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Parte

Educação não é priuilégio

(r)
1 - Educação para a formação "comum" do homem
Na análise da situação educacional brasileira,(2) desejaria
mostrar, tão imparcial e objetivamente quanto possível, o de-
senvolvimento da escola brasileira à luz dos conceitos e das
forças que nela a.tuaram.
Tratando-se de instituição que corporifica idéias e aspira-
çóes sociais, é imprescindível certa precisão em caracterizar
tais conceitos e ideais, a fim de evitar as inúteis e e§téreis con-
fusóes, tão comuns em nossas controvérsias, nas quais diferenças
de pontos de partida e diferenças de conceituaçáo geralmente
impedem qualquer entendimento comum do problema e' por-
tanto, qualquer progresso útil no esclarecimento da solução
aceitável pelos participantes do debate.
Preliminar indispensável à fixaçáo de um ponto de partida
comum é o exame da educação escolar antes de se estabelecerem
as aspiraçóes modernas da escola universal para todcls, procla-
madas, tão ruidosamente, na Convenção Revolucionária
Francesa, como um novo estágio da humanidade. Antes desse
I t ,tr, .,1q, ,\r I 11111) lt I,tUVIl.tlt(:l()
EoucnçÁo NÁtl É PRrvrr-r'rcr()
l,, l,rtlo, t()(lrt c(luc:rção escolar consi
r

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.r i t: r,,,, lista escola formava a inteligência, mas não formava o intelcc-
I
1 i,,, íir,.lrr aç ão j á fo r a ft ,r"
rr rr

1,t'l.r "«l;rssc', a que pertencia, nas tual. O intelectual seria uma das especialidades de que a educação
rrr,ris tlrrc tipo.s de ofícios "rtár.r.ol"r.;,;;.;;.**
int.l".turi, posterior iria cuidar, mas que não constitui objeto dessa escola
e sociais.
A sor.icclacle formava os homens de formação comum a ser, então, inaugurada. Por outro lado,
nas próprias matrizes está_
vr'is rlu.s "classe.s,, senão .,castrr,,, além dessa total inovação, que representava a escola para todos,
l.r.ti,rriçá", q.,;-;;;;O;."_
viun :r Íàntília e a religião, a própria educaçáo escolar tradicional ao tempo existente
com as suas torças modeladoras - -
:rrl;r,racloras. Formandã
assim o h;_;:;. ,"" J::"i::::1,
e teria de se transformar para atender à multiplicidade de voca-
cs1,ccíficas, relacionadas çóes, ofícios e profissóes em que a nascente sociedade liberal e
rlilcta na vida comum, ou,
com o âT;:lTff[Ii: ,.J;ii;: lj progressiva começou a desdobrar-se.
no caso de
rrresrre . ,pr."au no, regime
rl<'>
nrrttrri; il[:Tlt!;i.i:
A escola 2 - Resistência do conceito de "educação-seleção"
e a universidade eram,
apenas, aspecros rnais amplos ou "especializaçáo"
tlt.ssir especialização do artesanat", .t r."_.rrres e
rl., t'rn comum, nas alunos yiven_ Estes novos conceitos e aspiraçóes não se concretizaram
corporações universitárias,
em regime imediatamente. Os moldes antigos eram resistentes e todo o
associ,an a,, p.q;;;,, e
;::,1,:i:l,rt,agem grandes in,._
",,., século dezenove foi uma luta por técnicas e processos novos,
(]uando, na Convenção que permitissem a plena realização dos ideais escolares da
Francesa, se formulou o
trrrr,r eclucação escolar ideal de democracia. Só muito lentamente é que a escola Çomum se
para todos os ciladáor, ,rao
lirrrto enr uniyersalizar a escola ,";;rr;" emancipou dos modelos intelectualistas para dar lugar à escola
existente, mas em uma nova
rorrccl;ção de sociedade- moderna, prática e eficiente, com um programa de atividades
em que privildgios de classe,
rrhciro c cle herança não de di_ e não de "matérias", iniciadora nas artes do trabalho e do
lrtlsr''tr llcla escola, a sua "*irtirs.m, e o indivíduo pudesse pensamento reflexivo, ensinando o aluno a viver inteligente-
posição na vida social. Desde
q«r, 1rois, a escola universal o come_ mente e a participar responsavelmente da sua sociedade.
era algo de novo e, na realidade,
trrrr;r irr.s(.iruição que, a A nova escola comum, antes de mais nada, teve de lutar para
despeito aJA*iti", da classe
gi;io, viri;r:r rlar a cada individuo e da reli- fugir aos métodos já consagrados da escola antiga, que, sendo
oforrunidade de ser na
s.t j1'.1.,.1.., ,r,1rrilo que seus "
dores inator, especial e especializante, especializara os seus processos e fizera
volvirl<,.r,,1..,..,.,,,i,,arrem. d.ujdrmente desen-
da cultura escolar uma cultura peculiar e segregada.
I)t'stt.rrro«lo, rr educação.escolar  escola antiga era, com efeito, a oficina que preparava os
passou a visar _ não
cspct.irrliz:rç.jio rlt, ;rlguns indivíduos à escolásticos, isto é, homens de escola, homens eruditos, intelec-
-_
rrttt»t rlrt 1,,,,,,,,,,, n:r,,,;",.::lil,Lll^:-:" à formação co- tuais, críticos... Objetivos, métodos, processos, rudo passou
.il.J':::,:ff
.,,,r"" ;,ii;.il:::.fi nela a ser algo de muito especializado e, portanto, remoto,
;:H: lill.] :ffi:,Í:r: alheio à vida quotidiana e indiferente às necessidades comuns
Há, anrcs rlc ttrrlt tltrl:r transforrrração dos homens. Daí a pedagogia, os pedagogos, os didatas, gente
criação 6a de conceito' com a de ofícios rebarbativos, que só eles entendiam e eles só culti-
,,va ..r.,,1"
vavam. Movendo-se num círculo vicioso, essa raça de pedagogos
",ir;; ;;;;,i,:' ili' ?:,f :1 :",1"j';:,,$ffi:TJfi
to d as as p
e carárer' hábitos crc pc'sar',
dc agir e de conviver socialmente.
Í: não se preocupava senáo em passar adiante as mesmas coisas e
os mesmos processos que, desse modo repetidos noutras escolas,

40 4t
I r,r rr r,. \r r p1,1, | Í I,tUV|I fi(it()
\ | EL)UCAq:ÃO NÃC) r, r',R.lvrr-ri(;t()

"' 'i'r"'i r\"rv,rrr crrr lrcnefJcio da sociedade tradicional. Essa


(

"''.l r t'rrr"tlillrutr;r c'r si rnesma, ensinando e praticando artes ,'ttebcleceu em oposiçáo à fórmula grega de dualismo entre o
' ""'l''' r t P..rrrrzilrclo sem cessar outras escoras, era a escola-
rlcional e o empírico. O racional foi submetido à comprovaçãcr
, (,rl)r,1.r,,.r,, ,lrr Irlacle Média, destinada a formar,,"..olarriaorl, ,l'r cxperiência. e se fez, na realidade, empírico. Efetivamente, as
,1,, r11,.,,11;,, rrr.tlo pclo qual
as oficinas das artes práticas foarn*_ rliFcrenças entre o experimental e o empírico passaram a ser
\.rtn ():, tt'rrs "oÍici:ris,', alfaiates, sapateiros lntes de precisão de mérodos, segurança de observaçáo e de
etc.
I ,rl .r-g:rniz.açiro não poderia controle na verificação, do que cle objeto or.r de natureza. Na
existir sem uma alta especiali-
,.r,,,r,,,l«.conceiros a respeito de realidade, a diferença passou a ser antes de grau de segurança
artes práticas e artes esco_
1.r,.., ,,rr irrtclccruais. Na realidade, preralecia o dunlir*o gó no conhecimento do que de natureza do conhecimento.
(.rr(.() r,rrrhcci rnento empírico ou prático Cotr efeito, o dualismo instituído pelos gregos criara entre
e o conheci;.rr;"
r,rr i.rr:rl. Ilstc não seria o conhecinrento racional e o conhecirnento empírico urn abis-
uma decorrência daquele, *", u_ ot.r_
rr. lrurrtl,r, crn que o ato de conhecer valia rno inrransponível. O velho conhecimento do senso comum, de
como fi_ arrr ri
r'( 1'l,,() r' .sc clesrinava a nos dignificar natureza empírica, dominava o mundo das artes, e o conheci-
e dar-nos os deleites da
,,,1.r,.s1rir-itrral. ffrento racional o mundo <lo espírito. Tínhamos, assim, um
r\ t.sr.lrr .r-. a oficina do conhecirnento
racional. A oficina
duplo sistema: o conheçirnento ernpírico produzia as artes
i r.r .r (..\('()l:r cio cor.rhecimento empíricas, com que resolvia o homem os seus problemas prá-
prático. Uma não .orrh.cia a
(,rrr.r. I).is r,u.cios à parre. podiam ricos; o conhecimento racional o conduzia ao mundo das
se admirar o,,,. oiir.l
rr.r., rr.r() .\c compreendiam nern essências, em que aplacava a sua sede de cornpreensáo e coe-
podiam se compreender.
r\ .rProxirrruçho entre esses dois mundos, rência. Pelo conhecimento empírico, agia; pelo conhecimento
com a transfbrma_
,,.r() (1rrr)l)l(.rrr cle um e racional, pacificava-se, deleitava-se" No fundo, o conhecimento
outro, dá-se com o aparecimento da
, rí n( i.r t'xPt'rirrrenral. A ciência racional viera para substituir o pensâmento mítico e religioso.
experimental,.á_.f"iro,.rrra.
'|Irr'rrr(I() r lrrrrrcnr c10 conhecinrento racional resorve urriirrr-ra A "raz,iao" dos gregos era uma forma avançada de teologia.
,1,,,, 1;11.j1y1 (' l)ror:cssos do homem da oficina, na, p^r^ Quando os hábitos de especular racionalmente se transferi-
r\ .r l,,,,,.l lros trrr pretrechns,
frru
{ rr t Í rr
mas para elaboraa o,.r"uar,,, prm Í'arn, no séçuloXVI, para as oficinas, cujos aparelhos e petrechos
Í,r.rlrrzir ()ut l.()s conhecimentos. começaram a ser usadcls no laboratório, não pâra a arte de
(.)rr.rrrtl,r (,;rlilcrr produzir, mâs para a arre de conhecer, criou-sc ttrrr trt,vt'r tipo
constrói o seu telescópio, para com ele
, r,rrlr,r., ( .Prlr.nico, estava revolucionandá, além do _unJo de conhecimento, o conhecinrcnto ex1:leritnental, dcstinaclo a
,1.r., , r( .r,.r\ (.slrr.lrigic.s, os métodos do conhecimento substittiir, não as crcnçils tcológicas tlo hotnctl, lrils âs suas
ra-
, rrrrr.rl ( ) r.rrt ()nrr() (lo conhecimento racional crerrças práticas. O conhccinrcnro cxpcrinrcnt:rl, rnisto clc espe-
com o mundo
,1.r.. ,,1r, ,r.r\ {,,rrrrirrrirr Íato
rluito mais significativo cr-rlação racional e expcriência pnitica, iria totnar o lugar do
d" q;;;
,1,'.,,,1rr r.r rl.
nr()vinr(,n(o rla Terra em torno
do Sol. conhecimento empírico c prodtrz.ir as tccnologias cxpcrimentais
I',,r,;rr,. ,1,..,.,,. ,.n, ()nrl() (.ntr"c o ,.intelecto,, que, por sua vez, iriam substituir rts artcs cnrpíricas. ()s dois
e a oficina é que
I' rÍtrt t.,1. rr ..t.,t(.rr.r rl. t.rrlr.cit,ento científico sistemas de conhecimento se Íirncliram dcste modo em um
rnoaaano, {ua
rr r'll ,rrr', r rlr, (rrr(. () ,,,rlr,.t.irrt«^t.tto mét<ldo comum de pensamento c ação, trnificados e racionais,
racional tornado fertij a
1,,1111,1,,,
;,, l.r ..rr., lry,.r,,,r, 11y111,r r.c,rli<.lacle concreta do mundo
Em esquema, a mudança fbi a segttinte:
,1, , ,r.,r, rr, r.r l,,,l.r rrr.r ,,v.r Íll.s.flr clo conhecimento se

