cada tratamento e as complicações encontradas.
associadas a maior índice de acidente vascular cerebral, Evoluíram com acometimento trombótico causan-
mas não a embolias periféricas, o que corrobora a do aneurismas 34% dos pacientes da amostra, sendo
importância da vigilância em relação a aneurismas o S. aureus associado a maior incidência de êmbolos,
como agravamento em quadros de endocardite levando a complicações que frequentemente contrain-
infecciosa. dicavam a cirurgia; 8% dos pacientes tinham indicação
Wajnberg14, em sua tese de mestrado no ano de cirúrgica, mas não a fizeram pelo alto risco associado
2010, dissertou sobre o tratamento endovascular de às complicações, aumentando o índice de mortalidade
aneurismas infecciosos cerebrais, estudando, para isso, de tais pacientes em 27%. Concluíram os autores que o
cinco pacientes atendidos no Hospital Universitário tratamento multidisciplinar aumenta a probabilidade
Fraga Filho – UFRJ, no período de 2002-2006, com de um melhor e mais rápido diagnóstico, influindo de
diagnóstico de endocardite infecciosa, segundo os maneira positiva no prognóstico dos pacientes.
critérios de Dukes. Kannoth et al. 8 propuseram um novo critério
O tratamento preferencial foi com a utilização diagnóstico para os aneurismas infecciosos em 2008,
de cianoacrilato, utilizado em três pacientes (60%), estudando, para isso, 25 pacientes com aneurisma
ocluindo tanto aneurisma quanto seu vaso parental. infeccioso confirmado e 111 pacientes com aneurisma
Foi utilizada nos demais casos (40%) embolização por não infeccioso.
micromolas. Dois pacientes faleceram, sendo um por O critério se baseia em uma premissa mandatória:
complicações da endocardite. O autor relata que a es- a confirmação da existência do aneurisma por meio de
colha da técnica usada foi devida à morfologia do aneu- diagnósticos por angiografia, associando-se a esses três
risma; foram utilizados cianoacrilatos em aneurismas grupos de agravamentos: 1 – Presença/história recente
sem colo, adequados à utilização das micromolas, não de infecção predisponente (podendo ser esta endocar-
tendo nenhuma intercorrência na utilização do produto dite infecciosa, meningite, celulite orbital, tromboflebite
em um local potencialmente infectado. do seio cavernoso). 2 – Achados angiográficos (sendo
Liphaus et al.9 estudaram aneurismas infecciosos estes aneurismas múltiplos, de localização distal, fusi-
ocorridos em crianças, analisando um caso, literatura formes ou com localização diferente em sucessivas an-
publicada e o banco de dados do Ministério da Saúde giografias). 3 – Outras características agravantes (idade
brasileiro. menor que 45 anos, febre recente ou que perdure por
A autora relata que a taxa de incidência dos aneu- sete ou mais dias, punção lombar recente, hemorragia
rismas infecciosos chega a 40% das endocardites intraparenquimatosa confirmada por método radioló-
infecciosas, tendo a mortalidade nesses casos taxas de gico). Pontua-se cada critério do grupo de agravamento
até 58%. Avalia também que os sintomas do aneurisma que contenha uma ou mais respostas afirmativas com
muitas vezes precedem os da endocardite, sendo esse o um ponto, classificando como clinicamente definitivos
passo para a descoberta da doença em 47% dos casos. pacientes com a premissa mandatória e três pontos
O acometimento da artéria mesentérica superior foi nos grupos de agravamento, clinicamente prováveis
o mais relacionado à etiologia infecciosa, sendo de pacientes com a premissa mandatória e dois pontos
70%-90% desses casos sintomáticos; o de aorta e o de nos grupos de agravamento e clinicamente possíveis
mesentérica superior são os mais comuns na literatura. pacientes com a premissa mandatória e um ponto nos
Chapot et al.3, em 2001, avaliaram o tratamento grupos de agravamento. Concluíram os autores que,
endovascular em aneurismas infecciosos, analisando, usando tais técnicas, foi obtido êxito em casos em que
para isso, 14 pacientes tratados por via endovenosa, o paciente preenche dois ou três critérios dos grupos
sendo encontrados 18 aneurismas, localizando-se na de agravamento, apresentando uma assertiva de 100%
circulação distal 13 deles e 5 no polígono de Willis. e 87,4%, respectivamente.

