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Manual do usuário: em caso de desespero ou falta de tempo, leia somente as respostas
das questões das aulas, que estão no final de cada aula.
1
Caderno formulado por Guilherme Antonio Gonçalves (13-189), nas aulas dadas pelo Prof. Roberto
Pfeiffer durante o segundo semestre de 2018.
2
“Cartilha do CADE”. Disponível em: <https://bit.ly/2EXtw7n>. Acessado em: 02 nov 2018.
1
“O artigo 170 também prevê punição para os atos praticados contra a ordem
econômica. Para o cumprimento destas regras constitucionais, é necessária a
existência de uma estrutura institucional capaz de fiscalizar a ordem econômica e
impedir as práticas anticoncorrenciais ou abusivas e para isso existe a Lei nº
12.529/11.
“Esta é a atual Lei de Defesa da Concorrência. Sua finalidade é a de prevenir
e reprimir as infrações contra a ordem econômica baseada na liberdade de iniciativa
e livre concorrência. Também reestrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência (SBDC), definindo seus órgãos integrantes e suas competências
dentro do contexto da defesa da concorrência. Entre outros pontos, esta Lei
estabelece a forma de implementação da política de concorrência no país, dispondo
sobre a competência dos órgãos encarregados de zelar pela prevenção e repressão
de abusos do poder econômico.”
Normalmente os mercados que atuam sob monopólio tem uma regulação mais
pesada. O setor de energia elétrica, que opera sob monopólio no Brasil, por exemplo, tem
regulação da ANEEL, que, inclusive, determina o preço das tarifas. É óbvio, se não existisse
2
regulação as empresas jogariam o preço lá pra cima e o consumidor não teria para onde
fugir.
A doutrina estrangeira usa muito essa expressão, “poder econômico” (market power).
A expressão mais usada na lei 12.529/2011 é “posição dominante”. Também é possível
encontrar autores que falam de um “poder de mercado”. A constituição, no art. 173, §4º3,
utiliza a expressão “poder econômico” e que o abuso do seu exercício deve ser punido. O
que isso significa? “Para que seja caracterizada a existência de poder de mercado faz-se
necessário proceder a uma análise complexa, que parte da existência de posição
dominante, mas envolve ainda a investigação de outras variáveis, tais como existência de
barreiras à entrada naquele mercado, a possibilidade de importações ou ainda a efetividade
de competição entre a empresa que tem posição dominante e seus concorrentes. Se,
mesmo tendo posição dominante em um mercado relevante, a decisão de elevação
unilateral de preços por parte de uma empresa puder ser contestada pela reação de
concorrentes efetivos ou potenciais, então essa empresa não possui poder de mercado”4.
3
CF. Art 173. (...) §4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos
mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
4
“Cartilha do CADE”, p. 9.
5
“Cartilha do CADE”, p. 9.
3
Aula 2 - 8 de agosto - Evolução histórica do direito concorrencial nos Estados Unidos
e na Europa
Forgioni indica que a maneira pela qual entendemos a concorrência nos dias de hoje
é muito associada ao sistema de produção capitalista e, por consequência, os sistemas de
proteção da concorrência que vemos hoje advêm da lógica e da dinâmica deste sistema de
produção.
6
O que são trustes? Truste é um ato jurídico por meio do qual uma pessoa entrega certa parte de seu
patrimônio para uma pessoa (o trustee) com determinada finalidade e se essa pessoa não cumprir
essa finalidade, o patrimônio pode ser restituído ao primeiro dono. É uma figura típica do commow
law, não sendo aplicável ao direito brasileiro.
4
O que se observou na segunda metade do século XIX nos Estados Unidos foi
uma típica concentração, com a diminuição do número de empresas e convergência
do poder em mão de poucos agentes econômicos, os trustes.
É nesse contexto que nasce o direito econômico, “o conjunto das técnicas jurídicas
de que lança mão o Estado contemporâneo na realização de sua política econômica”. Esses
instrumentos não somente viabilizam a existência do mercado, mas conduzem os agentes
econômicos para a consecução de determinados objetivos. O Estado atua sobre setores que
(i) os empresários não tinham interesse em atuar ou (ii) que devem ser assumidas pelo
Estado devido o “interesse nacional” ou “interesse público”.
5
com a construção da Comunidade Econômica Europeia, de 1957, por meio do Tratado de
Roma, os países europeus componentes tinham o principal objetivo de unificar os mercados,
propiciando a livre-circulação de mercadorias e de pessoas. Isso significa, portanto, que
deveriam existir mecanismos comuns e supranacionais para a defesa da concorrência. A
formação da CEE seguiu a perspectiva da concorrência-instrumento, pela qual esta não é
um valor em si, mas um meio privilegiado de se conseguir o equilíbrio econômico.
Tratado de Roma
Art. 2º. A Comunidade tem como missão, através da criação da um mercado comum e de
uma união económica e monetária e da aplicação das políticas ou acções comuns a que
se referem os artigos 3º e 4º (...).
Art 3°. 1. Para alcançar os fins enunciados no artigo 2.o, a acção da Comunidade implica,
nos termos do disposto e segundo o calendário previsto no presente Tratado:
a) A proibição entre os Estados-Membros, dos direitos aduaneiros e das restrições
quantitativas à entrada e à saída de mercadorias, bem como de quaisquer outras medidas
de efeito equivalente;
(...)
c) Um mercado interno caracterizado pela abolição, entre os Estados-Membros, dos
obstáculos à livre circulação de mercadorias, de pessoas, de serviços e de capitais;
(...)
g) Um regime que garanta que a concorrência não seja falseada no mercado interno;
(...)
TÍTULO VI - AS REGRAS COMUNS RELATIVAS À CONCORRÊNCIA, À FISCALIDADE
E À APROXIMAÇÃO DAS LEGISLAÇÕES
Artigo 81º. 1. São incompatíveis com o mercado comum e proibidos todos os acordos
entre empresas, todas as decisões de associações de empresas e todas as práticas
concertadas que sejam susceptíveis de afectar o comércio entre os Estados-Membros e
que tenham por objectivo ou efeito impedir, restringir ou falsear a concorrência no
mercado comum, designadamente as que consistam em: (...)
(...) → vem descrita uma série de elementos formadores do sistema europeu de defesa da
concorrência.
6
Questão. Q uais são os objetivos centrais da defesa da concorrência? Eles sempre
foram os mesmos ao longo da história e são os mesmos em todos os países?7
A concorrência, por definição, promove a sobrevivência do agente econômico mais
eficiente; elimina o clientelismo dos empresários que somente sobrevivem por conta de
protecionismos governamentais, muitas vezes estabelecidos em detrimento da população
(que deve pagar preço mais elevado por determinado produto ou serviço). Deixa livre o
caminho para que empresas melhores tomem o mercado, trazendo benefícios ao
consumidor.