42 4-
I r ,r r, t,. .\r ) I1,,\( ) f t,tUVll.t,.(;t()
EoucaçÁo NÃo É I,RIVILÉGlo

l't,/,r t, //ttt»(/() gt.ego


sentido, deste termo. Esta sociedade, está claro, teria de prepa-
I . ( )lrscrvação de senso
comu conhecimento rar trabalhadores para as três fases do saber, isto é, a pesquisa,
(.ntpíl"ico _ arres empíricas o ensino e a tecnologia, mas todos reriam tudo em comum,
2. l,)spectrlação racional ._ conhecimenro exceto o gosto diferenciado por ess:rs fases diversas do çonhe-
racional
_ conremplação do mundo cimento científico, de sua naturcza, unitrírio. Três campos de
trabalho, diversos mas equivalcntcs, ttsatrclo tnétodo geral e
V'ir/,t e mundo moderno
comum e articulado em ativida<.lcs (1(lc sc cottrplctam mutua-
I. li.speculação racional _. observação e experimen_ mente, desde a pesquisa até à aplicaçho clo c:onl'rccitnento ou a
tação_conhecimento 1sd1içs _x1tes ou tecnologias tecnologia.
cien tíficas

As scparaçóes enrre o prático e o raÇional 3 - A nova escola "pública" ou escola "cotlttlttt"


ou o prático e o
rt'tirico tlcsapareceram. Todo o conhecimarr,o, Em face da aspiraçáo de educação para totl«rs c clcssa pro-
aÁ rodas as
.rrrrs í:rscs, passou a ser prático, tanto funda alteração da natureza do conhecirrento c cl<l srtbcr (que
nos seus objetivos quanto
('nr scu.\ mérodos. prática, com deixou de ser a atividade de alguns para tornar-sc, enr stlas
efeito, era e é a erpe.ulação
r.r, i<rrrrrl, porque ela se tem de fazer aplicaçóes, a necessidade de todos), a escola não tnais poclelia
fundacla na mais .rla"ààr,
,lrst'r.vrrção, que é uma atividade material ser a instituição segregada e especializada de preparo dc inte-
e prática; prer:r:^ e--^
rt'ori;r.c1ue essa especulação elabora, lectuais ou "escolásticos", mas deveria transformar-se na agência
porQue tem de ser com_
l,rov:rrla experimentalmente; e prática, pà, firn, e ,pfi..ça. de educaçáo.dos trabalhadores comuns, dos trabalhadores qua-
(l(',§sil rcor.irl nas artes
e tecnologias científicas d""p-d*;;;. lificados, dos trabalhadores especializados em técnicas de
Assirrr, nern pelo métod-o, nem p.l, natureza toda ordem e dos trabalhadores da ciência nos seus aspectos de
ou objerivo da
irrv.stig.ção, diferem as fases da blsca pesquisa, teoria e tecnologia.
do conhecim.nto, .i" r,r"
.l:rlror;rção reórica ou de sua aplicação,
desaparec.ndo- ,rri_, Dada a identificaçáo do novo trabalho agrícola ou fabril com
r,rrnlrrirrr, rocla diferença entre os homens
que estejam pes_ o rrabalho científico, pois agricultura e indústria mais não sáo
tluis:rrrtlo, cn.sinando ou aprendendo,
ou aplicando o .o.rlr._ do que campos de aplicação da ciência, todas as escolas, do nível
, inr.rrÍo, no que diz respeito
às suas ntiuidnd.r, todas elas primário ao universitário, passaram a ser dominantemente es-
rrr,rtt.r i:ris c
1>rliticas. colas de ciência, .iá ensinando as suas aplicações generalizadas,
S,r,, sirnples divisóes de trabalho, semelhanres já as suas teorias especializadas, já o próprio trabalho de pes-
às que se
l)r()r (,s :,. c,r, roda.s as atividades seriadas ou complexrr. quisa, seja no campo teórico, seja no campo da aplicação.
t: ,r,irir.r .r Í,rsc rlc observação e
t"rrro
descoberta, como Ar", a" f.r_ Em todas essas modalidades, em face do caráter novo do
rrrrl,r,,,r,, rr.rir.ic.rr c cla aplicação da teoria ",
aos projetos práticos conhecimento científico, o ensino se tem de fazer pelo trabalho
.los lr,rrrrr,rts.
e pela açáo, e não somente pela palavra e pela exposiçáo, como
l''rrr Í'r"'.lt'ss.r rrrrií)cação, a escola teria
de deixar de ser a outrora, quando o conhecimento racional era de natureza
irrsr irrriq,r. t.slr1.1 i;11 ,lc ..homens
,rcparo daqueles racionais ou especulativa e destinado à pura contemplação do mundo.
t'st ol,isr i, os", tlt.v,rt;r.los is ,rrivi.jacles
do espírito, para se consti_ Setudo isto se teria de dar em face tão somente da evoluçáo
(rrir t.rr .r1,,i.rr, i:r tlr,t.rlrrt.;rq.:i«r
r.lo novo ho_a_ comum para uma
srt it'rl'rrlt' rlr' rr,rlr.rll. t it'rrrííl<'. c não "empírico,,, da teoria do conhecimento científico, ainda novos esclareci-
no velho mentos nos viria ÍÍazeÍ o progresso dos estudos de psicologia.