148 Aneurismas infecciosos: incidência, diagnóstico e tratamento


Garcia SS et al.
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Merritt – Tratado de Neurologia, editado por Row­ Referências


land10 e publicado no ano de 2005, refere-se aos aneu-
rismas infecciosos como sendo aneurismas causados 1. Aoun NB, Albanesi Filho FM, Rachid MB, Fernandes LA,
por êmbolos sépticos mais comumente formados por Messias JA. Endocardite infecciosa em adolescentes.
Análise dos fatores de risco de mortalidade intra-hospitalar.
endocardite infecciosa. Arq Bras Cardiol. 1997;69(6):407-12.
Os aneurismas infecciosos têm a tendência a ter 2. Barbosa MM. Endocardite infecciosa: perfil clínico em
apenas alguns milímetros e ocorrer em ramos distais dos evolução. Arq Bras Cardiol. 2004;83(3):189-90.
vasos piais, especialmente os da artéria cerebral média. 3. Chapot R, Houdart E, Saint-Maurice JP, Aymard A,
Relatando a presença de aneurismas infecciosos em até Mounayer C, Lot G, etal. Endovascular treatment of cerebral
mycotic aneurysms. Radiology. 2002;222(2):389-96.
10% dos pacientes com endocardite infecciosa, o autor 4. Chun JY, Smith W, Halbach VV, Higashida RT, Wilson CB,
alerta sobre a não periodicidade da realização da arte- Lawton MT. Current multimodality management of infectious
riografia em busca de tal aneurisma, levando em conta intracranial aneurysms. Neurosurgery. 200;48(6):1203-13.
que a mortalidade por rompimento de tais aneurismas 5. Braun S, Escalona A, Chamorro G, Corbalán R, Pérez C,
é de aproximadamente 80%, sendo o prognóstico de Labarca J, et al. Infective endocarditis: short and long-
term results in 261 cases managed by a multidisciplinary
difícil previsão e a necessidade do tratamento o quanto approach. Rev Med Chil. 2000;128(7):708-20.
antes possível. 6. Kannoth S, Iyer R, Thomas SV, Furtado SV, Rajesh BJ,
Em 2009, Kannoth e Thomas7 pesquisaram as no- Kesavadas C, et al. Intracranial infectious aneurysm:
vas discussões acerca do diagnóstico e tratamento do presentation, management and outcome. J Neurol Sci.
2007;256(1-2):3-9.
aneurisma infeccioso, termo que o próprio autor trata
7. Kannoth S, Thomas SV. Intracranial microbial aneurysm
como mais adequado por serem múltiplas as possíveis (infectious aneurysm): current options for diagnosis and
causas da enfermidade. management. Neurocrit Care. 2009;11(1):120-9.
Os autores apontam como características dos aneu- 8. Kannoth S, Thomas SV, Nair S, Sarma PS. Proposed
rismas infecciosos a incidência de múltiplos aneurismas diagnostic criteria for intracranial infectious aneurysms. J
Neurol Neurosurg Psychiatry. 2008;79(8):943-6.
em um mesmo paciente e o fato de eles serem distais e
9. Liphaus BL, Goldenstein-Schainberg C, Kitamura LM,
fusiformes, contudo aponta uma apresentação clínica Silva CA. Aneurisma micótico abdominal e embolia
e radiológica variável. Sendo a hemorragia intracra- cerebral associados à endocardite infecciosa em paciente
niana a forma mais frequente de apresentação desses com doença valvar reumática crônica. Arq Bras Cardiol.
2007;88(1):e7-9.
aneurismas, exames de angiografia são a melhor forma
10. Mayer AS, Bernardini GL, Solomon RA, Brust JC.
diagnóstica. Os aneurismas infecciosos têm taxa de Hemorragia subaracnóidea. In: Rowland LP, editor. Merritt
mortalidade maior quando rompidos em comparação – Tratado de Neurologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
aos aneurismas não infecciosos, sendo o tratamento Koogan; 2005. p.313.
conservador (antibióticos), cirurgia ou tratamento 11. Phuong LK, Link M, Wijdicks E. Management of intracranial
infectious aneurysms: a series of 16 cases. Neurosurgery.
endovascular, contudo a indicação de antibióticos deve 2002;51(5):1145-51.
ser feita em todos os casos. Os autores relataram ser o 12. Ruiz Jr E, Schirmbeck T, Figueiredo LT. Estudo sobre
tratamento da infecção subjacente parte importante endocardite infecciosa em Ribeirão Preto, SP – Brasil.
da terapia. Análise de casos ocorridos entre 1992 e 1997. Arq Bras
Cardiol. 2000;74(3):217-31.
13. Venkatesh SK, Phadke RV, Kalode RR, Kumar S, Jain
VK. Intracranial infective aneurysms presenting with
haemorrhage: an analysis of angiographic findings,
management and outcome. Clin Radiol. 2000;55(12):946-53.
Conflitos de interesses 14. Wajnberg E. Tratamento endovascular de aneurismas
infecciosos cerebrais. Radiol Bras. 2010;43(3):210.
Os autores declaram não haver conflitos de interesse
científico neste estudo. Endereço para correspondência
Saulo S. Garcia
Av. Gentil Bittencourt, 2527, São Braz
66063-090 – Belém, PA
Telefone: (91) 8197-1281
E-mail: saulosgarcia@gmail.com