Existem três passos principais da evolução, que resultam nos três principais
vetores do direito concorrencial: (i) a determinação de regras para o comportamento dos
agentes econômicos no mercado por razões absolutamente práticas, visando a resultados
eficazes e imediatos; (ii) a regulamentação do comportamento dos agentes econômicos
como corolário de um sistema de produção entendido como ótimo. A concorrência é vista
em seu sentido técnico, como correlata à própria estrutura do mercado. Sua disciplina visa
a proteger o mercado contra seus efeitos autodestrutivos; e (iii) a regulamentação da
concorrência na perspectiva não apenas como “essencial para a manutenção do sistema”,
mas também como mecanismo de implementação de políticas públicas (visa-se não
somente a manutenção, mas a condução do sistema por determinados caminhos).
Os objetivos da defesa da concorrência não foram os mesmos sempre e em todos
os países:
- Nos Estados Unidos, o Sherman Act e o Clayton Act f oram criados visando a
preservação das estruturas do mercado capitalista, que se baseia
fundamentalmente na perspectiva da concorrência.
- Na Europa, o sistema de defesa da concorrência Europeu foi criado mais tarde, em
1957, com a perspectiva da concorrência como uma política pública, ou seja, um
meio por meio do qual alcançar objetivos, no caso, a unificação do mercado dos
países da Comunidade Econômica Europeia.
- No Brasil, as primeiras legislações de defesa da concorrência não se preocupavam
especificamente com a concorrência, mas puniam os “crimes contra a economia
popular”, tendo uma perspectiva mais protetiva ao consumidor.
7
Bibliografia indicada para resposta: PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Defesa da
concorrência e bem-estar do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, pp. 98-130; e
FORGIONI, Paula A. Os Fundamentos do Antitruste. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, pp.
55-84.
7
As primeiras constituições tinham um espírito bastante liberal, as de 1824 e 1891 não
tinha nenhuma preocupação com o abuso do poder econômico. A constituição de 1934 tinha
também um cunho bastante liberal, mas demonstrou uma preocupação com o fomento à
economia popular, que se pode associar ao processo de industrialização do país e à política
nacionalista de Getúlio Vargas.
Foi na constituição de 1946 que foi feita a primeira referência à repressão ao abuso
do poder econômico, texto que foi mantido nas constituições seguintes. A legislação de
proteção da concorrência até então tinha âmbito somente criminal. Foi criada em 1962 uma
legislação muito boa de defesa da concorrência, muito inspirada no Sherman Act, que
somente não possui mecanismos de controle de concentrações, e cria o CADE.
Essa legislação de 1962 não foi muito aplicada, tanto por lobby das empresas no
governo, uma vez que nosso sistema sempre foi bastante concentrado, tanto pelos
interesses do Governo Militar em desenvolver os Planos Nacionais de Desenvolvimento
(PND), por meio do qual se entendia que grandes empresas seriam responsáveis pelo
desenvolvimento econômico, sejam estatais ou privadas (a edição de uma lei das S/A
também foi feita dentro dos PNDs).
Também temos que lembrar que a década de 1980 teve graves problemas com a
inflação, que bagunça demais a economia (você não consegue ficar comparando os preços,
porque eles mudam toda hora), e o governo, ao tentar controlar, ficava tabelando os preços,
o que é bastante prejudicial para a concorrência (parece muito um cartel, a dinâmica era
garantir a uniformização dos preços). Não havia nenhum interesse do governo em fazer com
que essa lei fosse aplicada e o CADE, por consequência, era muito precariamente
estruturado, não tinha verba, não tinha nem sede própria.
8
O argumento para a defesa do controle posterior era o medo de que isso paralizasse
o fluxo de relações econômicas. O controle posterior, entretanto, tem vários problemas:
ocorrência de gun jumping de modo que, se o CADE falasse que não poderia concentrar,
não se consegue reverter para um status s uperior; as empresas não cooperam para
apresentar informações ao CADE no controle posterior, porque a operação já foi feita; etc.
8
Bibliografia indicada para resposta: PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Defesa da
concorrência e bem-estar do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, pp. 27-40, 49-51 e
130-142; SCHUARTZ, Luis Fernando. A desconstitucionalização do Direito de defesa da
isponível em: <https://bit.ly/2CVmVrk>. Acessado em: 02 nov 2018.
concorrência. D
9
Manaus fere a neutralidade concorrencial? Não, existe uma igualdade de
tratamento a todas as empresas do mesmo segmento. O Estado elege
determinado segmento, confere benefícios a esse segmento e qualquer
empresa que estiver nesse segmento tem direito a eles. Pode-se também
justificar a ZFM pelo objetivo constitucional de redução das desigualdades
regionais.
ii. Empresas estatais que atuem em regime concorrencial também devem ser
tratadas em regime de igualdade. Ex: se o Estado dá algum benefício ao
Banco do Brasil, deve dar também para todos os outros bancos privados.
iii. É claro que isso pode ser deturpado. A atuação do BNDES nos últimos anos,
por exemplo, era, muitas vezes, anticoncorrencial, porque tomou uma série
de medidas concentracionistas e que privilegiava agentes econômicos
específicos. Os grandes beneficiários do BNDES foram o Eike Batista, que
faliu e tem grandes indícios de que praticou corrupção, a JBS, com muitas
operações de financiamento para comprar outras empresas, e a Oi, que tá
em recuperação judicial. É bastante questionável essa atuação do BNDES
(porque deu o empréstimo para x e não para y?).
iv. A constituição permite que exista o tratamento não-igualitário entre as
empresas, mas isso deve ser justificado com algum outro valor constitucional
(ex: beneficiar algum setor que tem impacto social, diminuir desigualdades
regionais, proteger o consumidor, etc).
9
Foi editada, inclusive, a Súmula Vinculante nº49, cujo texto é: “Ofende o princípio da livre
concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo
em determinada área.”
10
c. Fundamento de validade das normas de proteção da concorrência: as leis de defesa
da concorrência tem um fundamento de validade na norma constitucional, mesmo
que elas limitem a liberdade de concorrência (desde que seja de forma adequada,
necessária e razoável/proporcional). Ex: a norma que submete certas operações de
fusões e aquisições de agentes econômicos à aprovação do CADE realmente limita
a livre-concorrência, mas ela objetiva proteger a concorrência, pois a excessiva
concentração do mercado pode não ser benéfica para a realização desse valor e
para o funcionamento do mercado.
10
Bibliografia indicada para resposta: FORGIONI, Paula A. Os Fundamentos do Antitruste. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, pp. 196-237; GOMES, Carlos Jacques Vieira. Ordem Econômica
Constitucional e Direito Antitruste. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 2004, pp. 140-154. Foram indicados
dois casos julgados pelo CADE, a fusão da Matte Leão com a Coca Cola e a fusão da Solvay com a
Brasken.