44 45
I t,trr .,rr.,\r r 1-1,11) ti. I,t1v1.t1.(;l(-)
EouceçÃo NÃo ít rl{tvtr-ti(]r()
l,rrr, r.:,ru(l()s, (.orn cíàito, vieram dem
/'r,('r, r)rrirr.rrc verbal não era ."",nti::t,}ll,ilIJil': Marcam-se alguns "trabalhos" para casa e na casa se supõe rluc
(1r(., l,(..snr() nos sctores o aluno "estuda", o que corresponde a fixar de memória
de pura compreensão ou-de ,p.aJirção, - oralmente ensinado nas aulas.
quanto lhe tenha sido
:()rr(.rrc rrrravé.s da experiência vivida e real e qu. r rrran,a Esta pedagogia podia perfeitamente funcionar numa escola
'r;'rr'rrrrlc c absorve o conhecimento eo integra em formas novas
tlc. t tlrrtPortamento. da Idade Média. A sua filosofia do conhecimento é de que o
()s vclhos métodos da escola conhecimento é um corpo de informações sistematizadas sobre
medieval, de exposição e pura as coisas, que se aprendem, compreendendo-as e decorando-as
rrrr.rrr.rizrrção, já seriam inadequados,
mesmo que só tivessem para a reproduçáo nos exames.
rlc íirrrnlr sucessores dos antigos "escolásticos"
ou homens de E chamamos a isto educação de "cultura geral" e, algumas
,trlrtrra i^telectual ou estética, capazes
de discretea. .o;
t'r'lcgâ.cia sobre qualqu.. ;;r;o vezes, educação humanística,
-
sendo que muitos pensam que
"rri"r.rro
e nada saberem fazer se a modificarmos, destruiremos a nossa civilização, huma-
Airrrla' pois, que a escora conservasse os seus velhos objetivos,
nista e cristá...
rrirrrla assim teria de fazer_se ativa, prática,
de experier.rá, . d. Ensinam-se, por esse método expositivo, informações teóricat
r labalho.
soBRE as línguas (larim, português, francês, inglês, espanhol),
soBRE a geografia e a história, soBRE âs ciências, e aré soBRE a
4 - O "ucaísmo,, da escola brasitreira
música e o trabalho manual. Como a escola é de "cultura geral",
Scrrclo esra a escola adequada aos dias
de hoje, até que ponro nada tem caráter prático. Raramente se consegue ler ou escrever
rr csc.lir brasileira dela se aproxima? Temos qualquer daquelas línguas, inclusive o português, mas sabe-se
do novo mérodo de
rr':rlrrrl'o escolar vários exemplos. O Instituto
T..rolOgi* J. de cor uma porção, às vezes considerável, de noçóes gramaricais
Acron;itrrica, em São José dàs Campos, sobre essas línguas, e alguns trechos familiares podem ser rra-
é uma das melhores
ilrrsrr';rÇ[rc's' Algumas escoias de duzidos ou vertidos pelos alunos, desde que os trechos tenham
medicina estão em cheio nesse
<'s1rír'it.. ()s i.stitutos onde se faz, sido "dados" nas aulas.
verdadeiramenre, a p.rquir*
t icrrrÍÍi.rr arl,tarn os rnétodos novos.
são assim os cursos do Em matemática, aprende-se largamente a manipulação algé-
sl NAr (' ,rlgrrrrs cursos profissionais
ou técnicos industriais. os brica, sem nenhum cuidado com a sua aplicação. Trara-se clc:
( ul.\()s irrrr'rrsivos or-r pós-graduados assumem,
pof vezes, estes algo como matemática pura, sendo, de certo modo a própria
il.\[)c( t()s ;ltuilis c práticos. aritmética considerada talvez demasiado aplicada e porrarrto
M;rs rrrtlo isr«r é de certo modo ainda insusceptível de servir à cultura geral.
marginal e extraordi_
rrÍr'i,. ll<'lirrlir'('s (' sistcrráticas são as formas História, geografia e as próprias ciências físicas e nrrrtrrais
arcaicas do ensino
pt'l;r "cx1r,sir,,rr .r.rrl" c ,.reprodução verbal,, também sáo ensinadas por exposição oral com particular ôrrírrsc
d" ao.raaito, a
rr«r,r'rrtlrar.irs, rrrrris (). rrenos digeridos nos conhecimentos informativos ou na terminologia cicrrríílr.l.
por simples ",compre-
c,si.", rrs rIrrr is rl.rrrirrrrrn.m bo" pr.ra r araol, primária Nem a funçáo, nem a aplicação do conhecimenro tôrrr rÍ o
e,
csl,aglrrl.rlrrr(..r(,, ,r r.sc,lr média, .obratudo menor sentido. O conhecimento é algo de absoluro crn .si rrrcsnro,
,"a,.*dárir, al
maior [)llltc (l;ls t'sr ol:rs .strpcriores. " a ser ensinado para ser repetido nas ocasiões detcrrninrrtlirs pclos
A ativirlarlc cst.olrrl r.olrsi.stc em .,aulas,,, que os exames.
alunos
"ouvent", algtt rtt,ts v(.7('s r()rr:rrd. Está claro que tal ensino não é sequer o cnsin«l cl;rs c:sc<llas
notas, e *exjmes,, .; q;;
se verifica o quc sulrcr,,,.r'rrcir> cle da Idade Média, mas o importanre é que clc I' o tlrre é ern
pr,vas escritas e orais,
virtude de uma teoria medieval do conhccirrrcnr«r.
46 47
I r ,t r( :\,, /\r r f..J/\( ) 1... l,til\/lt.É.(;tC)
E,DUcAÇÁo NÃcl É. Plr.lvl l.l:.(]t()
l,rrrrr..s (..s(.olrísticos, herdeiros
do saber grego, o saber era
,rrr r.rl,r.r ,rlr.s.lrrro c complero. Na Idade tlcssa razão "prática", está a racionalização de que a culturir ó
lVteãia,"sabir_r. ,"a""
( ) rrrurrtlo lr;rvia
flcado^co.nhecido rrlgo de completo e que nada pode rrr ignorado' sem grave
pela revelaçao di.,rirra-e pela
,..r,<.1,r\.r. :rristotélica. O desenvoluirr.nro dcfeito para a cultura.
acaso possível nesse
s'tlrt't ltrt. traria propriamente nada de noyo, Se nada pode ser ignorado é porque o saber é algo de "com-
mas novas distin-
(r()(',\, novas discriminaçóes, pleto". Seria, então, loucura não o dar todo em nossos famosos
novos comentários e refinamentos
rlc c lrr,ssiÍicação. cursos de "cultura geral", eufemismo em que escondemos a
A,r.*rder essa
,,cultura,, nossa concepçáo medieval de cultura como Suma Cultural.
consistiria em compreender e fixar
su:rs carcÍjorias, classificaçóes Longe de mim pensar que não exista cultura geral, mesmo
e distinçóes, h"tilitr.-re a falar
solrrc o rnu.ndo e nós mesmos com " em nossos dias. Mas cultura geral não é cultura superficial, e
erudição . ataga*ir,- a
, <,rrtc.r1:lar as belezas
desse conhecimento, t.l.rru sim exatamente o contrário. Cultura geral seria o último grau
(()n(rirv.lnl nas obras, dos q;" .;;rr_ de generalizaçao do conhecimento. Todo conhecimento é
grandes mestres. Todo .s.e saber
se
;rrl*v:r cnr livros definirivás, c*ja leitura especial. Quando tomo esse conhecimento especial no seu
daria toda a cu*ura
1r.ssível. O "lenre,, era o leitor. ó, ouviam e aprendiam.
último grau de generalizaçáo, tenho o conhecimento filosófico,
Sornenre semelhante teoria do"lu.ro, que me daria uma cultura geral. É evidente que me terei de
saber pocleria produzir
,'scrlrr brasileira, com seus curros a especializar nesse conhecimento geral...
períodos á. i.*r;;;;.,
livlos esquemáticos e seus exames
para "u1"., Poder-se-ia também considerar cultura geral a cultura co-
reprodução do apren_
<lirlo nas aulas' Acrescentamos mum a todos, mas essa cultura seria uma cultura de uso comum
uma novidade à reoria: na
Itl,rrlc Mdclia o "lenre,,.:r1 u-
especialisra desse tipo de saber, e não, propriamente, uma cultura especializadamente inte-
rrrrrl'r r*ris fazia do q*e ridar
.o- ., seus alfarrábios, era mesrre lectual. Seria uma tradução popular e geral das culturas
,1,'urrr;r rrrtc hermérica,.de que
o aluno seria o aprencliz. Entre especializadas, que constituem hoje o mundo sem fim e em
rrtis, . "proÍessor,, pode ,ei qualquer eterno crescimento do saber. Salvo pelos livros chamados de
pessoa que saiba mais
()u nr(.u()s lcr. Encurtamos popularizaçáo de ciência e da cultura, não vejo outro modo de
o período d,, ,nrur**rr'r,,
1,r,,Íi'ssolc's. Nessa escola brasiieira, tudo pode ^ul^r," se poder buscar esse tipo de cultura na escola.
,., atp..r."ao,
,r tirl i,, i rsr rrlrrçõrcs, biblioteca, p.of"rro."r... Somente
r Na realidade, ou teremos cultura geral como a mais alta
scr ,lislrcrrs:rrlrr a lista cotnplita de .r" p.a.
matérias. eu"tqu... à"- expressão da cultura, como a praticam os filósofos, e só longos
,,r,'l.rt rlist ilrlilr:r.s tem ,e existir no currículo. anos de estudos, altamente especializados, nos levarão a ela, ou
rt'Íi't'rrr.s' P.r.:'i rrrraixo toclo o edifício ü..rr. ,; ;;.
de nossa culturar Ai de teremos uma cultura geral popularizada, a ser dada pelos clr:r-
(lr(.r, l)('rs:r-(,rr tir.:rr urna só daquelas mados vulgarizadores das ciências, das artes e das filosofias.
línguas, ou fundir uma
tlis, i1tli1.r 1.r ()s(r';r!...
No primeiro caso, poderemos, com determinados alttnos cle
Scr i;r r;rlvt.z .x;rlicrrrrl. nsarntos que, nesse caso brasileiro, alta capacidade, treiná-los no uso das idéias, familiarizá-los com
.
;titrtlrr csrrrrrrrs li.l.rrrtl, rl[)c.as
'e au,, .'r"lh" noção do ..conhe_ o .iogo dos conceitos matemáticos, científicos, literários c artís-
cilrre.t. r'.rrr1rlcr.,", (rr;rl, rlrr lclade Média, ticos, e habilitá-los a ser especialistas nas idéias ftttttlantctrtais
porgue a verdade é
qtlc o,s curr íc rrlos t.lr, it lopútlicos clecorrem, com que a mente humana vem elaborando os setts extettsíssinros
em grande parte, do
rnedo clos lrroíc.ssor.r..s rlc ,.Pr,r.tlclcnr,,aulas,
que são o seu ganha_ conhecimentos experimentais, em todos os setores clo saber
pão, com a sirrr,liíir;rç.;r. tlrs crrr.ículos... humano. Estes seriam os estudiosos de cultura gcrll c, na rea-
Mas, abaixo oü.i_,
lidade, filósofos das ciências, das artes, das letrirs e cla religião.
48 49
Er.>uCaç,{o NÃO É pRrvr1-ÉGro
Eouc,\çÁo NÃo É pRtvÍLÉ.GIO

Aos demais alunos, a culrura geral só poderá 5er ministrada


uma vida melhor, que se fará possível exatamente porquc
pelos livros de popularizaçáo da cukura. As nossâs escolas não
muitos ftcaráo na massa a serviço dos "educados", então o
são uma coisa nem outra. Arcaicas nos seus métodos e eclé-
sistema funciona, exetamente por não educar todos mas so-
ticas, se não enciclopédicas, nos currículos, não são de prepero
mente umâ parte.
verdadeiramente intelectual, não são práticas , nlao s-ao técnico-
profissionais, nem são de cultura geral, seja lá ern que sentido Bendito seja o nosso crescimento demográfico que anula o
tomarmos O termo. nosso pequeno esforço em aumentar as oPortunidades de edu'
cação primária, sem lhe tirar, por isso mesmo, o câráter de
Mas são, por força da tadiçáo, escolas que "selecionarn",
educaçáo seletiva!
que "classificarn" os seus alunos. Passar pela escola, entre nós,
corresponde a especializar-nos parâ a classe média ou superior. Tomemos, porém, apenas a população de menos de quinze
E aí está a sua grande atração. Ser educado s5ç6larmente sig- e mais de sete anos, isto é, a populaçáo em processo de a[fa-
nifica, no Brasil, não ser operário, náo ser membro das classes betizaçáo e vejamos se a escola vem dando conta da tarefa em
trabalhadoras. relaçáo a esses futuros adultos:
Queono I
5 - A escola como formaçáo do "privilegiado"
DIsrrunutçÁo PoR Ionor DA PoPULAÇÁo DE
Mesmo no ensino primário vamos encontrâr a nossa tendên- MrNos on 15 Attos E Mats or, 7
cia visceral Pare considerar a educação um processo de preparo (dados de 1950)
de alguns indivíduos para gma vida mais fâcil e, em rigor,
privilegiada. Como este ensino náo chega a formar o "privile- Analfabetos e
giado", aquela tendência provoca a deterioração progressiva Sem Declaração
deste ensino, sobretudo depois que passou sle x conrar real-
8 anos r.389.175 281.832 1.107.243
mente com esrnxgadora freqüência popular.
9 anos 1.259.533 388.735 870,798
Para demonstrar isto não preciso mais do qúe âpresentar l0 anos 1.436.438 487.54t 948.897
algumas cifras. [ 1 anos 1.r89.57t 520.075 669.496
TÍnhamos em lgoa, 9.750.000 habitantes de mais de 12 anos t.35r.233 583.930 767.303
quinze anos, dos quais 3.3g0.000 eram alfabetizados e 6.370.000 13 anos 1.157.404 574.225 583.r79
14 anos t.173.921 592.954 58A.967
analfabetos. Em 1950, 14.900.000 erarn alfabetizados e
15.350.000 analfaberos. DiminuÍmos a percentagem de analfa- Total 5.527,883
betos de 65Vo para 5lol0, em cinqüenta anos, ma*s em números % de alfabetizados. total '38,291a
absolutos, passamos a ter bem mais do dobro ds analfabetos.
Numa populaçáo por alfabetizar de 8.950.000, conscguimor
Se considerarmos o analfabero, como seria lÍcito considerar,
alfabetizar 3.400.000, isto é, 387o, conservando analfabEtor
um elemento rnais negativo do que posirivo na população, a
para engrossar a grande fileira dos que nos vão ajudar a rcr
situação brasileira, do ponto de visra de çjvçxçáo comum,
"privilegiados", 5.500.000 brasileiros. Estamos' com cfeito, r
tornou-se-em 1950 pior do que em 1900.(3) Mas, se tomarmos
aumentar o analfabetismo no Brasil e não a reduzi'lo, e d*pclto
o Ponto de vista de que o processo educativo é um processo
do aparente crescimento vegetativo das escolas. Digo npnrcntc'
seletivo, destinado a retirar à, ,rrr" alguns privilegiados para
porque esse próprio crescimento vegetativo, nl rcslidldÊ' n[§
50 <t
L ,t r, ,r,. /\( , N^( ) Í t,tUVIl_íi(;t()
Ii.trtt<:a<r^() N^() llr Prtrvrr f,.(rr(l