Aneurismas infecciosos: incidência, diagnóstico e tratamento 149


Garcia SS et al.
Referência Bibliográfica: 1. Mehta MP, Buckner JC, Sawaya R, Cannon G. Neoplasms of the central nervous system. In: DeVita VT, Lawrence TS, Rosenbery SA, eds. Cancer Principles
and Practice of Oncology. 8th ed. Philadelphia, PA. Lippincott Williams & W. ilkins: 2008:1975-2032. 2. National Comprehensive Cancer Network. NCCN Clinical Practice Guidelines in
Oncology Central Nervous System Cancers. V.1.2010. Disponível em www.nccn.org. Acessado em 12 de agosto de 2010. 3. Bula de TEMODAL. Schering-Plough Produtos Farmacêuticos,
2010. 4. Stupp R, Hegi ME, Mason WP, et al. Effects of radiotherapy with concomitant and adjuvant temozolomide versus radiotherapy alone on survival in glioblastoma in a randomized
phase III study: 5-year analysis of the EORTC-NCIC trial. Lancet. 2009;10:459-466. 5. Diez BD, Statkevich P, Zhuy Y, et al. Evaluation of the exposure equivalence of oral versus intravenous
temozolomide. Cancer Chemother Pharmacol. 2010;65:727-734.

TEMODAL® (temozolomida). INDICAÇÕES: Tratamento de pacientes com glioblastoma multiforme recém-diagnosticado concomitante à radioterapia e posterior adjuvância; glioma
maligno (glioblastoma multiforme ou astrocitoma anaplásico) recidivante ou progressivo após terapia padrão; melanoma maligno metastático avançado. CONTRA-INDICAÇÕES:
Hipersensibilidade a componentes ou à dacarbazina; gravidez e lactação. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: Necessária profilaxia para pneumonia por Pneumocystis carinii sob regime
prolongado (42 dias de TEMODAL concomitante à radioterapia; período máximo de 49 dias). Observação cuidadosa de pacientes sob temozolomida se recebendo esteróides para o
desenvolvimento de pneumonia por Pneumocystis carinii. Frequente associação com náuseas e vômitos, portanto recomenda-se profilaxia antiemética para: glioblastoma multiforme
recém-diagnosticado, antes da dose inicial de TEMODAL (fase concomitante) e durante a fase adjuvante; glioma recorrente ou progressivo, antes de iniciar os ciclos de tratamento, se
ocorrerem vômitos severos (grau 3 ou 4). Parâmetros laboratoriais: Antes da administração, são necessários os seguintes parâmetros laboratoriais: contagem absoluta de neutrófilos
(CAN) > 1,5 x 109/L e plaquetas > 100 x 109/L. Hemograma completo no dia 22 (21 dias após 1a dose) ou dentro de 48 horas após os 21 dias e, semanalmente, até CAN > 1,5 x 109/L e
plaquetas > 100 x 109/L. Se CAN < 1,0 x 109/L ou plaquetas < 50 x 109/L (qualquer ciclo), reduzir a dose no ciclo seguinte (menor dose recomendada: 100 mg/m2). Disfunção renal ou
hepática: Desnecessário reduzir dose, entretanto, é necessária atenção especial. Uso pediátrico: Glioblastoma multiforme: Não existe experiência clínica em crianças acima de 3 anos de
idade e há poucos estudos em crianças maiores de 3 anos de idade. Melanoma: Não há experiência em crianças menores de 18 anos de idade. Uso em Pacientes Idosos: Em pacientes