11
Essa aula foi profundamente baseada na Cartilha do CADE (nota 1, 00. 8-11), em insights da minha
cabeça e na bibliografia indicada para a resposta da aula anterior (nota 9). Eu faltei nesse dia :)
11
O mercado relevante é uma metodologia utilizada para verificar se dois ou mais
agentes econômicos, ou seja, sujeitos que praticam atividades econômicas em mercado,
concorrem entre si. Também é uma forma pela qual se avalia a existência ou não de posição
dominante do agente econômico e, por consequência, a potencialidade dele exercê-la de
forma abusiva.
12
Percebam que o nível de concorrência entre o Princesinha e o Cultura não parece ser o mesmo
que existe entre esses dois e o Café Fazenda, justamente porque os produtos oferecidos pelo
Fazenda são “diferentes” são melhores (apesar dos três venderem pão de queijo, por exemplo, o pão
de queijo do Fazenda é melhor). A concorrência entre o Fazenda e o Cultura/Princesinha
aparentemente é menor no mercado de pão de queijo.
13
Imagina que o Alex Atala faça o trespasse de seu restaurante, o D.O.M, que fica no Jardins, o que
cria um dever de não concorrência para com o comprador (art. 1.147, do CC). Imagina que o Alex
Atala deseje abrir um novo restaurante no Pimentas, lá em Guarulhos, perto do aeroporto, longe pra
caramba. As pessoas se deslocariam até o “restaurante do Alex Atala”? Provavelmente sim, porque
as pessoas se disporiam a se deslocar mais pela qualidade do trabalho do Alex Atala. Mesmo que o
Alex Atala esteja bastante longe, em termos de distância, de seu antigo restaurante, ele continuaria
fazendo concorrência com ele em níveis de “dimensão geográfica” do mercado relevante. (Exemplo
dado pela Juliana Krueger em 2017).
12
i. Hábitos dos consumidores: o consumidor está disposto a se afastar do local
onde se encontra para adquirir outro produto ou serviço similar ou idêntico?
Isso só é definível em casa caso concreto.
ii. Incidência dos custos do transporte: os custos de transporte são um dos mais
influentes fatores para a determinação do mercado relevante geográfico.
14
Lei 12.529/11. Art. 36. (...) §2º Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo
de empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou
quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser
alterado pelo Cade para setores específicos da economia. (grifo)
13
Uma empresa com posição dominante não necessariamente tem poder de mercado.
O poder de mercado está baseado na capacidade de uma empresa aumentar preços sem
perder seus clientes, e a posição dominante não dá ao agente econômico, por si só, a
capacidade de aumento unilateral de preços. O poder de mercado depende da análise de
outras variáveis, tais como a de barreiras à entrada no mercado relevante, a possibilidade
de importações e a dinâmica concorrencial no mercado.
Na lei 12.529/11, é o art. 36 que estabelece quais são as infrações contra a ordem
econômica, ou seja, os atos sob qualquer forma que, independente de culpa, tenham por
objeto ou possam prejudicar a concorrência.
a. Qualquer ato que limite ou possa limitar a concorrência é considerado ilícito pela lei?
Não. A aplicação da legislação não é tão rígida. Muitas coisas praticadas pelos
agentes econômicos restringem a concorrência, mas não necessariamente vão
causar danos à concorrência (Exemplo: um contrato de distribuição com cláusula de
exclusividade é plenamente possível no ordenamento jurídico brasileiro). É nesse
sentido que, nos Estados Unidos, se desenvolveu o sistema da “regra da razão”.
ii. O sistema da regra da razão implica que somente serão ilícitos os atos que
restringirem de forma não-razoável a concorrência. Esses atos continuam
podem restringir a concorrência, entretanto não é presumido o dano que eles
causam, de modo que, para sancioná-los, é necessária a prova deste dano.
14
iii. A Forgioni indica que a regra da razão é uma “válvula de escape” do sistema
concorrencial, de modo que é possível ser ter condutas ou concentrações
que, de fato, restringem a concorrência, entretanto essa restrição é razoável.
O sistema fica menos rígido, isso significa que o mercado consegue ter maior
margem de atuação em seus negócios.
b. Quando uma conduta é considerada infração à ordem econômica? De acordo com o
artigo 36 da Lei 12.529/11, uma conduta é considerada infração à ordem econômica
quando sua adoção tem por objeto ou possa acarretar os seguintes efeitos, ainda
que só potencialmente: limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre
concorrência; aumentar arbitrariamente os lucros do agente econômico; dominar
mercado relevante de bens ou serviços; ou quando tal conduta significar que o
agente econômico está exercendo seu poder de mercado de forma abusiva.
O §3º, do art. 36, elenca uma lista exemplificativa das condutas que são
caracterizadas como infrações à ordem econômica, dentre as quais: a formação de
cartéis; a influência de condutas uniformes; a prática de preços predatórios; fixação
de preços para revenda; restrições territoriais e de base de clientes; acordos de
exclusividade; venda casada; abuso de posição dominante; etc.
15
Questão. O que caracteriza uma infração contra a ordem econômica? Em que
medida o cartel nela se enquadra?15
O art. 36, da lei 12.529/1, define como infração contra a ordem econômica “os
atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir (...)” a
limitação ou falseamento da livre iniciativa ou concorrência, a dominação de mercado
relevante específico, o aumento arbitrário de lucros e o exercício abusivo de posição
dominante. Não há necessidade de que esses atos que infrinjam a concorrência causem
dano, basta que eles tenham a potencialidade de causar o dano. A responsabilidade por
esses atos é objetiva, pois independe de culpa. (não sei muito bem o que falar nessa
questão, é algo meio “catadão” de tudo)
O cartel se caracteriza como uma infração contra a ordem econômica pois, por
natureza, se destina à eliminação da concorrência em determinado mercado relevante,
seja pelo preestabelecimento de preços, seja pela divisão de mercados entre os
concorrentes. Nesse sentido, são claros os efeitos que tais práticas podem causar,
podendo se enquadrar nos exemplos dados no §3º, do art. 36, como “I. acordar, combinar,
manipular ou ajustar com concorrente, sob qualquer forma: a) os preços de bens ou
serviços ofertados individualmente; b) a produção ou a comercialização de uma
quantidade restrita ou limitada de bens ou a prestação de um número, volume ou
frequência restrita ou limitada de serviços; c) a divisão de partes ou segmentos de um
mercado atual ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de
clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens ou
abstenção em licitação pública”.
15
Bibliografia indicada para a resposta: FORGIONI, Paula A. Os Fundamentos do Antitruste. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, pp. 130-145. Foi indicado também o acórdão e o voto do relator
do caso do “cartel dos vigilantes”, julgado pelo CADE.
16
elevação unilateral do poder de mercado. Deve-se analisar o caso concreto,
avaliando a razoabilidade da conduta da empresa e qual seu poder de mercado.
16
Foi indicado para a resposta o acórdão e o voto do julgamento feito pelo CADE sobre o programa
“Tô Contigo”. Veja: “CADE celebra acordo com pessoas físicas no caso Tô Contigo da Ambev”.