,1,,1i.r .r .,(.r (r(.s(.irncnto. Enr face clo crescimento


da população,
, .1.ilil{)\.t (()nllcslionâr as escolas e não a aumentá_las, Querrn<l 3
estamos PERcgNtacEM Dos Ar.uNt'rs prrr.As (lrN(ro .Sr'rrrr's
., r,',lttu it () ('llsil() c pão a aumentá-lo.(a)
I .,1.s ,s írrdiccs confirmam esta minha
severidade. Tome_
rr{}\, l)()r ('xCrn[)lo, a matrícula efetiva das escolas primárias
em
r( l.r(,.r() (()rl us conclusóes de curso,
em vinte anos, de 1933 t944 100,0 53,4 27,9 14,9 Ír,3 r,5
.r I r)') i'(\) t945 100,0 53,9 21,8 14,5 u,3 1,5
t946 100,0 54,9 27,2 14,5 7,9 1,5
Queono 2 t947 100,0 54,7 2t,6 14,4 8,2 I,l
( loNr:r.usôrs DE CuRSo
No ENSTNo pRrlrÁRro t948 100,0 56,6 27,7 14,0 7,8 0,5
(Cursos de 3 e de 4 séries)
t949 100,0 56,4 21,2 r4,0 8,0 o,lt
t950 t4,r
100,0 56,3
I 21,1 8,0 0,5
1933 1940 I 950 t953
1951 100,0 56,5 I zo,s t4,r 8,0 0,5
1952 r00,0 56,9 20,6 14,0 8,1 0,4
N Í.rr r i, rrl.r cli.r
iva ........... .......... 1.7g4.335 2.555.r91 3.709.887 t953 100,0 56,e 20,6 14,0 8,1 0,4
( ,,rrr lrrsrrr.s rlc crrrso
l4.142.3r8
124.20gi 202.603 283.874J 3t6.e86 t963 100,0 49,6 8,2
",, ,1, , orrr lu\;l(, (l(, CuISOS
I

',/ rrr.rtrír rrl.r cíi'tiva l

...6,9o/ol 7,90/o 7,6%o1 7,60/o Como se vê, a situaçáo é dolorosamente esracionária, como
muito lentamente progressivo, e até decrescenre, na última
St'isto não basra para provar a esragnação do ensino série, também é o número absoluto de aprovaçóes por série:
l,r irrr,ir i., t()nrenlos a percentagem do corpo docente, di- (Quadro 4).
1,l,rrrr.rrl. 1r,rr cscolas normais: tínhamos, em 1933,53.000 Qunono 4
rlrrr .nr('s c()nr 57,8o/o de diplomados.
Há rrês anos, em AnnoveçÕus PELAS SÉRiES
I')'r l, I J4.(XX) eranl esres docentes, dos quais
apenas 53olo
, lt1,lo t 11.1111;qí(').

.()('n,r() lr.rstur o número


crescente de analfabetos, se não
l' rrr''r 1944 r.477 .192 610.767 379.291 282.439 174.543 30.152
" 'rurn('nr() da percentagem de professores não diplo- 1945 1.503.1 1B 628.333 393.128 275.837 t7 5.846 29.574
rrr'r'1"", r,.r('rr()s o
[)rogresso dos alunos através das séries, em 1946 1.604.481 684.395 487.857 299.711 I U0.662 3l .816
il( / .rr(,,,, (.rr rc l.)44 t: 1953 (euadro
l

3). 1947 1.691.231 730.157 434.969 3W.212 l e3.88e i 23.004


t948 1.824.034 790.580 471 .722 339.783 209.328 12.62r
t949 1.903.650 852.077 475.942 347.9t4 217.t24 10.593
I 950 2.027.944 913.478 5t3.382 360.543 225.606 14.935
r95r 2.r52.375 989.023 526.991 382.540 239.508 r4.313
1952 2.258.004 t .039.r99 557.680 390.995 253.797 r6.333
r953 2.357.207 l .098.017 570.012 412.t38 262.844 r4.196
r963 1.762.136 l.0 I 5.039 646.521

<? 53
EoucaçÁo NÃo É r,Rtvrr_É(]ro El)Ll(]AÇt^() N^() li I't{lvlt-ÉC:lc)

Diante disto, já náo ten.r a mesma eloqüência o crescimenro cada ano para a série seguinte pode scr vista tto <lrtaclro no 3.
em números alrsolutos. Não exageramos, pois, quando afirma- Estáo na 1n série 57o/o dos alunos matricttlrtlos tto etrsitro pri-
mos a franca dct.'ioraçã. cb c,si.o primário, com a exacerbação 20o/o na 3r 71toh c n:r 4t trpcnts 870'
mário, na 2u série
do carátcr sclcrivo tl:r crlrrcaçÍo, no scu vcz.o de preparar alguns - - (ctrtlência à
Que sucede a esses 8%? Longe de conservlrt'ctrl lt
privilcgirrclo.§ [)rlr. o 1;.2«l clc vr.rilger)s clc classe e náo o homem
reduçáo na série seguinte, encontram-se qtlirse totl«rs tro cttsitro
cornunl l)urx l .srur crrrirncipaçiro pcl«r trabalho produtivo. médio, pois, com efeito, a matrícula à lt séric tlo gin:rsirrl ó cle
(l«lrn clciro, sc rlcixarnr«ls <l cnsir.ro primário e passarmos a 180.000, que somados a 24.000 do comercial c (r.000 tlo in-
a,alis:rr. crrsi.. rrriclio c o s.perior, já a expansão é perfeita- dustrial, elevam a freqüência à 1u série do ensitro Irri'rlio a
lncntc rrccnrtrlr<ll. Ii crn relação ao ensino mais acentuadamente 210.000 alunos, sem contar os do curso normal. Iirl«lrrarrto
de clu.ssc qr.lc é o secundário essa expansão chega a ser entre a 3n série primária e a 4n, a queda é brusca, de 5tt0.000
- -
cspctrrcular. para 330.000, da 4u série primária para a 1' série sectttrclrÍria,
tomados os aprovados naquela série, temos que dos 243.000
chegam ao secundário 210.000 alunos.(8)
Artes, porém, onrrr.,,,.1.-u ,.
"rurrr.
da situação do ensino
sccunclário, tomemos o quadro abaixo, relatiyo à matrícula e Bem sabemos que, não havendo articulação entre o etrsino
clistribuição por séries dos alunos primários entre 1944er95j:o) primário e o médio, aqueles 210.000 alunos não sáo rigorosa-
mente os mesmos que terminam o primário. Isto porém, torna
Quenno 5
ainda mais significativo o fato. Na realidade, se atentarmos que
Drsl'nrnurçÃo poR SÉnrE oos Ar-uNos NA EscoLA pnrlrÁ2n
o ensino secundário e médio só existe nas capitais e em um terço
Anos Marrícula I " Série 2, Série 3" Série 4" Série Conclus. dos municípios do interior e âpesar disto logra essa matrícula,
Total de Curso é que a escola secundária é muito mais desejada do que a es-
te44 2.61t.451
cola primária. E por quê? Porque "classifica", dá stdtus ao aluno
1 .402.647 577.r30 391.610 219.674 127.468
) 1 e o lança entre os privilegiados e semiprivilegiados da nação'
t()45
| 2.741.725 1.478.113 597.384 398.1 80 226.577 127.151
1946 2.ut17.960 l 583.585 613.349 419.779 228.365 r33.591
te47 .t.06 \.77 5 | 1.67 5.887 6 - A transigência ou compromisso do "dualismo" escolar
| 662.148 440.372 251.137 149.725
te4H
I i. ro l .oB4 l.B64.eB7
I
698.408 462.459 258.534 185.25r Dir-se-á que deve realmente ser assim. As escolas não foram
t,)4,) .\.47e.056 ) t.e60.732 736.666 487.585 279.903 r93.822 afinal criadas para renovar as sociedades, mas para perpetuá-las
|
t95() .!.7()().887|nAZ.lCl 784.546 5 19.91 I 299.009 206.380 e, por isto mesmo, a sua relaçáo com as estruturas sociais de
19,I i i.l't(;o.5,)l l.t80.1.]l 80r.060 545.737 310.615 2r9.241 classe teria de ser a mais estrita. Nenhum sistema de escolas
tt)52 .J.()(,4.,,)0s I .l.z rr.sr:l 833.329 549.096 322.0t0 236.O89 jamais foi criado com o propósito de subverter a estratificirção
ll
1953
| 4. t42. l t8 .l 152 ()9.t 854.480 581.476 336.196 243.652 social reinante.
yoa I rzr
t c.aa«,. I .r zsz.rr,rtt .762.136 1.015.639 806.052 646.521 A realidade, porém, é que a idéia da " escola contttm ou
pública", nascida com a revolução francesa x 62i61 invu'rção
Dos alunos clc 4n .sér.ie, concluem com êxito esta série os social de todos os tempos, no dizer de
-
Horace Mantr irnporta
constantes da últinrr c.lunrr. Por conseguinte, todo o ensino -
exatamente em sobrepor-se ao conceito de classe e Pr()vcl' uma
primário brasileiro lruriílca rfinal nos 243.G52 doutorezinhos educação destinada a todos os indivíduos, serl a itrtcnção ou
aprovados na 4. séric. A proporção de alunos que passam em o propósito de prepará-los Para quaisquer clas cl:rsscs cxi.stentes.

54 55
l.r ,r rr rr. Ar r p,.11, ) f. t,t.,Vil_li.tO
EouceçÁo NÃcr í't t'tltvrt-Ê(ir()

