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A EDUCAÇÃO NOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS: DIALOGANDO

COM A TERCEIRA IDADE

Bruna Regina Simplício da Silva1

RESUMO: O seguinte trabalho pretende estabelecer reflexões e apontamentos


presentes na pesquisa vinculada à pós-graduação Literatura, Memória Cultural e
Sociedade do IFF-Cambuci/RJ. A pesquisa conduz a percepção das relações de
aprendizado e construção do saber, encontrados em trabalhos de campo na Paróquia
Nossa Senhora Aparecida-Miracema/RJ. Com a oferta de ensino voluntário, abrangendo
analfabetos e semianalfabetos, especificamente a terceira idade, a Paróquia oferece
atividades desde o lúdico até serviços de assistência ao bem estar. A metodologia
adotada foi a narrativa, utilizando como recurso a roda de conversa, relatos de
experiências individuais e coletivas e a observação participante. A pesquisa buscou
compreender como acontece o ensino nesse espaço, e como essa formação recebida
contribui para o resgate de memórias desses sujeitos, considerando as dificuldades que
rondam a educação na terceira idade e tendo em vista que este não é um espaço de
ensino sistematizado. Para tanto, a pesquisa se debruça sobre as contribuições de autores
que ilustram a importância da educação nos espaços não formais para a construção do
saber social, e da memória como recurso para o ensino-aprendizagem. Os resultados
apontaram a importância do trabalho com memórias na terceira idade, para auxiliar no
processo de aprendizagem. Através de oficinas de memórias individuais, “contação de
histórias”, relatos sociais, é possível criar num espaço não sistematizado, um ambiente
propício ao conhecimento. Possibilitando o aprendizado desses sujeitos e a construção
do saber social.

PALAVRAS-CHAVE: Educação não formal; Memória; Terceira idade.

1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense
Pós-graduada em Orientação e Supervisão educacional pela Universidade Cândido Mendes
ABSTRACT: The following work intends to establish reflections and notes present in
the research linked to the Postgraduate Literature, Cultural Memory and Society of IFF-
Cambuci / RJ. The research leads to the perception of the relations of learning and
construction of knowledge found in fieldwork in Nossa Senhora Aparecida-Miracema
Parish / RJ. With the offer of voluntary education, including illiterates and semi-
illiterates, specifically the elderly, the Parish offers activities ranging from play to
welfare services. The methodology adopted was the narrative, using as a resource the
talk wheel, reports of individual and collective experiences and participant observation.
The research sought to understand how teaching happens in this space, and how this
training contributes to the retrieval of memories of these subjects, considering the
difficulties that surround education in the third age and considering that this is not a
space of systematized teaching. To do so, the research focuses on the contributions of
authors illustrating the importance of education in non-formal spaces for the
construction of social knowledge, and memory as a resource for teaching-learning. The
results pointed out the importance of working with memories in the third age, to assist
in the learning process. Through workshops of individual memories, "storytelling",
social reports, it is possible to create in an unstructured space, an environment
conducive to knowledge. Enabling the learning of these subjects and the construction of
social knowledge.

KEY WORDS: Non-formal education; Memory; Third Age

INTRODUÇÃO

O presente estudo é resultado de um trabalho realizado com os alunos da turma


de alfabetização da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Miracema/RJ, que
abordou as relações de aprendizado criadas nesse espaço e a construção do saber para o
resgate das memórias desses sujeitos. A pesquisa teve como protagonistas 12 idosos que
frequentam as aulas de alfabetização na paróquia. Durante a pesquisa, os idosos
participaram narrando suas experiências individuais e coletivas, motivados pelas
oficinas de relatos e roda de conversa.

Para tanto, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo como
instrumento a história oral. A produção de dados aconteceu durante as observações e
convívio com o espaço e os sujeitos, registrados através de curtos diálogos anexados
nesta pesquisa.
O incentivo a essa pesquisa surgiu do encantamento pela educação de jovens e
adultos, e em especial, pelas surpreendentes histórias contadas pelos idosos. Tendo vista
a defasagem de suas memórias ao longo de seu envelhecimento.

Com a intenção de compreender como acontece o ensino nesse espaço, e como


essa formação contribui para o resgate de memórias desses sujeitos, através do
aprendizado não sistematizado, este artigo se divide em três partes: A história Oral
como recurso para o resgate de memórias; Os “caracteres”: idoso, velhice e terceira
idade; A importância da educação nos espaços não formais, para a promoção social do
sujeito idoso.

