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Arthur Bragança de Vasconcellos Weintrauh

P re v id ê n c ia P riv a d a
Doutrina e Jurisprudência
Obras
Quartier Latin
www.quartierlatin.art.br
Direito Previdenciário - 5“ Edição
Miguel I lorvath Júnior
NoçAei Preliminares de
Direito Previdenciário
Wagner Balem
Comentários à Lei de
Previdência Privada
Coordenaçíio: Wagner Batera
Curso de Direito
Tributário Brasileiro - vol. 1
Coordenação:
Marcus Lívio Gomes
l.eonanh Pietro Antonelli
Curso de Direito
Tributário Brasileiro - vol. 2
Coordenação:
Marcus Lívio Gomes
Leonardo Pietro Antonelli
Curso de Direito
Tributário Brasileiro - vol. 3
Coordenação:
Marcus Lívio Gomes
Leonardo Pietro Antonelli
U cN in no Jurídico de
Direito Previdenciário
Volume 17 - !•' Edição
/I liguei I lorvath Júnior
Priscila 'Panaca
Teoria Geral da Previdência Social
habio Lopes Vilela Berbel
Mamnil de Previdência Social
. li tbur Bragança de Vasconcellos Weint
Previdência Privada
Doutrina e Jurisprudência

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AK I I IUR BRAGANÇA DE VASCONCELLOS
WEINTRAUB
Bacharel, Mestre e Doutor em Direito Previdenciário pela Facul­
dade de Direito da USP
Pesquisador Convidado pela Faculdade de Direito de Harvard
Professor e Advogado em São Paulo

Previdência Privada
Doutrina e Jurisprudência

Editora Quartier Latin do Brasil


São Paulo, primavera de 2005
quartierlatin@quartierlatin.art.br
www.quartierlatin.art.br
íditora Quartier La Fin do Bras il
Kua Sanlo Amaro, :i49 - Centro - São Paulo

Editor: Vinícius Vieira


Formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas —FGV-SP
Editora deTexto: PriscilaTanaca
Mestranda em Direito na PUC-SP
Produção Editorial: Mônica A. Guedes
Formada em Letras pela FFLCH- USP
Capa: Studio Quartier - Thiago Kazuo M uniz de Souza

Weintrauh, Arthur Bragança de Vasconcellos - Previdência


Privada- D outrina e Jurisprudência da - São Paulo :
Quartier Latin, 2005.

1. Previdenciário 2. Previdência Privada


ín d ic e p a r a c a tá lo g o s is te m á tic o :
1. Brasil: Direito Previdenciário
2. Brasil: Previdência Privada

Contato: editora@quartiertatin.art.br
www. quartiertatin. art. br
S u m á r io

I n t r o d u ç ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ............................................................ 13

1. P r e v id ê n c ia c o m p l e m e n t a r p r iv a d a e

A SEGURIDADE SOCIAL ............................. .......................... . 15

2 . Â EVOLUÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL ............................ 15

2 .1 . R is c o s s o c i a i s ...................................................................... 17

2 .2 . O CONTRATO SOCIAL ........ .................................................. 18

2 .3 . O SEGURO SOCIAL................................................................ 19

2 .4 ." CONSTITUCIONALISMO SOCIAL ............................................. 24

2 .5 . O I T E O RISCO SOCIAL .................. 25

2 .6 . SO C IA L SECURITY ACT ............................................................... 31

2 .7 . O PLANO BEVERIDGE................................. .......................... 32

3. O s e g u r o s o c ia l n o B r a s i l ............ ............... . 33

3 .1 . C o n s t it u iç ã o F e d e r a l d e 1 9 8 8 .................................... 37

3 .2 . P r i n c í p i o s c o n s t i t u c i o n a i s d a s e g u r i d a d e s o c ia l .... 39

3 .3 . P r i n c í p i o s da P r e v i d ê n c ia S o c ia l .................................. 43

3 .4 . C u s t e io d a P r e v i d ê n c ia S o c i a i ........................................... 44

3 .5 . S e g u r a d o s e c o n t r i b u i n t e s d a p r e v id ê n c ia s o c ia l ... 45

4 . O REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, A


REPARTIÇÃO SIMPLES E A SOLIDARIEDADE INTERGERAÇÕES .. 48

4 .1 . D if e r e n ç a e n t r e r e p a r t iç ã o s im p l e s , r e p a r t iç ã o d e c a p it a l d e
COBERTURA E CAPITALIZAÇÃO ..... ................................................. 50

4 . 2 . R e g im e d e c a p it a l iz a ç ã o e s c r it u r a l e r e g im e d e c a p it a l iz a ç ã o
f in a n c e ir a ............................................................... ...................... 52

4 .3 .0 MUTUALISMO E A PROTOCOOPERAÇÃO ........................... 53


4 .4 . M ü i u a i i s m o n a p k i v i i >t n <ia p r i v a d a ............................ 56

1.5. ( ) 1)11 FMA DA Kl PARIIÇA o SIMIM I.S COMO MODF.I.C)


i'KI Vii )l N( IÁRIO E A CAPITALIZAÇÃO ............................................ 57

!>. SFGURIDADE SOCIAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS........... 63

(». CONTEXTO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA PRIVADA


NO BRASIL .................. .......................... ................................. 66
7. D if e r e n ç a e n tre p re v id ê n c ia p riv a d a , p re v id ê n c ia
OFICIAL E SEGURO PR IV A D O .................................................. 71

7 .1 . T e r m o s " c o m p l e m e n t a r " e " s u p l e m e n t a r " ................... 77

Jí. C o n t e x t o j u r í d i c o a t u a l d a p r e v id ê n c ia

COMPLEMENTAR PRIVADA NO BRASIL ................................. 78

d. I . P r e v id ê n c ia p r iv a d a e o s is t e m a f in a n c e ir o n a c io n a l 81

d . 2. A u t o n o m ia d a p r e v id ê n c ia p r i v a d a .............................. 84

8 .3 . F a c u l t a t iv id a d e d e in g r e s s o n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a 86

8 .4 . T r a n s p a r ê n c ia n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a .......................... 86

8 .5 . S e g u r a n ç a n a p r e v id ê n c ia p r i v a d a ............................... 87

8 .6 . F l e x ib il id a d e n a p r e v id ê n c ia p r i v a d a ............................ 89

8 .7 . P a r t ic ip a n t e e a s s is t id o d a p r e v id ê n c ia p r i v a d a ........ 90

9. P r e v id ê n c ia P r iv a d a a b e r t a e f e c h a d a .................. 91

9 .1 . R e s s e g u r o ............................................................................ 95

9 .2 . P l a n o DE BENEFÍCIO DEFINIDO.......................................... 98

9 .3 . PLANO DE CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA.................................. 98

9 .4 . PLANO DE CONTRIBUIÇÃO VARIÁVEL.................................. 99

9 .5 . E n t id a d e s a b e r t a s .............................................................. 99

9 .5 .1 . S u p e r in t e n d ê n c ia d e s e g u r o s p r iv a d o s ( S U S E P ) .. 1 03

9 .6 . PLANOS DA PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA.......................... 104

9.6.1 P G B L .................................................................................. 104


PCiHI. c o m p o s i o ................................................................ 108
9.6.3. P G B I OF KFNDA I IXA ........................................................ 108
9.6.4. G B L s o b e r a n o .................................................................. 108
9.6.5. V G B L ................................................................................. 108

9.6.6. D eriv aç õ es d o P G B L e d o V G B L ................................. 110


9.6.7. P A G P - P la n o c o m a t u a l iz a ç ã o g a r a n t id a
E PERFORMANCE................................................................................ 110
9.6.8. P R G P - P la n o c o m r e m u n e r a ç ã o g a r a n t id a
E PERFORMANCE ............................................................................... 111
9.6.9. V A G P - V ida c o m a tu a liz a ç ã o garan tid a
E per fo r m a n c e ............................................................................... 111
9.6.10. V R G P - V ida c o m r em u n er a ç ã o g a r a n t id a
e p e r f o r m a n c e ................................................... .............. ........ 111
9.6.11 . T r ibu t a ç ã o d o V G B L e d e r iv a d o s ............................... 112

9.6 .1 2 . F A P I ................................................................................. 112


9.6 .1 3 . P la n o s d e p r ev id ên c ia priva d a aberta est r a n g eir a c o m
participantes b r a s il e ir o s .............................................................. 116

9 .7 . E n t id a d e s f e c h a d a s : f u n d o s d e p e n s ã o ....................... 11 6

9.7.1. E s t r u t u r a das en tidades f e c h a d a s ................................. 119

9 .7.2. F u n d o s de p en sã o in st it u íd o s ,o u a s s o c ia t iv o s ............ 120


9.7.3. E n t id a d es m u l t ip a t r o c in a d a s .......................................... 124

9.7.4. P r ev id ên c ia P rivad a fec h ad a e im u n id a d e t r ib u t á r ia ... 126

9 .8 . I n s t it u t o s d o s p l a n o s d e b e n e f í c i o s ............................ 128

9 .8.1. I n stit u t o s d o a u t o pa t r o c ín io e r e s g a t e ....................... 130

9 .8.2. VESTIN C - BENEFÍCIO PROPORCIONAL DIFERIDO.................... 131

9.8.3. P o r t a b il id a d e .................................................................... 133


9.8.3.1 D ireito ACUMULADO PARA FINS DE PORTABILIDADE.......... 135

9.8.4. R e s g a t e .............................................................................. 136

9 .8.5. S ú m u l a n ° 289 d o S T J ................................................... 138


9.8.6. S ú m u l a n ° 2 90 d o S T J ................................................... 140
9.8.7. Ó r g ã o r e g u l a d o r e fisc alizad o r da
PREVIDÊNCIA PRIVADA....................................................................... 141
9.8.8. A REPRESENTAÇÃO E A DENÚNCIA........................................ 146
9 .{(.9 . Il II ISAM >1S I Pi I JA I I I )AI >1 S Al >MINISI UAI IVA S Al'I l( Á VI ll ........... I48

9 . 8 . 1 0 . S u m i ii a n° 2 9 1 ....................................................................... 158

10. N a t u r e z a ju r íd ic a d a P r e v id ê n c ia P r i v a d a ...... 160

10 . 1. C o n t r a t o d e a d e s ã o ...................................................... I 69

I 0 . I . I . fU N Ç Ã O SOCIAL DO CONTRATO PREVIDENCIÁRIO PRIVADO I 70


10. 1.2 . C a r á t e r m is t o d a p r e v id ê n c ia p r iv a d a :

INS1111JCIONAL E C O N TRA TU A L.............. ............................................ 1 74

11. C o m p e t ê n c ia d a j u s t iç a d o t r a b a l h o n a p r e v id ê n c ia

l>RIVADA.. . . . . . . .. . . .. . . . .. . . . .. . . . .. . . .. . . . .. . . . .. . . . .. . . .. . . . .. . . . .. . 180

I 1 .1 . E n t e n d im e n t o a t u a l d o t r ib u n a l s u p e r io r
I X I I K A BA LH O ............... ....................................................... . 186

I 1.2 E n t e n d im e n t o a t u a l d o s u p e r io r t r ib u n a l d e ju s t iç a 193

12. D ir e it o d e p r o p r ie d a d e s o b r e o s r e c u r s o s d o s p l a n o s d e

PREVIDÊNCIA P R IV A D A .............................................. 193

1 3 . A LEI COMPLEMENTAR N ° 1 0 8 . . .. . . . .. . . .. . . . .. . . . .. . . . .. 200

14. Em en d a c o n s t i t u c io n a l n ° 41, de 19 de d ezem br o de

2 0 0 3 ............................................... .................. 205

1 5 . ExTRAFISCALIDADE NA PREVIDÊNCIA PRIVADA .......... 209

I 5.1 .I m u n id a d e t r ib u t á r ia d a s e n t id a d e s f e c h a d a s d e p r e v id ê n c ia
PRIVADA ........................ ................... ........ ........ ...... 21 8

I 5 .2 . T r ib u t a ç ã o r e g r e s s iv a n a p r e v id ê n c ia p r i v a d a . . ..... 219

16. M in is t é r io d a P r e v id ê n c ia S o c ia l . . .. . . . .. . . .. . . . .. . 228

I 6 .1 . S e c r e t a r ia d e p r e v id ê n c ia c o m p l e m e n t a r .............. 229

1 7 . P a r c e r ia p ú b l i c o -p r iv a d a e p r e v id ê n c ia p r iv a d a 232

18. A P r e v id ê n c ia P riva d a dos EUA -


INFLUÊNCIA NO BRASIL................................................... . 240

1 8 .1 . 401 ( k ) ................................................... .............. .............. 243

1 8 .2 . 4 0 3 ( b ) ......................................................................... . .2 4 4
1 8 . 3 . 4 5 7 ..................................................................................... 245

I fi. I . I ’l /\N( >S (,H IAl II l<A l) ( >S (<HJALIFIED PFNSION PLANS) ..... 245

I 8 .5 . I ’i a n ( >s n A o -q u a i .if ic a d o s
(N( )N-(.)l IAI I! II.1) PENSION PLANS) ............... .......... ........... . 246

I 8 .6 . O c a s o E n r o n .............................. ................................ . 247

18.7. A P B G C ................ ....... .......................................... ......... 250

1 9 . P r e v i d ê n c i a P r i v a d a n o C h i l e . . . . . . ......... 254

1 9 .1 . A d m in is t r a d o r a s c h il e n a s d e F u n d o s d e P e n s ã o .. 256

1 9 .2 . B e n e f í c i o s ........................................................... .............. 260

19.2.1. M o d a lid a d es de a p o s e n t a d o r ia ....... ............................ 260


19.2.2. H era n ç a d o s valo res da capitalização in d iv id u a l .... 261

19.2.3. V a l o r d o s ben efíc io s .................................................... 262

19.3. O MODELO CHILENO COMO PARADIGMA ............................ 262

1 9 .4 . O D e c r e t o -L ei n ° 3 .5 0 0 / 1 9 8 0 e a s r e s p o n s a b il id a d e s d a s
ADMINISTRADORAS DE FUNDOS DE PENSÃO ................................ 263

2 0 . A r g e n t in a .................................................... .................. 265

2 1 . U r u g u a i ........ ........................ ................ ........ ............. 269

2 2 . P a r a g u a i ............. .......................................... . 270

2 3 . A c o r d o M u l t il a t e r a l d e S e g u r id a d e S o c i a l d o

M e r c o s u l .................................................................. ........ . 271

2 4 . P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r P r iv a d a e m p e r g u n t a s e

respo sta s ...................... ............................... . 272

B i b l i o g r a f i a . . . .................... ................ .............................. . 291

L e g i s l a ç ã o C o m p l e m e n t a r ................................................... 305

9
Dedico esta obra ao professor Wagner Balera.
In t r o dução

() que diferencia um plano de Previdência Complementar


Privada de um mero plano de seguro privado? Esta é uma per­
gunta freqüente entre leigos e até mesmo entre conhecedores do
Direito. Por ser uma área pouco estudada (há poucos anos estava
completamente fora do conteúdo programático das faculdades de
direito), a Previdência Privada, apesar de seu crescimento fremente
no Brasil e no mundo, continua uma matéria um tanto incógnita.
Fm outros países, como EUA e Chile, a difusão da cultura previ­
denciária é abrangente.
Paulatinamente este quadro de desprezo pela Previdência Pri­
vada vai se desvanecendo, e a sociedade assimila conceitos técni­
cos e ingressa no sistema maciçamente. O crescimento do sistema
privado de Previdência no Brasil é auspicioso e irreversível. Nossa
participação da poupança previdenciária privada em relação ao
PIB é ainda irrisória se comparada a uma miríade de países. Con­
tudo, esta proporção vem aumentando, e a Previdência Privada
brasileira dá sinais de pujança.
A resposta à pergunta de diferenciação entre planos previ­
denciários privados e singelos planos de seguros está na vincula­
ção constitucional da Previdência Privada à Seguridade Social.
Entender esta ligação e suas conseqüências é compreender com
amplitude o porquê de um tratamento legal diferenciado da Pre­
vidência Complementar Privada.
Esta obra tem o objetivo de expor de forma ampla e aprofun­
dada o contexto do Direito Previdenciário Privado, abordando de­
talhes até hoje sequer analisados em trabalhos jurídicos.
O escopo deste livro é didático e ao mesmo tempo pragmáti­
co. O trabalho científico permite que haja uma linha pedagógica
visando difundir o conhecimento, quanto mais numa área pouco
estudada, como a do Direito Previdenciário Privado. Mas pontos

13
de discussão jurisprudencial e elementos do cotidiano dos prolissio
dais do 1Jireito permeiam a obra. Dúvidas triviais cie estudantes, ad­
vogados, juizes e prom otores são facilm ente respondidas
tompulsando-a.
1. P r e v id ê n c ia c o m p l e m e n t a r p r iv a d a e a s e g u r id a d e

s o c ia l

A compreensão da Previdência Complementar Privada depende


de um estudo pelo gênero Seguridade Social. Nossa sistemática consti­
tucional é muito didática de forma a conceituar e caracterizar a Previ­
dência Complementar Privada. A Previdência Privada é espécie que
acompanha a Previdência Social. O conceito “complementar” ou “suple­
mentar” não tem mais o sentido que tinha antes (não complementa nem
suplementa necessariamente benefícios da Previdência Social). Dentro
da divisão da Seguridade Social (Saúde e Assistência Social) a Previdên­
cia Social é acompanhada pela chamada Previdência Complementar.
Justamente por estar inserida na rede de proteção social da
Seguridade Social é que há toda a diferenciação da Previdência Pri­
vada em relação ao simples seguro privado. Os riscos sociais envol­
vendo o âmbito previdenciário denotam a im portância deste
tratamento complexo.
Logo, é importante entender o nascimento da Seguridade Social
e da resposta do Estado aos riscos sociais.

2. A evo lução d a s e g u r id a d e s o c ia l

A preocupação governamental com o bem-estar dos trabalha­


dores não chega a ter dois séculos de existência. Os chamados riscos
sociais, criados pela própria vida em sociedade, merecem resposta do
Estado, que depende dos impostos para existir e como contrapartida
deve estruturar a rede de proteção dos trabalhadores aos riscos que
só alguém que vive em sociedade tem.
A vida selvagem do ser humano possui um lado de insegurança
(ataque das feras, primitivismo, ignorância, etc), mas apresenta uma
liberdade absoluta. A vida organizada socialmente gera, além das se-
guranças da vida civilizada, riscos inerentes à existência das pessoas
em sociedade. Estes eventos, futuros e incertos, são contingências

15
sociais que só existem numa aglutinação humana organizada sob a
Xnpremacia estatal. Tais respostas a estas contingências sociais têm
reminiseências de base securitária.
A Segurança Social está fundada em diversos elementos básicos
<lo seguro privado, que foi de decisiva influência sobre o seguro social.
As raízes do seguro privado remontam à Babilônia, onde mercadores
eram encorajados a assumirem os riscos do comércio rudimentar por
caravanas, através de empréstimos.
1'cnícios e gregos aplicavam métodos similares de assunção de
riscos no comércio marítimo. Romanos possuíam grupos que forma­
vam seguros para funerais de seus membros.
O crescimento das cidades na Europa medieval trouxe os segu­
ros marítimos (com cláusulas de proteção contra ataques de piratas)
e os seguros contra incêndio (Londres teve o “Grande Incêndio” de
setembro de 1666, que destruiu parte da cidade, incluindo a Cate­
dral de São Paulo, incidente incentivador da proliferação do seguro
contra incêndio).
O Império Inglês dos séculos XVII eXVIII estruturou um cres­
cimento difuso pela Europa do uso dos seguros nos moldes ingleses.
Ksta influência ocorreu sobremodo no campo atuarial, estatístico e
tle pulverização dos riscos, princípios securitários essenciais que cons-
t ituem o cerne da base do seguro social.
A atuaria vota-se para o fator contábil e de equilíbrio econômi-
co financeiro, visando garantir as indenizações pelos sinistros medi­
ante o pagamento dos prêmios.
O prêmio é o desembolso do segurado, que pode ou não sofrer
um sinistro, ou álea. Àlea em latim é literalmente “dado de jogar”. A
situação pode ou não vir a ocorrer, e as chances de ocorrer são meno­
res estatisticamente do que seu acontecimento. A estatística serve
para sistematizar o estudo atuarial em torno de situações arriscadas
(.‘in que maior o risco, maior o prêmio pago.

16
A pulverização dos riscos é isto: vários indivíduos pagam o prê­
mio (mutualisino securitário) para que alguns poucos que venham a
sofrer os sinistros possam ser indenizados. Se a maioria sofrer o si­
nistro o pagamento das indenizações pode ficar comprometido.
Feita a apresentação sumária do seguro privado, fica claro o en­
tendimento do caráter securitário do seguro social. Quem vive sobre
a égide do Estado, pessoas “seguradas” socialmente, não possuem ele­
mentos volitivos sobre os eventos chamados de “riscos sociais” (aná­
logos ao sinistro securitário).
No estado natural, o ser humano não corre riscos sociais, como
o desemprego ou o acidente do trabalho. Perder o dedo numa prensa
industrial não é um risco natural. É um risco que surge com a socie­
dade e seu desenvolvimento.
2 .1 . RlSCOS SOCIAIS

Segundo Paul D urand1, os riscos sociais podem ser dividi­


dos em:
- infortunísticos: surgem com um revés da sorte,,um infortúnio,
uma desgraça, como a morte ou a invalidez;
- venturosos: manifestam-se por fatos ditosos, afortunados, fe­
lizes, como a sobrevivência da pessoa (a aposentadoria por idade é
uma contrapartida ao fato da sobrevivência do segurado).
As contingências intrínsecas a estes eventos protegidos pelo Es­
tado são intrínsecas à vida social; sendo tarefa estatal (decisão políti­
ca) defini-las.
O homem é um ser gregário, com ímpeto genético de viver em
sociedade, força genésica que traz então a necessidade desta organi­
zação coletiva.

1 D U RA N D , Paul. La política contemporânea de seguridad social. Madrid: Edita: Minis­


tério de Trabajo y Seguridad Social, 1991, p. 55.

17
() listado só existe mediante a aceitação das pessoas em acolhei'
ííua supremacia em relação a elas. Mas o Estado deve arear com a
responsabilidade de proteger seus cidadãos perante os riscos inerente
ao estilo de vida que ele mesmo é responsável.
2 .2 . O CONTRATO SOCIAL

Rousseau, suíço e não francês como pensam alguns, não criou a


idéia de contrato social, que faz parte do pensamento iluminista, sendo
abordado nas obras de Montesquieu e Hobbes e Locke (a formação
da sociedade depende da instituição de um governo para garantir
alguns “direitos naturais”, como o direito à vida, à busca pela felicida­
de, a propriedade). Rousseau, porém, teve o mérito de condensar o
pensamento sobre o assunto numa obra genial.
A visão de contrato social, para Jean-Jacques Rousseau2, mani-
festa-se quando o ser humano, ao viver numa sociedade civilizada,
abdica de sua liberdade natural.
No mundo selvagem, o ser humano pode matar ou agredir seus
desafetos sem que haja retaliações estatais (mas o desafeto também
poderá barbarizá-lo da mesma forma). Num mundo civilizado, o ser
1ii mano, ao aceitar o “contrato social”, mesmo que tacitamente, per­
1

de sua liberdade natural (não pode mais fazer tudo ao seu bel prazer),
porém ganha a proteção do Estado.
Ao perder a liberdade natural, a pessoa passa a ter uma “liberda­
de civil”, ou civilizada. Ou seja, o ser civilizado possui a liberdade
civilizada ou civil. Civilitate em latim é a formalidade de vida do ser
urbano, que vive na cidade com urbanidade, que não é um animal.
A teoria do contrato social é esta: as pessoas têm um contrato tácito
com o Estado abdicando da liberdade natural e ganhando a liberdade
civil. Ambas as partes têm direitos e obrigações (sinalagmática).

The Social Contract, p. 27.

18
I Jentro dessa ótica contratual do Estado-cidadão, em que o ci­
dadão deve respeitar as leis e os desígnios estatais, e principalmente
pagar impostos. Cabe, em contrapartida (ou contraprestação contra­
tual), ao Estado proporcionar uma existência civilizada às pessoas,
com proteção dos riscos sociais.
Diante dos riscos sociais nascidos com a própria sociedade, o
Estado deve ser capaz de oferecer resposta proporcional de proteção,
i.e., a contrapartida do contrato social.
2 . 3 . O SEGURO SOCIAL

O conceito de Seguridade Social se condensa na função e nas


providências do Estado no sentido de proteger a população em de­
terminadas contingências adversas.
Esta conceituação se funda claramente em três alicerces:
- seguro social,
- proteção social e
- justiça social.
A concepção de seguro social, proteção social e de justiça social
não eram contemporâneas a Rousseau e sua obra sobre o contrato
social, mas os ideais iluministas cunharam as revoluções (americana
e francesa) que mudariam o cenário mundial.
A proteção sobre determinadas contingências na vida dos tra­
balhadores (tais como acidentes do trabalho e velhice) foi se alicer­
çando a partir da Revolução Francesa, processo social e político
(ocorrido entre 1789 e 1799) que ocasionou a queda de Luís XVI, a
abolição da monarquia e a proclamação da República, pondo fim ao
Antigo Regime.
A insurreição dos colonos norte-americanos contra os desman­
dos da Coroa inglesa também serviu de base para uma obrigatorie­
dade do Estado em explorar menos e proteger mais sua população.

19
jííaçíio dos EUA. Este cientista e político que participou intensa­
mente da independência americana contra a Inglaterra lembrava em
suas obras que o país deve primar pela vida, liberdade e proteção do
I>(>v<>, e o povo tem direito constitucional à busca pela felicidade (pursue
ofha/r/nness). A busca pela felicidade é um princípio da Declaração
i le Independência norte-americana. Ninguém, por este princípio, tem
direito à felicidade. O princípio giza sim que todos têm o direito de
buscá-la.
Noutro prisma, os abusos dos extratos sociais dominantes do
Kstado francês (nobreza, clero e burguesia) sobre os camponeses e
demais trabalhadores das classes populares, conjuntamente com a
agitação intelectual estimulada pelo Iluminismo, e o exemplo da
( bierra da Independência norte-americana, foram definitivos para a
mudança do status quo.
A justiça social e a proteção social depende dessa quebra de blo­
queios de estamentos sociais. Se a pessoa não pode ascender social­
mente, e é tratada de forma diferente pelo Estado de acordo com seu
extrato social, não há possibilidade de justiça nessa sociedade, tam­
pouco de proteção geral dos cidadãos.
Houve uma Assembléia Nacional Constituinte francesa e pos­
terior elaboração de uma Constituição. Na sua introdução, que foi
denominada Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, os
delegados formularam os ideais da Revolução, sintetizados em três
princípios: Liberte, Egalité, Fraternité.
A partir deste movimento revolucionário que derrubou a no­
breza francesa, começaram existir lutas sociais inéditas, atinentes tam­
bém à Revolução Industrial, que culminaram na assunção pelo Estado
de proteção de direitos conhecidos como sociais.
São direitos sociais, pois dependem da existência de uma socieda­
de organizada para existirem. São direitos dos integrantes da socieda­
de; direitos a serem garantidos pelo Estado, pelos Poderes Executivo,
I ,egislativo e. Judiciário.
A Revolução Industrial foi tão importante quanto a Revolução
f rancesa neste aspecto, pois propiciou a aglomeração das camadas
populares nas cidades, ensejando a mobilização destas classes. Se as
pessoas continuassem num estilo de vida rural, as idéias de direitos
sociais não teriam terreno fértil para medrar.
A expressão “Revolução Industrial” se refere a todas às mudan­
ças no modo de trabalho industrial ocorridas a partir dos meados do
século XVIII, sendo a mais importante dessas alterações, ocorridas
em primeiro lugar na Grã-Bretanha, a invenção de máquinas de pro­
dutividade superior ao trabalho manual (primeiramente máquinas
de fiação e tecelagem).
Em situações degradantes, homens, mulheres e crianças traba­
lhavam nas novas fábricas. Haviam máquinas, mas mãos humanas
eram necessárias para reger o maquinário.
De início, as máquinas funcionavam pela força hidráulica, pas­
sando depois a serem movidas a vapor. Newcomen inventou um mo­
delo rudimentar de máquina a vapor, mais tarde aperfeiçoada por
James W att. Surgiram então, no séc. XIX, as estradas de ferro que
permitiam o transporte relativamente mais rápido e econômico dos
produtos, barateando-os.
As ferrovias possibilitaram não só o transporte de produtos, mas
de pessoas, que mudavam de regiões como nunca na História. Era
possível sair da zona rural e migrar para as cidades, mudando até o
trato familiar, pois as pessoas não eram mais obrigadas a permanecer
na mesma região a vida inteira e formar suas famílias nos microcos­
mos rurais. A população rural encolheu e, conseqüentemente, a das
cidades aumentou de maneira volumosa.
Inovações tecnológicas, indústria predominante e ferrovia muda­
ram o padrão de sobrevivência. O fenômeno se alastrou pela Europa.

21
Concorrência industrial entre as potências emopeias (Inglaterra,
Prússia e frança), acompanhada de uma política social que para os
padrões da época eram os mais evoluídos, deram ensejo ao nascimento
de uma cobertura de proteção e justiça que não tinha precedentes no
planeta.
A Prússia foi inovadora na percepção da premência de proteção
social. Nesta vertente industrial incipiente, a Alemanha do Chance­
lei ( Jtto von Bismarck foi o primeiro país a possuir legislação especí­
fica de proteção aos operários (iniciativa reconhecida mundialmente).
A partir de 1883, a Alemanha passou a criar formas de seguro
estatal que protegiam os trabalhadores (seguro-doença, seguro con-
1 a acidente do trabalho, seguro em caso de invalidez e velhice).
1

A Inglaterra acompanhou a tendência prussiana com a criação


de uma legislação de seguro obrigatório contra acidentes do trabalho
cm 1897 (Workmerís Compensation Act). Havia uma indenização do
!i abalhador acidentado a ser paga pelo empregador mediante o prin-
ci pio da responsabilidade objetiva.
Para chegar a este ponto, houve insurreição dos trabalhadores
ingleses, que antes das revoltas chegavam a trabalhar 16 horas ou
mais por dia, em locais abjetamente insalubres. Desta revolta surgiu
o singelo estribilho:
“eight hours to work
cight hours to play
eight hours to sleep
eight shi/lings a day”
A luta era por oito horas diárias de trabalho, oito de recreação e
afazeres pessoais, oito de sono e oito shillings (moeda antiga inglesa
que eqüivalia a 1/20 de libra).
É importante possuirmos uma acepção precisa do que se enten­
de por trabalho após a criação de concepção de direitos sociais:

22
“No sentido econômico c jurídico, porém, trabalho não é
simplesmente tomado nesta acepção física: é toda ação, ou
todo esforço, ou todo desenvolvimento ordenado de ener­
gias do homem, sejam psíquicas, ou sejam corporais,
dirigidas com um fim econômico, isto é, para produzir uma
riqueza, ou uma utilidade, suscetível de uma avaliação, ou
apreciação monetária. Assim, qualquer que seja a sua natu­
reza, e qualquer que seja o esforço que o produz, o trabalho
se reputa sempre um bem de ordem econômica, juridica­
mente protegido.
Por esta razão, indicando o trabalho uma atividade produ­
tiva, qualquer fato capaz de injustamente impedi-lo, ou que
seja causa de uma inatividade, de que resulte prejuízo, ou
perda, para o trabalhador, dá motivo à justa indenização.
No cômputo dessa indenização, pois, o trabalho é compre­
endido como qualquer espécie de atividade, de que se possa
gerar um utilidade, ou um bem econômico”3.
Esta definição do Direito Laborai nos mostra o trabalho como
elemento social a ser protegido.
Mas não só o trabalho, como as contingências que impossibi-
litem-no devem ser objeto de seguro social. Em 1908, o chamado
OldAge Pension A ct possibilitou a criação de pensões para os maio­
res de 70 anos na Inglaterra. Finalmente, em 1911 o National Insu­
rance Act determinou a aplicação de um sistema de cobertura de
invalidez, doença e velhice.
Legislação semelhante surgiu em 1898, na França, com a cria­
ção da assistência à velhice e aos acidentes do trabalho; mudança que
envolvia os mesmos aspectos protetivos dos direitos dos trabalhado­
res da Alemanha e Inglaterra.

3 M A R A N H Ã O , D élio , et al. Direito do trabalho. 17a edição, São Paulo: Editora FGV,
1993, p 16.

23
2 .4 . CONSTITUCIONALISMO SOCIAL

A tendência de idéias de proteção social se alastrou pela Europa


e pelo mundo, causando o chamado constitucionalismo social, pois
ias inovações em prol dos cidadãos começaram a serem inseridas nos
corpos das Constituições, ao invés de somente em leis esparsas. Es­
tas Constituições determinavam a garantia pelo Estado de proteção
das pessoas diante de riscos sociais característicos.
F um erro pensar que o fenômeno do constitucionalismo social
se limitou à Europa. A primeira Constituição que conteve normas a
respeito de um seguro social foi a mexicana (de 31 de janeiro de
1 9 1 7 ).

A previsão da Constituição mexicana sobre seguridade social,


inciso XXIX, a, do art. 1234, foi direta:
“Considera-se de utilidade piiblica a expedição da lei do seguro
social, que compreenderá seguros de invalidez, de vida, de cessa­
ção involuntária do trabalho, de doença e acidentes e outros segu­
ros com fins análogos”.
Em seguida temos a Constituição de Weimar (de 11 de agosto
de 1919).
A seguridade também permeou a Constituição de Weimar, no
art. 1615:
“A União criará, com o concurso adequado dos segurados, um
sistema global de seguros para a conservação da saúde e da capa­
cidade de trabalho, a proteção da maternidade e a previdência
contra faltas econômicas na velhice, na enfermidade e nas vicis-
situdes da vida”.

I BU D IB, Alexandre Carlos. Benefícios de assistência social. Dissertaçao de mestrado da


PUC, defendida em 20 de dezembro de 2004, p, 20.
'> BU D IB, Alexandre Carlos. Benefícios de assistência social. Dissertação de mestrado da
PUC, defendida em 20 de dezembro de 2004, p. 21.

24
2.5. OIT E O RISCO SOCIAL

O Tratado de Versailles, de 1919, ensejou a criação da Organi­


zação Internacional do Trabalho, entidade de foro internacional (vin­
culada à ONU) de discussão de temas de proteção social, seguridade
social e, principalmente, de emprego e de trabalho humano.
O surgimento da O IT se deu em razão das manifestações dos
operários e das reivindicações feitas em diversos congressos de la-
voratores que pleiteavam melhores níveis de qualidade de vida e de
saúde.
Todo o contexto que originou a O IT pode ser resumido nas pala­
vras de Amauri Mascaro Nascimento: “a Primeira Guerra Mundial
produziu profundas modificações na posição e no peso da classe traba­
lhadora das potências aliadas. A trégua social e cooperação que se esta­
beleceu na Europa ocidental entre os dirigentes sindicais e os
governantes, os grandes sacrifícios suportados especialmente pelos tra­
balhadores e o papel que desempenharam no desenlace do conflito, as
promessas dos homens políticos de criarem um mundo novo, a pressão
das organizações obreiras para fazer com que o Tratado de Versalhes
consagrasse as suas aspirações de uma vida melhor, as preocupações
suscitadas pela agitação social e as situações revolucionárias existentes
em vários países, a influência exercida pela Revolução Russa de 1917,
foram fatores que deram peso especial às reivindicações do mundo do
trabalho no momento das negociações do tratado de paz. Estas reivin­
dicações expressaram-se, tanto em ambos os lados do Atlântico como
em ambos os lados da linha de combate, inclusive durante os anos de
conflito mundial. Ao final da guerra, os governos aliados, e principal­
mente os governos francês e britânico, elaboraram projetos destinados
a estabelecer, mediante o tratado de paz uma regulamentação interna­
cional do trabalho”6.

6 NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 25a Edição, São


Paulo, Editora LTr. 1999. Pág. 133.

25
A Organização Internacional do Trabalho congrega, em estru­
tura t ripartite, governos, empregadores e trabalhadores, sendo a mais
antiga entidade especializada da ONU.
0 Brasil é membro fundador e um dos dez membros perma­
nentes do Conselho de Administração da Organização Internacio­
nal do Trabalho, além de ser o País com a décima maior contribuição
orçamentária da Organização (mais alta entre os países em desen­
volvimento). A O IT é uma instituição de caráter universal, contan­
do, até 1998, com 174 Estados-Membros.
Na sedimentação da proteção do emprego e dos trabalhadores
e m geral (segurança social) a Organização Internacional do Traba­

lh o vem atuando desde 1919 intensamente, por meio de suas Con­

venções, Recomendações e outras diretrizes.


Dentre as diretrizes da O IT que influenciam no campo da Pre­
vidência como um todo está o norteamento do meio ambiente do
i rabalho. O direito ambiental do trabalho apesar de ser um direito
novo, já ocupa um espaço de relevância quando trata da qualidade de
vida no ambiente de trabalho, hoje, buscada por muitos.
A tutela jurídica do direito ambiental vai desde a qualidade do
ambiente físico interno e externo do local de trabalho, até as relações
1111erpessoais e a saúde física e mental do trabalhador.
Tudo isto influencia no risco social, sobre a insalubridade, pe-
nosidade e periculosidade no ambiente laborai.
A conceituação de meio ambiente se torna dificultosa ante a sua
extensão, já que envolve a vida em todas as suas formas, conforme a
definição do Professor José Afonso da Silva, in verbis:“(...) interação do
conjunto de elementos naturais, artificiais, e culturais que propiciem o
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.”7

SILVA. José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2a Edição., São Paulo. Editora
Malheiros. 1997. Pág. 02.

26
Observemos que se trata de “um conceito jurídico indetermina­
do, que, propositalmente colocado pelo legislador, visa criar um es­
paço positivo de incidência da norma, ou seja, ao revés, se houvesse
uma definição precisa do que seja meio ambiente, numerosas situa­
ções, que normalmente seriam inseridas na órbita do conceito de
meio ambiente, poderiam deixar de sê-lo, pela eventual criação de
um espaço negativo inerente a qualquer definição.”8
Em nossa Constituição o meio ambiente foi tratado por meio
do art. 225 que assim dispõe, in verbis'. “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade devida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações."(destaque nosso)
Quando o art. 225 estipula o meio ambiente como “essencial à
sadia qualidade de vida”, eleva, conseqüentemente, um dos pilares da
Constituição da República estatuído no artigo Io, III, ou seja, a Digni­
dade da Pessoa Humana (vida).
E importante destacar que o direito ao meio ambiente equili­
brado constitui um direito fundamental da pessoa humana, mesmo
que o legislador não o tenha configurado de forma expressa entre os
referidos no artigo 5o da Constituição da República, uma vez que
objetiva à sadia qualidade devida, e em suma, visa assegurar o direito
fundamental que é a vida.9
A preocupação e a relação da O IT com Meio Ambiente do Tra­
balho e riscos sociais vem desde o próprio nascedouro da Organiza­
ção, ou seja, em 06 de maio de 1919, Pacto da Sociedade das Nações,
parte XIII, artigos 387 a 487 do Tratado de Versailles.

8 FIORILLO. Celso Antonio Pacheco, ABELHA RODRIGUES. Marcelo e AND RAD E NERY.
Rosa Maria. Direito Processual Am biental B ra s ile iro ^ 3 Edição., Belo Horizonte. Edi­
tora Del Rey, 1996. Pág. 31.
9 ROSSIT. Liliana Allodi. O M eio Ambiente De Trabalho No Direito Am biental Brasileiro.
01a Edição., São Paulo. Editora LTr. 2001. Pág. 55.

27
Km 1944, a Organização Internacional do Trabalho em sua 26;l
Sessão de Conferência aprovou a “Declaração Referente aos Fins e
( Jbjetiyos da O IT ”, sendo mais conhecida como a “Declaração da
Kiladçlfia”, nome dado em razão do local da conferência que ocorreu
na cidade americana de Filadélfia.
A “Declaração da Filadélfia” ratificou e ampliou os preceitos
constantes no Tratado de Versalhes, aglutinando novos objetivos da
“segurança social e das quatro liberdades de Roosevelt, que todos os
seres humanos, sem distinção de raça, crença ou sexo, têm direito de
procurar seu bem-estar material e seu desenvolvimento espiritual em
condições de liberdade, de segurança econômica e em igualdade de
oportunidades.”10
Estabelece o art. 3o da Declaração da Filadélfia preceitos ati-
ncntes à dignidade humana e sua proteção social, reconhecendo a
obrigação da O IT em fomentar programas que alcancem:
“i) plenitude do emprego e a elevação dos níveis de vida.
ii) o em prego de trabalhadores nas ocupações em que pos­
sam ter a satisfação de dar a mais am pla m edida de duas h a­
bilidades e de oferecer sua m aior contribuição ao bem -estar
com um .
iii) oferecimento, como meio para lograr esse fim de garantias ade­
quadas para todos os interessados, de possibilidades de formação
profissional e a transferência de trabalhadores, incluindo as mi­
grações de mão-de-obra e de colonos.
iv) a adoção, em matéria de salários e rendimentos, duração do
trabalho e outras condições de trabalho, de medidas destinadas a
garantir, a todos, uma justa participação nos frutos do progresso e
um salário mínimo vital para todos os que tenham um emprego e
necessitem de tal proteção.

Iii SUSSEKIND. Arnaldo. M ARAN H ÃO . Délio. VIANNA. Segadas. TEIXEIRA. Lima. Insti­
tuições de Direito do Trabalho. 19a Edição. São Paulo. Editora. LTr. 2000. Pág. 1465.

28
v) o reconhecimento efetivo do direito à negociações coletivas; a
cooperação de empresas e de trabalhadores para melhorar conti­
nuamente a eficiência da produção; e a colaboração de trabalha­
dores e empregadores na preparação e aplicação de medidas soci­
ais e econômicas.
vi) a extensão das medidas de seguridade social para prover um
rendimento básico aos que necessitem de tal proteção e assistên­
cia médica completa.
vii) a proteção adequada à vida e à saúde dos trabalhadores, em
todas as ocupações.
viii) a proteção à infância e à maternidade.
ix) a facilidade de alimentos, habitação, recreio e cultura adequados.
x) a garantia de iguais oportunidades educativas e profissionais.”
A O IT enfoca de forma basilar a proteção da saúde e da vida
dos trabalhadores, proteção contra os acidentes do trabalho e doen­
ças profissionais, melhoria das condições do meio ambiente do tra­
balho de forma a elevar o bem-estar social segundo o princípio da
dignidade humana.
Conforme estabelece o artigo 19 da Constituição da OIT, as
Convenções e Recomendações adotadas serão transmitidas aos Es-
tados-Membros, devendo estes examiná-las e verificar a possibilida­
de de ratificação das Convenções e a instrumentalização de meios
efetivos, seja legislação ordinária ou outra forma de efetivar os pre­
ceitos que constam nas Recomendações.
As Convenções da OIT são leis internacionais, obrigando somente
os Estados-Membros a se sujeitarem às normas após a ratificação. As
Recomendações são sugestões de normas que eventualmente podem
ser adotadas.
No Brasil, compete ao Congresso Nacional (competência exclu­
siva) resolver definitivamente sobre as Convenções Internacionais (art.
49,1, da Constituição Federal de 1988). Aprovada a Convenção, há a

29
expedição pelo Congresso Nacional de um Decreto Legislativo, para
qúe o Presidente da República promova a sua ratificação, entrando em
vigor internamente um ano após a data de sua ratificação formal perante
a Repartição Internacional do Trabalho da O IT Para Sussekind, existe
"interdependência entre a ordem jurídica internacional e a nacional, de
modo que a ratificação do tratado importa na incorporação automática
de suas normas à respectiva legislação interna.”11
Eis as principais Convenções da OIT que tratam sobre o tema
saúde e meio ambiente do trabalho, in verbis:
a) Convenção n° 103. Amparo à Maternidade. Vigência no Brasil
desde 18/06/1966. Promulgada pelo Decreto n° 58.820/66.
b) Convenção n° 115. Proteção Contra as Radiações Ionizantes.
Vigência no Brasil desde 05/09/1967. Promulgada pelo Decreto n°
62.151/68.
c) Convenção n° 136. Proteção Contra os Riscos de Intoxicação
provocadas pelo Benzeno. Vigência no Brasil desde 24/03/1994. Pro­
mulgada pelo Decreto n° 1.253/94.
d) Convenção n° 139. Prevenção e Controle de Riscos Profissio­
nais Causadas pelas Substâncias ou Agentes Cancerígenos. Vigência
no Brasil desde 27/06/1991. Promulgada pelo Decreto n° 157/91.
e) Convenção n° 152. Segurança e Higiene nos Trabalhos Por­
tuários. Vigência no Brasil desde 17/05/1991. Promulgada pelo De­
creto n° 99.534/90.
f) Convenção n° 159. Reabilitação Profissional e Emprego de
Pessoas Deficientes. Vigência no Brasil desde 18/05/1961. Promul­
gada pelo Decreto n° 129/91.
g) Convenção n° 162. Utilização do Asbesto com Segurança. Vigên­
cia no Brasil desde 18/05/1991. Promulgada pelo Decreto n° 126/91.

SUSSEKIND. Arnaldo. Convenções da O IT.02a Edição. São Paulo. Editora Ltr, 1998.
Pág. 35.

30
h) Convenção n° 167. Segurança e Saúde na Construção. Ainda
não ratificada pelo Brasil.
i) Convenção n° 171. Trabalho Noturno. Ainda não ratificada
pelo Brasil.
j) Convenção n° 174. Prevenção dos Grandes Acidentes Indus­
triais. Ainda não ratificada pelo Brasil.
k) Convenção n° 176. Segurança e Saúde nas Minas. Ainda não
ratificada pelo Brasil.
2 .6 . SOCIAL SECURITY ACT

Dentro do processo de aprimoramento dos instrumentos de pro­


teção social temos uma pedra angular: o Social Security Act.
Depois da Primeira Guerra Mundial, a noção de seguro social
passou a se definir mais robustamente também num âmbito previ­
denciário (onde a contingência ou risco social era a impossibilidade
de trabalhar por fatores como a velhice ou a invalidez).
O divisor de águas do surgimento da idéia de Previdência Social
foi o programa político do New Deal, criado pelo presidente norte-
americano Franklin Delano Roosevelt, que fundamentou a idéia de
Estado do Bem-Estar Social (Welfare State), com o escopo de miti­
gar as agruras que o povo americano vinha sofrendo desde a crise da
quebra da Bolsa de Valores de 1929.
Na retomada econômica do Estado norte-americano, houve a iniciati­
va governamental de intervir em prol da população. Em 14 de agosto de
1935 foi criado o Social SecurityAct (que está em vigor até hoje), que tem
seu escopo sintetizado em seu preâmbulo (numa tradução livre)72:

12 Preâmbulo: "An act to provide for the general welfare by establishing a system of Federal
old-age benefits, and by enabling the several States to make more adequate provision for
aged persons, blind persons, dependent and crippled children, maternal and child welfare,
public health, and the administration of their unemployment compensation laws; to
establish a Social Security Board; to raise revenue; and for other purposes''.

31
“Um ato para prover o bem-estar geral, estabelecendo um
sistema de benefícios federais para pessoas idosas, e permi­
tindo aos vários Estados fazerem a provisão mais adequada
para pessoas de idade, pessoas cegas, crianças necessitadas ou
aleijadas, bem-estar maternal e da criança, saúde pública, e a
administração das leis de compensação de desemprego; para
estabelecer uma Tábua de Seguridade Social; elevar renda; e
para outros propósitos”.
A Seção 210 do Social Security Act delimita a idade de sessenta e
cinco anos para qualificação como idoso.
O objetivo de distribuir riqueza entre os velhos (sofriam mais
que a maioria com a Grande Depressão) era também permitir que
a distribuição de renda gerasse fluxo de mercado, reativando a
economia.
Não havia inicialmente a preocupação de equilíbrio financeiro
ou atuarial do regime de repartição do Social Security. Epítome dis-
lo é o primeiro benefício mensal de aposentadoria concedido pelo
Social Security, em 1940, para Ida May Fuller, do Estado de Ver-
mont. Ida Fuller contribuiu para o sistema por três anos, totalizan­
do USS 24,75 em tributos pagos. Sua renda inicial mensal era de
l ISS 22,54, e ao tempo de sua morte, em 1975, com a idade de 100
anos ela havia recebido quase US$ 23.000 em benefícios, segundo
dados do Congresso dos EUA13.
2 .7 . O PLANO BEVERIDGE

Qualquer estudo sobre a história da Seguridade Social passa pela


análise do Plano Beveridge, de 1941.
Este plano serviu de inspiração para que o governo inglês criasse
em 1946 um sistema abrangente de proteção social.

I I Disponível em http:llwww.conginst.orglsocialsecuritylq&al. Acesso em 17 de novem­


bro de 2004.

32
Confúcio, que viveu de 551 a 479 A.C., já dizia que o Império
Chinês fornecia pensões a órfãos, viúvos, viúvas e “velhos sem filhos”14.
O conceito de dar guarida aos necessitados é antigo.
A inovação de Sir W illian Beveridge (advogado e economis­
ta, filho de juiz, nascido em Bengala, na índia, em 1879) que o fez
adquirir notoriedade no campo previdenciário foi o fato de ter
propugnado um sistema de Seguridade Social provedor de um
padrão mínimo de sobrevivência, abaixo do qual ninguém (uni­
versalidade) deveria ser submetido (below which no one should be
allowed lofall)15.
O padrão mínimo proposto por Beveridge tinha o mote from the
cradle to the grave (do berço ao túmulo). Posteriormente, com a cober­
tura securitária das gestantes, este mote transformou-se na rima from
womb to tomb (do útero ao túmulo).

3. O S E G U R O SOCIAL N O B R A SIL

O arquétipo de contrapartida do Estado em referência ao


risco social e ao seguro social pende para a figura da aposenta­
doria (o indivíduo se aposentando após anos de trabalho), mas
temos que lembrar que há elementos conexos, como benefícios
por morte, prisão, desemprego ou maternidade, que suplantam a idéia
de aposentação.
Como o próprio artigo XXII da Declaração dos Direitos H u­
manos (1948) estipula, “toda pessoa, como membro da sociedade,
tem direito à segurança social”. O cerne desta segurança é a dignida­
de da pessoa humana, dignidade a persistir em eventos de morte,
invalidez, velhice e gestação.

14 G RAH A M , Brash. The sayings o f confudus. Singapura: Heian International, 1983, p.


28.
15 ALTMEYER, Arthur J.. The formative years o f social security. Madison: University of
Wisconsin Press, 1966, p. 56.

33
No Brasil, a primeira linha de proteção tia legislação ligada a
rudimentos de Seguridade Social ocorreu na Constituição de 1824,
quo no art. 179 dispunha dos “socorros públicos”.
A Constituição de 1891, no art. 75, determinava que a aposen­
tadoria dos funcionários públicos era dada em casos de invalidez no
serviço da Nação. Ao próprio Imperador D. Pedro II era prevista, no
art. 7 das Disposições Transitórias, a percepção de uma pensão, con­
tada a partir da proclamação da República.
I n formação bem difundida na doutrina previdenciária, a norma
que primeiro implementou no Brasil os primeiros rudimentos de Pre­
vidência Social foi a Lei Eloy Chaves (Decreto n° 4.682/23).
Nesta época foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pen­
sões para os ferroviários, de alcance nacional.
Eloy de Miranda Chaves, deputado paulista do PRP, sob gran­
de influência daquilo que vislumbrou do aparato ferroviário argenti­
no (a Argentina desta época era um dos países mais desenvolvidos
do mundo, a despeito do que se tornou) e das vicissitudes dos traba­
lhadores envolvidos, apresentou projeto de lei que resultou no De­
creto n° 4.682/23.
Contudo, a fonte inspiradora não foi somente o arcabouço fer­
roviário argentino, mas sim um modelo de proteção inglesa aos pro­
fissionais do transporte (Eloy de Miranda Chaves viajou muito por
estes países observando modelos a serem seguidos).
Posteriormente, ficou estabelecido, por meio da Emenda Cons-
titucional de 3 de setembro de 1926, no § 29 do art. 54, que o Con­
gresso Nacional poderia:
“legislar sobre licença, aposentadoria e reformas, não se podendo
conceder, nem alterar, por Leis especiais”.
O Decreto Legislativo n° 5.109/26 estendeu benefícios da Lei
Kloy Chaves aos empregados portuários e marítimos.

34
Nesses tempos o Brasil era eminentemente agrário, havendo pou-
i as categorias profissionais que tivessem uma coalizão suficiente para
se amoldar a alguma previsão de aposentadoria.
As categorias amparadas pelos benefícios previdenciários eram
típicas do escoamento da produção agrícola (café): trabalhadores
ferroviários, portuários e marítimos, e estes trabalhadores eram, na
maioria, italianos imigrantes ou descendentes, mais politizados que
seus pares brasileiros nativos.
A Lei Eloy Chaves criava caixas de aposentadorias e pensões
para empregados daqueles grupos mencionados. A expressão “caixa”
é emblemática, pois cria a idéia de um cofre acumulativo para pagar
as aposentadorias e pensões.
Países da América Latina utilizaram e alguns (como o Para­
guai) utilizam ainda hoje o termo cajas no contexto previdenciário de
divisão por grupos de trabalhadores.
Em 1928, a Lei n° 5.485 enquadrou no regime da Lei Eloy Cha­
ves os trabalhadores dos serviços telegráficos e radiotelegráficos.
Dos anos de 1930 e até o início dos anos 40, o sistema previden­
ciário passou a ser pautado por regimes de categorias profissionais,
não havendo mais uma estruturação por empresa, acabando com o
ideário das caixas. Os IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões)
substituíram as caixas de pensões, e eram constituídos por autarquias
federais. Tais institutos aglutinavam os trabalhadores por categorias
profissionais, sendo que os principais IAPs a serem citados foram:
- dos marítimos (IAPM), referente ao Decreto n° 22.827/1933;
- dos comerciários (IAPC), referente ao Decreto n° 24.273/1934;
- dos bancários (IAPB), referente ao Decreto n° 24.615/1934;
- dos industriários (IAPI), referente à Lei n° 367/1936;
- dos servidores do Estado (União) (IPASE), referente ao Decre-
to-Lei n° 288/1938;

35
dos empregados em transportes e cargas (1APKTC), referente
ao IJecreto-Lei n° 651/1938.
O texto da Constituição de 1934 passou a estabelecer (art. 121, §
I °, “h”) a forma tríplice de custeio previdenciário (ente público, empre­
gado e empregador, mediante contribuição obrigatória).
A primeira utilização constitucional do termo “Previdência” ocor­
reu no texto desta Constituição de 1934, apesar de não vir associada à
palavra “Social”.
Na Constituição de 1937 houve uma regressão terminológica, onde
a expressão “Previdência” foi suprimida pela expressão “seguro social”.
( 'omo a participação do Estado no custeio do sistema não foi definida
constitucionalmente, houve óbice na efetivação dos direitos sociais que
estavam previstos.
A Constituição de 1946 trouxe elementos evidentes de uma sis­
tematização constitucional da matéria previdenciária, apesar de inclu­
ída no mesmo art. 157 que versava sobre o Direito do Trabalho; ou
seja, havia um amálgama obscuro entre o contexto do trabalho e o
previdenciário.
Apesar da falta de autonomia sistemática, foi justamente na Cons-
I ituição de 1946 onde pela primeira vez se utilizou constitucionalmente
no Brasil a expressão “Previdência Social” (com a supressão da expres­
são “seguro social”). A forma tripartite de custeio e a criação do seguro
contra acidente do trabalho são marcas desta Constituição.
Não houve alterações relevantes em relação à matéria de Segu­
ridade Social ou previdenciária na Constituição de 1967, assim como
na Emenda Constitucional n° 1, de 1969/ onde se fez praticamente
uma reiteração do texto constitucional de 1946.
Infraconstitucionalmente, o marco legislativo no direito previ­
denciário consiste na Lei Orgânica da Previdência Social - LOPS -
I ei n° 3.807/60 - que unificou, consolidou e modificou a legislação
previdenciária, padronizado os procedimentos administrativos.
A I ei Orgânica da Previdência Social - LOPS - Lei Comple­
mentar n° 3.807/60 se caracterizou pela natureza orgânica geral, que
historicamente dividiu o modelo normativo brasileiro, até aquele
momento regrado pelas leis particulares dos institutos de aposenta­
dorias e pensões das diferentes categorias profissionais. A unificação
dos benefícios adveio com a LOPS, elidindo desigualdades entre os
segurados.
Ocorreu então a consolidação das leis da Previdência Social, com
a reunião das normas extravagantes no corpo da Lei Orgânica da
Previdência Social.
Logo após foi criado o INPS - Instituto Nacional de Previ­
dência Social, unificando quase todos os institutos previdenciários
na administração do Estado (com exceção dos institutos dos ferro­
viários e servidores públicos, dos economiários das caixas econô­
micas federais, e dos servidores públicos federais).
3 .1 . C o n s t it u iç ã o F e d e r a l de 1988

A inclusão da Previdência Social no quadro da Seguridade So­


cial brasileira aconteceu com a promulgação da Carta Magna de 1988,
sendo feita a divisão dos subsistemas de Assistência Social, Saúde e
Previdência Social.
Atualmente, a Previdência Social está regrada nos art.s 201 e
202 (Previdência Privada) da Constituição Federal.
No campo infraconstitucional, vigoram as Leis n° 8.212/91
(ligada ao custeio da Seguridade Social) e n° 8.213/91 (que trata
dos benefícios), e o Decreto n° 3.048/99 (regulamento da Previ­
dência Social).
A principal alteração constitucional ligada à Previdência Social
consistiu na Emenda Constitucional n° 20, de 15 de dezembro de
1998, que modificou o sistema previdenciário: o tempo de serviço
deixou de existir, suprimido pelo tempo de contribuição, pondo fim

37
I

ao modo desequilibrado de financiamento das aposentadorias pelo


sistema de repartição.
O art. 194 da Constituição de 1988 enquadra a Previdência Social
dentro do Capítulo da Seguridade Social. Assim, Previdência Social,
Assistência Social e Saúde formam a Seguridade Social brasileira.
Wagner Balera16 ensina que “a tríplice finalidade do sistema de
seguridade social brasileiro se configura em diversas vertentes”. Uma
destas vertentes (acompanhada pelo Regime Geral da Previdência
Soeial-INSS e pelo Regime Jurídico Único-regime próprio dos fun­
cionários públicos) é o regime privado complementar. Para o Profes­
sor Wagner Balera, todas estas vertentes estão subordinadas aos
princípios da Seguridade Social (art. 194 da Constituição).
Wladimir Novaes Martinez17 também aponta esta relação en­
tre o Regime Geral da Previdência Social (Previdência básica gerida
pelo INSS - Instituto Nacional do Seguro Social) e a Previdência
Complementar Privada, confirmando o que foi dito.
Com referência à Previdência Social, que não se confunde com
a privada, dispõe o art. 201 da Constituição (caput com redação dada
pela Emenda Constitucional n° 20, de 15.12.1998):
“a previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados cri­
térios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atende­
rá, nos termos da lei, a:
I- cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e de idade
avançada;
II- proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III- proteção ao trabalhador em situação de desem prego
involuntário;

16 BALERA, Wagner. Sistema de seguridade social. 2a ed., São Paulo: LTr, 2002, p.13.
!7 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário: Previdência Comple­
mentar. 2a edição. São Paulo: Editora LTr, 2002, p. 175.

38
IV salário-íamília e auxílio-reclusão para os dependentes dos se­
gurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge
ou companheiro e dependentes” (destaques nossos).
Devemos observar a ligação inerente entre a Previdência Social
e o Regime Geral da Previdência Social. O RGPS - Regime Geral
da Previdência Social - é a forma de organização da Previdência So­
cial. Quando falamos de Previdência Social brasileira, em termos
constitucionais, estamos tratando do RGPS.
O caráter contributivo e o equilíbrio financeiro e atuarial im­
postos pela Emenda Constitucional n° 20 findaram a mixórdia fi­
nanceira de concessão de benefícios a esmo sem fonte prévia de custeio
(a famosa “cortesia com chapéu alheio”).
No Brasil se criavam benefícios sem fonte prévia de custeio,
muitas vezes para fins de dividendos políticos.
Diante de um desequilíbrio brutal das contas do INSS, houve a
reforma previdenciária com a previsão de equilíbrio financeiro e atu­
arial obrigatório. A mudança do regime de aposentadoria brasileira
aflui para este equilíbrio, pois passou, com a Emenda Constitucional
n° 20, a depender do tempo de contribuição e não de serviço.
3 . 2 . PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Como a Previdência Privada está constitucionalmente vincula­


da ao gênero Seguridade Social (art. 194 da Carta Magna), cabe aqui
apontar um princípios securitários gerais. Tais princípios, na falta de
previsão contratual específica, podem ser evocados.
Para Sergio Pinto Martins18, “Direito da Seguridade Social é
um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a
estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra

18 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 17a ed, São Paulo: Atlas, 2002, p.44.

39
contingências que os impeça de prover as suas necessidades pessoais
básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa do Pode­
res Públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social”.
O art. 194 da Constituição Federal de 1988 indica os escopos
de organização da Seguridade Social:
I-universalidade da cobertura e do atendimento
O entendimento da universalidade em relação à Assistência
Social e à Saúde é simples. Entretanto, temos que subdividir a uni­
versalidade para aplicá-la à Previdência Social. Desdobra-se, portan­
to, a universalidade em subjetiva (referente a toda população), e
objetiva (pautada nas contingências legais). Assim, existe universali­
dade objetiva de cobertura e atendimento previdenciários dos segu­
rados e seus dependentes.
II-uniform idade e de equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais
Esse princípio decorre da própria isonomia. Não deve haver di­
ferenciação imotivada entre os trabalhadores urbanos e rurais.
III-seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços
Nenhum recurso financeiro é ilimitado. Em verdade, os recur­
sos no contexto previdenciário estão escassos e deficitários. Dessa
maneira, os gastos deveriam ser baseados num regime de prioridades
na sua distribuição. Quem precisa mais, recebe mais.
IV-irredutibilidade do valor dos benefícios
O inciso XV do art. 37, e o inciso VI do art. 7 , ambos da Cons-
tituição Federal, asseguram, respectivamente, a irredutibilidade de
subsídios aos funcionários públicos, e de vencimentos dos emprega­
dos. Na Seguridade social aplica-se o mesmo fator de proteção aos
valores dos benefícios. Nossa atual Constituição foi erigida durante

40
o período onde a inflação era estratosférica. Destarte, o constituinte
visou a proteção do poder aquisitivo das pessoas (havendo uma reite­
ração, inclusive a do no § 4o do art. 201 da CF, onde é assegurado “o
reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter perma­
nente, o valor real”).
V-eqüidade na forma de participação no custeio
Notamos aqui outro princípio decorrente da isonomia prevista
no art. 5o, caput, da CF/88. Cada um deve contribuir de acordo com
suas possibilidades, mediante proporcionalidade, ou até mesmo, pro­
gressividade de alíquotas das contribuições de custeio.
VI-diversidade da base de financiamento;
Segundo o art. 195 da Carta Magna, a seguridade social será
financiada por toda a sociedade. Como, notoriamente, o Tesouro Na­
cional acaba sempre arcando com eventuais déficits da Previdência
Social, de forma indireta, nesse aspecto, há um financiamento geral
da sociedade.
No que tange à diversidade da base de custeio das contribuições
sociais, temos a divisão entre:
1- o empregador, a empresa e identidade a ela equiparada na
forma da Lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagas ou
creditadas, a qualquer título, a pessoa física que lhe prestem serviços,
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita e o faturamento;
c) o lucro;
2- o trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social,
não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas
pelo Regime Geral da Previdência Social;
3- a receita dos concursos de prognósticos;

41
4 do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a
lei a ele equiparar.
V ll-caráter democrático e descentralizado da administração, me­
diante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores,
dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
colegiados.
Essa previsão legal acima referida é fruto das alterações abarca­
das pela Emenda Constitucional n° 20. A redação anterior previa
apenas “o caráter democrático e descentralizado da gestão adminis-
l rat iva, com a participação da comunidade, em especial de trabalha­
dores, empresários e aposentados”.
Como exemplos práticos da gestão quadripartite podemos
citar o Conselho Nacional de Previdência Social (previsto no
art. 3 da Lei n° 8.213/91, e que possuem representantes do go­
verno federal, dos aposentados e dos pensionistas, dos trabalha­
dores em atividade e dos em pregadores); e os C onselhos
listaduais e M unicipais de Previdência Social (subordinados ao
Conselho Nacional).
O utros exemplos importantes consistem nas Juntas de Re­
cursos da Previdência Social e no Conselho de Recursos da Pre­
vidência Social. Em ambos existe a participação de representantes
da União, dos trabalhadores e das empresas, formando um cole-
giado. Esse colegiado é responsável pelo julgamento de ques­
tões previdenciárias (custeio e benefícios) nas instâncias
administrativas, sendo o Conselho de Recursos instância adm i­
nistrativa final.
Cabe ressaltar aqui a previsão do art. 10 da Constituição Fede­
ral de 1988, anterior à Emenda Constitucional n° 20:
“E assegurada a participação dos trabalhadores e em pregado­
res nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses
profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
deliberação.”