N.r 1r''riP'i:r llrrr,ç:r, entretanto, tal escola só se estabereceu


de fato para todos. A escola era para a chamada elite. O sctr
rrr,'tli,rrrtt'arla tlansâção. criou-se, é certo, um sistema popular
programa, o seu currículo, mesmo na escola pública, era um
tlt' r'rlrrtrrçiÍt)i r.ras conservou-se, ao lado, o sistema d. aára"çao
programa e um currículo para "privilegiados". Toda a democra-
«lr' t lrrssc. A escola primária, a escola primária superior,
as cia da escola pública consistiu em permitir ao "pobre" uma
.sr.lrl.s ..r,rais e as profissionais constituíam o sisàma "po-
educação pela qual pudesse ele participar da elite.
1,rrl,rr'". As classes "préparatoireJ,,, o liceu, as ,,grandes a.aol"r,,
c rr rrniversidade, o sistema de educação de classe, ou para a Ora, a idéia de "educação comum", da escola pública ame-
.litc. 0 dualismo era perfeito, não havendo possibilidà. ,._ ricana ou da école unique francesa, não era nada disto. Não se
,Irc,r'cle comunicação. o espírito "primário" dominava cogitava de dar ao pobre a educação conveniente ao rico, mas,
o sistema
poptrlar, o espírito "secundário,, dominava o segundo. antes, de dar ao rico a educação conveniente ao pobre, pois a
nova sociedade democrática não deveria distinguir, entre os
Apesar de havermos copiado as instituiçóes políticas à Amé_
indivíduos, os que precisavam dos que não precisavam de tra-
ric;r do Norte, não lhe copiamos as instituições educativas.
balhar, mas a todos queria educar para o trabalho,
Ii«lrnos antes buscar a inspiração na França. A escola
primária, distribuindo-os pelas ocupaçóes, conforme o mérito de cada um
a c.scola complementar, a escola normal a ,, ar.ol", .,profis-
e não segundo a sua posição social ou riqueza.
sionais" constituíam
.,
ásio,, . Náo se tratâva, com efeito, de generalizar a educação para
gi n
orr de elite.
",, "."d.1,;{'jL:lj:T:flTltÍ:#:::;,3 os "privilégios", mas de acabar com tais "privilégios", ern uma
sociedade hierarquizada nas ocupaçóes, mas desierarquizada
Tal dualismo, graças ao qual recusávamos a nossa adesão à
socialmente.
cscola comum, à common school americana ou à école
unique Entre nós, porém, apesar'de havermos tido o cuidado de
Írancesa a que também a França recusou adesão d.rp.ito
- campanh
das maiores " nós, criar o sistema de educação "popular", distinto do sistema de
impediu sempre, enrre o
Íl«rrescimento da "escola pública comum". Esta escola educaçáo da elite, a classe dominante, mais dominante do qtte
fosse
- certo
a primária ou a "média-profissional" _ em que pese ríca, ocupou até muito recentemente a própria "escola primária
cnrpcnho do governo, jamais gozou de verdaáeiro prestígio pública", dando-lhe a ela própria o çarârer de escola de cl,rssc,
s«rciul. no que muito ajudou, sobretudo nas grandes cidades, o recrtl-
tamento do magistério primário na classe média e, às vezcs, até
A s«rcicclrde brasileira qve clrutaud, isto é, a sociedade de
"clirssc", no .senrido de classe dominante,
na superior.
clela não precisava.
Iirrr ulgrrrrs caso,s, Êreqüentavâ a ',escola primária,,, Fora as "escolas profissionais", nenhuma outra escola brrrsi-
«r
-*r, qlrrr,do
írrzi., r.,rsíirr'uava também essa escola em escola de classe, leira escapou ao espírito de educação da "elite", proÊr.trtclrtrtrclttc
cxigirrrl. r',.rliçõcs econômicas satisfatórias para que pudesse arraigado em nossa sociedade e agravado ainda pelo prt'colrt.cittr
scr íi'crliic.t,rtlrr: . unifclrme e os sapatos às rezes bu.,r.,rr- contra o trabalho manual, que nos deixou a escravitlão.
prr"
clclas :tíastur () l)()v().
7 - O dualisrno escolar entta em crise
As csc.lrrs rcÍ.lcrirar., assim, de acordo com o velho estilo,
Tudo isto funcionou, entretanto, sem tniti«tr grrrvitlrrtlc,
o duali.sr.. s.ci;rl lrrrrsileiro entre os "favorecidos" e os enquanto perdurou na vida brasileira o clttrtlisrtro pltííic<r
"desfavorcci<los". lr,r. i.s(. ,resmo, a escola comum,
a escola entre os "favorecidos" ou "privilegiados" c os tlcsÍlvorct itlos «rrt
para todos, nu,crll chcg«rtr, earre nós a se caracterizar, ou a ser
desprivilegiados.

56 57
l,',t ,il( jAq;À() NÃ() É. pRtvrr.ÉGlO
E,DUCAÇÁo NÂo É PRIVILÉGIO

hrn a fiormação de uma consciência comum de


.( direitos em rrâm-se 180.000 no secundário, 24.000 no comercial,24.00A
ttttltt u povo brasileiro, cuja emancipaçáo veio
afinal a se pro- no normal e 6.200 no industrial, ao todo 234.000, número
r.cssílr nori últimos vinte e cinco anos, -
deparamo-no, .o-'u-
sistcrrrir escolar de todo inadequado para equivalente ao dos que terminam o curso primário.(e)
liàar com o v.rdad.i.o
lrrohlenra educativo de um pouo ja agora uno e indiviso. Todas as cifras sáo reveladoras da preferência manifesta pelo
O tipo de educaçáo verbal, decorativa, destinada a permitir a vida
nosso sistema educação _ desrinado ao pre_ que náo seja a do comum do brasileiro e sobretudo em que náo
.arcaico .de
paro clas nossas diminutas classes de lazer e de mando, _ádo
haja esforço manual. Os cursos industriais lá estáo com menos
,ruito mais decorrente do .,presrígio', social dessa, .lrrr., ão de 3o/o da matrícula geral, o agrícola com 1,1olo e o comercial
cluc de_sua competência, e por istoLesmo,
fiícil de ser exercido com pouco mais de l4o/o. O que todos procuram é o curso
podia ser puramente ,,decorativo,, e, ainda
-
scus objetivos.
assim,
"tingi,
o, secundário acadêmico, preparatório para o ensino superior.(to)
A energia posta a serviço dessa expansão do ensino pro-
.[á agora, porém, não lhe basta isto. É o polro brasileiro pedêutico ao superior pode ser verificada pelo crescimento
que
rcnr cle de educar. Este povo não pode uiuer'd,o.,pr.rtígio,,,
{u. improvisado do seu magistério. Apenas 16% dos seus profes-
llrcr dê o fato de haver alisado os bancos escolares, sores são licenciados das escolas de filosofia, embora estas tenham
mesmo
porque "presrígio" se goza contrlt alguém ou à custa de alguém, já mais de vinte anos de existência. As demais escolas superiores
c já não há esse alguém conra ou à custa de forneceram 24o/o do corpo docente. Com diplomas de escolas
quem goíe_tr.
c) primeiro movimenro do povo brasileiro está médias mslxds normalistas há 4lo/o dos professores. Os
runqilistlt dessa educação decorativa, anres destinada
sendo o de
restantes- 79o/o nã.o têm diploma - algum. O professorado do
à elite. A
chanrada expansão educacional brasileira nada
mais é do que a ensino médio jâ atinge a mais de 47.000 docentes, número
ge,eralização para todos da educação da elite. superior em quase o dobro de qualquer outra profissão liberal
como -ui,o,
rlrre a esrão buscando, não podem ter padróes tomada isoladamente.
mais lúcidos do
(lue os da própria elite, eles ainda Tal expansão do ensino secundário só é superada pela do
a r..i^a"r.r, mais que a própria
elirc. decorativa e simulada. ensino superior, onde estamos com 73.0A0 alunos e 12.672
Já virnos como o ensino primário nos confirma, pela sua professores, quando tínhamos em 1929 apenas 13.239 alunos
Percla crescente de prestígio social, a falta d. ir,r.r.rr. pJ, e 2.116 professores.(r r)
eclucação comum e a preierência pelo
ensino seletivo. Mas o O sistema de ensino primário somente existe para abastecer
errsinomédioeosu rr1:l';i de alunos esses dois sistemas seletivos, em que estamos a formar
".Iiãf,riJT
d c*r c,r os rever a m ;
lruse* tle "prcsrÍgio" e não de eficiência
;:::n: j.lTJ:; quadros de nível superior muito acima
-
não de nossas neces-
sidades, mas da nossa capacidade de utilizá-los e remunerá-los.
p.l, .drr."çio.
 exprrnsío desses dois níveis de ensino é, de algum Porque tais quadros só se devem expandir legitimamente, quan-
rempo do a produtividade individual chega a tal ponto que os quadros
puru cá, ahsoluramente incoercível. Existem
2.363 escolas de de serviços se fazem maiores do que os da produção propria-
trível rrrCrlio, senclo que l.Bg7 mantêm o curso
secundário, 62g, mente dita.
il crrnrcrcial ,973, o normal, g6, os cursos industriais e 17,
o Na América do Norte, para um quadro de 20 milhões de
crrrso utrqrícnla. A nr,rrÍeula geral é d,e780.639,
sendo 57g.7gl operários, há quadros de serviços da ordem de 35 milhões. Mas
nn .secrrnddrir, I I4.000 no comercial, 67.000
no normal, 19.000
nqr inllulrtrisl e 1.200 no agrÍcola. Na primeira isto porque o operário chegou a uma produtividade que se mede
série, encon- pelo salário mínimo de um dólar por hora.
58 59
litrtrtta<,:Â() NÂo r. llluvÍLÉGIO
EouceçÃo NÃo É PÍuvÍr-úcro
Iintre nós, poróm, com o operário mais ou menos bisonho,
p,is s.nrente continua operário quem não consegue "educar- é o de oferecer ao brasileiro uma escola primária capaz de
-lhe dar a formação fundamental indispensávçl ao'seu trabalho
s§", oncle iremos b
comum, uma escola média capaz de atende r à variedade de suas
1
t d o s, ap e n a,,. o
"::"i: :: : il: r: 1 :.l-,il;,i : Í:.T:lJíí; aptidões e das ocupações diversificadas de nível médio, e uma
tla civilização?
escola superior capaz de lhe dar a mais alta cultura e, ao mesmo
§e a isro acrescenrarmos que a educação minisrrada
por essa tempo, a mais delicada especialização. Todos sabemos quanto
irrflrção de escolas não tem qualquer grau de eficiência,
u..._o, estamos longe dessas metas, mas o desafio do desenvolvimento
clue considerar essa educaçáo como a educação
para os seruiços brasileiro é o de atingi-las, no mais curto prazo possível, sob
cle trnra civilização, é apenas força de expressão. pena de perecermos ao peso do nosso próprio progresso.
Na realidade,
a educação, como se vem fazendo .rr,r. .rór, dá
direitos, grâças A educação primária já se distribui no país por mais de
ao diploma oficial, mas não prepara nem habilit, prrr".oir"
-Estado 70.000 unidades, com cerca de 140.000 professores acolhendo
a.lguma. O diplomado é um c"rdidato à pensão
do ou cerca de 4 milhões de crianças, custando à nação cifra que não
elos. particulares. Alguns se farão depois
profissionais, por tiro- é inferior a 3 bilhóes de cruzeiros. Tais números, em si, pare-
cínio e prática, não pela escola, salvo as exceçóes conhecidas ceráo significativos.
das
nrclhores escolas de medicina, engenharia e direiro.
Mas por trás dos números esconde-se, como vimos, uma
realidade bem pouco animadora. Estes alunos não se conservam
8 - Necessidade de uma noya política educacional
na escola, em média, mais que dois anos e pouco.(l2) Em todo
Ourra seria a situação, se hovéssemos conseguido criar o país, apenas 8 a 10% deles chegam à 4u sdrie primária. Com
real-
rrrellre um autêntico sistema de educação pública, a matrícula em muito superior à sua capacidade, a escola se
destinado à
"cclucação comum". como nos Estados divide em turnos, oferecendo ao aluno meio dia escolar e, em
unidos da América,
onde foi mais vigoroso e correro o desenvolvimento muitos casos, um terço de dia escolar, com a conseqüente re-
d.a con_tmon
scltool, verÍamos a ascenção do povo brasileiro, duçáo do programa.
graças à sua
unificação, para níveis econômicos cada vez mais altos, Com programa assim reduzido pela angústia de tempo,
sem
pcrda, porém, das suas condições de ocupaçáo e sofre ainda a escola uma administração centralizada e rígida,
trabalho.
As escolas brasileiras esrão, com efeito, a ser buscadas que lhe dificulta a adaptação a condiçóes cada vez mais difíceis
pelo
p{rvo com ansiedade crescenre, havendo filas para de funcionamento. Por outro lado, o professor, integrado em
a matrícula,
tlir nresnra nâtureza das filas parâ a cerne. Oi turnos se quadro único pertencente a todo o Estado, desligou-se da escola
multi_
rlic*r,, os prédios se congestionam, os candidatos aos concursos para pertencer às Secretarias da Educaçáo, onde vive numa
rle *rlnrissão são em número muito superior aos competição dolorosa por promoçóes, remoções e comissões, que
das vagas e as
linritrçôes cle marrÍcula constituem g.*., problemas se fazem os objetivos da profissão.
,oãi"ir, à,
ve?,cs âtC dc ordem pública. Com esse professorado extremamente móvel, se não flui-
 crnsc:iência da necessidade de escola, tão dificil de criar do, e as matrículas duplicadas ou triplicadas, a escola enrra â
em outru$ époclls, chegou-nos, assim, de imprevisto, rotal funcionar por sessóes, como os cinemas, e a fazer-se cada vez
e
rôÍicg*, r exigir, a impor a ampliação das faciidades menos educativa, por isso mesmo que sem continuidade nem
escolares. seqüência.
Nlo podcr*or ludi[:riar cssa consciência. O dever do gou.r.ro
deycr dernocráticn, dever consrirucional, dever imprefcritível Com efeito, a instituição que, por excelência, deve ser estável
- a fim de contrabalançar a instabilidade moderna, faz-se ela
60 61
lit )l l1 i\(.t/\( ) N^() íi l,tUVIt_li(]IC)
ErrucAÇÃ() NÃ() f;. I'titvll.Ír(;t( )

