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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade Mineira de Direito

Rodrigo dos Santos Souza

INVENTÁRIO E PARTILHA

Contagem

2019
I) DO INVENTÁRIO

Com a morte da pessoa natural abre-se a sucessão com a transmissão


dos bens deixados aos herdeiros legítimos e testamentários. Com isso, aberta a
sucessão a posse e propriedade dos bens que foram deixados pelo de cujus
passam a ser dos herdeiros, na forma do disposto no artigo 1784 do Código Civil.
Contudo, apesar da transmissão dos bens aos herdeiros, ainda assim é
necessário que seja realizado o procedimento de inventário e partilha.

O inventário é o procedimento através do qual são definidos quais bens


integram a herança do de cujus e qual quinhão pertencerá a cada um dos
herdeiros. Todos os bens, direitos e obrigações serão incluídos no inventário.

No que tange ao processo de inventário, cumpre salientar que nem


sempre haverá necessidade de um processo judicial para que se faça o
inventário. Caso todos os herdeiros sejam capazes e estejam de acordo, o
inventário e a partilha poderão ser feitos extrajudicialmente através de escritura
pública, realizado em cartório, como disposto no artigo 610, §1º e 2º do Código
de Processo Civil.

Os requisitos para que seja feito o inventário extrajudicial são: todos os


herdeiros deverão ser maiores e capazes, todos os herdeiros precisam estar em
acordo quanto à partilha dos bens, o de cujus não pode ter feito testamento, para
a feitura da escritura imprescindível a participação de advogado ou defensor
público.

Por outro lado, conforme prevê o artigo 610 do CPC, “havendo testamento
ou interessado incapaz, proceder-se-á o inventário judicial”. No que se relaciona
ao prazo para o ajuizamento do processo de inventário e partilha, são dois meses
a partir da abertura da sucessão, podendo o Juiz alterar ou prorrogar o prazo de
ofício ou a requerimento da parte, na forma do art. 612 CPC.

O requerimento de inventário e partilha incumbe a quem estiver na posse


e administração do espólio, dentro do prazo fixado acima descrito. Vejamos
também quem são os legitimados a requerer a abertura do inventário, conforme
rol do artigo 616 CPC:

Art. 616. Têm, contudo, legitimidade concorrente:


I - o cônjuge ou companheiro supérstite;

II - o herdeiro;

III - o legatário;

IV - o testamenteiro;

V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;

VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor


da herança;

VII - o Ministério Público, havendo herdeiros


incapazes;

VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse;

IX - o administrador judicial da falência do


herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do
cônjuge ou companheiro supérstite.

Até que o inventariante seja nomeado e preste compromisso, o


administrador provisório ficará com a posse do espólio, como disposto no art.
613 CPC. O Juiz é quem nomeará o inventariante do processo, respeitando a
ordem de preferência do art. 617 CPC, que terá o prazo de cinco dias após sua
intimação para prestar o compromisso de desempenhar a função.

Os deveres do inventariante estão elencados no art. 618 e 619 CPC:

Art. 618. Incumbe ao inventariante:

I - representar o espólio ativa e passivamente, em


juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o
disposto no art. 75, § 1º ;

II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a


mesma diligência que teria se seus fossem;

III - prestar as primeiras e as últimas declarações


pessoalmente ou por procurador com poderes especiais;

IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame


das partes, os documentos relativos ao espólio;

V - juntar aos autos certidão do testamento, se


houver;

VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro


ausente, renunciante ou excluído;

VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo


ou sempre que o juiz lhe determinar;

VIII - requerer a declaração de insolvência.

Art. 619. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os


interessados e com autorização do juiz:
I - alienar bens de qualquer espécie;

II - transigir em juízo ou fora dele;

III - pagar dívidas do espólio;

IV - fazer as despesas necessárias para a


conservação e o melhoramento dos bens do espólio.