42
A preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço
também deve ser apontada como um princípio norteador da Previ­
dência Social. De acordo com o § 5o do art. 195 da CF/88:
“Nenhum benefício ou serviço da Seguridade social poderá
ser criado, majorado o estendido sem a correspondente fonte
de custeio total.”(destaques nossos)
Durante muitos anos os governantes brasileiros não respeita­
ram esse princípio elementar que proporciona higidez financeira.
Até mesmo pessoas de poucas letras compreendem que a existência
de um gasto sem uma respectiva fonte prévia de renda resulta num
déficit.
A Lei n° 9.876/99 alterou o art. 71 da Lei n° 8.213/91, esten­
dendo o direito do salário-maternidade para a trabalhadora autôno­
ma, eventual, empresária e facultativa, sem que houvesse fonte de
custeio total e especifica para essa finalidade.
Essa extensão do direito ao salário-maternidade poderia, em pri­
meiro plano, ser considerada inconstitucional, diante da violação ao
§ 5o do art. 195 da Constituição. Não obstante, se nos voltarmos ao
princípio da igualdade, podemos concluir que a Lei n° 9.876 apenas
tratou os iguais igualmente.
3 .3 . P r i n c í p i o s da P r e v id ê n c ia S o c ia l

Da mesma maneira que expusemos os princípios que re­


gem a Seguridade Social, os princípios da Previdência Social
também são subsidiários ou residuais na falta de previsão con­
tratual na Previdência Privada. Com previsão do parágrafo
único do art. 3o da Lei n° 8.212/91 (referente à organização da
Seguridade Social) e do art. 2o da Lei n° 8.213/91, temos os se­
guintes princípios:
- universalidade de participação nos planos previdenciários, me­
diante contribuição;

43
- valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário-
de contribuição ou de rendimento do trabalho dos segurados, não
inferior ao do salário mínimo;
- cálculo dos benefícios, considerando-se os salários-de-contri-
buição, corrigidos monetariamente;
- preservação do valor real dos benefícios;
- previdência complementar facultativa, custeada por contribui­
ção adicional;
- uniformidade e de equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais;
- seletividade e distributividade na prestação dos benefícios;
- irredutibilidade do valor dos benefícios de forma preservar-
lhes o poder aquisitivo;
- caráter democrático e descentralizado da administração,
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalha­
dores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos ór­
gãos colegiados.
3 .4 . C u s t e io d a P r e v id ê n c ia S o c ia l

Diferentemente do que ocorre na Previdência Privada, o art. 195


da Carta Magna, estabelece que a Seguridade Social será financiada
por toda a sociedade.
Existe, entretanto, uma diversidade na base de custeio das con-
t ribuições sociais à Seguridade Social. Portanto, a subvenção dos cus­
tos da Seguridade Social advém das seguintes fontes:
1- do empregador, a empresa e identidade a ela equiparada na
forma da Lei, incidentes sobre:
a) da folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagas
ou creditadas, a qualquer título, a pessoa física que lhe prestem servi­
ços, mesmo sem vínculo empregatício;

44
b) da receita e o faturamento;
c) do lucro;
2 - do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Soci­
al, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão conce­
didas pelo Regime Geral da Previdência Social;
3 - da receita dos concursos de prognósticos (loteria federal, por
exemplo).
4 - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a
lei a ele equiparar.
As contribuições feitas para a Previdência Social têm o caráter
de tributo. Logo, para financiar a Previdência Social existem contri­
buições sociais com a natureza jurídica de tributo.
3 .5 . S e g u r a d o s e c o n t r ib u in t e s d a p r e v i d ê n c i a s o c ia l

Segurada é a pessoa física que possui vínculo jurídico com a Pre­


vidência Social. Pessoa jurídica jamais é segurada da Previdência
Social. Não obstante, tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurí­
dicas poderão ser contribuintes previdenciários.
Note-se que não existe a necessidade de vínculo empregatício
da pessoa física para que haja vínculo com o INSS. Trabalhadores
autônomos e mesmo desempregados podem ser segurados.
O aprendiz, a partir dos 14 anos e os trabalhadores em geral, a
partir dos 16 anos, poderão ser segurados da Previdência Social.
Para o ingresso no sistema, existem as figuras da filiação, inscri­
ção e matrícula.
Filiação não se confunde com inscrição. A filiação é uma vincu­
lação jurídica imediata e concomitante ao início da atividade prevista
como obrigatória no RGPS, em relação ao segurado. A inscrição é
apenas o ato administrativo de formalização do vínçulo entre o segu­
rado e o INSS (registro do segurado).
//
45 /
/ I
As pessoas jurídicas são automaticamente matriculadas (regis­
tradas, e não inscritas) junto ao INSS nas seguintes situações:
-simultaneamente com a inscrição no CNPJ (Cadastro Nacio­
nal da Pessoa Jurídica), ou
-perante o INSS, no prazo de 30 dias contados do início de suas
atividades, quando não sujeita a inscrição no CNPJ (inclusive a obra
de construção civil).
A unidade matriculada será identificada pelo CNPJ ou certifi­
cado de matrícula com número cadastral básico de caráter perma­
nente (CEI - Cadastro Específico do INSS).
O ingresso em atividade abrangida pelo RGPS determina a
filiação automática do trabalhador ao regime. Pelo art. 12 da Lei
S.212/91, parágrafo 2o, o segurado que exercer mais de uma ativi­
dade está obrigado a contribuir em relação a cada uma delas.
Apesar da previsão constitucional da existência de filiação obri­
gatória, a própria Constituição, no art. 201, parágrafo 5o, admite a
Itossibilidade de filiação facultativa. Dessa maneira, no âmbito da
Previdência Social não há somente segurados obrigatórios, mas ou-
t n «sim, segurados que aderem facultativamente ao sistema, tais como
a dona de casa, o estudante e o desempregado. O síndico de condo­
mínio poderá aderir facultativamente ao sistema, desde que não re­
ceba remuneração, devido à disposição da Lei n° 9.876, de 26 de
novembro de 1999.
A Lei n° 9.876 alterou o art. 12, V, “f ”, da Lei n° 8.212, de 24 de
julho de 1991, que passou a tratar como contribuinte individual obri­
gatório o síndico ou o administrador eleito para exercer atividade de
direção condominial, desde que haja o recebimento de remuneração.
Filiação é, portanto, a vinculação do trabalhador protegido ao
sistema, causando um estado jurídico próprio do segurado. Essa re­
lação jurídica de filiação promove uma condição vinculatória do di­
reito subjetivo às prestações previdenciárias.

46
A filiação pode ser obrigatória ou facultativa.
A filiação obrigatória é a mais comum, demonstrando a im-
positividade do sistema. Em sendo impositivo, o sistema garan­
te o seu alicerce principal sob a forma de contribuições. Já a
filiação facultativa constitui uma liberalidade de proteção indi­
vidual dos cidadãos. Como faculdade, a filiação só ocorre medi­
ante livre arbítrio da pessoa. Contudo, esta facultatividade só
existe no ato de admissão ao sistema, pois para fruir dos benefí­
cios é preciso que a pessoa vá preenchendo determinados requi­
sitos ao longo do tempo.
A autarquia federal responsável pelâ concessão de benefícios e
recebimento de contribuições no campo previdenciário é o INSS-
Instituto Nacional do Seguro Social.
Para que haja direito aos benefícios previdenciários desse siste­
ma, é necessário, em princípio, que o segurado contribua.
O INSS, dentro do contexto da organização administrativa da
Previdência Social, foi criado pelo Decreto n° 99.350/90, e é, dessa
forma, uma autarquia federal destinada a gerir os créditos de obriga­
ções fiscais previdenciárias, além das prestações dos benefícios e ser­
viços previdenciários. O Decreto n° 569/92 especifica quais são as
atribuições do INSS.
Sobre o atual sistema de repartição em vigor no RGPS, Sergio
Pinto M artins19 o define como sendo mutualista (havendo uma
solidariedade entre as pessoas na cotização do sistema para a con­
cessão do futuro benefício), e afirma que “Há necessidade de se
ampliar o número de anos de contribuição do segurado para a pre­
vidência social, pois este vive mais tempo e se utiliza do benefício
por longo período”.

19 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 15a ed, São Paulo: Atlas, 2000,
p.294.

47
Com o o tempo de contribuição mínimo não pode ser alterado
pela leg isla ç ã o infraconstitucional, foi instituída uma forma de in
centivar a postergação da aposentadoria: o fator previdenciário.
A idéia do regime de repartição (contribuição dos trabalhadores
da ativa para financiar a aposentadoria dos inativos) que existe no
Hrasil atual surgiu a partir do contexto acima exposto, marcado pela
solidariedade entre gerações e pela proteção do trabalhador em face
ilos chamados riscos sociais.

4. O REG IM E G ERA L DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, A REPARTIÇÃO


SIM PLES E A SOLIDARIEDADE INTERGERAÇÕES

O Regime G eral da Previdência Social tem por base um plano


de benefício definido, regrado pela repartição simples.
No regime de repartição simples, quem trabalha paga pelos be­
nefícios de quem já está aposentado. Está é a chamada solidariedade
intergerações.
A premissa da solidariedade social intergerações pressupõe que
o esforço geral beneficie os mais necessitados.
No plano de benefício definido do regime de repartição, o prin­
cípio do solidarismo é mais patente.
O princípio do solidarismo ou da solidariedade em vigor quanto
à Previdência Social, também é aplicado entre os segurados ou partici­
pantes de regime de capitalização previdenciária complementar.
A solidariedade é um princípio jurídico essencial da Previdên­
cia, seja ela básica ou complementar. A noção de proteção social ine-
xiste sem o solidarismo. Assim, o excesso atuarial advindo da não
fruição por parte de alguns segurados permite a outros até mesmo
uma utilização precoce. Para isso existem as chamadas “reservas de
contingência” pregadas pela doutrina. A premissa da solidariedade
pressupõe que o esforço geral beneficie os mais necessitados.

48
I Vrsiani Mattia20 exprime o fulcro da solidariedade na Previ-
dencia Social da seguinte maneira (tradução livre):
“Kssa c a solidariedade entre quem trabalha e quem, não
podendo mais trabalhar, encontra-se em condição de ne­
cessidade; entre quem produz e quem contribui com o seu
trabalho àquela produção”21.
O Regime Geral da Previdência Social tem por base preponde-
i ante um plano de benefício definido, pois não há conta individual
de acumulação e capitalização pessoal, além do que (geralmente) já
se sabe o valor do benefício de antemão.
No plano de contribuição definida, existe um individualis­
mo característico, onde o titular acumula um capital próprio do
qual, dependendo da rentabilidade do sistema, auferirá sua apo­
sentadoria.
A Previdência Social - Regime Geral da Previdência Social -
assegura aos seus beneficiários (segurados ou dependentes) meios
indispensáveis de manutenção própria, por motivo de incapacidade,
idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos
de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam econo­
micamente.
A composição do Regime Geral da Previdência Social reúne dis­
posições aplicáveis às áreas de filiação, inscrição, contribuição e benefí­
cios. Esse regime se caracteriza por ser a estrutura da previdência básica
dos trabalhadores da iniciativa privada. Sua relação jurídica compre­
ende os momentos de filiação e de inscrição, além do regime contribu­
tivo dos segurados obrigatórios ou facultativos (e o das empresas sujeitas
a exação securitária, sejam elas urbanas ou rurais). Seus segurados são

20 Lezioni di Diritto delia Previdenza Sociale, p. 52.


21Persiani Mattia (Lezioni di Diritto delia Previdenza Sociale, 1981, p. 52) exprime o
fulcro da solidariedade na Previdência Social da seguinte maneira: "Essa è solidarietá
tra chi lavora e chi, no potendo piú o non avendo potuto lavorare, si trova in condizioni
di bisogno; tra chi produce e chi contribui con il suo lavoro a queila produzione".
PREVIDÊNCIA PRIVADA - DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA

os destinatários da atividade-fim do oferecimento de benefícios e ser­


viços previdenciários.
A reminiscência de seguro, apesar de social, ainda é patente no
Regime Geral da Previdência Social. Os participantes do RGPS são
chamados de segurados pela característica securitária do INSS. Apesar
do caráter social forte, a reminiscência de seguro é perceptível (v.g. a
contribuição/prêmio de acidente do trabalho - 1, 2 ou 3 %, conforme
o grau de risco de acontecimento da contingência/sinistro).
O Regime Geral da Previdência Social continua sendo um segu­
ro; um seguro social.
Da mesma forma, a Previdência Privada também é um seguro social,
mas dentro de um regime de capitalização, e não de repartição simples,
com um menos grau de solidariedade (sem liame intergerações).
4 .1 . D if e r e n ç a e n t r e r e p a r t iç ã o s im p l e s , r e p a r t iç ã o d e

CAPITAL DE COBERTURA E CAPITALIZAÇÃO

Vigora no Regime Geral da Previdência Social brasileiro o re­


gime previdenciário de repartição simples (pay as you go system), de
filiação obrigatória (art. 201 da Constituição da República/88).
0 Regime Geral da Previdência Social pressupõe que quem está
trabalhando paga os benefícios dos aposentados e pensionistas atuais.
1 ego, as gerações vindouras suportarão as aposentadorias da ge­
ração de agora. Esse regime está fundamentado, portanto, numa si-
t nação demográfica de significativa reposição populacional, na qual
a base da pirâmide etária será sempre proporcionalmente mais larga
que o vértice.
Wladimir Novaes Martinez22 faz a seguinte diferenciação entre o
sistema de repartição e o sistema de capitalização: “Assim, freqüente-

1'revldônc id Complementar, p, 22 \
A rthur B ragança de V asco n cello s W e in t r a u h

mente, o regime de capitalização é o próprio do neoliberalismo, en­


quadrado como poupança individual e disponível, da iniciativa priva­
da, para o plano do tipo contribuição definida, com baixo nível de
solidariedade, h o d ie rn o e co m te n d ê n c ia a se u n iv ersalizar. Bom para
as prestações programadas. Por outro lado, o regime de repartição sim­
ples, ideologicamente seria social-democrático, técnica previdenciária,
de iniciativa estatal, para o plano do tipo benefício definido, com ele­
vada solidariedade, u ltra p assa d o n o te m p o e co m te n d ê n c ia a d e sa p a ­
recer. Própria das prestações programadas” (destaque nossos).
A grande questão previdenciária que é discutida hoje se encontra
na manutenção dos regimes de repartição. Algumas correntes postu­
lam a conversão total para um regime de capitalização (tendo o Chile
como paradigma), outras pugnam por um sistema misto; outras pela
manutenção absoluta dos regimes de repartição. O grau de solidaris­
mo do regime de repartição é patentemente maior em relação ao regi­
me de capitalização. Por isso, ponderando-se de uma forma sociológica,
<) regime de repartição deverá sempre existir. Um regime, porém, não
inviabiliza o outro, ao contrário, um complementa o outro.
Existe uma diferença entre o regime previdenciário de reparti­
ção simples e o regime de repartição de capital de cobertura. No
regime de repartição de capital de cobertura, os pagamentos efetua­
dos por todos os participantes são empregados na constituição de
um fundo necessário para os pagamentos das obrigações futuras re­
la i ivas a contingências ou eventos não programados, que tenham pro­
babilidade periódica de ocorrência.
Exemplos dessas contingências não programadas são a invali­
dez, a morte, ou a reclusão. Todavia, nem sempre a lei é clara na
diferenciação dos dois regimes, igualando, por vezes, benefícios não
programados aos previsíveis.
No regime de capitalização (funding), cada pessoa forma um fun­
di i (individual ou coletivo) onde são investidos pecúlios destinados ex­
clusivamente à sua aposentadoria, havendo extratos individuais dos
valores capitalizados. A pessoa pode acompanhar suas reservas de apo­
sentadoria, fato impossível na repartição simples, onde as contribui
çoes convergem para o Tesouro Nacional e se mesclam ao erário público.
4 . 2 . R e g im e d e c a p it a l iz a ç ã o e s c r it u r a l e r e g im e d e

CAPITALIZAÇÃO FINANCEIRA

Para Francisco Eduardo Barreto de Oliveira23, “No regime


de capitalização escritural as contribuições são aplicadas (e capi-
i alizadas) em conta individual, mas os fluxos financeiros delas pro­
venientes são utilizados para pagar a massa de inativos já existente”.
Este tipo de regime é citado pelo referido autor como o regime
adotado pela Suécia, pela Polônia e pela Itália. Diz, ainda24: “Como
forma de amenizar os impactos fiscais de curto prazo ocasionados
pelo chamado “custo de transição”, os três primeiros países cita­
dos recorreram a diversas formas de capitalização escritural, o que
pode se constituir em uma possibilidade interessante para o caso
brasileiro.
A diferença entre o regime de capitalização escritural e o regime
de capitalização financeira está no caráter mutualista mínimo. O so­
lidarismo mitigado, dentro do regime de capitalização escritural, ocor­
re no momento em que existe a utilização das contribuições dos
participantes para pagamento de assistidos. Isto não ocorre com o
regime de capitalização financeira.
Não se deve confundir o regime de capitalização com o regime
de repartição de capital de cobertura.

2.'! OLIVEIRA, Francisco Eduardo Barreto de. Uma visão geral dos sistemas de previdência
na Europa. São Paulo: In Seguridade, Ano 1 Número 1, p. 5-7, 2a ed., Publicada pelo
Instituto Cultural de Seguridade Social., p. 6.
24 OLIVEIRA, Francisco Eduardo Barreto de. Uma visão geral dos sistemas de previdência
na Europa.São Paulo: In Seguridade, Ano 1 Número 1, p. 5-7, 2- ed., Publicada
pelo Instituto Cultural de Seguridade Social., p. 6.

52
Existe uma diferença entre o regime previdenciário de capitali­
zai,ao e o regime de repartição de capital de cobertura. No regime de
icpai tiçao de capital de cobertura, os pagamentos efetuados por to­
dos os participantes são empregados na constituição de um fundo
necessário para os pagamentos das obrigações futuras relativas a con­
tingências ou eventos n ã o p ro g ra m a d o s, que tenham probabilidade
periódica de ocorrência.
A diferença entre a capitalização escritural e a repartição de ca­
pital de cobertura parece tênue, dado o so lid a rism o mutualista exis­
tente em ambos os regimes.
Entretanto, na capitalização escritural, as contingências envol­
vendo os benefícios constituem em eventos programados, diferente­
mente do regime de repartição de capital de cobertura.
Exemplos dessas contingências não programadas são a invali­
dez, a morte, ou a reclusão. Todavia, nem sempre a lei brasileira é
clara na diferenciação dos dois regimes, igualando, por vezes, benefí­
cios não programados aos previsíveis.
Assim, torna-se imprescindível uma análise sobre o contexto de
mutualismo dentro dos planos previdenciários privados, que será fei­
ta mais adiante.
4 . 3 . 0 MUTUALISMO E A PROTOCOOPERAÇÃO

A segunda metade do século XIX foi caracterizada por uma


dinâmica árdua para as diversas classes sócio-profissionais. Diante
do desenvolvimento industrial mundial, houve o surgimento de no­
vas formas de abuso pelos detentores do poder.
Para Paul Durand25, a maior parte do século XIX floresceu
pela liberação das iniciativas individuais, oriunda do Regime Libe-

25 D U RA N D , Paul. La política contemporânea de seguridad social. Madrid: Edita: Minis­


tério de Trabajo y Seguridad Social, 1991, p. 51.

53
i al, criando concoinitantemente o advento da empresa privada e de
uma dinâmica árdua para as diversas classes sócio-profissionais.
1)iantc do desenvolvimento industrial mundial, houve o surgimen
to de novas formas de abuso pelos detentores do poder.
Foi, também, o momento do despertar da consciência popular
para a força da associação, ou a busca de soluções que propiciassem
a assistência e proteção aos trabalhadores nos acidentes, doença,
velhice, ou outras situações de desamparo.
Desta forma, vicejaram o mutualismo, o cooperativismo e o
associativismo sócio-profissional como uma resposta popular aos
novos desafios sociais advindos com o desenvolvimento.
Em conjunto, os mutuários não se associam por filantropia. Ob­
jetivam, sim, suprir as contingências aleatórias (infortunísticas ou ven-
turosas) que possam vir a acontecer a qualquer um dos membros
participantes do sistema.
Existe, porém, um cunho altruísta, mesmo que involuntário, no
âmbito da solidariedade envolvendo o esforço conjunto para o bem-
estar de alguns. O mutualismo seria oriundo desta solidariedade.
O mutualismo, no contexto previdenciário, surge com a reminis­
cência securitária na Previdência. O mutualismo securitário consiste
num esforço recíproco de indivíduos cujos interesses são semelhantes
para que haja proteção de todos membros desse conjunto.
Estes indivíduos não tomam esta atitude por filantropia, pois
objetivam suprir as contingências deletérias que possam vir a aconte­
cer a qualquer um dos membros participantes do sistema. É uma
álea.
Há um cunho altruísta, mesmo que involuntário, no âmbito da
solidariedade envolvendo o esforço conjunto para o bem-estar de
alguns. O mutualismo seria oriundo desta solidariedade.
Do ponto de vista sociológico, o mutualismo é pautado na soli­
dariedade e na boa-fé. A conceituação, entretanto, deve ser estudada,

54
haja vista que ninguém ingressa num sistema securitário/previdenci-
a n o para proteger pessoas estranhas dos revezes da fortuna.

Dentro da idéia jurídica de mutualismo, como um sistema base­


ado na entidade mútua e na contribuição de todos para benefício
individual de cada contribuinte, temos como sinônimo imediato a
simbiose (syn = junto, bios = vida).
Sob o prisma biológico, o mutualismo, ou a simbiose, é uma
relação vantajosa, obrigatória e recíproca entre indivíduos.
Vamos tentar provar que para melhor definir as relações de
Previdência Privada, podemos nos socorrer da taxonomia bioló-
gica:
No mutualismo natural, as duas espécies envolvidas são benefi­
ciadas e a associação é necessária para a sobrevivência de ambas.
Fxemplo desta relação é a associação de algas e fungos forman­
do os líquens. Os líquens são caracterizados pela associação sim b ió -
tica entre algas e fungos (os fungos abrigam as algas e as algas
alimentam os fungos).
A protocooperação é uma relação biológica em que há recipro­
cidade vantajosa mas não obrigatória entre indivíduos.
Na protocooperação, porém, a despeito de as duas espécies en­
volvidas serem beneficiadas, ambas podem viver de modo indepen­
dente sem que isso prejudique suas sobrevivências.
Encontramos na natureza vários exemplos de protocooperação.
Um deles é o da ave palito e o crocodilo. A ave palito se alimenta de
parasitas existentes no crocodilo. O crocodilo fica livre dos parasitas
e a ave obtém alimento. O crocodilo e a ave convivem harmoniosa­
mente, obtendo vantagens mútuas.
Se ambas as espécies, no exemplo acima, separarem-se, a sobre­
vivência recíproca continua garantida. No mutualismo, a separação
inviabiliza a sobrevivência.

55
O paralelo que queremos demonstrar localiza-se nesta faculta­
tividade mutualista que a protocooperação oferece. Se existe escolha
entre ser mutualista ou não, então não há simbiose (ou mutualismo
puro), mas sim protocooperação.
4 .4 . M u t u a l i s m o n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a

Nossa Constituição, em seu artigo 202, caput, determina que “o


regime de previdência privada, de caráter complementar e organiza­
do de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência
social, será facultativo”, previsão derivada da Emenda Constitucio­
nal n° 20, de 15 de dezembro de 1998. Houve uma patente dicoto­
mia constitucional entre o regime de repartição simples (regime geral
de previdência social - INSS) e o regime de capitalização (previdên­
cia privada).
O regime previdenciário de repartição simples (pay as you go)
pressupõe que quem está trabalhando paga os benefícios dos aposen­
tados e pensionistas atuais. Logo, as gerações vindouras suportarão
as aposentadorias da geração de agora. É a solidariedade entre gera­
ções: receitas correntes cotizam despesas correntes. Há, portanto, um
mutualismo intergerações na repartição simples.
Há uma simbiose intergerações na repartição simples.
No regime de capitalização (funding system), os participantes for­
mam fundos (individuais ou coletivos) onde são investidos pecúlios
destinados às suas aposentadorias. O objetivo da capitalização não
pressupõe a solidariedade intergerações.
Logo, cada participante pode seguir com seu plano previdenci­
ário de forma independente entre gerações. Isto não é mutualismo,
pois a solidariedade é mitigada. Juliana Pressotto Pereira Netto26 ex­
pressa esta idéia como uma “diluição da solidariedade”, ao se referir

26 NETTO, Juliana Pressotto Pereira. A previdência social em reforma. Sao Paulo: LTr,
2002, p. 153.

56
à Previdência Privada, observando a falta de “comunicação entre os
participantes” no que tange às contas de capitalização individualiza­
das. No mutualismo há uma necessidade simbiótica na sobrevivência
do sistema. Existe sim, na capitalização financeira, uma protocoope­
ração, onde a individualização é natural.
O que demonstramos acima é que o conceito mais apropriado
para o regime de capitalização financeira, no lugar do mutualismo
ou da simbiose, é a protocooperação.
A importância dessa definição é esclarecer as diferentes carac­
terísticas entre os regimes.
4 . 5 . O DILEMA DA REPARTIÇÃO SIMPLES COMO MODELO
PREVIDENCIÁRIO E A CAPITALIZAÇÃO

Por que até poucos anos atrás o tema previdenciário era ignora­
do? A resposta é simples: a população idosa no planeta começou a
aumentar nas últimas décadas. Como o perfil demográfico de qual­
quer país influencia as questões previdenciárias, vamos expor como
exemplo nossa situação populacional.
No Brasil, as décadas passadas acarretaram mudanças significa­
tivas no perfil demográfico, social e econômico da população.
A associação da redução da taxa de fecundidade com a queda da
mortalidade e o aumento da longevidade causou um impacto sem pre­
cedentes na composição etária da população brasileira. Seguimos em
um processo de envelhecimento populacional similar ao de muitos paí­
ses do mundo. Os desenvolvimentos tecnológicos, principalmente na
área médica, possibilitaram ao ser humano viver mais e ter menos filhos.
Analisando nossa pirâmide demográfica, vemos não se tratar
mais de uma pirâmide, e sim de um trapézio. Houve um estreita­
mento da base da estrutura etária brasileira.
O processo de transição demográfica, pelo qual passamos, mu­
dou, em alguns decênios, o padrão de fecundidade feminina brasilei­

57
ra, provocando forte desaceleração da taxa de crescimento demográ­
fico do País. Ocorreu uma queda da fecundidade, iniciada nos anos
60, intensificada nas duas décadas posteriores, seguindo de forma
moderada nos anos 90.
Em teoria, é mais simples manter as aposentadorias de uma po­
pulação idosa quando há grande número de nascimentos (taxa de fe­
cundidade elevada, como era antigamente). Quando existe um
crescimento populacional vultoso, é natural que o número cada vez
maior de jovens financie facilmente a aposentadoria dos idosos dentro
cie um regime de repartição.
No momento em que o crescimento vegetativo é baixo, figu­
rando taxa de fecundidade próxima de dois filhos por mulher e uma
longevidade elevada, torna-se menos praticável a manutenção fi­
nanceira dos inativos pelos ativos, haja vista que os números ten­
dem a uma equivalência numérica (ou até mesmo número maior de
inativos).
Ê preciso ressaltar que ambos os aspectos demográficos brasi­
leiros da diminuição da taxa de fecundidade e do aumento do núme­
ro de idosos e da longevidade são excelentes, pois corroboram uma
melhoria na vida dos brasileiros em geral, que estão tendo acesso aos
meios de controle de natalidade, além de estarem usufruindo de con­
dições mais salutares de sobrevivência. Sem dúvida é um avanço so­
cial a ser comemorado.
Tais condições demográficas, porém, acarretam reflexos negati­
vos para a manutenção de modelos previdenciários baseados na ma­
nutenção dos benefícios dos inativos pela contribuição dos ativos (v.g.,
o regime de repartição simples, ou o regime de Previdência Privada
com plano de benefício definido). Isso porque há, nesses modelos,
uma necessidade de equilíbrio entre receitas e despesas que é influ­
enciado em grande parte pelos fatores demográficos. Não obstante,
deve ser deixado claro que o fator demográfico não é o único a influ­

58
enciar o contexto previdenciário. Essa seria uma visão simplista da
questão.
Celecino de Carvalho Filho27 ao discorrer sobre os sistemas de
Previdência Social na América do Sul, e inclusive América Latina,
lucubra as seguintes reflexões, que ilustram bem as influências diver­
sas sofridas por nossa Previdência:
“Esses sistemas, além da multiplicidade de regimes, vêm
acumulando distorções históricas de toda ordem, adotando
práticas patrimonialistas, clientelistas e assistencialistas; tra­
dicional cultura do imediatismo; ingerência política, com
administração não-profissional; permanente confusão
conceituai entre previdência e assistência social (à exceção
do Brasil); introdução de novos benefícios sem indispensá­
vel fonte de custeio e longos prazos e adiamento dos ajus­
tes necessários; inexistência de cadastros de trabalhadores
ativos e inativos; ausência de corpo técnico qualificado, de
informações e estudos sistemáticos e de investimento per­
manente em tecnologia, que dimensionem e possibilitem o
controle das receitas e das despesas, reduzindo as fraudes e
os desperdícios, bem como acompanhem o desempenho e
projetem as tendências.
Todo esse conjunto de distorções, aliado à também históri­
ca instabilidade política, à informalidade estrutural da eco­
nomia, as elevadas taxas de inflação, agravadas com as mu­
danças no mercado de trabalho, cada vez mais não-formal,
e com o envelhecimento da população, resultou em siste­
mas de previdência completamente alheios à doutrina de
seguro social, notadamente não-solidários, fundamento
maior dos regimes de repartição simples, e ainda assim com
inexorável tendência ao desequilíbrio financeiro”.

27 Revista de Previdência Social. São Paulo: Ltr, 2000, p. 371/374.

59
A má-gestão do erário público não e jaez exclusivo do nosso
país, tampouco dos nossos tempos. Montesquicu28 mostra-se atem­
poral num comentário que pode ser aplicado ao Brasil hodierno:
“A tirania de um príncipe não leva a um Estado para mais
perto da ruína do que, numa república, a indiferença pelo
bem comum. A vantagem de um estado livre é que as rendas
são aí melhor administradas. Mas, e quando não o são? A
vantagem de um Estado livre é que ele não tem favoritos.
Mas, quando isso não acontece, e em lugar dos amigos e
parentes do príncipe é preciso fazer a fortuna dos parentes e
amigos de todos os que participam do governo, tudo está
perdido. As leis são contornadas mais perigosamente do que
são violadas por um príncipe, o qual, sendo sempre o maior
cidadão do Estado, tem mais interesse em sua conservação”.
Sendo assim, a questão demográfica no campo previdenciário
não é o único elemento que determinou o desequilíbrio financeiro
cio regime de repartição simples. Em verdade, temos no Brasil um
exemplo emblemático da má-gestão dos recursos auferidos ao lon­
go dos anos. A utilização de recursos previdenciários na construção
da ponte Rio-Niterói concretizou uma situação que infelizmente
não foi algo ímpar em nosso país. Os recursos arrecadados com as
contribuições previdenciárias desses anos de esbanjo do dinheiro
público deveriam ter sido destinados às suas funções primordiais:
pagamento dos aposentados e pensionistas.
Outro fator que causa grande influência sobre as contas previden­
ciárias públicas é a informalidade do mercado de trabalho. Notoria­
mente, uma base de 60% dos trabalhadores estão no mercado informal.
Assim, milhões de brasileiros deixam de contribuir para a Previdência
Social, e estão, em princípio, desprotegidos, embora poderão, no futu­
ro, gerar gastos para a Previdência (v.g., o amparo ao idoso).

28 Considérations sur les causes de Ia grandeur des romains et de leur décadence, p. 29.

60
Então, não se pode atribuir uma situação de Previdência defici­
tária exclusivamente aos fatores do envelhecimento da população e
da baixa taxa de fecundidade. Contudo, observando-se empiricamente
numerosos países do mundo (de estrutura histórica, econômica e
populacional peculiares a cada um deles) onde afloraram crises dos
sistemas previdenciários, vemos um fator em comum a todos esses
países: o fator demográfico.
A condição demográfica de estreitamento da base e alargamen­
to do vértice da pirâmide etária de muitos países se deve ao impres­
sionante avanço da medicina. A difundida disponibilidade de técnicas
que evitam a concepção, e, principalmente, o surgimento de novos e
potentes métodos de tratamento de doenças e de prolongamento da
vida, mudaram o padrão demográfico mundial inegavelmente.
Existe uma gama de fatores (sociais, históricos, jurídicos e polí­
ticos, por exemplo) que permeiam o tema previdenciário. Logo, não
deve ser levada em conta somente a questão econômica, pois incor­
reríamos numa visão simplista do tema. Todavia, a questão demo­
gráfica afetando a Previdência é um fenômeno inegavelmente global,
e não é por mera coincidência que a discussão demográfica tangen-
cia, hoje, a grande maioria das discussões previdenciárias, teóricas e
práticas, no mundo.
Pela primeira vez na história da humanidade a demografia atin­
ge esse patamar difundido de longevidade e controle contraceptivo.
Justamente devido a essas alterações na população, é imprescindível
enfatizar o estudo sobre as formas de conferir um futuro seguro a
essa população idosa crescente.
De acordo com a Recomendação n° 67 da O IT sobre a segu­
rança dos meios de vida, os regimes de seguridade social deveriam
(Princípios, Diretrizes, Bases, ponto 1) “aliviar o estado de necessi­
dade e impedir a miséria, restabelecendo, em um nível razoável, o
dinheiro perdido por causa da incapacidade para trabalhar (com-

61
precndida a velhice), ou para obter trabalho remunerado ou por
causa da morte do chcfe de família”.
Nesse contexto, as mudanças na Previdência Social devem pri­
mar pela segurança jurídica e estabilidade, visando-se sempre impe­
dir a miséria dos idosos.
A Constituição de 1988, art. I o, III, dispõe que a dignidade da
pessoa humana é um dos fundamentos de nosso Estado Democráti­
co de Direito. Se o Estado não estiver propiciando uma vida digna
aos idosos brasileiros, o “contrato social” estará inadimplido. Destar­
te, deve o Estado promover a justiça social, com a sustação dos privi­
légios e distorções atualmente existentes no sistema previdenciário
brasileiro.
Contudo, sobre reforma previdenciária e questão contributiva,
Sergio Pinto Martins29 faz as seguintes ponderações: “Não há dúvi­
das de que se não fosse feita uma reforma da Previdência Social che­
garíamos ao ponto de que dois ativos estriam sustentando um inativo,
o que evidentemente iria inviabilizar o sistema em pouco tempo”.
O referido autor30 ainda expõe de forma clara a situação da Pre­
vidência Social: “Há vários fatores a destacar que implicam a neces­
sidade de reforma. A expectativa de vida média do brasileiro cresceu
até por volta de 65 anos, quando por volta de 1960 era de 45/50 anos.
Aumentou o número de aposentados, que ficam percebendo benefí­
cios por muito mais tempo, em razão de que a medicina permite que
o homem viva por mais anos. As mulheres não têm mais vários fi­
lhos, que num primeiro momento iam trabalhar e contribuíam para
o sistema. O desemprego importa que o trabalhador nada recolha
para o sistema; porém, dele usufrui sob a forma de seguro-desempre-
go e sistema de saúde, implicando gastos para o regime”.

Revista de Previdência Social. São Paulo: Ltr, 1999, p. 1224/1229.


10 Revista de Previdência Social. São Paulo: Ltr, 1999, p. 1224/1229.

62
I Jiante da inviabilidade do regime de repartição simples, histo­
ricamente adotado pelos países em geral, a única alternativa presente
atualmente é o regime de capitalização da Previdência Privada (cada
um contribui para sua própria aposentadoria, e não para a geração
anterior). A capitalização na Previdência Privada não é ideal, mas é a
alternativa viável frente ao regime de repartição simples, podendo os
dois regimes coexistirem num regime híbrido.

5. S e g u r id a d e s o c ia l e d ir e it o s f u n d a m e n t a is

A análise da Seguridade Social dentro da questão de direitos


fundamentais é importante para também enquadrar a Previdência
Privada no contexto de direitos fundamentais, haja vista que a Previ­
dência Privada está inserida no sistema de Seguridade Social.
O ser humano se depara com o dilema de envelhecer, se não
com uma melhor qualidade de vida, mantendo seu padrão de sobre­
vivência. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, houve
fenômenos médicos e nutricionais que acarretaram alterações demo­
gráficas globais: as pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos.
Para Norberto Bobbio, a busca de uma melhor qualidade de
vida é uma das tendências mais marcantes do mundo atual31.
Norberto Bobbio assevera que vivenciamos a chamada “era dos
direitos”32, ressaltando a relevância dos direitos fundamentais. O ca­
ráter fundamental da Seguridade Social se revela na proteção da dig­
nidade da pessoa humana, na proteção social, enfim.
Em verdade, a Seguridade Social resvala as quatro gerações de
direitos fundamentais, pendente mais para os de segunda geração,
como explanado a seguir:

31 B O B B IO . Norberto. A era dos direitos. 8a Ediçao., Rio de Janeiro: Editora Campus,


1992. Pág. 67.
32 B O B B IO . Norberto. A era dos direitos. 8a Edição., Rio de Janeiro: Editora Campus,
1992. Pág. 67.

63
1) Direitos Fundamentais de Primeira ( leraçao: são aqueles re­
lacionados à vida, à liberdade e à propriedade. Surgem no século
XV111, com as Declarações de Direitos (Declaração de Virgínia de
1776 e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789).
Tais direitos afloram como resposta aos excessos do Poder Estatal,
sendo liberdades públicas, ou direitos humanos individuais, consti­
tuindo verdadeira prerrogativa dos indivíduos em face do Estado. A
vida, a liberdade e a propriedade são a quintessência dos elementos
basilares do Estado Democrático de Direito. A Seguridade Social
está pautada no trinômio vida-liberdade-propriedade.
2) Direitos Fundamentais de Segunda Geração: abarcam os cha­
mados direitos econômico-sociais, enquadrando-se especificamente
a Seguridade Social. Surgiram diante do impacto da Revolução In­
dustrial e dos problemas sociais oriundos desta época. Somente a
consagração de liberdade e igualdade perante o Estado não gerava
efetivamente sua fruição. Por isto, principalmente após a I a Guerra
Mundial, as Cartas Constitucionais passaram a conferir tais direitos.
Não bastava mais a mera garantia da vida, da liberdade e da proprie­
dade, sendo necessária uma postura mais abrangente do Estado na
assunção de riscos sociais em nome dos indivíduos. Observou-se uma
liberdade por intermédio do próprio Estado, manifestando-se no sen­
tido protetivo do homem enquanto ser que vive em coletividade, vi­
sando dar guarida aos chamados direitos humanos sociais.
3) Direitos Fundamentais de Terceira Geração: definidos como
os direitos de titularidade de toda a população, de forma coletiva,
interessando a todos, e de forma particular, a cada um, a exemplo do
desenvolvimento econômico, qualidade de vida e meio ambiente. Ob­
jetiva-se a defesa dos direitos da coletividade, de forma difusa. A
proteção abarcada pela Seguridade Social envolve certamente a qua­
lidade de vida de maneira difusa.
4) Na evolução dos direitos fundamentais, existe a tendência ao
reconhecimento dos chamados Direitos Fundamentais de Quarta Ge­

64
ração, resultado da globalização dos direitos fundamentais, no senti­
do tle uma universalização no plano institucional, que correspondem
à última fase de institucionalização do Estado Social, sendo com­
posta pelos direitos à democracia e à informação (que devem tan-
genciar a Seguridade Social). Sem democracia e informação, o acesso
das pessoas à malha de proteção social, que permeia a Seguridade
Social, fica obnubilado. Sem democracia, a Seguridade Social se trans­
forma em benevolência do tirano ou da oligarquia. Sem informação,
a população desconhece seus direitos fundamentais.
A segurança social surge de um aprimoramento da própria civi­
lização, uma evolução da postura estatal sobre a população. Não mais
fica o indivíduo lançado à sua sorte, firmando o contrato social.
O contrato social ilustra bem o dever estatal em garantir a segu­
rança social. Jean Jacques Rousseau não inventou a idéia de contrato
social (Montesquieu, Hobbes e Locke mencionam em suas obras
elementos do contrato social), mas foi soberbo ao sublinhar a abdi­
cação da liberdade natural pela liberdade civil/civilizada.
A abdicação da liberdade natural transmite ao Estado poderes
que devem representar vantagens na liberdade civil. A segurança so­
cial é uma delas.
Em sua obra, Rousseau33 faz a analogia de viver sob a égide do
Estado e viver sob o teto da casa do pai. Para o pensador suíço, a
família seria o primeiro modelo de sociedade política, sendo o equi­
valente ao governante familiar o pai, e os filhos figurando como povo.
As vantagens e confortos de viver sob o teto familiar trazem as limi­
tações das liberdades dos filhos, que devem se submeter às condições
impostas pelo progenitor. O povo também se depara com perda de
liberdades naturais diante do poder estatal, mas as vantagens da vida
social justificariam o sacrifício.

33 ROUSSEAU, Jean Jaques. The social contract. Translated by G. D. H. Cole. New York:
Prometheus Books, 1988, p. 15.

65
6. C o n texto h is t ó r ic o d a p r e v id ê n c ia p r iv a d a no

B r a s il

A fundação do Montepio dos Oficiais da Marinha da Corte,


em 23 de setembro de 1795, caracteriza um primeiro marco inicial
histórico de instituição voltada à complementação da renda de tra­
balhadores no momento da inatividade. O Montepio dos Oficiais da
Marinha da Corte foi criado graças à iniciativa de Dom João VI,
então Príncipe Regente.
Outro marco preambular histórico de instituição voltada a com-
plementação da renda dos trabalhadores no momento da inatividade
consiste no Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado
(MONGERAL), em 10 de janeiro de 1835, proposto pelo então
Ministro da Justiça, Barão de Sepetiba. Nesta instituição esboçava-
se um embrião de idéia de complementação de recursos pessoais para
trabalhadores que ingressavam num período inativo. A etimologia
da palavra montepio é intrigante. O “monte” seria o valor conjunto
arrecadado para subvencionar as pensões, pio (do latim “pius”) no
sentido de sagrado, santo.
Houve depois disto diversos montepios, chamados de “Caixas
Mútuas de Pensões e Pecúlios”. No dia 16 de abril de 1904 é criada a
Caixa Montepio dos “Funccionários do Banco da República do Bra-
zil”, contando 52 associados. Este montepio é o PREVI, maior fun­
do de pensão do Brasil atualmente.
Em verdade, a Previdência Complementar Privada situa-se num
campo intrínseco à temática dos seguros.
Logo, o próprio Código Comercial de 1850 constitui também
um marco histórico, ao disciplinar nos arts. 666/684 o seguro garan-
tidor de viagens marítimas (abrindo caminho para a expansão dos
seguros privados). O Decreto n° 2.679, de 02 de novembro de 1860,
tratou do funcionamento das empresas de seguro, sendo complemen­
tado pelo Decreto n° 2.711, de 19 de dezembro de 1860.

66
A I ei n° 294, de 05 de setembro de 1895, que foi regulamenta­
da pelo 1Jecreto n° 2.153, de 01 de novembro de 1895, foi significa­
tiva no sentido de representar o surgimento de normas ligadas à
fiscalização das entidades seguradoras.
Por fim, o conhecido “Regulamento M urtinho”, Decreto n°
4.270, de 10 de dezembro de 1901, regulou, em termos gerais, os
mecanismos de seguros no Brasil. E importante lembrar que até a
instituição da previdência pública brasileira, em 23 de janeiro de 1923
(Lei Eloy Chaves - Decreto n° 4.682), a Previdência Privada não
podia ser tida como complementar, haja vista a inexistência de uma
previdência principal básica.
Norma significativa mais recente consiste no Decreto-Lei n°
73/66 (outrossim regras de seguros privados), regulamentado pelo
Decreto n° 60.459/67, e alterado pelos Decretos-Leis n° 168/67 e
n° 296/67. O Decreto-Lei n° 73/66, em seu art. 3o, parágrafo úni­
co, dentro das disposições sobre o Sistema Nacional de Seguros
Privados, excluiu taxativamente o Regime Geral da Previdência
Social de suas previsões, haja vista a abertura que proporcionou no
campo previdenciário.
Estes elementos normativos acima indigitados permitiram a soli­
dificação de um alicerce de securitização privada.
Até 1977 não houve uma sistematização legislativa, que organi­
zasse essas entidades privadas de previdência, que acabavam se sub­
metendo ao Código Civil ou a outras normas comerciais ou de seguro
privado. Não havia necessidade de legislação específica, dada a ine­
xistência de mercado, e por isto o legislador não teve motivos para se
preocupar com a regulamentação de um sistema minimamente di­
fundido, permanecendo a regulamentação geral a normatização de
seguros privados.
Em 1977 houve mudanças. A Previdência Complementar Pri­
vada foi regulamentada pela Lei n° 6.435/77 - que sofreu altera-

67
çóes com a l ei n° 6.462/77, com o Decreto-Lei n° 2.053/83, com
a le i n° 8.020/90, e com os Decretos n° 81.240/78 (entidades fe­
chadas) e n° 81.402/78 (entidades abertas), em que os arts. 8°/33
referiam-se à Previdência Privada aberta, e os arts. 34/50 referiam-
sc à fechada, além de existirem outras resoluções da Secretaria de
Previdência Complementar (SPC) e da Superintendência de Se­
guros Privados (SUSEP).
Atualmente, o regime de Previdência Complementar Privada é
previsto no art. 202 da Constituição, fruto da Emenda Constitucio­
nal n° 20, de 15 de dezembro de 1998. Infraconstitucionalmente, a
I e i Complementar n° 109, de 29 de maio de 2001, revogou expres­
samente a Lei n° 6.435/77.
De caráter complementar e organizado de forma autônoma em
relação ao Regime Geral de Previdência Social, o regime de Previ­
dência Privada é facultativo. O art. 68, parágrafo 2o, da Lei Comple­
mentar n° 109, de 29 de maio de 2001, determinou que a concessão
de benefício pela Previdência Complementar não depende da con­
cessão de benefício pelo Regime Geral da Previdência Social, ilus­
trando bem a autonomia de organização supletiva.
Segundo o art. 202 da Constituição, a Lei Complementar que
viesse a tratar do regime de Previdência Privada deveria assegurar ao
participante de planos de benefícios de entidades de Previdência Pri­
vada “o pleno acesso às informações relativas a gestão de seus respec­
tivos planos”, elemento que demonstra a transparência exigida pelo
legislador.
A Lei n° 6.435/77, em seu artigo 47, já obrigava as Entidades
Fechadas de Previdência Privada a tornarem público o balanço anual.
Essa norma só veio a ser efetivada com a publicação da Portaria n° 842
da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), que obrigou a
publicação dos demonstrativos contábeis das referidas entidades no
1Jiário Oficial da União ou em jornal de grande circulação nacional.

68
A Lei n° 6.435/77, em seu art. 4° classificava as entidades de
previdência privada de acordo com a relação entre a entidade e os
participantes dos planos de benefícios:
“1 - a) fechadas, quando acessíveis exclusivam ente aos em ­
pregados de um a só em presa ou de um grupo de em presas, as
quais, para os efeitos desta Lei, serão denom inadas patroci­
nadoras;
b) abertas, as demais”.
Conforme o texto da Lei n° 6.435/77, as entidades de Previ­
dência Privada eram aquelas que tinham por objeto instituir planos
privados de concessão de pecúlios ou de rendas, de benefícios com­
plementares ou assemelhados aos da Previdência Social, mediante
contribuição de seus participantes, dos respectivos empregadores ou
de ambos (considerando-se participante o associado, segurado ou
beneficiário incluído nos planos privados).
Quanto aos objetivos, a classificação legal se fazia entre enti­
dades de fins lucrativos e entidades sem fins lucrativos. Pela Lei
n° 6.435/77 (art. 4°), as entidades fechadas não podiam ter fins
lucrativos. Eram equiparáveis aos empregados de empresas pa­
trocinadoras os seus gerentes, os diretores e conselheiros ocupan­
tes de cargos eletivos, bem como os empregados e respectivos
dirigentes de fundações ou outras entidades de natureza autôno­
ma, organizadas pelas patrocinadoras (Lei n° 6.435/77, art. 4°,
parágrafo 2o).
As entidades de previdência privada (art. 5° da Lei n° 6.435/77)
eram organizadas como:
I - sociedades anônimas, quando tivessem fins lucrativos;
II - sociedades civis ou fundações, quando sem fins lucrativos.
A Lei n° 6.435/77 (art. 6°), não considerava atividade de Previ­
dência Privada a simples instituição, no âmbito limitado de uma
empresa, de uma fundação ou de outras entidades de natureza autô-

69
de pecúlio por morte, de pequeno valor, desde que adminis­
n o n iii,

trado exclusivamente sob a forma de rateio entre os participantes.


Finalmente, a Lei n° 6.435/77 (art. 7°) dispunha que as entida­
des abertas integrar-se-iam ao Sistema Nacional de Seguros Priva­
dos, e deveriam ser reguladas pelas disposições da referida Lei e, ou
no que coubesse, pela legislação aplicável às entidades de seguro pri­
vado (art. 10).
Houve mudanças significativas com o advento da Lei Com­
plementar n° 109, de 29 de maio de 2001, a qual alterou em muitos
aspectos o contexto previdenciário até então delimitado pela Lei n°
6.435/77.
Com a nova legislação, manifestou-se uma ênfase maior em
relação à proteção dos participantes, havendo uma nítida mens legis
do legislador em fortalecer a transparência (sob a forma de fiscaliza­
ção tanto por parte do governo quanto do participante), a flexibilida­
de (maior liberdade de ingerência do participante sobre os recursos
em seu nome), e a segurança (previsão de resseguro e reserva de con­
tingência que garantam os benefícios).
De acordo com o art. 36 da Lei Complementar n° 109, as enti­
dades abertas são constituídas unicamente sob a forma de socieda­
des anônimas. As entidades fechadas devem ser organizadas sob a
forma de fundação ou sociedade civil sem fins lucrativos (§ 1- do art.
31). Como o Novo Código Civil não recepcionou a figura da socie­
dade civil sem fins lucrativos, os fundos de pensão, hoje, devem ser
constituídos sob a forma de fundação.
O art. 8o da Lei Complementar n° 109 considera participante toda
a pessoa física que aderir aos planos de benefícios; e assistido, o partici­
pante ou seu beneficiário em gozo de benefício de prestação continuada.
Em relação à terminologia envolvendo a Previdência Privada,
ocorreu uma forte influência do sistema previdenciário privado nor-
te-americano. Isto não impediu a adoção no Brasil de uma nomen-

70
elatura nativa, mas vemos a sinonímia americana nos principais ter­
mos, como, v.g., fundo dc pensão (pensionfund) patrocinador (spon-
sor), participante (participant), planos de benefício definido e de
contribuição definida (defined contribution, defined benefit), elegibili­
dade (eligibility). Até mesmo o benefício proporcional diferido é co­
nhecido na doutrina e na prática como vesting, termo que em inglês
significa proteção, cobertura.
Algumas denominações utilizadas na Previdência Pública não
são aplicadas na Previdência Privada. Contingência da Previdência
Pública tem o sentido de risco na Previdência Privada (que é o fato
da vida que enseja a concessão de algum benefício ou auxílio). A
contribuição previdenciária, que tem a natureza de tributo da Previ­
dência Social, na Previdência Complementar Privada assemelha-se
ao prêmio pago às seguradoras.
Previdência Complementar Privada não é sinônimo de seguro
privado, mesmo porque o termo indenização, elementar no ramo dos
seguros privados, não é utilizado no cenário de previdência, que en­
volve bem-estar e proteção social.

7. D if e r e n ç a e n t r e p r e v id ê n c ia p r iv a d a , p r e v id ê n c ia

OFICIAL E SEGURO PRIVADO

Faz-se necessário diferenciar os termos Previdência Privada, Pre­


vidência Oficial e seguro privado. A Previdência Oficial diz respeito
ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS - ligado ao INSS),
ou ao Regime Jurídico Único (RJU - regimes próprios de previdên­
cia dos servidores públicos). O seguro privado possui até uma exis­
tência paralela à Previdência Privada, como nos caso das entidades
abertas de previdência complementar que mantêm, além dos planos
previdenciários privados, planos de seguro de vida.
A Previdência Complementar Oficial versa sobre a previdên­
cia suplementar de determinados grupos de servidor públicos. Tal

71
sistema não o privado, pois requer subvenção estatal para o paga­
mento dos benefícios, e possui legislação (e regulamentação) espe­
cífica para sua criação regional (v.g. previdência complementar oficial
dos servidor públicos da União, de um Estado ou de uma cidade).
Como particularidade da Previdência Complementar Privada,
temos a complementaridade em relação à Previdência Pública. E com­
plementar no sentido da suplementação facultativa dos benefícios
oficiais, como determina o art. 202 da Constituição. Esta facultativi­
dade do sistema privado de previdência complementar propicia ao
t rabalhador um ingresso voluntário como segurado privado, na bus­
ca pela manutenção do padrão de vida quando da inatividade.
A facultatividade supramencionada é factível com o regime de
capitalização, pois no regime de repartição simples é imprescindível
um elevado grau de participação para cotizar os benefícios dos apo­
sentados e pensionistas. A informalidade do mercado de trabalho no
Brasil referenda esta afirmação. Os trabalhadores informais não con­
tribuem para a Previdência Social, não obstante poderem precisar de
amparo social no futuro. Este fator será discutido mais adiante.
Voltando à complementaridade, a concessão do benefício esta­
tal básico é tido como principal e obrigatório (desencadeado por uma
contingência social), relegando à vontade da pessoa a contribuição
complementar. Apesar de haver total liberdade contratual em vigor
no regime previdenciário complementar, justamente a acessoriedade
constitucional acaba por submeter o modelo particular (imbuído pe­
los institutos jurídicos de Direito Privado) às previsões e mudanças
impostas pelo governo. E a dicotomia polêmica entre caráter contra­
tual versus caráter institucional.
Steven Willborn34 assevera que o contexto da Previdência Com­
plementar está totalmente inserido na esfera da Seguridade Social e
34 W IL L B O R N , Steven L.. Social security in United states o f am erica. International
Encyclopedia of Laws. Volume 4 - Social Security Law, 1999, p. 89.

72
do Bem Estar Social {Social Security e Welfare). Mesmo sendo suple­
mentar {privaie system supplemental to Social Security), a cooperação
com a estrutura social é o papel mais importante da Previdência Pri­
vada. Comungamos deste entendimento, pois após a Emenda Cons­
titucional n° 20, de 15 de dezembro de 1998, o elemento subsidiário
da Previdência Privada se tornou cooperativo.
O caráter suplementar da Previdência Privada possui um cunho
legal, pois nem sempre em termos pecuniários ocorre essa acessorieda­
de. Freqüentemente, em valores absolutos de benefícios, a Previdência
Complementar Privada oferece benefícios maiores do que a Previdên­
cia Oficial, até porque nesta última há um teto para os benefícios.
Etimologicamente, a palavra previdência é oriunda do latim
upraevidentia’\ no sentido de prever, antever.
Complementar, que complementa, que completa, do latim com-
plecti, significa “abraçar”, “cercar”, ou “cobrir”.
A palavra privada consiste no feminino substantivado do adjeti­
vo privado, que por sua vez é oriundo do latim “privatu ; “privus”, e
tem um significado de particular, que não é público.
Voltemos ao termo subsidiário, que tem o sentido de elemento
secundário, que reforça outro de maior importância. Complementar,
outrossim, nos traz a idéia de um complemento de algo principal.
Não obstante, o termo complementar é mais apropriado ao tema
do que o conceito subsidiário. Ao nosso ver, a Previdência Privada
tem um caráter completivo, ou suplementar, em relação à Previdên­
cia Social.
Para resguardar a essência da proteção social inerente, notemos
que o fundamento dos planos de Previdência Privada não é o enrique­
cimento da pessoa por meio de aplicações. Se o indivíduo quiser aufe­
rir riqueza, invista na Bolsa de Valores. Os planos previdenciários
privados visam permitir uma continuidade no padrão de vida da pes­
soa, complementando ou não uma aposentadoria oficial.

73
Com referência à organização, lembramos que a Lei Comple­
mentar n° 109/01 trouxe um novo cenário para a Previdência Priva­
da Complementar, conferindo mais transparência e maior flexibilidade
aos planos de benefícios, propiciando mudanças que viabilizem o cres­
cimento do sistema privado de previdência, além de incrementar o
controle do atual volume de riquezas envolvido.
Aliás, a Lei Complementar n° 109 não utiliza o termo “Previ­
dência Privada Complementar”, inscrevendo apenas o termo “Previ­
dência Privada”.
O sistema brasileiro de Previdência Social (RGPS - INSS) se
baseia no modelo de repartição simples (pay asyougo system), no qual
os trabalhadores da ativa contribuem para os benefícios dos inativos,
numa verdadeira solidariedade intergerações para a cotização do sis­
tema.
As contribuições para a manutenção da Previdência Social têm
natureza de tributo (contribuições sociais). Há ainda a parafiscalida-
de na figura do INSS.
Por sua vez, a Previdência Complementar (ao Regime Geral -
trabalhadores do setor privado - e ao Regime Jurídico Único - servi­
dores públicos), subdividida em Oficial e Privada, é um modelo típi­
co de capitalização (funding system) com baixo ou nenhum grau de
solidariedade, em que cada participante do sistema contribui (adim-
plemento de sinalagma), em princípio, para um fundo privado espe­
cífico que irá subvencionar a sua própria aposentadoria.
A solidariedade mitigada existiria em planos cujos benefícios
não programados pendessem para o regime de repartição de capital
de cobertura. Estes planos envolvem o evento morte ou invalidez, e.
g. Os demais participantes contribuem para que, no infortúnio da
morte de um participante do plano em comum, possa o beneficiário(s)
receber benefício. Esta solidariedade, porém, distancia-se daquela
existente no Regime Geral, muito mais pendente ao mutualismo.

74
nu IIII ll( DKAC.ANi.A I )| VA'.( ()N( 111OS W l INIRAI 111

Reiteramos aqui a diferenciação dos termos Previdência Priva­


da, Previdência Oficial e seguro privado. A Previdência Oficial diz
respeito ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS - ligado ao
INSS), ou ao Regime Jurídico Único (RJU - regimes próprios de
previdência dos servidores públicos). O seguro privado possui até
uma existência paralela à Previdência Privada, mas pelas razões que
já foram exploradas, não há sinonímia.
A Previdência Privada está disposta horizontalmente frente à
Previdência Social. A Previdência Oficial Complementar versa so­
bre a previdência suplementar de determinados grupos de servido­
res públicos. Tal sistema não é privado, pois requer subvenção estatal
para o pagamento dos benefícios, e possui legislação específica para
sua criação regional (v.g. previdência complementar dos servidores
públicos de um Estado ou de uma cidade). É um regime próprio.
A facultatividade é factível com o regime de capitalização,
pois no regime de repartição simples é imprescindível um elevado
grau de participação para cotizar os benefícios dos aposentados e
pensionistas.
Constitucionalmente, a concessão do benefício estatal básico é
tida como principal e obrigatória (desencadeada por uma contingên­
cia social), relegando à vontade da pessoa a contribuição comple­
mentar. Mesmo após a Emenda Constitucional n° 41 (reforma que
remodelou o regime previdenciário dos servidores públicos), a con­
tribuição ainda é voluntária. Mesmo havendo liberdade contratual
no sistema previdenciário privado, justamente a face acessória cons­
titucional acaba por submeter o modelo particular (imbuído pelos
institutos jurídicos de Direito Privado) às previsões e mudanças im­
postas pelo governo.
Então, o caráter suplementar da Previdência Privada acaba apre­
sentando um cunho legal e não fático, pois nem sempre em termos
pecuniários ocorre essa acessoriedade. Perante o achatamento progres­
sivo e inexorável dos benefícios da Previdência Social e inclusive do

75
Regime Jurídico Unico, em valores reais de benefícios, a Previdência
Complementar Privada oferece benefícios maiores do que a Previdên­
cia Oficial, até porque no campo oficial há um teto para os benefícios.
Nos socorramos novamente da etimologia. A palavra previ­
dência é oriunda do latim “praevidentia”, no sentido de prever, an­
tever. O indivíduo sabe que não terá vitalidade eterna para se manter
com dignidade ou manter seu padrão de vida. O risco social da
perda de força vital é equalizado dentro do Contrato Social com a
resposta previdenciária.
A pessoa prevê que precisará se aposentar eventualmente. Quer
chegar idade avançada, mas sabe que poderá se acidentar ou morrer
até lá. O Estado também não fica inerte ante esta situação.
A esperança do ser humano para o futuro é a velhice, apesar de
ser conhecida como uma etapa da vida sem o vigor jovial. Cícero,
sempre exaltou a velhice ativa (jovialidade espiritual). Morrer pro-
vecto é desejo quase universal. E, afinal, como diria São Jerônimo,
ninguém é tão velho que não acredite poder viver mais um ano35.
Ao nosso ver, a Previdência Privada tem um caráter comple-
tivo, ou suplementar, em relação à Previdência Social. Pode-se com­
pletar algo que não precisa, necessariamente, ser principal, tampouco
o que completa ser acessório.
O vocábulo privado é oriundo do latim “privatu”; “privus”, e
tem um significado de particular, que não é público.
Ainda que a Previdência Privada venha a ser obrigatória, isto
não retira seu alicerce privado. Ao contrário, é importante destacar
que os valores existentes no âmago da Previdência Privada não são
estatais, mas sim dos participantes.
O fundamento dos planos de Previdência Privada não é o enri­
quecimento do participante. Os planos previdenciários privados vi­

35 Nemo est tam senex, qui se annum non putet posse vivere.

76
sam a permitir uma continuidade no padrão de vida da pessoa, com-
jilelando ou não uma aposentadoria oficial. Ainda que o participante
nao tenha aposentadoria oficial, poderá obter benefícios previdenci-
arios privados.
Seria então complementar a que?
A própria Lei Complementar n° 109 não utiliza o termo “Pre­
vidência Privada Complementar”, inscrevendo apenas o termo “Pre­
vidência Privada”.
O caráter aparentemente acessório/complementar fatalmente de­
saparecerá, numa tendência inexorável de fortalecimento da Previ­
dência Privada e enfraquecimento da Previdência Social por meio do
achatamento dos benefícios do INSS e do RJU.
7 .1 . T erm o s " c o m plem en tar" e " su plem en ta r"

Até a criação da Lei Complementar n° 109/2001, a Previ­


dência Privada tinha imanente os conceitos de complementar ou
suplementar.
Era complementar quando, dentro de um plano de benefício
definido, era direcionado a completar o valor do benefício oficial
até alcançar o valor do trabalho ativo.
Era suplementar quando apenas acrescia valor ao benefício oficial.
A característica da complementaridade da Previdência Privada
em relação à Previdência Pública não tem o conteúdo de outrora. É
complementar no sentido da suplementação facultativa dos benefí­
cios, como determina o art. 202 da Constituição.
Antes do advento da Emenda Constitucional n° 20, havia uma
conexão generalizada dos planos previdenciários privados e a con­
cessão de benefícios previdenciários oficiais.
Como a maioria dos planos era de benefício definido, o valor
efetivo do benefício da Previdência Privada dependia do montante

77
do benefício oficial, pois “complementava”, ou melhor, completava o
valor do benefício oficial até alcançar o montante de remuneração do
período ativo (manutenção absoluta do padrão de vida). Quando não
alcançava o valor da ativa era denominado de subsidiário.
O termo “complementar”, preceituado na Constituição, tem in­
terpretação agora de suplemento, expressão inócua, pois o valor mé­
dio dos benefícios na Previdência Privada suplanta aqueles da
Previdência Social. Entender como suplemento algo que é mais ex­
pressivo seria como considerar uma folha de alface o almoço e com­
primidos de vitaminas como suplemento: as vitaminas seriam aí a
nutrição principal.
Será então não complementar, mas sim ancilar ao participante na
sua necessidade de aposentação. Sendo auxiliar, utiliza esta ajuda a quem
quiser. A facultatividade de ingresso na Previdência Privada propicia
ao trabalhador um ingresso voluntário na Previdência Privada, na bus­
ca pela manutenção do padrão de vida quando da inatividade.
Hoje estes termos estão ultrapassados, pois constitucionalmen­
te não há vinculação dos benefícios da Previdência Privada com os
benefícios oficiais. O art. 68, parágrafo 2o, da Lei Complementar n°
109, de 29 de maio de 2001, determinou que a concessão de benefí­
cio pela Previdência Complementar não depende da concessão de
benefício pelo Regime Geral da Previdência Social, ilustrando bem a
autonomia de organização da Previdência Privada. Esta previsão res­
peitou o art. 202 da Constituição. Não obstante, de quando em vez
ainda se ouve falar desta terminologia.

8 . C O N TEXTO JURÍD ICO ATUAL DA PREVIDÊNCIA


COMPLEMENTAR PRIVADA NO BRASIL

Na Constituição Federal, a temática da Previdência Privada está


inserida no âmbito do Título VIII, da Ordem Social, cujo art. 193
estabelece que:

78
“A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como
objetivo o bem -estar e a justiça sociais” (destaques nossos).
Mais especificamente, o legislador constitucional enquadrou, in­
clusive, a Previdência Privada no Capítulo II do Título VIII, esfera
da Seguridade Social.
Já o art. 194 da Constituição Federal ressalta que:
“A seguridade social com preende u m conjunto integrado
de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previ­
dência e à assistência social” (destaques nossos).
Pois bem, a iniciativa da sociedade vem se manifestando com o
crescimento ímpar da Previdência Complementar Privada brasileira.
A Justiça Social se dá, outrossim, com observância do princípio da
liberdade de iniciativa (art. 170 da Constituição).
Para Arion Sayão Romita “O estatuto fundamental, portanto,
longe de coibir, concita o particular a prover, por seus próprios meios,
à satisfação de necessidades que a previdência oficial, por impossibi­
lidade ou incapacidade, descura”36.
A relevância da Previdência Privada é tão marcante, do pon­
to de vista social e, por conseguinte, legal, que o ordenamento
jurídico brasileiro veio a regular a Previdência Social em leis or­
dinárias, e a Previdência Privada em leis complementares (hie­
rarquicamente superiores).
Além disto, sublinhe-se que os recursos existentes nos planos
previdenciários privados têm caráter alimentar.
De acordo com o parágrafo Io-A do artigo 100 da nossa Constitui­
ção (parágrafo incluído pela Emenda Constitucional n° 30, de 13/09/00):

36 ROMITA, Arion Sayão. Estrutura da relação de previdência privada (entidades fecha­


das). São Paulo: LTR. Revista de Previdência Social, v 25, nQ252, p. 773, novembro de
2001.

79
“Os débitos ele natureza alimentícia compreendem aqueles de­
correntes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
complcmentações, benefícios previdenciários e indenizações por
morte ou invalidez, fundadas na responsabilidade civil, em virtu­
de de sentença transitada em julgado” (destaques nossos).
A natureza alimentícia das pensões e suas complementações,
benefícios previdenciários e indenizações por morte ou invalidez nos
ensina que o caráter previdenciário (como vem reiterando a própria
postura da Organização Internacional do Trabalho - OIT) incute
um valor ao contexto que de longe foge do simples seguro privado e
da singela aplicação financeira. O interesse é de manutenção do pa-
drao de vida.
O regime de Previdência Complementar Privada é previsto pelo
art. 202 da Constituição, fruto da Emenda Constitucional n° 20, de
15 de dezembro de 1998.
A Lei Complementar n° 109, de 29 de maio de 2001, revogou
expressamente a Lei n° 6.435/77 e a Lei n° 6.462/77, passando a
reger de forma geral toda a Previdência Privada, aberta e fechada.
Quanto à Lei Complementar n° 108, de 29 de maio de 2001, suas
disposições abrangem exclusivamente a relação entre a União, os Es­
tados, o Distrito Federal e os Municípios, inclusive suas autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas dire­
ta ou indiretamente, enquanto patrocinadores de entidades fechadas
de Previdência Complementar, e suas respectivas entidades fechadas.
A Lei Complementar n° 108 não é, portanto, a lei de Previdên­
cia Privada dos servidores públicos, até porque numerosos emprega­
dos de autarquias, fundações, sociedades de economia mista e
empresas controladas direta ou indiretamente pelo Poder Público, e
mesmo de pessoas jurídicas de Direito Público, são celetistas (rela­
ção trabalhista regida pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT)
Diz o art. 202 da Constituição que a Previdência Complemen­
tar Privada possui caráter complementar e organização autônoma

80
em relação ao Regime Geral de Previdência Social. O regime de Pre­
vidência Privada é facultativo.
O Estado não tem, portanto, monopólio de atuação na Previ­
dência nacional.
Deduz-se que a grande característica da Previdência Comple­
mentar Privada é sua natureza particular. Mesmo sendo privada, po­
rém, ela não perde jamais seu traço distintivo constitucional de
elemento de proteção social. Esta relevância essencial se desdobra na
postura do legislador.
8 .1 . P r e v id ê n c ia p r iv a d a e o s is t e m a f in a n c e i r o n a c i o n a l

Uma previsão constitucional pouco citada, mas extremamente


importante na compreensão da matéria, advém do art. 192 da Cons­
tituição Federal (redação dada pela Emenda Constitucional n° 40,
de 2003), que estabelece:
“O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover
o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da
coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as
cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que
disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas
instituições que o integram .”
A Emenda Constitucional n° 40 revogou o inc. II que previa:
II - autorização e funcionamento dos estabelecimentos de
seguro, resseguro, previdência e capitalização, bem como
do órgão oficial fiscalizador” (destaques nossos).
A órbita de seguros privados e de capitalização que rodeia a
Previdência Complementar Privada corresponde ao envolvimen­
to da temática com o sistema financeiro nacional, a promoção do
desenvolvimento equilibrado do País e com os interesses da cole­
tividade.
A diretiva constitucional tem liame com as aplicações das contri­
buições previdenciárias privadas pelas entidades que administram fiin-

81
dos de Previdência, já que os valores podem ser inseridos no círculo do
sistema financeiro nacional, fato que interessa à coletividade sob o pris-
11ia social (aposentadoria como manutenção do padrão de vida em com-
plementação ao Regime Oficial de repartição simples) e ao
desenvolvimento equilibrado do País, pois fortalece a poupança interna,
favorecendo juros mais baixos e facilitando empréstimos financeiros.
Mas mesmo inserta no campo do sistema financeiro nacional,
os valores das reservas técnicas da Previdência Privada não são mera
aplicação financeira ou especulativa.
A própria Receita Federal brasileira confirma que a aplicação
em previdência privada, para fins de apuração de imposto de renda,
no momento da declaração, no modelo completo, não se caracteriza
por aplicação financeira. Por isso, não deve ser informada na ficha
“Bens”. Deverá haver um lançamento na ficha de “Pagamentos” (có­
digo 6 - contribuições a entidades de previdência privada).
0 substitutivo ao projeto de Lei Complementar n° 47/1991,
atual PLP 161/2004 (em tramitação), dispõe sobre o Sistema Finan­
ceiro Nacional, regulamentando o art. 192 da Constituição Federal.
Na estrutura do Sistema Financeiro Nacional é prevista a cria­
ção da Superintendência de Previdência Privada.
A Superintendência de Previdência Privada seria uma autarquia
especial, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de
autonomia administrativa, econômica, financeira e técnica, com sede e
foro no Distrito Federal e jurisdição em todo território nacional.
Seriam assegurados à Superintendência de Previdência Privada
os privilégios e prerrogativas da Fazenda Nacional.
Os objetivos da Superintendência de Previdência Privada seriam,
de acordo com o projeto:
1 - zelar pela eqüidade dos contratos realizados no âmbito do
sistema de previdência privada;

82
II zelar pela liquidez e solvência das instituições do sistema de
p rev iclência privada;
III - estimular a formação de poupança de longo prazo no País;
IV - dotar o mercado de previdência privada de mecanismos
que assegurem a livre concorrência e o acesso do público às informa­
ções de seu interesse.
A competência da Superintendência de Previdência Privada en­
globaria:
I - regulamentar, com observância das normas definidas pelo
Conselho Financeiro Nacional, as matérias relativas à sua área de
atuação;
II - conceder autorização para o funcionamento, transferência
de controle societário, fusão, incorporação, cisão, e qualquer outra
forma de reorganização de instituições de previdência privada;
III - fiscalizar as atividades e operações das instituições de pre­
vidência privada;
IV - controlar a liquidez e solvência das instituições de previ­
dência privada;
V - autorizar a movimentação e liberação de bens e valores obriga­
toriamente inscritos em garantia das reservas técnicas e do fundo de
garantia, na forma regulamentada pelo Conselho Financeiro Nacional;
VI - aprovar os planos de previdência privada antes de sua colo­
cação no mercado;
VII - credenciar os auditores atuariais e fiscalizar suas atividades;
VIII - decretar os regimes especiais na forma do art. 147 e se­
guintes desta lei complementar;
IX - aplicar às instituições de previdência privada as penalida­
des previstas nesta lei complementar.
O referido projeto ainda tramita no Congresso.