lrrr'rP.i:r i.ccrta
e insrável, com administração e proÊessorado em
Nenhum país vive, porém, de um tal mandarinato inrclcr.-
'r.(lirÍrçu l)crmanente e os alunos na ronda dos turnos cad.avez tual, ainda que realmente capaz, o que náo é o caso brasilciro,
rrr:ris ctrrtos.
mas dos quadros numerosos e eficazes do trabalhador cornunr,
'l'ais circunstâncias
fazem com que a escola primária venha formado na escola primária, dos quadros do trabalhador qtra-
Pc.rlcndo a função característica de se* g.rnde escola comum lificado, treinado diretamente pela indústria e pelos cursos dc
tlu rrlção, a escola de base, em que ,e educa a grande maioria continuação, dos quadros do especialista de nível médio prepa-
dr>s seus filhos para se constituir simples rado nos cursos médios, múhiplos e variados, e dos quadros de
acesso, pre_
ptratória ao ginásio, para onde se dirige "r.ol"l.
a maior parre dos especialistas de nível alto, formados pela universidade e pelas
alunos que logram chegar à 4u série. escolas superiores.
E,ste desvirtuâmento da escola primária concorreu, junto A escola primária que irá dar ao brasileiro esse mínimo
com outras circunstâncias, para exacerbar o anseio pela escola fundamental de educação não é, precipuamente, uma escola
secundária de tipo acadêmico, que enrrou a ser iÀprovisada preparatória para estudos ulteriores. A sua finalidade é, como
cle todos os modos, a fim de conrinuar a educação prepara_ diz o seu próprio nome, ministrar uma educação de base, capaz
t<iria, que a escola primária iniciara nos seus fugidios ,ur.ro, de habilitar o homem ao trabalho nas suas formas mais comuns.
rlc crrsino. Ela é que forma o trabalhador nacional em sua grande massa.
'l-:ris c.scolas secundárias, É, pois, uma escola que é o seu próprio fim e só indireta e
conlo as primárias, funcionando
('nr trlnl().\, como as primárias, improvisadas, como secundariamente prepara para o prosseguimento da educação
as primá-
.i;rs, tlc' 1rrrr. c,sino verbalísrico, e, ainda como as primárias, ulterior à primária. Por isto mesmo, não pode ser uma escola
de tempo parcial, nem uma escola somente de letras, nem uma
l)ul'ruil('nr(' Prcparlrtórias, prosseguem com os seus alunos num
csÍi,r'5o, n;ro tlc íirrnraçiro, mas de seleção e acabam com escola de iniciação inrelectual, mas uma escola sobretudo prá-
apenas tica, de iniciação ao trabalho, de formação de hábitos de pensar,
l7 nil ,rlrrrr,,s rrrr rilrir.a série de colégio.rral Sobrevivenàs de
ttttt sistctrr.r t'st olrrr inlclcqtrado e frustro, não têm estes poucos hábitos àe fazer, hábitos de trabalhar e hábitos de conviver e
rrrillrrrrcs ,lt' ,rlrrrr.s ().(rrl coisa a fazer senão aspirar participar em uma sociedade democrática, cujo soberano é o
à escola próprio cidadão.
strPt'r'irr , [):ll;r ( rrj. t'xurrrc vestibular se precipitam em
levas
tttttito .\u[)('r i()r(.\ ,ro rrrirrrt'r«r tlc vagas existentes... Aí os espera Não se pode conseguir essa formaçáo em uma escola pror
rrr) L()ll( rr.s. ;rlr;rrr.'rrt. st'lc(iv., rlrrc se verr tornando ,upiíaio sessóes, com os curtos períodos letivos que hoje tem a escolrr
searellr,rrrtt':rr,,l,,s:,t.rir.s (,xrlal(.s clri.cscs. No final ala aáartrr, brasileira. Precisamos restituir-lhe o dia integral, enriqueccr-lhc
clos 4 rrrillrircs rlt',rltrrr<,s lrrirrrriri.s, rcrlrrzitlos a 200 mil de o programa com atividades práticas, dar-lhe amplas oporttrni-
cnsirro scctrrrrlír'i., (,1,('r'l'(.rrr.s (r0 rrril ;rlrrrrt»s tllrs cscolls supe_ dades de formação de hábitos de vida real, organizando a csctila
riorcs 11rrc, rrr:rl .rr l,r'rrr, v,r, rliPlt,rrrrrr-.sc como miniatura da comunidacle, com toda a gama clc, .srras
r)rlril ..\ crrrreiras de atividades de trabalho, de estudo, de recreaçáo e de artc.
nívcl rrrais alr.r.
Ler, escrever, contar e desenhar seráo por certo técnicas il scr
f'uclo estaria, rulvt'2, lr.rrr, sc t.Íi.t ivrrrrrc,rc rría visássemos
ensinadas, mas como técnicas sociais, no seu contcx(o rral,
à formação dc tocl.s.s brrrsilcirt).\
[)rr':r..s rrivcr-s.s níveis de como habilidades, sem as quais não se pode l-roje vivcr. O
ocupações cle trrrra rlcrrr.r'r:rcirr rrr.rlc.rr:r, rrras tão-somente
programa da escola será a própria vida da comunidaclc, c«,rrr <i
à seleção de um nrrrnclarinuto rlrrs lcrr:rs, rlas ciências e das
seu trabalho, as suas tradiçóes, as suas características, tlcviclrr-
técnicas.
mente selecionadas e harmonizadas.
(t2 63
Iirru<:nçÁo NÁo É pzuvrt-ÉGro EoucaçÃo NÃo É PRTvILÉcro

A cscola primária, por esre morivo, tem de ser insdtuição havendo que nos garanta serem tais funcionários mais seguro§
c*sencialmente regional, enraizada no meio local, dirigida e em definir o que seja nacional do que os servidores estaduais
scrllida por professores da regiáo, identificada com os seus mores, ou municipais.
§cus co§tumes.
O país é um só, com uma só língua, uma só religião domi-
A regionalização da escola que, entre nós, terá de caracte- nante ou majoritária, uma só cultura, embora com diversas
rizar-se pela municipalizaç-ao da escola, com administração local, subculturas, e em caminho para a unificação social em um só
programa local e professor local, embora formado pelo Estado, povo, distribuído por classes, mas classes abertas e de livre e
concorrerá em muito para dissipar os âspectos abstratos e irreais fácil acesso. AIém disto, ligado já por uma extensa e intensa rede
da escola imposta pelo centro, com programas determinados de comunicações, pelo avião e pelo rádio, que permitem a livre,
por autoridades remotas e distantes, e servida por professores ampla e rápida, se náo simultânea, circulação de idéias e no-
impacientes e estranhos ao meio, sonhando perperuamente com tícias. Já nenhum motivo existe para as cautelas centralistas e
redentoras remoções. centralizantes, que se poderiam justificar em outras épocas,
Tal escola, com horários amplos, integrada no seu meio e embora nem sempre com os mais puros propósitos.
com ele idenrificada, regida por professores provindos das suas A descentralizaçâo, assim, contingência da nossa extensão
camadas populares mais verdadeiras, percebendo salários desse territorial e de nosso regime federativo e democrático, é hoje
meio, será uma escola reconciliada com a comunidade e já sem uma solução, além de racional e inteligente absolutamente
o caráter ora dominanre de escola propedêutica aos estudos -
segura. Tenhamos, pois, o elementar bom senso de confiar no
ulteriores ao primário. Esra será a escola fundamental de edu- país e nos brasileiros, entregando-lhes a direçáo dos seus ne-
cação comum do brasileiro, regionalmente diversificada, comum gócios e, sobretudo, da sua mais cara instituição x s5çqlx,
não pela uniformidade, mas pela sua equivalência cultural. -
cuja administração e cujo programa deve ser de responsabilida-
Assim que os recursos permirirem, ela irá ampliando-se em de local, assistida e aconselhada tecnicamente pelos quadros
n(rmero de séries e entrando pelo nível das escolas de segundo estaduais e federais.
grau, sem perder os característicos de escola mais prática do que Organizados que sejam, assim, os sistemas municipais de
intclectualista e os de integração regional tão perfeita quanro educaçáo e ensino, as escolas passaráo a ser instituiçóes nutridas
possÍvel. pelo orgulho local, vivas e dinâmicas, a compedr com os demais
Dstá claro que essa escola, nacional, por excelência, a escola sistemas municipais e a encontrar nessa comPetiçáo as suas
dc formação do brasileiro, não pode ser uma escola imposta pelo forças de progresso e de gradual unificação, pois competir é
çentro, mas o produto das condições locais e regionais, plane- emular, e toda emulação importa em reconhecer o caráter e as
jada, fcita e realizada sob medida para a cultura da região, forças comuns que inspiram a instituição.
clivcrsificada, assim, nos seus meios e recursos, embora una nos Presidindo essa saudável e construtiva rivalidade regional e
objetivos e aspirações comuns. local, o estado e a União, equipados de corpos profissionais e
É tcmpo já de esquecermos o nosso hábito de pensar que os técnicos de alta competência e liberados de absorventes ônus
brssilciros residentes fora das merrópoles precisam das liçóes e administrativos, exercerão os seus deveres de assistência
dgr cnutclas do centro para se fazerem brasileiros, ou nacionais, supervisora, não pela imposição, mas pela liderança inteligente,
csmo é de ccrto gosto totalirário afirmar. Todos os brasileiros tornando comum para todos, pela informaçáo, a experiência de
r[o t[Õ lrons brasileiros quanro os funcionários federais, nada cada um, facilitando o intercâmbio de valores e de progressos,