maiores de 70 anos de idade, parece aumentar o risco de neutropenia e trombocitopenia. Gravidez e Lactação: Não deve ser normalmente administrado em mulheres grávidas (alerta para
pacientes homens em relação às parceiras). Controle de fertilização durante e até 6 meses após a interrupção do tratamento. Não deve ser administrado sob amamentação. INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS: O ácido valpróico pode resultar em pequena (estatisticamente significante) redução da depuração de temozolomida. Aumento de risco de mielossupressão se
associado com outros agentes mielossupressores. Como a atividade de TEMODAL está mais relacionada com a AUC do que com os picos de concentração, o efeito do alimento não
tem relevância clínica. REAÇÕES ADVERSAS: Glioblastoma multiforme recém-diagnosticado: Fase concomitante: leucopenia, linfopenia, neutropenia, trombocitopenia, alterações
metabólicas e nutricionais, alterações psiquiátricas, alterações do sistema nervoso, visão turva, dificuldade na audição, alterações vasculares, tosse, dispnéia, alterações gastrintestinais,
alterações cutâneas, alterações músculo-esqueléticas e do tecido conjuntivo, alterações renal, alterações gerais e no local da administração, alterações laboratorias. Fase adjuvante: além
das anteriores: infecções. Glioma maligno recorrente ou progressivo ou melanoma maligno: náuseas e vômitos são mais freqüentes. fadiga, constipação, cefaléia, anorexia, diarréia,
erupção cutânea, febre, astenia, sonolência, dor abdominal, dor, tontura, perda de peso, dispnéia, alopecia, rigidez, prurido, mal-estar, dispepsia, alteração do paladar, parestesia e
petéquias. Reações alérgicas (ex.: anafilaxia), eritema multiforme. Infecções por agentes oportunistas (Ex: Pneumocystis carinii). Síndrome mielodisplásica e neoplasias secundárias.
Laboratoriais: Trombocitopenia e neutropenia (podem ocorrer casos graves de hospitalização e/ou descontinuação). Mielossupressão previsível (normalmente dentro dos primeiros
ciclos; nadir entre 21º-28º dia de tratamento) com recuperação rápida (1-2 semanas) e sem evidência cumulativa. Pancitopenia (prolongada podendo resultar em anemia aplástica),
leucopenia e anemia. TEMODAL pó liofilizado para injeção fornece dose de temozolomida e exposição equivalentes à temozolomida e MTIC das cápsulas de TEMODAL correspondentes.
Os eventos adversos provavelmente relacionados com o tratamento e que foram relatados nos dois estudos com a formulação IV (n = 35) e que não foram relatados em estudos usando
o TEMODAL cápsulas foram os seguintes (observados no local da infusão): dor, irritação, prurido, rubor, tumefação e eritema, assim como hematoma. POSOLOGIA: Glioblastoma
multiforme recém-diagnosticado: Adultos: Fase concomitante: 75 mg/m2/dia, VO, 6 semanas (42 dias) associada à radioterapia (60 Gy administrado em 30 frações) seguida de adjuvância.
Interrupção e descontinuação conforme tolerância do paciente (vide bula). Fase adjuvante: 4 semanas após a Fase anterior (com RXT): 150 mg/m2/dia, 5 dias (23 dias sem tratamento), 6