Na primeira parte, a história oral tece as narrativas dos idosos, permitindo o


contato com as vivências de cada um, e apontando as semelhanças com as vivências de
outros. Na segunda parte, ao trazer os “caracteres”, desvelo o conceito de cada um,
considerando a esfera social e contemporânea em que estes se estabelecem. Tendo em
vista os sentidos de ser idoso, estar na velhice e na terceira idade. A seguir, apresento a
educação não formal, partindo do campo de pesquisa para compreender outros espaços
que se assemelham, e sua importância para reinserir o sujeito idoso na sociedade.

E por fim, algumas considerações sobre os sentidos construídos nessa pesquisa e


sua relevância para o meio social que a cerca.

A HISTÓRIA ORAL NO RESGATE DE MEMÓRIAS PARA O APRENDIZADO

A abordagem com a história oral parte do desejo de compreender toda a


narrativa sistematizada nas palavras, ou seja, em visualizar através da fala/escuta,
vivências, experiências e relatos.

O método da história oral, nas palavras de Thompson, 2002, é a interpretação da


história e das mudanças ocorridas na sociedade, pois é através dos relatos que os
indivíduos transpõem suas experiências, que ao serem ditas, são guardadas de alguma
forma, por quem as ouve.

Nesse sentido, a história oral também produz permanência. Ao permitir que as


vivências ao serem relatadas, além de lembradas, também recebam significados. E
constroem sujeitos não só dentro da história, mas muito além dela.
A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela
lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de
ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a
maioria desconhecida do povo. Traz a história para dentro da
comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda os
menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar
dignidade e autoconfiança. (THOMPSON, 2002, p. 44).

Ao trabalhar com a história oral, cria-se um elo entre o passado e outros tempos.
Possibilita um diálogo atemporal, utilizando de recursos da própria memória do
passado, para atar no presente. Sendo assim, a história oral, “é uma metodologia capaz
de fomentar importantes narrativas e interpretações históricas” (BRAGA, FIALHO e
MAIA, 2014, p.19).

No que diz respeito a “voz” do idoso, a história oral traz a tona as ideias
construídas ao longo de vários períodos, por uma mesma sociedade. Ou seja, ao permitir
que esse idoso fale, enaltecemos também às diversas possibilidades de compreensão
desse diálogo. Pois as memórias pessoais são reproduzidas de acordo com as vivências
que desse idoso. Permitindo que suas lembranças sejam resgatas, consideradas.

Trabalhar com a história oral com idosos permite que uma pessoa, até
então invisibilizada, possa contribuir para a compreensão de
determinado contexto, e por isso não deve ser desprezada. As
representações postas pelo idoso lançam luzes sobre aspetos sociais e
históricos, através das quais, serão permitidos estuda-los e analisa-los
com maior precisão. Não buscando a verdade histórica sobre os fatos,
mas sim ampliar a compreensão sobre eles. (Fialho, 2012).

Ao usar a história oral no processo de ensino, permitindo que os idosos


remontem suas vivências, encontrando nos recursos atuais de aprendizagem vestígios de
seu passado, a aprendizagem é facilitada. Pois existe um elo entre o que se aprende e o
que se lembra. O remonte das vivências individuais constroem experiências coletivas,
conduzindo um diálogo semelhante. “A memória é um elemento essencial do que se
costuma chamar Identidade, individual ou coletiva, onde diferentes sujeitos se igualam
por terem vivências em comum”. (LE GOFF, 1992: 476).

Sendo a Paróquia uma instituição que além de dos serviços religiosos, oferece a
comunidade as extensões de pastoral da família, pastoral da criança e pastoral da saúde,
nos últimos dois anos, também se dedicou a ensinar os idosos que frequentavam este
espaço. Ao iniciar minha pesquisa no segundo semestre de 2018, meu primeiro
questionamento foi entender o Porquê dessa decisão. Então iniciei com um diálogo
informal, onde perguntei ao padre local a necessidade da paróquia em prestar esse tipo
de serviço.

De forma bem sucinta, explicou que o público maior de sua igreja, eram os
idosos e que em sua maioria, não sabiam sequer escrever o nome. E que isso lhe
causada uma profunda impotência religiosa, pois não estava convicto de que a palavra
era transmitida da mesma maneira a todos que ali estavam. O que o levou a reunir seus
fiéis e propor-lhes a oferecer uma oficina de aprendizado.