64 65
l'.r 'Ir Ar, Ár r 5111 , ri_ t,tilVil.f.tcIC)
EoucaçÃo NÃo É PRrvrr.ÉGr()
('ori('trtiln(lo c coordenando os esforços para o avanço e
a
rrrritlrrtlt' tlt'rrrrcl, repetimos, das diversidades regionais e locais. escolas propriamente locais, de administração municipal, as
escolas médias e superiores, inclusive as de formação do magis-
A ;rssistôrrcia dos centros não se exercerá somente pela atu-
.rç,r. rli'cta clos seus técnicos, mas, sobretudo, pela formação dos tério, de sua própria administração. Pela formação do magistério
e pela vigorosa e ampla assistência financeira e técnica aos
1r'.íc'.ss.res, que Ihes poderá ficar afeta, uma vez assegurado que
Lst.rl. otr união municípios, exercerá o estado a açlao supervisora, destinada a
respeitarão as caracrerírti.as ,egio.r"is àas
cscolrrs a que se destinarão os mestres que, assim, irão preparar.
promover a unidade do ensino sem perda das condições
revitalizantes e construtivas do genius loci.
Não pensamos, pois, reformar a escola brasileira com a
irrrlrosição de modelos a priori formulados por um centro ou por Em esfera ainda mais ampla atuará a Uniáo, com a sua rede
,lg'.s poucos centros dirigentes, mas anres liberar forç", de escolas médias, profissionais, superiores, de experimentação
I.cais de iniciativa e responsabilidade e confiar-Ih., ".
trr.f" i.
e demonstração, todas visando a mais alta qualidade e desti-
"
.:..srruir a escola nacional, sob os auspícios de uma inteligente nando-se a agir nos sistemas estaduais e locais como exemplos
assistê,cia técnica dos estados e da união. Não somos .rrção de desenvolvimento e aperfeiçoamento. Este sistema federal só
ser rnoldada napoleonicamenre do cenrro para a periieria," por si já operaria como força unificadora, mas terá ainda a
nlas Llm grande e variado império a ser assistido e, quando União duas grandes forças de estímulo e coordenaçáo; a
nruiro, coordenado pelo centro, a fim de poder prosseguir ,ro assistência financeira e técnica às escolas e a atribuiçáo de
sctr destino de criar nos trópicos uma grande.t'rlrr.rr", regulamentar o exercício das profissóes. Com estes dois instru-
clivcrsificada nas suas características regionais e una nos seus mentos, o seu poder continuará, dentro do sistema descentra-
plopósitos e aspiraçóes de civilização e democracia. lizado e vivo da educação nacional, táo forte e de tamanha.s
potencialidades, que antes será de recear a sua ação exces-
A clescentralizaçáo educacional que assim propugnamos
ruio lcPresenta âpenas medida técnica que está, dia a dia, mais sivamente uniformizante susceptível de bloquear iniciativas
rr st'irnpçr, por uma série de motivos de ordem prática,
felizes, locais e estaduais, do que qualquer imaginário perigo
mas da liberdade que se dará ao estado e ao município, muito rnais
r;rrrrl,únr urn âro político de confiança na nação e Je efetivaçáo
rlo plirrcípio democrático de divisão do poder, a impedir os para lhes permitir assumir a responsabilidade do seu ensino c
.sr'rilrllrrlarncnros da centralização e dificultr. .or..rtração com ela a possibilidade de fazê-lo real e vivo do que efetiva-
"
rlr' íirr'çrr (luc nos poderia levar a regimes totalitários. mente, para organizá-lo à sua discrição.
'l'.tlrr rrrrificação imposta e forçada é, nesse Com efeito, embora as instituiçóes escolares tenhan.r scus
senrido, uma objetivos próprios, todas elas se articulam em um sistcrrrrr con-
íi',gilitl,rlc, c rralralha no sentido da ossificação de nossa cul-
trrr:r, tliÍ'it rrlrrrrrtl«r-lhe a diversificação saudável e revitalizante. tínuo de educaçáo, em que os graus mais altos inflrrcrrr trr
organizaçáo e sentido dos menos altos, determinanrlo isto rprc
A grarrrlc rr'íirrrna da educação é, assim, uma reforma polí_
o ensino médio condicione o primário, e o superior-cotrrlit ionc
ticrr, pcrrrr:r,c,rcr,c.te descentralizante, pela qual se criem nos
o médio.
rrrunicÍ1ri«r.s ..s rirgi.s 1lr-óprios para gerir os fundos municipais
cle crltrc.çir) c ()s sc'.s,r.clestos mas vigorosos, no sentido de É a unidade vital, em oposiçáo à rigidez. nrirtcmlizurlrr tlos
iruplan t^çrr, l«r.rrl, .si.sr crrrrl.s educacionais. Tais sisremas locais, sistemas unitários e uniformes. O municípia, cotn o sctr sisrt'nt:r
em nÍr'rer<» ct[rivrrlcrrrc :r«l clos municípios, constituirão em de escolas locais, primárias e médias, enririzarl:rs no s«rlo íí.sic«l
cada estacl.' , sisrcrrrrr c,.sr,rtlrral, o qual compreenderá além das e cultural do Brasil, brasileiras como as ilttc trui.s o scjrttn, o
estado, com as suas escolas médias, supcri«rrcs r' ltroí)ssit>nais,

66 Ã7
EDUCAÇÁo NÃo í; l'ltlvll.í'(;l()
l1l )(r(.Aq:^() NÁo li PRrvlLÉ',Glo
educacionais, postos todos eles em funcionamento nrltt)il rlçir()
locais e detendo
cx('rccnclo e sofrendo a influência das escolas independente, mas sinérgica e harmônicâ que persPectivas
., 1.,rrt1cr cle formar o magistério primário.' e a União' com o -
não se abriráo para a escola brasileira e que segurança não tcrÍ
,ir,",.,-r, federal supletivo ãt t"ol"' superiores' escolas primá-
educacional
o país de ver, afinal, a sua população servida das oportuni-
rias e médias de demonstração' órgãos de pesquisa dades educativas necessárias para a plena eclosão de sua cultur,l
em dife-
., pod", de regularnet""' *' ptàfissóes
-
n1ux1[6
c de sua civilizaçáo?
"
rcnt;s ordens, i.rdependentes mas articuladas' constituindo
a
algo de dina-
ação tríplice, mas convergente dos três Poderes' 9 - Aspectos administrativos dessa nova Política

rnicamente sistemático e unificado' De tal modo sistemático


Assim como procuramos numa visão de conjunto encarar a
rígido' por-
c unificado, que somente não será excessivamente l)rcsente situaçáo educacional brasileira ern suâs deficiências,
superiores
que o .iogo d"s influências dominantes das ordens t'rrs:riemos agora prever os novos desenvolvimentos que a
,,rbr. ,, inferiores só se exercerá continuamente pela assis-
..1.'scentralizaçáo e a liberdade de organizaçáo, pelo plano aqui
tência técnica propulsionada pela assistência financeira - ,'rl,oçado, poderão trazer aos serviços escolares brasileiros.
- do estado
g;;ç"t à qual o poã.,i"I'ez ainda demasiado grande l'rin.reiro que tudo teremos criado com o novo plano cerca
mútua' em que o jogo
ã a" Uniao se aJoç"rá sob formas de ação ,1,' J.000 trnidades administrativas escolares em todo o país,
de influências não se faça §omente no sentido descendente' rlu('t:lnto,s são os municípios, com os seus conselhos de admi-
rnas de maneira recíproca, recebendo a ordem
superior o in-
rrrrrrrrç;io e'scolar, representativos da comunidade, paralelos aos
sua pró-
fluxo da inferior pro m"io' eficácia e fertilidade de ,,,r,r,'llros rlunicipais ou câmaras de vereadores, cotn poderes
pria atividade. rr'.r\ (' rrÍo fictícios de gestão autônoma do fundo escolar
esco-
Muito do caráter mecânico, irreal e abstrato de nossas nrrrrrr, ip;rl c clileção das escolas Iocais.
políticas e
las desaparecerá em virtude dessas altas medidas I .r rr torrsclhos disporão não somente dos recursos locais,
vir-tudes tão
administrativas, ressurgindo, em seu lugar' as ' 'lur\,.r1('nr('s t Z0o/o dos recursos tributários dos municípios,
em outras esferas' vêm
brasileiras do seu gêniá criador çlue' rrr,r.. r.rrrrlrt{rrr rl,s recursos estaduais e federais que forem atri-
de sua civilizaçáo
prodtrrir",do as adaftaçOes táo caracterÍsticas l,ll,l,,,,.r() n'runicipio na proporção de sua população escolari-
complexos e de-
em formaçáo, em que se misturam traços tão r tr, I ( ) r()rll das três contribuições será administrado Ptrl<r
mais quc
licados de influências de toda ordem' sobressaindo' r,rr,,, llr, rrrrrrri,',ipal escolar, obedecendo a dispositivos orgi-
todos, os asPectos de um dinamismo criador e
otimista' sem âs nr,,,.,, lr( l()\ r;rrrris se estabelecerá que esse dinheiro pcrtcll('c
clurezas da competiçáo norte-americana'
mas equilibrado' enr !ir r il.rrrrr.r\ ,lt' sua comuna, não abstratamente consi<ler,r.l,r,
stra febre, Por um gtão dt sal humanístico
que nos vem clrt r*rrt rr i.r,l.r rrrrr.r das crianças, segundo a quota-partc tltrt' lltt'
e mestiço' ,rllrl rr.r ,lrvir:ío do montante por todas elas. Estc prirrt Ípirr
doçttra essencial do nosso temPeramento tropical
Instituídos que sejam os órgáos locais' estaduais e
feder:ris ilrr:ilrtilr.rr,i r;rrt: o sistema de escolas a ser organiz.atlo tlcvcr,l
do imenso emprc:- ;Irrrrlrr frrn.u ,,,' linanceiramente ao limite dessa qttota-l)illt('l)()1.
rlc propulsão, financiamento e administraçáo
do brasileiro' {11r,,,. lr,.rn,l,, r> salário do professor, as despcsrt.s clt' :rrlrrtitri.
cnclimcnto escolar para a formação e o PreParo
em nossa Constituiçáo' cotn ll4r,,irr, ,1, rrr.rlrrial didático e geral, e do préclio, cotttitl:ts,l.'ltlt,,
cujas bases se encontram lançadas
de atribuiçócs '- do*r, lirnit,, ('nL proporçóes fixadas colno irs tttrti.s t;tzolvt'is.
rl rcconhecimento expresso das três ordens
tlos Ât r'.rrrt,r1,,, r,s dessa organização são, s«rbrcttttl,,, lts .lc stt.t
n-runicipal, cstadual e federal separação compulsória
nríninros dc l0 c 2)o/o dc toda a triburaçáo Para os serviçor lltlrÊl rrn rrl,rrlr O município, com a rcspotts:tlrili,lrrtlc ,lc' tltrttt