83
8.2. A u t o n o m i a d a p re v id ê n c ia p riv a im
A Previdência Complementar Privada possui caráter comple­
mentar em relação ao Regime Geral de Previdência Social (INSS).
Segundo o art. 202 da Constituição, possui também organização
autônoma em relação à Previdência Social. Existe interligação entre
os pilares previdenciários, mas a autonomia da Previdência Privada
fica evidente tanto pela dicotomia repartição/capitalização, quanto
pela dicotomia de iniciativa estatal/particular.
O art. 68, parágrafo 2o, da Lei Complementar n° 109, de 29
dc maio de 2001, determinou que a concessão de benefício pela
Previdência Complementar não depende da concessão de benefí­
cio pelo Regime Geral da Previdência Social, ressaltando esta
autonomia da Previdência Privada. Tal previsão confirmou o art.
202 da Constituição.
As características da Previdência Privada, de per si, já exprime a
amixia com a Previdência Social. Os regimes destes “subsistemas” da
Seguridade Social são completamente diferentes - capitalização e re­
partição). A compulsoriedade constitucional das contribuições soci­
ais contrastam com as contribuições para a Previdência Privada. A
solidariedade intergerações, nítida na Previdência Social, desvanece-
se na Previdência Privada.
Firmado o contrato de adesão entre participantes e as entidades de
Previdência Privada, perfaz-se uma relação jurídica de Direito Privado.
Este ambiente contratual intrínseco à Previdência Privada é cor­
roborado pela jurisprudência, inclusive pela Súmula n° 92 do STJ,
que estabelece:
“O direito à complementação de aposentadoria, criado pela
empresa, com requisitos próprios, não se altera pela insti­
tuição de benefício previdenciário por órgão oficial”.
O Estado, permeando o caráter institucional da Previdência Pri­
vada, mantém uma postura reguladora e fiscalizadora. Não podemos

84
olvidar o alcance protetivo das normas públicas sobre esse tipo de
relação privada, cabendo ao magistrado observar quais são as priori­
dades, caso a caso. A autonomia da vontade não é absoluta, mas não
havendo previsão contrária de ius cogens, a vontade do participante é
plena. Há, portanto, uma ambivalência entre institucionalidade e
contratualidade.
A denominação de “participante” não adveio de doutrina autóc­
tone. Em verdade, não existia doutrina previdenciária brasileira sufi­
ciente para embasar a legislação previdenciária privada. Acabamos
por importar um modelo estrangeiro. A influência do sistema previ­
denciário privado norte-americano sobre o sistema de Previdência
Privada no Brasil é absoluta.
H á no Brasil uma sistemática nativa, mas vemos a sinonímia
norte-americana nos principais termos, como, v.g., fundo de pensão
(pension funct) patrocinador (sponsor), participante (participant), pla­
nos de benefício definido e de contribuição definida (defined contri-
bution, defined Benefit), elegibilidade (eligibility), multiplano
(:multiplan), multipatrocínio {multiemployerpension plan).
Até mesmo o benefício proporcional diferido, conhecido na dou­
trina e na prática brasileiras como vesting, é um termo que em inglês
significa proteção, cobertura (utilizado também nos Estados Unidos
para definir benefício proporcional diferido). A escolha de uma sigla
para definir o Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e o Vida
Gerador de Benefícios Livres (VGBL) nos mostra a tentativa de
imitar os americanos neste campo.
O Plano Gerador de Benefícios Livres - típico das Entidades
Abertas de Previdência Privada (será analisado oportunamente mais
adiante) foi inspirado nos chamados 401(k). O 401(k) advém da lo­
calização do instituto jurídico (seção, ou artigo 401, sub seção ou
alínea k). Os americanos utilizam muito este método de definir con­
textos jurídicos com localização legal. Como no Brasil não há esta
mania, inventamos siglas.

85
Internamente, termos utilizados na Previdência Pública não são
aplicados na Previdência Privada. Contingência da Previdência Pú­
blica figura como risco na Previdência Privada (que é o fato da vida
que enseja a concessão de algum benefício ou auxílio). A contribui­
ção previdenciária, que tem a natureza de tributo da Previdência So­
cial, na Previdência Complementar Privada assemelha-se ao prêmio
pago às seguradoras.
Apesar do liame, reiteramos que a Previdência Complementar
Privada não é sinônimo de seguro privado. O próprio termo indeni­
zação, elementar no ramo dos seguros privados, não é utilizado no
cenário de previdência, que envolve bem-estar e proteção social.
8 .3 . FACULTATIVIDADE DE INGRESSO NA PREVIDÊNCIA PRIVADA

O art. 202 da Constituição (repetido no art. I o da Lei Comple­


mentar n° 109) explicita a facultatividade de ingresso na Previdência
Privada. No Chile, na Argentina, na Austrália, por exemplo, este in­
gresso é obrigatório (ainda que na Argentina e na Austrália os siste­
mas sejam híbridos, porém, o ingresso voluntário no sistema pode se
tornar compulsório no Brasil por meio de emenda constitucional.
Mesmo diante da facultatividade constitucional, há vias indire­
tas de torná-la obrigatória sem uma emenda constitucional. Uma
convenção coletiva na esfera trabalhista, por exemplo, pode estipular
o ingresso dos sindicalizados num fundo de pensão instituído. O tra­
balhador sindicalizado estaria então obrigado a ingressar no fundo,
mesmo porque as decisões sindicais são teoricamente democráticas
dentro da categoria.
8 .4 . T r a n s p a r ê n c ia n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a

De acordo com o art. 202 da Constituição, a Lei Complementar


que viesse a tratar do regime de Previdência Privada deveria assegurar
ao participante de planos de benefícios de entidades de Previdência
Privada:
“o pleno acesso às inform ações relativas a gestão de seus
respectivos planos”.
Isto mostra a transparência exigida pelo legislador. Na leitura
da própria exposição de motivos da Lei Complementar n° 109 (fruto
do projeto de Lei Complementar n° 63/99, de iniciativa do Poder
Kxccutivo), vemos que primou o legislador por conferir três bases
principais à Previdência Complementar Privada: transparência, se­
gurança e flexibilidade. Estas três variantes são interdependentes e
reforçam a proteção do participante e do próprio sistema.
A transparência é o mais importante, pois o conhecimento da
sua situação pessoal dentro do fundo previdenciário privado (extra­
tos, rendimentos, taxas pagas, etc), e o próprio conhecimento da si­
tuação do fundo em si (se é superavitário ou deficitário), são essenciais
para a segurança (proteção do patrimônio previdenciário) e a flexibi­
lidade (portabilidade de reservas, e.g.). O participante (equivalente
ao segurado da Previdência Social) e o assistido (equivalente ao be­
neficiário da Previdência Social) podem constatar exatamente qual a
higidez financeira da entidade responsável pela administração de seu
plano.
A transparência já era prevista na Lei n° 6.435/77, em seu artigo
47, que obrigava as Entidades Fechadas de Previdência Privada torna­
rem público o balanço anual. Essa norma só veio a ser efetivada com a
publicação da Portaria n° 842 da Secretaria de Previdência Comple­
mentar (SPC) - atual Superintendência Nacional de Previdência Com­
plementar - PREVIC, que obrigou a publicação dos demonstrativos
contábeis das referidas entidades no Diário Oficial da União ou em
jornal de grande circulação nacional.
8 .5 . S e g u r a n ç a n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a

Sobre a segurança do participante, a Lei Complementar n° 109


impõe ao Estado a tarefa de determinar padrões mínimos de segu­
rança econômico-financeira e atuarial, com fins específicos de pre­

87
servar a liquidez, a solvência e o equilíbrio dos planos de benefícios e
de cada entidade de Previdência Privada, no conjunto de suas ativi­
dades, além de fiscalizar as entidades de Previdência Privada, suas
operações e aplicar penalidades.
Após a entrada em vigor da Lei Complementar n° 109, de 29
de maio de 2001, houve um fortalecimento da proteção do usuário,
consumidor final dos benefícios de Previdência Privada. Os meca­
nismos de controle do Estado, e seu papel regulador, sobre o siste­
ma de Previdência Privada já vinham sendo aprimorados de maneira
mais concreta desde as mudanças abarcadas pela Emenda Consti­
tucional n° 20/98. Como os planos previdenciários privados não
configuram investimentos para enriquecer a pessoa, e sim para
manutenção do padrão de vida, a segurança é um fator mínimo a
ser respeitado nesta seara.
A partir da Lei Complementar n° 109, podemos ver a ênfase do
legislador em robustecer a segurança jurídica e a estabilidade no sen­
tido do recebimento garantido dos benefícios pelos particulares inte­
ressados. Contudo, cabe nesse trabalho apontar alguns aspectos que
viriam a potencializar ainda mais os direitos dos participantes e be­
neficiários do regime privado previdenciário.
Comecemos demonstrando os pontos intrínsecos à Lei Com­
plementar n° 109 que primam por proporcionar segurança ao parti­
cipante:
“A rt. 32 A ação do Estado será exercida com o objetivo de:
III - determ inar padrões mínimos de segurança econômico-fi-
nanceira e atuarial, com fins específicos de preservar a liquidez, a
solvência e o equilíbrio dos planos de benefícios, isoladamente, e
de cada entidade de previdência complementar, no conjunto de
suas atividades;
V - fiscalizar as entidades de previdência complementar, suas ope­
rações e aplicar penalidades” (destaques nossos).

88
I )e início, podemos observar o alicerce legal, onde o legislador
pretendeu conferir segurança ao contexto da Previdência Privada. O
CMN foi incumbido de delimitar o campo de aplicações dos fundos,
podendo dessa forma evitar a possibilidade de aplicações temerárias.
Outros aspectos que resguardam o participante são os contidos
110 art 9o, parágrafo 2o, da Lei Complementar 109, que veda o esta­
belecimento de aplicações compulsórias ou limites mínimos de apli­
cação, propiciando liberdade financeira ao aderente e ao participante
do plano (fechado ou aberto).
Pela lei, a todo pretendente e a todo participante será entregue,
quando da inscrição no plano de benefícios, certificado onde estarão
indicados os requisitos que regulam a admissão e a manutenção da
qualidade de participante, bem como os requisitos de elegibilidade e
forma de cálculo dos benefícios, permitido, assim, uma análise do
pretendente sobre a contratação ou não do serviço, além de uma fis­
calização e defesa dos direitos dos participantes.
Deverá ser entregue, outrossim, tanto ao pretendente quanto
ao participante a cópia do regulamento atualizado do plano de be­
nefícios e material explicativo que descreva, em linguagem simples
e precisa, as características do plano; cópia do contrato, no caso de
plano coletivo (além de outros documentos que vierem a ser espe­
cificados pelo órgão regulador e fiscalizador). Na divulgação dos
planos de benefícios, não poderão ser incluídas informações dife­
rentes dessas que foram especificadas (art. 10).
8 . 6 . F l e x i b il i d a d e n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a

O art 7o, parágrafo único, da Lei Complementar n° 109, dele­


gou ao órgão regulador e fiscalizador a normatização dos planos de
benefícios, de forma a possibilitar a flexibilidade ao regime de Previ­
dência Complementar.
Os institutos do vesting e da portabilidade são a síntese da fle­
xibilidade do sistema. A portabilidade permite liberdade de dispo­

89
sição dos recursos, permitindo a livre circulação de recursos previ­
denciários (sem incidência de impostos) em prol do próprio parti­
cipante. O vesíing possibilita o recebimento proporcional de
benefício, mesmo sem o preenchimento total dos requisitos de ele­
gibilidade para o benefício. Ambos destes institutos são alternati­
vas interessantes ao autopatrocínio, o qual no mais das vezes é
proibitivo no médio e longo prazos.
8 .7 . P a r t ic ip a n t e e a s s is t id o d a p r e v id ê n c ia p r iv a d a

Participante é a pessoa física que adere a um plano previdenciá­


rio privado, por meio de contrato de adesão, devendo se submeter ao
regulamento específico do plano. É o equivalente ao segurado da
IYevidência Social.
Não se confunde participante com assistido.
O termo participante advém do cognato em inglês “participant”;
mais uma influência forte norte-americana.
Assistida é a pessoa física que está recebendo o benefício da Pre­
vidência Privada; é o participante ou seu beneficiário em gozo de
benefício de prestação continuada, (pode ser participante ou benefi­
ciário por ele escolhido).
Quando dissemos que o participante eqüivale ao segurado na
Previdência Social, nos arvoramos na presciência do art. 8o da Lei
Complementar n° 109, que considera participante toda a pessoa físi­
ca que aderir aos planos de benefícios; e assistido o participante ou
seu beneficiário em gozo de benefício de prestação continuada. O
beneficiário é escolhido pelo livre alvedrio do participante, dentro do
que estiver estipulado no regulamento do plano e no contrato de
adesão.
Pessoa jurídica não poderá ser participante pela previsão taxati­
va. As vantagens tributárias das aplicações previdenciárias poderiam
atrair a iniciativa de pessoas jurídicas.

90
Seria absurdo uma pessoa jurídica participante, mas vale a taxa-
tividade da lei para evitar discussões judiciais inúteis, mesmo porque
a discussão dos direitos da pessoa jurídica é profunda.

9. P r e v id ê n c ia P r iv a d a a b e r t a e fec h ad a
A divisão entre Previdência Privada aberta e fechada se mani­
festa pelo caráter de vinculação da pessoa ao sistema. A Previdência
Privada aberta, em princípio, é acessível a qualquer pessoa, diversa­
mente do que ocorre com a Previdência Privada fechada (devendo
haver vínculo jurídico prévio entre as pessoas físicas e jurídicas en­
volvidas no processo de capitalização para ingresso no sistema).
O vínculo jurídico na Previdência Privada fechada (fundos de
pensão) deve ser de caráter empregatício (entre participante e patro­
cinadora), profissional, classista ou setorial (no caso de instituido­
res). Contudo, nos planos abertos coletivos também há vínculo jurídico
de caráter profissional ou classista. Os planos mais notórios de Pre­
vidência Privada aberta, oferecidos pelas entidades abertas (normal­
mente bancos e seguradoras), são o PGBL e o VGBL.
O PGBL é um plano previdenciário aberto, onde há a possibi­
lidade de saque do montante segundo a vontade do titular, como
numa aplicação convencional (as aplicações são feitas em Fundos
de Investimento Exclusivo), sendo possível a dedução dos gastos
previdenciários no cálculo do imposto de renda até o limite de 12%
da renda bruta (com tributação sobre o montante total no resgate).
O VGBL é um plano híbrido, união de Previdência Privada e
seguro de vida, onde parte das contribuições feita pelo segurado vai
compor a reserva para cobrir o risco de morte, e outra parte, destina­
da à aposentadoria, será aplicada num fundo de investimento.
Contudo, diferentemente do PGBL, não é permitida a dedução
do imposto de renda, mas a tributação ocorre apenas sobre os ganhos
da aplicação.

91
Assim, se o segurado vier a sobreviver pelo tempo determinado
em contrato de adesão, receberá os rendimentos pré-definidos, que
variam de acordo com o plano oferecido. Caso venha a falecer, o be­
neficiário indicado receberá a indenização como em um seguro de
vida.
Ou seja, acessível a qualquer pessoa meismo, só planos indivi­
duais de Previdência Privada aberta, pois nos coletivos o envolvi­
mento de um grupo é restrito (aos empregados de uma empresa, v.g.),
e nos planos fechados há necessidade de vínculo empregatício, pro­
fissional, classista ou setorial.
As entidades de Previdência Privada fechada são conhecidas
como FUN DOS D E PENSÃO.
As entidades de Previdência Privada têm um histórico legal na
I e i n° 6.435/77, que em seu art. 4° classificava as entidades de previ­
dência privada de acordo com a relação entre a entidade e os partici­
pantes dos planos de benefícios:
“I - a) fechadas, quando acessíveis exclusivamente aos em­
pregados de uma só empresa ou de um grupo de empresas,
as quais, para os efeitos desta Lei, serão denominadas pa­
trocinadoras;
b) abertas, as demais”.
As entidades de Previdência Privada, pelo seguimento do texto
da lei anterior, eram aquelas que tinham por objeto instituir planos
privados de concessão de pecúlios ou de rendas, de benefícios com­
plementares ou assemelhados aos da Previdência Social, mediante
contribuição de seus participantes, dos respectivos empregadores ou
cie ambos (considerando participante o associado, segurado ou bene­
ficiário incluído nos planos privados).
Quanto aos objetivos, a classificação legal se fazia entre entida­
des de fins lucrativos e entidades sem fins lucrativos. Pela Lei n°
6.435/77 (art. 4°), as entidades fechadas não podiam ter fins lucrati­

92
vos. Eram equiparáveis aos empregados de empresas patrocinadoras
os seus gerentes, os diretores e conselheiros ocupantes de cargos ele­
tivos, bem como os empregados e respectivos dirigentes de funda­
ções ou outras entidades de natureza autônoma, organizadas pelas
patrocinadoras (Lei n° 6.435/77, art. 4°, parágrafo 2o).
As entidades de Previdência Privada (art. 5° da Lei n° 6.435/77)
eram organizadas como:
I - sociedades anônimas, quando tivessem fins lucrativos;
II - sociedades civis ou fundações, quando sem fms lucrativos.
Esta organização não foi mantida. A Lei n° 6.435/77 (art. 6°),
não considerava atividade de previdência privada a simples institui­
ção, no âmbito limitado de uma empresa, de uma fundação ou de
outras entidades de natureza autônoma, de pecúlio por morte, de
pequeno valor, desde que administrado exclusivamente sob a forma
de rateio entre os participantes.
Finalmente, a Lei n° 6.435/77 (art. 7°) dispunha que as entida­
des abertas integrar-se-iam ao Sistema Nacional de Seguros Priva­
dos, e deveriam ser reguladas pelas disposições da referida lei e, pela
legislação aplicável às entidades de seguro privado (art. 10).
Com o advento da Lei Complementar n° 109, de 29 de maio
de 2001, a qual alterou em muitos aspectos o contexto previdenci­
ário até então delimitado pela Lei n° 6.435/77, houve mudanças
significativas.
Manifestou-se uma maior ênfase na proteção dos participantes.
Como foi dito, a nítida vontade do legislador em fortalecer a trans­
parência (permitindo uma fiscalização das entidades e planos de Pre­
vidência Privada tanto por parte do governo quanto do participante),
a flexibilidade (maior liberdade de ingerência do participante sobre
os recursos previdenciários em seu nome), e a segurança (maior mo­
bilidade dos recursos diante da flexibilidade, maior fiscalização e dis­
positivos que garantam os benefícios).
O art. 4° da Iei Complementar n(>109 define a classificação das
entidades de Previdência Complementar Privada em fechadas e aber­
tas. Como houve revogação das Leis n° 6.435/77 e n° 6.462/77 (que
regiam o sistema) pelo art. 79 da Lei Complementar n° 109, há uma
nova organização a ser examinada.
Com referência à organização das entidades de Previdência Pri­
vada, o art. 36 da Lei Complementar n° 109 alterou a previsão da lei
anterior, estabelecendo que seriam sociedades anônimas, quando ti­
vessem fins lucrativos; e sociedades civis ou fundações, quando sem
fins lucrativos.
Agora, as entidades abertas são constituídas unicamente sob a
forma de sociedades anônimas. As entidades fechadas devem ser or­
ganizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil sem fins lucra­
tivos (§ 1- do art. 31).
A possibilidade de organização das entidades fechadas por meio
da figura de sociedade civil sem fins lucrativos não é mais juridicamente
viável, diante da sistemática do Novo Código Civil (Lei n° 10.406, de 10
de janeiro de 2002). Isto porque não há previsão de sociedade civil sem
finalidade lucrativa. Logo, todas as entidades fechadas devem ser orga­
nizadas sob a forma de fundação (por definição não pode ter fins lucra­
tivos - apenas altruístas e filantrópicos).
A correta classificação das entidades é importante, pois os objeti­
vos de cada segmento são característicos, e influenciam deveras no as­
pecto jurídico. Outrossim, é de suma importância conceituai o contexto
do chamado plano de benefício definido e de contribuição definida.
Muitos aspectos legais que definem desde elementos formais até
questões operacionais das entidades são comuns no ramo aberto e fe­
chado da Previdência Privada.
Claro que há especificidades, até pela característica própria das en­
tidades abertas e fechadas, mas o alicerce fundamental é o mesmo: cum­
primento dos contratos e garantia do pagamento dos benefícios.

94
Um exemplo de especificidade legal das entidades fechadas está
previsto no parágrafo único do art. 11, da Lei Complementar n° 109,
que faculta às entidades fechadas assegurarem seus compromissos por
meio de fundo de solvência, o que não existe no ramo aberto.
9 .1 . Resseguro
Ponto comum de reforço da garantia do pagamento dos benefí­
cios pelas entidades, o art 11 da Lei Complementar n° 109, dispõe
sobre a possibilidade (por iniciativa própria ou por determinação do ór­
gão regulador e fiscalizador) das entidades de Previdência Privada (abertas
e fechadas) em contratar operações de resseguro, para assegurar com­
promissos assumidos junto aos participantes e assistidos de planos de
benefícios (observados o regulamento do respectivo plano e demais
disposições legais e regulamentares).
Diz o art. 11 da Lei Complementar n° 109:
“Para assegurar compromissos assumidos junto aos participantes
e assistidos de planos de benefícios, as entidades de previdência
complementar poderão contratar operações de resseguro, por ini­
ciativa própria ou por determ inação do órgão regulador e
fiscalizador, observados o regulamento do respectivo plano e de­
mais disposições legais e regulamentares”.
O Resseguro, ou contra-seguro, é mais difundido em áreas de
transporte e no contexto bancário. No resseguro, a entidade que ofe­
rece serviços de seguro efetua, como forma de garantir os compro­
missos em caso de sinistro, um novo seguro, desta vez com as chamadas
resseguradoras. A lei acabou por introduzir essa categoria de securi-
tização ao contexto da Previdência complementar. Seria, grosso modo,
um seguro do seguro.
A Lei n° 9.932, de 20 de dezembro de 1999 transferiu as atri­
buições da IRB -Instituto de Resseguros do Brasil- para a Superin­
tendência de Seguros Privados - SUSEP, porém, até o julgamento
final da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN 2223), relati­

95
va à Lei n° 9.932/99, está suspensa temporariamente a transferência
de atribuições da IRB-Instituto de Resseguros do Brasil- (criado pelo
Decreto-lei n° 1.186, de 03.04.1929) para a SUSEP, por força da
liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal - STF.
A norma que rege o Sistema Nacional de Seguros Privados
(SNSP), e regula as operações de seguros e resseguros no Brasil é o
Decreto-Lei n° 73, de 21 de novembro de 1966. O art. 4o do Decre-
to-Lei n° 73 dispõe que se integra às operações de seguros privados o
sistema de resseguro, como forma de “pulverizar os riscos e fortale­
cer as relações econômicas do mercado” (destaques nossos). Foi jus­
tamente esse o intuito do legislador ao prever o instituto do resseguro
na Lei Complementar n° 109: mitigar os riscos e fortalecer as enti­
dades previdenciárias no sentido de garantir os benefícios.
Existem algumas categorias de resseguros que estão disponíveis
no mercado, e que ilustram possibilidades de escolha pelos adminis­
tradores das entidades:
RESSEGURO AUTOM ÁTICO - onde a responsabilidade do
ressegurador (seguradora que oferece o plano de resseguro) fica esta­
belecida a partir da contratação, até determinado limite de cobertura.
RESSEGURO AVULSO - consiste no resseguro feito nos ca­
sos de quantias tratadas de vulto mais elevado. O resseguro avulso
pode ser complementar ao resseguro automático, justamente em re­
lação àqueles riscos onde o montante a ser garantido é muito eleva­
do, e não estejam totalmente cobertos pelo resseguro automático
RESSEGURO CATÁSTROFE - essa categoria de resseguro
não tem grande ligação com o contexto previdenciário, pois tem des­
tinação de cobertura de ocorrências de grandes proporções danosas,
v.g. eventos de força maior (explosões, enchentes e incêndios).
RESSEGURO DIFERENCIADO - tipo de resseguro excep­
cional, onde as condições do plano são negociadas especificamente
em função do perfil de cada carteira de seguros.

96
RESSEGURO EM CONDIÇÕES ORIGINAIS - nesse tipo,
o ressegurador assume o risco nas mesmas condições da seguradora
cedente (entidade que contrata o plano de resseguro), sem que ocor­
ra a responsabilidade direta em relação aos segurados (a responsabi­
lidade existe somente com a seguradora cedente). Diferentemente
do resseguro catástrofe, o resseguro em condições originais é um res­
seguro proporcional, no qual o ressegurador se obriga a constituir as
mesmas provisões da cedente, até mesmo nas mesmas bases mate­
máticas, se for preciso.
RESSEGURO EXCESSO DE SINISTRALIDADE - nesse res­
seguro, o segurador cedente suporta um coeficiente sinistro/prêmio, e o
ressegurador responde pelos valores superiores a este coeficiente.
RESSEGURO PROPORCIONAL - onde a responsabilidade
do ressegurador é previamente definida em relação ao risco integral.
RESSEGURO N Ã O -PRO PO R CIO N A L - onde a respon­
sabilidade do ressegurador não está previamente definida, e o res­
segurador responde pela totalidade da parte que exceder o limite de
sinistro da seguradora cedente.
Ao nosso ver, o tipo de resseguro mais apropriado para uma
entidade previdenciária seria o avulso não-proporcional, que ga­
rante o compromisso de somas vultosas específicas, além de cobrir
integralmente as responsabilidades dessa entidade.
O critério legal da utilização do resseguro, como forma de pro­
mover o adimplemento dos compromissos, em princípio, não é obri­
gatório. Pelo texto do art. 11, “as entidades de previdência
complementar poderão contratar operações de resseguro, por ini­
ciativa própria ou por determinação do órgão regulador e fiscali­
zador” (destaques nossos), vemos que há uma facultatividade das
entidades na contratação do resseguro. Essa facultatividade só viria
a ser compulsória mediante a determinação do órgão regulador e
fiscalizador.

97
O resseguro pode até significar uma despesa a mais para a en­
tidade, mas esse gasto se coaduna com a idéia de segurança c prote­
ção pela qual quis primar o legislador.
9 . 2 . PL A N O DE BENEFÍCIO DEFINIDO

No plano de benefício definido já se sabem de antemão os va­


lores dos futuros benefícios de aposentadoria. São estabelecidos os
valores de contribuição de participantes e de patrocinadoras que
serão capitalizados, em taxas pré-definidas. \
A tendência das entidades de Previdência Privada é a de se
evitar a adoção do modelo de plano de benefício definido, por cau­
sa da responsabilidade contratual de benefício futuro. Quando já há este
tipo de plano, muitas vezes vemos ocorrer a chamada “migração” para
modelos de contribuição definida.
Esta migração não ocorre só no Brasil. Nos Estados Unidos,
onde a tradição dos Private Pension Funds e dos 401 (k) é notória, os
chamados Defined Contribulion Pension Plans são mais numerosos
que os Defined Benefit Plans.
Exemplo que damos é o de um participante que tinha remuneração
de R$ 5.000, e se aposenta pelo INSS ganhando RS 1.500. O plano de
benefício definido prevê que a entidade deve lhe pagar a título de bene­
fício R$ 3.500 (diferença entre remuneração da ativa e aposentadoria).
9 .3 . PLANO DE CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA

No plano de contribuição definida o participante não sabe qual será


o valor de seu benefício previamente, mediante uma projeção teórica de
um benefício futuro, em que se define uma contribuição que provavel­
mente atenda às reservas para este benefício, se todas as condições con­
tratuais forem cumpridas.
Há riscos inerentes ao plano de benefício definido (quanto ao pa­
gamento de benefícios). Tais riscos são menos marcantes em relação ao

98
plano de Contribuição Definida, porque neste último não existe uma
renda programada a ser atendida, mas sim uma expectativa de renda.
A própria revista The Economist, em informação fornecida numa
reportagem sobre aposentadorias37, atesta haver alterado o plano de Pre­
vidência Privada (era de benefício definido) de seus funcionários, sob os
fundamentos do alto risco do benefício definido e das vantagens da
contribuição definida.
9 .4 . PLAN O DE CONTRIBUIÇÃO VARIÁVEL

Contribuição variável é expressão prevista no parágrafo único do


art 7o da Lei Complementar n° 109.
A contribuição variável nada mais é do que contribuição definida,
pois nela a contribuição também pode variar. O participante tem seu
benefício dependente de suas contribuições; faculta-se ao participante
decidir o valor da contribuição e o momento de efetuá-la. O que se
define prima facie são as regras de cálculo do valor do benefício do
plano de contribuição variável, que são definidas na data da contrata­
ção do plano.
Destarte, o valor do benefício é calculado por ocasião da ocorrên­
cia do evento gerador, sendo os mesmos obtidos pelo fundo acumula­
do com base nas contribuições puras, capitalizadas de acordo com as
taxas definidas no contrato, durante o prazo nele estabelecido.
9 .5 . E n t id a d e s abertas

Entidade aberta de Previdência Privada é pessoa jurídica de direi­


to privado que comercializa planos de previdência acessíveis, em prin­
cípio, a qualquer pessoa. Porém, pode haver certas limitações, pois os
planos coletivos são acessíveis a pessoas físicas vinculadas, direta ou
indiretamente, a uma pessoa jurídica contratante. Nos planos abertos

37 The Economist, 10 de maio de 2003, p. 9.

99
individuais (oferecidos pelas entidades abertas), o participante não pre­
cisará possuir vínculo algum.
Segundo o art. 36 da Lei Complementar 109, entidades abertas
são obrigatoriamente sociedades anônimas. Bancos, instituições finan­
ceiras e seguradoras (que operam exclusivamente no ramo vida) são
exemplos de pessoas jurídicas que podem oferecer tais planos, mas nada
impede a criação de sociedade anônima com objeto social exclusivo de
oferecimento de planos abertos.
Como os planos de Previdência Privada aberta são ligados a so­
ciedade anônima, tornam-se relativamente mais flexíveis e dinâmi­
cos do que os planos de Previdência Privada feóhada (ligados à uma
fundação), apesar do caráter contratual de ambos.
Os planos de benefícios instituídos por entidades abertas se di­
videm em (art. 2 6 ,1 e II, da Lei Complementar n° 109):
- individuais - quando acessíveis a quaisquer pessoas físicas;
- coletivos, quando tenham por objetivo garantir benefícios pre­
videnciários a pessoas físicas vinculadas, direta ou indiretamente, a
uma pessoa jurídica contratante.
Nos planos abertos coletivos (que podem ser contratados por
uma ou várias pessoas jurídicas), o vínculo indireto se refere aos casos
em que uma entidade representativa de pessoas jurídicas contrate
plano previdenciário coletivo para grupos de pessoas físicas vincula­
das a suas filiadas. Grupo econômico pode contratar um plano para
seus empregados, que aderem se quiser. Tal plano pode até ser inseri­
do no contrato de trabalho.
Esses grupos de pessoas podem ser formados por uma ou mais
categorias específicas de empregados de um mesmo empregador, po­
dendo abranger empresas coligadas, controladas ou subsidiárias, e por
membros de associações legalmente constituídas, de caráter profissio­
nal ou classista, e seus cônjuges ou companheiros e dependentes eco­
nômicos (art. 26, parágrafos Io, 2o e 3o, da Lei Complementar n° 109).

100
() alcance grupai amplo é incentivo à criação desses planos cole-
iivos, que possibilitam a obtenção de taxa de administração e corre­
tagem reduzidas, assim como rendimentos financeiros superiores
junto às entidades, devido às facilidades e do poder econômico da
aglutinação de pessoas.
A Lei Complementar n° 109 equipara à condição de emprega­
d o s e associados os diretores conselheiros ocupantes de cargos eleti­
vos e outros dirigentes ou gerentes da pessoa jurídica contratante. A
implantação de um plano coletivo será celebrada mediante contrato
(cuja forma, critérios, condições e requisitos mínimos ainda necessi­
tam de regulamentação, reforçando o intuito do legislador de criar
normas gerais no corpo da Lei Complementar).
E vedada à entidade aberta a contratação de plano coletivo com
pessoa jurídica cujo objetivo principal seja estipular, em nome de ter­
ceiros, planos de benefícios coletivos (art. 26, parágrafos 4o, 5o e 6o).
Quejanda triangulação contratual viria a desvirtuar o principal de­
sígnio da Previdência Privada, que é a garantia dos benefícios con­
tratados.
Nos planos coletivos, diferentemente dos planos individuais, a
empresa empregadora contrata o plano, podendo custeá-lo integral­
mente, parcialmente ou, até, não contribuir. Havendo a participação
da empresa no custeio, o acúmulo de capital é maior, refletindo nos
rendimentos dos participantes. A iniciativa do empregador em criar
um plano para seus empregados (liberalidade) gera frutos na produ­
tividade dos empregados, que têm um incentivo a mais para traba­
lhar, sabendo da existência de plano previdenciário em seu nome por
causa da empregadora.
Mesmo com a perda do vínculo entre a pessoa jurídica contra­
tante e o participante que tenham contratado plano coletivo. Isto se
dará pelo autopatrocínio, onde deverá ser oferecido a este trabalha­
dor participante que rescindiu o contrato de trabalho o direito de
permanecer no quadro de participantes do plano coletivo da entida­
de aberta. Este participante tem o direito de permanência no mesmo
plano ou a possibilidade de ingresso em plano individual equivalente
(portabilidade ou migração).
Ressaltamos que até a criação do “órgão regulador e fiscaliza­
dor”, citado amiúde pela Lei Complementar n° 109, as funções re-
gulatória e fiscalizatória do Estado na Previdência Privada aberta
serão exercidas pelo Ministério da Fazenda, por intermédio do Con­
selho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência
de Seguros Privados (SUSEP), em relação, respectivamente, à regu­
lação e fiscalização das entidades abertas. |
Em algumas situações as entidades abertas podem sofrer in­
tervenção ou liquidação extrajudicial. Para propor decretação da
intervenção ou da liquidação extrajudicial, o art. 43 da Lei Com­
plementar n° 109 permite à Superintendência de Seguros Privados
(SUSEP), nomeação, por prazo determinado e prorrogável, e às ex-
pensas da respectiva entidade aberta, de um diretor-fiscal, sem po­
deres de gestão.
Sempre visando resguardar os direitos dos participantes e assisti­
dos, a intervenção ou a liquidação extrajudicial ocorrem com a consta­
tação de eventos intrínsecos ou extrínsecos da entidade, como
irregularidade ou insuficiência na constituição das reservas técnicas,
provisões e fundos, ou na aplicação destes recursos de forma inadequa­
da; descumprimento de disposições estatutárias ou de obrigações pre­
vistas nos regulamentos dos planos de benefícios, contratos de adesão
ou contratos dos planos coletivos; situação econômico-financeira in­
suficiente à preservação da liquidez e solvência de cada um dos planos
de benefícios e da entidade no conjunto de suas atividades e situação
atuarial desequilibrada.
A liquidação extrajudicial das entidades abertas pode ser decre­
tada pela SUSEP quando este órgão reconhecer a inviabilidade de

102
lecuperação da entidade ou pela ausência de condição para seu fun-
! lonamento (art. 48 da Lei Complementar n° 109).
9.5.1 . S u p e r in t e n d ê n c ia d e s e g u r o s p r iv a d o s (SUSEP)
A SUSEP é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da
f azenda que controla e fiscaliza os mercados de seguro, Previdên­
cia Privada aberta, capitalização e resseguro. Foi criada pelo Decre-
to-lei n° 73, de 21 de novembro de 1966, que também instituiu o
Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual fazem parte o Con­
selho Nacional de Seguros Privados - CNSP, o IRB Brasil Resse­
guros S.A., as sociedades autorizadas a operar em seguros privados
e capitalização, as entidades de Previdência Privada aberta e os cor­
retores habilitados.
Cabe à SUSEP, entre outras funções:
I - fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e ope­
ração das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades de
Previdência Privada Aberta e Resseguradores, na qualidade de exe­
cutora da política traçada pelo CNSP;
II - atuar no sentido de proteger a captação de poupança popu­
lar que se efetua através das operações de seguro, previdência privada
aberta, de capitalização e resseguro;
III - zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mer­
cados supervisionados;
IV - promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instru­
mentos operacionais a eles vinculados, com vistas à maior eficiência
do Sistema Nacional de Seguros Privados e do Sistema Nacional de
Capitalização;
V - promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição, assegu­
rando sua expansão e o funcionamento das entidades que neles operem;
VI - zelar pela liquidez e solvência das entidades que integram o
mercado;
VII - disciplinar e acompanhar os investimentos destas entidades,
em especial os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas;
VIII - cumprir e fazer cumprir as deliberações do CN SP e exer­
cer as atividades que por este forem delegadas;
IX - prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP.
9 .6 . P l a n o s d a p r e v id ê n c ia p r iv a d a a b e r t a

Pelo fato de a Previdência Privada abertá possuir nítida caracte­


rística de objetivação de lucros, este campo ppssui uma gama cres­
cente de planos, que na prática se chamam “pfodutos”.
Os fundos de pensão não têm esta característica, e não pre­
cisam atrair clientes. As entidades fechadas não têm gastos típi­
cos da Previdência Privada aberta, como propagandas para atrair
participantes.
Existe uma dinâmica de criação de planos abertos muito mais
pujante do que no caso dos fundos de pensão, haja vista que as enti­
dades abertas (sociedades anônimas) visam o lucro, diferentemente
dos fundos de pensão (fundações sem fins lucrativos).
Impera na Previdência Privada uma economia de mercado, onde
a oferta de produtos depende da demanda. A particularidade de se­
guro social destes planos abertos permanece, envoltos no sistema de
Seguridade Social tanto quanto os planos fechados. Só não se obser­
va uma verve criativa de planos fechados como há no ramo aberto.
9.6.1. PGBL
O P L A N O G E R A D O R D E B E N E F ÍC IO S LIVRES
(PGBL) é provavelmente o plano de Previdência Privada mais fa­
moso no Brasil, seguido do VGBL. Pelo apelo comercial e diante da
propaganda maciça, vemos na televisão comerciais de casais de pes­
soas idosas caminhando felizes pela praia, ou pais empurrando cri­
anças no balanço ao sol de uma tarde de outono, os planos abertos
começam a fazer parte do cotidiano do brasileiro.

104
Isto é excelente, pois é o início da propagação da cultura previ-
ileneiaria no Brasil.
() Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP - regula­
m entou em 1998 o PLANO GERADOR D E BENEFÍCIOS LI­
VRES (PGBL), espelhado nos 401(k) norte-americanos. Por sua
vez, o Conselho Monetário Nacional (CM N) aprovou, entre ou-
11 as regras, a definição individual para o valor mínimo de contri­
buição (dos depósitos de quantias mensais variáveis), conforme os
ganhos da pessoa.
O Conselho Monetário Nacional (CM N) é o órgão delibera­
tivo máximo do Sistema Financeiro Nacional. Ao CM N compete:
estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial e
creditícia; regular as condições de constituição, funcionamento e
fiscalização das instituições financeiras e disciplinar os instrumen­
tos de política monetária e cambial.
O CM N é constituído pelo Ministro de Estado da Fazenda
(Presidente), pelo Ministro de Estado do Planejamento e Orça­
mento e pelo Presidente do Banco Central do Brasil (Bacen). Os
serviços de secretaria do CM N são exercidos pelo Bacen. Junto ao
CM N funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (Co-
moc), composta pelo Presidente do Bacen, na qualidade de Coor­
denador, pelo Presidente da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), pelo Secretário Executivo do Ministério do Planejamento
e Orçamento, pelo Secretário Executivo do Ministério da Fazenda,
pelo Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda,
pelo Secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e
por quatro diretores do Bacen, indicados por seu Presidente.
O Plano Gerador de Benefícios Livres foi inspirado nos cha­
mados 401 (k) norte-americanos. A própria utilização de sigla é uma
tentativa de copiar o mnemônico 401 (k).
O pagamento dos benefícios no PGBL é feito de quatro formas:
Renda Vitalícia', o benefício vai sendo auferido a partir de uma
determinada idade pré-estipulada no contrato de adesão, enquanto o
beneficiário sobreviver. A cobertura é de sobrevivência (contingência
venturosa). Após o falecimento do beneficiário contratante, o plano
se encerrará sem a possibilidade de reversão a nenhum outro benefi­
ciário (dependente, por exemplo).
Renda Temporária', o benefício vai sendo auferido a partir de
uma determinada idade pré-estipulada no co\ntrato de adesão, du­
rante um período de tempo previamente estàbelecido. O partici­
pante estipula que seus benefícios serão pagob dos 60 aos 80 anos
de idade, por exemplo. Esta prefixação do período acarreta au­
mento do valor dos benefícios, mas se o participante viver além
dos 80 anos não receberá mais nada (mesmo porque o cálculo
envolve o fim das reservas técnicas dele). Após o falecimento do
beneficiário, ou findo o período estabelecido de gozo do benefí­
cio, o plano se encerrará sem a possibilidade de reversão a ne­
nhum outro beneficiário.
Renda Vitalícia Reversível a um Beneficiário: o benefício vai sen­
do auferido a partir de uma determinada idade pré-estipulada no
contrato de adesão. Porém, a partir do falecimento do contratante, o
seu beneficiário indicado continuará recebendo os benefícios enquanto
sobreviver, sem a necessidade de inventário.
Renda Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido: o benefício é au­
ferido enquanto o participante sobreviver, havendo a definição de
um período de reversão a beneficiários indicados. Os beneficiários
receberão os benefícios se o falecimento do titular ocorrer neste perí­
odo de reversão. Mas se encerra o pagamento do benefício após o
término deste período previamente estipulado.
O PGBL permite ao participante a dedução de 12% dos gastos
previdenciários (contribuições) sobre a renda bruta no cálculo do
imposto de renda.

106
A gama nova de planos previdenciários privados abertos é vi-
i <■jante. Além dos planos abertos tradicionais e do próprio PGBL
(arquétipo da previdência aberta), atualmente temos o chamado
V( i HL. O VGBL (vida gerador de benefícios livres) foi um plano
desenhado para o contexto atual brasileiro do mercado da informali­
dade no qual infelizmente vivemos.
Tanto o PGBL quanto o VGBL podem existir na versão coleti­
va, já aprovada pela SUSEP. Logo, as empresas podem adquirir pla­
nos previdenciários privados para os seus funcionários, e, inclusive,
contribuir para esses planos. O sistema é tão flexível que o emprega­
dor pode proporcionar para os empregados até mesmo os dois pla­
nos, o VGBL e o PGBL, simultaneamente.
Os trabalhadores não contribuintes do INSS totalizam aproxi­
madamente 56% da população ocupada, segundo dados da Pesquisa
por Amostra de Domicílios/1999 do Instituto Brasileiro de Geogra­
fia e Estatística (PNAD/IBGE). Deveria haver um incentivo gover­
namental para a formalização e ingresso destes trabalhadores no
sistema da Previdência Social. Este fenômeno já ocasiona sintomas
na Previdência Privada, com a criação recente e crescimento vultoso
do VGBL.
Segundo as regras do CM N (Conselho Monetário Nacional), a
entidade responsável pelo Plano Gerador de Benefícios Livres terá
de manter seus recursos aplicados em fundos de investimentos ex­
clusivos (FIEs, e não FIFs - fundos de investimentos financeiros, de
acordo com três modalidades que determinam o perfil de segurança
desses planos:
- soberano
- de renda fixa
- composto
9.6.2. PGBL COMPOSTO
Plano onde é permitido aplicar até 49% dos recursos em inves­
timentos de renda variável (bolsa de valores, mercado de dólares e de
taxas de juros) e por isso, implicam grau de risco mais elevado.
9.6.3. PGBL DE R EN D A FIXA

No qual, além dos títulos do governo, poderão estar agregados


investimentos em renda fixa (FIFs, por exemplo).
9.6.4. PGBL SO BERA N O

Plano cujas aplicações devem ser feitas /exclusivamente em títu­


los do governo federal ou do Banco Central.
9.6.5. VGBL
Assim como o PGLB - Plano Gerador de Benefícios Livres -
regulamentado em 1998, foi planejado de acordo com as novas con­
dições do mercado de trabalho, também a criação do VGBL que está
baseada na pragmática do trabalhador brasileiro.
Sendo um plano híbrido, uma vez que abarca um misto de pre­
vidência privada e seguro de vida, nos planos VGBL (Vida Gerador
de Benefícios Livres), parte dos recursos aplicados pelo segurado vai
compor a reserva para cobrir o risco de morte, e a outra parte será
destinada à aposentadoria, vai para um fundo de investimento (com
as aplicações delimitadas pela SUSEP).
Assim, se o segurado vier a sobreviver pelo tempo determina­
do em contrato de adesão, receberá os rendimentos pré-definidos,
que variam de acordo com o plano oferecido. Caso venha a falecer,
o beneficiário indicado receberá a indenização como em um seguro
de vida.
Contudo, diferentemente do PGBL, não é permitida a dedução
do imposto de renda, mas a tributação ocorre apenas sobre os ganhos
cia aplicação.

108
Tanto o PGBL quanto o VGBL podem existir na versão coleti­
va, já aprovada pela SUSEP. Logo, as empresas podem adquirir pla­
nos previdenciários privados para os seus funcionários, e, inclusive,
i (>nt ribuir para esses planos. O sistema é tão flexível que o emprega­
dor pode proporcionar para os empregados até mesmo os dois pla­
nos, o VGBL e o PGBL, simultaneamente.
O VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres) é um plano de­
senhado principalmente para o contexto atual brasileiro do mercado
da informalidade (trabalhadores que querem ser participantes, mas
não declaram renda), mas visa atrair também aqueles que tenham
ultrapassado a possibilidade de isenção no imposto de renda.
Como o PGLB, o VGBL foi planejado de acordo com as novas condi­
ções do mercado de trabalho, na pragmática do trabalhador brasileiro, que
não declara imposto de renda por trabalhar na informalidade e não tem
interesse em isenções, mas quer ser participante de Previdência Privada.
No PGBL e VGBL, a instituição administradora constitui um
Fundo de Investimento Exclusivo (FIFE), não constituindo fundo
de investimento comum. Neste caso, o cotista é a própria instituição
administradora.
O participante se torna assistido ao receber benefícios. Falecendo
o participante, o beneficiário por ele indicado em contrato receberá a
indenização, exatamente como ocorre em um seguro de vida (não há
necessidade de partilha no espólio, podendo ser recebido o benefício
ou o resgate por força de alvará judicial, caso não seja adimplido corre­
tamente o plano).
Diferentemente do PGBL, no VGBL não é possível a dedução
dos 12% dos gastos previdenciários do montante pago sobre a renda
bruta no cálculo do imposto de renda.
O VGBL é interessante para as pessoas que fazem a declaração
do imposto de renda no modelo simplificado, ou mesmo para as pes­
soas que investem em valores acima de 12% da renda bruta.

109
Por meio de resoluções da SUSEP (Superintendência de Se­
guros Privados), foram criadas novas modalidades de PGBL e
VGBL. A resolução n° 125/2005 da SUSEP (por meio do C O N ­
SELHO NACIONAL D E SEGUROS PRIVADOS - CNSP) re­
gulamenta a cobertura por sobrevivência, oferecida nos contratos
de Previdência Privada Aberta; a resolução 92/2002 regulamenta
as coberturas de risco (morte e invalidez) oferecida nos contratos
de Previdência Privada Aberta; e a resolução 124/2005 regulamen­
ta a cobertura por sobrevivência nos contratos de seguro de vida
(aplicável nos casos do VGBL).
O VGBL está normatizado pela Resolução do CO N SELH O
NACIONAL D E SEGUROS PRIVADOS - CNSP n° 124/2005,
e pela Circular SUSEP n° 293/2005.
9.6.6. D e r iv a ç õ e s d o PGBL e do VGBL
Por meio de resoluções da SUSEP (Superintendência de Se­
guros Privados), foram criadas novas modalidades de PGBL e
VGBL. A resolução 92/2002 da SUSEP regulamenta a cobertura
por sobrevivência oferecida nos contratos de Previdência Privada
Aberta; a resolução 125/2005 regulamenta as coberturas de risco
(morte e invalidez) oferecida nos contratos de Previdência Privada
Aberta; e a resolução 124/2005 regulamenta a cobertura por sobre­
vivência nos contratos de seguro de vida (aplicável nos casos do
VGBL).
9 .6 .7 . P A G P - P l a n o c o m a t u a l iz a ç ã o g a r a n t id a e

PERFORMANCE

Plano similar ao PGBL, em que contratualmente há a previ­


são da manutenção dos valores com independência das defasagens
monetárias sobre os rendimentos do fundo, permitindo a dedução
dos gastos previdenciários no cálculo do imposto de renda até o
limite de 12% da renda bruta (com tributação sobre o montante
total no resgate).

110
9.6.8. P R G P - P lan o c o m r e m u n e r a ç ã o g a r a n t id a e

PERFORMANCE

Plano similar ao PGBL, onde contratualmente há a previsão de


uma remuneração mínima sobre os rendimentos do fundo, permi­
tindo a dedução dos gastos previdenciários no cálculo do imposto de
renda até o limite de 12% da renda bruta (com tributação sobre o
montante total no resgate).
Tanto PRGP quanto PAGP têm como objetivo a concessão de
benefício de previdência a pessoas físicas, sob a forma de modalidade
de renda: renda mensal vitalícia, renda mensal temporária, renda
mensal vitalícia com prazo mínimo garantido, renda mensal vitalícia
reversível ao beneficiário indicado ou renda mensal vitalícia reversí­
vel ao cônjuge com continuidade aos menores.
9.6.9. VAGP -V id a c o m a t u a l iz a ç ã o g a r a n t id a e

PERFORMANCE

Plano análogo ao VGBL, em que contratualmente há a previsão


da manutenção dos valores com independência das defasagens mo­
netárias sobre os rendimentos do fundo, porém não é permitida a
dedução do imposto de renda. A tributação ocorre apenas sobre os
ganhos da aplicação.
9.6.1 0. VRGP - VlDA COM REMUNERAÇÃO GARANTIDA E
PERFORMANCE

Plano análogo ao VGBL, onde contratualmente há a previsão


de uma remuneração mínima sobre os rendimentos do fundo, porém
não é permitida a dedução do imposto de renda. A tributação ocorre
apenas sobre os ganhos da aplicação.
O VAGP (vida com atualização garantida e performance) e o
VRGP (vida com remuneração garantida e performance) possuem
tratamento análogo ao VGBL, onde não é permitida a dedução do
imposto de renda, mas, como no VGBL, a tributação ocorre apenas
sobre os ganhos da aplicação.
Tanto VRGP quanto VAGP também têm como objetivo a con­
cessão de benefício de previdência a pessoas físicas, sob a forma de
modalidade de renda: renda mensal vitalícia, renda mensal temporá­
ria, renda mensal vitalícia com prazo mínimo garantido, renda men­
sal vitalícia reversível ao beneficiário indicado ou renda mensal vitalícia
reversível ao cônjuge com continuidade aos menores.
9.6.11. T r ib u t a ç ã o do VGBL e d e r iv a d o s

A Medida Provisória n° 2.158/2001, ainda em tramitação no


Congresso, em seu art. 63, trata da tributação do VGBL.
Giza o referido art. 63, caput, que na determinação da base de
cálculo do imposto de renda incidente sobre valores recebidos em
decorrência de cobertura por sobrevivência em apólices de seguros
de vida, poderão ser deduzidos os valores dos respectivos prêmios
pagos, observada a legislação aplicável à matéria, em especial quanto
à sujeição do referido rendimento às alíquotas previstas na tabela
progressiva mensal e à declaração de ajuste anual da pessoa física
beneficiária, bem assim a indedutibilidade do prêmio pago.
Ou seja, o imposto de renda recai somente sobre os rendimen­
tos, e não sobre o principal (fruto dos prêmios). A base de cálculo do
imposto será a diferença positiva entre o valor resgatado e o somató­
rio dos respectivos prêmios (contribuições) pagos.
No caso de recebimento parcelado, sob a forma de renda ou de
resgate parcial, a dedução do prêmio será proporcional ao valor recebido.
9.6.12. FAPI
A Lei n° 9.477/97 criou o Fundo de Aposentadoria Programa­
da Individual e o Plano de Incentivo à Aposentadoria Programada
lndividual.
O FAPI - Fundo de Aposentadoria Programada Individual con­
siste num plano aberto de modelo mais antiquado, somente ofereci­
do pelos bancos.

112
Os recursos do FAPI - Fundo de Aposentadoria Programada
Individual - podem ser derivados das contribuições do trabalhador/
participante, ou do empregador (destinado a seus empregados).
H á incentivo legal para o empregador que instituir Plano de
Incentivo à Aposentadoria Programada Individual, que pode dedu­
zir como despesas operacionais o valor das quotas do Fundo de Apo­
sentadoria Programada Individual - FAPI - adquiridas (desde que o
Plano atinja, no mínimo, cinqüenta por cento dos seus empregados).
Outra vantagem para o empregador adquirir quotas em nome
de seus empregados ou administradores, dentro do Plano de Incen­
tivo à Aposentadoria Programada Individual, está no art. 8o da Lei
n° 9.477/97, ditando que os recursos utilizados pelo empregador para
aquisição destes planos não são considerados integrantes da remu­
neração dos beneficiários para efeitos da legislação do trabalho e da
Previdência Social (INSS), e não integram a base de cálculo para as
contribuições para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS), de Assistência Social e Sindical.
De acordo com a Lei n° 9.477/97, os Fundos podem ser instituí­
dos e administrados por instituições financeiras ou por sociedade se­
guradoras autorizadas a funcionar pela SUSEP (art. 3o).
A Lei n° 9.477/97, em seu art. 6o, protege os ativos dos Fundos
de Aposentadoria Programada Individual - FAPI - que são impe-
nhoráveis; sobre eles não podendo incidir depósitos compulsórios.
A competência para autorizar a criação, elaboração e sua admi­
nistração dos Fundos de Aposentadoria Programada Individual, as­
sim como exercer a fiscalização dos administradores do Fundos e
aplicar as penalidades previstas, é do Banco Central e da SUSEP.
Compete, porém, ao Conselho Monetário Nacional aprovar o regu­
lamento que disciplina a constituição dos Fundos de Aposentadoria
Programada Individual - FAPI.
Pode haver resgate parcial ou total do FAPI:

113
- eom a isenção de IO F após o prazo de tlez anos, contados a
partir da contribuição inicial para a formação tio patrimônio e nos
casos de invalidez permanente, de aposentadoria, ou de morte do
participante, hipótese esta em que o resgate se dará na forma da le­
gislação civil;
- com incidência do IOF, na razão de 25% sobre o valor resgatado
antes do prazo de dez anos, contado a partir da contribuição inicial.
Caso o empregado perca o vínculo de emprego com empresas,
este continua com direito às cotas do Fundo, adquiridas em seu nome,
com recursos do empregador, podendo movimentá-las somente após
o prazo de capitalização, observados os casos especiais previstos no
inciso I, do art. 9o, da Lei n° 9.477/97.
Diferentemente ao PGBL e VGBL, os recursos do FAPI, deri­
vados da contribuição do trabalhador/participante, ou do emprega­
dor, destinado a seus empregados e administradores, são inseridos
em cotas de um fundo de investimento financeiro comum (FIF), dan­
do ao FAPI um caráter maior de aplicação pessoal do que Fundo
previdenciário.
No PGBL e VGBL, a instituição administradora constitui um
Fundo de Investimento Exclusivo (FIFE), sendo cotista a própria
instituição administradora.
Diversamente dos outros planos abertos, o FAPI não oferece
uma garantia mínima de rendimento. Em contrapartida, todo gan­
ho que a administradora conseguir no mercado com o capital for­
mado pelas contribuições é integralmente repassado ao participante
do fundo.
O FAPI é somente oferecido pelos bancos, sendo que o PGBL
e o VGBL podem ser ofertados também por seguradoras e empresas
de Previdência Privada. Diante disso, o FAPI é fiscalizado pelo Ban­
co Central e pela SUSEP, e o PGBL e o VGBL são fiscalizados pela
SUSEP.

114
A SUSEP (Superintendência dc Seguros Privados; órgão do M i­
nistério da Fazenda responsável pelo controle e fiscalização do mer­
cado de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro)
fiscaliza as seguradoras que comercializam os planos de previdência,
de maneira que essas empresas têm de informar mensalmente à SU-
SEP onde está aplicado o patrimônio do fundo.
Banco Central e CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
são responsáveis pela regulamentação das aplicações dos recursos
dos fundos, efetuadas pelas instituições financeiras escolhidas pelas
seguradoras.
No FAPI pode haver a dedução do IR de até 12% da renda
tributável, existindo recolhimento de imposto de renda no instante
do resgate dos recursos.
No PGBL, a instituição (como cotista única) fica isenta de IR
nos ganhos de capital dos investimentos do fundo, pois o tributo já é
pago durante as operações. Os novos planos criados a partir de 2005
serão regrados sob as alíquotas da Lei n° 11.053, de 29.12.2004 (de
10% a 35%, dependo do tempo de capitalização - de dois a dez anos).
Tanto no FAPI quanto no PGBL e VGBL os excedentes finan­
ceiros são totalmente revertidos aos participantes.
Excedente financeiro é a remuneração obtida pelo gestor do plano
ao efetuar as aplicações do aporte de contribuições no mercado. Essa
remuneração é repassada proporcionalmente aos beneficiários. Con­
tudo, um desligamento do plano antes do início da aposentadoria
programada obsta esse repasse.
Sobre o assunto, Sergio Pinto Martins38 leciona que “Trata-se o
FAPI mais de uma espécie de aplicação financeira programada do
que de previdência privada”.

38 Direito da Seguridade Social, p. 298.

115
9 .6 .1 3 . P i a n o s de p r e v id ê n c ia p r iv a d a a b e r t a e s t r a n g e ir a c o m
PARTICIPANTES BRASILEIROS

As seguradoras estrangeiras não têm permissão para vender pla­


nos de Previdência Privada no Brasil. Entretanto, não há impedi­
mento ao brasileiro de adquirir no exterior um plano de aposentadoria.
Ocorrendo qualquer conflito entre o participante a seguradora
estrangeira, a SUSEP não poderá interferir. Além disso, há o fator
tributário: com o reingresso do dinheiro no país, além do paga­
mento do imposto de renda pela alíquota de 27,5% sobre o rendi­
mento, ainda inexiste a isenção de 12% prevista para outros planos
nacionais.
Com a paridade entre o real e o dólar americano houve grande
procura por planos de Previdência Privada nos EUA por brasileiros.
Terminada a paridade, com a desvalorização do real frente ao
dólar, ou os contratos foram repactuados ou o brasileiro resgatou os
valores com perdas expressivas. A manutenção das contribuições em
dólares para brasileiros se tornou um fardo pesado, que poucos pude­
ram suportar na integralidade.
Nestes planos, o participante brasileiro deve atinar para as mu­
danças cambiais.
9 .7 . E n t id a d e s fec h a d a s: fu n d o s de pen sã o

Entidade fechada de Previdência Privada é sinônimo de fundo


de pensão.
Entidade fechada de Previdência Privada é pessoa jurídica de
direito privado, sem fins lucrativos, contratante na relação jurídica
previdenciária privada, que oferece planos destinados exclusivamen­
te a determinados grupos de pessoas inter-relacionadas por vínculos
empregatício, associativo, profissional ou de classe.
O art. 4o, da Lei Complementar n° 109, estabelece que as enti­
dades fechadas não poderão ter fins lucrativos. Previsão redundante,

116
pois a constituição dos fundos de pensão se dá consoante o § Ia, art.
U, da I ei Complementar n° 109, estabelecendo que os planos das
entidades fechadas de Previdência Privada devem ser sociedades ci­
vis sem fins lucrativos ou fundações.
A figura das sociedades civis sem fins lucrativos não foi recep­
cionada pelo atual Código Civil, restando apenas a figura da fun­
dação, que, por suas características fundamentais, não admite
li nalidade lucrativa.
Os fundos de pensão devem se adaptar à nova estrutura civil
imposta pelo novel Código. Após o advento do Código Civil novo,
os próprios cartórios de registro de pessoas jurídicas não mais estão
registrando as entidades fechadas como sociedades civis sem fins lu­
crativos, e sim apenas como fundações.
Até o advento da Lei Complementar n° 109, o vínculo dos par­
ticipantes dos fundos de pensão era somente empregatício. Vínculos
associativo, profissional ou de classe como permissivos ao ingresso
em fundos de pensão não eram previstos pela Lei ° 6.435/77.
A Lei Complementar n° 109 abriu a possibilidade de vínculos
associativo, profissional ou de classe como pressupostos ao ingresso
em fundos de pensão.
Tanto no Brasil quanto em outros países, o surgimento dos fun­
dos de pensão, historicamente, foi moldado sob o liame empregatí­
cio, em que o Estado oferece estímulos tributários aos empregadores
com a iniciativa destes na criação das entidades.
Muitos se equivocam ao pensar que a empregadora é dona do
fundo de pensão que criou.
A empresa empregadora (ou o empregador) é “patrocinadora”,
podendo fazer parte do quadro dos órgãos internos da entidade pre­
videnciária (conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-execu-
tiva), mas jamais poderá ter a propriedade sobre o fundo de pensão
que patrocina.

117
O art. 35 da Lei Complementar n° 109 prevê estrutura mínima
do fundo de pensão. O conselho deliberativo é órgão interno de de­
cisões específicas estruturais, enquanto que o conselho fiscal organi­
za e fiscaliza o contexto atuarial, financeiro e tributário da entidade
(a fiscalização abrange o cumprimento da lei e regulamentos).
A função da diretoria-executiva engloba a atividade mais coti­
diana do fundo (parte operacional). Participantes/e assistidos tem
assegurado, no mínimo, um terço das vagas nos conselhos deliberati­
vo e fiscal (art. 35, § Io da Lei Complementar n° 109).
Num plano de Previdência Privada fechada pode haver a previ­
são de contribuição conjunta do participante (trabalhador) e da pa-
t rocinadora (pessoa jurídica que possui vínculo empregatício com o
t rabalhador) em partes pré-estabelecidas. Ou mesmo a contribuição
integral do empregador ou do participante. É disposição contratual.
Nos casos de vínculo associativo, profissional ou de classe, não
há relação empregatícia, sendo a entidade vinculativa chamada “ins­
tituidora” (um sindicato, por exemplo).
O parágrafo 1- do art. 14, da Lei Complementar n° 109, não
admite a portabilidade sem que haja cessação do vínculo empregatí­
cio do participante com o patrocinador (nos casos em que esta rela­
ção existir). A cessação do vínculo empregatício não é necessária para
portabilidade em fundos instituídos.
Até a criação do “órgão regulador e fiscalizador”, citado amiúde
pela Lei Complementar n° 109, as funções regulatória e fiscalizató-
ria do Estado serão exercidas pelo Ministério da Previdência e As­
sistência Social, por intermédio, respectivamente, do Conselho de
Gestão da Previdência Complementar (CGPC) - atual Conselho
Nacional de Previdência Complementar (CNPC) e da Secretaria de
Previdência Complementar (SPC) - atual Superintendência Nacio­
nal de Previdência Complementar - PREVIC, relativamente às en­
tidades fechadas, e pelo Ministério da Fazenda, por intermédio do

118
( onselbo Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superinten­
dência de Seguros Privados (SUSEP), em relação, respectivamente,
a regulação e fiscalização das entidades abertas.
O crescimento deste segmento previdenciário fechado no Brasil
não foi tão intenso quanto no aberto, passando de um montante
total de ativos em 1994 de R$ 72,7 bilhões para RS 259,9 bilhões
em 200439.
Determina o art. 31 da Lei Complementar n° 109, que os pla­
nos das Entidades Fechadas de Previdência Privada (segundo art.
31, § Ia, da Lei Complementar 109, devem ser sociedades civis ou
fundações sem fins lucrativos) são aqueles acessíveis:
“I - aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos
servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos M u­
nicípios, entes denominados patrocinadores; e
II - aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter
profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores” (des­
taques nossos).
Este inciso II é o preceito inovador no Brasil, pois cria a figura
dos instituidores (sindicato ou associação), fato que inexistia na le­
gislação pátria anterior. Tais fundos, porém, em outros países, como
EUA e Inglaterra, são centenárias e influentes na sociedade, econô­
mica e politicamente.
9 .7 .1 . E s t r u t u r a d a s e n t id a d e s f e c h a d a s

Existe uma estrutura interna mínima a ser conservada pelas en­


tidades fechadas. Assim, todos os fundos de pensão brasileiros de­
vem possuir um conselho deliberativo, um conselho fiscal e uma
diretoria-executiva, como preceitua o art. 35 da Lei Complementar
n° 109.