A proposta inicial seria apenas uma oficina, onde os idosos frequentariam sem
nenhum compromisso, e as aulas seriam de forma lúdica e baseadas nos conceitos
religiosos. Com a ideia fundida, abriu-se um espaço nos anexos da paróquia, onde fez
uma pequena sala de aula. A proposta era que as aulas fossem apenas uma vez na
semana, tendo vista as demais oficinas que ocupavam o mesmo espaço. A turma iniciou
com 06 idosos, todos analfabetos, alguns com incapacidades físicas que os impediam de
progredir com o processo de aprendizagem. Diante desse problema, a pastoral
responsável pela oficina, sentiu a necessidade de ter uma pessoa habilitada para ensinar
os idosos, o que facilitaria a permanência deles no espaço.

Algum tempo depois, a oficina transformou-se em dias letivos de aula, e a


pequena sala em uma classe de 12 alunos. A permanência dos alunos permitiu que
novos métodos lúdicos de ensino fossem inseridos, e também o ingresso de novos
alunos. Permitindo a realização dessa pesquisa e a compreensão sobre a importância da
mesma.

Sendo assim, discorro aqui relatos de minha passagem por esse espaço tão
enriquecedor, que busca através da aprendizagem atingir não só o sucesso pessoal, mas
também regatar as memórias para o reconhecimento do sujeito no espaço que está
inserido.

A turma composta de 12 idosos, entre 60 e 73 anos, contava com o auxílio de


uma professora aposentada, que prestava serviços para a igreja. E também com a ajuda
de um pedagogo (também professor) que produzia todo o material lúdico para efetivar a
aprendizagem. As aulas aconteciam as segundas e quintas das 18 às 20 horas, e eram
divididas em dois horários: sendo o primeiro desenvolvido numa base teórica, onde
eram abordados os conteúdos, ou seja, toda a parte de conhecimento da escrita e da
leitura. E no segundo momento, aplicava-se a essa base teórica, uma parte prática, que
era desenvolvida com materiais lúdicos, que dava forma a essa teoria.

Todo material era confeccionado pela própria turma. Nos dias de aprender o
alfabeto, os idosos confeccionavam as letras com os materiais que tinham mais
habilidade em usar. Uns trabalhavam com tecido, outros com papel, outros com tinta, e
assim iam tecendo identidades nos materiais que produziam. Durante as aulas, sempre
ouvia um relato que mesmo distante, tinha alguma relação com o conteúdo ensinado.
Isso me inquietava ao ponto de não compreender o que ligava o momento atual com as
lembranças que eles tinham de um tempo passado. Então me pus a observar o que era
produzido nas aulas, nas oficinas, buscando uma resposta ao meu questionamento.
Tendo consciência de que, tratando-se de uma pesquisa do campo do cotidiano, poderia
me surpreender a cada visita. Podendo ou não obter respostas, ou até mesmo,
compreendê-las. Foi então, que em uma oficina de confecção de vogais, percebi que
além dos diversos materiais usados, uma senhora usou o tecido como recurso, para
personalizar suas vogais. Ao produzir seu material, ela comentava com o grupo sobre
seu passado e como havia aprendido a manusear o tecido:

-Mamãe fazia sempre desse jeito: pegava o tecido inteiro, um pedaço longo... E
marcava um círculo... Depois, recortava este círculo e com a agulha e linha fazia
pontinhos em volta dele. Depois, puxava e estava pronto o fuxico. Quando criança,
achávamos tão lindo, e enfeitávamos tudo que era de valor com fuxico, para ficar
bonito.

Obs: aqui me restou dúvida quanto a escrita (eu escrevo indiretamente a fala da
senhora, não exatamente como ela falou). Então não sei se ocorre o uso de travessão.
(??) aguardando orientações...

Ao escutar a fala da senhora, percebi que a confecção do material a ser utilizado,


remetia os idosos a uma lembrança de sua infância ou juventude. Que poderia sim, estar
inalcançada, devido aos devaneios da idade. Mas o diálogo me permitiu observar a
importância atribuída à confecção desses materiais, ao ser comparado pela senhora a um
objeto de valor na sua infância. Neste momento da observação, encontrei respostas para
os questionamentos que me inquietavam até então.
A partir daí, agucei o olhar sobre os diálogos produzidos nas oficinas, para então
compreender o que estimulava o aprendizado. As oficinas eram em sua maioria,
interdisciplinares, e buscavam conexões com entre si. Os materiais produzidos nas
oficinas eram utilizados como recursos para as aulas de alfabetização, o que atribuía um
maior sentido as produções dos idosos.