Após o inventariante prestar compromisso, no prazo de vinte dias terá que


fazer suas primeiras declarações constando as seguintes informações: os dados
pessoais do de cujus e se este deixou testamento, os dados pessoais dos
herdeiros, havendo cônjuge sobrevivente, seus dados pessoais e o regime de
casamento, a qualidade dos herdeiros bem como seu grau de parentesco com o
de cujus, a declaração completa e individualizada de todos os bens do espólio e
o valor corrente de cada um desses bens, tais declarações serão lavradas em
termo circunstanciado e assinado pelo Juiz, pelo escrivão e pelo inventariante,
na forma do art. 620 CPC.

O artigo 626 CPC, diz que realizadas as primeiras declarações, o Juiz


determinará a citação do cônjuge ou companheiro, dos herdeiros e dos
legatários, bem como intimar a Fazenda Pública e o Ministério Público (quando
há interessados incapazes ou ausentes) e o testamenteiro (quando há
testamento).

Após o êxito das citações, abre-se vista às partes, no prazo comum de


quinze dias, para que os interessados façam suas manifestações sobre as
primeiras declarações prestadas pelo inventariante oportunidade em que as
partes poderão arguir erros, omissões, reclamar contra a nomeação do
inventariante e contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro,
conforme se infere o art. 627 CPC.

Caso seja encontrada omissão ou erro, o Juiz determinará a retificação


das primeiras declarações. Se for acolhida a relação contra a nomeação do
inventariante, o Juiz nomeará outro inventariante para o processo de inventário,
observando as preferências da lei. Quando verificadas disputas no que tange a
qualidade de herdeiro, o Juiz determinará a produção de provas para sanar a
controvérsia, desta forma, a entrega do quinhão ficará sobrestada até o
julgamento da ação.
Com o fim do prazo previsto no art. 627 CPC, e resolução de controvérsias
(caso haja), o Juiz irá nomear um perito para avaliar os bens do espólio (art. 630
CPC). Caso todos os herdeiros sejam capazes, não será realizada avaliação dos
bens se ao ser intimada, a Fazenda Pública concordar expressamente com o
valor atribuído nas primeiras declarações do inventariante.

Entregue o laudo de avaliação dos bens, as partes serão intimadas a se


manifestar sobre o documento, no prazo de 15 (quinze) dias, com fulcro no art.
635 CPC. Caso seja feita impugnação ao valor e o Juiz julgue procedente, a
avaliação será retificada, caso não haja impugnação, ou seja, ela julgada
procedente, o Juiz decidirá de plano, na forma do art. 635 CPC.

Aceito o laudo de avaliação e resolvida as questões controversas, as


partes farão suas últimas declarações, no prazo de quinze dias e será realizado
o cálculo do tributo. Feito o cálculo, no prazo de cinco dias, as partes serão
ouvidas e em seguida a Fazenda Pública também será, conforme art. 638 CPC.
Em seguida, o Juiz julgará o cálculo do tributo.

No que se relaciona às dívidas deixadas pelo de cujus, cumpre destacar


que os artigos 1997 a 2001 tratam sobre o assunto.

Artigo 1.997 do Código Civil: “A herança


responde pelo pagamento das dívidas do
falecido, mas, feita a partilha, só respondem os
herdeiros, cada qual em proporção da parte que
na herança lhe coube”

Assim, podemos perceber que o patrimônio do devedor responde por


suas obrigações não adimplidas em vida. O espólio deverá ser requerido pelos
credores, ficando a responsabilidade da quitação das dívidas a cargo dos
herdeiros.

Ressalva-se que o patrimônio a ser incorporado pelos herdeiros depende


do resultado da quitação dos débitos do de cujus, incluindo-se o pagamento de
tributos sucessórios, dessa maneira, quando aberta a sucessão é importante
apurar o montante das dívidas, efetuando-se o pagamento destas para então ter
o real patrimônio a ser partilhado, podendo ocorrer que nada reste aos herdeiros.

O capítulo II, versa sobre os sonegados, que trata-se de instituto que se


relaciona com a infringência, do herdeiro, em cumprir o dever de apresentar ao
inventário, a relação de bens que estejam sob o seu poder, ou, que saiba estar
com terceiro, ou, que tenha que levar à colação.