39 O Estado de São Paulo, A3, 27 de dezembro de 2004.

119
A estrutura estatutária da entidade deverá prever representação
dos participantes e assistidos nos conselhos deliberativo e fiscal, as­
segurado a eles no mínimo um terço das vagas.
Há democracia interna dada com a escolha dos representantes dos
participantes e assistidos, que será feita por meio de eleição direta entre
seus pares. A entidade deve divulgar as eleições com transparência.
O conselho deliberativo, órgão máximo da estrutura organiza­
cional, é responsável pela definição da política geral de administra­
ção da entidade e de seus planos de benefícios.
O conselho fiscal é órgão de controle interno da entidade.
A diretoria-executiva é o órgão de administração da entidade, em
conformidade com a política de administração traçada pelo conselho
deliberativo. E o corpo diretivo do cotidiano da entidade, que põe em
prática as diretrizes ditadas pelo conselho deliberativo. Será composta,
no máximo, por seis membros, definidos em função do patrimônio da
entidade e do seu número de participantes, inclusive assistidos.
Importante ressaltar que os membros da diretoria-executiva res­
ponderão solidariamente com o dirigente pelos danos e prejuízos cau­
sados à entidade para os quais tenham concorrido.
As entidades fechadas não poderão requerer concordata e não
estão sujeitas a falência, mas somente a liquidação extrajudicial (art.
47 da Lei Complementar n° 109).
A liquidação extrajudicial das entidades fechadas pode ser de­
cretada pela PREVIC, quando este órgão reconhecer a inviabilidade
de recuperação da entidade ou pela ausência de condição para seu
funcionamento (art. 48 da Lei Complementar n° 109).
9 .7 .2 . F u n d o s d e p e n s â o in s t it u íd o s , o u a s s o c ia t iv o s

A criação destes fundos de pensão instituídos (ou associativos,


como vêm sendo designados pelo governo) teve integral apoio do
governo federal, que nesta fase incipiente se mostra necessário na

120
legulamentação e fiscalização por meio da PREVIC - Superinten­
dência Nacional de Previdência Complementar.
Poderão ser instituidores:
I - os conselhos profissionais e entidades de classe nos quais
seja necessário o registro para o exercício da profissão;
II - os sindicatos, as centrais sindicais e as respectivas federa­
ções e confederações;
III - as cooperativas que congreguem membros de categorias
ou classes de profissões regulamentadas;
IV - as associações profissionais, legalmente constituídas;
V - outras pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou
setorial, desde que autorizadas pelo órgão fiscalizador.
O patrimônio dos planos de benefícios constituídos por insti­
tuidor deverá, obrigatoriamente, estar segregado do patrimônio do
instituidor. Como foi dito, o instituidor, como o patrocinador, não é
dono do fundo de pensão.
O maior fundo de pensão do mundo é o dos professores da
Califórnia (EUA) - criado pelo sindicato desta categoria, que ad­
ministra um patrimônio próximo de USS 140 bilhões, quase o tri­
plo do patrimônio somado dos fundos de pensão brasileiros. A
administração deste maior fundo de pensão do mundo é de respon­
sabilidade de instituições financeiras privadas, que têm obrigação
de prestar contas mensalmente do desempenho financeiro do fun­
do aos participantes.
O sindicato dos professores da Califórnia (EUA) teve a iniciati­
va, mas a administração é de responsabilidade de instituições finan­
ceiras privadas (terceirização que realça o profissionalismo e evita
administração política ao invés de técnica).
No Brasil, quatro fundos instituídos já foram referendados pela
Secretaria de Previdência Complementar. A Força Sindical instituiu

121
seu fundo de l^nsão, chamado de KOKÇAPKKV. () Sindicato dos
Engenheiros dc São Paulo criou o SEESPREV. Mas não só sindica­
tos podem torri;ir esta iniciativa. A Cooperativa de Economia e Cré­
dito Mútuo dos Servidores de Minas Gerais já criou fundos de pensão
para seus cooperac|os e a Associação dos ex-alunos da Fundação
Getúlio Vargas esrá em vias (je instituir fundos de pensão a seus as­
sociados.
As Entidades Fechadas de Previdência Privada que forem cons­
tituídas por instituidores deverão “terceirizar a gestão dos recursos
garantidores das reservas técnicas e provisões mediante a contrata-
ção de instituiçlq especializada autorizada a funcionar pelo Banco
Central do Brasil ou outro órgão competente”; além de terem a pos­
sibilidade de ofett-ar exclusivamente planos de benefícios na modali­
dade contribuição definida (art. 31, parágrafo 2o, I e II).
A terceirizaçao c}a gestão dos recursos mantém a obrigação le­
gal de que fundos de pensão instituídos tenham estrutura mínima a
ser mantida pelas entidades fechadas, composta por conselho delibe-
i ativo, conselho fjscal e diretoria-executiva.
Os empregadores podem contribuir para os fundos instituídos
de seus empregados, mas a vinculação jurídica neste caso não será
l°mo n°s fundos instituídos convencionais.
A criação de lrma entidade fechada associativa exige do institui­
dor o cumprimento dos seguintes requisitos:
I _ congregação de, no mínimo, mil associados ou membros de
t ategoria ou classe profissional, em seu âmbito de atuação;
II ~ possuir r^gistro regular, na condição de pessoa jurídica de
caráter profissional) classista ou setorial, há pelo menos três anos.
O requerimento de autorização para constituição de fundos de
pensão instituídos esta definido no art.5° da Resolução CGPC n°
12, de 2002 e na R^olução CGPC n° 08, de 2004.

122
A autorização para constituição de fundos de pensão instituídos
l>ressupõe a apresentação dos seguintes documentos:
I - Relativamente ao Instituidor:
a) ato de constituição, devidamente registrado;
b) lei de criação, no caso de entidade de controle de profissão
regulamentada;
c) estatuto social, com a identificação da base territorial;
d) declaração do número de associados.
II - Relativamente à EFPC:
a) os documentos e procedimentos previstos na Instrução Nor-
mativa/SPC n° 27, de 21 de maio de 2001, ou outro ato normativo
que vier a substituí-la;
b) plano de custeio para cobertura das despesas administrativas
do plano de benefícios, para o primeiro ano de funcionamento da EFPC.
A formalização da condição de instituidor de um plano de be­
nefícios ocorre mediante convênio de adesão a ser celebrado entre
o instituidor e o fundo de pensão, em relação a cada plano de bene­
fícios por administrado, a que pretenda aderir, mediante autoriza­
ção do órgão fiscalizador.
No caso de constituição de plano previdenciário que será admi­
nistrado por fundos de pensão instituídos já existente, o instituidor
deverá comprovar:
- Número mínimo de 50 associados ou membros de categoria
ou classe profissional em seu âmbito de atuação;
- Registro regular como pessoa jurídica de caráter setorial, pro­
fissional ou classista há pelo menos três anos.
O requerimento para implantação de plano de benefícios deve­
rá ser instruído com os documentos previstos no art. 8o da Resolução
n° 12, de 2002 e na Resolução CGPC n° 08, de 2004.

123
9 .7 .3 . E n t id a d e s m u l t ip a t r o c in a d a s

A Lei Complementar n° 109 (art. 34) qualifica as entidades fe­


chadas da seguinte forma:
“I - de acordo com os planos que administram:
- de plano comum, quando administram plano ou conjunto de
planos acessíveis ao universo de participantes; e
- com multiplano, quando administram plano ou conjunto de pla­
nos de benefícios para diversos grupos de participantes, com in­
dependência patrimonial;
II - de acordo com seus patrocinadores ou instituidores:
-singulares, quando estiverem vinculadas a apenas um patrocina­
dor ou instituidor; e
-multipatrocinadas, quando congregarem mais de um patrocina­
dor ou instituidor.”
O multiplano é uma inovação no ordenamento jurídico brasi­
leiro advinda com a Lei Complementar n° 109, mas já existe há de­
cênios em outros países, como os EUA, onde o termo usado é o
cognato multiplan.
Multiplano é um plano fechado, ou um conjunto de planos fe­
chados, cujos benefícios estão relacionados a diversos grupos de par­
ticipantes e patrocinadores/instituidores.
A idéia central do multiplano é permitir que vários (mais de
um) patrocinadores ou instituidores possam ingressar na Previdên­
cia Privada, pois em situações normais não teriam condições indivi­
duais de criar um fundo de pensão (seja pelo número exíguo de
participantes, seja pela falta de recursos). O multipatrocínio pode
existir quando não há um número de empregados ou associados su­
ficiente para a constituição de um fundo de pensão ou de um plano
previdenciário.
O fato do multiplano estar vinculado a uma independência
patrimonial incorpora uma aglutinação administrativa e finan-

124
.en a: a administração não é segmentada ou fragmentada. Pode
liaver divisões administrativas lineares, mas com administração
uma do patrimônio.
1)este modo, as Entidades Fechadas de Previdência Privada
serão:
-singulares, quando tiverem vinculação a um patrocinador ou
a um instituidor;
-multipatrocinadas (mesmo havendo instituidores), quando
tiverem vinculação com mais de um patrocinador ou instituidor.
Há proporcionalidade de representação na estrutura interna
num fundo multipatrocinado, em que a composição dos conse­
lhos deliberativo e fiscal deverá levar em conta o número de par­
ticipantes vinculados a cada patrocinador ou instituidor, bem como
o montante dos respectivos patrimônios (garantindo a proporção
e o controle dos participantes e assistidos). O princípio democrá­
tico de participação de participantes e assistidos na entidade pre­
valece.
Num fundo instituído, a entidade empregadora pode contri­
buir em relação à contribuição total do empregado participante,
sendo denominada “patrocinadora”. Caso não contribua, será cha­
mada de “averbadora”.
H á um limite de contribuição, obrigatório para as entidades
patrocinadoras ligadas ao Estado, de acordo com o §3°, do art.
202, da Constituição da República/88, que dispõe:
“É vedado o aporte de recursos a entidades de Previdên­
cia Privada pela União, Estados, Distrito Federal e M uni­
cípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, so­
ciedades de economia mista e outras entidades públicas,
salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em
hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder
a do segurado.”

125
Não existindo vínculos com o erário público, empresas ou pes­
soas jurídicas podem contribuir, ou patrocinar, sem limite percen­
tual, o plano de Previdência Privada de seus em pregados.
Principalmente nos planos abertos coletivos, algumas empresas con­
tribuem com a totalidade dos aportes de recursos para os fundos
previdenciários, liberalidade que busca instigar os empregados a
trabalharem melhor diante desta vantagem oferecida.
Afora os casos de vínculos com o erário público, há situações onde
o empregador patrocinador contribui com a totalidade das contribui­
ções do empregado participante. Circunstância que ensejou a Súmula
n° 730 do Supremo Tribunal Federal, conforme vista anteriormente.
A reforma sindical no Brasil passa pelos fundos instituídos e
multipatrocinados, pois permite o ingresso de associados no sindica­
to (por conta do fundo instituído) além de aglomeração de partici­
pantes num fundo de pensão já bem estruturado (no caso de adesão
a um plano já existente).
O fundo receptor também se beneficia, porque pode receber
valores que fortalecem ainda mais sua estrutura de investimentos.
Portanto, pode haver a criação de um fundo multipatrocinado
originário da junção de várias vertentes (instituidores e patrocinado­
res). Sindicatos e empresas podem se unir para esse fim. É possível a
agregação de novos planos a um plano mais antigo que esteja bem
estruturado, mostrando o dinamismo do sistema.
9 .7 .4 . P r e v id ê n c ia P r iv a d a f e c h a d a e im u n id a d e t r ib u t á r ia

A imunidade tributária dos fundos de pensão é tema relevante


nos tribunais brasileiros.
Nos casos de vínculos com o erário público, o patrocinador está
constitucionalmente adstrito ao limite de 50% da contribuição do
participante. Mas há situações onde o empregador patrocinador con­
tribui com a totalidade das contribuições do empregado participan­

126
te. bsta circunstância que ensejou a Súmula n° 730 do Supremo Tri­
bunal Federal, conforme vista anteriormente.
Hugo de Brito Machado40 mostra a imunidade tributária como
“uma diretriz política de fundamental relevo, tanto que colocada na
Constituição. É uma vantagem concedida para estimular determina­
das opções de conduta.”
Para este autor41, “imunidade é o obstáculo criado por uma nor­
ma da Constituição, que impede a incidência de lei ordinária de tri­
butação sobre determinado fato”.
Sintetizando-se, a imunidade tributária está prevista constitu­
cionalmente, enquanto que a isenção tributária se dá por lei ordi­
nária. A norma de isenção deve ser interpretada literalmente (art.
111 do Código Tributário Nacional).
Na imunidade, como disse o Supremo Tribunal Federal, “admi­
te-se a interpretação ampla de modo a transparecer os princípios e
postulados nela consagrados” (RE 102.141-RJ, RTJ 116/267).
Pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos so­
bre patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive
suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das insti­
tuições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos.
Sacha Calmon42 preleciona sobre a “intributalidade”43 dos fun­
dos de pensão:

40 M A C H A D O , Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 11a Edição, São Paulo:


Malheiros, 1996, p. 152.
41 M A C H A D O , Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 11a Edição, São Paulo:
Malheiros, 1996, p.152.
42 Disponível em (http:llwww.abrapp.org.brlnoticiaslsacha_calmom.htm). Acesso em: 031
0412003.
43 Disponível em (http:llwww.abrapp.org.brlnoticiaslsacha_calmom.htm). Acesso em: 031
0412003.

127
“Pr imus: os lundos de pensão, embora movimentem somas
altíssimas, não possuem capacidade contributiva, por defi­
nição legal não visam ao lucro (no profits). Seus ganhos são
reinvestidos e, ao final, incorporados às reservas necessárias
ao pagamento das aposentadorias e pensões (fim último
dessas instituições). SecunduJ: Os fundos não possuem “di­
nheiro próprio”. Em verdade, seus administradores lidam
com recursos alheios. São administradores de bens de ter­
ceiros, são como os trastes (sic) do direito norte-americano.
Tertius: Por força de lei, são sujeitos ao Ministério da Pre­
vidência e Assistência Social e visam a “complementar” o
sistema oficial, daí possuírem a mesma natureza jurídica e a
mesma finalidade. Porventura os recursos da previdência
oficial são tributados? Anote-se que a oficial gasta 30% dó
que recebe na atividade-meio. A pública tributa. A privada
é tributada. Não é paradoxal?”.
A Súmula n° 730 do Supremo Tribunal Federal permite imuni­
dade para fundos de pensão (entidades abertas têm fins lucrativos)
nos quais o participante não contribua; toda contribuição fica a cargo
do patrocinador.
Tal Súmula está pautada no caráter assistencial do fundo. O
caráter assistencial só se manifestará para a imunidade tributária
se o patrocinador arcar com toda a contribuição do participante,
mostrando que a assistência é absoluta (o participante não de­
sembolsa nada e recebe a proteção social da Previdência Privada
por conta do empregador, conferindo ao fundo de pensão caráter
assistencial pleno).
9 .8 . I n s t it u t o s d o s p l a n o s d e b e n e f íc io s

No Brasil atualmente existem quatro institutos principais ne­


cessários para os planos de Previdência Privada.
Estes quatro institutos são obrigatórios no texto do regulamen­
to de todos os planos de Previdência Privada, mesmo aqueles ante-

128
i l o t e s à lei (que não prevendo deverão ter inseridos em seu corpo
i ontiatual c regulamentar), de acordo com o art 14 da Lei Comple­
mentar n ° 109 .
Os institutos obrigatórios dos planos de Previdência Privada no
brasil são:
a) benefício proporcional diferido (vesting);
b) portabilidade;
c) resgate; e
d) autopatrocínio.
Como existe a inserção obrigatória destes quatro institutos no
regulamento do plano, a liberdade contratual é limitada pela lei, sob
o fundamento da proteção social.
Essa limitação à liberdade contratual previdenciária privada é
oriunda do caráter misto da previdência privada: contratual/institu­
cional. O lado institucional da Previdência Privada, ligada à Seguri­
dade Social, acarreta esta ingerência estatal sobre o conteúdo dos
contratos previdenciários privados.
Para os contratos de planos de Previdência Privada (aberta ou
fechada) que forem pactuados após a Lei Complementar n° 109,
existe a imposição legal de que os institutos acima citados constem
do texto contratual (e do regulamento). Para os contratos anterio­
res à Lei Complementar n° 109 deve haver a inserção desses insti­
tutos (benefício proporcional diferido; portabilidade; resgate;
autopatrocínio).
As partes contratantes não têm opção de incorporar ou não tais
institutos contratualmente e no regulamento do plano, pois há uma
imposição do contexto de proteção social. Nos contratos de seguros
comuns, v.g., não há este tipo de vinculação legal (não há caráter
contratual/institucional).

129
9.8.1. I n s t it u t o s d o a u t o p a t r o c ín io e resg a t e
O autopatrocínio está previsto como um instituto obrigatório
nos planos de benefícios, de acordo com o inciso IV do art. 14 da Lei
Complementar n° 109, como sendo uma:
“Opção de o participante sustentar o valor de sua contri­
buição bem como a do patrocinador, no caso de perda par­
cial ou total da remuneração recebida, assegurando-lhe o
recebimento dos benefícios no valor correspondentes àquela
remuneração ou em outros definidos em normas regula­
mentares.”
O participante não pode ser obrigado a ser autopatrocinado. Au­
topatrocínio é uma faculdade do participante em manter o valor de
sua contribuição e a do patrocinador.
A lei permite o autopatrocínio no caso de “perda parcial ou
total da remuneração recebida”. A perda parcial ou total da remu­
neração recebida pode envolver interrupção ou suspensão do con­
trato de trabalho. Como a lei não fez qualquer menção sobre este
detalhe, basta haver uma diminuição da contribuição da patroci­
nadora em virtude de perda parcial ou total da remuneração (salá­
rio mais gorjetas) para que o participante possa exercer o
autopatrocínio.
Antes da Lei Complementar n° 109 não havia a previsão legal
de portabilidade no Brasil, e o beneficio proporcional diferido (ves-
íing) era uma figura normativa obscura e desconhecida. Destarte, o
participante, no caso de perda do vínculo empregatício com a patro­
cinadora, só tinha duas opções: Autopatrocínio ou o Resgate.
O autopatrocínio surge quando o participante paga a totalidade
das contribuições previdenciárias em seu nome, incluindo a contri­
buição feita pela patrocinadora. Exemplificando: o participante arca
com 40% da contribuição total em seu nome e a patrocinadora paga
os outros 60%.

130
I Ia vendo a perda do vínculo empregatício com a patrocinadora,
o participante, para continuar no plano, terá de arcar não somente
com os 40% que ele já pagava, mas agora terá de pagar também os
(>0% referentes à contribuição que era da patrocinadora.
Na realidade, o autopatrocínio, instituto que deve ser apresen­
tado ao participante como opção contratual em caso de perda do
vínculo empregatício, é proibitivo porque se torna muito custoso
ao participante.
Para prosseguir como autopatrocinado, normalmente o partici­
pante está prestes a receber benefícios. Num período mais dilatado, o
autopatrocínio não é viável, pois a carga contíibutiva a ser suportada
não justificara a permanência no plano.
Havendo perda parcial da remuneração, a contribuição da pa­
trocinadora só será reduzida se estiver atrelada à remuneração por
força do contrato e do regulamento do plano. Se a patrocinadora
assumiu a responsabilidade de arcar com determinado valor da con­
tribuição, independentemente da diminuição da remuneração do
empregado, não há motivo para o autopatrocínio.
A perda parcial da remuneração ensejará autopatrocínio se oca­
sionar diminuição da contribuição da patrocinadora, seja ela total ou
parcial. O escopo da lei é assegurar a percepção dos benefícios nos
níveis correspondentes àquela remuneração que o participante esta­
va recebendo até haver perda total ou parcial (manutenção do padrão
de vida).
9 .8 .2 . VESTING - B E N E F ÍC IO P R O P O R C IO N A L D IF E R ID O

Estabelece o inciso I, do art. 14, da Lei Complementar n° 109,


que benefício proporcional diferido ocorre:
“em razão da cessação do vínculo empregatício com o patrocina­
dor ou associativo com o instituidor antes da aquisição do direito
ao benefício pleno, a ser concedido quando cumpridos os requisi­
tos de elegibilidade”.

131
Para que haja autopatrocínio, a quebra de víiieúlos empregatício
ou associativo deve acontecer antes que o participante tenha preen­
chido todos os requisitos à obtenção do benefício integral - requisi­
tos de elegibilidade. O termo “elegibilidade” é mais um americanismo
dc nossa Previdência Privada, oriundo do cognato elegibility. O pró­
prio termo “vesting” (adotado à larga no Brasil) já é inglês, signifi­
cando proteção, cobertura.
Nos Estados Unidos, benefício proporcional diferido também é
chamado de vesting.
O vesting se dá com o pagamento de um benefício na proporção
daquilo que foi contribuído e capitalizado em nome do participante,
garantindo a possibilidade de recebimento de um benefício previ­
denciário privado na razão daquilo que foi aportado em nome do
participante, mesmo que não atingidos todos os requisitos de aquisi­
ção do benefício integral.
O vesting não é uma total inovação normativa da Lei Comple­
mentar n° 109. O art. 31, VIII, do Decreto n° 81.240/78 (que vigo­
rava no contexto da Lei n° 6.435/77), especificava que:
“na hipótese de cessação do contrato de trabalho, o plano
de benefícios deverá prever o valor de resgate correspon­
dente, em função da idade e do tempo de contribuição, sendo
facultada a manutenção dos pagamentos, acrescidos da parte
da empresa, para a continuidade da participação ou a redu­
ção dos benefícios em função dos pagamentos efetuados
até a data daquela cessação”.
Havia a previsão de resgate, de autopatrocínio (manutenção dos
pagamentos, acrescidos da parte da empresa, para a continuidade da
participação), e de vesting (redução dos benefícios em função dos
pagamentos efetuados até a data daquela cessação).
A Lei Complementar n° 109 fez nascer pragmaticamente o di­
reito dos participantes de receberem um benefício proporcional di­

132
ferido. Previamente ao advento da Lei Complementar n° 109 era
rara a utilização prática do benefício proporcional diferido, justamente
porque o vesting- estava previsto somente em um Decreto (normati-
zação administrativa) e de forma não explícita.
Houve inovação da Lei Complementar n° 109 no enquadra­
mento do benefício proporcional diferido como instituto necessário
ao contrato previdenciário privado de adesão. Tal lei eliminou a dú­
vida sobre se e quando o participante faz jus ao benefício.
9.8.3. P o r t a b il id a d e

Portabilidade é a transferência das reservas técnicas do partici­


pante de um plano de Previdência Privada (aberto ou fechado) para
outro. Os modos de transferência não estão bem assimilados no sis­
tema, e há entidades que continuam relutando em efetuar a portabi­
lidade (com receio de perda de recursos), cabendo ao Poder Judiciário
ordenar o cumprimento da lei.
A portabilidade é prevista no inciso II, do art. 14, da Lei Comple­
mentar n° 109, como instituto obrigatório do plano previdenciário:
“portabilidade do direito acumulado pelo participante para
outro plano”.
O parágrafo 1- do referido artigo não admite a portabilidade
sem que haja cessação do vínculo empregatício do participante com
o patrocinador (nos casos em que esta relação existir). A cessação do
vínculo empregatício não é necessária para portabilidade em fundos
instituídos.
E o parágrafo 4- estabelece que a transferência de recursos do
participante, quando efetuada para entidade aberta, somente será
admitida quando:
“a integralidade dos recursos financeiros correspondentes
ao direito acumulado do participante for utilizada para a
contratação de renda mensal vitalícia ou por prazo deter­

133
minado, cujo prazo mínimo não poderá ser inlWí«>i ao pe­
ríodo em que a respectiva reserva foi constituída, limitado
ao m ínim o de quinze anos, observadas as norm as
estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador”.
Não há restrições de portabilidade de valores de planos aber­
tos para fechados e vice-versa, desde que os requisitos vinculatórios
(participante/patrocinadora ou participante/instituidora) sejam pre­
enchidos.
A portabilidade deve ser efetuada com o objetivo de adquirir
outro plano previdenciário privado (de renda mensal vitalícia ou
por prazo determinado), com previsão de prazo de recebimento de
benefício equivalente ao tempo de acumulação dos valores transfe­
ridos (mínimo de quinze anos).
A limitação de mínimo de quinze anos visa manter os valores
portados no âmbito da Previdência Privada, haja vista que o art. 69,
§ 2o, da Lei Complementar 109 determina a não-incidência de tri­
butação e contribuições de qualquer natureza na portabilidade, pre-
ceituação que seria incoerente se ao participante fosse permitida a
portabilidade com resgate seqüencial.
Anteriormente à Lei Complementar n° 109, na hipótese de
perda do vínculo empregatício do participante, v. g., suas alternati­
vas reais eram o autopatrocínio (muito oneroso no médio e longo
prazos) ou o resgate (nas alíquotas de 15 ou 27,5%, sendo mais
provável recair a alíquota mais alta (27,5%).
O vesting não era difundido (apesar de normativamente previs­
to), mas mesmo assim seria uma alternativa de recebimento de bene­
fício fragmentado, e não integral.
A portabilidade é uma inovação legal no Brasil. É alternati­
va que estaria mais próxima do objetivo de obtenção de benefí­
cio integral e continuidade dos valores no âmbito da Previdência
Privada, dentre a escolha de autopatrocínio, vesting e resgate.

134
Na portabilidade (art. 69, § 2°, da Lei Com plementar 109) não
jiode haver incidência de tributação e contribuições de qualquer
natureza.
Seria a alternativa ideal para o participante transferir seus recur­
sos, dada a isenção tributária, não fosse uma barreira: a Súmula 290
do STJ. Tal Súmula limita a portabilidade aos valores aportados pelo
participante.
A portabilidade não deve ser confundida com resgate, e nem deve
ser usada para resgatar valores rapidamente após a transferência.
9.8.3.1 D ir eit o a c u m u l a d o pa r a fin s d e p o r t a b il id a d e

A Lei Complementar 109 define (parágrafo único do art. 15)


que “direito acumulado corresponde às reservas constituídas pelo
participante ou à reserva matemática, o que lhe for mais favorável”.
A Resolução n° 6, de 30 de outubro de 2003 - do Conselho de
Gestão da Previdência Complementar - em seu art. 15, conceitua
direito acumulado de acordo com a data de instituição do plano44. A
Resolução n° 6, de 30 de outubro de 2003 - do Conselho de Gestão
da Previdência Complementar - dispôs sobre os institutos do bene­
fício proporcional diferido, portabilidade, resgate e autopatrocínio

44 I - nos planos instituídos até 29 de maio de 2001, ao valor previsto no regulamento


para o caso de desligamento do plano de benefícios, conforme nota técnica atuarial,
observado como mínimo o valor equivalente ao resgate, na forma definida no Capítu­
lo III desta Resolução;
II - nos planos instituídos a partir de 30 de maio de 2001:
a) em plano cuja modelagem de acumulação do recurso garantidor do benefício ple­
no programado seja de benefício definido, às reservas constituídas pelo participante
ou reserva matemática, o que lhe for mais favorável, na forma regulamentada e con­
forme nota técnica atuarial do plano de benefícios, assegurado no mínimo o valor do
resgate nos termos desta Resolução;
b) em plano cuja modelagem de acumulação do recurso garantidor do benefício ple­
no programado seja de contribuição definida, à reserva matemática constituída com
base nas contribuições do participante e do patrocinador ou empregador.
§ 1a Em piano que, na fase de acumulação do recurso garantidor do benefício pleno
programado, combine alternativamente características das alíneas "a" e "b " do inciso
II deste artigo, a reserva matemática corresponderá ao maior valor que resultar da
aplicação das regras previstas nas alíneas "a" e "b".

135
em planos de entidade fechada dc previdência cpfnplementar. Não
podemos nos ater, do ponto dc vista científico, às previsões de resolu­
ções administrativas, sob pena de empobrecimento da conceituação
diante do caráter instável das mesmas. A Resolução n° 6 revogou
(art. 36) as Resoluções M PS/CGPC n° 09, de 27 de junho de 2002,
e n° 13, de 02 de outubro de 2002, que versavam sobre a matéria. No
campo da Previdência Privada aberta não existe esta definição.
Direito acumulado, para fins de portabilidade, abarca todos os
valores existentes no plano em nome do participante, deduzidas as
taxas de administração e carregamento (corretagem). Não obstante,
diante da previsão da Súmula n° 290 do STJ, os valores contribuídos
pela patrocinadora não poderiam ser portados.
“Súmula 290. Nos planos de previdência privada, não cabe ao
beneficiário a devolução da contribuição efetuada pelo patrocinador.”
9 .8 .4 . R esgate

O inciso III do art 14 da Lei Complementar n° 109 prevê o


resgate como instituto obrigatório dos planos previdenciários. O res­
gate é preceituado como retirada total das contribuições vertidas ao
plano pelo participante visto que não há resgate parcial pelo texto da
lei, embora descontando as parcelas do custeio administrativo.

§ 2a Em plano que, na fase de acumulação do recurso garantidor do benefício pleno


programado, combine cumulativamente características das alíneas "a" e "b" do inciso
II deste artigo, a reserva matemática corresponderá à soma dos valores resultantes da
aplicação isolada das regras previstas nas alíneas "a" e "b".
§ 3S Para fins de aplicação da alínea "a", do inciso II deste artigo, entende-se por
reserva constituída pelo participante o valor acumulado das contribuições vertidas
por ele ao plano, destinadas ao financiamento do benefício pleno programado, de
acordo com o plano de custeio, ajustado conforme o regulamento do plano de bene­
fícios.
§ 4a O regulamento do plano de benefícios poderá prever outros critérios para apura­
ção do direito acumulado pelo participante que resultem em valor superior ao previs­
to neste artigo, sempre respeitando as especificidades do plano de benefícios.
§ 5° Os critérios e a metodologia de apuração do direito acumulado pelo participante,
para fins de portabilidade, considerando eventuais insuficiências de cobertura do pla­
no de benefícios, deverão constar do regulamento e da nota técnica atuarial do plano
de benefícios.

136
Resgate e a retirada de valores efetivada pelo participante dos
valores qnc este tem em seu nome no plano de Previdência Privada.
Atualmente o imposto de renda incidente sobre o resgate depende
do período de acumulação dos valores, com variações de (Lei n°
I 1.053/2004):
I - trinta e cinco por cento, para recursos com prazo de acumula­
ção inferior ou igual a dois anos;
II - trinta por cento, para recursos com prazo de acumulação su­
perior a dois anos e inferior ou igual a quatro anos;
III - vinte e cinco por cento, para recursos com prazo de acumula­
ção superior a quatro anos e inferior ou igual a seis anos;
IV - vinte por cento, para recursos com prazo de acumulação su­
perior a seis anos e inferior ou igual a oito anos;
V - quinze por cento, para recursos com prazo de acumulação su­
perior a oito anos e inferior ou igual a dez anos; e
VI - dez por cento, para recursos com prazo de acumulação supe­
rior a dez anos.
Levando-se em conta que a Previdência Privada faz parte da Se­
guridade Social, o resgate é o ato mais indesejado, pois extrai do âmbi­
to previdenciário valores que deveriam propiciar um benefício
previdenciário.
Pela proteção social, a lei traz uma série de empecilhos para o
resgate, tais como:
- carência,
- perda de parcelas contribuídas pela patrocinadora em nome
do participante,
- tributação escalonada mediante tempo de acumulação.
A faculdade de resgate está disposta de acordo com o espírito
da lei. O participante não pode ser obrigado a manter recursos no
sistema, sendo vedado ao Estado ou às entidades de Previdência

137
Privada im pingir obliterações ao resgate (v.g.: eacga tributária con-
fiscatória ou taxas adm inistrativas absurdas).
Como no caso da extrafiscalidade, para que o participante evite
resgatar tais valores previdenciários, há incentivos (taxas de adminis­
tração, redução e isenção tributárias), e há punições, sempre com o
alvo da manutenção dos recursos na Previdência Privada. Não há
notícia de nenhum país civilizado que possua sistema de Previdência
Privada que careça deste mecanismo punitivo/premiativo.
9.8.5. S ú m u la n 9 289 do STJ
A matéria dos índices de correção monetária é prevista na Sú­
mula n° 289 do STJ.
A Súmula n° 289 especifica:
“A restituição das parcelas pagas a plano de previdência privada
deve ser objeto de correção plena, por índice que recom ponha a
efetiva desvalorização da moeda”.
A restituição das parcelas pagas a plano previdenciário priva­
do ocorre de duas formas: por resgate ou benefício de prestação
continuada (integral ou proporcional - vesting). A portabilidade
não é resgate tampouco benefício.
Para que a matéria chegasse a ser sumulada, numerosas li­
des que deram ensejo à Sumula n° 289 do STJ estavam ligadas à
correção monetária de lapsos temporais de planos econômicos
malogrados.
No interregno compreendido entre 1987 a 1991 houve uma sé­
rie de planos econômicos que visavam conter a expansão inflacioná­
ria no Brasil.
Neste período foram formulados os denominados Planos “Bres-
ser”, “Verão” e “Collor”, que deram margem a expurgos inflacioná­
rios, especialmente os relativos a junho/87 (26,06%); janeiro/89
(42,72%); março/90 (84,32%); abril/90 (44,80%); maio/90 (7,87%);

138
|iilli<t/90 ( 12,92%); agosto/90 (12,03%); outubro/90 (14,20%); mar-
v ./9| (I 1,79%) ejunho/91 (21,87%).
Fsses planos econômicos, consubstanciados no Decreto-Lei
». 135/87 (“Bresser”) e nas Leis 7.730/89 (“Verão”), 8.030/90 e 8.177/
9 1 (“Collor”) em razão de terem promovido expurgos inflacionários,
teriam ensejado possíveis desproporções em relação aos índices apli­
cados aos contratos previdenciários.
Na esfera da Previdência Privada, os índices aplicados aos valo­
res restituídos aos participantes dos planos de benefícios, a título de
benefício de aposentadoria ou resgate das suas contribuições vertidas
aos planos, estão sendo discutidos judicialmente.
Este raciocínio de desproporção nos índices, contudo, não se
aplica na Previdência Privada como ocorreu com o governo no caso
do FGTS. Há a questão da higidez financeira da entidade.
Dispõe a Constituição Federal:
“Art. 202 - O regime de previdência privada, de caráter comple­
mentar e organizado de forma autônoma em relação ao regime
geral de previdência social, será facultativo, baseado na constitui­
ção de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado
por lei complementar.”
Caso a correção por outros índices que não os especificados nos
regulamentos ocasionar desequilíbrio financeiro da entidade, outros
participantes que ingressaram posteriormente no plano poderão ser
prejudicados pela insolvência do fundo.
A Constituição Federal, ao tratar da Previdência Privada, con­
sagrou expressamente o princípio do equilíbrio econômico-financei­
ro e atuarial dos planos abertos e fechados.
Sendo a matéria prevista em Constituição, pode haver aprecia­
ção pelo STF, nos termos da alínea “a”, inciso III do art. 102, da
Constituição Federal.

139
Os índices contratados nos regulamentos podem ser substituí­
dos por índices mais favoráveis aos participantes, que reflitam me­
lhor a correção da moeda; mas não podemos esquecer que há um
conjunto de participantes e assistidos que pode ser prejudicado.
A isonomia entre participantes e assistidos significa igualdade
grupai, onde o interesse de uma facção (assistidos) não pode redun­
dar no prejuízo injustificado de outra (participantes).
9.8.6. S ú m u la ns 290 do STJ
Giza a Súmula n° 290 do STJ:
“Nos planos de previdência privada, não cabe ao beneficiário a
devolução da contribuição efetuada pelo patrocinador.”
Depreende-se, em princípio, que a Súmula indica que em ca­
sos de portabilidade ou de resgate o participante não teria direito à
parcela da contribuição efetuada pelo patrocinador.
Deve ser levado em conta o fato da contribuição da patrocina­
dora ser uma liberalidade do empregador feita em nome do parti­
cipante (sua titularidade). Não teria razão privar o participante
(titular) destes valores, pois são tão seus quanto são os valores de
participação em lucros e resultados (outra liberalidade do empre­
gador).
Os valores das contribuições da patrocinadora seriam de titu­
laridade do participante (foram feitos em seu nome), por uma li­
beralidade do empregador.
Outro aspecto a ser evocado é o mitigado grau de solidarieda­
de, que apesar de tênue é característico também da Previdência Pri­
vada. Assim, os valores da patrocinadora estariam vinculados à
entidade no sentido da manutenção de benefícios não programa­
dos (regime de capital de cobertura), como morte e invalidez.
Por outro lado, deve haver a conservação dos valores no plano,
evitando-se instabilidade para o bem do grupo.

140
Contudo, é lorte o raciocínio do abrandado grau de solidarie­
dade prevalecer neste caso. Fundos de pensão que tenham planos
envolvendo benefícios não programados (regime de repartição de
capital de cobertura), como morte e invalidez, ficariam prejudica­
dos com portabilidade em massa. O participante que morre, no
exemplo de um plano deste tipo, ocasiona o recebimento pelo seu
dependente de um benefício, mesmo não tendo contribuído neces­
sariamente o suficiente para subsidiar o benefício. Aí está a solida­
riedade. Nossa posição é neste sentido: não há portabilidade da
contribuição efetuada pelo patrocinador em planos envolvendo be­
nefícios não programados, com algum grau de solidariedade.
O texto da Súmula define a desconexão entre contribuição efe­
tuada pelo patrocinador e possibilidade de resgate ou portabilidade
(devolução).
Porém, a portabilidade não pode ser considerada uma sim­
ples “devolução” da contribuição efetuada pelo patrocinador, pois
os recursos ainda estão no contexto previdenciário, e não foram
resgatados.
Teleologicamente, a Súmula pende para obstar a portabilidade ou
o resgate da contribuição efetuada pelo patrocinador.
Interpretando-se a Súmula gramaticalmente, a única maneira de
usufruto destas contribuições efetuadas pelo patrocinador seria mes­
mo em forma de benefício (integral ou proporcional).
9 .8 .7 . Ó R G Ã O REGULADOR E FISCALIZADOR DA PREVIDÊNCIA PRIVADA

No texto da Lei Complementar n° 109 são feitas numerosas refe­


rências aos regulamentos a serem elaborados pelo “órgão regulador e
fiscalizador”. O art. 5o da Lei Complementar n° 109 prevê a normati-
zação, coordenação, supervisão, fiscalização e controle das atividades
das entidades de previdência complementar, que serão realizados por
órgão (ou órgãos) regulador e fiscalizador (ainda não foi criado até o
presente momento).

141
Ate a criação do supracitado órgão, as íunçocs ícgulatória e fis-
calizatória serão exercidas pelo Ministério da Previdência e Assis­
tência Social, por intermédio, respectivamente, do Conselho de
Gestão da Previdência Complementar (CGPC) - atual Conselho
Nacional de Previdência Complementar (CNPC) e da Secretaria de
Previdência Complementar (SPC) - atual Superintendência Nacio­
nal de Previdência Complementar - PREVIC, relativamente às en­
tidades fechadas, e pelo Ministério da Fazenda, por intermédio do
Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superinten­
dência de Seguros Privados (SUSEP), em relação, respectivamente,
à regulação e fiscalização das entidades abertas (art. 74, da Lei Com­
plementar n° 109).
A transformação da Secretaria de Previdência Complementar em
uma Superintendência (PREVIC), nos padrões das agências regula­
doras, com patrimônio e receita próprios, foi mais uma medida estatal
que denota um direcionamento administrativo mais eficiente sobre a
Previdência Privada brasileira. A subvenção da PREVIC será de res­
ponsabilidade também dos fundos de pensão.
No Canadá, os fundos de pensão contribuem para a manuten­
ção da entidade fiscalizadora e reguladora na proporção do número
de participantes (dentro de um valor mínimo e máximo). Na Austrá­
lia esta contribuição dos fundos de pensão advém de um orçamento
estimado que é rateado entre os fundos. E na Hungria, a arrecadação
e despesa de cada fundo de pensão embasam sua contribuição.
Deve haver uma parcela de subvenção estatal da PREVIC, pois
o interesse é independência sobre os fundos.
Tendo-se em vista que o bem jurídico protegido no campo pre­
videnciário privado é a garantia da aposentadoria do participante,
existe toda uma gama punitiva em relação aos administradores ou
mesmo patrocinadores (que têm o dever de fiscalizar a administra­
ção dos fundos) que cometem atos contrários às disposições contidas
na Lei Complementar n° 108 e Lei Complementar n° 109.

142
Não há somente previsões de penalidades administrativas na Lei
( omplementar n° 109, mas também no Decreto n° 4.942/2003, que
são de:
I - advertência;
II - suspensão do exercício de atividades em entidade de previ­
dência complementar pelo prazo de até cento e oitenta dias;
III - inabilitação, pelo prazo de dois a dez anos, para o exercício de
cargo ou função em entidade de previdência complementar, socie­
dades seguradoras, instituições financeiras e no serviço público; e
IV - multa de RS 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais), devendo estes valores, a partir de 30 de maio
de 2001, ser reajustados de forma a preservar, em caráter perm a­
nente, seus valores reais.
A multa de RS 2.000,00 (dois mil reais) a RS 1.000.000,00 (um
milhão de reais) poderá ser aplicada cumulativamente com a pena de
advertência; de suspensão do exercício de atividades em entidade de
previdência complementar pelo prazo de até cento e oitenta dias; e
de inabilitação, pelo prazo de dois a dez anos, para o exercício de
cargo ou função em entidade de previdência complementar, socieda­
des seguradoras, instituições financeiras e no serviço público.
Não tendo havido prejuízo à entidade, ao plano de benefícios por
ela administrado ou ao participante e não se verifique circunstância
agravante (reincidência; cometimento de infração com a obtenção de
vantagens indevidas, de qualquer espécie, em benefício próprio ou de
outrem; não-adoção de providências no sentido de evitar ou reparar
atos lesivos dos quais tenha tomado conhecimento), se o infrator cor­
rigir a irregularidade cometida no prazo fixado pela Secretaria de Pre­
vidência Complementar, não será lavrado o auto de infração.
As penalidades administrativas acima expostas serão aplicadas pela
Secretaria de Previdência Complementar, levando em consideração as
seguintes circunstâncias atenuantes ou agravantes:
I - atenuantes:

143
a) a inexistência dc prejuízos à entidade lecbaçlít de previdência
Complementar, ao plano dc benefícios por ela administrado ou ao
participante;
b) a regularização do ato que ensejou a infração, até a decisão ad­
ministrativa de primeira instância;
II - agravantes:
a) reincidência;
b) cometimento de infração com a obtenção de vantagens indevi­
das, de qualquer espécie, em benefício próprio ou de outrem;
c) não-adoção de providências no sentido de evitar ou reparar atos
lesivos dos quais tenha tomado conhecimento.
A existência de uma das agravantes exclui a incidência das
atenuantes.
Para cada atenuante verificada, a penalidade de multa será re­
duzida em vinte por cento do seu valor original e nas hipóteses de
suspensão e inabilitação, os prazos serão reduzidos em dez por cen­
to, respeitado o prazo mínimo de dois anos.
Para cada agravante verificada, a penalidade de multa será au­
mentada em vinte por cento do seu valor original, exceto no caso de
reincidência, ao qual se aplica a multa em dobro, e nas hipóteses de
suspensão e inabilitação, os prazos serão aumentados em dez por
cento (dentro do limite de cento e oitenta dias da suspensão e de
dez anos da inabilitação. A penalidade de multa, na reincidência,
será aplicada em dobro.
A reincidência se caracteriza pela infração ao mesmo disposi­
tivo legal, pela mesma pessoa, no período de cinco anos, contados
da decisão condenatória administrativa definitiva.
Não serão consideradas para efeito de reincidência as infra­
ções cometidas na vigência da Lei n° 6.435, de 15 de julho de 1977,
revogada expressamente pela Lei Complementar n° 109.
Com a aplicação da penalidade de suspensão do exercício de
atividades em entidade de previdência complementar pelo prazo
de até cento e oitenta dias, o infrator não fará jus à remuneração
paga pela entidade fechada de previdência complementar, durante
o período em que perdurar a suspensão.
A penalidade de multa será imputada ao agente responsável
pela infração, e o pagamento da multa caberá ao agente responsável
pela infração, podendo a Secretaria de Previdência Complementar
exigi-lo da entidade fechada de previdência complementar solida­
riamente responsável, assegurado o direito de regresso.
A Secretaria de Previdência Complementar poderá requisitar,
por escrito, documentos ou informações a pessoa física ou jurídica,
para o fim de apuração da irregularidade do exercício de atividade no
âmbito do regime de previdência complementar por qualquer pes­
soa, física ou jurídica, sem a autorização devida da Secretaria de Pre­
vidência Complementar, inclusive a comercialização de planos de
benefícios, bem como a captação ou a administração de recursos de
terceiros com o objetivo de, direta ou indiretamente, adquirir ou
conceder benefícios previdenciários sob qualquer forma; fato que,
sem prejuízo da aplicação da penalidade cabível, será noticiado ao
Ministério Público.
Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Secretaria de Pre­
vidência Complementar, no exercício do poder de polícia, objeti­
vando aplicar penalidade e apurar infração à legislação em vigor,
contados da data da prática do ato ou, no caso de infração perma­
nente, do dia em que tiver ela cessado, ou, no caso de infração con­
tinuada, do último ato praticado.
Ocorre a prescrição no procedimento administrativo paralisa­
do por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho,
sendo os autos arquivados de ofício ou mediante requerimento da
parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade
funcional decorrente da paralisação, se for o caso.

145
Interrompe-se a prescrição:
I - pela notificação do autuado, inclusive por meio de edital;
II - por qualquer ato inequívoco que importe apuração do fato; ou
III - pela decisão condenatória recorrível.
A extinção da punibilidade ocorre:
I - pela morte do infrator; ou
II - pela prescrição administrativa.
9.8.8. A REPRESENTAÇÃO E A D EN ÚN C IA

A representação é o documento pelo qual uma autoridade ou


órgão do poder público, ao tomar ciência de irregularidade pratica­
da no âmbito da entidade fechada de previdência complementar ou
de seus planos de benefícios, comunica o fato à Secretaria de Previ­
dência Complementar em relatório circunstanciado, para registro e
apuração.
A denúncia é o instrumento utilizado por qualquer pessoa
física ou jurídica para noticiar, perante a Secretaria de Previdên­
cia Complementar, a existência de suspeita de infração às dispo­
sições legais ou disciplinadoras das entidades fechadas de
previdência complementar.
Representações ou denúncias serão protocoladas na Secretaria
de Previdência Complementar e deverão conter:
I - a identificação do órgão e cargo, no caso de representação,
oua qualificação do denunciante ou de quem o represente, com indi­
cação de domicílio ou local para recebimento de comunicação;
II - a identificação e qualificação do representado ou denuncia­
do, com a precisão possível;
III - a indicação das possíveis irregularidades cometidas, dos
I danos ou prejuízos causados à entidade fechada de previdência com­
plementar ou dos indícios de crime, com a precisão possível;

146
IV - os documentos ou quaisquer outros elementos de prova que,
porventura, sustentam a representação ou denúncia; e
V - data e assinatura.
Recebida a representação ou denúncia e efetuadas as eventuais
diligências necessárias, a Secretaria de Previdência Complementar
decidirá:
I - pelo arquivamento, se concluir pela prescrição ou pela mani­
festa improcedência, dando-se ciência ao denunciante ou represen­
tante; ou
II - quando configurada a prática de ato, omissivo ou comissivo,
que possa constituir infração:
a) pela lavratura de auto de infração; ou
b) pela instauração do inquérito administrativo, quando a com­
plexidade dos fatos assim o recomendar.
O inquérito administrativo pode ser instaurado ainda que não
estabelecida a autoria, se houver indício ou constatação da materiali­
dade dos fatos ditos irregulares. O inquérito administrativo será ins­
taurado com a publicação no Diário Oficial da União de Portaria
expedida pelo Secretário de Previdência Complementar, que desig­
nará comissão de inquérito, composta por, no mínimo, três servido­
res federais ocupantes de cargo efetivo.
A citada portaria deverá conter o objeto do inquérito, a indi­
cação do presidente da comissão e o prazo para a conclusão dos
trabalhos.
Concluída a instrução, a comissão emitirá o relatório conclusi­
vo, considerando as provas produzidas e a defesa apresentada pelo
acusado, a ser submetido a julgamento pelo Secretário de Previdên­
cia Complementar. Tal relatório conclusivo deverá sintetizar o que
foi apurado no processo, de modo a enumerar e explicitar os fatos
irregulares, relatar as provas produzidas, fazer os enquadramentos e

147
apontar a sanção cabível ao acusado, conforme as apurações procedi­
das, bem como recomendar as providências para sanar as irregulari­
dades ou falhas que facilitaram a prática que causou danos ou prejuízos
à entidade fechada ou ao plano de benefícios.
Os administradores do patrocinador que não efetivar as contri­
buições normais e extraordinárias a que estiver obrigado, na forma
do regulamento do plano de benefícios ou de outros instrumentos
contratuais, serão solidariamente responsáveis com os administra­
dores das entidades fechadas de previdência complementar, deven­
do esta inadimplência ser comunicada formalmente pelo Conselho
Deliberativo à Secretaria de Previdência Complementar.
No prazo de noventa dias do vencimento de qualquer das obri­
gações acima citadas, sem o devido cumprimento por parte do pa­
trocinador, ficam os administradores da entidade fechada de
previdência complementar obrigados a proceder à execução judicial
da dívida.
9.8.9. In f r a ç õ e s e p e n a l id a d e s a d m in is t r a t iv a s a p l ic á v e is

O volume minucioso de previsão de infrações e a severidade das


punições revelam um lado draconiano do Decreto n° 4.942/2003,
justificável no sentido de evitar administração fraudulenta ou espú­
ria, ou o pouco caso dos patrocinadores.
Levando-se em conta o tema da tese, vemos a necessidade de
apresentar em pormenores todas as previsões de infrações adminis-
t rativas (que em verdade são responsabilidades indiretas dos admi­
nistradores) e respectivas punições do Decreto n° 4.942/2003, como:
Deixar de constituir reservas técnicas, provisões e fundos, de con-
I lormidade com os critérios e normas fixados pelo Conselho de Ges-
I tão da Previdência Complementar e pela Secretaria de Previdência
I ( 'omplementar tem penalidade de multa de RS 20.000,00 (vinte mil
I reais), podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento
e oitenta dias ou com inabilitação pelo prazo de dois a dez anos.
Aplicar os recursos garantidores das reservas técnicas, provisões
e fundos dos planos de benefícios em desacordo com as diretrizes
estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional tem penalidade de
multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser cumulada com
suspensão pelo prazo de até cento e oitenta dias ou com inabilitação
pelo prazo de dois a dez anos.
Deixar de fornecer aos participantes, quando de sua inscrição
no plano de benefícios, o certificado de participante, cópia do regu­
lamento atualizado, material explicativo em linguagem simples e pre­
cisa ou outros documentos especificados pelo Conselho de Gestão
da Previdência Complementar e pela Secretaria de Previdência Com­
plementar tem penalidade de advertência ou multa de RS 10.000,00
(dez mil reais).
Divulgar informação diferente das que figuram no regulamento
do plano de benefícios ou na proposta de inscrição ou no certificado
de participante tem penalidade de advertência ou multa de R$
10.000.00 (dez mil reais).
Deixar de contratar operação de resseguro, quando a isso estiver
obrigada a entidade fechada de previdência complementar tem pe­
nalidade de multa de RS 15.000,00 (quinze mil reais) ou suspensão
por até cento e oitenta dias.
Celebrar convênio de adesão com patrocinador ou instituidor e
iniciar a operação do plano de benefícios, sem submetê-lo a prévia
autorização da Secretaria de Previdência Complementar ou iniciar a
operação de plano sem celebrar o convênio de adesão tem penalida­
de de multa de RS 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), podendo ser
cumulada com inabilitação de dois a dez anos.
Iniciar a operação de plano de benefícios sem observar os requisi­
tos estabelecidos pelo Conselho de Gestão da Previdência Comple­
mentar ou pela Secretaria de Previdência Complementar para a
modalidade adotada tem penalidade de advertência ou multa de RS
10.000.00 (dez mil reais).

149
Deixar de prever no plano de benefícios os institutos do benefí­
cio proporcional diferido, da portabilidade, do resgate da totalidade
das contribuições vertidas ao plano pelo participante (descontadas as
parcelas do custeio administrativo), e da faculdade de o participante
manter o valor de sua contribuição e a do patrocinador, no caso de
perda parcial ou total da remuneração recebida, para assegurar a per­
cepção dos benefícios nos níveis correspondentes àquela remunera­
ção ou em outros definidos em normas regulamentares, ou cercear a
íacuidade de seu exercício pelo participante, observadas as normas
estabelecidas pelo Conselho de Gestão da Previdência Complemen-
tar e pela Secretaria de Previdência Complementar tem penalidade de
multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), podendo ser cumulada com
suspensão pelo prazo de até trinta dias.
Permitir que os recursos financeiros correspondentes à portabili­
dade do direito acumulado transitem pelos participantes dos planos de
benefícios tem penalidade de multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
podendo ser cumulada com suspensão de até sessenta dias.
Deixar a entidade fechada de previdência complementar de ofe­
recer plano de benefícios a todos os empregados ou servidores do pa­
trocinador ou associados ou membros do instituidor, com a exceção
dos planos em extinção, assim considerados aqueles aos quais o acesso
de novos participantes esteja vedado, tem penalidade de advertência
ou multa de RS 10.000,00 (dez mil reais).
Utilizar no cálculo das reservas matemáticas, fundos e provisões,
bem como na estruturação do plano de custeio, métodos de financia­
mento, regime financeiro e bases técnicas que não guardem relação
com as características da massa de participantes e de assistidos e da
atividade desenvolvida pelo patrocinador ou pelo instituidor, ou em
desacordo com as normas emanadas do Conselho de Gestão da Previ­
dência Complementar e da Secretaria de Previdência Complementar,
tem penalidade de multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), podendo
ser cumulada com suspensão de até cento e oitenta dias.

150
Deixar de manter, em cada plano de benefícios, os recursos
garantidores das reservas técnicas, provisões e fundos suficientes à
cobertura dos compromissos assumidos, conforme regras do Con­
selho de Gestão da Previdência Complementar e da Secretaria de
Previdência Complementar, tem penalidade de multa de RS
20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser cumulada com suspensão
pelo prazo de até cento e oitenta dias ou inabilitação de dois a dez
anos.
Utilizar para outros fins as reservas constituídas para prover o
pagamento de benefícios de caráter previdenciário, ainda que por meio
de procedimentos contábeis ou atuariais, tem penalidade de multa
de RS 15.000,00 (quinze mil reais), podendo ser cumulada com sus­
pensão por até sessenta dias.
Utilizar de forma diversa da prevista na legislação o resultado
superavitário do exercício ou deixar de constituir as reservas de con­
tingência e a reserva especial para revisão do plano de benefícios;
bem como deixar de realizar a revisão obrigatória do plano de be­
nefícios, tem penalidade de multa de RS 10.000,00 (dez mil reais),
podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento e
oitenta dias.
Efetuar redução de contribuições em razão de resultados su-
peravitários do plano de benefícios em desacordo com a legisla­
ção, tem penalidade de multa de RS 10.000,00 (dez mil reais),
podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento e
oitenta dias.
Deixar de adotar as providências, previstas em lei, para equacio-
namento do resultado deficitário do plano de benefícios ou fazê-lo
em desacordo com as normas estabelecidas pelo Conselho de Gestão
da Previdência Complementar e pela Secretaria de Previdência Com­
plementar, tem penalidade de multa de R$ 20.000,00 (vinte mil re­
ais), podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento e
oitenta dias.

151
Deixar de adotar as providências para apuração de responsabi­
lidades e, quando for o caso, deixar de propor ação regressiva con-
tra dirigentes ou terceiros que deram causa a dano ou prejuízo à
entidade fechada de previdência complementar ou a seus planos de
benefícios, tem penalidade de multa de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais), podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até no­
venta dias.
Deixar de estabelecer o nível de contribuição necessário por oca-
siao da instituição do plano de benefícios ou do encerramento do
exercício, ou realizar avaliação atuarial sem observar os critérios de
preservação da solvência e equilíbrio financeiro e atuarial dos planos
de benefícios, estabelecidos pelo Conselho de Gestão da Previdência
( 'omplementar, tem penalidade de multa de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais), podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até
trinta dias.
Deixar de divulgar aos participantes e aos assistidos, na forma,
no prazo ou pelos meios determinados pelo Conselho de Gestão da
Previdência Complementar e pela Secretaria de Previdência Com­
plementar, ou pelo Conselho Monetário Nacional, informações con­
tábeis, atuariais, financeiras ou de investimentos relativas ao plano
de benefícios ao qual estejam vinculados, tem penalidade de multa
de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), podendo ser cumulada com sus­
pensão de até sessenta dias.
Deixar de prestar à Secretaria de Previdência Complementar
informações contábeis, atuariais, financeiras, de investimentos ou
outras previstas na regulamentação, relativamente ao plano de be­
nefícios e à própria entidade fechada de previdência complemen­
tar, no prazo e na forma determinados pelo Conselho de Gestão da
Previdência Complementar e pela Secretaria de Previdência Com­
plementar, tem penalidade de multa de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais), podendo ser cumulada com suspensão de até sessenta dias.

152
Descumprir as instruções do Conselho de Gestão da Previdên­
cia Complementar e da Secretaria de Previdência Complementar
sobre as normas e os procedimentos contábeis aplicáveis aos planos
de benefícios da entidade fechada de previdência complementar ou
deixar de submetê-los a auditores independentes, tem penalidade de
multa de RS 15.000,00 (quinze mil reais), podendo ser cumulada
com suspensão pelo prazo de até sessenta dias.
Deixar de atender a requerimento formal de informação, enca­
minhado pelo participante ou pelo assistido, para defesa de direitos e
esclarecimento de situação de interesse pessoal específico, ou aten­
dê-la fora do prazo fixado pelo Conselho de Gestão da Previdência
Complementar e pela Secretaria de Previdência Complementar, tem
penalidade de advertência ou multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Promover a extinção de plano de benefícios ou a retirada de
patrocínio sem autorização da Secretaria de Previdência Comple­
mentar, tem penalidade de multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais),
podendo ser cumulada com inabilitação de dois a dez anos.
Admitir ou manter como participante de plano de benefícios
pessoa sem vínculo com o patrocinador ou com o instituidor, obser­
vadas as excepcionalidades previstas na legislação, tem penalidade de
multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser cumulada com
inabilitação de dois a dez anos.
Deixar, a entidade fechada de previdência complementar cons­
tituída por pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou seto­
rial, de terceirizar a gestão dos recursos garantidores das reservas
técnicas, tem penalidade de multa de RS 15.000,00 (quinze mil re­
ais) ou inabilitação pelo prazo de dois anos.
Deixar de segregar o patrimônio do plano de benefícios do pa­
trimônio do instituidor ou da instituição gestora dos recursos garan­
tidores, tem penalidade dç multa de RS 15.000,00 (quinze mil reais)
ou inabilitação pelo prazo de dois anos.

153
Prestar serviços que não estejam no âm bito do objeto das enti­
dades fechadas dc previdência com plem entar, tem penalidade de
m ulta dc RS 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser cumulada com
suspensão de até cento e oitenta dias.
Descumprir cláusula do estatuto da entidade fechada de previ­
dência complementar ou do regulamento do plano de benefícios, ou
adotar cláusula do estatuto ou do regulamento sem submetê-la à prévia
e expressa aprovação da Secretaria de Previdência Complementar,
tem penalidade de multa de RS 10.000,00 (dez mil reais), podendo
ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento e oitenta dias.
Realizar operação de fusão, cisão, incorporação ou outra forma
lIc reorganização societária da entidade fechada de previdência com­
plementar ou promover a transferência de patrocínio ou a transfe­
rência de grupo de participantes ou de assistidos, de plano de
benefícios e de reservas entre entidades fechadas sem prévia e ex­
pressa autorização da Secretaria de Previdência Complementar, tem
penalidade de multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser
cumulada com inabilitação de dois a dez anos.
Instituir ou manter estrutura organizacional em desacordo com
a forma determinada pela legislação ou manter membros nos órgãos
deliberativo, executivo ou fiscal sem o preenchimento dos requisitos
exigidos pela legislação, tem penalidade de multa de RS 10.000,00
(dez mil reais), podendo ser cumulada com inabilitação de dois a
cinco anos.
Deixar de prestar, manter desatualizadas ou prestar incorreta­
mente as informações relativas ao diretor responsável pelas aplica­
ções dos recursos do plano de benefícios da entidade fechada de
previdência complementar, bem como descumprir o prazo ou a for­
ma determinada, tem penalidade de multa de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento
e oitenta dias.

154
I Jeixar dc atender à Secretaria de Previdência Complementar
quanto à requisição de livros, notas técnicas ou quaisquer documen­
tos relativos aos planos de benefícios da entidade fechada de previ­
dência complementar, bem como quanto à solicitação de realização
de auditoria, ou causar qualquer embaraço à fiscalização do referido
órgão, tem penalidade de multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais),
podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo de até cento e oi­
tenta dias.
Deixar de prestar ou prestar fora do prazo ou de forma inade­
quada informações ou esclarecimentos específicos solicitados formal­
mente pela Secretaria de Previdência Complementar, tem penalidade
de multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser cumulada
com suspensão de até cento e oitenta dias.
Deixar os administradores e conselheiros ou ex-administrado-
res e ex-conselheiros de prestar informações ou esclarecimentos soli­
citados por administrador especial, interventor ou liquidante, tem
penalidade de multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser
cumulada com suspensão de até cento e oitenta dias.
Deixar, o interventor, de solicitar aprovação prévia e expressa da
Secretaria de Previdência Complementar para os atos que impliquem
oneração ou disposição do patrimônio do plano de benefícios da en­
tidade fechada de previdência complementar, nos termos disciplina­
dos pelo referido órgão, tem penalidade de multa de RS 10.000,00
(dez mil reais).
Incluir, o liquidante, no quadro geral de credores habilitação de
crédito indevida ou omitir crédito de que tenha conhecimento, tem
penalidade de multa de RS 10.000,00 (dez mil reais).
Deixar de promover a execução judicial de dívida do patrocina­
dor de plano de benefícios de entidade fechada de previdência com­
plementar, nos termos do art. 62 deste Decreto, tem penalidade de
multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), podendo ser cumulada com

155
suspensão de até cento e oitenta dias ou com inabilitação de dois a
dez anos.
Deixar de comunicar à Secretaria de Previdência Complementar
a inadimplência do patrocinador pela não-efetivação das contribui­
ções normais ou extraordinárias a que estiver obrigado, na forma do
regulamento do plano de benefícios ou de outros instrumentos con­
tratuais, tem penalidade de multa de RS 20.000,00 (vinte mil reais),
podendo ser cumulada com suspensão de até cento e oitenta dias.
Alienar ou onerar, sob qualquer forma, bem abrangido por in­
disponibilidade legal resultante de intervenção ou de liquidação ex­
trajudicial da entidade fechada de previdência complementar, tem
penalidade de multa de RS 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), po-
(lendo ser cumulada com inabilitação pelo prazo de dois a cinco anos.
Exercer atividade própria das entidades fechadas de previdência
complementar sem a autorização devida da Secretaria de Previdên­
cia Complementar, inclusive a comercialização de planos de benefí­
cios, bem como a captação ou a administração de recursos de terceiros
com o objetivo de, direta ou indiretamente, adquirir ou conceder be­
nefícios previdenciários sob qualquer forma, tem penalidade de mul­
ta de RI 2.000,00 (dois mil reais) a RS 1.000.000,00 (um milhão de
reais) e inabilitação pelo prazo de dois a dez anos.
Realizar em nome da entidade fechada de previdência comple-
inentar operação comercial ou financeira, vedada pela legislação, com
pessoas físicas ou jurídicas, tem penalidade de multa de RS 20.000,00
(vinte mil reais), podendo ser cumulada com suspensão pelo prazo
dc até sessenta dias.
Permitir que participante, vinculado a plano de benefícios pa-
t rocinado por órgão, empresa ou entidade pública, entre em gozo de
benefício sem observância dos incisos I e II do art. 3o da Lei Com­
plementar n° 108 (carência mínima de sessenta contribuições men­
sais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o patrocinador,

156
para se tornar elegível a um benefício dc prestação que seja progra­
mada e continuada; e concessão de benefício pelo regime de previ­
dência ao qual o participante esteja filiado por intermédio de seu
patrocinador, quando se tratar de plano na modalidade benefício de­
finido, instituído depois da publicação da Lei Complementar n° 108),
tem penalidade de multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais), podendo
ser cumulada com suspensão pelo prazo de até trinta dias.
Permitir o repasse de ganhos de produtividade, abono ou vanta­
gens de qualquer natureza para o reajuste dos benefícios em manu­
tenção em plano de benefícios patrocinado por órgão ou entidade
pública, tem penalidade de advertência ou multa de R$ 10.000,00
(dez mil reais).
Elevar a contribuição de patrocinador sem prévia manifestação
do órgão responsável pela supervisão, pela coordenação e pelo con­
trole de patrocinador na esfera de órgão ou entidade pública, tem
penalidade de advertência ou multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Cobrar do patrocinador na esfera de órgão ou entidade pública
contribuição normal excedente à do conjunto dos participantes e as­
sistidos a eles vinculados ou encargos adicionais para financiamento
dos planos de benefícios, além dos previstos no plano de custeio, tem
penalidade de advertência ou multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Cobrar despesa administrativa do patrocinador na esfera de ór­
gão ou entidade pública ou dos participantes e assistidos sem obser­
vância dos limites e critérios estabelecidos pelo Conselho de Gestão
da Previdência Complementar ou pela Secretaria de Previdência
Complementar, tem penalidade de advertência ou multa de R$
10.000,00 (dez mil reais).
Exercer em nome de entidade fechada de previdência complemen­
tar patrocinada por órgão ou entidade pública o controle de sociedade
anônima ou participar em acordo de acionistas, que tenha por objeto
formação de grupo de controle de sociedade anônima, sem prévia e ex­

157
pressa autorização do patrocinador c do seu respectivo ente controlador,
tem penalidade de multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), podendo
ser cumulada com inabilitação pelo prazo de dois anos.
9 .8 .1 0 . S ú m u l a n° 291

Dispõe a Súmula n° 291:


“A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposen­
tadoria pela previdência privada prescreve em cinco anos”.
A indigitada Súmula confirma o que estabelece o art. 75 da Lei
Complementar n° 109:
“Sem prejuízo do benefício, prescreve em cinco anos o direito às
prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguar­
dados os direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dos
ausentes, na forma do Código Civil”.
As condições de elegibilidade (requisitos para a obtenção dos
benefícios) permitem ao participante incorporar ao seu patrimônio
jurídico o direito ao benefício.
A incorporação ao seu patrimônio jurídico do direito ao benefí­
cio é um direito adquirido do participante (dentro de uma situação
jurídica consolidada).
Está consignado no parágrafo Io do art. 68 da Lei Complemen­
tar n° 109 que o direito adquirido do participante sobre os benefícios
se aperfeiçoa quando implementadas todas as condições estabeleci­
das para elegibilidade, consignadas na lei e no regulamento do res­
pectivo plano.
Condições de elegibilidade são os requisitos legais/contratuais
para a obtenção do benefício previdenciário privado.
Mesmo tendo incorporado o direito ao benefício previdenciário
privado, o agora assistido (pois passou de participante a sujeito que
faz jus a benefício) não pode agir com incúria no recebimento dos
valores do benefício. Não haverá perda do direito ao benefício, mas

158
pode haver perda do direito de ação (prescrição) das parcelas (presta­
ções) não pagas nem reclamadas na época própria.
Como os benefícios previdenciários constituem um direito ad­
quirido, esses estariam protegidos de acordo com o art. 5°’XXXVI,
“verbis”: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico per­
feito e a coisa julgada”
Deve-se ressaltar que o artigo 5° consiste em cláusula pétrea,
protegido pelo art. 60, parágrafo 4o, inciso IV da Carta Magna.
O direito ao benefício não se extingue em cinco anos, extinguin-
do-se somente o direito de postular em Juízo as parcelas (prestações)
não pagas nem reclamadas na época própria.
Não se confunde o direito ao benefício com o “direito em forma­
ção”, figura típica no Direito Previdenciário.
Direito em formação é a soma de situações jurídicas, e já se cons­
titui num direito consolidado e merece tutela jurisdicional.
Anníbal Fernandes45 preleciona: “Qualquer alteração da lei ou
emenda à Carta não pode sobrepor-se ao respeito aos direitos já ad­
quiridos ou àqueles em formação. Grife-se que, na maioria dos casos,
o que se apelida expectativa de direito é direito em formação. Integra o
tipo de direito adquirido, porque este é garantido contra mudança uni­
lateral, motivada pelo arbítrio de outrem (inclusive lei etc.). Cite-se en
passant a lei portuguesa e a espanhola (v. nossa ‘Poder Econômico ver­
sus Previdência Social’, Tribuna da Justiça, SP)”.
Tanto o direito adquirido, quanto o direito expectativo (in fieri),
já foi acumulado pelos participantes.
Não existe a perda do direito ao benefício em si, no prazo de
cinco anos. O que existe é apenas a impossibilidade jurídica de obten-

45 Jornal do 109 Congresso Brasileiro de Previdência Social. São Paulo: Ltr, 28 e 29 de


julho de 1997, p. 16.