Disponível em: <https://bit.ly/2SHoT3X>. Acessado em: 02 nov 2018.
17
empresas envolvidas e pode ser caracterizada com infração à ordem econômica,
conforme o art. 36, da lei 12.429/2011.
O caso indicado na bibliografia (Processo Administrativo 08012.003805/2004-10) é
um julgado do CADE que condenou a AMBEV por infração à ordem econômica, uma vez
que a empresa possuía um programa de fidelidade chamado “Tô contigo” para oferecer
aos pontos de venda descontos e bonificações em troca de exclusividade ou redução na
comercialização de produtos concorrentes. A AMBEV possui posição dominante no
mercado de bebidas, conforme o art. 36, §2º, da lei de defesa da concorrência, e o
Conselho decidiu que a utilização do referido programa interfere grandemente no
funcionamento do mercado de bebidas.
São atos de concentração todas as hipóteses nas quais dois agentes econômicos
que, até então eram independentes, passam a ser um só agente econômico (descritos
especificamente no art. 90, da lei 12.529/1117). Nem todo ato de concentração, entretanto,
17
Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração quando:
I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem;
II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta de ações,
quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por
via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de uma ou outras empresas;
III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou
IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint venture.
Parágrafo único. Não serão considerados atos de concentração, para os efeitos do disposto no art.
88 desta Lei, os descritos no inciso IV do caput, quando destinados às licitações promovidas pela
administração pública direta e indireta e aos contratos delas decorrentes.
18
será analisado previamente pelo órgão de defesa da concorrência, devendo ser observados
alguns requisitos. Isso faz sentido porque: (i) o CADE teria que analisar muita coisa caso
todos os atos de concentração devessem ser analisados e isso de fato atrapalharia o fluxo
de relações econômicas; e (ii) exigir que todos os atos devam ser analisados não é razoável,
uma vez que o procedimento administrativo é caro (as taxas são relativamente altas, tem
que pagar advogado pra ir pra Brasília, etc) e a maioria dos atos de concentração não tem
potencial de afetar a concorrência de maneira significativa.
Esses níveis de faturamento indicados na lei não são, entretanto, aqueles operados
no CADE. A lei, no art. 88, §1º, permite que seja criada uma portaria interministerial dos
Ministros da Fazenda e da Justiça que altere esses valores. Por que fazer isso? A lei se
preocupa em ter critérios de adaptação, pois esses valores podem se mostrar, na prática,
muito altos ou muito baixos, ou mesmo sofrer com os efeitos da inflação e distorcer os
objetivos da lei.
Lei 12.529/11. Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de
concentração econômica em que, cumulativamente:
I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado, no último balanço,
faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais); e
II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registrado, no último balanço,
faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais).
§ 1o Os valores mencionados nos incisos I e II do caput deste artigo poderão ser adequados,
simultânea ou independentemente, por indicação do Plenário do Cade, por portaria interministerial
dos Ministros de Estado da Fazenda e da Justiça.
Portaria Interministerial 994. Art. 1º. Para os efeitos da submissão obrigatória de atos de
concentração a análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, conforme
previsto no art. 88 da Lei 12.529 de 30 de novembro de 2011, os valores mínimos de faturamento
bruto anual ou volume de negócios no país passam a ser de:
I - R$ 750.000.000,00 (setecentos e cinqüenta milhões de reais) para a hipótese prevista no inciso I
do art. 88, da Lei 12.529, de 2011; e
II - R$ 75.000.000,00 (setenta e cinco milhões de reais) para a hipótese prevista no inciso II do art.
88, da Lei 12.529 de 2011.
19
critério do faturamento pode ter problemas, pois não necessariamente somente
O
grandes empresas, com grandes faturamentos, que firmam atos de concentração podem
causar danos à concorrência. De fato, pequenas cidades podem ter mercados concentrados
nas mãos de um único agente econômico decorrente de ato de concentração, e esse agente
econômico muito provavelmente não vai ter faturamento de 400 milhões de reais, muito
menos de 750 milhões de reais.
A lei anterior utilizava uma regra que buscava cuidar desse problema: se o ato de
fusão ou aquisição acarretasse concentração de 20% ou mais do mercado nas mãos de um
agente econômico, este ato de concentração deveria ser apresentado ao CADE (art. 54, §§
3º, 4º e 5º, da Lei 8.884/94). Esse dispositivo foi revogado pela nova lei, não tendo
correspondente nos dias de hoje. Isso faz sentido?
18
Lei 12.529/11. Art. 88. §7º É facultado ao Cade, no prazo de 1 (um) ano a contar da respectiva
data de consumação, requerer a submissão dos atos de concentração que não se enquadrem no
disposto neste artigo.
20
O art. 90, da lei 12.529/11 (ver nota 9), apresenta o que se considera ato de
concentração para efeitos de análise do CADE. O inciso I apresenta o mais claro, que são
as fusões e aquisições de empresas, em que a estrutura de demanda e oferta de produtos e
serviços em mercado tende a mudar. O inciso II, por sua vez, apresenta a situação na qual
uma ou mais empresas adquire ativos e ações de outra empresa. O inciso III apresenta o
caso de empresas que se incorporam. O mais difícil é o inciso IV, que é a situação na qual
se celebra contratos entre empresas, aquelas que não são operações nitidamente
estruturais porque não acontecem por via societária, mas por via contratual (consórcio, joint
venture, etc). O CADE possui uma resolução específica sobre os contratos associativos, que
são, segundo seu art. 2º, aquelas nas quais empresas concorrentes se juntam para explorar
uma atividade econômica com compartilhamento de riscos e benefícios19.
A nova lei, lei 12.529/11, trabalha com a lógica do controle prévio dentro dos critérios
de faturamento, tentando tirar esses problemas específicos do problema posterior. Nessa
situação, o CADE consegue proibir ou aprovar com restrições de forma mais fácil, uma vez
que somente depois da decisão do Conselho que a operação pode ser feita.
O CADE tem prazo para fazer essa análise: de 240 dias contados a partir do
peticionamento do ato de concentração, prorrogáveis por mais 90 dias (art. 88, §§2º e 9°, da
lei 12.529/1120). Caso o Conselho não dê a decisão dentro deste prazo, a operação é
19
Resolução 17 do CADE, de 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2ERCdQK>. Acessado em: 02 nov
2018.
20
Lei 12.529/11. Art. 88. § 2o O controle dos atos de concentração de que trata o caput deste artigo
será prévio e realizado em, no máximo, 240 (duzentos e quarenta) dias, a contar do protocolo de
petição ou de sua emenda.
§ 9o O prazo mencionado no § 2o deste artigo somente poderá ser dilatado:
I - por até 60 (sessenta) dias, improrrogáveis, mediante requisição das partes envolvidas na
operação; ou
21
aprovada por decurso do prazo (isso nunca aconteceu, até porque os conselheiros levariam
uma ação de improbidade administrativa nas costas).