ciclos (pode ocorrer aumento da dose no 2º ciclo para 200 mg/m2/dia, conforme a toxicidade hematológica). Controle hematológico no dia 22. Glioma maligno recorrente ou progressivo
ou melanoma maligno: Adultos: Sem prévia quimioterapia: 200 mg/m2/dia, VO, 5 dias (ciclos de 28 dias). Quimioterapia prévia: 150 mg/m2/dia (pode ocorrer aumento no 2o. ciclo
para 200 mg/m2/dia, proporcionando contagem absoluta de neutrófilos ≥ 1,5 x 109/L e plaquetas ≥ 100 x 109/L no dia 1 do ciclo seguinte. Modificação da dose: basear-se na toxicidade
conforme o nadir CAN ou contagem de plaquetas. Crianças com 3 anos ou maiores: Sem prévia quimioterapia: 200 mg/m2/dia, VO, 5 dias (ciclos de 28 dias). Quimioterapia prévia: 150
mg/m2/dia, 5 dias (pode ocorrer aumento no 2º ciclo para 200 mg/m2/dia, se não toxicidade hematológica). O tratamento pode continuar até a progressão da doença (máximo: 2 anos).
Administração em jejum (mínimo: 01 hora antes da refeição). Profilaxia antiemética antes ou após TEMODAL. Se ocorrerem vômitos após a administração de TEMODAL, não administrar
a segunda dose neste dia. Não abrir ou mastigar as cápsulas. Engolir inteira com água. Se houver dano à cápsula, evitar contato do pó com a pele ou com as membranas mucosas. Como
não existem informações sobre a compatibilidade de TEMODAL pó para injeção com outras substâncias ou aditivos de uso intravenoso, outros medicamentos não devem ser infundidos
simultaneamente na mesma linha de infusão intravenosa. Recorra à bula do produto para informação sobre: Redução ou descontinuação de doses de TEMODAL frente à toxicidade
hematológica (na Fase com radioterapia concomitante) – Tabela 1/Redução ou descontinuação da dose durante a fase adjuvante - Tabelas 2 e 3/Superde. MS 1.6614.0009. VENDA SOB
PRESCRIÇÃO MÉDICA. USO ADULTO E/OU PEDIÁTRICO (ACIMA DE 3 ANOS). AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. MATERIAL DESTINADO
A PROFISSIONAIS HABILITADOS A PRESCREVER E DISPENSAR MEDICAMENTOS. Recorra à bula do produto para maiores informações. (MB-temodal15)

DENTRE AS INFORMAÇÕES CITADAS EM BULA, RESSALTAMOS QUE ESTE MEDICAMENTO É CONTRAINDICADO PARA PACIENTES COM HIPERSENSIBILIDADE A
QUALQUER COMPONENTE DO PRODUTO. O ÁCIDO VALPROICO PODE RESULTAR EM PEQUENA REDUÇÃO DA DEPURAÇÃO DA TEMOZOLOMIDA.
TEMODAL® é um medicamento. Durante seu uso, não dirija veículos ou opere máquinas, pois sua agilidade e atenção podem estar prejudicadas.
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9804403 IMPRESSO SETEMBRO/2010
O padrão de
tratamento,
agora também
na apresentação
intravenosa
1,2,5

Disponível em mais de uma apresentação 3


Eficácia e farmacocinética consistentes e confiáveis, equivalentes em ambas as apresentações 5

A proporção de pacientes com sobrevida de 5 anos foi de 84% no grupo


que recebeu TEMODAL + RT vs. 16% no grupo que recebeu RT isolada 4

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