A turma compostas por 12 idosos, geralmente era um ambiente de muita


conversa. Todo e qualquer conteúdo ministrado era vinculado, por farte dos idosos, a
uma narrativa de vida, a alguém conhecido, a um fato. Nas aulas de alfabetização,
presenciei um interessante momento, onde o professor ensinava a letra R, ao escrevê-la
no quadro perguntava aos alunos:

- Essa é a letrinha R... de rato, de romã..

E os idosos davam continuidade as palavras com expressões cotidianas, que


vinha a memória.

- R de Raul, meu filho lindo (dizia uma senhora).

- R de Raquel, minha neta que mora em Guarapari. E só vem me ver nas férias
da escola. (dizia um senhor)

- R de Rita, minha vizinha, que fica o dia todo na janela procurando fofoca.
(dizia o professor)

- R de rainha do forró. (dizia uma senhora, transmitindo risadas).

Obs: aqui, nessas falas transcrevo exatamente como foi dito.

Esse diálogo era contínuo nas aulas de alfabetização. Os links com a realidade
permitia aos idosos retomar fatos do passado, e até mesmo do presente, possibilitando o
aprendizado de maneira mais confortável.

Nesse sentido, o foco da pesquisa foi observar e entender os diálogos que


rondam a alfabetização de idosos. Compreendendo como a memória, pode auxiliar no
processo no ler, possibilitando a aprendizagem.

Foi possível através das visitas e observações participante, dialogar no sentindo


de entender as motivações que levaram aqueles idosos a frequentarem as aulas de
alfabetização. Atentei-me a observar os diálogos a fim de entender a essência das
narrativas que eram criadas naquele espaço, isso me possibilitou uma maior
compreensão do desejo pela leitura.

Aprender a ler para esses idosos, não era uma necessidade. Mas sim, um desejo
de alcançar algo que lhes foi tirado na infância, e não oportunizado na juventude.
Diversos são os motivos que impediram esses idosos de frequentar a escola, dentre eles
estão a condição social, a precariedade das estruturas físicas do espaço geográfico onde
moravam, a privações econômicas e sociais. Esses foram os motivos que fizeram com
que muitos interrompessem muito cedo os estudos, e que outros nem se quer fossem a
escola uma única vez.

O aprendizado tornou-se uma espécie de mérito pessoal, onde mesmo depois de


tanto tempo, teriam a oportunidade de reconstruir sua história a partir da leitura e da
escrita. Aprender a escrever possibilitaria colocar no papel toda lembrança guardada,
eternizando suas memórias. E a leitura, possibilitaria o reconhecimento de mesmo
perante o mundo, como se fosse uma forma de se localizar, de ser independente.

Bastava estar naquele espaço para que todo o desejo de pertencimento fosse real.
As produções nas aulas os faziam ser capazes de entender o significado da fase velhice,
que atribui a sujeitos antes tão jovens, a oportunidade de se refazer. O aprendizado os
tornava ativos o suficiente para fazer conexões entre suas memórias com as memórias
de outros, criando assim, um resgate coletivo.

A possibilidade de reconhecer sua história nos traços de suas produções


fortalecia o vínculo com a realidade, permitindo um aprendizado eficaz e espontâneo.
Ao final de cada oficina de leitura, transparecia a satisfação de cada idoso em poder
mostrar a família o que havia aprendido.

O espaço não sistematizado de ensino permitia diversas técnicas que


beneficiavam o aprendizado dos idosos, como os recursos pedagógicos produzidos
pelos próprios alunos, que enalteciam suas experiências, tornando-as parte do processo.

A pesquisa me permitiu entender a significação da alfabetização na esfera social.


Especialmente no que diz respeito a terceira idade. Através de recursos pedagógicos e
materiais de apoio, é possível criar métodos de ensino que contextualize com as
experiências dos sujeitos inseridos, oportunizado um aprendizado de qualidade e ensino
que prepare esse individuo para assumir efetivamente as esferas sociais.