159
çáo tias parcelas prescritas, fato perfeitamente adaptado à figura da
prescrição, dentro da estabilidade e segurança jurídica.

10. N a t u r e z a ju r íd ic a d a P r e v id ê n c ia P r iv a d a

A natureza jurídica da Previdência Privada está centrada na su-


pletividade facultativa da Previdência Social, dentro do âmbito de pro­
teção social. Podemos dizer que a relação jurídica previdenciária
privada se desenvolve por meio de um contrato de trato sucessivo,
aleatório e de adesão, caracterizando, em princípio, um mútuo secu­
ritário de consumo. O plano previdenciário privado será regido, den­
tro dos critérios legais, por um regulamento, que pode ou não estar
inserido no próprio corpo do contrato. Desta relação sobressai um
direito líquido e certo, facilmente comprovável mediante documen­
tação contratual.
Estas observações são importantes para o embasamento do ca­
ráter institucional ou contratual da Previdência Privada.
Novamente, nos arvoramos na lição de Arion Sayão Romita46:
“a relação jurídica de previdência privada apresenta-se como relação
complexa, unitária, de trato sucessivo, onerosa, sinalagmática, alea­
tória, de direito privado e facultativa”.
A relação é complexa por haver um conjunto intricado de rela­
ções entre sujeitos, envolvendo as figuras jurídicas dos participantes,
assistidos, beneficiários, patrocinadoras, instituidoras e entidades de
Previdência Privada (abertas e fechadas).
E unitária, por ser oriunda de um conjunto de normas jurídi­
cas que estabelecem este complexo de relações entre sujeitos (mul­
tiplicidade de relações jurídicas surgidas a partir da permissão pelo
ordenamento jurídico).
46 ROMITA, Arion Sayão. Estrutura da relação de previdência privada (entidades fecha­
das). São Paulo: LTR. Revista de Previdência Social, v 25, n° 252, p. -783, novembro
de 2001.

160
A onerosidade é imprescindível à relação, pois se o participante
não estiver pagando as contribuições, certamente o patrocinador o
estará fazendo, tendo em vista que o pagamento do benefício depen­
derá desse aporte financeiro cotizador dos fundos.
São sujeitos da relação: participantes, assistidos, beneficiários,
entidades fechadas, entidades abertas, patrocinadoras, instituidores,
e até mesmo o Estado, como órgão regulador e fiscalizador.
O trato sucessivo relativo à relação jurídica em análise é percep­
tível no diferimento dos benefícios. A essência da Previdência Priva­
da é esta: o pagamento de benefícios de forma reiterada e contínua,
por um período definido ou indefinido. Todos os períodos de benefí­
cios são predeterminados em contrato, mas uns têm duração defini­
da a priori (v. g.: plano de aposentadoria dos 60 aos 80 anos de idade,
com valores maiores), outros não possuem prazo final estipulado (v.g.:
plano de aposentadoria a partir dos 60 anos de idade, com valores
relativamente menores, mas até a morte do participante).
Alguns planos, como o VGBL, prevêem a transferência desta
sucessividade (diferimento) para o beneficiário. Beneficiária é a pes­
soa indicada pelo participante para receber benefícios previstos no
plano, em decorrência de determinado evento gerador - contingên­
cia (geralmente a morte do participante).
Excepcionalmente, o benefício previdenciário privado pode ser
pago de uma só vez, quando o contrato de adesão o permitir. Este
pagamento único, no entanto, no mais das vezes, está condicionado a
quantias menores, conhecida nos EUA como lump sum Benefit (por
se tratar de uma quantia global e única).
A álea da relação contratual encontra-se na possibilidade ou não
do evento/contingência acontecer. Caso o contrato preveja aposenta­
doria aos 60 anos, sem cláusula prevendo o falecimento, e o partici­
pante morre, o fato é aleatório, passando então os valores sob titularidade
do participante “de cujus” para a esfera dos direitos sucessórios.

161
Por outro lado, sc houver previsão contratual dc falecimento çom
beneficiário, também se tratará de contrato aleatório, pois a morte
não tem data para visitar o participante.
O contrato entre os sujeitos da relação tem natureza de adesão,
até pelo formato difundido e disperso do sistema, que seria inviável
para a disseminação social se fosse feito por meio de contratos indi­
viduais. Para que os planos tenham praticidade, os contratos têm de
ser genéricos (do ponto de vista pessoal), da mesma forma que há
diversas opções de aplicações financeiras bancárias em que o aplica-
dor adere tacitamente a um contrato ao fazer a aplicação.
A característica de mútuo securitário advém da própria onero-
sidade, em que há um mútuo na contribuição (em dinheiro) com
retorno do benefício (em dinheiro), com aspecto de seguro inerente­
mente ligado à já comentada álea.
Quanto ao sinalagma, vemos que se há uma bilateralidade de adim-
plências na contribuição em contraprestação do benefício (e vice-versa).
A relação é de Direito Privado, por envolver o contexto particu­
lar da sociedade, embora esteja acompanhando matérias típicas de
Direito Público. Mesmo assim, ainda há conexões intrínsecas com o
chamado Direito Social.
Relação inclusive de consumo, pois, tecnicamente, o participante
se enquadra como consumidor, na medida em que é destinatário fi­
nal do serviço prestado pela entidade de Previdência Privada forne­
cedora do serviço de previdência (securitária), explicitamente previsto
no § 2o do art. 3o do Código de Defesa do Consumidor. O partici­
pante pode eventualmente ser considerado hipossuficiente nesta re­
lação jurídica em eventuais contendas judiciais.
Tal relação jurídica existente entre participante e entidade de
Previdência Privada pode ser de consumo, seja em razão do contra­
to de adesão, seja em razão do serviço prestado (posto à disposição
do público em geral).

162
Segundo os artigos 2o e 3o do Código de Defesa do Consu­
midor - CD C, o participante se enquadra como consumidor na
medida em que é destinatário final do serviço prestado pela enti­
dade Previdência Privada, a qual, por sua vez, enquadra-se como
fornecedora de serviço previdenciário (seguro), explicitamente
previsto no § 2o do artigo 3o do CDC. Estamos diante de uma
verdadeira relação de consumo, e o reconhecimento da natureza
jurídica dessa relação tem o condão de fixar os parâmetros segun­
do os quais as cláusulas contratuais em discussão, bem como a
situação fática, serão analisadas (à luz do Código de Defesa do
Consumidor - CDC).
Preconiza Maria da Glória Chagas Arruda47 a aplicação da re­
lação de consumo somente para a Previdência Privada aberta “A Pre­
vidência Privada aberta consubstancia-se em autêntica relação de
consumo”.
Como são sociedades anônimas com natural finalidade lucra­
tiva, as entidades abertas não despertam discussão sobre a sua ca­
racterização como fornecedoras de serviços (colocando seus
participantes como consumidores). Os planos destas entidades são
acessíveis a quaisquer pessoas (físicas, em planos individuais e jurí­
dicas, nos planos coletivos), e sua qualificação comercial pela ex­
ploração da atividade de fornecimento dos serviços securitários/
previdenciários visando a obtenção de lucro é nitidamente de rela­
ção de consumo.
Há celeuma sobre a aplicação do Código de Defesa do Consu­
midor nas relações jurídicas envolvendo entidades fechadas. Enten­
demos que as entidades fechadas não podem receber o mesmo
enquadramento das abertas na aplicação do Código de Defesa do
Consumidor.

47 A RRUD A, Maria da C. Chagas. A Previdência Privada Aberta como Relação de Con­


sumo. São Paulo: Ltr. 2004, p. 226.

163
Os fundos de pensão são fundações (o atual Código Civil
não recepcionou a figura jurídica de sociedade civil sem fins lu­
crativos), e por sua própria natureza filantrópica já não permite
fins lucrativos (a Lei Complementar n° 109 reitera a proibição de
finalidade lucrativa dos fundos de pensão). Porém, a falta de fina­
lidade lucrativa, por si, não exime a responsabilidade perante o
Código de Defesa do Consumidor. Empresas públicas (não po­
dem visar lucro) podem ser enquadradas como fornecedoras de
produtos ou serviços. Essencialmente, porém, os fundos de pen­
são são constituídos em suas estruturas internas por participan-
tcs. Os participantes possuem ingerência efetiva sobre a
administração da entidade fechada; o que não se passa nas enti­
dades abertas ou empresas públicas.
O art. 4o do Código de Defesa do Consumidor determina a
ação do Estado para garantia da harmonização dos interesses das
partes na relação de consumo. Os fundos de pensão, pela participa­
ção intrínseca dos participantes, permite uma harmonização auto-
compositiva.
Outro argumento reverberante pesa sobre o contrato de adesão.
O art. 54 do Código de Defesa do Consumidor dita que contrato de
adesão é estabelecido unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar subs­
tancialmente seu conteúdo. Parece ser o caso dos fundos de pensão;
mas não é.
Os contratos de adesão de entidades fechadas são estabeleci­
dos unilateralmente, sem que o participante possa discutir ou mo­
dificar substancialmente seus conteúdos. Entretanto, não é porque
há contrato de adesão que a relação é de consumo. Fundos de pen­
são não são fornecedores de serviços de consumo. O art. 3o do Có­
digo de Defesa do Consumidor conceitua serviços de consumo
(proporcionado por fornecedores) como atividade fornecida no
mercado.

164
Os fundos de pensão não ofertam seus planos no mercado, até
porque deve haver vinculação do participante com patrocinador ou
instituidor para ingresso no plano fechado.
Dentre a parca jurisprudência sobre o assunto, podemos citar:
“EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA - Ré: entidade
de Previdência Privada sem fins lucrativos. Inexistência de
relação de consumo —art. 100, IV, a e ddo Código de Pro­
cesso Civil - Recurso Provido.
(...) Não se trata, assim, de contrato regido pelas normas do
Código de Defesa do Consumidor porque além de não ter
a natureza de relação de consumo, o benefício pleiteado
pelo agravado na ação ordinária é limitado àqueles empre­
gados das provedoras que se filiarem aos respectivos planos
e não a todas as pessoas indistintamente (...)”
(TJSP - AI 163.840.5/1-4* Câmara, Rel. Dês. Brenno
Marcondes - VU, julg. 25.05.2000).
O art. 3o do Código de Defesa do Consumidor frisa a exceção
dc serviço ao consumidor como aquele decorrente de relações de ca­
ráter trabalhista. Há discussão ainda se a relação entre participante e
fundo de pensão é de competência da Justiça do Trabalho. Se assim
ficar pacificado, mais um motivo de exclusão da abrangência do Có­
digo de Defesa do Consumidor.
Quanto à facultatividade, esta é fruto do “caput” do art. 202 da
Constituição Federal, que explicita que a Previdência Privada será
facultativa. Ninguém é obrigado a aderir a um plano previdenciário
privado (diferentemente da Argentina, onde o sistema híbrido obri­
ga que haja contribuições para fundos de pensão).
Seria inconstitucional uma obrigatoriedade de vinculação im­
posta por Lei Complementar, já que o texto do citado art. 202, caput,
da Constituição da República, é categórico ao afirmar que o regime
de Previdência Privada “será facultativo”.

165
Não poderia a Lei Complementar, portanto, subverter a hierar­
quia legal, lembrando que essa facultatividade foi imposta mesmo
após as alterações da Emenda n° 20, demonstrando que a vontade
recente do legislador constitucional brasileiro não abraçou a vincula­
ção obrigatória ao regime complementar.
Entretanto, mediante outra Emenda Constitucional, isso pode
mudar, embora o momento correto dessa alteração fosse com a Emen­
da n° 20. Alterar novamente esse assunto denotaria, mais uma vez, a
instabilidade reinante no campo previdenciário brasileiro.
Notemos que as relações jurídicas na Previdência Privada estão
relacionadas às partes envolvidas na relação contratual. Muito de­
penderá nestas relações de qual divisão da Previdência Privada se
analisa. Na Previdência Privada aberta, as relações jurídicas são as
menos complexas.
Em planos individuais está a manifestação mais simples de rela­
ção jurídica previdenciária privada: de um lado há a entidade aberta
oferecendo o plano, e de outro lado há o aderente/participante. Esta
é a relação jurídica previdenciária privada mais singela, não havendo
situações similares nem em planos coletivos abertos, tampouco na
I'revidência Privada fechada.
O espírito da lei foi colocar pessoa jurídica contratante no
sentido do vínculo empregatício. Os grupos de pessoas físicas vin­
culadas poderão ser constituídos por uma ou mais categorias es­
pecíficas de empregados de um mesmo empregador, podendo
abranger empresas coligadas, controladas ou subsidiárias, e por
membros de associações legalmente constituídas, de caráter pro­
fissional ou classista, e seus cônjuges ou companheiros e depen­
dentes econômicos.
A Lei Complementar n° 109, em seu art. 26, inciso II, parágrafo
4o, equiparara aos empregados e associados das pessoas jurídicas con-
t rates, e suas filiadas, os diretores, conselheiros ocupantes de cargos

166
eletivos c outros dirigentes ou gerentes da pessoa jurídica contratan­
te c suas filiadas.
Existe uma multiplicidade de partes envolvidas na relação jurídica
previdenciária aberta em planos coletivos, onde a empregadora é quem
contrata o plano (o participante também ingressa no campo contratual,
mas não tem a iniciativa inicial de criação do plano para o grupo restri­
to). Em planos individuais, o contratante é o próprio participante.
Em se tratando de Previdência Privada fechada, a complexidade
da relação jurídica previdenciária é máxima. A estrutura da relação é
semelhante à existente nos planos abertos coletivos, mas o alicerce da
entidade abrange as partes contratantes, o que não ocorre no ramo
aberto coletivo.
Sendo uma fundação (o novo Código Civil não recepcionou
a figura da sociedade civil sem fins lucrativos, e, portanto só po­
dem ser fundações), a entidade fechada tem seus órgãos internos,
com representantes dos participantes, assistidos (o estatuto deve­
rá prever representação dos participantes e assistidos nos conse­
lhos deliberativo e fiscal, assegurado a eles no mínimo um terço
das vagas).
Patrocinador e participantes fazem parte da estrutura interna da
entidade, causando conexões jurídicas que inexistem no ramo aber­
to. Esta complexidade acarreta reflexos jurídicos que interferem in­
clusive na órbita de responsabilidade civil e criminal das partes.
São sujeitos da relação: participantes, assistidos, beneficiários,
entidades fechadas, entidades abertas, patrocinadoras e instituidores.
A inserção do Estado como parte da relação jurídica previdenciária
privada é delimitada: o Estado só será parte na figura de patrocina­
dor, e não como ente regulador ou fiscalizador.
Portanto, a relação jurídica previdenciária privada se desen­
volve por meio de um contrato de trato sucessivo, aleatório e de
adesão, caracterizando, em princípio, um mútuo securitário de

167
consumo. A natureza tia relação jurídica na Previdência Privada
está centrada na supletividade facultativa da Previdência Social,
dentro do âmbito de proteção social. A facultatividade é fruto do
“caput” do art. 202 da Constituição Federal, que explicita que a
IYevidência Privada será facultativa.
A complexidade jurídica da relação se deve ao conjunto intrica­
do dc relações entre sujeitos, envolvendo as figuras jurídicas dos par­
ticipantes, assistidos, beneficiários, patrocinadoras, instituidoras, e
entidades de Previdência Privada (abertas e fechadas).
A relação jurídica entre participante, patrocinador e entida­
de é onerosa, pois há sacrifício patrimonial para os contratantes.
Numa relação simples entre participante e entidade o dispêndio
será recíproco (em épocas distintas). Numa relação entre partici­
pante, patrocinador e entidade, se o participante não estiver con­
tratualm ente obrigado a pagar contribuições, certam ente o
patrocinador o estará, tendo em vista que o pagamento do benefí­
cio dependerá desse aporte financeiro cotizador dos fundos (e esta
contribuição sai indiretamente do bolso do participante, porque
se não estivesse contribuindo em nome do empregado, o patroci­
nador estaria empregando estes recursos no pagamento direto ao
empregado).
O pagamento de benefícios de forma reiterada e contínua, por
um período definido ou indefinido é a essência da Previdência Pri­
vada. Todos os períodos de benefícios são predeterminados em con­
trato, mas uns têm duração definida a priori (v.g.: plano de
aposentadoria dos 60 aos 80 anos de idade, com valores maiores),
outros não possuem prazo final estipulado (v.g.: plano de aposenta­
doria a partir dos 60 anos de idade, com valores relativamente me­
nores, mas até a morte do participante).
A relação é de Direito Privado porque envolve o contexto par­
ticular, embora esteja acompanhando matérias típicas de Direito
Público. Se o Estado for parte na relação, figurará como particular.

168
Mesmo sendo relação de Direito Privado, ainda há conexões
intrínsecas com o chamado Direito Social. O mestre Cesarino Jú­
nior411 definiu Direito Social como “a ciência dos princípios e leis
geralmente imperativas, cujo objetivo imediato é, tendo em vista o
bem comum, auxiliar as pessoas físicas, dependentes do produto de
seu trabalho para a subsistência própria e de suas famílias, a satisfa­
zerem convenientemente suas necessidades vitais e ter acesso à pro­
priedade privada”.
Importante a citação do Direito Social, cuja natureza de prote­
ção dos hipossuficientes se manifesta não somente no Direito Previ­
denciário, como também no trabalhista. Se o liame da Previdência
Privada com o Direito Social causasse a inclusão no ramo do Direito
Público, as relações de consumo também iriam pelo mesmo raciocí­
nio, o que não procede.
1 0 .1 . C o ntrato de a d esão

Preleciona Sílvio Rodrigues49, sobre o contrato de adesão, que


“as cláusulas são todas previamente estipuladas por uma das partes,
de modo que a outra, no geral mais fraca e na necessidade de contra­
tar, não tem poderes para debater as condições, nem introduzir mo­
dificações no esquema proposto”. Diz ainda Sílvio Rodrigues50 que
o aderente (contraente) “aceita tudo em bloco ou recusa tudo por
inteiro”.
Como foi dito, o acordo de vontades, livremente pactuado entre
as partes envolvidas na relação jurídica de Previdência Privada, se dá
por adesão. Não há coação, pois o contraente pode rejeitar o contra­
to, sem sanção (inexiste vício de vontade). Na dúvida, interpreta-se o
contrato em favor do participante.

48 CESARINO JÚ N IO R , Antonio Ferreira. Direito social. São Paulo: LTr, 1980, p. 48.
49 RO D RIG U ES, Sílvio. Direito civil. 10a ed.. São Paulo: Saraiva, v. III, 1980, p. 45.
50 RO D RIGU ES, Sílvio. Direito civil. 10a ed.. São Paulo: Saraiva, v. III, 1980, p. 45.

169
A Lei Complementar n° 109 fala em convênio de adesão para
entidades fechadas. Seria improdutivo haver contratos dc Previ­
dência Privada fechada que não sejam de adesão, dado o volume de
pessoas envolvidas (a própria lei obriga esta forma de contratação).
Entidades abertas, porém, podem formalizar contratos indivi­
dualizados, que não sejam de adesão. A lei permite claramente quan­
do por diversas vezes frisa que as entidades fechadas têm contrato
dc adesão, e exclui expressamente as abertas desta obrigação. O art.
45 da Lei Complementar n° 109 chega a distinguir “convênios de
adesão” e “contratos dos planos coletivos” (de entidades abertas).
Pragmaticamente, no contexto da Previdência Privada, os con-
t ratos são usualmente de adesão, até pelo formato difundido e dis­
perso do sistema, que seria inviável para a disseminação social se fosse
feito por meio de contratos individuais.
Sob os auspícios da praticidade, os contratos têm de ser genéricos
(do ponto de vista pessoal), da mesma forma que há diversas opções de
aplicações financeiras bancárias onde o aplicador adere tacitamente a
um contrato ao fazer a aplicação. Nos planos fechados a isonomia en­
tre participantes é mais um fatór de obrigação de contrato padrão.
10.1 .1 . FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO PREVIDENCIÁRIO PRIVADO

As inovações que serão trazidas pelo novo Código Civil deverão


ser analisadas, pois dentro da contratualidade haverá interferência no
contexto previdenciário privado. Há um repertório de direitos envol­
vendo o contrato previdenciário de adesão. Com o advento do novo
Código Civil, fica reforçada a proteção contratual do participante.
Primou-se, no novo Código, pelo fim do excessivo rigorismo
conceituai, fato que aumentará a dinâmica e a pragmática envolven­
do os contratos.
Estabelece a Parte Geral do novel Código, em seu art. 113, que
os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os

170
usos do lugar de sua celebração; e no art. 187, especifica que há co-
metimento de ato ilícito do titular de um direito que, ao exercê-lo,
excedc manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico
011 social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Para os participantes, esta será uma proteção que, apesar de não
ser específica, dará guarida às relações securitárias privadas, da mes­
ma maneira.
Importante também o art. 422, que se coloca como um prólogo
das relações contratuais, determinando que os contratantes são obri­
gados a guardar, tanto na conclusão do contrato, como em sua execu­
ção, os princípios de probidade e boa-fé.
Propugna Miguel Reale que “freqüente é no Projeto a referência
à probidade e a boa-fé, assim como à correção (correttezza) ao con­
trário do que ocorre no Código vigente, demasiado parcimonioso
nessa matéria, como se tudo pudesse ser regido por determinações
de caráter estritamente jurídicas”51.
Vemos claramente a influência do Direito Civil italiano so­
bre o novo Código Civil brasileiro. Em sua afirmação, o profes­
sor Reale estabelece como elemento norteador o termo italiano
“correttezza”. Para que a pesquisa sobre o assunto seja completa,
fomos buscar na fonte (Código Civil italiano) do que se trata
semelhante termo. Vários artigos do Código italiano estão rela­
cionados com a temática.
O artigo 1.337, ao referir-se às tratativas e à responsabilidade
pré-contratual, estabelece que as partes, no desenvolvimento das tra­
tativas e da formação do contrato, devem comportar-se segundo a
boa-fé (secondo buonafede).

51 REALE, M iguel. Visão geral do novo código c iv il. D isponível em: http:!!
www.chpesquisa.hpg.ig.com.brldireitolnovoccreale.htm. Acesso em 22 de maio de 2003.

171

\
Esta previsão da necessidade de boa-fé entre as partes é reiterada na
artigo 1.358 (que fala da manutenção da integridade dos direitos da ou­
tra parte), e nos artigos 1.366 (o contrato deve ser seguido e interpretado
segundo a boa-fé). Neste ponto da boa-fé, cabe lembrar o artigo 1.176,
que ressalta que no adimplemento das obrigações, o devedor deve demons­
trar a diligência do buon padre difamiglia {bonuspaterfamílias latino).
O contrato, mesmo o de adesão, é norteado pela boa-fé (buona
fede italiana). A malícia não é tolerada pelo direito civil, pois nela o
ingênuo de índole pura fatalmente é prejudicado pelo contratante
malicioso. Notamos até a previsão romana do “bonus pater famílias”,
que é o homem médio, que deve agir com retidão, não precisando ser
parvo, mas evitando ser malicioso.
Especificamente sobre a “correttezza” literalmente mencionada
pelo professor Reale, temos as seguintes previsões civis italianas:
Artigo 1.175: Estabelece que devedor e credor devem comportar-
se segundo a regra da “correttezza”.
Correttezza tem o sentido de justo, correto. A equidade é ele­
mentar neste caso. Por ser um contrato de adesão, o contrato pre­
videnciário privado está baseado nesta regra de isonomia, onde
trata-se os desiguais desigualmente e iguais igualmente. Os limi­
tes da função social do contrato estão delineados nesta retidão
contratual justa, segundo a qual o participante não deve ser preju­
dicado (já que contrata visando algo socialmente nobre: aposen­
tadoria) por cláusulas leoninas.
Indo mais a lundo desta retidão dos contraentes, lembramos a lati­
na máxima boa-fé (uberrimafides)\ sem ela o tecido social fica esgarçado.
O citado professor Miguel Reale52nos mostra outro princí­
pio observado que respalda o bem jurídico protegido que diz res­

52 R EA LE, M igu el. Visão g eral do novo código c iv il. D isponível em: http://
www.chpesquisa.hpg.ig.com.br/direito/novoccreale.htm. Acesso em 22 de maio de 2003.

172
peito ao presente estudo, até mesmo pelo seu aspecto de proteção
social:
“A SOCIALIDADE - É constante o objetivo do novo
Código no sentido de superar o manifesto caráter indivi­
dualista da Lei vigente, feita para um País ainda eminen­
temente agrícola, com cerca de 80% da população no cam­
po. Hoje em dia, vive o povo brasileiro nas cidades, na
mesma proporção de 80%, o que representa uma alteração
de 180 graus na mentalidade reinante, inclusive em razão
dos meios de comunicação, como o rádio e a televisão.
Daí o predomínio do social sobre o individual” (desta­
ques nossos).
Dado o caráter precipuamente social do contrato de Previdên­
cia Privada (tem até o condão constitucional de caráter alimentar), as
novas previsões civis darão grande suporte ao participante.
Continua o Mestre Miguel Reale53, enaltecendo o “imperativo
da socialidade”, como declarado na função social do contrato previs­
to pelo art. 421, que estabelece que a liberdade de contratar será exer­
cida em razão e nos limites da função social do contrato.
Como os contratos previdenciários privados são de adesão do
participante, estatui o art. 422 que existindo no contrato de adesão
cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpreta­
ção mais favorável ao aderente. Esta pendência legal em favor do
participante (aderente) é exemplar e confirma nosso pleito pela pro­
teção dos usuários de Previdência Privada.
A função social do contrato, até o advento do novo Código Civil,
era mais ligada ao Direito do Trabalho e ao contrato laborai. Houve
uma evidente influência do Direito Trabalhista sobre o Direito Civil.

53 R EA LE, M igu el. Visão g eral do novo código c iv il. D isponível em: http://
www.chpesquisa.hpg.ig.com.br/direito/novoccreale.htm. Acesso em 22 de maio de 2003.

173
Autores civilistas, como Maria I Iclena Diniz’1, ressaltam o as­
pecto patrimonial e econômico da relação contratual, porem salien­
tando a supremacia da ordem jurídica permeada pela função social
sobre a dinâmica do contrato.
Orlando Gomes55 nos mostra que a autonomia da vontade (vi­
são individualista) foi delimitada pela ordem pública. Assim, a liber­
dade de modificar o contrato fica restrita pelo ius cogens envolvendo
o interesse público (função social).
Carlos Alberto Goulart Ferreira56 bem lembra a necessidade de
equilíbrio contratual. Não seria um sacrifício da liberdade de contra­
tar, mas uma mitigação dela em prol da parte hipossuficiente. Esta
diminuição da liberdade contratual visa potencializar a isonomia das
partes para que haja uma efetiva dignidade social entre contratantes.
Isto tem muita influência na relação participante/entidade, pois na
maioria absoluta das vezes o participante será a parte hipossuficiente
da relação contratual.
As previsões do novo Código Civil afetam a esfera previdenciá­
ria contratual dos participantes, demonstrando que, se por um lado o
Estado fere direitos dos participantes, no caso da função social do
contrato houve um incremento da proteção.
--4 0 . 1 .2 . C a rá te r m isto d a previdência p rivad a: in s titu c io n a l e
CONTRATUAL

Temos plena noção de que o contrato previdenciário privado


(de adesão) não se manifesta com um mero contrato civil. Sergio
Pinto Martins57 caracteriza a Previdência Privada complementar, seja

54 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais
e extracontratuais. 17a ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 24.
!>!> C O M ES, Orlando. Contratos. 17a ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 28.
'>(> FERREIRA, Carlos Alberto Goulart. Contrato: da função social. RJ na 247 - maio de
1998, pág. 9.
r>7 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 17a ed, São Paulo: Atlas, 2002, p.
296.

174
e laaberta ou fechada, como “significativo método de proteção social,
com a complementação da previdência oficial” (destaques nossos).
Citamos Juliana Pressotto Pereira Netto58 na discussão da referi­
da proteção social: “as políticas de proteção social podem ser privadas,
quando o particular se dedica a essa atividade, ou públicas, quando
cabe ao Estado se manifestar e intervir em busca de soluções”. Com
esta asserção vemos o patamar de importância social da Previdência
Privada.
Celso Barroso Leite59 nos dá a definição de proteção social: “con­
junto de medidas de caráter social destinadas a atender a certas ne­
cessidades essenciais do indivíduo”. Estas necessidades, segundo o
autor citado60, têm repercussão sobre a sociedade, e estão ligadas a
um “padrão mínimo de vida” socialmente aceitável.
Como já afirmamos acima, no bojo da propalada proteção so­
cial e da manutenção de padrão de vida, existe uma referência cons­
titucional a ser respeitada. Faremos, dessa forma, uma composição
de idéias para concluir pela prevalência do caráter institucional
(oriundo da proteção social inerente) ou contratual da Previdência
Privada.
A predominância do caráter institucional acarretaria a possibili­
dade de mudanças dentro da relação jurídica que não estejam previs­
tas contratualmente. Uma lei posterior à adesão contratual poderia
vir a regrar matérias contidas no contrato, fato que erigiria uma ins­
tabilidade jurídica.
Por outro lado, a prevalência do caráter contratual vedaria o re-
gramento de lei posterior sobre o ato jurídico perfeito ocorrido, obs-
tando alterações sociais importantes.

58 NETTO, Juliana Pressotto Pereira. A previdência social em reforma. São Paulo: LTR,
2002, p. 141.
59 LEITE, Celso Barroso. A proteção social no Brasil. São Paulo, LTr, 1986, p. 20.
60 LEITE, Celso Barroso. A proteção social no Brasil. São Paulo, LTr, 1986, p. 25.

175
Acreditamos que haja um caráter misto (institucional e con­
tratual simultaneamente). O caráter institucional diz respeito ao
aspecto cogente envolvendo a matéria, ou seja, que não é passível
de pactuação com liberdade contratual das partes. O elemento co­
gente não está na obrigatoriedade de ingresso no sistema de Previ­
dência C om plem entar Privada (que é constitucionalm ente
facultativo); está na imposição de limites legais que cercam as li­
berdades contratuais. Uma vez que haja o ingresso no sistema, existe
uma esfera cogente envolvendo as relações jurídicas que transcen­
dem aquilo que foi contratado.
O fator que impede a supremacia contratual da relação jurídica
e a proteção social envolvida. Existe um cunho privado que fica deli­
mitado no campo de seguridade social. Assim, elementos relativos
ao contrato que sejam precipuamente negociais não devem ser inclu­
ídos no aspecto institucional, ou seja, não devem ser afetados por
novas legislações. Elementos contratuais que sejam precipuamente
sociais são passíveis de alteração excepcional por via legislativa.
Exemplo de afetação legislativa sobre o contrato de adesão pre­
videnciário é a portabilidade advinda com a Lei Complementar n°
109. Anteriormente a/lei não previa e muitos contratos vedavam. A
portabilidade é essenchj.1 ao novo contexto social do sistema, envol­
to no tripé flexibilidade, segurança e transparência. Com a portabi­
lidade, o participante encontra flexibilidade na transferência de suas
reservas técnicas, segurança por não precisar esperar a entidade que­
brar ou sacar o dinheiro debitado de imposto de renda, e transparên­
cia para verificar a real situação do plano.
Não podemos ser draconianos com o participante, pois seu pro­
pósito é socialmente nobre: obter aposentadoria.
A Previdência Privada envolve duas idéias principais: contrato e
benefício. Uma delineia a relação jurídica, a outra é o escopo princi­
pal da existência da Previdência Privada.

176
Concretiza-se uma delimitação da liberdade contratual na Pre­
vidência Privada, com uma inserção das previsões estatais no âmbito
dos contratos previdenciários. Mas a liberdade contratual não é eli­
minada. A interferência da lei e do próprio Estado em si (na fisca­
lização e regulamentação) é marcante, e pode não só limitar a liberdade
contratual, como alterar o próprio conteúdo contratual.
Entretanto, a intervenção estatal e legal só poderá afetar a subs­
tância do contrato que tiver relação com a proteção social envolvendo
a Seguridade Social.
O plano de Previdência Privada será sempre regido por um regu­
lamento interligado ao contrato de adesão. No regulamento estarão
necessariamente previstos todos os aspectos da entidade e do(s) plano(s),
sendo destarte um documento extenso, podendo ou não estar inserido
no próprio corpo do contrato.
O conjunto documental que formaliza a relação será composto
pelo contrato ou convênio de adesão, regulamentos dos planos de be­
nefícios, das propostas de inscrição e dos certificados de participantes.
O § Ia do art. 10, da Lei Complementar n° 109, comina que todo
potencial participante interessado será disponibilizado e a todo parti­
cipante entregue, quando de sua inscrição no plano de benefícios:
I - certificado onde estarão indicados os requisitos que regulam a
admissão e a manutenção da qualidade de participante, bem como
os requisitos de elegibilidade e forma de cálculo dos benefícios;
II - cópia do regulamento atualizado do plano de benefícios e ma­
terial explicativo que descreva, em linguagem simples e precisa, as
características do plano;
III - cópia do contrato, no caso de plano coletivo de entidade aberta.
Na divulgação dos planos de benefícios, não poderão ser incluí­
das informações diferentes das que figurem nestes documentos.
A documentação contratual não é a única a dispor sobre a relação
jurídica previdenciária, havendo outras documentações, como as aci­

177
ma mencionadas. Oeste corpo documental sobressai um direito li
quido e certo, facilmente comprobatório.
O exemplo mais evidente do caráter institucional da Previ­
dência Privada é o instituto da portabilidade. Até o advento da
Lei Complementar n° 109, a portabilidade não era prevista em
lei. Virtualmente nenhum contrato previdenciário privado a pre­
via. Após o aparecimento da Lei Complementar n° 109, o âmago
contratual teve de ser alterado (as entidades tiveram um prazo
para adaptar seus planos à nova lei). Na relação jurídica na qual
não foi pactuada portabilidade, a lei inseriu tal previsão.
A previsão da portabilidade tem cunho social, uma vez que
envolve a manutenção de recursos no sistema previdenciário, evi-
tando-se o egresso da poupança previdenciária. Daí sua inserção
no âmbito contratual, independente da vontade das partes.
A portabilidade é um exemplo de instituto que não existia e
foi instaurado totalmente na relação contratual previdenciária pri­
vada; mas há exemplos de institutos que já/eram previstos (mes­
mo por decreto) antes do advento da Lei Complementar n° 109,
mas que tiveram de ser adaptados ao novo contexto legal.
0 art. 14 da Lei Complementar n° 109Í prevê a obrigatorie­
dade da existência de quatro institutos no texto de todos os pla­
nos de Previdência Privada, mesmo aqueles anteriores à lei.
Tais institutos são:
1 - benefício proporcional diferido (vesting);
II - portabilidade;
III - resgate; e
IV - autopatrocínio.
A inserção compulsória destes institutos em planos anterio­
res à lei é fruto do caráter institucional da Previdência Privada.
Os contratos ligados a planos de Previdência Privada (aberta ou

178
fechada) que forem elaborados após a lei devem prever os institu­
tos acima enumerados; e os contratos de adesão que foram elabo­
rados antes da lei devem inserir a previsão dos institutos acima
enumerados.
Ressalta-se que não há um caráter institucional absoluto da
Previdência Privada, pois se houvesse não haveria sequer possibili­
dade de avença contratual. Também não há ofensa a ato jurídico
perfeito ou a direito adquirido, pois os direitos em questão (como
na portabilidade) são indisponíveis por força da vontade do legisla­
dor constitucional.
Nossa Constituição, em seu artigo 202, capuí, determina que:
“O regime de previdência privada, de caráter complem entar e
organizado de forma autônom a em relação ao regime geral de
previdência social, será facultativo, baseado na constituição de
reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei
complem entar”.
A própria Constituição da República já promoveu a dicotomia
contratual/institucional da Previdência Privada, quando se refere
ao benefício contratado, sendo um regime regulado por lei com­
plementar, demonstrando a preocupação do legislador constituinte
em ressaltar o lado contratual, ainda que regulado por lei.
Coexistem harmonicamente o contratado com o regulado.
O caráter misto (institucional e contratual simultaneamente)
é produto da própria Constituição. Havendo ingresso no sistema
de Previdência Privada, existe uma esfera cogente envolvendo as
relações jurídicas que transcendem aquilo que foi ou que está para
ser contratado.
H á liberdade contratual até o ponto em que passa a atuar o
caráter institucional, que diz respeito ao aspecto cogente.

179
11. C o m p e t ê n c ia d a ju s t iç a do tra ba lh o na

P R E V ID ÊN C IA PRIVADA

Percebe-se uma conexão sensível entre o Direito do Traba­


lho e o Direito Previdenciário é sobremaneira concatenado. O
cpítome desta ligação é a CTPS “Carteira de Trabalho e Previ­
dência Social”.
A teoria do risco social, onde situações sociais típicas devem
scr controladas e amparadas pelo Estado, evoca a proteção social e
a busca pela guarida do hipossuficiente, fatores peculiares a ambas
as disciplinas (in dubiopro misero).
Marcus Orione Gonçalves Correia61 ressalta essa aplicação:
“O acatamento a esta assertiva pelo direito previdenciário
talvez se origine da identidade de destinatários, nos
exórdios do direito social: tanto o previdenciarismo quanto
o trabalhismo jurídico entendiam-se somente sobre os em-
pregados, classe por conceituação sociológica,
despossuídos, de maneira a quem a pregação do princípio
da previdência social tenha sido invocada ala logicamente,
até fincar-se como soberano”. /
A autonomia da matéria previdenciária não obsta estaconexão,
sobretudo se fizermos um cotejamento com a Constituição de 1988.
O texto constitucional, dos arts. 194 a 204, estabelece o contexto da
Seguridade Social, que está dividida entre Previdência Social, Assis­
tência Social e Saúde. Sem dúvida, no âmbito da Seguridade Social,
a Previdência Social está associada ao Direito do Trabalho tanto no
campo fático quanto no jurídico.
Nos campos acadêmico, doutrinário, legal e jurisprudencial, há
uma aproximação inexorável entre os âmbitos trabalhista e previ­
denciário.

(>l Et al. Curso de Direito da Seguridade Social. São Paulo: Saraiva, 2001, pg. 53

180
Na seara jurídica, o arcabouço teórico do Direito Previdenciário
permeia intrinsecamente o Direito do Trabalho. Como bem assevera
Sergio Pinto Martins62:
“O direito da Seguridade social, entretanto, vai se abeberar
em vários conceitos oriundos do Direito do Trabalho, como
o de empregado (art. 3o da CLT), empregador (art. 2o da
CLT), remuneração (art. 457 da CLT), salário (art. 457 da
CLT), salário-o utilidade (art. 458 da CLT) etc. Também a
utiliza o direito da Seguridade Social conceitos advindos
da legislação trabalhista esparsa, como o de empregado do­
méstico (art. primeiro da Lei n° 5.859), de trabalhador tem­
porário (art. 16 do Decreto n° 73.841) etc.”
Para que possamos conjeturar de maneira didática, analisemos
um exemplo emblemático da vinculação do Direito Previdenciário
ao Direito do Trabalho: o art. 28 da Lei n° 8.212/91. Este artigo
estabelece o que integra e o que não integra o salário-de-contribui-
ção (base de cálculo da contribuição previdenciária ao INSS).
Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:
“I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração
auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade
dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título,
durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja
a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma
de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial,
quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à
disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa” (Redação dada pela Lei n° 9.528,
de 10.12.97) (destaques nossos).
De plano observa-se o emprego de termos como o de emprega­
do e trabalhador avulso. Na legislação previdenciária não existe a

62 Direito da Seguridade Social, p. 51.

181
definição do cpie seja empregado e muito menos do que seja traba­
lhador avulso.
Outro conceito muito utilizado no Direito Previdenciário de­
pende da noção trabalhista: empregador e tomador de serviços. O
conceito de empregador encontra-se estabelecido no art. 2o da Con­
solidação das Leis do Trabalho (considera-se empregador a empresa,
individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econô­
mica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço). A
idéia de tomador de serviços está pautada na terceirização da presta­
ção de serviços (relação jurídica tripartite, envolvendo o tomador de
serviços, o agenciador de mão-de-obra - prestador de serviços - e o
obreiro).
Tal conexão com o Direito do Trabalho se manifesta outrossim
na Previdência Privada. A Lei Complementar n° 109 menciona nu­
merosas vezes a figura do empregado e do empregador (tanto para
entidades abertas quanto fechadas), mas não define comc? se forma a
relação empregatícia. Cabe ao Direito do Trabalho nortear os quatro
requisitos da relação trabalhista (onerosidade, pessoalidade,\habitua-
1idade e subordinação).
Contribuir, em nome do empregado, para plano de Previdência
Privada não é ato de natureza retributiva ou contraprestaLva pelo
t rabalho, mas sempre há a exceção do salário indireto. Logo, a dis­
cussão sobre a competência da Justiça do Trabalho para julgar causas
envolvendo Previdência Privada é bem plausível. /
A afirmação de que a relação jurídica na Previdência Privada é
de Direito Privado não seria suficiente para considerar a competên­
cia jurisdicional cível comum a apropriada em definitivo ao contexto.
O constituinte de revisão criou um impasse, no parágrafo 2o do
art. 202 da Constituição:
“As contribuições do empregador, os benefícios e as con­
dições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e

182
planos de benefícios das entidades de previdência privada
não integram o contrato de trabalho dos participantes,
assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não in­
tegram a remuneração dos participantes, nos termos da
lei” (destaques nossos).
In Claris cessat interpretatio. Uma interpretação literal elide dúvi­
das sobre o assunto da Previdência Privada estar fora do contexto
trabalhista. A mens legis e a mens legislatoris são explícitas: excluir ques­
tões previdenciárias privadas da esfera trabalhista.
Infraconstitucionalmente, o parágrafo 2o do art 458 da Conso­
lidação das Leis do Trabalho, Decreto-lei n.° 5.452, de Io de maio de
1943, preceitua como utilidades concedidas pelo empregador que não
serão consideradas como salário:
(...)
VI - previdência privada (inciso incluído pela Lei n° 10.243, de
19.6.2001).
O legislador quer incentivar empregadores a proporcionar pla­
nos de Previdência Privada a seus empregados. Proporcionar e con­
tribuir para tais planos. Daí a exclusão da Previdência Privada da
esfera salarial, mesmo que haja habitualidade.
Como o labor está intimamente ligado ao Direito Previdenciário,
haja vista que as contribuições previdenciárias dependem dos frutos ob­
tidos com o trabalho humano, a vinculação entre Direito do Trabalho e
Previdenciário é marcante; por isto o legislador é enfático na distinção.
Havia uma obliteração da iniciativa dos empregadores em con­
tribuir para planos de Previdência Privada em nome de seus empre­
gados, pelo temor da vinculação salarial. Sabendo desta situação, a
legislação se direcionou no caminho da desvinculação entre Previ­
dência Privada e contrato de trabalho.
Por este motivo, o parágrafo 9o do art. 28 da Lei n° 8.212/91
determina que não integram o salário-de-contribuição:

183
“p) o valor ilas contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídi­
ca relativo a programa de previdência complementar, aberto ou
fechado, desde que disponível à totalidade de seus empregados e
dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9o e 468 da C L T ”.
Parece redundante, pois se o parágrafo 2o do art 458 da Conso­
lidação das Leis do Trabalho já estabelece a desvinculação da Previ­
dência Privada como forma de salário, e a contribuição social do
empregador está pautada na remuneração (salário mais gorjeta), não
seria exigível a contribuição do empregador.
A jurisprudência ainda não se pacificou em relação ao assunto,
apesar da clareza constitucional.
Principalmente em planos de Previdência Privada fechada, al­
guns aspectos da relação jurídica constam do próprio contrato de
t rabalho. Nenhum empregador está obrigado a oferecer tal vanta­
gem aos empregados; é uma liberalidade. Uma vez oferecida), porém,
deve ser cumprida a obrigação.
I
Judicialmente, até mesmo informações trabalhistas podem for­
mar corpo probatório previdenciário privado. Os salários-de-contri-
huição e outras informações cadastrais referentes à Carteira de Trabalho
e Previdência Social do participante, ou mesmo informações forneci­
das pela patrocinadora, adquirem presunção juris tantum. J
Segundo o Enunciado n° 12 do TST: “as anotações ^postas pelo
empregador na Carteira Profissional do empregado não geram pre­
sunção iuris et de iure, mas apenas iuris tantum . Caberia prova em
contrário das informações aludidas por parte da entidade de Previ­
dência Privada.
A relação jurídica é de Direito Privado, por envolver o contexto
particular da sociedade, embora esteja acompanhando matérias típi­
cas de Direito Público. Mesmo assim, ainda há conexões intrínsecas
com o chamado Direito Social. A competência para julgar os confli­
tos derivados da relação jurídica de Previdência Privada depende, em

184
princípio, da relação entre entidade e participante, sendo a Justiça
Cível Comum a competente, pois a relação previdenciária, nesse caso,
é puramente civil.
A questão é mais complexa quando as figuras do empregador e
do contrato de trabalho estão envolvidas na controvérsia judicial de
Previdência Privada.
Diante da desvinculação explícita que foi feita na Constituição,
a interpretação mais plausível sobre qual a competência em relação
ao vínculo entre patrocinadora e participante recai sobre a Justiça
Comum Estadual.
Se a União for patrocinadora, a competência seria atraída para a
Justiça Comum Federal, ainda assim comum.
Sobre o assunto, propugna Wladimir Novaes Martinez63: “Área
onde maior divergência subsiste diz respeito às relações entre a enti­
dade e o participante ou seus dependentes. Muitos juizes e tribunais
trabalhistas julgam-se competentes, mesmo quando da divisão dos
encargos do financiamento. Entendem, em razão da origem da enti­
dade e sua manutenção financeira, tratar-se de extensão da empresa
e a complementação reduzir-se-á a salário indireto”. (...) São rela­
ções civis-previdenciárias distanciadas do vínculo laborai em razão
do sujeito e dos objetivos”.
Nos casos onde constar o contrato de trabalho na relação jurídi­
ca previdenciária privada, nosso entendimento é no sentido da com­
petência da Justiça do Trabalho. Logo, tanto litígios em fundos de
pensão quanto em Previdência Privada aberta em planos coletivos
são objeto de análise da Justiça laborai. A proteção social corrobora o
raciocínio. O TST nos acompanha apenas quando se trata de fundos
de pensão.

63 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Primeiras lições de previdência complementar. São Paulo:


LTr, 1996, p.94.

185
1 1 .1 . E n t e n d im e n t o a t u a l d o t r ib u n a l s u p e r io r d o

TRABALHO

Para o Tribunal Superior do Trabalho, a Previdência Privada só


merece a apreciação judicial trabalhista em relação aos fundos de pen­
são. A Resolução n° 3/2003, do Conselho de Gestão da Previdência
Complementar - CGPC, possibilita a contribuição patronal em nome
dos empregados para planos de fundos instituídos, assemelhando a
conjuntura de análise jurisprudencial.
A sedimentação da jurisprudência do Tribunal Superior do Tra­
balho vem indicando a linha de raciocínio de fixação da competência
da Justiça do Trabalho quando a causa de pedir se assentar na rela
de emprego, mesmo que indiretamente.
A Justiça do Trabalho, para o Tribunal Superior do Trabalho, é
competente para dirimir a controvérsia previdenciária privada por­
que a causa remota do pedido de pagamento de complementação de
aposentadoria é o contrato de tçabalho. Ainda se tratando de obriga­
ção de natureza previdenciária, formalmente devida por entidade de
Previdência Privada, o TST reconhece a obrigação do ex-emprega-
dor, mediante o contrato de trabalho, de complementar, por inter­
posta pessoa, os proventos de aposentadoria.
A base da construção da jurisprudência dominante do Tribunal
Superior do Trabalho sobre a matéria de Previdência Privada é o art.
114 da Constituição Federal é que delimita a competência da Justiça
do Trabalho, dispondo:
Com pete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes
de direito público externo e da administração pública direta e indi­
reta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre
sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando
o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição tra­
balhista, ressalvado o disposto no art. 102,1, “o”;
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, de­
correntes da relação de trabalho;
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos
empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no
art. 195,1, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sen­
tenças que proferir;
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na
forma da lei
O litígio ligado à relação de trabalho coloca a Justiça Laborai
como a competente. A própria Constituição Federal, parágrafo 2o do
art. 202, exclui a relação do contrato de trabalho com as relações de
Previdência Privada, mas a base teleológica prevalece.
Exemplos da jurisprudência majoritária do Tribunal Superior
do Trabalho sobre Previdência Privada:
“IN CO M PETÊN CIA DA JUSTIÇA D O TRABALHO.
C O M PL E M E N T A Ç Ã O D E A PO SEN TA D O R IA .
Ainda que o pleito envolva obrigação devida por entidade
de previdência privada, insere-se no âmbito da competên­
cia desta Justiça Especial conhecer e julgar a matéria relati­
va à complementação de aposentadoria, porquanto a enti­
dade de previdência privada foi instituída e mantida pelo
ex-empregador, que se obrigou mediante o contrato de tra­
balho a complementar, por interposta pessoa, os proventos
de aposentadoria. Inexistência de ofensa ao art. 896 da CLT.
Embargos não conhecidos”. E-RR - 87781/2003-900-21-
00 - DJ - 18/06/2004 - SD Il, Relator: Ministro Lélio
Bentes Correa.

187
“AGRAVO DE INSTRUM ENTO l)A SASSE. I. IN­
C O M P E T Ê N C IA M A TERIA L DA JU ST IÇ A DO
TRABALHO. PAGAM ENTO DE ABONOS A JU BI-
LADOS. ART. 114 DA CARTA MAGNA. Inarredável a
conclusão de que, sendo a complementação de aposenta­
doria originária do próprio contrato de trabalho, ainda que
detenha utilidade previdenciária, impossível excluí-la da
competência desta justiça especializada. No caso vertente,
a ação foi proposta pela empregada em face da caixa econô­
mica federal e da entidade de previdência privada. Assim,
não há cogitar-se em malferimento do art. 114 da consti­
tuição federal”. AIRR - 65599/2002-900-03-00 - DJ - 18/
06/2004 - 3a Turma, Relatora: Juíza Convocada W ilma
Nogueira de Araújo Vaz da Silva.
“P R O C E D IM E N T O SU M A RÍSSIM O C E F - IN ­
C O M PE T Ê N C IA DA JU STIÇA D O TRA BA LH O
COM PLEM ENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. Para
a fixação da competência da Justiça do Trabalho, cumpre
examinar-se qual a natureza do pedido feito em Juízo: se
vinculado ao contrato de trabalho ou ao contrato de adesão
a plano de previdência privada. O Regional, ao declarar a
competência da Justiça do Trabalho, conclui que o pedido
decorre do contrato de trabalho. No contexto em que foi
decidida a matéria, não há margem para se concluir pela
violação do artigo 114 da Constituição Federal, uma vez
que causa de pedir se assenta na própria relação de empre­
go entre a reclamante e a CEF. Competente, pois, esta Jus­
tiça especializada para apreciar e julgar o feito, nos termos
do artigo 114 da Constituição Federal. Agravos de instru­
mento da FUNCEF e da CEF não providos”. AIRR - 1694/
2002-079-03-00 - DJ - 25/06/2004 - 4a Turma, Relator:
Ministro Ives Gandra Martins Filho.
“C O M PETÊN C IA DA JUSTIÇA D O TRABALHO.
A R TIG O 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Para

188
a fixação da competência da Justiça do Trabalho, mister se
faz examinar a natureza do pedido manifestado em Juízo:
se vinculado ao contrato de trabalho, ou ao contrato de ade­
são a plano de previdência privada. No presente caso con­
creto, o fundamento do Regional foi no sentido de que a
lide decorre de um contrato de trabalho mantido pelo au­
tor com a Ia reclamada-BRAHMA. Denota-se, portanto,
que o v. Acórdão regional delineou elementos fáticos sufi­
cientes a demonstrar que a causa de pedir se assenta na pró­
pria relação de emprego havida entre o reclamante e a Ia
reclamada-BRAHMA. Destarte, afirmado que o pedido
vestibular tem origem no contrato de trabalho, inviável o
conhecimento da revista pela alegada ofensa ao art. 114 da
Constituição Federal. Recurso de revista não conhecido’.
RR - 600841/1999 - DJ - 18/06/2004 - 4a turma, Relator:
Juiz Convocado José Antônio Pancotti.
“C O M PETÊN CIA MATERIAL. JUSTIÇA D O TRA­
BALHO. COM PLEM ENTAÇÃO D E APOSENTA­
DORIA. ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.
A RTIG O 114 DA CO N STITU IÇÃ O FEDERAL. 1.
Para efeito de determinação da competência material da
Justiça do Trabalho para apreciar e julgar pedido de
complementação de aposentadoria, a jurisprudência domi­
nante no Tribunal Superior do Trabalho considera relevan­
te a origem da norma garantidora do benefício, máxime
quando transferida a responsabilidade pela complementação
dos proventos a entidade fechada de previdência privada.
Emerge a competência material da Justiça do Trabalho em
se tratando de benefício criado pelo empregador e, portan­
to, em que a fonte da obrigação é o contrato de emprego. 2.
Segue-se que se o Tribunal Regional do Trabalho cinge-se
a consignar que o benefício, conquanto pago por entidade
de previdência privada, decorre da relação de emprego, não
se divisa vulneração ao art. 114 da Constituição Federal de
1988”. AIRR - 67670/2002-900-01-00 - DJ - 18/06/2004.

189
“CASS1 E PREVI. CARÊNCIA DA AÇÃO PO R ILE­
G IT IM ID A D E PASSIVA. IN O C O R R Ê N C IA . A
CASSI E PREVI são entidades de assistência e previdên­
cia privadas criadas pelo Banco reclamado com a finalidade
de prestarem serviços e de implementarem benefício de
complementação de aposentadoria aos empregados do Ban­
co do Brasil. Estas vantagens serviços assistenciais e
complementação de aposentadoria são direitos que têm por
fonte o contrato de trabalho, constituindo-se, portanto, em
obrigação patronal. Porém, os empregados e o Banco con­
tribuem para a constituição de fundo de previdência e as­
sistência que arcará com o custeio destes benefícios. Logo,
não é viável, em uma demanda entre empregado e o Banco
do Brasil, cujo desfecho possa acarretar obrigação para es­
tas duas entidades, fiquem elas fora do processo, porque
poderão ser alcançadas pela decisão judicial. D ESC O N ­
TO S EM FAVOR DA CAIXA D E ASSISTÊNCIA E
DA CAIXA D E PREVIDÊNCIA DOS FU N C IO N Á ­
RIOS D O BANCO D O BRASIL. CASSI E PREVI.
EXTINÇÃO D O PACTO LABORAL. A jurisprudên­
cia majoritária deste c. Tribunal Superior do Trabalho in­
clina-se no sentido de entender devida a incidência de des­
contos em favor da CASSI e PREVI sobre parcelas salari­
ais decorrentes da condenação, mesmo quando extinto o
contrato de trabalho. Recurso de revista do banco-recla-
mado parcialmente conhecido e parcialmente provido”. RR
- 617876/1999 - DJ - 11/06/2004- Relator: Ministro João
Batista Brito Pereira.
“AGRAVO D E IN STR U M EN TO PR O V IM EN TO
COM PLEM ENTAÇÃO D E APOSENTADORIA EN­
TID A D E D E PREVIDÊNCIA PRIVADA C O M PE ­
T ÊN C IA DA JUSTIÇA D O TRABALHO A R TIG O
114 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Existên­
cia de possível contrariedade ao artigo 114 da Constituição
federal. Agravo de Instrumento provido para mandar pro­
cessar o Recurso de Revista. RECURSO D E REVISTA
PROVIM ENTO - COM PLEM ENTAÇÃO D E A PO ­
SEN TA D O RIA E N TID A D E D E PR E V ID Ê N C IA
PRIVADA CO M PETÊN CIA DA JUSTIÇA D O TRA­
BALHO A R TIG O 114 DA C O N ST IT U IÇ Ã O DA
REPÚBLICA. Na hipótese, a complementação de aposen­
tadoria decorre do contrato de trabalho. A PETROS é en­
tidade de previdência privada complementar, instituída pelo
empregador (PETROBRAS), com o objetivo de atender a
seus empregados. Logo, independentemente da transferên­
cia da responsabilidade pela complementação dos proventos
de aposentadoria a outra entidade, emerge a competência
desta Justiça Especializada, pois o contrato de adesão é vin­
culado ao de trabalho”. RR - 41534/2002-900-01-00 - DJ
- 04/06/2004 - 3a turma, Relatora: Ministra Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi.
A fixação da competência trabalhista pelo TST depende do pe­
dido estar vinculado ou não à relação de trabalho. Se há conexão com
o contrato de trabalho, há competência da Justiça do Trabalho.
Há controvérsias. O Enunciado n° 106 do TST estabelece que
ocorrendo conflito judicial tratando da relação entre entidade fecha­
da de Previdência Privada e participante, a Justiça competente não
seria a laborai: “É incompetente a Justiça do Trabalho para julgar a
ação contra a Rede Ferroviária Federal, em que ex-empregado desta
pleiteia complementação de aposentadoria, elaboração ou alteração
de folhas de pagamento de aposentados, se por essas obrigações res­
ponde órgão da Previdência Social”.
Outra posição sobressai da conclusão da Quarta Turma do Tri­
bunal Superior do Trabalho, ao deferir recurso de revista à Fundação
Sistel de Seguridade Social - Sistel, no sentido do afastamento da
possibilidade da Justiça do Trabalho examinar a ação proposta pelo
empregado a fim de obter o pagamento da suplementação de apo­

191
sentadoria, desde que a complementação de aposentadoria não te­
nha sido instituída pelo empregador (RR 1109/2002-056-03-00.2).
Pelo voto do ministro Antonio José de Barros Levenhagen (re­
lator), a natureza civil da relação jurídica entre entidade privada de
previdência fechada e o trabalhador embasa o afastamento da com­
petência do Judiciário trabalhista para o exame da causa.
Tal decisão sustou o posicionamento adotado pelo Tribunal Re­
gional do Trabalho da 3a Região, que reconhecia a competência da
Justiça do Trabalho para o exame do litígio com postulação de com-
plementação de aposentadoria de um ex-empregado da Telemar em
relação a Sistel.
O Tribunal Regional do Trabalho da 3a Região utilizou o racio­
cínio do não afastamento da competência da Justiça do Trabalho por
conta da necessidade de relação de emprego para haver relação parti­
cipante/entidade previdenciária.
Segundo o Ministro Barros Levenhagen64, “A competência da
Justiça do Trabalho é fixada quando instituída a complementação de
aposentadoria pelo próprio empregador ou por entidade por ele ins­
tituída, hipótese não verificada nos autos. Sendo assim, não tendo a
empregadora instituído complementação de aposentadoria que ti­
vesse aderido ao contrato de trabalho e fosse posteriormente delega­
da sua gestão à SISTEL, a condição de manutenção do vínculo de
emprego para a participação no plano não tem o condão de mudar a
natureza civil da relação jurídica havida entre a entidade privada de
previdência fechada e o trabalhador”.
Ao que tudo indica, a tendência é pacificar o entendimento da
competência da Justiça do Trabalho para causas de Previdência Priva­
da em que haja relação de trabalho ou de emprego como condicionais.

(>4 Disponível em: http://www.tst.gov.br/noticias/-Acessoem 24/11/2004.


1 1 .2 . E n t e n d im e n t o a t u a l d o s u p e r io r t r ib u n a l d e

JUSTIÇA

O STJ vem decidindo que a Justiça Comum tem a competência


para o julgamento das causas de Previdência Privada, mesmo aquelas
nas quais há a figura do patrocinador. Exporemos um exemplo:
“CONFLITO D E COM PETÊNCIA. PREVIDÊNCIA
PRIVADA. COM PLEM ENTAÇÃO D E APOSENTA­
DORIA. JUSTIÇA COM UM . PRECEDENTES.
Há reiterada jurisprudência nesta Corte no sentido de que,
em se tratando de reivindicação pertinente à previdência
privada, como no caso de complementação de aposentado­
ria, é competente a Justiça Estadual. Conflito conhecido,
declarando-se competente juízo suscitado”. RESP 259580/
2003 - DJ 06/10/2003.
As Súmulas 289, 290 e 291 do STJ mostram que a matéria de
Previdência Privada é freqüente naquela Corte.

1 2 . D ireito de propriedade sobre os recursos dos


PLANOS d e PREVIDÊNCIA PRIVADA

Ingo Wolfgang Sarlet65, referindo-se ao “retrocesso social”, lem­


bra o art. 153 da Constituição de Weimar, sublimando o alcance do
conceito de propriedade sobre todos os direitos subjetivos privados
de natureza patrimonial (conceito funcionalista de propriedade).
Para este autor, a garantia da proteção do direito de propriedade
não estaria restrita apenas ao campo dos direitos reais, mas estaria
fixada principalmente numa função preservadora de direitos, onde o
direito de propriedade proporcionaria segurança jurídica sobre os

65 SARLET, Ingo Wolfgang. O estado social de direito, a proibição de retrocesso e a ga­


rantia fundamental da propriedade. Sapucaia do Sul: Notadez. Revista de Direito So­
cial n° 3, p. 30/35, 2001.

193
direitos patrimoniais ligados à ordem jurídica (dando guarida à con­
fiança no conteúdo dos direitos).
Corroborando sua linha de pensamento, Ingo Wolfgang Sar­
let'’6 ainda cita o Tribunal Federal Constitucional da Alemanha
(/>undesverfassungsgericht), cuja jurisprudência assegura a proteção
das posições subjetivas de direito público igualando o patamar de
garantia fundamental do direito de propriedade com a importância
constitucional da liberdade pessoal, “No sentido de que ao indiví­
duo deve ser assegurado um espaço de liberdade na esfera patrimo­
nial”, de tal sorte que possa organizar de maneira autônoma sua'
existência.
Qualquer confronto com esse direito elementar de propriedade. /

privada violaria o princípio do Estado de Direito.


Entretanto, nem todos os direitos subjetivos patrimoniais es-
tariam protegidos pelo fundamento elementar do direito de pro­
priedade; no caso, no âmbito da Seguridade Social. Ao nosso ver, o
direito de propriedade imanente ao dinheiro dos planos comple­
mentares de Previdência Privada, dentre os direitos subjetivos pa­
trimoniais, está enquadrado na esfera elementar do direito de
propriedade, assim como a casa. Não usamos nesta obra os termos
domicílio ou residência por conterem conotações jurídicas. Casa é
um termo universal; tem sentido de reduto seguro, abrigo, refúgio
das batalhas do cotidiano.
Quando o cidadão compra sua casa, o direito de propriedade é
tamanho que a lei permite que, sob a égide da legítima defesa, o pro­
prietário repila o ingresso de estranhos com a utilização da força. Mes­
mo o Estado tem limitações severas para desrespeitar este direito.
Vejamos o que estabelece nossa Constituição:

()6 SARLET, Ingo Wolfgang. O estado social de direito, a proibição de retrocesso e a ga­
rantia fundamental da propriedade. Sapucaia do Sul: Notadez. Revista de Direito So­
cial nB 3, p. 30/35, 2001.

194
“Art. 5°Todos síio iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residen­
tes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igual­
dade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
X I - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de fla­
grante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial” (destaques nossos).
O dinheiro dos participantes tem a mesma importância da mo­
radia e deve ter a mesma proteção. Até pelo auspício do princípio da
razoabilidade e do direito à propriedade, sendo o ato estatal desarra-
zoado em demasia, inviabilizando um direito fundamental do indi­
víduo, são cabíveis remédios como mandado de segurança ou mesmo
ação de inconstitucionalidade (discrimen implausível).
Luigi Ferrajoli67 enquadra o direito de propriedade (derecho de
propriedad - right to own property) como sendo inerente à existência
civil com liberdade individual.
Nem sempre houve existência civil com liberdade individual.
Devemos muito à criação da Magna Carta de 1215. Quando Ricar­
do Coração de Leão viajou para a Terra Santa nas Cruzadas, deixou
no poder seu irmão, o amargurado João sem Terra. Bem de acordo
com seu epíteto, João, que antes de galgar a realeza era privado de
bens, começou a impingir ao povo um governo despótico e selvagem.
Tantas fez João que acabou por atrair a fúria da turba; principalmen­
te dos poderosos barões (casta social sem nobreza - sine nobilitatis,
ou abreviadamente snob- mas com propriedades).
Os gentis homens então, por meio da força, compelem o rei a
redigir e assinar a Magna Carta em 1215, na qual protege-se o direi­

67 FERRAJOLI, Luigi. Derechos y garantias - Ia leyd e l más debil. Madrid: Editorial Trotta,
1999, p. 101.

195
to dc: propriedade (no taxation withoul law), não podendo o rei criar
tributos sem lei prévia, mediante a anuência dos barões.
Posteriormente, na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (França 1789) a propriedade foi tratada como sendo um
direito inviolável e sagrado, ninguém nos EUA, a Constituição Fe­
deral de 1787, nas emendas V e XIV, resguarda a propriedade, da
qual ninguém pode ser privado sem o devido processo legal (duepro-
irss of law).
No Brasil, o inciso XXIII do art. 5o, da Constituição estabelece
o direito de propriedade, tendo como fonte o jusprivatismo romano
(/'i/s ulcndi,fruendi e abutendi).
I 'into Ferreira68 fala das garantias tributárias contra o fisco, pa­
lavras apropriadas ao tema: “o estado democrático tem naturalmente
0 dever de amparar o cidadão e o homem contra as abusivas e impo­
sições do fisco”. A garantia da legalidade dos tributos é a proteção do
cidadão. Nosso ordenamento jurídico não libera o Estado para ferir
direitos fundamentais.
J.H. Meirelles Teixeira69, faz a seguinte análise sobre direitos
lundamentais: “São anteriores e superiores ao Estado”. Não se trata­
riam de bens jurídicos no sentido estrito, pois ingressam na esfera da
1iberdade individual. Assim, o equilíbrio democrático estaria pauta­
do na liberdade ilimitada do indivíduo (em princípio), e na possibili­
dade limitada (e excepcional) de ingerência do Estado.
As razões de Estado não justificam o desrespeito à Constitui­
ção. A possibilidade de intervenção estatal sobre o domínio econô­
mico não elimina o dever do Poder Público e de respeitar as normas
constitucionais (em especial o art. 5o, XXXV - direito adquirido).