Para complementar o sistema do controle prévio, a lei estabelece uma sanção para
as empresas que consumam o ato de concentração, dentro das hipóteses de faturamento da
Portaria Interministerial 994/2012, antes de decisão do CADE no art. 88, §§3º e 4º, da lei
12.529/1121. A consumação total é mais fácil de ser detectada, mas o maior problema de
detecção na prática é o §4º, que estabelece a punição do Gun Jumping (queimar largada,
em inglês). A apreciação da “alteração das condições concorrenciais” gera bastante
insegurança, porque é uma análise muito casuística.
II - por até 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada do Tribunal, em que sejam
especificados as razões para a extensão, o prazo da prorrogação, que será não renovável, e as
providências cuja realização seja necessária para o julgamento do processo.
21
Lei 12.529/11. Art. 88. §3º Os atos que se subsumirem ao disposto no caput deste artigo não
podem ser consumados antes de apreciados, nos termos deste artigo e do procedimento previsto no
Capítulo II do Título VI desta Lei, sob pena de nulidade, sendo ainda imposta multa pecuniária, de
valor não inferior a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) nem superior a R$ 60.000.000,00 (sessenta
milhões de reais), a ser aplicada nos termos da regulamentação, sem prejuízo da abertura de
processo administrativo, nos termos do art. 69 desta Lei.
§ 4o Até a decisão final sobre a operação, deverão ser preservadas as condições de concorrência
entre as empresas envolvidas, sob pena de aplicação das sanções previstas no § 3o deste artigo.
22
Bibliografia indicada para resposta: CORDOVIL, Leonor et al. Nova lei de defesa da concorrência
comentada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, pp. 195-215.
23
O professor não deu especificamente exemplos de Gun Jumping, entretanto o CADE tem uma
publicação que descreve alguns exemplos desses atos, uma vez que a análise é casuística.
Recomendo fortemente a leitura da Seção I, que faz essa análise mais pormenorizada:
<https://bit.ly/2n8K68l>. Acessado em 25 out 2018
22
obrigação de submeterem previamente o ato de concentração à apreciação do CADE.
1. Definir o mercado relevante: é meio óbvio. Para ver qual o impacto da concentração
no mercado, é necessário visualizar se as empresas atuam no mesmo mercado e
como funciona este mercado.
24
Lei 12.529/11. Art. 88. (...) § 5o Serão proibidos os atos de concentração que impliquem
eliminação da concorrência em parte substancial de mercado relevante, que possam criar ou reforçar
uma posição dominante ou que possam resultar na dominação de mercado relevante de bens ou
serviços, ressalvado o disposto no § 6o deste artigo.
§ 6o Os atos a que se refere o § 5o deste artigo poderão ser autorizados, desde que sejam
observados os limites estritamente necessários para atingir os seguintes objetivos:
I - cumulada ou alternativamente:
a) aumentar a produtividade ou a competitividade;
b) melhorar a qualidade de bens ou serviços; ou
c) propiciar a eficiência e o desenvolvimento tecnológico ou econômico; e
II - sejam repassados aos consumidores parte relevante dos benefícios decorrentes.
25
Veja em: <https://bit.ly/2Kaeeys>. Acessado em: 25 out 2018
23
mercado e que, na prática, as empresas estrangeiras não tem uma presença
forte no Brasil no mercado relevante de produção da matéria prima PVC,
porque é caro importar, o que indica que o mercado estaria praticamente
monopolizado, correndo o risco de exercício abusivo de poder econômico e
elevação de preços26.
iii. Essas barreiras podem ser regulatórias (como no caso das barracas
do item acima), decorrerem da própria natureza do mercado (tem
26
“CADE reprova aquisição da Solvay pela Braskem”. Disponível em: <https://bit.ly/2qp95WV>.
Disponível em: 02 nov 2018.
27
O HHI é calculado com base no somatório do quadrado das participações de mercado de todas as
empresas de um dado mercado. O HHI pode chegar até 10.000 pontos, valor no qual há um
monopólio, ou seja, em que uma única empresa possua 100% do mercado. Quando maior o resultado
desse índice, maior é a concentração do mercado relevante analisado. Deus me livre.
24
mercados que não tem muitas empresas porque o investimento para
operacionalização é muito alto, como o ramo das telecomunicações,
de aviação civil), da tempestividade (a concorrência de alguns
mercados demora muito pra ser feito, como nas indústrias
petroquímicas, em que demora anos para se fazer a concorrência,
comprar o terreno, ter licença de construção, montar o parque
industrial, desenvolver produto, contratar mão de obra especializada,
etc., e durante todo esse tempo a outra empresa que atua sozinha
teve oportunidade de abusar do poder econômico que obteve com a
concentração).
iv. Pode ser que, mesmo que realmente a operação concentre muito o
mercado, a demanda pelo produto seja tão alta, que existe um
incentivo muito grande para que outros agentes econômicos ofereçam
concorrência à empresa que tem o mercado concentrado em suas
mãos. A análise é bastante casuística, vai depender muito do mercado
relevante, do grau de concentração e das barreiras à entrada e saída
desse mercado.
25
porque ele se torna mais eficiente. É nesse sentido que caminha o art. 88,
§6º, da lei 12.529/11, de modo que, se essa concentração trouxer mais
eficiência e ela for repassada ao consumidor, ela pode ser aprovada (sempre
vai depender do caso concreto).
26
estritamente necessários para atingir os seguintes objetivos: I - cumulada ou
alternativamente: a) aumentar a produtividade ou a competitividade; b) melhorar a
qualidade de bens ou serviços; ou c) propiciar a eficiência e o desenvolvimento
tecnológico ou econômico; e II - sejam repassados aos consumidores parte relevante dos
benefícios decorrentes”.
Na situação concreta, a diminuição do preço do produto oferecido pelas empresas
é, de fato, o principal critério para análise da eficiência, entretanto não é o único, como
estabelecido no §6º. Se se demonstrar que, no caso concreto, esses outros critérios de
análise compensam o aumento do preço, o CADE pode aprovar o ato de concentração.
Nós vimos que nem todo ato de concentração que cause uma concentração
expressiva do mercado relevante será reprovado pelo CADE, e isso acontecerá quando as
partes provem que a operação dá alguma eficiência ao funcionamento do mercado que
poderá ser aproveitada pelo consumidor. São diversas variáveis que indicam o aumento da
eficiência, a principal é a diminuição do preço, mas não necessariamente só ele conta.
Não é qualquer eficiência, ela precisa atender a dois requisitos. Primeiro, essa
eficiência precisa decorrer necessariamente da operação de concentração e que,
principalmente, não seria possível alcançar esse nível de eficiência caso ela não se
realizasse pois, caso contrário, haveria meios menos gravosos para a sociedade e para a
concorrência para alcançar a mesma eficiência. Em segundo lugar, é necessário também
provar que essa eficiência vai repassar para benefícios ao consumidor e para a sociedade.