Tal figura encontra previsão expressa no Código Civil que, em seu artigo
1.992 dispõe que "o herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo
no inventário quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento, no de
outrem, ou que os omitir na colação, a que os deva levar, ou que deixar de
restituí-los, perderá o direito que sobre eles lhe cabia ".

A conduta prevista no dispositivo é a ocultação dolosa, pelo herdeiro, de


bens da herança, que estejam sob a sua posse, quando da abertura da
sucessão. Partindo dessa premissa, entende-se que tal conduta somente se
caracteriza quando, questionado sobre a posse dos bens, o herdeiro alega que
não os possui.

Por fim, o inventário negativo é a situação em que o de cujus falece sem


deixar qualquer bem a inventariar. O expediente foi criado pela praxe forense
para provar que o óbito se deu sem deixar bens a partilhar. Trata-se de medida
de jurisdição voluntária, que preenche lacuna da lei e merece aplausos da
doutrina e jurisprudência. O procedimento sumário instituído pela experiência do
foro consiste em acusar, em petição, o óbito ao juiz, assumindo o requerente o
compromisso de inventariante, com citação dos demais interessados e audiência
do Ministério Público e da Fazenda Pública. Prestadas as declarações com a
menção de ausência total de bens a inventariar, e havendo concordância de
todos os convocados ao processo (que tanto pode ser expressa como tácita), o
feito se encerra com sentença de homologação do declarado pelo inventariante
a qual, através de certidão, servirá de documento para instruir o processo de
casamento do cônjuge viúvo, ou para qualquer outro fim legal.

II) DA PARTILHA
A partilha é a divisão do espólio entre os sucessores do falecido após o
inventário, sendo assim cada herdeiro através da partilha recebe a sua parte da
herança.

A colação é instituto de direito material pelo qual o descendente pode


trazer à partilha discussão sobre doações feitas em vida pelo ascendente comum
a outro descendente. De tal modo, impõe-se o dever de levar em conta os
valores doados no momento da partilha.

Conforme disposto no artigo 2002 do Código Civil:

Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à


sucessão do ascendente comum são obrigados, para
igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que
dele em vida receberam, sob pena de sonegação.

Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor


dos bens conferidos será computado na parte
indisponível, sem aumentar a disponível.

O artigo 2005 e 2006 CC trazem a baila as situações em que há dispensa


da colação:

Art. 2.005. São dispensadas da colação as


doações que o doador determinar saiam da parte
disponível, contanto que não a excedam, computado o
seu valor ao tempo da doação.

Parágrafo único. Presume-se imputada na parte


disponível a liberalidade feita a descendente que, ao
tempo do ato, não seria chamado à sucessão na
qualidade de herdeiro necessário.

Art. 2.006. A dispensa da colação pode ser


outorgada pelo doador em testamento, ou no próprio título
de liberalidade.

Os artigos 2010 e 2011 do mesmo diploma legal colacionam os itens que


não estão sujeitos à colação, tais como: os gastos ordinários do ascendente com
o descendente, enquanto menor, na sua educação, estudos, sustento, vestuário,
tratamento nas enfermidades, enxoval, assim como as despesas de casamento,
ou as feitas no interesse de sua defesa em processo-crime. As doações
remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não estão sujeitas a
colação.
No que tange às espécies de partilha existentes, destaca-se que o
instrumento de partilha pode ser feito de duas maneiras: amigável ou judicial.

Dispõe o artigo 2.015 do Código Civil:

Art. 2.015 Se os herdeiros forem capazes, poderão


fazer partilha amigável, por escritura pública, termo nos
autos do inventário, ou escrito particular, homologado
pelo juiz”.

Essa espécie de partilha representa o acordo de vontades, que manifesta


sua intenção de dividir a herança de maneira fiel do instrumento.

A lei permite a realização desse instituto de partilha por três modos


distintos, sendo eles: por escritura pública; por termo nos autos do inventário; e
por instrumento particular, após a homologação do juiz.