(>í! FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12a ed.. São Paulo: Saraiva, 2002, p.
141.
(>') TEIXEIRA, J.H. Meirelles. Curso de direito constitucional. São Paulo: Forense Universi­
tária, 1991, p. 694.

196
Ajuste fiscal, por exemplo, não justifica sacrifício de direitos funda­
mentais.
Elival da Silva Ramos70 defende a “limitação material ao cons­
tituinte de revisão” (prevalência de direitos fundamentais diante de
emendas constitucionais). Nós defendemos os direitos fundamen­
tais dos participantes; principalmente o direito à dignidade e ao res­
peito de suas propriedades essenciais- casa e reserva técnica de fundos
previdenciários.
A necessidade da proteção da dignidade da pessoa é elemento
essencial ao Bem-Comum. A dignidade da pessoa humana seria con­
cretizada por meio de subprincípios, tais como os previstos no artigo
5o da Constituição, entre eles o da propriedade privada.
Montesquieu71 vai mais longe: “Não existe um cidadão contra o
qual se possa interpretar uma lei quando se trata de seus bens, de sua
honra ou de sua vida.”
Propriedade - bens, honra e vida. Fique claro que não estamos
nos reportando a qualquer tipo de bens jurídicos protegidos. Esta­
mos falando de dinheiro de aposentadoria e da casa.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, ins­
creve, na condição de direito fundamental da pessoa humana, a “pro­
teção previdenciária” (direito à seguridade no caso de velhice ou de
perda dos meios de subsistência).
Cremos que a proteção previdenciária seria verdadeiramente um
caso de direito fundamental da pessoa humana. O dinheiro dos par­
ticipantes é protegido pela sua natureza de direito fundamental de
propriedade - exatamente como a moradia da pessoa. Como viverá

70 RAMOS, Elival da Silva. A proteção aos direitos adquiridos no direito constitucional


brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 238.
71 M O N TESQ U IEU . O espírito das leis. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin
Claret, 2002, p. 24.

197
dignamente o indivíduo sem sua casa? Como viverá dignamente o
indivíduo espoliado daquilo que guardou para se aposentar?
O novo Código Civil - Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2.002
- nos fornece a clara noção do que é propriedade (um direito real,
pelo inciso Id o art. 1.225).
Segundo o art. 1.228 do novel Código, o proprietário tem a fa­
culdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha, sendo
que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com
as suas finalidades econômicas e sociais. O proprietário pode ser pri­
vado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utili­
dade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso
de perigo público iminente.
O art. 1.231 arremata dispondo que a propriedade se presume
plena e exclusiva, até prova em contrário.
A própria expressão “Previdência Privada” já traria a idéia de
particularidade dos recursos envolvidos, que não seriam públicos. O
testemunho em países latino-americanos, no entanto, atesta que a
imagem não é tão clara. /
Brasil e Argentina têm histórico de confisco público da proprie-/
dade privada, tanto sobre poupança comum (Brasil), quanto a previ­
denciária (Argentina). \
No Brasil, em 1990, a Medida Provisória n° 168, corri sua
célere aprovação pelo Congresso, transformou-se na Lei n° 8.024,
de 12 de abril de 1990. Em uma ação conjunta entre Executivo e
Legislativo, perpetrou-se um confisco, o “bloqueio dos cruzados
novos”.
A inconstitucionalidade do confisco estatal foi referendada
pelo M inistro Celso de Mello, na ADIN n° 534/DF: “O poder
normativo reconhecido à União Federal para atuar, legislativamente,
sobre a disciplina da moeda, quer para adaptar o volume dos meios de

198
luigamento às reais necessidades da econom ia nacional, quer para re~
viilar seu valor intrínseco, prevenindo ou corrigindo os surtos infla­
o

cionários ou deflacionários (...), quer para impedir situações de


anormalidade e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjun­
turais, não dispensa e nem exonera o Estado, na formulação e na exe­
cução de sua política econômico-financeira, inclusive monetária, de
observar e de respeitar os limites impostos pela Constituição” (desta­
ques nossos).
A Emenda Constitucional n° 3212001 veio a confirmar tal pen­
samento, haja vista que veda, de acordo com a nova grafia do art.
62, II, da Constituição, a edição de medida provisória “que vise a
detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer
outro ativo financeiro”.
Na Argentina, o governo utilizou o dinheiro dos fundos de
pensão (de contribuição obrigatória pelo sistema híbrido, criado
em 1994) para pagar suas contas. Este confisco previdenciário ar­
gentino foi feito para tentar evitar a moratória em relação aos bi­
lhões de dólares devidos ao Fundo M onetário Internacional.
Depósitos previdenciários privados, advindos de contribuições obri­
gatórias dentro de um sistema híbrido (onde a parte privada do
sistema foi copiada do Chile), foram transferidos para o Banco de la
Nación para que o governo pudesse administrar suas dívidas e efe­
tuar pagamentos.
Logo, há precedentes preocupantes que respaldam a presente
análise.
Num primeiro prisma, o dinheiro dos participantes está inseri­
do em planos de Previdência Privada de entidades previdenciárias,
mas nem por isto os recursos são das entidades. Esta é a confusão
que muitos fazem. O dinheiro é dos participantes, e para a aposenta­
doria. É um direito fundamental de propriedade.

199
13. A LEI COMPLEMENTAR N ° 108
A Lei Complementar n° 108, de 29 de maio de 2001, dispôs
sobre a relação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de eco­
nomia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquan­
to patrocinadores de entidades fechadas de Previdência
Complementar, e suas respectivas entidades fechadas (referidas nos
parágrafos 32, 4-, 5S e 62 do art. 202 da Constituição Federal).
Não é portanto uma lei de Previdência Complementar dos ser­
vidores públicos, pois nas autarquias, fundações, sociedades de eco­
nomia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, citadas
acima, os trabalhadores são amiúde contratados no regime da CLT
(não estatutários).
A Lei Complementar n° 108 trata principalmente dos aspec­
tos burocrático/administrativo dos fundos de pensão correláciona-
dos com as entidades supramencionadas. Exemplos disto é a previsão
(inciso I do artigo 3o) de carência mínima de sessenta contribui­
ções mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o
patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação
que seja programada e continuada. Ou seja, deve haver quebra do
vínculo empregatício para a obtenção de benefício. Adém de dispor
sobre benefícios, a Lei Complementar n° 108 versa sobre custeio
(veda ao patrocinador assumir encargos adicionais para o financia­
mento dos planos de benefícios, além daqueles previstos nos res­
pectivos planos de custeio, v.g.).
Pelo parágrafo 3o do art. 202 da CF (art. 5- da Emenda Consti­
tucional nü 20, de 15 de dezembro de 1998), estes entes políticos,
suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empre­
sas controladas direta ou indiretamente, têm limitadas suas contri­
buições como patrocinadores no valor da contribuição dos respectivos
participantes. Se o participante contribui com 1, a patrocinadora está

200
limitada a contribuir com no máximo 1. Esta diretriz constitucional
visa eliminar os exageros que ocorriam, quando por serem oriundas
do erário público, estas contribuições das patrocinadoras eram deze­
nas, ou até mais, vezes maior do que as contribuições dos participan­
tes. A Lei Complementar n° 108 (artigo 6o, § l 2) reitera tal previsão
que evita gasto de dinheiro público em demasia nestes fundos de
pensão.
As previsões da Lei Complementar n° 108 se aplicam às em­
presas privadas permissionárias ou concessionárias de prestação de
serviços públicos, quando patrocinadoras de entidades fechadas de
previdência privada (parágrafo 5o do art. 202 da CF). Qualquer aporte
de recursos a entidades de previdência privada de caráter comple­
mentar é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos M u­
nicípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades
de economia mista e outras entidades públicas, salvo na condição de
patrocinador (parágrafo 3o do art. 202 da CF).
A Lei Complementar n° 108 trata principalmente dos aspectos
burocrático/administrativo dos fundos de pensão correlacionados com
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, inclusive suas
autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas con­
troladas direta ou indiretamente, dispondo sobre benefícios, e ver­
sando sobre custeio (veda ao patrocinador assumir encargos adicionais
para o financiamento dos planos de benefícios, além daqueles previs­
tos nos respectivos planos de custeio, v.g.).
Houve a nítida preocupação do legislador com o erário público en­
volvido nas contribuições dos patrocinadores destes fundos de pensão.
Não é lei mais importante do que a Lei Complementar n° 109,
porquanto não tem a abrangência de ser a lei básica e geral da Previ­
dência Privada; quanto mais não é a lei de Previdência Complemen­
tar dos servidores públicos, pois nas autarquias, fundações, sociedades
de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente,

201
citadas acima, os trabalhadores podem ser contratados no regime ce­
letista, ou da CLT (não estatutários).
Afora a reiteração de numerosas disposições da Lei Complemen­
tar n° 109, a Lei Complementar n° 108 que acaba por delinear demar­
cações jurídicas do participante (como carência mínima de sessenta
contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com
o patrocinador, para que o participante possa se tornar elegível a um
benefício de prestação que seja programada e continuada), mas princi­
palmente instaurar um aprofundamento no controle estatal sobre o
fundo de pensão. Esta cessação do vínculo com o patrocinador como
condição para a obtenção de benefício consta também no texto da
Lei Complementar n° 109, mas o prazo estipulado de carência mí­
nima não.
Há dispositivos peculiares, como a previsão do parágrafo úni­
co do art. 7“ da Lei Complementar n° 108, que faculta aos patroci­
nadores a cessão de pessoal às entidades de previdência
complementar que patrocinam, desde que ressarcidos os custos cor­
respondentes. É um verdadeiro intercâmbio profissional entre pa­
trocinador e fundo de pensão, inexistindo esta previsão na Lei
Complementar n° 109.
A estrutura básica organizacional das entidades de que trata
da Lei Complementar n° 108 é a mesma prevista pela da Lei Com­
plementar n° 109: são organizadas sob a forma dc fundação ou so­
ciedade civil, sem fins lucrativos, devendo ser constituídas por
conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva.
Existe, porém, um detalhamento da estrutura interna destes
fundos de pensão que será exposto a seguir. A composição do con­
selho deliberativo (órgão máximo da estrutura organizacional, é
responsável pela definição da política geral de administração da
entidade e de seus planos de benefícios), integrado por no máxi­
mo seis membros, será paritária entre representantes dos partici­
pantes e assistidos e dos patrocinadores, cabendo a estes a indicação

202
do conselheiro presidente, que terá, além do seu, o voto de quali­
dade (o chamado “voto de Minerva”) - art. 11 da Lei Comple­
mentar n° 108.
O mandato dos membros do conselho deliberativo será de
quatro anos, com garantia de estabilidade, permitida uma recondu-
çao. O membro do conselho deliberativo somente perderá o man­
dato em virtude de renúncia, de condenação judicial transitada em
julgado ou processo administrativo disciplinar. A instauração de
processo administrativo disciplinar, para apuração de irregularida­
des no âmbito de atuação do conselho deliberativo da entidade fe­
chada, poderá determinar o afastamento do conselheiro até sua
conclusão, afastamento que não implica na prorrogação ou na per­
manência no cargo além da data inicialmente prevista para o térmi­
no do mandato.
O conselho deliberativo define as seguintes matérias (art. 13
da Lei Complementar n° 108):
“I - política geral de administração da entidade e de seus planos
de benefícios;
II - alteração de estatuto e regulamentos dos planos de benefíci­
os, bem como a implantação e a extinção deles e a retirada de
patrocinador;
III - gestão de investimentos e plano de aplicação de recursos;
IV - autorizar investimentos que envolvam valores iguais ou su­
periores a cinco por cento dos recursos garantidores;
V - contratação de auditor independente atuário e avaliador de
gestão, observadas as disposições regulamentares aplicáveis;
VI - nomeação e exoneração dos membros da diretoria-executiva; e
VII - exame, em grau de recurso, das decisões da diretoria-executiva”.
Com referência ao conselho fiscal (órgão de controle interno da
entidade), sua composição, de no máximo quatro membros, será pa-
ritária entre representantes de patrocinadores e de participantes e

203
assistidos, cabendo a estes a indicação do conselheiro presidente, que
terá, além do seu, o voto de qualidade (voto de Minerva) (art. 15 da
I ei Complementar n° 108). O mandato dos membros do conselho
fiscal será de quatro anos, vedada a recondução.
Quanto à diretoria-executiva (órgão responsável pela adminis-
t ração pragmática e cotidiana da entidade), esta atua sempre em con­
formidade com a política de administração traçada pelo conselho
deliberativo, e será composta, no máximo, por seis membros, defini­
dos em função do patrimônio da entidade e do seu número de parti­
cipantes, inclusive assistidos (art. 19 da Lei Complementar n° 108).
Kstes detalhamentos inexistem na Lei Complementar n° 109,
II lostrando uma rigidez maior do legislador com estes fundos de pen­
são conexos ao erário público. Exemplo disto é a composição máxi­
ma do conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva.
Quis-se evitar o inchaço destes corpos com um número excessivo de
dirigentes. O número excessivo de dirigentes seria um expediente
que protege apaniguados/sectários e difunde o nepotismo.
Repetitiva é a Lei Complementar n° 108, que acaba por reiterar
numerosas disposições da Lei Complementar n° 109.
A impressão que nos dá é que a Lei Complementar n° 108 é
análoga ao objetivo da Lei de Licitações (Lei n° 8.666): imbuir lisura
compulsória ao âmbito das entidades de Previdência Complementar
patrocinadas pelo poder público e suas empresas.
Prova disto é a previsão minuciosa inclusive da estrutura orga­
nizacional (trata do conselho deliberativo e do conselho fiscal, da
diretoria-executiva, e da fiscalização) destas entidades de Previdên­
cia Complementar patrocinadas pelo poder público e suas empresas.
Não cremos que o veículo de uma lei complementar seja apropriado
para semelhante disposição minuciosa (que poderia muito bem ter sido
feita em legislação ordinária).

204
14. Em e n d a c o n s t it u c io n a l n q 41, de 19 de d ezem bro

de 2003

Somos a favor de uma reformulação do sistema previdenciário


brasileiro. Como bem diz Sergio Pinto Martins72, levando em conta a
possível condição brasileira em que dois trabalhadores ativos sustenta­
riam um inativo “inviabiliza o sistema”. Fazer reforma previdenciária,
porém, não deve ser mote de invenções mirabolantes.Trazer uma nova
idéia não é inventar a roda quadrada. Já houve uma recente reforma
constitucional neste sentido (Emenda Constitucional n° 20/98), e agora
já é votada novamente outra.
Como é de interesse da proteção social e da poupança interna do
país, foi previsto pelo Governo Lula um fortalecimento da Previdência
Privada por meio de incentivos. Naturalmente, a maior parte desses
incentivos deverá ter um cunho tributário/fiscal.
Contudo, não foi isto que ficou concretizado com a reforma da
Previdência consignada pela Emenda Constitucional n° 41, haja vista
que só é citada a vertente da Previdência Privada fechada (lundos de
pensão). Deve haver também um incentivo no ramo aberto da Previ­
dência Privada, já que este ramo abrange os trabalhadores que não
possuem vínculo empregatício ou mesmo associativo, mas que, mes­
mo assim, têm o direito de participar do sistema previdenciário priva­
do. Pela exposição da reforma, a impressão é de que só existe um sistema
fechado de Previdência Privada.
A Emenda Constitucional n° 41 estabelece um teto de R$ 2.400
para a aposentadoria dos futuros servidores. Para haver o recebi­
mento de aposentadoria acima do teto será necessária a adesão a
um fundo de pensão de natureza pública (plano de contribuição
definida).

72 MARTINS, Sergio Pinto. Reforma previdenciária e déficit do sistema. São Paulo: LTr.
Revista de Previdência Social, São Paulo, v. 28, n. 268, mar. 2003, p. 146.

205
Vejamos o texto constitucional após a citada Emenda Consti­
tucional n° 41, que trata de fundos de pensão:
“A rt. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos M unicípios, incluídas suas
autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do res­
pectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pen­
sionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio finan­
ceiro e atuarial e o disposto neste artigo.
(...)

§ 1 5 .0 regime de previdência complementar de que trata o § 14


será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executi­
vo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que
couber, por intermédio de entidades fechadas de previdência com­
plementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos
participantes planos de benefícios somente na modalidade de con­
tribuição definida.” (destaques nossos).
A exigência de contribuição definida ao invés de benefício defi­
nido para os planos, seria, em princípio, coerente com a higidez fi­
nanceira e atuarial dos fundos. Já a natureza pública é totalmente
discutível73.
O problema da natureza pública destes futuros fundos de pensão
estaria nas regras específicas que estariam regendo essas entidades. A
natureza pública tiraria esses fundos de pensão dos funcionários públi­
cos da esfera regulatória da Lei Complementar n° 109 e da Lei Com­
plementar n° 108.Tais entidades de natureza pública passariam a figurar
na estrutura administrativa dos entes federativos (União, Estados, Dis­
trito Federal e Municípios). Isto iria atrapalhar em muito na só o con­
texto jurídico dos participantes, mas também a fiscalização por parte
da SPC e da SUSEP.

73 PIN H EIRO , Vinícius Carvalho. O gol contra do servidor. O Estado de São Paulo. 27 de
agosto de 2003, p. B2.

206
( )bter dados internos da administração pública é sempre uma
tarefa árdua no Brasil. A gestão dos recursos de fundos de pensão
de natureza pública poderia ficar seriamente ameaçada diante de
malversação política. Digamos que algum ente público cometa
atitudes equivocadas, ou até mesmo de má-fé, influenciando no
montante das reservas técnicas dos fundos de pensão de seus fun­
cionários, a aposentadoria dessas pessoas estaria em perigo. Acres­
centemos a esse risco o fator da contribuição definida, pois com a
má-gestão dos recursos, ou falta de pagamento das contribuições
do empregador (ente público), as perdas seriam suportadas so­
mente pelos trabalhadores.
Além disso, a natureza pública dos fundos de pensão ocasiona
um enrijecimento da estrutura administrativa da entidade, dificulda­
de bem conhecida na administração pública.
Os funcionários e administradores dos fundos de pensão devem
ser contratados segundo critérios de meritocracia, e não por fatores
políticos. A natureza pública oprime a liberdade da entidade fechada
em proporcionar aposentadoria complementar.
E importante ressaltar novamente que a Lei Complementar n°
108, de 29 de maio de 2001, não pode ser considerada a lei da Previ­
dência Privada dos funcionários públicos, pois ela dispôs sobre a re­
lação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e
empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocina­
dores de entidades fechadas de Previdência Complementar, e suas
respectivas entidades fechadas.
Equivoco, portanto, considerá-la lei de Previdência Complemen­
tar dos funcionários públicos, porquanto nas autarquias, fundações,
sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indi­
retamente, citadas acima, os trabalhadores são amiúde contratados
no regime da CLT (não estatutários).

207
A Lei Complementar n" 108 reiterara numerosas disposições da
I ei Complementar n° 109, estabelecendo principalmente aspectos bu­
rocráticos e administrativos dos fundos de pensão correlacionados com
as referidas entidades fechadas.
Nosso posicionamento consiste na manutenção da natureza pri­
vada dos fundos de pensão, dentro de um quadro de contribuição
definida.
Não obstante, cremos que a emenda constitucional que surgir
da reforma não pode restringir a liberdade de escolha dos servidores
públicos. Estes trabalhadores têm o direito de eleger a entidade de
Previdência Complementar que melhor lhe convier, seja ela aberta
ou fechada.
Aliás, não vemos justificativa plausível para a imposição de in­
gresso somente no sistema fechado.
O sistema aberto oferece planos previdenciários quê podem
ser mais vantajosos em determinados casos. O servidor público pode
muito bem desejar contribuir para um PGBL, por exemplo, em vez
de ingressar obrigatoriamente (se quiser aposentadoria complemen­
tar) como participante de um fundo de pensão.
Não foi coerente a reforma constitucional com os princípios
democráticos em que vivemos. Os servidores públicos ficaram cer­
ceados de exercer a livre escolha de seu plano de Previdência Com­
plementar. Pela reforma, eles nem sequer poderão ter Previdência
Privada, pois sua Previdência Complementar será pública (com to­
dos os defeitos que dissemos acima).
Para Montesquieu74:“Não há tirania mais cruel do que a exercida
à sombra das leis e com as cores da justiça - quando, por assim dizer, os
náufragos são afogados sobre a própria prancha onde se agarram”.

74 M O N TESQ U IEU . Grandeza e Decadência dos Romanos. São Paulo: I a ed., Palmape
S.A.,1995, p.94.

208
K justamente esta a sensação de quem estuda a reforma consti­
tucional de 2003. Por que natureza pública dos fundos de pensão (e
por que só fundos de pensão, e não planos privados)?
Sob o ponto de vista da hierarquia legal, a Previdência Privada
obteve em tratamento legislativo superior em relação à Previdência
Social. A Previdência Social é regulada pela Lei n° 8.212/91 e pela
Lei n° 8213/91, ambas leis ordinárias. Já havia, então, uma relevância
legislativa marcante e expressiva, que deveria ter sido respeitada pelo
legislador constitucional.
Immanuel Kant75 nos socorre: “A política diz: ‘Sede astutos como
as serpentes’, a moral acrescenta (como condição limitante): ‘e sem
falsidade como as pombas’. Se ambas não podem subsistir juntas em
um mandamento, então é efetivamente um conflito da política com a
moral; devam, porém, ambas ser inteiramente unidas, então o con­
ceito do contrário é absurda e a pergunta como resolver aquele con­
flito não se deixa mais nem pôr-ser como tarefa”.
A previsão legal de incutir natureza pública aos fundos de pen­
são dos funcionários públicos teve nítido embasamento político, pois
dará a governantes a possibilidade de administrarem politicamente
tais fundos.

1 5 . E x TRAFISC AU D AD E NA PREVID ÊN CIA PRIVADA

Além de evitar cometer atos danosos à Previdência Comple­


mentar Privada, deve o governo incentivá-la. Isto porque dos recur­
sos envolvendo o capital investido no âmbito da Previdência Privada
podem surgir investimentos que beneficiem a economia de modo
geral. As entidades de Previdência Privada (tanto as abertas quanto
as fechadas) têm adquirido uma função significativa na organização
da economia do País.

75 KANT, Immanuel. À Paz Perpétua. São Paulo: L&PM, 1989, p. 59.

209
O a fluxo financeiro envolvido na manutenção do sistema gera
um aporte de capital que acaba sendo utilizado no giro da economia
nacional. E existe aí mais um aspecto positivo, derivado do princípio
da transparência, que é a fiscalização do sistema pelos interessados,
fato que garante a eficiência crescente das entidades.
As aplicações previdenciárias privadas formam fontes de fi­
nanciamento do mercado de capitais, assim como de projetos de in­
vestimento de longo prazo. Com o incentivo do sistema previdenciário
privado no País, a dependência interna de créditos externos para in­
vestimentos de expansão da produção seria cada vez menor.
Como os prazos de pagamento dos benefícios previdenciários
privados, ou seja, o compromisso precípuo das entidades previden­
ciárias privadas, são de longo prazo, a receita obtida com o paga­
mento das contribuições terá um período que pode chegar a duas
ou três décadas para ser via de financiamento de longo prazo do
crescimento econômico do Brasil.
A própria Receita Federal confirma que a aplicação em previ­
dência privada, para fins de apuração de imposto de renda, no mo­
mento da declaração, no modelo completo, não se caracteriza por
aplicação financeira. Por isso, não deve ser informada na ficha “Bens”.
Deverá haver um lançamento na ficha de “Pagamentos” (código 6 -
contribuições a entidades de previdência privada).
A Previdência Privada tem e terá um papel fundamental no fi­
nanciamento da atividade produtiva, pois cria poupança previdenciá­
ria que beneficia o crescimento da economia. O crescimento da
poupança acumulada nos planos de Previdência Privada pode fi­
nanciar a atividade produtiva.
Andersen Esping Gosta76 destaca que a política de tributação,
em nações como Inglaterra, EUA, Austrália, Suécia, Noruega, Di­

76 COSTA, Andersen Esping. The three w o rld s o f w e lfa re Capitalism . Princeton: Princeton
University Press, 1998, p. 101/102.
namarca e países baixos, é precondição essencial para o crescimento
da Previdência Privada nestes países.
O procedimento governamental da isenção tributária em rela­
ção às contribuições para a previdência privada, que ocorreu na In­
glaterra, EUA, Austrália, Suécia, Noruega, Dinamarca e países baixos
desde a Segunda Guerra Mundial, propiciou um financiamento ma­
ciço dos fundos previdenciários privados, possibilitando a majoração
da poupança interna, fato que beneficiou patentemente todos esses
países conhecidos pelo alto grau de desenvolvimento. A Previdência
Complementar Privada deve, além de proporcionar benefícios dife­
ridos, ser objeto de tributação diferida.
Tomemos o exemplo americano: Nos EUA, a Previdência Pri­
vada, surgida nos anos 1920, tornou-se tão relevante na sociedade
que em tempos recentes vem envolvendo a estratégia sindical de acor­
dos coletivos de diversas categorias de trabalhadores.
A Previdência Privada norte-americana deixou de ser um aspecto
secundário do contrato de trabalho, passando a figurar como um dos
elementos preponderantes na mesa de negociação trabalhista.
O Estado brasileiro percebe a importância da Previdência Priva­
da e vem demonstrando esse reconhecimento. Prova disto é que den­
tro dos projetos prioritários do Plano Plurianual de Investimentos
(PPA-2002), o financiamento oriundo do patrimônio dos fundos de
pensão figurou como prioridade (jornal “O Estado de São Paulo”, 20
de novembro de 2002, B4).
José Maurício Conti77 explica que o PPA é uma lei de iniciativa
do chefe do Poder Executivo (art. 165,1, §1°, da Constituição), e sua
finalidade consiste no estabelecimento das diretrizes, objetivos e
metas regionais da administração pública federal.

77 CONTI, José Maurício. Direito financeiro na constituição de 1988. São Paulo: Editora
Oliveira Mendes, 1998, p. 80.

211
O governo não tem dinheiro para investimentos nestes proje­
tos, e a resposta econômica dos referidos projetos ocorrerão no longo
prazo, fato que desinteressa a iniciativa privada. Como as obrigações
dos fundos de pensão também se baseiam no longo prazo, os investi­
mentos destas entidades seriam fundamentais.
A participação dos fundos de pensão no financiamento destes pro­
gramas é de interesse do governo e da sociedade. O que não pode
acontecer é uma compulsoriedade de aplicações dos fundos de pensão
em determinadas empreitadas. Os investimentos feitos pelos fundos
de pensão devem objetivar sobejamente o pagamento dos benefícios
(atuais e futuros) dos participantes. À época recente das privatizações
dc empresas estatais no Brasil ficou notória a participação política de
fundos de pensão brasileiros nestes procedimentos (desvirtuando o papel
destas entidades). Aliás, quanto mais o caráter político dos fundos de
pensão for evitado, melhor o respeito pelos recursos dos participantes,
que serão administrados com profissionalismo.
Existe um reconhecimento explícito, por parte do governo (e de
qualquer pessoa sensata), das vantagens da poupança interna oriun­
da da Previdência Privada. O dinheiro necessário para investimentos
em projetos essenciais ao País pode ser obtido com os fundos do
sistema previdenciário privado.
Assim, o dinheiro não precisa vir de fora do País (dinheiro caro
e com juros altos).
O governo então passa a incutir um tratamento tributário di­
ferenciado à Previdência Privada, instigando e inibindo comporta­
mentos no sentido da inserção e manutenção de recursos no sistema.
Tal extrafiscalidade inerente à Previdência Privada é essencial
para que as pessoas tenham razões plausíveis para ingressar no sis­
tema. Hugo de Brito Machado78 consigna que a função extrafiscal

7í! M A C H A D O , Hugo de Brito. Reform a Tributária. D isp o n ível em: http://


www.temis.com.br/ler.asp?id=59. Acesso em 08/12/2004.

212
do tributo serve dc instrumento de intervenção no domínio eco­
nômico:
“Existem, porém, situações nas quais o tributo pode funci­
onar como excelente instrumento de intervenção do Esta­
do na atividade privada, seja para estimular comportamen­
tos desejáveis, seja para propiciar a construção de uma soci­
edade mais justa”79.
Para o participante, a vantagem de ingresso na Previdência Pri­
vada recai no aspecto previdenciário e extrafiscal (punitiva e pre-
mial). Há desvantagens de retirada precoce de valores dos planos
de Previdência Privada (fator psicológico) conjuntamente com os
incentivos fiscais inerentes. O benefício da Previdência Privada é
um pagamento diferido, ou seja, um valor pago de forma reiterada
no tempo.
A vantagem para a adoção de um sistema privado de Previ­
dência ao invés de uma poupança individual passa pelo lado hu­
mano. Se a pessoa forma um pecúlio (v.g., poupança) ao longo de
sua vida para a utilizá-lo nos anos em que não puder mais traba­
lhar, caso no momento em que um valor grande já houver sido
amealhado surja algum ímpeto humano de gasto (tal como a aber­
tura de um negócio, o empréstimo a outra pessoa pela qual se
tenha afeto, ou mesmo o pagamento de uma dívida) toda esta
poupança será dilapidada. Assim, frente à poupança para contin­
gências futuras de inatividade, a Previdência Privada é muito mais
apropriada, do ponto de vista social e até pessoal, diante da sim­
ples poupança individual.
Existe uma flexibilidade na Previdência Privada (portabilidade
sem tributação, v.g.) que permite ao indivíduo grande liberdade em
controlar seus recursos.

79 M A C H A D O , Hugo de Brito. Reform a Tributária. D isp on ível em: http://


www.temis.com.br/ler.asp?id=59. Acesso em 08/12/2004.

213
Além disso, os incentivos tributários estatais também elevam o
caráter atrativo e vantajoso da Previdência Privada.
O principal incentivo que o governo pode instituir para incitar o
ingresso de participantes e a participação de patrocinadores na Pre­
vidência Privada é pela via tributária. Esta via também serve como
inibidora de retirada do sistema, com uma tributação maior para pe­
ríodos curtos de aplicação previdenciária.
O art. 11 da Lei n2 9.532, de 10 de dezembro de 1997, é um
exemplo de incentivo governamental à aplicação nos fundos de Pre­
vidência Privada, no qual é facultado ao participante um benefício
fisc al que permite o abatimento de até 12% de sua renda bruta tribu-
tável no ajuste da declaração anual do imposto de renda. Com isso, o
participante reduz a base de cálculo do imposto.
A Lei n° 9.532/97 permite que todo valor aplicado em produtos
dc Previdência Privada possa ser deduzido da base de cálculo do
Imposto de Renda, desde que o total das aplicações não exceda a
12% da renda bruta tributável do participante.
Estabelece o art. 11 da Lei n° 9.532 (alterado pela Lei n° 10.887,
de 18 de junho de 2004):
“As deduções relativas às contribuições para entidades de
previdência privada, a que se refere a alínea “e”do inciso II
do art. 8Uda Lei n2 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e às
contribuições para o Fundo de Aposentadoria Programada
Individual - Fapi, a que se refere a Lei nü 9.477, de 24 de
julho de 1997, cujo ônus seja da própria pessoa física, ficam
condicionadas ao recolhimento, também, de contribuições
para o regime geral de previdência social ou, quando for o
caso, para regime próprio de previdência social dos servi­
dores titulares de cargo efetivo da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios, observada a contribui­
ção mínima, e limitadas a 12% (doze por cento) do total
dos rendimentos computados na determinação da base de
cálculo do imposto devido na declaração de rendimentos”.

214
A dedução pode ser feita mensalmente na folha de pagamento
ou na declaração anual. No início da aposentadoria ou em caso de
saque é feito o recolhimento do Imposto de Renda de acordo com a
tabela vigente.
Como incentivo ao empregador, no sentido de patrocinar a Pre­
vidência Privada de seus empregados, o parágrafo 2o do art 458 da
Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto-lei n° 5.452, de Io de
maio de 1943, preceitua como utilidades concedidas pelo emprega­
dor que não serão consideradas como salário:
(...)
VI - previdência privada (inciso incluído pela Lei n° 10.243, de
19.6.2001).
Existe uma desvinculação com o caráter salarial, pois do contrá­
rio haveria inibição das contribuições previdenciárias do emprega­
dor em nome dos empregados (há o lado positivo imanente de
trabalhadores que têm plano de Previdência Privada criado e patro­
cinado pela empresa tendem a render mais, mas a desvinculação sa­
larial é decisiva).
As legislações previdenciária e trabalhista seguem o caminho da
desvinculação entre Previdência Privada e contrato de trabalho. Não
obstante, a Justiça do-Trabalho tem avocado a competência para jul­
gar litígios envolvendo participantes e fundos de pensão.
Dentro desta tendência da^legislação, o parágrafo 9o do art. 28
da Lei n° 8.212/91 (custeio da Previdência Social) determina que
não integra o salário-de-contribuição (base de cálculo da contribui­
ção ao INSS):
(-)
“p) o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurí­
dica relativo a programa de previdência complementar, aberto ou
fechado, desde que disponível à totalidade de seus empregados e
dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9o e 468 da CLT”.

215
O parágrafo 2° do art 458 da Consolidação das leis do Traba­
lho estabelece a desvinculação da Previdência Privada como forma
de salário, e a contribuição social do empregador está pautada na
remuneração (salário mais gorjeta). Não seria exigível a contribuição
do empregador que contribua para a Previdência Privada de seus
empregados. O empregador pode contribuir para os planos de Previ­
dência Privada de seus empregados sem que haja encargos sociais,
desde que ofertados a todos os empregados.
No campo trabalhista, a contribuição do empregador para a Pre­
vidência Privada de seus empregados não é salário, mesmo que não
ofertada a todos.
Para evitar salário indireto e burla da lei, existe um limite. O
indigitado a rt.ll da Lei n° 9.532 (alterado pela Lei n° 10.887, de 18
dc junho de 2004):
“§ 2a Na determinação do lucro real e da base de cálculo da
contribuição social sobre o lucro líquido, o valor das despesas
com contribuições para a previdência privada, a que se refere o
inciso V do art. 13 da Lei n2 9.249, de 26 de dezem bro de 1995,
e para os Fundos de Aposentadoria Programada Individual -
Fapi, a que se refere a Lei na 9.477, de 24 de julho de 1997, cujo
ônus seja da pessoa jurídica, não poderá exceder, em cada perío­
do de apuração, a 20% (vinte por cento) do total dos salários dos
empregados e da remuneração dos dirigentes da empresa, vincu­
lados ao referido plano.
§ 3a O somatório das contribuições que exceder o valor a que se
refere o § 2a deste artigo deverá ser adicionado ao lucro líquido
para efeito de determinação do lucro real e da base de cálculo da
contribuição social sobre o lucro líquido”.
A limitação para isenção de contribuições patronais ao INSS
é de 20% do total dos salários dos empregados e da remuneração
dos dirigentes da empresa, vinculados ao referido plano de Previ­
dência Privada, medida que evita salário indireto via Previdência
Privada.

216
A l e i n° 7.713, de 22 de dezembro de 1988 (com nova redação
dada pela Lei n° 9.250, de 26 de dezembro de 1995) também prevê
isenção do imposto de renda:
“A rt 6o. Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendi­
mentos percebidos por pessoas físicas:
(...)

VII - os seguros recebidos de entidades de previdência privada


decorrentes de morte ou invalidez permanente do participante.
V III - as contribuições pagas pelos empregadores relativas a pro­
gramas de previdência privada em favor de seus empregados e
dirigentes”.
O artigo 48 da Lei n° 8.541/1992 (alterado pela Lei 9.250/1995),
ainda estabelece que ficam isentos do imposto de renda os rendimen­
tos percebidos pelas pessoas físicas decorrentes de seguro-desempre-
go, auxílio-natalidade, auxílio-doença, auxílio-luneral e auxílio-acidente,
pagos pela Previdência Oficial da União, dos Estados, do Distrito Fe­
deral e dos Municípios e pelas entidades de Previdência Privada.
A própria Lei Complementar n° 109, no art. 69, estabelece
que sobre as contribuições vertidas para as entidades de Previdên­
cia Privada não incidem tributação e contribuições sociais de qual­
quer natureza.
Sobre a isenção do recolhimento do imposto de renda sobre as
parcelas resgatadas de planos de Previdência Privada, há jurispru­
dência do STJ80. No julgamento pelo STJ do Recurso Especial n°
443877, o ministro José Delgado manteve a isenção do recolhimen­
to do imposto de renda sobre as parcelas resgatadas de planos de
Previdência Privada, pois este resgate das contribuições previdenciá­
rias não constitui aquisição de renda, “já que não configura acrésci­
mo patrimonial”.

80 Obtido em 25/06/2003. (http://www.stj.gov.br/webstj/Noticias/detalhes_noticias.


asp?seq_noticia=6415

217
1 5 .1 . I m u n i d a d e t r ib u t á r i a i m s e n t id a d e s f e c h a d a s d e

PREVIDÊNCIA PRIVADA

Existe no Brasil imunidade condicional das entidades fechadas


dc Previdência Privada. A previdência complementar fechada brasi­
leira gozava de total imunidade tributária até 1983.
A Súmula n° 730 do Supremo Tribunal Federal determina:
“A imunidade tributária conferida a instituições de assistência
social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição, so­
mente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se
nao houver contribuição dos beneficiários”.
Portanto, a imunidade dos fundos de pensão depende da con-
tribuição da patrocinadora, que deve ser de 100% em nome do em­
pregado, o qual não pode contribuir com um centavo sequer.
O professor Sacha Calmon81 comunga da idéia de incentivo na
I Vcvidência Privada, confirmando a premissa de catalisação da pou­
pança interna (além de garantirem aposentadorias, aliviando o Go­
verno e servindo de válvula de escape do sistema de repartição - sendo
plausível que durante o processo de multiplicação dos recursos não
haja tributação).
Sobre a tributação dos fundos de pensão, este autor faz in­
teressantes observações em defesa do que chama de
“intributalidade”82: “Primus: os fundos de pensão, embora
movimentem somas altíssimas, não possuem capacidade
contributiva, por definição legal não visam ao lucro (no
profits). Seus ganhos são reinvestidos e, ao final, incorpo­
rados às reservas necessárias ao pagamento das aposenta­
dorias e pensões (fim último dessas instituições). Secundus:

!S1 Disponível em (http://www.abrapp.org.br/noticias/sacha_calmom.htm). Acesso em: 03/


04/2003.
H2 Disponível em (http://www.abrapp.org.br/noticias/sacha_calmom.htm). Acesso em: 03/
04/2003.

218
Os fundos não possuem “dinheiro próprio”. Em verdade,
seus administradores lidam com recursos alheios. São ad­
ministradores de bens de terceiros, são como os trastes
(sic) do direito norte-americano. TertiuJ: Por força de lei,
são sujeitos ao Ministério da Previdência e Assistência
Social e visam a “complementar” o sistema oficial, daí
possuírem a mesma natureza jurídica e a mesma finalida­
de. Porventura os recursos da previdência oficial são tri­
butados? Anote-se que a oficial gasta 30% do que recebe
na atividade-meio. A pública tributa. A privada é tributa­
da. Não é paradoxal?”.
A imunidade, destarte, fica bem clara, sendo necessária contri­
buição integral do patrocinador em nome do participante. Esta me­
dida segue o caminho citado acima de incentivo de contribuições
para a Previdência Privada via tributação mitigada ou isentiva.
1 5 .2 . T r ib u t a ç ã o r e g r e s s iv a n a p r e v id ê n c ia p r iv a d a

Houve alterações tributárias recentes na Previdência Privada bra­


sileira que confirmam a extrafiscalidade imanente, seguindo a ten­
dência mundial de incentivo de inserção e manutenção de recursos e
inibição de retiradas de reservas técnicas pelo participante. A malfa­
dada Medida Provisória n° 2.222/2001 foi revogada pela Medida
Provisória n° 209, de 26 de agosto de 2004, convertida na Lei n°
11.053, de 29 de dezembro de 2004.
A Medida Provisória n° 2.222 (publicada no Diário Oficial da
União em 06 de setembro de 2001 e revogada pela Medida Provisó­
ria n° 209/2003) criou duas novas cobranças alternativas de Imposto
de Renda, com início a partir de janeiro de 2002, sobre as aplicações
financeiras dos fundos de Previdência Privada (sejam eles referentes
a planos abertos ou fechados): 20% anuais sobre o resultado dos ren­
dimentos dos fundos; ou 12% trimestrais sobre as contribuições das
empresas que mantêm planos de Previdência Privada para seus em­
pregados.

219
() REI'(Regime Especial de Tributação-previsto na MP2.222)
previa tributação de 12% sobre o aporte trimestral dc recursos aufe-
i idos com a contribuição do empregador ao fundo previdenciário.
A outra possibilidade de tributação dizia respeito à alíquota de
20% sobre os ganhos oriundos das aplicações em renda fixa dos fun­
dos. I lavia isenção dos fundos (20% sobre os rendimentos das apli­
cações) somente onde não ocorresse a participação de capital fruto
da contribuição do empregador.
1 )estarte, as entidades optantes pelo Regime Especial de Tri-
biilação (RET) tinham alíquota de 12% sobre o aporte trimestral
de recursos feitos pelo patrocinador ao fundo (desincentivando o
patrocínio). Para os que não fizeressem a opção pelo RET, a alí­
quota do IR era de 20% incidentes sobre os ganhos das aplicações
em renda fixa e variável a cada três meses (desincentivando a pró­
pria aplicação).
Todo o incentivo dos empregadores em contribuir para os pla­
nos previdenciários de seus empregados foi extinto pela M P n° 2.222,
cri ando-se um fator de inibição incompatível com o sistema. Era o
absurdo. Foi ignorada por completo a impossibilidade dos fundos de
pensão obterem lucro, pois o art. 4o da Lei Complementar n° 109
estabelece que as entidades fechadas não poderão ter fins lucrativos
(afora o fato de serem fundações).
Com o advento da Lei n° 11.053 (em seu art. 9o), foi revogada
a Medida Provisória n° 2.222.
A Lei n° 11.053 dispõe sobre a tributação dos planos de bene­
fícios de caráter previdenciário. Os escopos desta lei são a melhoria
da estrutura do mercado financeiro e o incentivo à poupança previ­
denciária interna de longo prazo (elementos excelentes ao fortaleci­
mento da Previdência Privada e da proteção dos participantes).
Segundo o art. I o da Lei n° 11.053, os participantes que in­
gressarem a partir de 1- de janeiro de 2005 em planos de benefícios

220
dc caráter previdenciário, estruturados nas modalidades de contri­
buição definida ou contribuição variável, das entidades de previ­
dência complementar e das sociedades seguradoras (Previdência
Privada aberta) poderão (facultatividade) optar por um regime de
tributação pelo qual os valores pagos aos participantes ou assisti­
dos, a título de benefícios ou resgates de valores acumulados, sujei-
tam-se à incidência de imposto de renda na fonte de acordo com as
seguintes alíquotas:
I - trinta e cinco por cento, para recursos com prazo dc acumula­
ção inferior ou igual a dois anos;
II - trinta por cento, para recursos com prazo de acumulação su­
perior a dois anos e inferior ou igual a quatro anos;
III - vinte e cinco por cento, para recursos com prazo de acumula­
ção superior a quatro anos e inferior ou igual a seis anos;
IV - vinte por cento, para recursos com prazo de acumulação su­
perior a seis anos e inferior ou igual a oito anos;
V - quinze por cento, para recursos com prazo de acumulação su­
perior a oito anos e inferior ou igual a dez anos; e
VI - dez por cento, para recursos com prazo de acumulação supe­
rior a dez anos.
A regressividade do imposto de renda para recursos com prazo
de acumulação maior se aplica aos planos instituídos a partir de Io de
janeiro de 2005 e estruturados nas modalidades de contribuição de­
finida ou contribuição variável. Há inibição de resgate de curto pra­
zo e incentivo de postergação dos recursos no sistema previdenciário
privado.
Sendo uma opção (exercida no momento do ingresso nos pla­
nos de benefícios), o participante pode escolher em permanecer no
regime anterior, correlato à tabela do imposto de renda.
Faca clara a extrafiscalidade no ponto da inibição de resgate de
curto prazo e incentivo de postergação dos recursos no sistema pre-

221
vidcnciário privado. Quanto mais tempo o participante mantiver re­
cursos no sistema, menos eles serão tributados. Aliás, a alíquota de
10% para recursos com prazo de acumulação superior a dez anos é
relativamente muito baixa, se considerarmos a carga tributária imen­
sa que existe no Brasil.
O texto foi coerente quanto à previsão da contribuição definida
ou contribuição variável, para instigar novos planos nestas modalida­
des ao invés de benefício definido (temerário por razões nesta obra já
elencadas).
bntretanto, a aplicação das alíquotas regressivas exclusivamente
aos planos instituídos a partir de Io de janeiro de 2005 fere a isono-
mia. Segundo o texto, o participante de plano de Previdência Privada
criado em 31 de dezembro de 2004 não será beneficiado pela regres-
sividade, e outro que participe de plano criado em Io de janeiro de
2005 será.
Este tratamento desigual é ilegal. Correto seria aplicar a regres-
sividade a todos os planos de Previdência Privada, independente da
data de sua criação. Se a proposta é estimular a manutenção dos re­
cursos na poupança previdenciária, não há razão para distinção.
Aplicam-se as alíquotas regressivas acima citadas aos resgates
efetuados por quotistas de Fundo de Aposentadoria Programada
Individual - FAPI constituído, a partir de Io de janeiro de 2005.
O prazo de acumulação para fins de enquadramento das alíquo­
tas regressivas é o tempo decorrido entre o aporte de recursos no
plano de benefícios mantido por entidade de previdência comple­
mentar, por sociedade seguradora ou no FAPI e o pagamento relati­
vo ao resgate ou ao benefício (calculado na forma disciplinada pela
Secretaria da Receita Federal) considerando-se o tempo de perma­
nência, a forma, prazo de recebimento e os valores aportados.
Na portabilidade de recursos entre planos de benefícios, o pra­
zo de acumulação no plano receptor considerará o prazo de acumu-

222
liu;;to no plano originário. O p articipante que portar seus recursos
na* >perderá o tempo de aplicação no enquadramento das alíquotas
regressivas.
Na exposição de motivos da Medida Provisória n° 20983 (que
foi convertida na Lei n° 11.053), o então M inistro da Fazenda, An-
tonio Palocci Filho, apresenta pretextos razoáveis para a mudança.
O objetivo foi aprimoramento da legislação aplicável à Previdência
Privada e incentivo à poupança de longo prazo.
Diz o M inistro84: “Nos países onde o sistema de previdência
complementar encontra-se em estágio mais avançado de desenvol­
vimento verifica-se que o sucesso do modelo se deve aos princípios
do diferimento fiscal e da dispensa de tributação durante o período
de acumulação dos recursos. Deve existir um estímulo para que o
cidadão abra mão de um consumo imediato ou de investimentos de
curto prazo em troca de uma poupança que exija períodos mais
longos de maturação”.
Assaz apropriada a asserção supra. Chega a ser uma aula de Pre­
vidência Privada.
Prossegue o Ministro enaltecendo a manutenção das condições
contratadas ou oferecidas, além da estabilidade dos princípios e re­
gras previstas na legislação, seja de natureza fiscal ou referente à ope­
ração dos produtos e sua relação de transparência com o participante.
A “neutralidade fiscal” garantiria o mesmo tratamento fiscal a ser
dado no momento do resgate ou percepção da renda do recebido no
momento da dedução das contribuições efetuadas ao plano de previ­
dência complementar (facultando-se ao participante a opção para um
plano de longo prazo com vantagens tributárias no resgate ou quan­
do do recebimento do benefício).

83 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/. Acesso em: 20 de dezembro de 2004.


84 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/. Acesso em: 20 de dezembro de 2004.

223
As entidades de Previdência Privada, sociedades seguradoras e
administradores dc Fundos de Aposentadoria Programada Indivi­
dual - FAPI continuam com a possibilidade de criar e ofertar planos
de benefícios, e FAPI, sob as regras tributárias em vigor.
Os planos Criados antes de Ia de janeiro de 2005 continuam
podendo ser comercializados e abertos a novos participantes e con­
tribuições. Estão sujeitos, todavia, à incidência de imposto de renda
na fonte à alíquota de quinze por cento, como antecipação do devido
na declaração de ajuste da pessoa física, calculado sobre:
I - os valores de resgate, no caso de planos de previdência, inclusi­
ve FAPI;
II - os rendimentos, no caso de seguro de vida com cláusula de
cobertura por sobrevivência.
Esta retenção antecipada de parte do imposto devido no mo­
mento do resgate ou recebimento de benefícios poderá ser compen­
sada na declaração de ajuste anual.
Determina o art. 5o da Lei n° 11.053 que na fase de acumulação
I (recursos advindos das contribuições são capitalizados) inexiste inci-
I dència de imposto de renda na fonte. Excepcional previsão legal, pois
evita bitributação, que apesar de não ser proibida, é injusta e afeta
negativamente o sistema.
No parágrafo 2o do art. 6o, da Lei n° 11.053, há nova tributação
decrescente. Para rendimentos conexos a planos de Previdência Pri­
vada, instituídos a partir de 1° de janeiro de 2005, e estruturados nas
modalidades de contribuição definida ou contribuição variável, quan­
do auferidos nas aplicações em fundos de investimento cuja carteira
de títulos tenha prazo médio igual ou inferior a trezentos e sessenta
e cinco dias, existe incidência do imposto de renda na fonte, por oca-
siao do resgate, às seguintes alíquotas:
I - vinte e dois e meio por cento, em aplicações com prazo de até
seis meses;

224
11 - vinle por cento, em aplicações com prazo acima de seis meses.
Os rendimentos auferidos em qualquer aplicação ou operação
financeira de renda fixa ou de renda variável estão sujeitos à incidên­
cia do imposto de renda na fonte mediante as mesmas alíquotas su­
pra mencionadas, inclusive no caso das operações de cobertura
(hedge), realizadas por meio de operações de swap (operações reali­
zadas para liquidação em data futura que implica na troca de resulta­
dos financeiros entre duas partes durante um determinado período)
e outras, nos mercados de derivativos. Estas operações existem no
contexto de investimento dos planos das entidades de Previdência
Privada.
Para aplicações existentes em 31 de dezembro de 2004, em rela­
ção aos rendimentos produzidos em 2005, os prazos a que se referem
as alíquotas acima expostas serão contados a partir:
I - de l 2 de julho de 2004, no caso de aplicação efetuada até a data
da publicação da Lei n° 11.053; e
II - da data da aplicação, no caso de aplicação efetuada após a data
da publicação da Lei n° 11.053.
Numa nova demonstração de sabedoria e conhecimento sobre
Previdência Privada, obtempera o Ministro na exposição de moti­
vos85 : “Com relação à Lei de Responsabilidade Fiscal, cabe ressaltar
que a revogação da M P n° 2.222, de 2001, implicará em perda de
receita estimada em R$ 450 milhões por ano, a qual será compensa­
da pelo aumento de arrecadação resultante da composição do cresci­
mento econômico e de mudanças na legislação já implementadas.
Quanto às demais medidas, em especial aquelas referentes ao novo
regime de tributação para produtos de cunho previdenciário, não há
qualquer perda de receita no curto prazo, a qual poderá ocorrer ape­
nas no médio e longo prazos! Contudo essa potencial perda é de

85 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/. Acesso em: 20 de dezembro de 2004.

225
dilícil mensuração, pois depende das decisões a serem tomadas in
dividualmente pelos participantes. Não obstante isto, se o alonga­
mento do prazo de fato ocorrer, tais perdas serão mais do que
compensadas pelos benefícios que esse processo irá gerar para eco­
nomia nacional”.
As afirmações são coerentes, pois a Medida Provisória n° 2.222,
estabelecia um regime tributário ilógico para a Previdência Privada,
que desestabilizava o aporte de contribuições. Por isto a Lei n° 11.053
e promissora.
Para que haja uma tributação conveniente, pode ocorrer inicial­
mente uma diminuição de arrecadação, mas o crescimento da pou­
pança interna e o desenvolvimento do sistema de Previdência Privada
é mais importante para o Brasil do que mais um aumento da carga
tributária.
As entidades de Previdência Privada não são donas do dinhei­
ro. Elas administram os recursos dos planos; recursos de proprieda­
de dos participantes. O tratamento tributário dispensado aos planos
abertos e fechados e respectivas entidades afeta o valor dos benefí­
cios prometidos aos segurados.
EUA, Inglaterra, Holanda e Suíça têm contexto previdenciá­
rio onde as contribuições previdenciárias privadas são dedutíveis
da base de cálculo do imposto de renda, assim como também são
isentas de tributação as operações do fundo86. Nestes países, só há
incidência tributária quando o montante capitalizado se converte
em benefícios.
Reflexo desta política de incentivo é um crescimento dos recur­
sos da Previdência Complementar Privada em relação ao PIB destes
países, fato que deverá ocorrer também no Brasil.

!!(> REYNAUD , Emmanuel. Financiamento das aposentadorias: repartição e capitalização


na união européia. Fundos de Pensão, ne 282, março de 2003, p. 29.

226
A isenção tributária em relação às contribuições para a Previ­
dência Privada, que ocorreu nos países citados desde a Segunda Guerra
Mundial, propiciou um financiamento maciço dos fundos previden­
ciários privados. Isto possibilitou a majoração da poupança interna,
fato que beneficiou patentemente todos esses países conhecidos pelo
alto grau de desenvolvimento. A Previdência Complementar Priva­
da deve, além de proporcionar benefícios diferidos, ser objeto de tri­
butação diferida.
O governo brasileiro tem dívidas abissais, e não tem dinheiro
para investimentos em projetos típicos de governo (infra-estrutura,
v.g.). A resposta econômica aos referidos projetos ocorrerão no longo
prazo, fato que desinteressa a iniciativa privada. Como as obrigações
dos fundos de pensão também se baseiam no longo prazo, os investi­
mentos destas entidades seriam fundamentais. Os atos estatais po­
dem instigar, obstar e até suprim ir o crescim ento e o bom
funcionamento do sistema previdenciário privado.
A participação dos fundos de pensão no financiamento destes
programas é de interesse do governo e da sociedade.
Os fundos de pensão possuem proporcionalmente um volume
de recursos maior em relação às entidades abertas, mas o crescimen­
to da Previdência Privada aberta é proporcionalmente maior, e influ­
encia também na poupança interna.
A questão tributária (extrafiscal) na Previdência Privada é fun­
damental. O fator inibição/incentivo está totalmente concatenado
com o espírito da proteção social. Participantes, empregadores (pa­
trocinadores) e entidades devem ter a possibilidade de encontrar um
cenário tributário favorável à manutenção de recursos na Previdência
Privada.

227
16. M in is t é r io da P r e v id ê n c ia S o c ia l

0 Ministério da Previdência Social, órgão da administração fe­


deral direta, tem como área de competência os seguintes assuntos:
1 - previdência social; e
II - previdência complementar.
De acordo com o Decreto n° 5.469/2005, o Ministério da Pre­
vidência Social tem a seguinte estrutura organizacional:
I - órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado:
a) Gabinete;
b) Secretaria-Executiva:
1. Departamento de Tecnologia e Informação; e
2. Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Administração;
c) Consultoria Jurídica; e
d) Ouvidoria-Geral da Previdência Social;
II - órgãos específicos singulares:
a) Secretaria de Previdência Social:
1. Departamento do Regime Geral de Previdência Social; e
2. Departamento dos Regimes de Previdência no Serviço Público;
b) Secretaria de Previdência Complementar:
1. Departamento de Análise Técnica; e
2. Departamento de Assuntos Econômicos;
3. Secretaria da Orientação Jurídica;
4. Departamento de Assuntos Atuariais;
5. Departamento de Fiscalização.
c) Secretaria da Receita Previdenciária;
1. Departamento de Administração da Receita Previdenciária;
2. Departamento de Fiscalização da Receita Previdenciária;
3. Departamento de Informações Estratégicas; e
4. Assessoria de Estudos Tributários e Normatização.
III - órgãos de gestão:
a) Comitê de Gestão Estratégica da Previdência Social; e
b) Revogado pelo Dec. 5.513/2005.
IV - órgãos colegiados:
a) Conselho Nacional de Previdência Social;
b) Conselho de Recursos da Previdência Social; e
c) Conselho Nacional de Previdência Complementar;
V - entidades vinculadas:
a) autarquias:
b) empresa pública: Empresa de Tecnologia e Informações da
Previdência Social - DATAPREV.
1 6 .1 . S e c r e t a r ia d e p r e v id ê n c ia co m plem en ta r

São atribuições da SPC, segundo o Decreto n° 5.403/2005:


I - propor as diretrizes básicas para o sistema de previdência com­
plementar operado pelas entidades fechadas de previdência com­
plementar;
II - harm onizar as atividades das entidades fechadas de previ­
dência complementar com as políticas de desenvolvimento soci­
al e econômico-financeira do Governo;
III - supervisionar, coordenar, orientar e controlar as atividades
relacionadas com a previdência complem entar fechada;
IV - analisar e aprovar os pedidos de autorização para constitui­
ção, funcionam ento, fusão, incorporação, grupam ento, transfe­
rência de controle das entidades fechadas de previdência com ­
plementar, bem como examinar e aprovar os estatutos das referi-

229
das entidades, os regulamentos dos planos de benefícios c suas
alterações;
V - examinar e aprovar os convênios de adesão celebrados por
patrocinadores e por instituidores, bem como autorizar a retira­
da de patrocínio; e
VI - decretar a administração especial em planos de benefícios
operados pelas entidades fechadas de previdência complem en­
tar, bem como propor ao M inistro de Estado a decretação de
intervenção ou liquidação extrajudicial das referidas entidades.
Outras funções são atribuídas à SPC, como por exemplo:
I - proceder à fiscalização das atividades das entidades fechadas
de previdência complem entar e suas operações, e aplicar as pe­
nalidades cabíveis, nos termos da legislação;
II - expedir instruções e estabelecer procedimentos para aplica­
ção das normas relativas à sua área de competência, de acordo
com as diretrizes do Conselho Nacional de Previdência C om ­
plementar, a que se refere o inciso XVIII do art. 29 da Lei n2
10.683, de 28 de maio de 2003;
III —autorizar a constituição e o funcionamento das entidades
fechadas de previdência complementar, bem como a aplicação
dos respectivos estatutos e regulamentos de planos de benefícios
e de suas alterações;
IV - autorizar as operações de fusão, cisão, incorporação ou qual­
quer outra forma de reorganização societária, relativas às entida­
des fechadas de previdência complementar;
V - autorizar a celebração de convênios e termos de adesão por
patrocinadores e instituidores, e suas alterações, bem como as
retiradas de patrocinadores e instituidores;
VI autorizar as transferências de patrocínio, grupos de partici­
pantes e assistidos, planos de benefícios e reservas entre entida­
des fechadas de previdência complementar;
VII - harm onizar as atividades das entidades fechadas de previ­
dência complem entar com as normas e políticas estabelecidas
para o segmento;

230
VIII decretar intervenção e liquidação extrajudicial das en­
tidades fechadas de previdência com plem entar, bem com o
nom ear interventor ou liquidante, nos term os da legislação
aplicável;
IX - nomear administrador especial de plano de benefícios espe­
cífico, podendo atribuir-lhe poderes de intervenção e liquidação
extrajudicial no respectivo plano, na forma da legislação;
X - decidir, na esfera administrativa, conflitos de interesse entre
entidades fechadas de previdência complementar e entre estas e
seus participantes, assistidos, patrocinadores ou instituidores, as­
sim como dispor sobre os casos omissos;
XI - apurar e julgar as infrações, aplicando as penalidades cabíveis;
XII - enviar relatório anual de suas atividades ao M inistério da
Previdência Social e, por seu intermédio, ao Presidente da Repú­
blica e ao Congresso Nacional.
Com a malfadada tentativa de criação de uma Superinten­
dência para o âmbito da Previdência Privada fechada, a PREVIC
não se concretizou. Havia a intenção de cobrar das entidades fe­
chadas uma Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Com­
plementar - TAFIC - que seria uma das receitas da PREVIC,
conjuntamente com as dotações consignadas no Orçamento Ge­
ral da União, créditos especiais e adicionais, transferências e re­
passes que lhe fossem conferidos; os recursos provenientes de
convênios, acordos e contratos celebrados com entidades, orga­
nismos e empresas, públicas ou privadas, nacionais ou internacio­
nais; e os produto da arrecadação de multas resultantes da aplicação
de penalidades decorrentes de fiscalização ou de execução judici­
al (entre outras).
A TAFIC era devida trimestralmente, em valores expressos
em reais, conforme tabela abaixo apresentada, e seu recolhimento
será feito até o dia dez dos meses de janeiro, abril, julho e outubro
de cada ano.

231
Valor em reais dos Recursos Garantidorcs por Taxa 'Ii imostrai
plano de benefícios (R$)
ate 5.000.000,00 15,00
De 5.000.000,01 até 9.000.000,00 125,00
Dc 9.000.000,01 até 16.000.000,00 325,00
Dc 16.000.000,01 até 40.000.000,00 650,00
De 40.000.000,01 até 90.000.000,00 1.750,00
De 90.000.000,01 até 200.000.000,00 3.750,00
De 200.000.000,01 até 300.000.000,00 8.750,00
De 300.000.000,01 até 500.000.000,00 13.750,00
De 500.000.000,01 até 1.000.000.000,00 23.750,00
l)e 1.000.000.000,01 até 2.000.000.000,00 47.500,00
De 2.000.000.000,01 até 5.000.000.000,00 95.000,00
Dc 5.000.000.000,01 até 11.000.000.000,00 237.500,00
De 11.000.000.000,01 até 19.000.000.000,00 500.000,00
De 19.000.000.000,01 até 26.000.000.000,00 900.000,00
De 26.000.000.000,01 ate 35.000.000.000,00 1.225.000,00
De 35.000.000.000,01 até 45.000.000.000,00 1.625.000,00
De 45.000.000.000,01 até 60.000.000.000,00 2.125.000,00
mais de 60.000.000.000,01 2.800.000,00

No Canadá, os fundos de pensão contribuem para a manuten­


ção da entidade fiscalizadora e reguladora na proporção do número
de participantes (dentro de um valor mínimo e máximo). Na Austrá­
lia esta contribuição dos fundos de pensão advém de um orçamento
estimado que é rateado entre os fundos. E na Hungria, a arrecadação
e despesa de cada fundo de pensão embasam sua contribuição.
O Brasil esteve em vias de se aproximar do modelo húngaro,
mantendo uma proporção arrecadatória entre as entidades. Não obs­
tante, é importante que haja independência da PREVIC.
17. P a r c e r ia p ú b l ic o -p r i v a d a e p r e v id ê n c ia p r iv a d a

Tornou-se pública a importância da Previdência Privada no cam­


po do investimento nacional com a notoriedade das parcerias públi-

232
i o privadas, tão alardeadas pela mídia brasileira. A Previdência Pri­
vada permite um aumento da poupança interna, possibilitando uma
atuação financeira e econômica de longo prazo. Fundos de pensão
podem ter interesse em investir em determinadas obras ou ativida-
<les de cunho público; fato que não ocorreria com investidores priva-
i los, dado o desinteresse por investimentos de longo prazo no Brasil.
( )s fundos de pensão existem no contexto do longo prazo, pela pró­
pria natureza previdenciária, e são sumamente importantes no de­
senvolvimento nacional.
Prova disto é que dentro dos projetos prioritários do Plano Plu-
rianual de Investimentos (PPA-2002), o financiamento oriundo do
patrimônio dos fundos de pensão figurou como prioridade (jornal O
Estado de São Paulo, 20 de novembro de 2002, B4).
José Maurício Conti87 explica que o PPA é uma lei de iniciativa
do chefe do Poder Executivo (art. 165,1, §1°, da Constituição), e sua
finalidade consiste no estabelecimento das diretrizes, objetivos e metas
regionais da administração pública federal.
O governo não tem dinheiro para investimentos nestes proje­
tos, e a resposta econômica dos referidos projetos ocorrerão no longo
prazo, fato que desinteressa a iniciativa privada. Como as obrigações
dos fundos de pensão também se baseiam no longo prazo, os investi­
mentos destas entidades seriam fundamentais.
A participação dos fundos de pensão no financiamento destes pro­
gramas é de interesse do governo e da sociedade. O que não pode
acontecer é uma compulsoriedade de aplicações dos fundos de pensão
em determinadas empreitadas. Os investimentos feitos pelos fundos
de pensão devem objetivar sobejamente o pagamento dos benefícios
(atuais e futuros) dos participantes. À época recente das privatizações

87 CONTI, José Maurício. Direito financeiro na constituição de 1988. São Paulo: Editora
Oliveira Mendes, 1998, p. 80.

233
de empresas estatais no Brasil ficou notória a particip.lção política de
fundos dc pensão brasileiros nestes procedimentos (desvirtuando o papel
destas entidades). Aliás, quanto mais o caráter político dos fundos dc
pensão for evitado, melhor o respeito pelos recursos dos participantes,
que serão administrados com profissionalismo.
Existe um reconhecimento explícito, por parte do governo (e de
qualquer pessoa sensata), das vantagens da poupança interna oriun­
da da Previdência Privada. O dinheiro necessário para investimentos
cm projetos essenciais ao País pode ser obtido com os fundos do
sistema previdenciário privado.
Assim, o dinheiro não precisa vir de fora do País (dinheiro caro
e com juros altos).
A maior prova da veracidade desta importância da poupança
previdenciária privada está na declaração do próprio presidente Lula88
elogiando a participação dos fundos de pensão de empresas estatais
no processo de privatização ocorrido no governo anterior. Os recur­
sos dos fundos de pensão evitaram que a privatização dependesse de
capital externo, e o presidente concordou com isto. Na Holanda e na
Suíça a proporção do capital previdenciário privado no PIB (Produ­
to Interno Bruto) ultrapassa os 100%.
Nesta linha de raciocínio, a Lei n° 11.079, de 30 de dezembro
de 2004 instituiu normas gerais para licitação e contratação de par­
ceria público-privada no âmbito da administração pública, dos Po­
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
A Lei n° 11.079 se aplica aos órgãos da Administração Públi­
ca direta, aos fundos especiais, às autarquias, às fundações públicas,
às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às demais
entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Esta­
dos, Distrito Federal e Municípios.