Pode ser pela diminuição do preço do produto, mas também pode ser para o aumento da
qualidade do produto.
Depois da análise do CADE, o que ele faz? Ele pode (i) aprovar o ato de
concentração sem restrições, que é o que acontece em 95% dos casos, porque a maioria
das operações não é complexa e não causa efeitos concorrenciais grandes, não sendo
necessário comprovar nenhuma eficiência, portanto; ele pode (ii) reprovar o ato de
concentração, o que não impede que as empresas apresentem a operação demonstrando
que superaram as deficiências do ato anterior; ou, por fim, ele pode (iii) aprovar
condicionando a um “Acordo em Controle de Concentração”, um ACC.
Por meio do ACC, o CADE vai aplicar remédios estruturais ou comportamentais para
condicionar a aprovação do ato de concentração. O ACC só é apresentado nas situações
em que a empresa não conseguiu demonstrar a eficiência que o ato de concentração
poderia gerar.
27
alienadas algumas marcas de bombom, o que ainda não foi feito28), alienação de fórmula,
proibição de utilização de marca durante certo período de tempo (Caso da Kolynos, marca
de pasta de dente comprada pelo grupo Colgate-Palmolive em 1996, o CADE percebeu que
a operação concentraria o mercado de higiene bucal brasileiro em 52%, e condicionou a
aprovação do ato de concentração à proibição do uso da marca kolynos durante certo
período de tempo, para que outras marcas pudessem disputar nesse mercado29), etc.
Os remédios comportamentais, por sua vez, são aqueles nos quais o CADE
condiciona condutas à empresa na sua gestão (ex: não pode aumentar o preço neste
período x de tempo; a inovação prometida durante o processo administrativo no CADE
precisa ser demonstrada por meio de relatórios posteriores à fusão; publicidade e
transparência na política comercial da empresa concentrada).
28
Ver, abaixo, descrição do caso Nestlé/Garoto.
29
SALGADO, Helena Lucia. O Caso Kolynos-Colgate e a Introdução da Economia Antitruste na
Experiência Brasileira. Disponível em: <https://bit.ly/2JFgMkF>. Acessado em: 02 nov 2018.
28
produtora de isotônicos, mas provavelmente ela não vai conseguir
fazer frente à Gatorade e à Marathon, que já são muito fortes nesse
mercado e tem uma reputação muito bem estabelecida entre os
consumidores.
30
GUERRIERO, Ian Ramalho. O caso Nestlé-Garoto e reflexões para o uso de modelos de simulação
na análise antitruste. pp. 6-7 e 13-15. Disponível em: <https://bit.ly/2AHOseo>. Acessado em: 02 nov
2018.
31
Para mais detalhes sobre a situação do caso hoje, veja: VALENTE, Gabriela Freire. Caso
Nestlé-Garoto pressiona CADE por resposta ao descumprimento de acordo. Disponível em:
<https://bit.ly/2DfVo57>. Acessado em: 02 nov 2018.
29
efeito portfólio, que é a situação na qual forma-se uma nova empresa com
uma gama de produtos tão diversificada que o consumidor consegue pegar
todos os produtos com um só fornecedor. A posição dominante da empresa
não é gerada, nesse caso, pela concentração do mercado que a operação
causa, mas porque se consegue comprar quase tudo relacionado à uma
atividade, como a do agronegócio, com uma única empresa (a semente, o
agrotóxico, o fertilizante, o pesticida… tudo viria da mesma empresa)32.
Questão. Duas empresas formam um consórcio para disputar uma licitação que
versa sobre a concessão de estrada de rodagem federal. Deverão apresentar a
formatação do consórcio ao CADE?34
32
“Cade aprova com restrições a aquisição da Monsanto pela Bayer”. Disponível em:
<https://bit.ly/2EMxE6o>. Acessado em: 02 nov 2018.
33
“Compra da Alesat pela Ipiranga é vetada pelo CADE”. Disponível em: <https://bit.ly/2JynxEN>.
Acessado em: 02 nov 2018.
34
Foi indicado, para auxiliar a resposta, o acórdão produzido pelo CADE na apreciação do caso de
concentração da Ipiranga com a Alesat. O “acórdão” compreende o relatório (disponível em:
<https://bit.ly/2PET1hO>), e os votos de cada conselheiro (disponíveis em: <https://bit.ly/2Qd84fG>,
<https://bit.ly/2JzqPYm>, <https://bit.ly/2yMoLrU>, <https://bit.ly/2AIFyNH>, <https://bit.ly/2SIzf3w>,
todos acessados em 02 nov 2018).
30
Não, as empresas não deverão apresentar o ato de concentração referido à
apreciação do CADE, por força do estabelecido no art. 90, parágrafo único, da lei
12.529/11.
O art. 88, da lei 12.529/11, estabelece quais são os atos de concentração
econômica que devem ser obrigatoriamente submetidos à apreciação prévia do CADE
para terem plena eficácia. O art. 90, por sua vez, exemplifica quais são as situações em
que se configuram atos de concentração, dentre os quais, no seu inciso IV, realizam ato
de concentração quando “duas ou mais empresas celebram contrato associativo,
consórcio ou joint venture” .
A Resolução 17 do CADE, de 2016, regulamenta as hipóteses nas quais tais
contratos associativos devem ser submetidos à análise prévia do CADE, estabelecendo
três requisitos para tal: (i) que o contrato tenha duração igual ou superior à 2 anos; (ii) que
o contrato estabeleça o compartilhamento de riscos e resultados da atividade econômica
que constitua o seu objeto; e (iii) que as partes contratantes sejam concorrentes no
mercado relevante objeto do contrato.
A situação descrita no caso concreto, entretanto, corresponde à prescrição do
parágrafo único do art. 90, da lei 12.529/11, segundo o qual “[n]ão serão considerados
atos de concentração, para os efeitos do disposto no art. 88 desta Lei, os descritos no
inciso IV do caput, quando destinados às licitações promovidas pela administração pública
direta e indireta e aos contratos delas decorrentes”. Isso significa, portanto, que as
empresas descritas no caso não precisarão apresentar pedido de avaliação do CADE
para aprovar o consórcio formado para disputarem a referida licitação sobre a concessão
de estrada.
Tal disposição da lei 12.529/11, que isenta as empresas que celebram contratos
associativos para participarem de licitações públicas, parece atribuir aos mecanismos da
atual lei de licitações e contratos administrativos, a lei 8.666/93, o controle sobre
potenciais fraudes ou atos ofensivos à concorrência. Tal dispositivo também dá maior
segurança jurídica aos empresários que realizam contratos associativos para participarem
de licitações, uma vez que, na vigência da legislação anterior, não havia previsão
específica se essa modalidade de contrato associativo, para essa finalidade, deveria ou
não ser apreciada pelo CADE.