Essa modalidade de partilha é menos burocrática do que a judicial, pelo


fato de permitir maior flexibilidade na escolha e distribuição dos bens, assim
sendo, aceitando a realização das preferências dos herdeiros.

A partilha judicial é obrigatória, se os herdeiros divergirem, ou se algum


deles for incapaz. O artigo 2.016 do Código Civil brasileiro diz que:

Art. 2.016. Será sempre judicial a partilha, se os


herdeiros divergirem, assim como se algum deles for
incapaz.

Nesta modalidade de partilha, as partes formularão pedido de quinhão, e


o juiz resolverá as pretensões no despacho de deliberação. Essa modalidade
também atende a comodidade dos herdeiros, o que seja mais proveitoso a cada
um, por razões particulares, e para tudo mais que concorra para a melhor divisão
do monte, como para evitar dúvidas e litígios futuros.

A sobrepartilha é o instituto aplicado quando, por qualquer motivo, feita a


partilha, restarem bens não partilhados, devem ser feitas novas partilhas.

A esse respeito dispõe o artigo 2.021 do Código Civil:

Art 2.021 Quando parte da herança consistir em bens


remotos do lugar do inventário, litigiosos, ou de
liquidação morosa ou difícil, poderá proceder-se, no
prazo legal, à partilha dos outros, reservando-se aqueles
para uma ou mais sobrepartilhas, sob a guarda e a
administração do mesmo ou diverso inventariante, e
consentimento da maioria dos herdeiros.

Procede-se, então, no prazo legal, à partilha dos outros bens, reservando-


se aqueles para uma ou mais partilhas, adiando-se a divisão dos bens que, por
diversos motivos, apresentam liquidação complicada, ficando estes sob a guarda
da administração do mesmo ou diverso inventariante.

Preceitua, ainda, o artigo 2.022 do Código Civil:

Art 2.022 Ficam sujeitos a sobrepartilha os bens


sonegados, e quaisquer outros bens da herança de que
se tiver ciência após a partilha.

Os bens sonegados e os que se descobrirem depois da partilha


constituem um novo montante de bens que deixou de ser inventariado e
partilhado com os outros. E como a partilha já se encerrou, faz-se a distribuição
deles em sobrepartilha.

Sobre a nulidade da partilha, é necessário esclarecer que sendo a partilha


um ato material e formal, é imprescindível a observância de determinados
requisitos formais, podendo ser atacada pelas mesmas causas que maculam de
ineficácia os negócios jurídicos, por meio do aforamento da ação de nulidade
relativa, intentada dentro do prazo decadencial, a saber: de um ano, quando se
tratar de rescisão de partilha amigável, contado: na coação, do dia em que ela
cessou; no erro, estado de perigo, lesão fraude de credores ou dolo, do dia em
que se realizou o ato; na hipótese de existir herdeiro incapaz, do dia em que
cessou a incapacidade; de dois anos, contado do trânsito em julgado da decisão,
para ação rescisória, na hipótese de partilha judicial, a qual é passível de
rescisão nas situações expostas alhures, caso seja realizada com preterição de
formalidades legais ou, ainda, se houver preterição de sucessor ou inclusão de
quem não o é.
Com o advento da declaração de nulidade relativa da partilha, os
herdeiros deverão repor os frutos e rendimentos que obtiveram desde a data do
ato anulado até o dia da anulação, com o escopo de serem inclusos na nova
partilha. Ademais, independentemente de ser partilha extrajudicial ou judicial, em
havendo preterimento de herdeiro, está a partilha inquinada de nulidade
absoluta, e o sucessor prejudicado não está adstrito à ação de anulação,
condicionada a prazo de prescrição de dez anos. As inexatidões materiais, que
não afetem a partilha, atinentes à nomenclatura dos imóveis partilhados, menção
da área, designação de seu número etc., podem ser corrigidos a qualquer tempo,
bastando tão somente requerimento dos interessados.

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