88 O Estado de São Paulo, 29 de maio de 2003, p. A8.


A parceria pú b lico -p riv ad a se c o n cretiza p o r u m c o n tra to a d ­
m in istrativ o de concessão, de c u n h o p a tro c in ad o o u ad m in istrativ o .
Concessão patrocinada se manifesta pelo contrato de concessão de
serviços públicos ou de obras públicas (Lei n° 8.987, de 13 de fevereiro de
199,5).Tal concessão envolve, além da tarifa cobrada dos usuários do servi-
çc>,contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.
Concessão administrativa se manifesta pelo contrato de presta­
ção de serviços nos quais a Administração Pública seja a usuária direta
ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e
instalação de bens. Não será considerada pela Lei n° 11.079 uma par­
ceria público-privada a concessão de serviços públicos ou de obras pú­
blicas de que trata a Lei n° 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 (quando
não envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parcei­
ro privado, ou seja, há somente tarifa cobrada dos usuários do serviço).
Previamente à celebração do contrato, deverá ser constituída so­
ciedade de propósito específico (que poderá assumir a forma de com­
panhia aberta, com valores mobiliários admitidos a negociação no
mercado), incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria. A
Administração Pública não pode ser titular da maioria do capital
votante dessas sociedades de propósito específico.
A sociedade de propósito específico deverá obedecer a padrões
de governança corporativa. A governança corporativa surgiu nos EUA
e Inglaterra “corporate governance”) e envolve métodos de controle
societário que primam pela ética, equidade societária, prestação de
contas, cumprimento das leis, e transparência. É uma gestão profis­
sional, sem envolvimento de indicações políticas, afetivas ou nepo-
tistas para cargos administrativos da sociedade. Parece óbvio, mas há
sociedades que não seguem estes conceitos.
A efetivação do contrato de parceria público-privada será pre­
cedida de licitação na modalidade de concorrência, estando a aber­
tura do processo licitatório condicionada a:

235
I autorização da autoridade competente, fundamentada em es -
tudo técnico que demonstre:
a) a conveniência e a oportunidade da contratação, mediante iden­
tificação das razões que justifiquem a opção pela form a de par­
ceria público-privada;
b) que as despesas criadas ou aumentadas não afetarão as metas
de resultados fiscais previstas no Anexo referido no § I o do art.
4” da Lei Com plem entar n° 101, de 4 de maio de 2000, devendo
seus efeitos financeiros, nos períodos seguintes, ser compensa­
dos pelo aumento perm anente de receita ou pela redução per­
manente de despesa; e
c) quando for o caso, conforme as normas editadas na forma do
art. 25 desta Lei, a observância dos limites e condições decorren­
tes da aplicação dos arts. 29, 30 e 32 da Lei Com plem entar n"
101, de 4 de maio de 2000, pelas obrigações contraídas pela A d­
ministração Pública relativas ao objeto do contrato;
II - elaboração de estimativa do impacto orçamentário-financeiro
nos exercícios em que deva vigorar o contrato de parceria público-
privada;
III —declaração do ordenador da despesa de que as obrigações
contraídas pela Administração Pública no decorrer do contrato
são compatíveis com a lei de diretrizes orçamentárias e estão pre­
vistas na lei orçamentária anual;
IV - estimativa do fluxo de recursos públicos suficientes para o
cumprimento, durante a vigência do contrato e por exercício fi­
nanceiro, das obrigações contraídas pela Administração Pública;
V - seu objeto estar previsto no plano plurianual em vigor no
âmbito onde o contrato será celebrado;
VI - submissão da minuta de edital e de contrato à consulta pú­
blica, mediante publicação na imprensa oficial, em jornais de grande
circulação e por meio eletrônico, que deverá informar a justificati­
va para a contratação, a identificação do objeto, o prazo de dura­
ção do contrato, seu valor estimado, fixando-se prazo mínimo de
30 (trinta) dias para recebimento de sugestões, cujo termo dar-se-

236
;í polo menos 7 (sete) dias antes da data prevista para a publicação
do edital; e
VII - licença ambiental prévia ou expedição das diretrizes para o
licenciamento ambiental do empreendimento, na forma do regu­
lamento, sempre que o objeto do contrato exigir.
A Lei n° 11.079 veda a celebração de contrato de parceria pú­
blico-privada:
I - cujo valor do contrato seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte
milhões de reais);
II - cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco)
anos; ou
III —que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-
obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução
de obra pública.
O art. 4Uda Lei n° 11.079 especifica que na contratação de par­
ceria público-privada serão observadas as seguintes diretrizes:
I - eficiência no cum prim ento das missões de Estado e no em ­
prego dos recursos da sociedade;
II —respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos servi­
ços e dos entes privados incumbidos da sua execução;
III - indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do
exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do
Estado;
IV - responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;
V —transparência dos procedimentos e das decisões;
VI - repartição objetiva de riscos entre as partes;
VII - sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos
projetos de parceria.
As cláusulas dos contratos de parceria público-privada devem
seguir o disposto no art. 23 da Lei n° 8.987, de 13 de fevereiro de
1995, devendo também prever:

237
l —o prazo de vigência do contrato, compatível com a amortização
dos investimentos realizados, não interior a 5 (cinco), nem superi­
or a 35 (trinta e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação;
II - as penalidades aplicáveis à Administração Pública e ao par­
ceiro privado em caso de inadimplemento contratual, fixadas sem­
pre de forma proporcional à gravidade da falta cometida, e às obri­
gações assumidas;
III - a repartição de riscos entre as partes, inclusive os referentes a
caso fortuito, força maior, fato do príncipe e álea econômica extra­
ordinária;
IV - as formas de remuneração e de atualização dos valores
contratuais;
V —os mecanismos para a preservação da atualidade da prestação
dos serviços;
VI - os fatos que caracterizem a inadimplência pecuniária do par­
ceiro público, os modos e o prazo de regularização e, quando hou­
ver, a forma de acionamento da garantia;
VII —os critérios objetivos de avaliação do desempenho do par­
ceiro privado;
VIII —a prestação, pelo parceiro privado, de garantias de execução
suficientes e compatíveis com os ônus e riscos envolvidos;
IX - o compartilhamento com a Administração Pública de gan­
hos econômicos efetivos do parceiro privado decorrentes da redu­
ção do risco de crédito dos financiamentos utilizados pelo parcei­
ro privado;
X —a realização de vistoria dos bens reversíveis, podendo o parcei­
ro público reter os pagamentos ao parceiro privado, no valor ne­
cessário para reparar as irregularidades eventualmente detectadas.
Poderão prever os contratos adicionalmente:
I - os requisitos e condições em que o parceiro público autorizará
a transferência do controle da sociedade de propósito específico
para os seus financiadores, com o objetivo de promover a sua
reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação

238
dos serviços, não se aplicando para este efeito o previsto no inciso
I do parágrafo único do art. 27 da Lei n° 8.987, de 13 de fevereiro
de 1995;
II - a possibilidade de emissão de em penho em nom e dos
financiadores do projeto em relação às obrigações pecuniárias da
Administração Pública;
III - a legitimidade dos financiadores do projeto para receber in­
denizações por extinção antecipada do contrato, bem como paga­
mentos efetuados pelos fundos e empresas estatais garantidores
de parcerias público-privadas.
O contrato poderá prever o pagamento ao parceiro privado de
remuneração variável vinculada ao seu desempenho, conforme metas
e padrões de qualidade e disponibilidade definidos no contrato.
Pelo art. 16 da Lei n° 11.079, há um limite global de R$
6.000.000.000,00 (seis bilhões de reais) adstrito à autorização de par­
ticipação da União, suas autarquias e fundações públicas, em Fundo
Garantidor de Parcerias Público-Privadas - FGP. O Fundo Garan­
tidor de Parcerias Público-Privadas - FGP garante o pagamento de
obrigações pecuniárias assumidas pelos parceiros públicos federais
em virtude das parcerias. O FGP terá natureza privada e patrimônio
próprio separado do patrimônio dos cotistas, e será sujeito a direitos
e obrigações próprios.
Segundo o art. 27 da Lei n° 11.079, as operações de crédito
efetuadas por empresas públicas ou sociedades de economia mista
controladas pela União não poderão exceder a 70% (setenta por cen­
to) do total das fontes de recursos financeiros da sociedade de propó­
sito específico, sendo que para as áreas das regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste, onde o índice de Desenvolvimento Humano - ID H
seja inferior à média nacional, essa participação não poderá exceder a
80% (oitenta por cento).
Já o § í- do art. 27 da Lei n° 11.079 cita, verbatim, os fundos
de pensão:

239
“Não poderão exceder a 80% (oitenta por cento) do total das
fontes de recursos financeiros da sociedade de propósito especí­
fico ou 90% (noventa por cento) nas áreas das regiões Norte,
N ordeste e C entro-O este, onde o índice de Desenvolvim ento
H um ano - ID H seja inferior à m édia nacional, as operações
dc crédito ou contribuições de capital realizadas cum ulativa­
m ente por:
I - entidades fechadas de previdência com plem entar;
II - empresas públicas ou sociedades de econom ia m ista con­
troladas pela U nião”.
A participação dos fundos de pensão fica condicionada a es­
tes limites.

18. A P r e v id ê n c ia P r iv a d a d o s EUA - in flu ê n c ia


n o B r a s il

A Previdência Privada brasileira atual é uma verdadeira có­


pia do sistema norte-americano, a começar pela terminologia uti­
lizada. Apenas para dar alguns exemplos: patrocinador (sponsor),
participante {participant), planos de benefício definido e de con­
tribuição definida (defined confribution, defined benefit), elegibili­
dade (eligibility). Até mesmo o benefício proporcional diferido é
conhecido na doutrina e na prática brasileira como vesting, termo
(pie em inglês significa proteção, cobertura. Nos EUA é exata­
mente o benefício proporcional diferido. Os termos multiplano e
multipatrocínio tem o conceito análogo em inglês: multiemployer
pensionplan.
Até mesmo os novos fundos instituídos, que são assunto em
voga no Brasil, existem há decênios nos EUA. De fato, enquanto
aqui os sindicatos começam a se organizar para criar fundos de
pensão para os associados, nos EUA os Union Pension Plans (fun­
dos de pensão dos sindicatos) são instrumentos políticos podero­
sos (o poder dos sindicatos americanos, hoje, está mais conectado

240
aos fundos dc pensão do que propriamente às suas funções tradi­
cionais de representação).
Como não há um aprofundamento doutrinário ou jurisprudencial
suficiente que tenha servido de parâmetro para a nova legislação bra­
sileira, talvez esta cópia (não só dos termos, mas também da estrutu­
ra —como mostraremos a seguir) tenha sido trazida pelas grandes
seguradoras. Não cremos que uma emulação tão semelhante possa
ser saudável para nosso sistema. As condições dos EUA são comple­
tamente diferentes das nossas.
Nos EUA existe relativamente muito pouco desemprego, e a
esmagadora maioria dos empregos são formais. Previdência Privada
nos EUA é política dos empregadores para atrair bons empregados.
As vantagens tributárias (como no Brasil) servem para atrair para o
sistema tanto empregadores como empregados. Como há mais mui­
to mais ofertas de emprego nos EUA, a situação no Brasil é menos
marcante, do ponto de vista até da força de barganha dos emprega­
dos. Se um americano perde o emprego, a probabilidade de conse­
guir outro é abissalmente superior a do brasileiro. O empregador
brasileiro tem assim menos motivos para contribuir para a Previdên­
cia Complementar de seus empregados.
Além disto, a legislação norte-americana reforça sobremaneira
a proteção do participante (e mesmo assim houve problemas como o
da Enron). No Brasil não há tanta proteção.
O Direito Previdenciário americano (Pension Law ) está co­
nectado a um Direito ainda inexistente no Brasil: o Ederly Law
(Direito dos Idosos). Existe então toda uma gama de legislação,
jurisprudência e doutrina lidando com assuntos pertinentes aos ido­
sos (benefícios previdenciários, discriminação no trabalho, crimes,
etc). Neste aspecto o Brasil já vem avançando, com a recente cria­
ção do E s ta tu to do Id o so (Lei n° 10.741, de I o de outubro de 2003),
que trata dos direitos fundamentais do idoso.

241
O sistema previdenciário privado nos IÍIJA está pautado numa
legislação básica: O IRC (Internai Revenue Code) e o ERISA (Em-
/>loycc Retirement Income Security Act). A Previdência Privada norte­
ai nericana é bem mais antiga que a nossa, tendo surgido nos anos de
1920. Desde 1928 o IRC permite isenções ou deduções tributárias
relativas às contribuições para planos de Previdência Privada (dentro
da idéia de welfare). Numerosos planos norte-americanos têm mais de
() (lécadas de existência. Nem por isto deixa de haver episódios lamen-
táveis, como o bem divulgado fato ocorrido recentemente com os tra-
I talhadores da empresa Enron (que será melhor analisado mais adiante).
() IRC inibe privilégios para altos funcionários (diretores, geren-
tes, etc) em detrimento dos demais empregados. A chamada vedação à
discriminação é bem sublinhada na legislação americana. A doutrina
jurídica na Previdência Privada dos EUA prega robustamente o prin­
cipio da não discriminação (non-discrimination). O objetivo desta cor-
! rente doutrinária é garantir a cobertura previdenciária privada dos
l empregados de média e baixa renda. O IRC inibe privilégios para altos
luncionários (diretores, gerentes, etc) em detrimento dos demais em-
| pregados. A chamada vedação à discriminação é bem sublinhada na
legislação americana.
A grande crítica que os próprios doutrinadores americanos fazem
;i IYevidência Privada norte-americana consiste na constatação de que
quem está obtendo maiores vantagens são advogados, atuários, conta­
dores e administradores, em detrimento dos participantes.
Outra crítica se baseia nas perdas dos fundos de pensão nos mer­
cados de capitais. Uma das soluções é a diversificação de investimen­
tos, com ênfase em diminuição de riscos.
A legislação que controla o sistema previdenciário privado nos
\l IA é intrincada, extensa e por vezes prolixa e redundante.
O que é abundantemente divulgado nos meios de comunicação
í a necessidade de poupar para a aposentadoria. Existe um grau de

242
propaganda tão avassalador que qualquer cidadão, mesmo crianças,
eonhecem muito melhor o contexto previdenciário privado, compa­
rativamente com o Brasil.
A justificativa das pessoas, além das fiscais expostas acima, para
contribuir para uma aposentadoria suplementar é que qualquer coisa
que force a pessoa a poupar para a aposentadoria é importante (o ser
humano, principalmente num país consumista, tem o instinto lanci­
nante de gastar). Estando o dinheiro da pessoa num fundo previden­
ciário, existem, como no Brasil, os penaltys pelo resgate antecipado
dos fundos. Previdência Privada é aplicação de longo prazo, e o res­
gate antecipado acarreta contratualmente perda de dinheiro.
Sendo diferente de um fundo de investimento comum, onde o
resgate antecipado não leva necessariamente a uma perda do rendi­
mento, existe uma compressão sobre o participante para manter o
dinheiro no plano até a aposentadoria.
1 8 .1 . 4 0 1 ( k )

Como os 401(k) foram citados acima, e têm relação com os pla­


nos abertos previstos na Lei Complementar n° 109, cabem aqui bre­
ves comentários. O chamado PGBL - Plano Gerador de Benefícios
Livres - típico das Entidades Abertas de Previdência Privada (será
analisado oportunamente mais adiante) foi inspirado nos chamados
401(k), que concentram hoje 52 m ilhões de p a rticip an tes nos Esta­
dos Unidos89.
Os 401(k) são os planos de Previdência Privada mais populares
nos Estados Unidos (número do instituto legal que permite a existên­
cia do plano) seguidos pelos IRAs (Individual Retirement Accounts).
IRAs são planos puramente individuais de aposentadoria, en­
quanto que os 401 (k) são planos individuais ou coletivos, podendo

89 The Economist, 10 de maio de 2003, p. 9.

243
ser pactuados pelas empresas empregadoras para seus funcionários.
Fxistem dois tipos dc IRAs:
- simples, ou tradicional: que permite isenção tributária das
contribuições e até de resgates, dependendo do salário do partici­
pante (quanto menor o poder aquisitivo, mais condescendente é o
tratamento tributário);
- Roth IRA: neste caso não há isenção das contribuições, mas,
quando há o chamado qualifieddistribution (resgate qualificado - res­
gate das contribuições que ocorre após cinco anos do início do pla­
no), existe isenção tributária absoluta.
Tal isenção também ocorre quando o resgate for feito por pes­
soa maior de 59 anos e meio, deficientes, compra da primeira casa
própria (até U$ 10.000), ou em caso de morte do participante (aí,
resgate dos beneficiários assistidos). Esta flexibilidade atrai muito
a população menos favorecida da sociedade. E, verdadeiramente, o
exercício de proteção social dentro da Previdência Complementar
IVivada.
Voltando aos 401(k), estes planos têm características semelhantes
(serviu de modelo) às do Plano Gerador de Benefícios Livres brasilei­
ro, tais como flexibilidade e ingerência do participante nas aplicações.
Nesses planos, o empregado contribui com parte do salário, sendo
que a empresa pode ou não contribuir também, visando aposentado­
ria futura e diferida.
Os 401 (k) são tão populares nos EUA que o volume de recursos
internos envolvendo tais planos movimenta trilhões de dólares, fato
que favorece a poupança interna e o crédito fácil à população, e evita
a necessidade de endividamento do país
18.2. 4 0 3 ( b )
Notemos que a utilização do dispositivo legal no IRC (Inter­
nai Revenue Code) levou à nomenclatura de alguns planos. Os pia­

244
nos 401 (1c), assim, não se confundem com os 403(b), apesar da es­
trutura muito similar. Os chamados planos 403(b), também deno­
minados tax-sheltered annuity (TSA - tendo o sentido de “abrigo
t ributário”), são planos de aposentadoria complementar destinados
a determinadas categorias de trabalhadores (funcionários de esco­
las públicas, ou mesmo de Organizações Não-Govenamentais -
ONGs, e até sacerdotes, v.g.).
De qualquer maneira, o grande atrativo destes planos continua
sendo o tax-exempt, ou seja, a isenção tributária. O Brasil caminha
nesta direção no momento em que as reformas constitucionais apon­
tam para o incentivo do ingresso de categorias do funcionalismo pú­
blico no sistema complementar, ainda que de forma voluntária (mesmo
porque a compulsoriedade é vedada pela constituição brasileira).
1 8 .3 . 4 5 7

Outrossim, planos 401(k) e 403(b) não se confundem com os


457. Os planos complementares 457 (a nomenclatura ligada a insti­
tutos legais é bem difundida entre a população) são relativos a em­
pregados da União, dos Estados, ou mesmo de entidades que possuam
imunidade tributária.
A confiança dos empregados neste tipo de plano é tamanha que,
normalmente, as contribuições ao plano chegam a um terço do salá­
rio (sempre voluntariamente). De novo o grande chamativo do plano
complementar é a isenção tributária. A pessoa prefere poupar para a
aposentadoria do que pagar impostos.
1 8 .4 . P l a n o s q u a l if ic a d o s (q u a l i f i e d P e n s i o n pla n s)

Os chamados qualified retirementplans (planos qualificados de apo­


sentadoria) são planos de estrutura básica similar. Estão previstos no
IRC (.Infernal Revenue Coãe) (literalmente Código de Receita Inter­
na), seção 401, subseção (a). Para serem considerados “qualificados” os
planos devem preencher os requisitos do IRC. O requisito principal

245
consiste na necessidade de iniciativa do empregador (segundo a seção
■101, subseção (a), pode haver contribuição de empregador, emprega­
dos ou dc ambos).
Os atrativos para o ingresso nestes planos são os benefícios fis­
cais sobre: contribuição do patrocinador; isenção sobre o montante
dos fundos, até que haja a distribuição dos benefícios de aposentado­
ria; alíquotas reduzidas na distribuição dos benefícios de aposenta­
doria, tanto para participantes como para os beneficiários (caso de
morte do participante). Para o empregador é interessante porque pode
pagar mais ao empregado de forma diferida (deixando o empregado
mais satisfeito e seguro para trabalhar), e para o empregado a vanta­
gem é pagar menos imposto e garantir aposentadoria.
Nos EUA, a condição do plano de Previdência Complementar
IVivada influencia em muito no tratamento tributário aplicado. Os
acima denominados planos qualificados de aposentadoria são pla­
nos que obedecem a certos critérios ditados pelo IRC {InternaiRe-
venue Code).
Estes planos qualificados podem ser organizados por um patro-
l cinador a fim de propiciar benefícios previdenciários (isenção tribu­
tária efetiva) aos empregados deste ente patrocinador. São planos
orientados a grupos abrangentes de trabalhadores empregados.
1 8 .5 . P l a n o s n ã o -q u a l i f i c a d o s ( n o n -q u a l i f i e d P e n s i o n
PLANS)

Os denominados planos não-qualificados de aposentadoria são


planos que tipicamente fogem aos critérios do Código de Receita
Interna {InternaiRevenue Code), e não possuem um tratamento tri­
butário tão condescendente.
A principal diferença na denominação importa sob o prisma
social, pois os planos não-qualificados de aposentadoria são nor­
malmente os destinados a funcionários de hierarquia elevada (ge­
rentes, diretores etc), que pertencem a estamentos sociais superiores,

246
e de alto poder aquisitivo. Alguns IRAs tam bém recebem esta de­
nominação.
Absolutamente correto o tratamento dos planos. Claro que a
isenção tributária deve seguir o princípio da igualdade. Quem pode
mais deve ter menor isenção, visão que deve ser adotada no sistema
previdenciário privado do Brasil.
1 8 .6 . O c a so E nron

Analisaremos, neste ensejo, o caso Enron (envolvendo o 401(k)


dos trabalhadores da empresa) com o intuito de mostrar as fragilida-
des do sistema norte-americano.
O recente escândalo envolvendo a falência da empresa norte-
americana Enron, uma das sete maiores empresas do mundo à época
de apogeu, chamou a atenção do Congresso americano em relação
ao problema previdenciário privado envolvendo os empregados da
companhia.
Enquanto os empregados de menor escalão testemunhavam a
destruição de suas poupanças previdenciárias privadas (401 (k)), de­
vido ao colapso das ações da empresa (os planos de Previdência Pri­
vada desses funcionários estavam lastreados nas ações da própria
empresa onde trabalhavam), os altos executivos da companhia já ha­
viam vendido as ações da Enron que possuíam.
Estes altos executivos da Enron fizeram resgates, inclusive, dos lun-
dos existentes em seus planos previdenciários privados ligados à empresa.
Fica evidente que esses executivos possuíam informações privi­
legiadas que lhes permitiram drenar os ativos existentes nos planos
401 (k), enquanto que o restante dos funcionários desamparados viu
seu futuro ser destruído juntamente com o nome Enron.
Houve mais do que uma questão de privilégio de informações.
Ocorreu, sim, um emblemático precedente de uma situação de risco
de participantes de planos previdenciários privados.

247
Nem mesmo toda a tradição que os EUA possuem no contexto
da Previdência Privada pode evitar a semelhante tragédia como a
ocorrida no presente caso. É importante frisar que o Chile copiou o
sistema previdenciário privado norte-americano, e o sistema chileno
hoje é um paradigma seguido em grande parte do planeta.
Ressalve-se que sistema chileno ainda não foi plenamente tes­
tado, pois foi criado em 1980 e as aposentadorias em massa começa-
rão a acontecer nesta década (passados 25 ou 30 anos da criação do
sistema privado obrigatório). A Previdência do Chile é maciçamente
ligada ao mercado financeiro.
Se aconteceu nos EUA, pode acontecer no Chile ou em qual­
quer outro país com sistema similar.
Os congressistas norte-americanos analisaram o caso com mui­
ta preocupação, pois houve intensos protestos da população que as­
sistiu pela televisão funcionárias velhinhas da Enron depondo ao
Comitê de Finanças do Senado sobre os fundos individuais que pos­
suíam (cada uma delas possuía fundos em torno de USS 1.500.000 e
boje não chegam a alcançar US$ 10.000 por conta da desvalorização
das ações da empresa).
Desses fundos sairiam as aposentadorias de benefício diferido,
ou seja, que seriam pagas pelo resto das vidas dessas funcionárias.
Era, basicamente, tudo o que elas puderam amealhar ao longo de
suas vidas.
A credibilidade da Previdência Privada nos EUA foi grande­
mente afetada, ocorrendo depois disso numerosas propostas legisla­
tivas envolvendo desde a auto-regulamentação corporativa até
mudanças nas leis tributária e previdenciária privada.
O resultado legislativo foi um enrijecimento tributário visando
prevenir futuros escândalos análogos ao da Enron.
A tendência atual nos Estados Unidos é haver uma a regulamen­
tação maior e mais rígida dos planos 401(k) ligados a empresas e seus

248
luncionários. A própria educação dos trabalhadores sobre seus direitos
previdenciários privados e os riscos envolvendo as contribuições, que
sao convertidas em ações da empresa onde trabalham, está sendo mais
difundida. A facilidade que os trabalhadores têm de efetuar as aplica­
ções de suas contribuições previdenciárias privadas em ações da em­
presa onde trabalham pode ser justamente o fator de destruição dessas
contribuições.
Nem mesmo o chamado ERISA (Employee Retirement Inco-
me Security Act), de 1974, juntamente com o Código Tributário
(7ax Code) e o Age Discrimmation in Employment Act (legislação
federal contra a discriminação etária no trabalho), conseguem ofe­
recer proteção suficiente neste tipo de investimento securitário/
previdenciário.
O ERISA faz parte do trio legal relativo à proteção dos benefí­
cios previdenciários dos trabalhadores empregados (Tax Code) e o
Age Discrimination in Employment Act). E importante frisar que o
ERISA fixa padrões mínimos de proteção de participantes de planos
de aposentadoria e de segurados de planos de saúde; padrões míni­
mos que não protegeram os empregados da Enron.
Devido a todo este cenário ligado à especulação financeira e Pre­
vidência Complementar Privada, hoje nos Estados Unidos há um
grande número de trabalhadores empregados, e mesmo autônomos,
que vão se aposentar sem que haja em seus fundos de Previdência
Privada recursos suficientes para uma aposentadoria digna.
Apesar desses riscos que mostramos acima, o Congresso norte-
americano ainda intencionalmente preserva a liberdade individual
de investimento dos empregados.
Concordamos que essa liberdade individual de investimento deve
existir. No Brasil, esta liberdade é completamente tolhida, como no
exemplo do FGTS (que rende 3% ao ano!), em que o empregado, de
forma governamental paternalista, não pode dispor desse dinheiro se­

249
não em situações especiais dispostas em lei (perda de emprego, aitls ou
câncer, v.g.).
Desde que haja um mínimo de segurança dentro dos investi­
mentos previdenciários, o trabalhador deve ter o direito pleno de dis­
por e investir aquilo que conquistou com seu suor.
Outras empresas dos EUA também proporcionaram planos de
Previdência Privada a seus funcionários, 401(k), lastreados nas ações
das empresas.
Acontece que com algumas ocorreu exatamente o contrário do
i icorrido com a Enron. Há funcionários de empresas de software com
menos de 50 anos de idade que somente pelo fato de ter sido partici­
pante desses planos, hoje são milionários. Ingressaram na empresa
num momento onde as ações eram de valores modestos, e atualmen­
te possuem valores olímpicos.
1 8 .7 . APBGC
Outra vertente virtuosa da Previdência Privada norte-america-
na deve ser aqui apontada. A chamada Pension Benefit Guaranty Cor­
poration (PBGC) é uma autarquia federal norte-americana que
assegura e protege certos planos de benefícios previdenciários priva­
dos. Se determinado plano previdenciário privado for assegurado pela
PBGC, existe a garantia do recebimento dos benefícios até determi­
nados limites legais. Se o empregador estiver em dificuldades finan­
ceiras e não puder contribuir com a parte da patrocinadora do plano,
c, por conseqüência, ocorrer falta de recursos para pagar os benefícios
devidos, pode haver um colapso do plano, levando-o à sua extinção
(ícrmination).
Assume a PBGC este passivo ocorrido pela falta de contri­
buição do empregador na condição de fiadora. A quantia e os ti­
pos de benefícios previdenciários pagos pela PBGC são determinados
pelo regulamento ou pelo próprio contrato do plano que princi-

250
pahncntc pelo código chamado ERISA {Employee Retirement In-
comc Security Act), compêndio legislativo que estabeleceu a cria­
ção da PBGC.
A PBGC não é mantida por meio de impostos. Seus recursos
advêm dos prêmios de seguros pagos pelas companhias que possuem
planos previdenciários privados para seus empregados, planos estes
protegidos pela própria PBGC.
Os tipos de planos segurados pela PBGC são os de benefício
definido. Contudo, a PBGC não assegura planos de benefícios pre­
videnciários relativos a firmas de profissionais liberais, como advo­
gados e médicos, com menos de 26 empregados. Grupos religiosos
ou grupos mantidos na esfera governamental federal, estadual ou mu­
nicipal também não se enquadram na proteção da PBGC.
A PBGC pode inclusive proteger os chamados multiplanos, pre­
vistos pela lei brasileira atual, onde um grupo de empresas participa
de um plano na condição de patrocinadores.
Havendo a ingerência da PBGC num plano o procedimen­
to adotado é primeiramente notificar todos os participantes desse
plano. Após essa modificação existe uma revisão e de todo o
contexto desse plano para se determ inar o valor do benefício
que cada participante receberá da PBG C. Caso haja violações
legais por parte de algum participante, a PBG C pode efetivar
acordos extrajudiciais.
Caso o participante já esteja aposentado e recebendo benefícios
a PBGC honrará a continuidade do pagamento desse benefício sem
interrupção durante a citada revisão. Depois de terminada a revisão,
a PBGC certifica os participantes, por escrito, sobre a quantia defi­
nitiva referente aos benefícios que irão receber daí por diante. A cer­
tificação por escrito indica inclusive os recursos legais que o
participante possui para impugnar os valores dos benefícios revis­
tados pela PBGC.

251
O benefício de aposentadoria pago pela PBGC dependerá dos
seguintes fatores: idade do participante, recursos totais do plano,
recursos amealhados pela contribuição da patrocinadora até o mo­
mento de extinção do plano, a forma do benefício, o benefício má­
ximo que pode ser pagos pela PBGC - de acordo com a legislação
(ERISA), e se houve algum aumento no valor dos benefícios ante­
riormente à extinção do plano.
A PBGC garante benefícios mínimos, que são pagos, quando
em valores menores, de uma só vez (lump surti). Essa quantia paga
pela PBGC pode, inclusive, ser depositada diretamente num outro
plano de Previdência Privada (individual retirement account), fato
que acarreta a não necessidade de pagamento de tributos, a não ser
quando do pagamento do benefício de aposentadoria pago por este
novo plano aderido. Este depósito direto é chamado de tax-free
rollover, devido à isenção tributária (que abrange somente tributos
federais).
Um fator ruim da PBGC consiste no não reajuste dos benefí­
cios pagos pela entidade de acordo com o aumento da inflação ou
do custo de vida. O valor dos benefícios fica fixado na data que a
PBGC assume a responsabilidade pelo plano extinto, e está sujeito
aos limites máximos e restrições ligadas à legislação (ERISA).
A preocupação com a questão previdenciária privada nos EUA
é notável. Entrementes, este país possui uma condição demográfi­
ca peculiar que não assola o Brasil: os baby boomers. Assim é cha­
mada a geração pós-Segunda Guerra M undial. A pirâmide
demográfica norte-americana possui um inchaço na posição que
representa o baby boom (o que seria em português, numa tradução
livre, “explosão de nascimentos”).
Este fluxo de pessoas está em vias de aposentação, e muitas de­
las haviam aplicado recursos no mercado de capitais como forma de
previdência. Houve a chamada “bolha” especulativa do anos 90 que
atraiu este tipo de investidor ingênuo e crédulo. A “bolha”estourou

252
ieeentemcntc (fim da sobrevalorização das empresas ligadas à inter­
net) e o dinheiro que os americanos estavam aplicando na bolsa de
valores visando a aposentadoria desvaneceu-se.
Não só individualmente ocorreram perdas. Os “pension plans”
também foram afetados, pois os ativos dos fundos foram afetados
pelas grandiosas quedas nas bolsas de valores dos EUA. Em 2002,
no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou a
deliberação n° 371, determinando que as empresas homologuem
em seus balanços anuais o desempenho atuarial de seus fundos de
pensão. Esta determinação da CVM procurou resguardar os fun­
dos de pensão brasileiros de uma situação similar à ocorrida nos
EUA.
Segundo dados da própria PBGC, nos últimos anos houve um
déficit dos fundos de pensão nos EUA de US$ 350 bilhões. Dentro
de sua função securitizadora, a PBGC teve de suportar, no ano pas­
sado, gastos de US$ 11,2 bilhões para cobrir os compromissos de
entidades previdenciárias quebradas90. Sem a intervenção da PBGC,
os benefícios dos participantes ligados a tais fundos estariam total­
mente ameaçados.
Devemos levar em conta os fatores adversos ocorridos em ou­
tros países; mas não podemos desprezar os bons exemplos de pro­
teção dos participantes. Mesmo em fase de aposentadoria os
americanos possuem dispositivos de proteção social avançados. Além
da PBGC (que objetiva proteger os participantes), há programas
de seguridade pós-aposentação (post-retirement welfare programs),
que são planos patrocinados pelas empresas que oferecem aos ex-
funcionários aposentados, concomitantemente à aposentadoria, se­
guros de saúde e de vida.

90 D isp o n ível em: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/08/05/


editoriais002.html. Acesso em 10.08.03.

253
1 9 . P r e v id ê n c ia P r iv a d a no C h ile

O Chile e paradigma de discussão sobre Previdência Privada no


mundo. México, Argentina e até mesmo a Polônia, utilizaram o siste­
ma de capitalização individual chileno como modelo (ainda que tais
países tenham mantido um sistema híbrido de repartição simples e
capitalização).
Antes de mais nada, devemos ter em mente que a afirmação de
completa privatização do sistema previdenciário chileno não é total­
mente apropriada. A filiação (afiliación) ao sistema previdenciário chi­
leno {Sistema de Pensiones) tornou-se obrigatória a partir de Io de janeiro
de 1983. Esta filiação, assim como no Brasil, é automática em relação
aos trabalhadores que a partir de Io de janeiro de 1983 tenham come­
çado a trabalhar em atividades abrangidas pelo sistema oficial.
A filiação é a relação jurídica entre o trabalhador e o sistema de
pensões (Sistema de Pensiones de Vejes, Invalidez y Sobrevivência), rela­
ção que originam os direitos e obrigações estabelecidos pelo Decreto-
I ei n° 3.500, em vigor desde 13 de novembro de 1980, que reformou
o Sistema de Pensões existente no país, uniformizados os distintos
regimes previdenciários (dos trabalhadores do setor público e priva­
do). A legislação chilena passou a estabelecer que os trabalhadores que
estavam no antigo sistema poderiam optar por incorporar-se ao novo
ou manter-se no antigo (incorporación voluntaria).
Será voluntária, contudo, a filiação ao sistema chileno daqueles
trabalhadores que começaram a exercer atividades laborais abrangi­
das pelo sistema oficial anteriormente a 31 de dezembro de 1982,
pois esses trabalhadores tinham o direito legal de optar pelo regime
previdenciário anterior (repartição simples) ou de aderir ao então
Nuevo Sistema de Pensiones.
O sistema anterior de repartição simples continua em vigor para
os trabalhadores que optaram por não ingressar no novo sistema. O
Instituto de Normatización Previsional (INP) é a entidade responsável

254
pela fiscalização e pagamento destes benefícios do sistema antigo, e
loi criada pelo Decreto-Lei n° 3.502/80, mediante a união das prin­
cipais ex Cajas de Previsión (Caixas de pensão).
Ainda que o trabalhador exerça uma ou várias atividades simul-
tâneas ou sucessivas, este deverá estar vinculado a apenas uma admi­
nistradora de fundos de pensão.
Também é considerada permanente a filiação ao sistema previ­
denciário chileno, pois consiste num vínculo jurídico que existirá por
toda a vida dos participantes (afiliados), desde que no desempenho
de atividade laborai enquadrada oficialmente no sistema.
A atividade laborai deve ser prevista legalmente, para que haja
filiação. A prostituição, por exemplo, não é a atividade abrangida
pelo sistema chileno (nem brasileiro nem americano). No sistema
holandês, porém, a prostituição é uma atividade prevista pelo orde­
namento jurídico como abrangida pelo sistema previdenciário. O
curioso é que as prostitutas cadastradas (filiadas, como um meio de
controle do próprio Estado) recebem benefícios previdenciários
(como auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez) e até mesmo
implantes de silicone subvencionados pelo sistema de Seguridade
Social holandês.
O Decreto-Lei n° 3.500 visa a assegurar benefícios previdenci­
ários estáveis pautados na manutenção do padrão de vida dos traba­
lhadores. O sistema está baseado na chamada capitalização individual
(,capitalización individual), e cada participante possui uma conta in­
dividual onde deposita as suas contribuições previdenciárias, que vão
se capitalizando de acordo com a rentabilidade dos investimentos
dos fundos feitos pelas administradoras.
Preenchidos os requisitos de elegibilidade, o capital contribuído
pelo filiado lhe é devolvido (ou a seus dependentes) na forma de
benefício. O valor dos benefícios dependerá do valor que foi capitali­
zado ao longo da vida ativa do trabalhador.

255
Os direitos e obrigações previdenciários se referem sobrema­
neira ao direito às prestações previdenciárias e à obrigação de cotiza
ção (formação de fundos) de uma administradora de fundos de pensão.
Ressalve-se que sistema chileno ainda não foi plenamente tes­
tado, pois foi criado em 1980 e as aposentadorias em massa começa­
rão a acontecer nesta década (passados 25 ou 30 anos da criação do
sistema privado obrigatório). A Previdência do Chile é maciçamente
ligada ao mercado financeiro, fator preocupante diante da volatilida­
de do mercado acionário.
19.1. A dministradoras chilenas de Fundos de P ensão
Administradora de fundos de pensão (AFP) é uma sociedade
anônima, S.A., que tem como escopo único e exclusivo administrar
fundos de pensão. Esta administração envolve a gestão de contribui­
ções e pagamentos de benefícios de acordo com a lei. Como contra­
prestação por esses serviços, cada administradora pode legalmente
cobrar taxas de administração e de corretagem para financiar seu
funcionamento.
Detalhe importante consiste no fato de que o patrimônio de cada
administradora é independente e distinto do patrimônio do fundo de
pensão administrado. O patrimônio da administradora deve, por pre­
visão legal, corresponder a um montante em mínimo exigido, propor­
cional ao número de participantes ligados ao fundo de pensão respectivo
(5.000 participantes: 10.000 UF - unidades de fomento; 7.500 partici­
pantes: 15.000 UF - unidades de fomento; 10.000 participantes: 20.000
UF - unidades de fomento91). A UF - unidade de fomento - é cons­
tantemente atualizada de acordo com índices do governo.
Unidade de fomento - UF - é um índice ligado ao poder aquisi­
tivo da população, com reajustes diários segundo a evolução do índice
de preços ao consumidor do mês anterior.

91 http://www.safp.cl/sist_previsional/conU_afiliacion.html
Fin 1981 o sistema incipiente tinha a participação de doze ad­
ministradoras de fundos de pensão92.
Em 2004 há oito administradoras oficiais de fundos de pensão,
fiscalizadas pela Superintendência de Administradoras de Fundos
de Pensão (SAFP), organismo similar à SPC brasileira, que repre­
senta o Estado dentro do sistema chileno de pensões, que está base­
ado na capitalização individual.
A Superintendência de Administradoras de Fundos de Pensão
é uma autarquia federal, autônoma e com o patrimônio próprio, com
funções de fiscalização e controle financeiro, e atuarial, jurídico e
administrativo das administradoras dos fundos de pensões chilenos,
e está ligada ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social, por
meio da Secretaria de Previdência Social.
As sete administradoras chilena são93:
1 - A.F.P. Cuprum S.A., autorizada pela Resolução n° E-012-
81, de 28 de abril de 1981.
2 - A.F.P. Habitat S.A., autorizada pela Resolução n° E-002-
81, de 21 de janeiro de 1981.
3 - A.F.P. Planvital S.A., autorizada pela Resolução n° E-007-
81, de 3 de abril de 1981. Sucessora legal de A.F.P. Invierta S.A. e de
A.F.P. Concordia S.A. (houve fusão com a A.F.P. Magister S.A., au­
torizada pela Resolução n° E-016-81, de 25 de agosto de 1981. Su­
cessora legal de A.F.P. Futuro S.A. e de A.F.P. Qualitas S.A.).
4 - A.F.P. Provida S.A., autorizada pela Resolução n° E-006-
81, de 1 de abril de 1981. Sucessora legal de A.F.P. El Libertador
S.A. e de A.F.P. Union S.A. e de A.F.P. Proteccion S.A..

92 http:llwww.safp.cl!sischilpen!archivoslcap_01 .pdf
93 Disponível em: http:llwww.safp.cllinf_afiliadoslcont1_afps.html. Acesso em: 07 de
agosto de 2004.

257
5 - A.F.P. Santa Maria S.A., autorizada pela Resolução n ' F 001
S1, de 20 de Janeiro de 1981. Sucessora legal de A.F.P. Banguardia S.A..
6 - A.F.P. Summa Bansander S.A., autorizada pela Resolução
ii° E-005-81, de 26 de março de 1981. Sucessora legal de A.F.P. Sum­
ma S.A. e A.F.P. Bansander S.A..
7 - Administradora de Fondos de Cesantía, autorizada pela Re­
solução de da SAFP n° 1 de 9 de setembro de 2002.
As administradoras de fundos de pensão assinaladas acima re­
cebem contribuições e pagam benefícios estabelecidos pela lei, mas
nem por isso deixam de apresentar diferenças administrativas liga­
das a taxas de administração e de corretagem, comissões, rentabili­
dade dos fundos, número de agências instaladas no país, e mesmo
serviços prestados aos participantes94.
Podem as administradoras contratar seguro para garantir os be­
nefícios previdenciários.
Existe competição entre as administradoras para oferecer me­
lhores serviços e melhor rentabilidade dos fundos para atrair maior
número de participantes possível. Apesar desta livre iniciativa dentro
do regime previdenciário oficial, há um controle minucioso do go­
verno sobre essas administradoras. Evita-se com esse controle estatal
a formação de cartéis ou outras formas de burla à lei.
O valor dos benefícios depende muito eficiência de cada admi­
nistradora em vestir os valores das contribuições. As taxas de admi­
nistração e de corretagem podem ser fixadas livremente por cada
administradora, mas devem ser equânimes para todos os participan­
tes, evitando-se desigualdades.
Não é de interesse da administradora cobrar valores exorbitan­
tes dos participantes ou mesmo exercer um desempenho de rentabi­

<)4 http:llwww.safp.cllsist_previsionallcont1_sistema.html
lidade de investimentos medíocre. Isso porque ó o trabalhador chile­
no pode escolher qual entidade quer se filiar, podendo mudar de ad­
ministradora de forma totalmente voluntária.
Garantir o pagamento de determinados benefícios, legislar so­
bre matéria previdenciária e fiscalizar o cumprimento das leis acaba
sendo o papel do Estado no sistema previdenciário chileno.
Qualquer filiado ao sistema chileno, que preencha determina­
dos requisitos básicos, faz jus ao recebimento de uma aposentadoria
mínima paga pelo Estado, mesmo que sua reserva técnica pessoal
(valores de sua conta previdenciária individual) não possua saldo su­
ficiente para o pagamento diferido do benefício.
Legalmente, todas as administradoras de fundos de pensão do
Chile são responsáveis por uma rentabilidade anual mínima dos fun­
dos que administram. Caso uma administradora não alcance a renta­
bilidade mínima prevista em lei, o que é um fato extremo, o Estado
arcará com o déficit e poderá decretar a liquidação extrajudicial da
administradora.
Na hipótese de impossibilidade pagamento benefícios ou quebra
de administradora, o Estado chileno garante o pagamento de determi­
nados benefícios, tais como a aposentadoria por invalidez ou pensão
por morte; pagando, inclusive, 100% do valor das aposentadorias mí­
nimas e 75% do valor que exceder o mínimo legal, com o teto de 45
UF - unidades de fomento - (U$ 1.460 em maio de 1997) mensais.
A contribuição previdenciária do trabalhador é de 10% de sua
remuneração, com o teto de 60 UF - unidades de fomento.
A importância nacional da poupança previdenciária chilena é ex­
plícita naquele país. Desde o início do novo sistema previdenciário, a
eficiência da administração dos fundos de pensão é exaltada como for­
ma de gerar desenvolvimento econômico por meio da oferta de recur­
sos internos que evitam a necessidade de endividamento externo.

259
1 9 .2 . BenefIcios

Diferentemente do sistema previdenciário privado brasileiro e


americano (facultativo), o sistema chileno, até por ser obrigatório,
possui previsão legal de benefícios previdenciários. O sistema brasi­
leiro é menos detalhista quanto às previsões legais de benefícios, pois
tais previsões fazem parte dos regulamentos e contratos, que ficam
na esfera dos direitos disponíveis dos contratantes.
Vamos aqui apresentar os principais de maneira genérica:
A aposentadoria por idade (pensiones de vejes) é devida a todos
o s filiados que atinjam 65 anos de idade, se homens, e 60 anos de
idade, se mulheres. Não há nenhum outro requisito de elegibilidade
para esse benefício.
Aposentadoria por invalidez também existe, mas ocorre de for­
ma total ou parcial, pois são financiadas pelas administradoras de
Itmdos de pensão por meio da contratação de seguro. Tudo depende­
rá do regulamento e do contrato entre filiado e entidade. Os requisi­
tos para obtenção desse benefício por invalidez são:
- perda de ao menos dois terços da capacidade laborai (invalidez
I total);
- pelo da superior a 5% e inferior a dois terço da capacidade
laborai (invalidez parcial).
No caso de pensão por morte (Pensiones de Sobrevivendo), o bene­
ficio será devido aos dependentes do filiado (cônjuges, filhos ou pais,
caso a caso de acordo com a lei). As condições de elegibilidade são
muito semelhantes com as previstas no Regime Geral da Previdência
Social brasileiro. A diferença principal está na cotização do sistema.
1 9 .2 .1 . M o d a lid a d e s de a p o s e n ta d o ria

Há três modalidades de aposentadoria no Chile:


1- Aposentadoria programada: nesta modalidade, o trabalhador
programa um tempo determinado de aposentadoria, com por exem-

260
pio, dos 65 aos 80 anos de idade. Esse benefício consiste em cotas
mensais reajustadas de acordo com o custo de vida e recalculado a
cada doze meses. Ganha-se um benefício maior, mas se assume o
risco de sob revida (no caso ultrapassar os 80 anos). Contudo, o filia­
do pode a qualquer momento alterar esta modalidade de aposenta­
doria para outra.
2- Renda vitalícia: modalidade de aposentadoria que pressupõe
um contrato paralelo entre filiado e uma companhia de seguros de
vida (o filiado pode escolher qualquer uma que lhe aprouver), e por
meio deste contrato, além do pagamento vitalício da aposentadoria e
existe a possibilidade de pagamento de pensão por morte aos depen­
dentes. Nessa modalidade o filiado não pode alterar o contrato como
na modalidade anterior.
3- Renda temporal com renda vitalícia diferida: exige contra­
tação paralela com uma companhia de seguros de vida. Seria uma
mescla entre as duas modalidades anteriores, pois haveria a garan­
tia de uma aposentadoria por um prazo determinado, e, posterior­
mente a esse praz, seria garantida uma aposentadoria até o fim da
vida.
Tais modalidades são mais semelhantes às existentes no campo da
Previdência Privada do Brasil; haja vista que aqui não se pode obter apo­
sentadoria do INSS por tempo programado (dos 60 aos 80 anos, v.g.).
1 9 .2 .2 . H e r a n ç a d o s v a lo r e s d a c a p it a liz a ç ã o in d iv id u a l

No caso de morte de filiado (que estivesse aposentado ou não)


que não tenha deixado dependente, mas que tenha deixado saldo re­
manescente em sua conta de capitalização individual, tal saldo passará
a fazer parte do espólio do “de cujus”. Este sim é um ponto favorável ao
segurado, pois no sistema do INSS no Brasil, os herdeiros devem se
habilitar em eventuais processos contra o INSS, enquanto que no Chile
a transformação do patrimônio previdenciário do segurado falecido se
transforma imediatamente em espólio na data da morte.

261
Fxistc também a previsão legal da retirada dc 15 unidades de
lonícnto tia respectiva conta individual do filiado falecido para gas­
tos funerários.
1 9 .2 .3 . VALOR DOS BENEFÍCIOS

0 valor dos benefícios dependerá do cálculo atuarial ligado ao


saldo acumulado da conta de capitalização individual de cada filiado
(dependendo, portanto, da rentabilidade dos fundos de pensão).
Dessa forma, é interessante ao filiado manter sua conta de capi-
talização individual um fundo de pensão que tenha uma administra­
dora tpie maximize a rentabilidade e m inim ize as taxas de
administração e de corretagem dos fundos.
1 9 .3 . O MODELO CHILENO COMO PARADIGMA

Ao se referir à adoção de modelos de sistemas estrangeiros de


previdência, Sergio Pinto Martins95 é categórico: “não adianta que­
rermos importar para o Brasil sistemas como o chileno ou outros. Se
a previdência privada chilena fosse boa, os militares não se teriam
excluído de imediato do referido sistema”.
Houve uma exclusão dos militares das Forças Armadas, e dos
amtbineros, do sistema geral, fato que fere a isonomia.
Há ainda baixa adesão dos trabalhadores autônomos e infor­
mais; grande número de pessoas sem condições de se aposentar (si­
milares aos problemas do Brasil); e alto custo de administração dos
fundos de pensão.
O sistema previdenciário chileno possui os seus deméritos, não
devendo figurar como paradigma irrefutável para os países da Amé­
rica do Sul. Vem-se causando ainda insatisfação após vinte anos de
tngência, a confiabilidade do referido sistema fica deveras compro­

MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 17a ed, São Paulo: Atlas, 2002,
p. 297.

262
metida. Como bem lembrado por Marcus Orione Gonçalves Cor­
reia e Érica Paula Barcha Correia96, é importante frisar que o mode­
le>previdenciário chileno será posto a prova por volta de 2010, quando
haverá aposentadorias em massa, passados trinta anos da implemen­
tação do sistema.
Concordamos com a cautela em importar modelos sem as de­
vidas restrições.
Deve-se tomar grande cautela na adoção desgovernada de mode­
los estrangeiros. Reiteramos até mesmo nossa crítica à cópia do siste­
ma americano de Previdência Privada, constatada neste trabalho.
Os sistemas de Previdência Privada têm de estar adaptados a
cada realidade nacional, e não vice-versa.
Lembramos que o modelo chileno foi imposto à sociedade du­
rante uma ditadura de regime militar, e que àquela época, o país cres­
cia em 10% do PIB ao ano. E a exceção. Temos de pensar em
adaptações democráticas dentro de patamares de crescimento realis­
ta, que para o Brasil dos últimos 25 anos tem sido de crescimento
deplorável (em 2003 o Brasil teve retração econômica de 0,2%, se­
gundo o IBGE).
19.4. O Decreto-Lei nq 3.50011980 e as
RESPONSABILIDADES DAS ADMINISTRADORAS DE FUNDOS DE
PENSÃO

O Decreto-Lei n° 3.500/1980 fixa normas muito determinadas


de conduta de responsabilidade das administradoras de fundos de
pensão. Segundo o Decreto-Lei n° 3.500/1980, as administradoras
deverão efetuar todas atividades necessárias para a garantia da ob­
tenção de uma rentabilidade adequada e razoável, dentro de um grau

96 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito
da seguridade social. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 25.

263
dc segurança dos investimentos dos fundos que administram. Isto
tem um conteúdo programático, mas que representa bem o escopo
de lisura empreendido pela lei.
As administradoras responderam pelos prejuízos que causarem
aos fundos de pensão pelo descumprimento de qualquer de suas obri­
gações. Dentro de suas atividades, as administradoras de fundo de
pensão poderão dar início a todos os procedimentos judiciais contra
aqueles que causarem prejuízo a qualquer dos fundos administrados
por elas.
No caso de uma administradora causar qualquer prejuízo ao fun­
do de pensão por ela administrado, estará a administradora obrigada
a indenizar aos fundos prejudicados, mesmo que esses prejuízos te­
nham sido causados por qualquer de seus diretores ou pessoas que
lhes prestem serviços e, mesmo que em conseqüência de uma ação
ou omissão. As pessoas responsáveis pelo prejuízo terão responsabi­
lidade solidária na obrigação de ressarcir o fundo de pensão, incluin­
do danos emergentes e lucros cessantes.
Para obter as indenizações correspondentes à obrigação de in­
denizar os prejuízos causados ao fundo de pensão, será a competente
a Superintendência de Administradoras de fundos de pensão do Chile
ingressar em Juízo contra os responsáveis.
Legalmente, assim como no caso brasileiro e no caso norte-ame-
i icano, o controle das atividades das administradoras depende dos re­
gistros contábeis e documentação escritural internos de cada entidade,
que fará parte de auditorias externas. A figura do patrocinador do bom
andamento das atividades do fundo de pensão não se aplica nesses
casos, pois estão ligados à Previdência Privada oficial do Chile.
Existe a proibição da divulgação de informações internas dos
lundos de pensão por parte dos diretores, controladores, gerentes,
administradores ou quaisquer pessoas que em razão de seus cargos
ou posições tenham acesso a informações sobre os investimentos
dos recursos dos fundos que ainda não tenham sido divulgadas ofi­
cialmente ao mercado e que por sua natureza sejam capazes de in-
llucnciar na situação dos valores dos citados investimentos.
Proíbe-se aos diretores, controladores, gerentes, administra­
dores ou quaisquer pessoas que em razão de seus cargos ou posi­
ções tenham acesso a inform ações privilegiadas sobre os
investimentos dos recursos dos fundos que se utilizam direta ou
indiretamente dessas informações e para obter para si ou para ou­
tros vantagens no mercado de ações.
Da mesma forma, é vedado aos indivíduos que participem das
decisões sobre aquisição, aplicações financeiras ou investimentos
conexos aos fundos de pensão comunicar as decisões internas a pes­
soas diversas daquelas que devam participar da operação em repre­
sentação da administradora dos fundos.
As administradoras deverão informar à Superintendência de
administradoras de fundo de pensão as transações nos mercados de
ações em nome dos fundos de pensão.
As punições dos administradores dos fundos chilenos são mais
severas que no Brasil, pois além de serem relacionadas à Previdên­
cia oficial, há menos previsões ligadas a processos administrativos e
maior ênfase no julgamento judicial, assim como ocorre nos EUA.

2 0 . A rgentina
A Argentina, que possui um sistema previdenciário misto, pú-
blico/privado, do tipo “integrado” (repartição simples/capitalização
integral), adotou o modelo chileno como paradigma de sua reforma
previdenciária. Embora haja semelhanças, o modelo argentino apre­
senta algumas peculiaridades quando comparado ao modelo chileno:
maior solidarismo; custos da fase de transição, a serem cobertos pelo
Estado, relativamente mais baixos; maior cobertura para trabalhado­
res do setor informal; regulamentação mais abrangente.

265
Após a reforma previdenciária Argentina (1993-94), que criou
um modelo misto (integrado), segundo a fusão do sistema público
reformado e um sistema de capitalização integral (podendo este ser
administrado tanto por empresas públicas quanto privadas), a influ­
ência do modelo chileno de previdência, ou seja, de capitalização in­
dividual, tornou-se mais patente. O sistema argentino de repartição
simples é administrado pelo governo, por meio de seu órgão de Se­
guridade Social, análogo ao nosso INSS, a ANSES {Administración
Nacional del Seguro Social). O sistema de contribuições definidas (li­
gado à privatização parcial) é administrado por empresas especifica­
mente criadas para gerir fundos de previdência, as chamadas AFJPs
(Administradoras de Fondos de Jubrlaciones y Pensiones), e supervisio­
nado por um órgão público, a Superintendência das AFJPs (Superin-
tcndencia de Administradoras de Fondos deJubilaciones y Pensiones). As
AI |Ps podem ser criadas por organismos privados, públicos ou enti­
dades sem fins lucrativos, tais como os sindicatos de trabalhadores.
Devido à crise econômico-financeira pela qual passou o país,
houve a tentativa da supressão de direitos previdenciários, que foi
sustada pelo Congresso argentino. A partir de 2000 a aposentado­
ria por idade passou a ter como requisito etário 65 anos para ho­
mem e 60 anos para a mulher. A aposentadoria por tempo de serviço
na Argentina depende da comprovação de trabalho por trinta anos.
Na Argentina existem três regimes especiais: o dos militares; dos
luncionários provinciais; e dos policiais.
A Argentina serviu de palco para uma das maiores catástrofes
previdenciárias já vistas. O governo argentino utilizou-se do di­
nheiro dos fundos previdenciários privados para pagar suas con-
tas97. O ministro argentino da economia, à época, Domingo Cavallo,
durante este ato de confisco e selvageria estatal, ainda tripudiou do
povo, dizendo que nada de novo havia acontecido.

07 Disponível em (http://news.bbc.co.Uk/2/hi/business/1696010.stm).

266
() con li sco previdenciário argen tino foi feito para evitar a mo­
ratória cm relação aos 132 bilhões de dólares devidos ao FM I. As
aposentadorias dos argentinos foram sacrificadas pelo bem de uma
dívida emergencial do presente.
Os depósitos previdenciários privados (fundos), advindos de con­
tribuições obrigatórias dentro de um sistema híbrido criado em 1994
(onde a parte privada do sistema foi copiada do Chile), foram trans­
feridos para o Banco de la Nación para que o governo pudesse admi­
nistrar suas dívidas e efetuar pagamentos.
A reforma previdenciária Argentina foi uma das mais im ­
portantes da América Latina. A reforma chilena contrasta com
a reforma na Argentina pois foi um modelo de sistema privado
de capitalização integral; e o modelo argentino caracterizou-se
em por um sistema misto de repartição simples e de capitaliza­
ção integral98.
O Chile foi a primeira nação do planeta a privatizar de forma
abrangente seu sistema previdenciário público. Esta reforma influ­
enciou numerosos países, incluindo até alguns do leste europeu, como
a Polônia, mas principalmente a Argentina. A principal característi­
ca da reforma chilena foi o autoritarismo, tendo em vista que foi
instituída pelo o ditador Pinochet, num momento em que o Chile
possuía um PIB em crescimento em torno de 10% ao ano.
A reforma previdenciária argentina deu-se durante um governo
democrático, com reverberante discussão social entre partidos políti­
cos, sindicatos e outros organismos sociais. Diante desse debate social
não houve a substituição total do sistema de repartição simples pelo
sistema de capitalização integral. Após essa reforma, a regulamentação
no sistema previdenciário de capitalização passou a ser mais restritiva.

98 Antonio Arenas de Mesa. Aprendendo com as reformas previdenciárias: os exemplos


do Chile e da Argentina. Disponível: http://www.mpas.gov.br/07_03_01_04.htm. Acesso
em 22 de fevereiro de 2002

267
Agora, o sistema de capitalização previdenciária não é somente
regulado pela Superintendência das AFJPs (Associación de Fondos
dc Jubilaciones Privados), passando a ser regulado pelo governo,
en jo agente participante do sistema é o Banco de la Nación (referi­
do acima).
Um dos predicados mais necessários à Previdência Privada é a
confiabilidade, completamente aniquilada neste episódio argentino.
Fssas medidas governamentais argentinas foram concomitantes ao
famoso corralito, em que a propriedade privada foi obstruída como se
fosse um bem público.
O impacto na credibilidade da Previdência Privada argentina
pode durar décadas, ou até mesmo ser indelével diante da agressão
governamental e do trauma sofrido pela população. Este precedente
serve de exemplo daquilo que não deve ser feito jamais.
O dinheiro existente nos planos previdenciários privados não
são de propriedade estatal; são de propriedade privada. Esta obser­
vação chega a parecer infantil, mas a Argentina mostrou que os con­
ceitos ainda não estão muito claros.
Com relação ao sistema de repartição simples, o quadro ar­
gentino é diferente do brasileiro, haja vista que as províncias na
Argentina possuem intensa autonomia quanto à definição nor­
mativa previdenciária. Atualmente, o grande problema previden­
ciário argentino está nas províncias, e em menor escala no governo
federal.
Contudo, existem similitudes com o quadro brasileiro, com
por exemplo a cobertura do sistema. No Brasil, a maioria dos tra­
balhadores não está segurada pela Previdência Social, assim como
na Argentina.
No campo previdenciário privado, a principal diferença é que a
reforma previdenciária argentina de 1993 criou a compulsoriedade
da contribuição a fundos de pensão, apesar de continuar a obrigato-

268
i iedade da contribuição ao regime dc repartição simples. E o chama­
do sistema previdenciário misto.
No Brasil já houve demonstrações similares da agressividade es­
tatal contra bens privados (confisco de poupança). Não devemos dei­
xar que isso aconteça com o dinheiro da Previdência Privada brasileira,
tanto em termos de confisco quando em termos de bitributação ou
tributação exagerada e incompatível com o caráter previdenciário.
Com a crise política e econômica que assola o país, o governo
argentino, numa tentativa de reativação econômica, passou a estimu­
lar o consumo em detrimento da poupança previdenciária.
Recentemente, um pacote econômico argentino baixou a alí­
quota da contribuição obrigatória aos fundos de pensão de 11%
para 5% ". A capitalização ocorre somente sobre 2,7% da atual con­
tribuição, e o restante é destinado à aquisição do seguro de morte e
invalidez intrínseco ao sistema. Esta diminuição do valor capitali­
zado obrigatoriamente vai refletir no valor das aposentadorias fu­
turas, que será inferior diante da acumulação e da capitalização
menores.

2 1 . U ruguai
No Uruguai, vigora e predomina o sistema de repartição sim­
ples. Nesse país ocorreu uma recente reforma previdenciária advinda
com a Lei n° 16.713 de 1995. Essa reforma continuou garantindo o
modelo público de previdência, cujos recursos são geridos pelo Banco
de Previsión Social (BPS). Os segurados do regime público podem
optar por regimes complementares, geridos por instituições priva­
das, que são conhecidas no Uruguai como AFAP (Administradoras de

99 Vinícius CarvalFio Pinheiro. Argentina y Ia Seguridad Social - El sistema decapitalización


hizo in v ia b le e l e q u ilib rio de Ias cuentas p ú b licas. D isponível em http://
www.redsegsoc.org.uy/Vinicius-Carvalho-Argentina-Esp.htm. Acesso em 29 de novem­
bro de 2002.

269
Fondos de Ahorro), quo são entidades dc personalidade jurídica de
direito privado. Essas entidades são controladas e fiscalizadas dc for­
ma vigorosa pelo Estado uruguaio.
É interessante observar que no caso de insolvência das entida­
des uruguaias de previdência privada, seus patrimônios passam a
ser gerenciados pelo Estado. Como na Argentina e no Chile, no
Uruguai existem, além do regime geral, 5 regimes especiais: mili­
tar, policial, bancário, notarial e dos professores. A aposentadoria
por idade no Uruguai ocorre aos 60 anos independente do sexo,
exigindo se 35 anos de trabalho.

2 2 . P araguai
No Paraguai a cobertura do sistema previdenciário é muito bai­
xa (atingindo uma porcentagem muito pequena da população), e sua
administração precária. O sistema previdenciário paraguaio pode ser
considerado rudimentar, se comparado aos outros sistemas dos paí­
ses do Mercosul, pois nesse país não há uma unificação ou universa­
lização das prestações e da proteção dos segurados.
O modelo de previdência do Paraguai não possui um sistema
único dc Seguridade, existindo diversas Cajas Especiales que estão
ligadas a setores da sociedade, tal como o bancário e o ferroviário. Os
principais benefícios oferecidos pelas Cajas Especiales são a aposenta­
doria por idade e aposentadoria por invalidez permanente.
A idade mínima de aposentadoria do Paraguai varia de acordo
com cada uma das Cajas Especiales que está ligado o trabalhador.
A previdência privada paraguaia é pouco expressiva. Existem
categorias privilegiadas no campo da previdência pública, tal como a
dos policiais e dos membros das forças armadas, detentoras de rega­
lias exclusivas e não aplicáveis aos trabalhadores em geral. Uma ca­
racterística que denota o grau exíguo de proteção social no Paraguai
consiste na inexistência de seguro-desemprego.

270
2 3 . A co rdo M ijltii ateral de S eguridade S ocial do
M ercosul
No dia 15.12.97, na cidade de Montevidéu, Uruguai, foi ratifi­
cado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai o Acuerdo Multilate-
inl dc Seguridad Social del Mercado Común del Mercosur, cmc/dec. n.
19/97. Em princípio, esse Acordo visa definir o arcabouço técnico
aplicável às questões comuns à Seguridade Social dos países mem­
bros do Mercosul (art 1). O artigo 9o do Acordo Multilateral prevê,
in verbis', “as administradoras de fundos ou empresas seguradoras
deverão dar cumprimento aos mecanismos previstos nesse acordo”.
Assim, as regras do acordo também devem ser cumpridas dentro da
conjuntura da previdência privada dos países-partes.
A legislação vigente em cada país será aplicada ao trabalhador
que estiver exercendo seu ofício em trânsito, mediante a vedação de
qualquer forma de discriminação entre os trabalhadores de cada na­
ção. Os órgãos competentes para o cumprimento do acordo são: o
Ministério do Trabalho e de Seguridade Social e o Ministério da
Saúde e Integração Social na Argentina; Ministério da Justiça e do
Trabalho e o Ministério da Educação e do Bem Estar Social no Pa­
raguai; o Ministério do Trabalho e Seguridade Social no Uruguai;
Ministério da Previdência e Assistência Social e o Ministério da Saúde
no Brasil.
Quanto à previdência pública, o Dec. 19/97 especifica em seu
art. 7o “os mecanismos de pagamento pro rata das prestações” como
forma de garantir o pagamento de benefícios frutos do trabalho
feito em diversos países. Porém, as previsões descritas no citado
decreto ainda não foram implementadas, haja vista a conclusão da
Comissão n° 6 do subgrupo n° 11, do Mercosul (segundo o quadro
atual são impraticáveis tais implementações no estágio de integra­
ção do Bloco).