Entender a velhice como um momento de aprendizagem e reconstrução, é


também possibilitar novas formas de aprendizado e desenvolvimento. Pois a velhice,
não se restringe a uma forma física ou biológica, mas sim um amontoado de vivências,
construídas desde a juventude.

OS “CARACTERES”: IDOSO, VELHICE E TERCEIRA IDADE.

Ao falar da categoria “Terceira idade” pensando pelos critérios sociais, seria


visualizar uma última imagem da vida humana, ou seja, pensar a velhice como a última
etapa antes da morte, sendo esta etapa caracterizada por referenciais físicos como,
cabelos brancos, perda de memória, diminuição das capacidades motoras, etc. A
imagem que temos da terceira idade muitas vezes é uma imagem indesejada, carregada
de desconforto, medos e fraqueza.

Pensar a terceira idade na sociedade atual, onde os idosos são colocados como,
incapazes, cansados e impotentes, é ultrapassar barreiras de preconceito e de
descriminação. Propondo uma releitura dos termos velhice, terceira idade e idoso. Ao
buscar compreender que biologicamente nascemos, crescemos e envelhecemos, temos a
possiblidade de atribuir a esses termos funções que vão muito além da perda dos
artifícios físicos eficazes. Ou seja, entender a velhice e permitir que esses sujeitos
tenham a possibilidade de pertencer a um espaço que contemple sua existência.

Em um país onde a população da terceira idade ainda é tida como improdutiva,


inativa, é um grande desafio colocar a disposição desse grupo, as oportunidades que
lhes cabem. Tendo em vista a necessidade de dar continuidade as sua funções,
independentemente de sua idade cronológica.

Ao pensar a função social do idoso, entendemos com ela, a importância da


memória nessa instância. Ao envelhecer e deixar de exercer uma função ativa na
sociedade, as lembranças desses sujeitos passam a representá-los socialmente, assim em
conformidade as palavras de Bosi, que nos relata:

O que rege, em última instância, a atividade mnêmica é a função


social exercida aqui e agora pelo sujeito que lembra. Há um momento
em que o homem maduro deixa de ser um membro ativo da sociedade,
deixa de ser um propulsor da vida presente do seu grupo: neste
momento da velhice social resta-lhe, no entanto, uma função própria:
a de lembrar. A de ser a memória da família, do grupo, da instituição,
da sociedade (BÓSI, 1994).

Ao compreender que o idoso assume a função social, contribuindo com as


lembranças de suas vivências, alguns espaços de acolhimento se dispõem a oferecer
oportunidades de inserção desses sujeitos novamente à sociedade. Porém, a perda das
funções ativas ainda resulta na exclusão desses sujeitos. Tornando a velhice, sinônimos
de fracasso e incapacidade, já que suas memórias não são suficientes para inseri-los
novamente na vida social. “Esta desvalorização da memória e da lembrança faz com que
o sentimento de inutilidade seja ainda maior”. (RUBEM ALVES, 2004).

Diante disso, os termos “Terceira Idade, Velhice, Idoso”, são atribuídos


socialmente as noções de enfraquecimento e impotência, desprivilegiando o grupo e
impossibilitando novos aprendizados, assim como a oportunidade de ler, escrever,
aprender novas técnica de trabalho e novas formas de conhecimento para seu bem estar
próprio e social.

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS, PARA A


PROMOÇÃO SOCIAL DO SUJEITO IDOSO.

Entendendo a educação como forma de emancipação do indivíduo na esfera


social, tendo como ideal o ensino-aprendizagem para o desenvolvimento humano, torna-
se de grande importância abordar os espaços onde o ensino tem-se colocado.
Principalmente no que diz respeito aos espaços não formais, que se caracterizam por
ofertar o ensino não sistematizado. Sendo hoje abraçadas por Ongs, Instituições de
apoio, Instituições religiosas, etc.
A educação não formal tem recebido olhares minuciosos de diversos estudiosos
da educação contemporânea, que se preocupam em entender o processo de ensino
ofertado nesses espaços e sua importância para a sociedade.

O ensino fora do ambiente escolar sistematizado visa atender uma demanda


excluída da população. Atendo em grande parte grupos com grande vulnerabilidade
social, idosos, pessoas em reabilitação, entre outras. Possibilitando que através da
educação, esses grupos possam alcançar determinados méritos como: inserção ao
mercado de trabalho, sair do analfabetismo e até mesmo, se sentir parte de uma
sociedade como qualquer outro indivíduo. Nesses espaços, os grupos encontram a
oportunidade de se socializar, através do diálogo com o grupo, e também por meio das
trocas de experiências, que motivam a interação.