/aQ I tr I
l'l ,r r( Ar. Á( ) N^( ) lil l,t{lVIl-flCIC)
EoucaçÃo NÃc) É PRrvrr.É-Gr()

r('l .rs ('s(()l:rs l)xra a sua populaçáo escolar, terâ, de ano para
.ur(), nl:ri()re.s rectrrsos, podendo traçar um plano de progresso
Além disto, náo esqueçamos que o estado, pela formação cl<r
,r1',:irri.. c rc:rl. As três quotas que lhe alimentam o sistema magistério mediante urn sistema de bolsas oferecidas a cada
- o suprimento por elementos locais do seu corpo
município para
st'r':rrl crrrla :rno maiores e,
por se distribuírem em percentagens
rlcllrritlas, para o pagamenro ao magistério, à administração docente rcrá em cada um dos sistemas locais de ensino as
-
mestras, suas representantes, não como parcelas do seu poder,
(' ;t() ln:lrcrial e prédio, passaráo a oferecer as condições in-
tlisPcnsiivcis da viabilidade do plano. Confiado esse plano à mas como filhas da escola normal estadual, alma mater de todo
rc.sP.nsabilidade local e deste modo ao natural entusiasmo o magistério.
rlrr c«rmunidade, a escola, cuja necessidade começa a ser tão Há, portanto, motivos para acreditar que o plano aqui es-
vigorosamenre s€nrida pela população brasileira, far-se-á não boçado pode concorrer para a revitalização do movimento de
sír a sua instituiçáo mais cuidada e mais querida, como o ver- expansáo escolar, sem que a revolução de mecanismo adminis-
rlrrclciro orgulho da cidade ou do campo. Em ourros rempos, trativo que encerra traga outros resultados senão os de promover
rltr,r.clo a educação escolar era uma imposição de outra cultura, as insuspeitadas ener;;ias que a autonomia e descentralizaçâo
p.clia-se compreender a escola organizada e dirigida à distância irão por certo desencadear, para o desenvolvimento dinâmico e
pelr metrópole "colonizadora". Hoje, a escola flui e decorre de harmonioso da escola primária brasileira.
rrossa própria cultura, dinâmica e em transformação, mas co- Acima ou à base de uma tal educação fundamental e co-
,rrrn e, embora em estágios diversos de desenvolvimento, toda mum, a mais importante sem dúvida das que irá proporcionar
t'lrr una e brasileira. a nação aos seus filhos, erguer-se-á o sistema de escolas médias,
Ilcstiruídas, assim, as condições necessárias à vitalidade da destinadas â continuar a cultura popular da escola primária e
irrstit.ição escolar, reremos estabelecido as condiçóes que faltam a iniciar a especialização nos trabalhos práticos e indusrriais ou
l() l)rogrcsso educacional. Isto, entretanto, não será tudo, pois, nos trabalhos intelectuais ou teóricos, todos eles equivalentes
;rltirn rlacluelas condições, precisaremos de esforço e direção cultural e socialmente, pois os alunos se distribuiráo, segundo
irrtclilit'rrtc. O esfbrço deverá decorrer do interesse local, e os interesses e aptidóes, para a constituiçáo dos quadros do
;r intcligôncia, da direçáo, do espírito de estudo, que do- trabalho de nível médio, sejam as ocupações de natureza teórica
rrir*r':i. us.sistência técnica a ser dada ao sistema pelo estado ou de naturezâ prática.
t' ;r tlrrirr., rrssisrência récnica fortalecida e motivada pela as- O velho debate entre ensino de letras, de ciências or.r cle
sisti'rrt i;r lirrrurccira. técnicas desfaz-se à luz das novas circunstâncias da vida moclcr-
Ao sisrt.rrrrr csr:itico e mecânico de hoje, com escolas na pois rodos eles sáo necessários, constituindo problema apcnas
tlc's.rr r':r iz:rrl;rs, «rrg:rnizadas à distância com professores vindos o de saber quais e quantos alunos devem ter formação cicntíÍlcrl
<lo r't'ruro (';l (.src ccnrro ligados pelos vencimentos e pelas e teórica, e quais e qLlantos alunos devem receber forrnrç:io
ordcns rlrrc rt'r'r.lrcrrr, opor-se-á o sistema imperfeito, mas vivo, técnica e de ciência aplicada. Em cada um desses r:lrlros, o
de csc:.lrrs l.t;ris, tlirigitlrs e mantidas por órgãos locais, ansiosas currículo variará para a formação diversificada e rntiltiplrr, até
cle assistôrr.il rrr:r.s c«»rscicntes de sua autonomia, prontas a
mesmo no currículo clássico, em que se formarão lrclcni.sta.s,
colab<lrur co,r () t.sr;rrl. c rr U.ião, dos quais recebem os recur- latinistas e especialistas de Ietras modernas, como jí acolrtt:ce
sos supletncrrt:lr(.s l)rlra o scu progresso e a assistência técnica nos cursos predominantemente científicos ou técnicos,
para o seu irll«,r Íc.iç()lnl('nt(). Todas as escolas médias, que se organizaríro conr uma alta
dose de liberdade, seráo consideradas ecluivalerrtcs c objeto não
70 '7 I
Iirrrr<;a<;;Ão NÃo É, PRrv[.ÉGro EDUCAÇÃo NÁc.> rr- I'ltlvll'Ê(;l()

grupos profissionais e esPontaneamente prevenidos cotltl'il


lt
clc "crluiparaçáo" a modelos legais, mas de "classificaçáo" pelos
Írcio§
ór'gãos técnicos do governo, segundo o grau em que atinjam os [uÀt, àe padroes de ensino e formação, atuariam como
distribuiçíro
objctivos a que se propóem. à.,,." a improvisação de e§colas superiores e a má

A validade dos seus resultados será apurada por exames de de profissionais pelas diferentes especialidades'
Estado, feitos em determinados períodos do curso, exames de Ogovernomanteriaos§erYiçosde..classificação',dasescola§
Estado que se destinam, do ponto de vista legal, apenas à ,.rp.rãr., e os de levantamento e estatística em relaçáo aos

pràfissionais de nível suPerior, seu mercado de trabalho'


sua
habilitação ao concurso vestibulâr para as escolas superiores e
universidades. àistribuiçao pelo país, faltas e excessos' e necessidades novas
Suprimindo o currículo rígido e uniforme imposto pela criadas pelo desenvolvimento nacional'
legislação federal, é de esperar que a ansiedade por educação O espírito geral da legislação de ensino superior seria o
mesmo qr'r. irrrpir"ria a legislação geral da educaçáo: fixação
de
pós-primária, llue está a marcar a fase educacional presenre, se
oriente melhor, buscando os diferentes caminhos de ensino objetivos . .ondiçó., e*úriores pela lei, e determinação dos
médio e alargando a "escada educacional" com melhor e mais p.á..rror, currÍculos e condiçóes internas do ensino' pela cons-
adequada distribuiçáo dos adolescentes, segundo as suas reais .iêrr.i* profissional dos professores e e§Pecialistas de educação'
aptidóes e as maiores necessidades do trabalho nacional. Com a divisáo de atribuiçóes proposta entre as três ordens
de poderes públicos teremos criado as condiçóes por meio
das
Chegamos, assim, ao ensino superior, também ele em expan-
siro insofrida, em função mais ou menos do desenvolvimento q'.rri, naçao irá manter um autêntico sistema escolar nacional'
"
l"rrasileiro. Sobem hoje a mais de 360 os esrabelecimentos de g.."1 . pútli.o, Para a infância' a juventude e os adultos bra-
e rrsino superior, com cerca de 700 cursos cliferentes e mais de ,il.iror, sistema que' no seu jogo de forças e controles múltiplos
70"000 alunos.(r4) Não parece fácil ordenar e assegurar a efici- e indiretos, poderá indefinidamente desenvolver-se'
ôncir de sua expansão. Â legislaçáo deverá anres buscar Será um verdadeiro reajustamento institucional da escola'
contr<llar-lhe os efeitos, substituindo os processos de "equipa- abrindo oportunidade Para um período de ampla experimen-
para os
rrrção" por processos de "classificação" das escolas, organizando tação social em que o país se descobrirá e se construirá
trnr sistcrna paralelo de exames de estado de nível superior, para seus destinos soberanos e próprios'
rrprovaçrio nas séries finais dos seus cursos básicos e profissio-
A educaçáo Para o desenvolvimento' a educaçáo paÍa o trír-
nrtis, pcrnritinclo e estimulando a variedade de currículos e de
balho, edr't.*çáo para produzir substituirá a educação Pllra
rr

cursos pnrÍissionais, com o objetivo de permitir à escola supe- "


ilustração, para o ornamento e, no melhor dos casos' Plr:l
()
rirlr o rrrais rrrnplo uso de seus recursos humanos e materiais na
lazer.
forrnuçÍo clo.s qrradros variados em nível e em especializaçáo do
seu tr,rballrr) (lci tcol' mais alto.
Além disto, a educação ajustada às condiçóes culttrrrtis l'r'r'
sileiras se fará aurênrica e verdadeira, identificanclo-sc
cottt <'
Urnrt lci ícliz. dc regulamentação do exercício profissional, cortro lltc
país e ajudando a melhor descobri-lo, para cooPer:lr'
entreganclo, (alvcz., a licença definitiva para o exercício da pro-
i"b.,.rá grande tarefa de construçáo da cultura [r'asilcirrr, . íl.r'
fissão aos sinrlicrrtos cr associações de classe, viria, possivelmente,
mais alta da sua civilização.
permitir a libcrrlrrrlc rlo cnsino superior sem os perigos de uma
inadequacla inllaçiro dc cliplornados. Os sindicatos e associações
A reconsrrução educacional da nação terá clc í;tzct'-sc .,,trr
essa liberdade e esse respeiro pelas suas contliçircs,
cttltttt rtíit
de classe oltrrrnctrtc c«rrrscicntc clos interesses econômicos dos

,/:)
EDucaçÁo NÃo É pRrvtLÉcro

mlç{o suprêma da nossa confiança no Brasil, a cujo povo,


hoje
unificedo e. enérgico, devemos enrregar, com o máximo
de
nutonomia local, a obra de sua própria formação.

l0 - Sumário
Procuramos analisar a siruação educacional brasileira
à ruz
dos conceitos de "educação seletiva',, pârâ a formação
de elites,
e "educação comum", para a for*"çáo do cidadãá
comum da
democracia.
Parte 2
Mostramos como essa ,,educação comum,, n-ao
é só um
postulado democrático, mas um postulado do novo
conceito de
conhecimento científico, qu. ,ornou comuns
as atividades in-
telectuais e de trabalho, àu seja de saber e de
fazer, que se
distinguem como divisões equiralentes do mesmo
.rforço, ,.rn-
pre inteligenre e especializado ou técnico.
Salientamos, enrretento, que entre nós, a despeito
dessa
evolução do conhecimenro e das sociedades, as
resistências
aristocráticas da nossa hisrória não permitiram
que a escola
pública, da educação comum, jamais ,e .ara.terirasse
integral-
menre. Toda nossa educação se conservou seletiva
. d. jit..
_ Â expansão educacional brasileira participa desse vício quase
d-iria congêniro. Indicamos, enrrerenro, o gr€ nos
parece deve-
ria scr a novâ política educacional para o Brasil e,
a fim de
promovê-la, bosquejamos um sistema de administrrçao
.* qr'r.
§c cesem as vantegens da descentralizaçáo e
autonomie com â
da integração e unidade dos três pod.rà, _ federal,
estadual e
municipal do paÍs.
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