31
É por isso que a legislação concorrencial aplica um segundo critério, que é o de
geração de efeitos, ou seja, atos produzidos fora do território brasileiro, mas que possam
produzir efeitos no território brasileiro, podem ser apreciados pelas autoridades competentes
brasileiras, no caso o CADE. Aplicando-se o critério dos efeitos, várias autoridades
defensoras da concorrência poderão analisar um mesmo ato.
Lei 12.529/11. Art. 2o Aplica-se esta Lei, sem prejuízo de convenções e tratados de que seja
signatário o Brasil, às práticas cometidas no todo ou em parte no território nacional ou que nele
produzam ou possam produzir efeitos. (grifei)
§ 1o Reputa-se domiciliada no território nacional a empresa estrangeira que opere ou tenha no
Brasil filial, agência, sucursal, escritório, estabelecimento, agente ou representante.
§ 2o A empresa estrangeira será notificada e intimada de todos os atos processuais previstos
nesta Lei, independentemente de procuração ou de disposição contratual ou estatutária, na pessoa
do agente ou representante ou pessoa responsável por sua filial, agência, sucursal,
estabelecimento ou escritório instalado no Brasil.
Isso significa, portanto, que as decisões dessas autoridades são endereçadas para o
mercado de seu país, e as características de país para país podem variar. Se um ato de
concentração no Brasil é proibido e o mesmo ato de concentração é permitido na União
Europeia não há problema algum, porque cada operação analisa os impactos no território
nacional, e esses efeitos, apesar do ato de concentração ser o mesmo, podem ser
diferentes em diferentes regiões do mundo.
35
Os Estados Unidos adotam um terceiro critério, o da nacionalidade: a autoridade americana é
competente para analisar os atos praticados pelas empresas americanas, ainda que não gerem
efeitos no território americanos. É um critério bastante invasivo, e não é muito utlizado.
32
bilhões de euros, por abuso de posição dominante36. O Google recorreu dessa decisão, que
foi dada em âmbito administrativo, e hoje esse processo está na Corte de Justiça da União
Europeia.
- Cartel
O Cartel não é criminalizado na Europa, mas é nos Estados Unidos, assim como no
Brasil. É muito difícil provar a existência de um cartel, porque as técnicas pelas quais eles
atuam são cada vez mais sofisticadas. Nos últimos anos a condenação por cartéis
aumentou substancialmente no mundo pela utilização dos acordos de leniência, que é o
irmão das delações premiadas mas sobre assuntos concorrenciais.
36
“Google é multado em quase R$9 bi na Europa por favorecer serviço próprio”. Disponível em:
<https://bit.ly/2JAnQib>. Acessado em: 02 nov 2018.
37
Foram indicados, para a resposta, o voto do relator no caso do Cartel das Vitaminas. Disponível
em: <https://bit.ly/2zpGvsn>, às pp. 166-187, do PDF. Acessado em: 02 nov 2018.
38
O professor não deu o conteúdo desse item em aula, então me baseio na bibliografia indicada na
aula para expor o conteúdo.
33
O dever de reparação dos danos decorrentes da conduta ilícita decorre da regra
geral estabelecida pelo art. 927, do Código Civil39. A lei 12.529/11, no art. 36, estabelece
ainda que a responsabilidade é objetiva, pois independe de culpa daquele que pratica o ato
ilícito. Segue-se, para a responsabilização, o roteiro de análise da responsabilidade civil: (i)
necessidade de se demonstrar o dano; (ii) demonstração da conduta; e (iii) demonstração do
nexo de causalidade entre a conduta e o dano.
É possível pedir a reparação dos danos por via de ações individuais, que são pouco
efetivas e caras, e as ações coletivas, mais adequadas para as questões concorrenciais, em
que se verifica a existência de direitos individuais homogêneos, notadamente, os dos
consumidores lesados pela conduta anticoncorrencial.
A condenação pelo CADE cumulada com uma condenação pelo poder judiciário não
Não, a finalidade das condenações é distinta. Enquanto que a
configuraria bis in idem?
condenação do CADE visa, principalmente, punir a prática de condutas que são
39
CC. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
40
CPC. Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização
assemblear. (...)
34
anticoncorrenciais, a condenação judicial visa reparar os danos que essas condutas
ocasionaram.
Todas essas ideias neoliberais são postas em cheque a partir de 2008, com a crise
dos derivativos, que começou nos Estados Unidos. Uma das causas dessa crise é a
baixíssima regulamentação da concessão de empréstimo e de avaliação de crédito.
Volta-se, novamente, para um receituário de maior intervenção estatal, com maior
regulamentação e o Estado assumindo para si certas atividades econômicas (nos Estados
Unidos, por exemplo, o Estado tomou o controle de alguns bancos para que não
quebrassem).
35
uma série de atividades que são caracterizadas como serviços públicos e que deveriam ser
prestadas exclusivamente pelo Estado (ex: energia elétrica, gás canalizado,
telecomunicações).
Na década de 1990 vão ser feitas uma série de emendas constitucionais que
flexibilizam esse regime de intervenção estatal, permitindo que a iniciativa privada atue em
uma série de setores (ex: permissão que empresas privadas atuem no mercado do petróleo,
no setor de telefonia, de gás encanado, etc).
Hoje em dia o neoliberalismo tem sérias críticas e tá meio pra baixo, da mesma
forma que um intervencionismo maior, como víamos em meados do século XX, não parece
tão influente. Várias correntes econômicas não ligam muito mais para a presença do Estado,
tal como a perspectiva da economia comportamental, que está tomando muito espaço nos
últimos tempos, a economia sustentável e a economia da internet.
- Modalidades de intervenção
II. intervenção indireta, aquela na qual o Estado não executa a atividade, mas edita
normas que regulamentam a atividade.
O Eros Grau tem uma distinção que é própria de sua teoria, e que influenciou
grandemente a doutrina brasileira, que trata sobre a intervenção direta. Ele entende que a
atividade econômica é um gênero do qual existem duas espécies:
36
(i) a atividade econômica em sentido estrito, aquela atividade que não é uma
atribuição do Estado a execução, e nessa situação, a atuação do Estado significa
intervenção em um domínio que não lhe é próprio41; e
(ii) os serviços públicos, que são aquelas atividades econômicas que devem ser
obrigatoriamente prestadas pelo Estado, seja diretamente, seja em regime de
concessão ou autorização.
41
É nessa situação que encontramos o disposto no art. 173, da CF, segundo o qual “[r]essalvados os
casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo,
conforme definidos em lei” .
42
Foram indicados para a resposta a leitura do Agravo de Instrumento n. 2000707-12.2015.8.26.0000
– TJ/SP e Medida Cautelar n. 24.408 - SP (2015/0133626-1) – STJ, que tratam sobre o cartel dos
compressores, e a ação n. 0002983-48.2012.4.03.6105 – Justiça Federal em Campinas/SP, que trata
sobre o cartel dos gases.
