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Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense
Pós-graduada em Orientação e Supervisão educacional pela Universidade Cândido Mendes
ABSTRACT: The following work intends to establish reflections and notes present in
the research linked to the Postgraduate Literature, Cultural Memory and Society of IFF-
Cambuci / RJ. The research leads to the perception of the relations of learning and
construction of knowledge found in fieldwork in Nossa Senhora Aparecida-Miracema
Parish / RJ. With the offer of voluntary education, including illiterates and semi-
illiterates, specifically the elderly, the Parish offers activities ranging from play to
welfare services. The methodology adopted was the narrative, using as a resource the
talk wheel, reports of individual and collective experiences and participant observation.
The research sought to understand how teaching happens in this space, and how this
training contributes to the retrieval of memories of these subjects, considering the
difficulties that surround education in the third age and considering that this is not a
space of systematized teaching. To do so, the research focuses on the contributions of
authors illustrating the importance of education in non-formal spaces for the
construction of social knowledge, and memory as a resource for teaching-learning. The
results pointed out the importance of working with memories in the third age, to assist
in the learning process. Through workshops of individual memories, "storytelling",
social reports, it is possible to create in an unstructured space, an environment
conducive to knowledge. Enabling the learning of these subjects and the construction of
social knowledge.
INTRODUÇÃO
Para tanto, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo como
instrumento a história oral. A produção de dados aconteceu durante as observações e
convívio com o espaço e os sujeitos, registrados através de curtos diálogos anexados
nesta pesquisa.
O incentivo a essa pesquisa surgiu do encantamento pela educação de jovens e
adultos, e em especial, pelas surpreendentes histórias contadas pelos idosos. Tendo vista
a defasagem de suas memórias ao longo de seu envelhecimento.
Ao trabalhar com a história oral, cria-se um elo entre o passado e outros tempos.
Possibilita um diálogo atemporal, utilizando de recursos da própria memória do
passado, para atar no presente. Sendo assim, a história oral, “é uma metodologia capaz
de fomentar importantes narrativas e interpretações históricas” (BRAGA, FIALHO e
MAIA, 2014, p.19).
No que diz respeito a “voz” do idoso, a história oral traz a tona as ideias
construídas ao longo de vários períodos, por uma mesma sociedade. Ou seja, ao permitir
que esse idoso fale, enaltecemos também às diversas possibilidades de compreensão
desse diálogo. Pois as memórias pessoais são reproduzidas de acordo com as vivências
que desse idoso. Permitindo que suas lembranças sejam resgatas, consideradas.
Trabalhar com a história oral com idosos permite que uma pessoa, até
então invisibilizada, possa contribuir para a compreensão de
determinado contexto, e por isso não deve ser desprezada. As
representações postas pelo idoso lançam luzes sobre aspetos sociais e
históricos, através das quais, serão permitidos estuda-los e analisa-los
com maior precisão. Não buscando a verdade histórica sobre os fatos,
mas sim ampliar a compreensão sobre eles. (Fialho, 2012).
Sendo a Paróquia uma instituição que além de dos serviços religiosos, oferece a
comunidade as extensões de pastoral da família, pastoral da criança e pastoral da saúde,
nos últimos dois anos, também se dedicou a ensinar os idosos que frequentavam este
espaço. Ao iniciar minha pesquisa no segundo semestre de 2018, meu primeiro
questionamento foi entender o Porquê dessa decisão. Então iniciei com um diálogo
informal, onde perguntei ao padre local a necessidade da paróquia em prestar esse tipo
de serviço.
De forma bem sucinta, explicou que o público maior de sua igreja, eram os
idosos e que em sua maioria, não sabiam sequer escrever o nome. E que isso lhe
causada uma profunda impotência religiosa, pois não estava convicto de que a palavra
era transmitida da mesma maneira a todos que ali estavam. O que o levou a reunir seus
fiéis e propor-lhes a oferecer uma oficina de aprendizado.
A proposta inicial seria apenas uma oficina, onde os idosos frequentariam sem
nenhum compromisso, e as aulas seriam de forma lúdica e baseadas nos conceitos
religiosos. Com a ideia fundida, abriu-se um espaço nos anexos da paróquia, onde fez
uma pequena sala de aula. A proposta era que as aulas fossem apenas uma vez na
semana, tendo vista as demais oficinas que ocupavam o mesmo espaço. A turma iniciou
com 06 idosos, todos analfabetos, alguns com incapacidades físicas que os impediam de
progredir com o processo de aprendizagem. Diante desse problema, a pastoral
responsável pela oficina, sentiu a necessidade de ter uma pessoa habilitada para ensinar
os idosos, o que facilitaria a permanência deles no espaço.
Sendo assim, discorro aqui relatos de minha passagem por esse espaço tão
enriquecedor, que busca através da aprendizagem atingir não só o sucesso pessoal, mas
também regatar as memórias para o reconhecimento do sujeito no espaço que está
inserido.