Além disso, a educação não-formal socializa os indivíduos,


desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de
se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças da
comunidade. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o
mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais (BARRO;
SANTOS, 2010, p. 06).

Diversos são os desafios da educação não formal na sociedade atual. Porém o


que mais extrapola suas esferas é o desafio de defini-la e de caracteriza-la, tendo em
vista que esta ainda é muito recente na sociedade. Cabem à educação não formal,
quaisquer atividades que envolvam a promoção de conhecimento, a busca pelo ensino e
aprendizagem. Assim como nas palavras de Souza,

A educação não-formal visa contribuir para o desenvolvimento de


crianças e adolescentes, idosos e ainda tem como um de seus objetivos
erradicar o trabalho infantil. Esse modelo de educação é recente na
história do Brasil e vem se construindo. É um serviço que se entende
por ser auxiliar no direito a educação e que contribui para inclusão do
sujeito no âmbito educacional. (SOUZA, 2008, p. 2).

Portanto, a educação não formal busca por meio do ensino não sistematizado
alcançar o sujeito/grupo, através de recursos educativos que os insira no processo de
ensino. Permitindo assim, que fora das instituições formais, também se forme sujeitos
capazes de transformar a realidade social. Especialmente, na terceira idade as
instituições de educação não formal atuam com projetos de reconstrução das vivências,
oportunizando aos idosos através de sua memória, alcançar a aprendizagem.
Nesse sentido, pensar a educação nos espaços não formais voltado para a terceira
idade, é pensar numa relação individuo-sociedade. As experiências trazidas por esses
idosos ao serem conectadas com as de outros, e com a realidade atual, produzirão o
ensino e a promoção social dos mesmos. Tendo em vista a visão que a sociedade
carrega da velhice tendo-a como, improdutiva, inativa. “As representações sociais vão
ganhando a função de conectar o indivíduo ao coletivo, buscando uma articulação do
individual com a ordem social”. Ferreira (2013, p.4).

Contudo, é importante considerar a relevância da educação nos espaços não


formais, principalmente no que diz respeito aos grupos mais vulneráveis. Pois nesse
espaço são produzidas significações, são nos diálogos coletivos que as experiências
individuais e dos grupos, permitem e consolidam o pertencimento desse indivíduo
novamente a seu espaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das considerações trazidas nesta pesquisa, foi possível compreender os


sentidos produzidos pela sociedade. Através da história oral, foi possível reconhecer a
importância da memória para produção de conhecimento, tendo em vista os inúmeros
recursos que a mesma oferece para conduzir o ensino-aprendizagem.

Através das tessituras cotidianas e da interação sujeito-ambiente, é possível


construir elos entre o passado e a realidade atual. Por meio de conexões das vivências,
como o que se aprende diariamente. Por meio das participações nas oficinas, durante a
pesquisa, foi possível observar o quanto o aprendizado se torna significativo, quando
este faz referência a vida cotidiana do sujeito que aprende. Pois neste momento o que se
aprende, tem significado e permanece na memória do sujeito, como uma expressão
importante.

Daí a importância das instituições de ensino não sistematizadas, em relação a


promoção social do idoso, sendo este em sua maioria excluído da sociedade, devido
suas funções inativas produzidas pela idade. Ao acolher esses grupos, as instituições de
ensino não formal, produzem significações a partir do ensino. Conduzindo esses sujeitos
a uma nova trajetória, reinserindo-os na sociedade.

A partir das observações considero o ensino nos espaços não formais uma nova
oportunidade para os idosos de se reconstituir, por meio do aprendizado, sendo o que
sempre quiseram ser. Através da educação e com os recursos trazidos pelas experiências
e pelas memórias dos mesmos, o ensino é facilitado, permitindo a promoção crítica e
social desse grupo tido como impotente.

Essa pesquisa não escota as discussões a cerca dos caracteres terceira idade;
velhice; idoso; educação não formal. Apenas, contribui dialogando com outras
produções, para o enriquecimento a cerca desse tema, buscando aguçar ainda mais
inquietações a respeito do tema.
ANEXOS

Aula de alfabetização, aprendendo as vogais.

Primeiros traços das vogais.


Confecção de vogais com diversos materiais.
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