37
condutas anticoncorrenciais estabelecido no art. 36, §3º, da lei 12.529/11, encontramos no
inciso III como prática anticoncorrencial “limitar ou impedir o acesso de novas empresas
ao mercado”. Essa cláusula de exclusividade tem potencial de produzir essas
consequências, de modo que, aparentemente, configura-se o ilícito que gera o dever de
ressarcimento.
É nesse sentido que os §§1º e 2º, do art. 173, estabelecem, respectivamente, que
essas empresas públicas que exercem atividade econômica em sentido estrito se sujeitam
ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações
civis, trabalhistas, comerciais e tributárias, e que não são extensíveis às empresas estatais
(públicas ou de economia mista) os benefícios fiscais que não são aplicáveis ao setor
privado. A ideia é dar igualdade de condições em nível de concorrência.
Se o Estado exerce um serviço público por meio de uma empresa estatal, essa
empresa poderá ter um regime diferenciado e, por isso, a ela serão atribuídos determinados
benefícios fiscais que não são extensíveis às empresas privadas que atuam no mesmo
mercado (ex: imunidade tributária recíproca da administração direta e indireta da União, dos
Estados e dos municípios).
38
ideia é que o mercado, pela força da concorrência, resolve os eventuais problemas que vão
surgindo.
b. Autorização constitucional
CF. Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na
forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o
setor público e indicativo para o setor privado.
43
O mercado não vai resolver essa situação sozinho, porque os intrumentos de resolução dos
problemas no mercado são os contratos. Como fazer um contrato com o poluidor obrigando-o a parar
de poluir? Não tem como. É necessário o Estado falando que existe o dever de indenizar e, além
disso, os órgãos ambientais.
39
Na posição do autor, portanto, a possibilidade do Estado de Alagoas atuar no
refino e venda do açúcar existe, tendo em vista os critérios constitucionais que autorizam
a atuação estatal no setor econômico. Acho contestável tal posicionamento, uma vez que
isso tem efeitos concorrenciais muito severos na indústria de açúcar, interferindo na livre
iniciativa na entrada deste mercado relevante, e não vejo o Estado autorizado a atuar no
setor.
O texto constitucional é, de fato, bastante aberto: o seu art. 173 define que
“ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei”. É
necessário se defender se a atividade econômica que o Estado de Alagoas pretende
realizar se enquadra nos permissivos constitucionais, o que, aparentemente, não é
possível na situação descrita.
Quanto à tributação citada, ela não é possível, por expressa vedação
constitucional. O art. 150, VI, a, da Constituição, estabelece que “sem prejuízo de outras
garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios: (...) instituir impostos sobre: (...) patrimônio, renda ou serviços, uns dos
outros”, acrescentando o §2º, do mesmo artigo, segundo o qual esse dispositivo também
se aplica à administração indireta. A ECT, ao prestar serviço público de correios e fazendo
parte da administração indireta da União, pois funciona sob a forma de empresa pública,
goza da imunidade tributária recíproca, portanto, não pode estar sujeita ao IPVA que
pretende cobrar o Estado de Alagoas.
- Agências reguladoras
A agências reguladoras são autarquias em regime especial que possuem uma série
de prerrogativas específicas. Busca-se que as agências atuem com relativa independência
em relação ao governo, aos agentes regulados e aos usuários. Seus dirigentes são
nomeados pelo chefe do executivo, com aprovação do legislativo, e as decisões são
colegiadas.
- Objetivos da regulação
40
de se fazer leis é muito demorado e, muitas vezes, o legislador não possui a expertise
técnica necessária para emitir uma regulação sobre um mercado específico.
A agência reguladora deve atuar, portanto, segundo dois critérios específicos: (i) ne
ultra vires procedatur, o poder outorgado a uma agência reguladora para fazer normas não
se estende para além da autoridade concedida pela respectiva lei delegante; e (ii)
razoabilidade, que se afere na medida em que esteja coerentemente relacionada com as
finalidades da legislação “autorizativa”, havendo uma “conexão racional entre os fatos a
serem regulados e a escolha feita”.
O CADE é uma autarquia composta pela Secretaria Geral (SG), pelo Tribunal do
CADE e pelo Departamento de Estudos Econômicos (DEE). A SG tem um papel instrutório
dos processos administrativos, manda ofícios para o mercado, faz análises econômicas para
os controles de concentração. Só vai para o Tribunal do CADE os atos mais complexos e o
julgamento dos processos administrativos. Os atos de concentração mais simples não são
analisados pelo Tribunal, mas diretamente pela SG. O Tribunal só decide, ele não participa
da instrução processual e nem faz as análises econômicas sobre os atos de concentração
que julga. O DEE é o órgão que faz pareceres nas operações de controle mais complexas.
41
Qual a relação entre as agências reguladoras e o CADE? Existe um aparente conflito
de competências, porque a matéria concorrencial pode se sobrepor dentro das
competências setoriais das agências reguladoras. Se há uma prática anticoncorrencial no
mercado de petróleo, quem é competente para julgar, o CADE ou a ANP?
Questão. O fato de uma sociedade empresária ser objeto de regulação efetivada por
agência específica confere isenção para sanção por condutas anticoncorrenciais
pelo CADE?
Não deu tempo, sorry :/
Comentário sobre a prova: foi muito tranquila. Foram duas questões: a primeira era algo
como “atos de concentração que concentrem o mercado relevante devem sempre ser
proibidos pelo CADE?”, o que é respondido pelo conteúdo da aula 09; a segunda questão
perguntava “é constitucional lei municipal que estabeleça distância mínima entre
estabelecimentos veterinários?”, respondida pelo conteúdo da aula 04.
44
No começo desse ano, 2018, foi firmado um Memorando de Entendimentos entre o CADE e o
BACEN para resolver esse conflito aparente de competências, estipulando-se as situações nas quais
um órgão deve chamar o outro em suas análises de concentração. Sobre: “CADE e BACEN assinam
memorando de entendimentos”. Disponível em: <https://bit.ly/2SVgYAa>. Acessado em: 8 nov 2018.
45
Exemplo de um caso hipotético tratando sobre a concentração de bancos: talvez a pulverização do
mercado bancário seja algo benéfico para o consumidor, pois cria maior concorrência entre os bancos
e possibilita a melhora da eficiência com a diminuição do preço dos produtos, e essa é uma
perspectiva do direito concorrencial; no âmbito da higidez do mercado financeiro, a pulverização pode
ser catastrófica, porque esse novo banco pode não ter lastro, por exemplo, e, caso quebre, afeta
sistematicamente toda a economia (aparentemente o mercado financeiro brasileiro é naturalmente
mais concentrado). O CADE e o BACEN possuem expertises diferentes que devem trabalhar
conjuntamente, é necessário um diálogo entre as autoridades.
42