Todo material era confeccionado pela própria turma. Nos dias de aprender o
alfabeto, os idosos confeccionavam as letras com os materiais que tinham mais
habilidade em usar. Uns trabalhavam com tecido, outros com papel, outros com tinta, e
assim iam tecendo identidades nos materiais que produziam. Durante as aulas, sempre
ouvia um relato que mesmo distante, tinha alguma relação com o conteúdo ensinado.
Isso me inquietava ao ponto de não compreender o que ligava o momento atual com as
lembranças que eles tinham de um tempo passado. Então me pus a observar o que era
produzido nas aulas, nas oficinas, buscando uma resposta ao meu questionamento.
Tendo consciência de que, tratando-se de uma pesquisa do campo do cotidiano, poderia
me surpreender a cada visita. Podendo ou não obter respostas, ou até mesmo,
compreendê-las. Foi então, que em uma oficina de confecção de vogais, percebi que
além dos diversos materiais usados, uma senhora usou o tecido como recurso, para
personalizar suas vogais. Ao produzir seu material, ela comentava com o grupo sobre
seu passado e como havia aprendido a manusear o tecido:
-Mamãe fazia sempre desse jeito: pegava o tecido inteiro, um pedaço longo... E
marcava um círculo... Depois, recortava este círculo e com a agulha e linha fazia
pontinhos em volta dele. Depois, puxava e estava pronto o fuxico. Quando criança,
achávamos tão lindo, e enfeitávamos tudo que era de valor com fuxico, para ficar
bonito.
Obs: aqui me restou dúvida quanto a escrita (eu escrevo indiretamente a fala da
senhora, não exatamente como ela falou). Então não sei se ocorre o uso de travessão.
(??) aguardando orientações...
- R de Raquel, minha neta que mora em Guarapari. E só vem me ver nas férias
da escola. (dizia um senhor)
- R de Rita, minha vizinha, que fica o dia todo na janela procurando fofoca.
(dizia o professor)
Esse diálogo era contínuo nas aulas de alfabetização. Os links com a realidade
permitia aos idosos retomar fatos do passado, e até mesmo do presente, possibilitando o
aprendizado de maneira mais confortável.
Aprender a ler para esses idosos, não era uma necessidade. Mas sim, um desejo
de alcançar algo que lhes foi tirado na infância, e não oportunizado na juventude.
Diversos são os motivos que impediram esses idosos de frequentar a escola, dentre eles
estão a condição social, a precariedade das estruturas físicas do espaço geográfico onde
moravam, a privações econômicas e sociais. Esses foram os motivos que fizeram com
que muitos interrompessem muito cedo os estudos, e que outros nem se quer fossem a
escola uma única vez.
Bastava estar naquele espaço para que todo o desejo de pertencimento fosse real.
As produções nas aulas os faziam ser capazes de entender o significado da fase velhice,
que atribui a sujeitos antes tão jovens, a oportunidade de se refazer. O aprendizado os
tornava ativos o suficiente para fazer conexões entre suas memórias com as memórias
de outros, criando assim, um resgate coletivo.
Pensar a terceira idade na sociedade atual, onde os idosos são colocados como,
incapazes, cansados e impotentes, é ultrapassar barreiras de preconceito e de
descriminação. Propondo uma releitura dos termos velhice, terceira idade e idoso. Ao
buscar compreender que biologicamente nascemos, crescemos e envelhecemos, temos a
possiblidade de atribuir a esses termos funções que vão muito além da perda dos
artifícios físicos eficazes. Ou seja, entender a velhice e permitir que esses sujeitos
tenham a possibilidade de pertencer a um espaço que contemple sua existência.
Portanto, a educação não formal busca por meio do ensino não sistematizado
alcançar o sujeito/grupo, através de recursos educativos que os insira no processo de
ensino. Permitindo assim, que fora das instituições formais, também se forme sujeitos
capazes de transformar a realidade social. Especialmente, na terceira idade as
instituições de educação não formal atuam com projetos de reconstrução das vivências,
oportunizando aos idosos através de sua memória, alcançar a aprendizagem.
Nesse sentido, pensar a educação nos espaços não formais voltado para a terceira
idade, é pensar numa relação individuo-sociedade. As experiências trazidas por esses
idosos ao serem conectadas com as de outros, e com a realidade atual, produzirão o
ensino e a promoção social dos mesmos. Tendo em vista a visão que a sociedade
carrega da velhice tendo-a como, improdutiva, inativa. “As representações sociais vão
ganhando a função de conectar o indivíduo ao coletivo, buscando uma articulação do
individual com a ordem social”. Ferreira (2013, p.4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das observações considero o ensino nos espaços não formais uma nova
oportunidade para os idosos de se reconstituir, por meio do aprendizado, sendo o que
sempre quiseram ser. Através da educação e com os recursos trazidos pelas experiências
e pelas memórias dos mesmos, o ensino é facilitado, permitindo a promoção crítica e
social desse grupo tido como impotente.
Essa pesquisa não escota as discussões a cerca dos caracteres terceira idade;
velhice; idoso; educação não formal. Apenas, contribui dialogando com outras
produções, para o enriquecimento a cerca desse tema, buscando aguçar ainda mais
inquietações a respeito do tema.
ANEXOS
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Editora, 2004.
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