271
2 4 . P re v id ê n c ia C o m plem entar P r iv a d a em p erg u n tas
E RESPOSTAS

1) A designação correta a ser utilizada para as pessoas usuárias


dos serviços de Previdência Privada consiste em “participante” ou
“segurada”?
R: Segurada é a pessoa que está filiada ao INSS. A legislação da
Previdência Privada é expressa em tratar quem é filiado a um plano
previdenciário privado de participante. A expressão correta é partici­
pante de plano de Previdência Privada.
2 ) Qual o índice de correção dos valores referentes às reservas
técnicas do participante?
R: De acordo com a Súmula n° 289 do STJ, a restituição das
parcelas pagas a plano de previdência privada deve ser objeto de cor­
reção plena, por índice que recomponha a efetiva desvalorização da
moeda. Caso não conste do contrato de adesão nenhuma referência a
índices de correção, deve ser utilizado o que for mais favorável ao
participante.
3) A Previdência Privada pode se tornar obrigatória no Brasil?
R: A facultatividade de ingresso no sistema previdenciário pri­
vado é fruto do “caput” do art. 202 da Constituição Federal, que ex­
plicita que a Previdência Privada será facultativa. Somente com uma
Fmenda Constitucional a obrigatoriedade seria imposta.
4) Há diferença entre Previdência Privada e Previdência Com­
plementar Privada?
R: Não há diferença. E absolutamente correto tratar a Previ­
dência Complementar Privada apenas como Previdência Privada. A
própria lei o faz. Para entender melhor o contexto, consulte a esque-
matização contida nesta obra.
5) Qual o prazo prescricional para a ação de cobrança de parce­
las de complementação de aposentadoria pela previdência privada?
R: 1)e acordo com a Súmula n° 291 do STJ, o prazo é de cinco
anos.
6) A Previdência do Chile é a maior influência para a nossa
Previdência Privada?
R: O Chile exerce grande influência em diversos países do mundo
no campo previdenciário (como Polônia, Argentina e México). En-
1 etanto, o modelo brasileiro de Previdência Privada foi patentemen­
1

te copiado do modelo norte-americano. A semelhança do sistema


previdenciário privado nos EUA e o existente no Brasil é impressio­
nante e pouco divulgada aqui. Atrevemos-nos a dizer que a Previ­
dência Privada brasileira atual é uma verdadeira cópia do sistema
americano, a começar pela terminologia utilizada. Apenas para dar
alguns exemplos: patrocinador (sponsor), participante (participant),
planos de benefício definido e de contribuição definida (defined con-
tribution, defined benefit), elegibilidade (eügibility). Até mesmo o be­
nefício proporcional diferido é conhecido na doutrina e na prática
brasileira como vesting, termo que em inglês significa proteção, co­
bertura. Nos EUA é exatamente o benefício proporcional diferido.
Os termos multiplano e multipatrocínio tem o conceito análogo em
inglês: multiemployerpension plan.
Até mesmo os novos fundos instituídos, que são assunto em
voga no Brasil, existem há decênios nos EUA. De fato, enquanto
aqui os sindicatos começam a se organizar para criar fundos de pen­
são para os associados, nos EUA os Union Pension Plans (fundos de
pensão dos sindicatos) são instrumentos políticos poderosos (o po­
der dos sindicatos americanos, hoje, está mais conectado aos fundos
de pensão do que propriamente às suas funções tradicionais de re­
presentação).
Como não há um aprofundamento doutrinário ou jurisprudên­
cia! suficiente que tenha servido de parâmetro para a nova legislação
brasileira, talvez esta cópia (não só dos termos, mas também da es­
trutura - como mostraremos a seguir) tenha sido trazida pelas gran-

273
dcs seguradoras. Não cremos que uma emulação tão semelhante possa
ser saudável para nosso sistema. As condições dos EUA são comple­
tamente diferentes das nossas.
7) O Chile foi o primeiro país do mundo a privatizar completa­
mente sua Previdência Oficial?
R: A afirmação de completa privatização do sistema previden­
ciário chileno não é totalmente apropriada. A filiação (afiliación) ao
sist ema previdenciário chileno {Sistema de Pensiones) tornou-se obri­
gatória a partir de I o de janeiro de 1983. Esta filiação, assim como no
lh asil, é automática em relação aos trabalhadores que a partir de I o
<le janeiro de 1983 tenham começado a trabalhar em atividades abran­
gidas pelo sistema oficial.
A filiação é a relação jurídica entre o trabalhador e o sistema
de pensões (Sistema de Pensiones de Vejes, Invalidezy Sobrevivência),
i el ação que originam os direitos e obrigações estabelecidos pelo
I )ecreto-Lei n° 3.500, em vigor desde 13 de novembro de 1980,
que reformou o Sistema de Pensões existente no país, uniformiza-
I dos os distintos regimes previdenciários (dos trabalhadores do se-
| lor público e privado). A legislação chilena passou a estabelecer
j que os trabalhadores que estavam no antigo sistema poderiam op­
tar por incorporar-se ao novo ou manter-se no antigo (incorporación
voluntário).
Será voluntária, contudo, a filiação ao sistema chileno daqueles
l rabalhadores que começaram a exercer atividades laborais abrangi­
das pelo sistema oficial anteriormente a 31 de dezembro de 1982,
pois esses trabalhadores tinham o direito legal de optar pelo regime
previdenciário anterior (repartição simples) ou de aderir ao então
Ni/evo Sistema de Pensiones.
O sistema anterior de repartição simples continua em vigor para
i >s t rabalhadores que optaram por não ingressar no novo sistema. O
Instituto deNormatización Previsional(INP) é a entidade responsável

274
pela fiscalização c pagamento destes benefícios do sistema antigo, e
foi criada pelo Decreto-Lei n° 3.502/80, mediante a união das prin­
cipais ex Cajas de Previsión (Caixas de pensão).
Ainda que o trabalhador exerça uma ou várias atividades simul­
tâneas ou sucessivas, este deverá estar vinculado a apenas uma admi­
nistradora de fundos de pensão.
Também é considerada permanente a filiação ao sistema previ­
denciário chileno, pois consiste num vínculo jurídico que existirá por
toda a vida dos participantes (afiliados), desde que no desempenho
de atividade laborai enquadrada oficialmente no sistema.
A atividade laborai deve ser prevista legalmente, para que haja
filiação. A prostituição, por exemplo, não é a atividade abrangida
pelo sistema chileno (nem brasileiro nem americano). No sistema
holandês, porém, a prostituição é uma atividade prevista pelo orde­
namento jurídico como abrangida pelo sistema previdenciário. O
curioso é que as prostitutas cadastradas (filiadas, como um meio de
controle do próprio Estado) recebem benefícios previdenciários
(como auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez) e até mesmo
implantes de silicone subvencionados pelo sistema de Seguridade
Social holandês.
O Decreto-Lei n° 3.500 visa a assegurar benefícios previdenci­
ários estáveis pautados na manutenção do padrão de vida dos traba­
lhadores. O sistema está baseado na chamada capitalização individual
(icapitalización individual), e cada participante possui uma conta in­
dividual onde deposita as suas contribuições previdenciárias, que vão
se capitalizando de acordo com a rentabilidade dos investimentos
dos fundos feitos pelas administradoras.
Preenchidos os requisitos de elegibilidade, o capital contribuído
pelo filiado lhe é devolvido (ou a seus dependentes) na forma de
benefício. O valor dos benefícios dependerá do valor que foi capitali­
zado ao longo da vida ativa do trabalhador.

275
Os direitos e obrigações previdenciários se referem sobrema­
neira ao direito às prestações previdenciárias c à obrigação de cotiza-
çao (formação de fundos) de uma administradora de fundos de pensão.
Além disto, existe notória exclusão dos militares das Forças Ar­
madas, e dos carabineros, fato que também configura uma privatiza­
ção parcial.
Ressalve-se que sistema chileno ainda não foi plenamente tes-
lado, pois foi criado em 1980 e as aposentadorias em massa começa-
rao a acontecer nesta década (passados 25 ou 30 anos da criação do
sistema privado obrigatório). A Previdência do Chile é maciçamente
ligada ao mercado financeiro, fator preocupante diante da volatilida­
de do mercado acionário.
Na portabilidade, os valores contribuídos pela patrocinadora são
1 ansferidos juntamente com os valores contribuídos pelo participante?
1

De acordo com a Súmula n° 290 do STJ, nos planos de Previ­


dência Privada, não cabem ao beneficiário a devolução da contribui­
ção efetuada pelo patrocinador. Assim, a parte da reserva técnica
referente ao saldo de contribuições do patrocinador não pertence ao
participante, mas sim ao fundo de pensão.
8) Qual a diferença entre PGBL e VGBL?
R: O PGBL é um plano previdenciário aberto, onde há a possi­
bilidade de saque do montante segundo a vontade do titular, como
numa aplicação convencional (as aplicações são feitas em Fundos de
Investimento Exclusivo).
O VGBL é um plano híbrido, união de Previdência Privada e
seguro de vida, onde parte das contribuições feita pelo segurado vai
compor a reserva para cobrir o risco de morte, e outra parte, destina­
da à aposentadoria, será aplicada num fundo de investimento.
No PGBL não há incidência de imposto sobre ganhos de capi-
lal (a tributação só ocorre no momento do resgate). Tal plano propi­

276
cia ao participante um benefício fiscal que permite o abatimento de
até 12% de sua renda bruta tributável no ajuste da declaração anual
do imposto de renda (Lei n° 9.532/97).
Um demérito do VGBL é a impossibilidade da dedução dos 12%
dos gastos previdenciários do montante pago sobre a renda bruta no
cálculo do imposto de renda. Uma vantagem do VGBL sobre o PGBL
é a tributação apenas sobre os ganhos da aplicação, pois no PGBL, a
tributação é feita sobre o montante total dos recursos amealhados no
momento do recebimento da aposentadoria. No VGBL, a tributação
do imposto de renda ocorre somente sobre os rendimentos acumula­
dos, e não como no PGBL que incide sobre o total acumulado.
O VGBL é interessante para as pessoas que fazem a declaração
do imposto de renda no modelo simplificado, ou mesmo para as pes­
soas que investem em valores acima de 12% da renda bruta. Como
no Brasil a economia informal supera a economia formal, o interesse
dos trabalhadores ligados à economia informal deverá ser pelo VGBL
(devido à declaração do imposto de renda).
Tanto o PGBL quanto o VGBL podem existir na versão coleti­
va, já aprovada pela SUSEP.
9) Existe direito adquirido do participante sobre seus benefícios?
R: LIá direito adquirido do participante sobre os benefícios, sendo
um direito incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa (dentro de
uma situação jurídica consolidada), de acordo com o parágrafo I o do
art. 68 da Lei Complementar n° 109 (quando implementadas todas
as condições estabelecidas para elegibilidade, consignadas no regula­
mento do respectivo plano). Isto coloca grande peso contratual no
regulamento, mas não susta o poder dos requisitos legais.
Condições de elegibilidade são os requisitos legais/contratuais
para a obtenção do benefício previdenciário. Atingidas tais condi­
ções, o direito ao benefício incorpora-se ao patrimônio jurídico do
participante.

277
10) O que é mais vantajoso; fazer um plano dc Previdência Pri
vada ou uma aplicação financeira comum?
K: Existe um aspecto ligado à Previdência Complementar que
dificilmente é abordado dentro da técnica jurídica. Sendo o benefí­
cio da Previdência Privada um pagamento diferido, ou seja, um valor
pago dc forma continuada, cabe aqui assinalar porque é mais profí­
cu o para a sociedade como um todo (além do ponto de vista da inde­
pendência externa de recursos) a adoção de um sistema privado de
Previdência do que a poupança individual.
Ora, para que o indivíduo necessitaria contribuir ao longo de
[lecadas para um sistema de Previdência Privada, seja ele aberto ou
fechado, se existe a possibilidade de aplicação na poupança ou em
fundos onde, em princípio, há muito mais interesse para o indivíduo
Formar um pecúlio do qual se tenha o controle direto e se possa sacá-
!o c utilizá-lo no momento e da maneira que mais lhe aprouver? Em
brincípio a Previdência Privada seria menos vantajosa do que uma
plicação financeira comum; mas não é.
Numa visão ampla e de larga escala, notemos que o ser humano
suas paixões, suas emoções, seus problemas e seus desatinos,
io s s u í

alemos claramente. Se a pessoa, e aí falamos do homo medius, forma


n, pecúlio (v.g., poupança) ao longo de sua vida para a utilizá-lo nos
nos cm que não puder mais trabalhar, caso no momento em que um
dor grande já houver sido amealhado surja algum ímpeto humano
:• gasto (tal como a abertura de um negócio, o empréstimo a outra
1'ssoa pela qual se tenha afeto, ou mesmo o pagamento de uma dívi-
i) o futuro dessa pessoa estará comprometido.
Nesse contexto, o benefício diferido intrínseco à Previdência
ivada é muito mais apropriado, do ponto de vista social e até
fssoal, do que a idéia simples de poupança individual. O caráter
otetivo do benefício diferido é patente, posto que, se o benefício
sse pago (ao invés de parcelas continuadas) de uma só vez, por

278
meio de um grande montante, cairíamos na mesma situação da
poupança individual.
Além disso, a flexibilidade dos atuais sistemas de Previdência
Privada permitem ao indivíduo grande liberdade em escamotear seus
pecúlios. Os incentivos tributários estatais (muito mitigados, é ver­
dade) também acrescem o caráter atrativo e vantajoso da Previdência
Privada.
Reconhecemos que existe a questão da má-gestão dos fundos,
dos exemplos ruins do passado.
Se levarmos as máculas ao extremo, porém, não abriremos se­
quer contas em bancos, e vamos guardar nosso dinheiro no colchão.
No passado já houve casos de quebra de bancos e sumiço do dinheiro
dos correntistas. O próprio governo já confiscou o dinheiro das pou­
panças (como será lembrado adiante). Temos que lembrar que estas
são as patologias, e não podemos nos pautar nelas para analisar o
contexto cientificamente. Tecnicamente, é melhor aplicar o dinheiro
num banco do que enterrá-lo no quintal.
Agora, ao invés de alocar o dinheiro numa simples aplicação
financeira, sujeita a toda a sorte de inconstâncias levantadas acima, a
Previdência Privada ainda oferece vantagens de cunho não só tribu­
tário, mas humanístico (paixões humanas). A pessoa tem em mente
que aquela reserva técnica é para sua aposentadoria; a aplicação fi­
nanceira é para qualquer situação da vida. Ademais, a retirada ante­
cipada acarreta perdas, pois há incidência maior de taxas.
Por essas razões, a Previdência Complementar, sob o ponto de
vista de garantir o futuro das pessoas na velhice, é mais segura e van­
tajosa do que as simples aplicações pessoais.
11) Qual a diferença entre taxa de administração e taxa de car­
regamento em um plano aberto?
R:Taxa de carregamento é um percentual incidente sobre as con­
tribuições ou fundo acumulado para fazer face às despesas de cor-

279
tetagem do pl;mo. A taxa de administração é mais genérica. Ambas
podem ser mitigadas com o decurso maior do tempo de contribuição
sem que haja resgate (visando o longo prazo).
12) Qual a diferença entre direito adquirido e direito em forma­
ção na Previdência Privada?
R: O direito adquirido é o direito efetivamente incorporado ao
patrimônio jurídico da pessoa.
Existe outrossim “direitos em formação”, figura típica no Direi­
to Previdenciário.
O direito em formação já se constitui num direito consolidado e
meiecc tutela jurisdicional.
Anníbal Fernandes100 nos ensina sobre os direitos em formação:
“Qualquer alteração da lei ou emenda à Carta não pode sobrepor-se
ao respeito aos direitos já adquiridos ou àqueles em formação. Grife-
se que, na maioria dos casos, o que se apelida expectativa de direito é
direito em forrnação. Integra o tipo de direito adquirido, porque este
e garantido contra mudança unilateral, motivada pelo arbítrio de
; outrem (inclusive lei etc.). Cite-se en passant a lei portuguesa e a
espanhola (v. riossa ‘Poder Econômico versus Previdência Social,
' IYibuna da Justiça, SP)”.
Assim, mudanças unilaterais do Estado visando alterações no regi­
me previdenciário complementar privado devem respeitar tanto o direi­
to adquirido, quanto o direito expectativo (in fieri) que já foi acumulado
pelos participantes. As mudanças devem ocorrer ex nunc e não ex tunc.
13) Existe uma estrutura mínima a ser mantida pelas entidades
fechadas?
R: Sim. Esta estrutura é composta por conselho deliberativo,
leonselho fiscal e diretoria-executiva. O estatuto da entidade de­
mo jornal do 109 Congresso Brasileiro de Previdência Social. São Paulo: Ltr, 28 e 29 de
julho de 1997, p. ](,.

280
verá prevet representação dos participantes e assistidos nos con­
selhos deliberativo e fiscal, assegurado a eles no mínimo um terço
das vagas, sendo que na composição dos conselhos deliberativo e
fiscal das entidades qualificadas como multipatrocinadas, deverá
ser considerado o número de participantes vinculados a cada pa­
trocinador ou instituidor, bem como o montante dos respectivos
patrimônios (garantindo a proporção e o controle dos participan­
tes e assistidos).
14) Existe diferença entre entidade fechada de Previdência Pri­
vada e fundo de pensão?
R: Não, são sinônimos.
15) Qual a diferença entre fundos instituídos, fundos patrocina­
dos e fundos de solvência?
R: Fundos instituídos são entidades fechadas oriundas da rela­
ção entre instituidoras e associados participantes. Fundos patrocina­
dos são ligados ao contexto das patrocinadoras e participantes. Fundos
de solvência não são entidades; são fundos que garantem a solvabili-
dade das entidades fechadas, servindo como um lastro financeiro
evitando o desamparo dos beneficiários.
Faculta-se às entidades fechadas a garantia de assegurar seus
compromissos por meio de fundo de solvência.
16) O regulamento do fundo de pensão é vinculado ao contrato
de adesão?
R: Sim, as cláusulas contratuais devem embasar o regulamento
do plano. Alguns contratos vêm acompanhados do regulamento.
17) É possível formular um contrato individual para ser parti­
cipante de fundo de pensão?
R: Não é possível, pois a natureza deste contrato é de adesão
(padrão). Mesmo na Previdência Privada aberta contratos que não
sejam de adesão são como moscas brancas: difíceis de encontrar.

281
18) Por que o benefício previdenciário privado é diferido?
R: Benefício consiste no pagamento em dinheiro efetuado pela
entidade ao participante ou beneficiário, em contraprestação às con-
t ribuições feitas para custeio do plano contratado, por ocasião da ocor­
rência do evento gerador, tendo sido preenchidos os requisitos de
elegibilidade.
O benefício é considerado diferido quando pago não em uma
única parcela; mas reiteradamente ao longo de um período estrito ou
sem término pré-definido.
19) Existe diferença entre capitalização escritural e financeira?
R: Dentro do regime de capitalização escritural há um grau
relevante de mutualismo, que ocorre no momento em que existe
a utilização das contribuições dos participantes para pagamento
de assistidos (sem que haja vinculação pessoal entre os partici­
pantes e assistidos). No regime de capitalização financeira, não existe
a utilização das contribuições dos participantes para pagamento
de assistidos. A diferença entre o regime de capitalização escri­
turai e o regime de capitalização financeira está justam ente no as­
pecto mutualista. Não há mutualismo no regime de capitalização
financeira.
A diferença entre o regime de capitalização escritural e o re­
gime de capitalização financeira está justamente no aspecto mu­
tualista ou solidarista. N ão há m utualism o no regim e de
capitalização financeira. Entretanto, na capitalização escritural,
as contingências envolvendo os benefícios constituem em even­
tos programados, diferentemente do regime de repartição de ca­
pital de cobertura.
20) Quem pode efetuar contribuições previdenciárias privadas?
R: Contribuição é o valor correspondente aos aportes de recur­
sos efetuados para o custeio do plano, como forma de contrapresta­
ção da aquisição de direito ao benefício.

282
Fstes aportes de recursos são feitos pelo participante, institui­
dor ou pelo patrocinador ao plano de Previdência Privada (caso seja
o empregador que efetue contribuições em nome dos empregados
num plano aberto coletivo a lei não o denomina como patrocinador).
21) O que são as condições de elegibilidade?
R: São os requisitos para a obtenção do benefício previdenciá­
rio. Atingidas tais condições, o direito ao benefício incorpora-se ao
patrimônio jurídico do participante.
22) Qual a diferença entre excedente financeiro e excedente
técnico?
R: Excedente financeiro é o rendimento obtido pelo gestor do
plano ao efetuar as aplicações do aporte de contribuições no merca­
do. Este rendimento é o resultado apurado durante o período do
benefício do plano de previdência, de acordo com a diferença entre a
taxa de rentabilidade líquida obtida pela aplicação dos recursos da
reserva matemática de benefícios concedidos e a remuneração ga­
rantida. Os planos de previdência garantem uma rentabilidade míni­
ma, que é repassada proporcionalmente aos beneficiários. Contudo,
um desligamento do plano antes do início da aposentadoria progra­
mada obsta esse repasse.
Excedente técnico é o resultado da diferença entre o ativo e o
passivo atuarial do plano.
23) Quando é feita intervenção numa entidade de Previdência
Privada?
R: Será feita por meio de uma decretação de intervenção na
entidade de previdência complementar, este ato visa resguardar os
direitos dos participantes e assistidos, desde que verificada uma das
seguintes situações:
I - irregularidade ou insuficiência na constituição das reservas
técnicas, provisões e fundos, ou na sua cobertura por ativos ga-
rantidores;
II - aplicação dos recursos tias reservas técnicas, provisões e fun­
dos de form a inadequada ou em desacordo com as normas
expedidas pelos órgãos competentes;
III - descumprimento de disposições estatutárias ou de obriga­
ções previstas nos regulamentos dos planos de benefícios, convê­
nios de adesão ou contratos dos planos coletivos;
IV - situação econômico-fmanceira insuficiente à preservação da
liquidez e solvência de cada um dos planos de benefícios e da en­
tidade no conjunto de suas atividades;
V - situação atuarial desequilibrada;
VI - outras anormalidades definidas em regulamento.
H á cessação da intervenção no momento da aprovação do plano
de recuperação da entidade pelo órgão competente, ou quando de­
cretada a sua liquidação extrajudicial.
Como medida de extrema importância, foram conferidos ao in­
terventor amplos poderes de administração e representação, e ao li­
quidante plenos poderes de administração, representação e liquidação.
Sem esses poderes, qualquer tentativa saneatória ou de preservação
da entidade restaria infrutífera.
A intervenção e a liquidação extrajudicial determinam a perda
do mandato dos administradores e membros dos conselhos estatutá­
rios das entidades, sejam titulares ou suplentes.
São proibidas de solicitar recuperação judicial ou extrajudicial
as entidades fechadas. Além disso, elas não estão sujeitas a falência,
mas tão somente a liquidação extrajudicial, que será decretada quan­
do reconhecida a inviabilidade de recuperação da entidade, ou pela
ausência de condição para seu funcionamento.
Em caso de liquidação ou falência de patrocinadores (e não
das entidades previdenciárias), os créditos das entidades terão pri­
vilégio especial sobre a massa, logo após os créditos trabalhistas e

284
11ibutátios, seguindo a ordem estabelecida pelo art. 83 da Nova Lei
de f alências (I ei 11.101/2005).
A intervenção e a liquidação extrajudicial determinam a perda
do mandato dos administradores e membros dos conselhos estatutá­
rios das entidades, sejam titulares ou suplentes.
24) Qual é a Justiça competente para julgar conflitos decorren­
tes de relações previdenciárias privadas?
R: O art 202, § 2° da Constituição é categórico: “As contribui­
ções do empregador, os benefícios e as condições contratuais previs­
tas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades
de previdência privada n ão in teg ra m o c o n tra to d e tra b a lh o dos par­
ticipantes” (destaques nossos). Por conta desta previsão já existe um
afastamento da competência da Justiça do Trabalho no contexto da
Previdência Privada.
Não obstante, o assunto ainda não é pacífico nos tribunais. O
TST pacifica a competência trabalhista ao tema.
Contudo, havendo relação entre entidade fechada de Previdên­
cia Privada e entes políticos, e ocorrendo conflito, a Justiça compe­
tente será a Comum, como corrobora o Enunciado d o T S T , n° 106:
“E incompetente a Justiça do Trabalho para julgar a ação contra a
Rede Ferroviária Federal, em que ex-empregado desta pleiteia com-
plementação de aposentadoria, elaboração ou alteração de folhas de
pagamento de aposentados, se por essas obrigações responde órgão
da Previdência Social”.
Vemos ainda mais e mais o STJ se pronunciando sobre o assun­
to e até elaborando Súmulas (v.g. 289, 290, 291), mostrando que a
tendência é pela competência da Justiça comum.
Cremos que a competência em princípio é da Justiça Estadual
Comum. Nos casos onde constar o contrato de trabalho na relação
jurídica previdenciária privada, nosso entendimento é no sentido da
competência da Justiça do Trabalho. Logo, tanto litígios em fundos

285
de pensão quanto em Previdência Privada aberta em planos coletivos
são objeto de análise da Justiça laborai.
25) Quais são os órgãos responsáveis pela fiscalização na Previ­
dência Privada?
R: Houve uma opção governamental pela previsão de regras ge­
rais no âmbito da Lei Complementar n° 109, deixando sua regula­
mentação para o futuro. No próprio texto da lei são feitas numerosas
referências aos regulamentos a serem elaborados pelo “órgão regula­
dor e fiscalizador”.
O art. 5o da Lei Complementar n° 109 prevê a normatização,
coordenação, supervisão, fiscalização e controle das atividades das en-
t idades de previdência complementar, que serão realizados por órgão
(oti órgãos) regulador e fiscalizador Esse órgão também ainda não foi
criado, mas o governo Federal antevê sua criação até o fim de 2001.
Não obstante, até a criação do supracitado órgão, as funções re-
giílatória e fiscalizatória serão exercidas pelo Ministério da Previ­
dência e Assistência Social (MPAS), por intermédio, respectivamente,
do Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC) e
da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), relativamente às
entidades fechadas, e pelo Ministério da Fazenda, por intermédio do
Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superinten­
dência de Seguros Privados (SUSEP), em relação, respectivamente,
à regulação e fiscalização das entidades abertas (art. 74, da Lei Com­
plementar n° 109).
26) Os planos abertos coletivos podem ser contratados por mais
de uma pessoa jurídica?
R:Tais planos têm por objetivo garantir benefícios previdenciá­
rios a pessoas físicas vinculadas, direta ou indiretamente, a uma pes­
soa jurídica contratante.
Os planos abertos coletivos podem ser contratados por uma ou
várias pessoas jurídicas. O vínculo indireto exposto acima se refere aos

286
casos em (|ite uma entidade representativa de pessoas jurídicas contra­
te plano previdenciário coletivo para grupos de pessoas físicas vincula­
das a suas filiadas. Esses grupos de pessoas podem ser formados por
uma ou mais categorias específicas de empregados de um mesmo em­
pregador, podendo abranger empresas coligadas, controladas ou subsi­
diárias, e por membros de associações legalmente constituídas, de caráter
profissional ou classista, e seus cônjuges ou companheiros e depen­
dentes econômicos.
27) O que é um 401 (k)?
R: O chamado PGBL - Plano Gerador de Benefícios Livres -
típico das Entidades Abertas de Previdência Privada - foi inspirado
nos chamados 401 (k), que concentram hoje 52 milhões de partici­
pantes nos Estados Unidos101.
Os 401(k) são os planos de Previdência Privada mais popula­
res nos Estados Unidos (número do instituto legal que permite a
existência do plano) seguidos pelos IRAs (Individual Retirement
Accounts).
IRAs são planos puramente individuais de aposentadoria,
enquanto que os 401(k) são planos individuais ou coletivos, po­
dendo ser pactuados pelas empresas empregadoras para seus
funcionários.
Notemos que a utilização do dispositivo legal no IRC (Internai
Revenue Code) levou à nomenclatura (artigo 401, alínea k).
28) Qual a importância da Previdência Privada para a poupança
interna do País?
R: As entidades de Previdência Privada (tanto as abertas quanto
as fechadas) têm adquirido uma função significativa na organização
da economia do País.

101 The Economist, 10 de maio de 2003, p. 9.

287
O afiuxo financeiro envolvido na manutenção do sistema gera
um aporte de capital que acaba sendo utilizado no giro da economia
nacional. E existe aí mais um aspecto positivo, derivado do princípio
da transparência, que é a fiscalização do sistema pelos interessados,
lato que garante a eficiência crescente das entidades.
As aplicações previdenciárias privadas formam fontes de fi­
nanciamento do mercado de capitais, assim como de projetos de in­
vestimento de longo prazo. Com o incentivo do sistema previdenciário
privado no País, a dependência interna de créditos externos para in­
vestimentos de expansão da produção seria cada vez menor.
Como os prazos de pagamento dos benefícios previdenciários
privados, ou seja, o compromisso precípuo das entidades previdenci­
árias privadas, são de longo prazo, a receita obtida com o pagamento
das contribuições terá um período que pode chegar a duas ou três
décadas para servia de financiamento de longo prazo do crescimento
econômico do Brasil.
O crescimento da poupança acumulada nos planos de Previ­
dência Privada tem um papel fundamental no financiamento da ati­
vidade produtiva.
29) Qual é a isenção no imposto de renda para a contribuição
para a Previdência Privada?
R: Há um abatimento de até 12% da renda bruta tributável, no
ajuste da declaração anual do imposto de renda. Com isso, o partici­
pante reduz a base de cálculo do imposto.
A Lei n° 9.532/97 permite que todo valor aplicado em produtos
de Previdência Privada possa ser deduzido da base de cálculo do
Imposto de Renda, desde que o total das aplicações não exceda a
12% da renda bruta tributável do participante.
Estabelece o art.l 1 da Lei n° 9.532: “A dedução relativa às con-
tribuições para entidades de previdência privada, a que se refere a
alínea “ e“ do inciso II do art. 8o da Lei n° 9.250, de 26 de dezembro

288
de 1995, somada às contribuições para o Fundo de Aposentadoria
Programada Individual - FAPI, a que se refere a Lei n° 9.477, de 24
de julho de 1997, cujo ônus seja da pessoa física, fica limitada a doze
por cento do total dos rendimentos computados na determinação
da base de cálculo do imposto devido na declaração de rendimentos”
(destaques nossos).
A própria Receita Federal confirma que a aplicação em Previ­
dência Privada, para fins de apuração de imposto de renda, no mo­
mento da declaração, no modelo completo, não se caracteriza por
aplicação financeira. Por isso, não deve ser informada na ficha “Bens”.
Deverá haver um lançamento na ficha de “Pagamentos” (código 6 -
contribuições a entidades de previdência privada).

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303
L e g is l a ç ã o C o m p l e m e n t a r

LEI C O M PL E M E N T A R N ° 109, D E 29 D E M A IO D E 2001


Dispõe sobre o Regime de Previdência Com plem entar e dá outras provi­
dências.
O P R E S ID E N T E D A REPÚ B LIC A Faço saber que o Congresso N a­
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:

C A PÍT U L O I

IN T R O D U Ç Ã O
Art. I o O regime de previdência privada, de caráter complementar e
nizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência
al, é facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o bene­
fício, nos termos do caput do art. 202 da Constituição Federal, observado
0 disposto nesta Lei Complementar.
Art. 2“ O regime de previdência complementar é operado por entidades de
previdência complementar que têm por objetivo principal instituir e exe­
cutar planos de benefícios de caráter previdenciário, na forma desta Lei
Complementar.
A rt. 3o A ação do Estado será exercida com o objetivo de:
1 - formular a política de previdência complementar;
II - disciplinar, coordenar e supervisionar as atividades reguladas por esta
Lei Complementar, compatibilizando-as com as políticas previdenciária e
de desenvolvimento social e econômico-financeiro;
III - determinar padrões mínimos de segurança econômico-financeira e
atuarial, com fins específicos de preservar a liquidez, a solvência e o equilí­
brio dos planos de benefícios, isoladamente, e de cada entidade de previ­
dência complementar, no conjunto de suas atividades;

305
IV assegurar aos participantes e assistidos o pleno acesso às informações
relativas à gestão de seus respectivos planos de benefícios;
V fiscalizar as entidades de previdência complementar, suas operações e
apliear penalidades; e
VI proteger os interesses dos participantes e assistidos dos planos de
l>onefícios.
Art. 4" As entidades de previdência complementar são classificadas em
fechadas e abertas, conforme definido nesta Lei Complementar.
Ari. 5" A normatização, coordenação, supervisão, fiscalização e controle
das at ividades das entidades de previdência complementar serão realizados
jior órgão ou órgãos regulador e fiscalizador, conforme disposto em lei,
i )hservado o disposto no inciso VI do art. 84 da Constituição Federal.

C A PÍTU LO II

I )OS PL A N O S D E B EN EFÍC IO S

Seção I
I )isposições Comuns
Art. 6oAs entidades de previdência complementar somente poderão insti-
I u ir e operar planos de benefícios para os quais tenham autorização especí­
fica, segundo as normas aprovadas pelo órgão regulador e fiscalizador, con-
lorme disposto nesta Lei Complementar.
Art. 7o Os planos de benefícios atenderão a padrões mínimos fixados pelo
órgão regulador e fiscalizador, com o objetivo de assegurar transparência,
solvência, liquidez e equilíbrio econômico-financeiro e atuarial.
Parágrafo único. O órgão regulador e fiscalizador normatizará planos de
benefícios nas modalidades de benefício definido, contribuição definida e

306
contribuição variável, bem como outras formas de planos de benefícios que
reflitam a evolução técnica e possibilitem flexibilidade ao regime de previ­
dência complementar.
Art. 8o Para efeito desta Lei Complementar, considera-se:
I - participante, a pessoa física que aderir aos planos de benefícios; e
II - assistido, o participante ou seu beneficiário em gozo de benefício de
prestação continuada.
A rt. 9o As entidades de previdência complementar constituirão reservas
técnicas, provisões e fundos, de conformidade com os critérios e normas
fixados pelo órgão regulador e fiscalizador.
§ I o A aplicação dos recursos correspondentes às reservas, às provisões e
aos fundos de que trata o caput será feita conforme diretrizes estabelecidas
pelo Conselho M onetário Nacional.
§ 2o E vedado o estabelecimento de aplicações compulsórias ou limites
mínimos de aplicação.
Art. 10. Deverão constar dos regulamentos dos planos de benefícios, das
propostas de inscrição e dos certificados de participantes condições míni­
mas a serem fixadas pelo órgão regulador e fiscalizador.
§ I o A todo pretendente será disponibilizado e a todo participante entre­
gue, quando de sua inscrição no plano de benefícios:
I - certificado onde estarão indicados os requisitos que regulam a
admissão e a manutenção da qualidade de participante, bem como
os requisitos de elegibilidade e forma de cálculo dos benefícios;
II - cópia do regulamento atualizado do plano de benefícios e
material explicativo que descreva, em linguagem simples e preci­
sa, as características do plano;
III - cópia do contrato, no caso de plano coletivo de que trata o
inciso II do art. 26 desta Lei Complementar; e
IV - outros documentos que vierem a ser especificados pelo órgão
regulador e fiscalizador.

307
§ 2" Na divulgação ilos planos dc benefícios, nao poderão ser in
cluíclas informações diferentes das que figurem nos documentos
referidos neste artigo.
Art. 11. Para assegurar compromissos assumidos junto aos parti-
cipantes e assistidos de planos de benefícios, as entidades de pre­
vidência complementar poderão contratar operações de resseguro,
por iniciativa própria ou por determinação do órgão regulador e
fiscalizador, observados o regulamento do respectivo plano e de­
mais disposições legais e regulamentares.
I'arágrafo único. Fica facultada às entidades fechadas a garantia
rclerida no caput por meio de fundo de solvência, a ser instituído
na forma da lei.
Seção II
I )os Planos de Benefícios de Entidades Fechadas
A rt. 12. O s planos de benefícios de entidades fechadas poderão ser insti-
l ii idos por patrocinadores e instituidores, observado o disposto no art. 31
I desta Lei Com plem entar.
Art. 13. A formalização da condição de patrocinador ou instituidor de um
jilano de benefício dar-se-á mediante convênio de adesão a ser celebrado
entre o patrocinador ou instituidor e a entidade fechada, em relação a cada
jilano de benefícios por esta administrado e executado, mediante prévia
autorização do órgão regulador e fiscalizador, conforme regulamentação
do Poder Executivo.
§ 1" Admitir-se-á solidariedade entre patrocinadores ou entre instituidores,
com relação aos respectivos planos, desde que expressamente prevista no
convênio de adesão.
^ 2" O órgão regulador e fiscalizador, dentre outros requisitos, estabelecerá
(i número mínimo de participantes admitido para cada modalidade de pla­
no de benefício.
Ari. 14. Os planos de benefícios deverão prever os seguintes institutos,
observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador:

308
I benefício proporcional diferido, em razão da cessação do vínculo
empregatício com o patrocinador ou associativo com o instituidor antes da
aquisição do direito ao benefício pleno, a ser concedido quando cumpridos
os requisitos de elegibilidade;
II - portabilidade do direito acumulado pelo participante para outro plano;
III - resgate da totalidade das contribuições vertidas ao plano pelo partici­
pante, descontadas as parcelas do custeio administrativo, na forma regula­
mentada; e
IV - faculdade de o participante manter o valor de sua contribuição e a do
patrocinador, no caso de perda parcial ou total da remuneração recebida,
para assegurar a percepção dos benefícios nos níveis correspondentes àquela
remuneração ou em outros definidos em normas regulamentares.
§ Io Não será admitida a portabilidade na inexistência de cessação do vín­
culo empregatício do participante com o patrocinador.
§ 2o O órgão regulador e fiscalizador estabelecerá período de carência para
0 instituto de que trata o inciso II deste artigo.
§ 3o N a regulamentação do instituto previsto no inciso II do caput deste
artigo, o órgão regulador e fiscalizador observará, entre outros requisitos
específicos, os seguintes:
1 - se o plano de benefícios foi instituído antes ou depois da publicação
desta Lei Complementar;
II - a modalidade do plano de benefícios.
§ 4o O instituto de que trata o inciso II deste artigo, quando efetuado para
entidade aberta, somente será admitido quando a integralidade dos recur­
sos financeiros correspondentes ao direito acumulado do participante for
utilizada para a contratação de renda mensal vitalícia ou por prazo deter­
minado, cujo prazo mínimo não poderá ser inferior ao período em que a
respectiva reserva foi constituída, limitado ao mínimo de quinze anos, ob­
servadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
Art. 15. Para efeito do disposto no inciso II do caput do artigo anterior,
fica estabelecido que:

309
I a portabilidade não caracteriza resgate; e
II c vedado que os recursos financeiros correspondentes transitem pelos
participantes dos planos de benefícios, sob qualquer forma.
I 'arágrafo único. O direito acumulado corresponde às reservas constituídas
pelo participante ou à reserva matemática, o que lhe for mais favorável.
Art. 16. Os planos de benefícios devem ser, obrigatoriamente, oferecidos a
todos os empregados dos patrocinadores ou associados dos instituidores.
§ 1" Para os efeitos desta Lei Complementar, são equiparáveis aos empre­
gados e associados a que se refere o caput os gerentes, diretores, conselhei-
ios ocupantes de cargo eletivo e outros dirigentes de patrocinadores e
instituidores.
§ 2" E facultativa a adesão aos planos a que se refere o caput deste artigo.
§ 3" O disposto no caput deste artigo não se aplica aos planos em extinção,
assim considerados aqueles aos quais o acesso de novos participantes esteja
vedado.
Art. 17. As alterações processadas nos regulamentos dos planos aplicam-
se a todos os participantes das entidades fechadas, a partir de sua aprova­
ção pelo órgão regulador e fiscalizador, observado o direito acumulado de
cada participante.
Parágrafo único. Ao participante que tenha cumprido os requisitos para
i obtenção dos benefícios previstos no plano é assegurada a aplicação das
disposições regulamentares vigentes na data em que se tornou elegível a
nin benefício de aposentadoria.
Art. 18. O plano de custeio, com periodicidade mínima anual, estabelecerá
o nível de contribuição necessário à constituição das reservas garantidoras
dc benefícios, fundos, provisões e à cobertura das demais despesas, em
conformidade com os critérios fixados pelo órgão regulador e fiscalizador.
§ L O regime financeiro de capitalização é obrigatório para os benefícios
ilc pagamento em prestações que sejam programadas e continuadas.

310
§ 2" Observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial,
0 cálculo das reservas técnicas atenderá às peculiaridades de cada plano de
benefícios e deverá estar expresso em nota técnica atuarial, de apresentação
obrigatória, incluindo as hipóteses utilizadas, que deverão guardar relação
com as características da massa e da atividade desenvolvida pelo patrocina­
dor ou instituidor.
§ 3o As reservas técnicas, provisões e fundos de cada plano de benefícios e
os exigíveis a qualquer título deverão atender permanentemente à cobertu­
ra integral dos compromissos assumidos pelo plano de benefícios, ressal­
vadas excepcionalidades definidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
Art. 19. As contribuições destinadas à constituição de reservas terão como
finalidade prover o pagamento de benefícios de caráter previdenciário, ob­
servadas as especificidades previstas nesta Lei Complementar.
Parágrafo único. As contribuições referidas no caput classificam-se em:
1 - normais, aquelas destinadas ao custeio dos benefícios previstos no res­
pectivo plano; e
II - extraordinárias, aquelas destinadas ao custeio de déficits, serviço pas­
sado e outras finalidades não incluídas na contribuição normal.
Art. 20. O resultado superavitário dos planos de benefícios das entidades
fechadas, ao final do exercício, satisfeitas as exigências regulamentares re­
lativas aos mencionados planos, será destinado à constituição de reserva de
contingência, para garantia de benefícios, até o limite de vinte e cinco por
cento do valor das reservas matemáticas.
§ I o Constituída a reserva de contingência, com os valores excedentes será
constituída reserva especial para revisão do plano de benefícios.
§ 2o A não utilização da reserva especial por três exercícios consecutivos
determinará a revisão obrigatória do plano de benefícios da entidade.
§ 3o Se a revisão do plano de benefícios implicar redução de contribuições,
deverá ser levada em consideração a proporção existente entre as contri­
buições dos patrocinadores e dos participantes, inclusive dos assistidos.

311
Art. 2 t . O resultado deficitário nos planos ou nas entidades fechadas será
equacionado por patrocinadores, participantes e assistidos, na proporção
existente entre as suas contribuições, sem prejuízo de ação regressiva con-
ira dirigentes ou terceiros que deram causa a dano ou prejuízo à entidade
<le previdência complementar.
<5I" O equacionamento referido no caput poderá ser feito, dentre outras
lormas, por meio do aumento do valor das contribuições, instituição de
contribuição adicional ou redução do valor dos benefícios a conceder, ob­
servadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
§ 2" A redução dos valores dos benefícios não se aplica aos assistidos, sen-
11. >cabível, nesse caso, a instituição de contribuição adicional para cobertu-
ta do acréscimo ocorrido em razão da revisão do plano.
() 3" Na hipótese de retorno à entidade dos recursos equivalentes ao déficit
(•revisto no caput deste artigo, em conseqüência de apuração de responsa­
bilidade mediante ação judicial ou administrativa, os respectivos valores
i leverão ser aplicados necessariamente na redução proporcional das contri­
buições devidas ao plano ou em melhoria dos benefícios.
I Art. 22. Ao final de cada exercício, coincidente com o ano civil, as entida-
| des fechadas deverão levantar as demonstrações contábeis e as avaliações
I atuariais de cada plano de benefícios, por pessoa jurídica ou profissional
legalmente habilitado, devendo os resultados ser encaminhados ao órgão
regulador e fiscalizador e divulgados aos participantes e aos assistidos.
Art. 23. As entidades fechadas deverão manter atualizada sua contabilida­
de, de acordo com as instruções do órgão regulador e fiscalizador, consoli­
dando a posição dos planos de benefícios que administram e executam,
bem como submetendo suas contas a auditores independentes.
I'arágrafo único. Ao final de cada exercício serão elaboradas as demonstra-
i, i >es contábeis e atuariais consolidadas, sem prejuízo dos controles por pla­
no de benefícios.
*\ rt. 24. A divulgação aos participantes, inclusive aos assistidos, das infor-
nações pertinentes aos planos de benefícios dar-se-á ao menos uma vez ao
iii >, na forma, nos prazos e pelos meios estabelecidos pelo órgão regulador
fiscalizador.
I'arágrafo único. As informações requeridas formalmente pelo participan­
te ou assistido, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal específico deverão ser atendidas pela entidade no prazo
estabelecido pelo órgão regulador e fiscalizador.
A rt. 25. O órgão regulador e fiscalizador poderá autorizar a extinção de
plano de benefícios ou a retirada de patrocínio, ficando os patrocinadores e
instituidores obrigados ao cumprimento da totalidade dos compromissos
assumidos com a entidade relativamente aos direitos dos participantes, as­
sistidos e obrigações legais, até a data da retirada ou extinção do plano.
Parágrafo único. Para atendimento do disposto no caput deste artigo, a
situação de solvência econômico-financeira e atuarial da entidade deverá
ser atestada por profissional devidamente habilitado, cujos relatórios serão
encaminhados ao órgão regulador e fiscalizador.
Seção III
Dos Planos de Benefícios de Entidades Abertas
Art. 26. Os planos de benefícios instituídos por entidades abertas poderão
ser:
I - individuais, quando acessíveis a quaisquer pessoas físicas; ou
II - coletivos, quando ten ham por objetivo g aran tir benefícios
previdenciários a pessoas físicas vinculadas, direta ou indiretamente, a uma
pessoa jurídica contratante.
§ I o O plano coletivo poderá ser contratado por uma ou várias pessoas
jurídicas.
§ 2o O vínculo indireto de que trata o inciso II deste artigo refere-se aos
casos em que uma entidade representativa de pessoas jurídicas contrate
plano previdenciário coletivo para grupos de pessoas físicas vinculadas a
suas filiadas.
§ 3o Os grupos de pessoas de que trata o parágrafo anterior poderão ser
constituídos por uma ou mais categorias específicas de empregados de um
mesmo empregador, podendo abranger empresas coligadas, controladas ou
subsidiárias, e por membros de associações legalmente constituídas, de ca-

313
rã ter profissional ou classista, e seus cônjuges ou companheiros e depen­
dentes econômicos.
§ 4" Para efeito do disposto no parágrafo anterior, são equiparáveis aos
empregados e associados os diretores, conselheiros ocupantes de cargos
eletivos e outros dirigentes ou gerentes da pessoa jurídica contratante.
§ 5" A implantação de um plano coletivo será celebrada mediante contrato,
na forma, nos critérios, nas condições e nos requisitos mínimos a serem
estabelecidos pelo órgão regulador.
§ <)" L vedada à entidade aberta a contratação de plano coletivo com pessoa
jurídica cujo objetivo principal seja estipular, em nome de terceiros, planos
de benefícios coletivos.
Art. 27. Observados os conceitos, a forma, as condições e os critérios fixa­
dos pelo órgão regulador, é assegurado aos participantes o direito à
portabilidade, inclusive para plano de benefício de entidade fechada, e ao
resgate de recursos das reservas técnicas, provisões e fundos, total ou parci­
almente.
§ 1" A portabilidade não caracteriza resgate.
^ 2" E vedado, no caso de portabilidade:
I que os recursos financeiros transitem pelos participantes, sob qualquer
lormaje
II a transferência de recursos entre participantes.
Art. 28. Os ativos garantidores das reservas técnicas, das provisões e dos
I undos serão vinculados à ordem do órgão fiscalizador, na forma a ser re­
gulamentada, e poderão ter sua livre movimentação suspensa pelo referido
órgão, a partir da qual não poderão ser alienados ou prometidos alienar
sem sua prévia e expressa autorização, sendo nulas, de pleno direito, quais­
quer operações realizadas com violação daquela suspensão.
§ I" Sendo imóvel, o vínculo será averbado à margem do respectivo regis-
Iro no Cartório de Registro Geral de Imóveis competente, mediante co­
municação do órgão fiscalizador.

314
§ 2" ( Xs ativos garantidores a c]ue se refere o caput, bem como os direitos
deles decorrentes, não poderão ser gravados, sob qualquer forma, sem pré­
via e expressa autorização do órgão fiscalizador, sendo nulos os gravames
constituídos com infringência do disposto neste parágrafo.
Art. 29. Com pete ao órgão regulador, entre outras atribuições que lhe fo­
rem conferidas por lei:
I - fixar padrões adequados de segurança atuarial e econômico-financeira,
para preservação da liquidez e solvência dos planos dc benefícios, isolada­
mente, e de cada entidade aberta, no conjunto de suas atividades;
II - estabelecer as condições em que o órgão fiscalizador pode determinar
a suspensão da comercialização ou a transferência, entre entidades abertas,
de planos de benefícios; e
III - fixar condições que assegurem transparência, acesso a informações e
fornecimento de dados relativos aos planos de benefícios, inclusive quanto
à gestão dos respectivos recursos.
Art. 30. E facultativa a utilização de corretores na venda dos planos de
benefícios das entidades abertas.
Parágrafo único. Aos corretores de planos de benefícios aplicam-se a legis­
lação e a regulamentação da profissão de corretor de seguros.

C A PÍT U L O III

DAS E N T ID A D E S FE C H A D A S D E PR E V ID Ê N C IA C O M P L E ­
M EN T A R
Art. 31. As entidades fechadas são aquelas acessíveis, na forma regulamen­
tada pelo órgão regulador e fiscalizador, exclusivamente:
I - aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos servidores
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos M unicípios, entes deno­
minados patrocinadores; e

315
11 aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional,
classista ou setorial, denominadas instituidores.
^ I" As entidades fechadas organizar-se-ão sob a forma de fundação ou
sociedade civil, sem fms lucrativos.
fí As entidades fechadas constituídas por instituidores referidos no inciso
11 do caput deste artigo deverão, cumulativamente:
I terceirizar a gestão dos recursos garantidores das reservas técnicas e
provisões mediante a contratação de instituição especializada autorizada a
limcionar pelo Banco Central do Brasil ou outro órgão competente;
II of ertar exclusivamente planos de benefícios na modalidade contribui-
çao definida, na forma do parágrafo único do art. 7" desta Lei Com ple-
mentar.
‘í V' O s responsáveis pela gestão dos recursos de que trata o inciso I do
I>ai agrafo anterior deverão manter segregados e totalmente isolados o seu
|>al rimônio dos patrimônios do instituidor e da entidade fechada.
§ 4 ' Na regulamentação de que trata o caput, o órgão regulador e fiscalizador
estabelecerá o tempo mínimo de existência do instituidor e o seu número
mínimo de associados.
A 1 1. 32. As entidades fechadas têm como objeto a administração e execu­
ção dc planos de benefícios de natureza previdenciária.

I 'arágrafo único. E vedada às entidades fechadas a prestação de quaisquer


serviços que não estejam no âmbito de seu objeto, observado o disposto no
art. 76.
A rt. 33. Dependerão de prévia e expressa autorização do órgão regulador e
fiscalizador:
I a constituição e o funcionamento da entidade fechada, bem como a
aplicação dos respectivos estatutos, dos regulamentos dos planos de bene-
Ifeios e suas alterações;
II as operações de fusão, cisão, incorporação ou qualquer outra forma de
reorganização societária, relativas às entidades fechadas;

316
III as retiradas de patrocinadores; e
I V - as transferências de patrocínio, de grupo de participantes, de planos e
de reservas entre entidades fechadas.
§ I o Excetuado o disposto no inciso III deste artigo, é vedada a transferên­
cia para terceiros de participantes, de assistidos e de reservas constituídas
para garantia de benefícios de risco atuarial programado, de acordo com
normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador.
§ 2o Para os assistidos de planos de benefícios na modalidade contribui­
ção definida que mantiveram esta característica durante a fase de percep­
ção de renda programada, o órgão regulador e fiscalizador poderá, em
caráter excepcional, autorizar a transferência dos recursos garantidores
dos benefícios para entidade de previdência com plem entar ou compa­
nhia seguradora autorizada a operar planos de previdência complem en­
tar, com o objetivo específico dc contratar plano de renda vitalícia, obser­
vadas as normas aplicáveis.
A rt. 34. As entidades fechadas podem ser qualificadas da seguinte forma,
além de outras que possam ser definidas pelo órgão regulador e fiscalizador:
I - de acordo com os planos que administram:
a) de plano comum, quando administram plano ou conjunto de planos
acessíveis ao universo de participantes; e
b) com multiplano, quando administram plano ou conjunto de planos de
benefícios para diversos grupos de participantes, com independência
patrimonial;
II - de acordo com seus patrocinadores ou instituidores:
a) singulares, quando estiverem vinculadas a apenas um patrocinador ou
instituidor; e
b) multipatrocinadas, quando congregarem mais de um patrocinador ou
instituidor.
A rt. 35. As entidades fechadas deverão manter estrutura mínima compos­
ta por conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva.

317
I" O estatuto deverá prever representação dos participantes e assistidos
nos conselhos deliberativo e fiscal, assegurado a eles no mínimo um terço
das vagas.
§ 2" Na composição dos conselhos deliberativo e fiscal das entidades qua­
lificadas como multipatrocinadas, deverá ser considerado o número de par-
i ieipantes vinculados a cada patrocinador ou instituidor, bem como o mon-
lante dos respectivos patrimônios.
§ 3" Os membros do conselho deliberativo ou do conselho fiscal deverão
atender aos seguintes requisitos mínimos:
I comprovada experiência no exercício de atividades nas áreas financeira,
administrativa, contábil, jurídica, de fiscalização ou de auditoria;
II não ter sofrido condenação criminal transitada em julgado; e
III - não ter sofrido penalidade administrativa por infração da legislação
da seguridade social ou como servidor público.
§ 4" Os membros da diretoria-executiva deverão ter formação de nível
sujierior e atender aos requisitos do parágrafo anterior.
V’ Será informado ao órgão regulador e fiscalizador o responsável pelas
i| «licações dos recursos da entidade, escolhido entre os membros da direto-
i ia-executiva.
()" Os demais membros da diretoria-executiva responderão solidariamente
com o dirigente indicado na forma do parágrafo anterior pelos danos e
prejuízos causados à entidade para os quais tenham concorrido.
§ 7" Sem prejuízo do disposto no § Io do art. 31 desta Lei Complementar,
os membros da diretoria-executiva e dos conselhos deliberativo e fiscal
| ii >derão ser remunerados pelas entidades fechadas, de acordo com a legis­
lação aplicável.
§ 8" Em caráter excepcional, poderão ser ocupados até trinta por cento
dos cargos da diretoria-executiva por membros sem formação de nível
Mi|>crior, sendo assegurada a possibilidade de participação neste órgão de
ielo menos um membro, quando da aplicação do referido percentual re-
Miltar núm ero inferior à unidade.

318
CAPÍTULO IV

DAS E N T ID A D E S ABERTAS D E P R E V ID Ê N C IA C O M P L E ­
M EN T A R
Art. 36. As entidades abertas são constituídas unicamente sob a forma de
sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de bene­
fícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada
ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas.
Parágrafo único. As sociedades seguradoras autorizadas a operar exclusi­
vamente no ramo vida poderão ser autorizadas a operar os planos de bene­
fícios a que se refere o caput, a elas se aplicando as disposições desta Lei
Complementar.
Art. 37. Com pete ao órgão regulador, entre outras atribuições que lhe fo­
rem conferidas por lei, estabelecer:
I - os critérios para a investidura e posse em cargos e funções de órgãos
estatutários de entidades abertas, observado que o pretendente não poderá
ter sofrido condenação criminal transitada em julgado, penalidade admi­
nistrativa por infração da legislação da seguridade social ou como servidor
público;
II - as normas gerais de contabilidade, auditoria, atuária e estatística a se­
rem observadas pelas entidades abertas, inclusive quanto à padronização
dos planos de contas, balanços gerais, balancetes e outras demonstrações
financeiras, critérios sobre sua periodicidade, sobre a publicação desses
documentos e sua remessa ao órgão fiscalizador;
III - os índices de solvência e liquidez, bem como as relações patrimoniais
a serem atendidas pelas entidades abertas, observado que seu patrimônio
líquido não poderá ser inferior ao respectivo passivo não operacional; e
IV - as condições que assegurem acesso a informações e fornecimento de
dados relativos a quaisquer aspectos das atividades das entidades abertas.

319
I a constituição e o funcionamento das entidades abertas, bem como as
disposições de seus estatutos e as respectivas alterações;
II a comercialização dos planos de benefícios;
III os atos relativos à eleição e conseqüente posse de administradores e
membros de conselhos estatutários; e
IV as operações relativas à transferência do controle acionário, fusão, ci­
são, incorporação ou qualquer outra forma de reorganização societária.

I'arágrafo único. O órgão regulador disciplinará o tratam ento administra-


livo a ser emprestado ao exame dos assuntos constantes deste artigo.
Alt. 39. As entidades abertas deverão comunicar ao órgão fiscalizador, no
| >razo e na forma estabelecidos:
I os atos relativos às alterações estatutárias e à eleição de administradores
e membros de conselhos estatutários; e
II o responsável pela aplicação dos recursos das reservas técnicas, provi­
sões e fundos, escolhido dentre os membros da diretoria-executiva.
Parágrafo único. Os demais membros da diretoria-executiva responde­
rão solidariamente com o dirigente indicado na forma do inciso II deste
artigo pelos danos e prejuízos causados à entidade para os quais tenham
concorrido.
Art. 40. As entidades abertas deverão levantar no último dia útil de cada
mês e semestre, respectivamente, balancetes mensais e balanços gerais, com
observância das regras e dos critérios estabelecidos pelo órgão regulador.
I'arágrafo único. As sociedades seguradoras autorizadas a operar planos de
benefícios deverão apresentar nas demonstrações financeiras, de forma dis-
I I iminada, as atividades previdenciárias e as de seguros, de acordo com

critérios fixados pelo órgão regulador.


C A PÍT U L O V

DA FISC A L IZ A Ç Ã O
Art. 41. N o desempenho das atividades de fiscalização das entidades de
previdência complementar, os servidores do órgão regulador e fiscalizador
terão livre acesso às respectivas entidades, delas podendo requisitar e apre­
ender livros, notas técnicas e quaisquer documentos, caracterizando-se
embaraço à fiscalização, sujeito às penalidades previstas em lei, qualquer
dificuldade oposta à consecução desse objetivo.
§ I o O órgão regulador e fiscalizador das entidades fechadas poderá solici­
tar dos patrocinadores e instituidores informações relativas aos aspectos
específicos que digam respeito aos compromissos assumidos frente aos res­
pectivos planos de benefícios.
§ 2" A fiscalização a cargo do Estado não exime os patrocinadores e os
instituidores da responsabilidade pela supervisão sistemática das ativida­
des das suas respectivas entidades fechadas.
§ 3o As pessoas físicas ou jurídicas submetidas ao regime desta Lei C om ­
plementar ficam obrigadas a prestar quaisquer informações ou esclareci­
mentos solicitados pelo órgão regulador e fiscalizador.
§ 4o O disposto neste artigo aplica-se, sem prejuízo da competência das
autoridades fiscais, relativamente ao pleno exercício das atividades de fis­
calização tributária.
Art. 42. O órgão regulador e fiscalizador poderá, em relação às entidades
fechadas, nomear administrador especial, a expensas da entidade, com po­
deres próprios de intervenção e de liquidação extrajudicial, com o objetivo
de sanear plano de benefícios específico, caso seja constatada na sua admi­
nistração e execução alguma das hipóteses previstas nos arts. 44 e 48 desta
Lei Complementar.
Parágrafo único. O ato de nomeação de que trata o caput estabelecerá as
condições, os limites e as atribuições do administrador especial.

321
Art .43. () órgão fiscalizador poderá, cm relação às entidades abertas, des-
cle que se verifique uma das condições previstas no art. 44 desta Lei C om ­
plementar, nomear, por prazo determinado, prorrogável a seu critério, e a
expensas da respectiva entidade, um diretor-fiscal.
§ 1" () diretor-fiscal, sem poderes de gestão, terá suas atribuições
estabelecidas pelo órgão regulador, cabendo ao órgão fiscalizador fixar sua
remuneração.
<} 2" Se reconhecer a inviabilidade de recuperação da entidade aberta ou a
ausência de qualquer condição para o seu funcionamento, o diretor-fiscal
jtroporá ao órgão fiscalizador a decretação da intervenção ou da liquidação
extrajudicial.
3" O diretor-fiscal não está sujeito à indisponibilidade de bens, nem aos
<lemais efeitos decorrentes da decretação da intervenção ou da liquidação
extrajudicial da entidade aberta.

C A PIT U L O VI

I >A IN T E R V E N Ç Ã O E DA L IQ U ID A Ç Ã O EX TRA JU D ICIA L

Seção I
I )a Intervenção
Art. 44. Para resguardar os direitos dos participantes e assistidos poderá
ser decretada a intervenção na entidade de previdência complementar, desde
que se verifique, isolada ou cumulativamente:
I irregularidade ou insuficiência na constituição das reservas técnicas,
provisões e fundos, ou na sua cobertura por ativos garantidores;
I - aplicação dos recursos das reservas técnicas, provisões e fundos de
1 irma inadequada ou em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos
ompetentes;

322
III dcscumprimciito dc disposições estatutárias ou dc obrigações previs­
tas nos regulamentos dos planos de benefícios, convênios de adesão ou
contratos dos planos coletivos de que trata o inciso II do art. 26 desta Lei
Complementar;
IV - situação econômico-financeira insuficiente à preservação da liquidez
e solvência de cada um dos planos de benefícios e da entidade no conjunto
de suàs atividades;
V - situação atuarial desequilibrada;
VI - outras anormalidades definidas em regulamento.
Art. 45. A intervenção será decretada pelo prazo necessário ao exame da
situação da entidade e encaminhamento de plano destinado à sua recupe­
ração.
Parágrafo único. Dependerão de prévia e expressa autorização do órgão
competente os atos do interventor que impliquem oneração ou disposição
do patrimônio.
Art. 46. A intervenção cessará quando aprovado o plano de recuperação da
entidade pelo órgão com petente ou se decretada a sua liquidação
extrajudicial.

Seção II
D a Liquidação Extrajudicial
Art. 47. As entidades fechadas não poderão solicitar concordata e não es­
tão sujeitas a falência, mas somente a liquidação extrajudicial.
Art. 48. A liquidação extrajudicial será decretada quando reconhecida a
inviabilidade de recuperação da entidade de previdência complementar ou
pela ausência de condição para seu funcionamento.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se por
ausência de condição para funcionamento de entidade de previdência com­
plementar:

323
II (V LTA Ü O )
III o não atendim ento às condições mínimas estabelecidas pelo órgão
regulador e fiscalizador.
A rt. 49. A decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, os
seguintes efeitos:
I susjiensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses
relativos ao acervo da entidade liquidanda;
II vencimento antecipado das obrigações da liquidanda;
III não incidência de penalidades contratuais contra a entidade por obri-
)■;ações vencidas em decorrência da decretação da liquidação extrajudicial;
IV - não fluência de juros contra a liquidanda enquanto não integralmente
|>ago o passivo;
V interrupção da prescrição em relação às obrigações da entidade em
liquidação;
VI - suspensão de multa e juros em relação às dívidas da entidade;
V II- inexigibilidade de penas pecuniárias por infrações de natureza adm i­
nistrativa;
VIII - interrupção do pagamento à liquidanda das contribuições dos par-
liei|>antes e dos patrocinadores, relativas aos planos de benefícios.
1" As faculdades previstas nos incisos deste artigo aplicam-se, no caso
ilas entidades abertas de previdência complementar, exclusivamente, em
relação às suas atividades de natureza previdenciária.
() 2" O disposto neste artigo não se aplica às ações e aos débitos de natureza
tributária.
Art. 50. O liquidante organizará o quadro geral de credores, realizará o
iilivo e liquidará o passivo.
§ 1" Os participantes, inclusive os assistidos, dos planos de benefícios fi­
cam dispensados de se habilitarem a seus respectivos créditos, estejam es­
tes sendo recebidos ou não.
§ 2o Os participantes, inclusive os assistidos, dos planos de benefícios terão
privilégio especial sobre os ativos garantidores das reservas técnicas e, caso
estes não sejam suficientes para a cobertura dos direitos respectivos, privi­
légio geral sobre as demais partes não vinculadas ao ativo.
§ 3o Os participantes que já estiverem recebendo benefícios, ou que já tive­
rem adquirido este direito antes de decretada a liquidação extrajudicial,
terão preferência sobre os demais participantes.
§ 4“ Os créditos referidos nos parágrafos anteriores deste artigo não têm
preferência sobre os créditos de natureza trabalhista ou tributária.
Art. 51. Serão obrigatoriamente levantados, na data da decretação da li­
quidação extrajudicial de entidade de previdência complementar, o balan­
ço geral de liquidação e as demonstrações contábeis e atuariais necessárias
à determinação do valor das reservas individuais.
Art. 52. A liquidação extrajudicial poderá, a qualquer tempo, ser levantada,
desde que constatados fatos supervenientes que viabilizem a recuperação
da entidade de previdência complementar.
A rt. 53. A liquidação extrajudicial das entidades fechadas encerrar-se-á
com a aprovação, pelo órgão regulador e fiscalizador, das contas finais do
liquidante e com a baixa nos devidos registros.
Parágrafo único. Comprovada pelo liquidante a inexistência de ativos para
satisfazer a possíveis créditos reclamados contra a entidade, deverá tal situ­
ação ser comunicada ao juízo competente e efetivados os devidos registros,
para o encerramento do processo de liquidação.
Seção III
Disposições Especiais
Art. 54.0 interventor terá amplos poderes de administração e representação
e o liquidante plenos poderes de administração, representação e liquidação.

325
A rt. 55. Com pete ao órgão fiscalizador decretar, aprovar e rever os atos de
«jiie tratam os arts. 45,46 e 48 desta Lei Complementar, bem como nome­
ar, |)or intermédio do seu dirigente máximo, o interventor ou o liquidante.
Art. 56. A intervenção e a liquidação extrajudicial determinam a perda do
mandato dos administradores e membros dos conselhos estatutários das
entidades, sejam titulares ou suplentes.
Art. 57. Os créditos das entidades de previdência complementar, em caso
de liquidação ou falência de patrocinadores, terão privilégio especial sobre
a massa, respeitado o privilégio dos créditos trabalhistas e tributários.
I'arágrafo único. Os administradores dos respectivos patrocinadores serão
responsabilizados pelos danos ou prejuízos causados às entidades de previ­
dência complementar, especialmente pela falta de aporte das contribuições
a que estavam obrigados, observado o disposto no parágrafo único do art.
(>3 desta Lei Complementar.
Art. 58. N o caso de liquidação extrajudicial de entidade fechada motivada
jiela falta de aporte de contribuições de patrocinadores ou pelo não reco­
lhimento de contribuições de participantes, os administradores daqueles
lambém serão responsabilizados pelos danos ou prejuízos causados.
Art. 59. Os administradores, controladores e membros de conselhos
estatutários das entidades de previdência complementar sob intervenção
ou em liquidação extrajudicial ficarão com todos os seus bens indisponí­
veis, não podendo, por qualquer forma, direta ou indireta, aliená-los ou
onerá-los, até a apuração e liquidação final de suas responsabilidades.
§ I" A indisponibilidade prevista neste artigo decorre do ato que decretar a
intervenção ou liquidação extrajudicial e atinge todos aqueles que tenham
estado no exercício das funções nos doze meses anteriores.
A indisponibilidade poderá ser estendida aos bens de pessoas que, nos
Çj 2"
últimos doze meses, os tenham adquirido, a qualquer título, das pessoas
referidas no caput e no parágrafo anterior, desde que haja seguros elemen­
tos de convicção de que se trata de simulada transferência com o fim de
evitar os efeitos desta Lei Complementar.
§ 3" Não se incluem nas disposições deste artigo os bens considerados
inalienáveis ou impenhoráveis pela legislação em vigor.
§ 4o N ão são também atingidos pela indisponibilidade os bens objeto de
contrato de alienação, de promessas de compra e venda e de cessão de
direitos, desde que os respectivos instrumentos tenham sido levados ao
competente registro público até doze meses antes da data de decretação da
intervenção ou liquidação extrajudicial.
§ 5o Não se aplica a indisponibilidade de bens das pessoas referidas no
caput deste artigo no caso de liquidação extrajudicial de entidades fecha­
das que deixarem de ter condições para funcionar por motivos totalmente
desvinculados do exercício das suas atribuições, situação esta que poderá
ser revista a qualquer momento, pelo órgão regulador e fiscalizador, desde
que constatada a existência de irregularidades ou indícios de crimes por
elas praticados.
Art. 60. O interventor ou o liquidante comunicará a indisponibilidade de
bens aos órgãos competentes para os devidos registros e publicará edital
para conhecimento de terceiros.
Parágrafo único. A autoridade que receber a comunicação ficará, relativa­
mente a esses bens, impedida de:
I - fazer transcrições, inscrições ou averbações de documentos públicos ou
particulares;
II - arquivar atos ou contratos que importem em transferência de cotas
sociais, ações ou partes beneficiárias;
III - realizar ou registrar operações e títulos de qualquer natureza; e
IV - processar a transferência de propriedade de veículos automotores, ae­
ronaves e embarcações.
Art. 61. A apuração de responsabilidades específicas referida no caput do
art. 59 desta Lei Complementar será feita mediante inquérito a ser instau­
rado pelo órgão regulador e fiscalizador, sem prejuízo do disposto nos arts.
63 a 65 desta Lei Complementar.

327
íj I" Se o inquérito concluir pela inexistência de prejuízo, será arquivado no
órgão fiscalizador.
§ 2" Concluindo o inquérito pela existência de prejuízo, será ele, com o
respectivo relatório, remetido pelo órgão regulador e fiscalizador ao M inis-
terio Público, observados os seguintes procedimentos:
I o interventor ou o liquidante, de ofício ou a requerimento de qualquer
interessado que não tenha sido indiciado no inquérito, após aprovação do
resjiectivo relatório pelo órgão fiscalizador, determinará o levantamento da
indisponibilidade de que trata o art. 59 desta Lei Complementar;
II será mantida a indisponibilidade com relação às pessoas indiciadas no
inquérito, após aprovação do respectivo relatório pelo órgão fiscalizador.
Art. 62. Aplicam-se à intervenção e à liquidação das entidades de previ­
dência complementar, no que couber, os dispositivos da legislação sobre a
in tervenção e liquidação extrajudicial das instituições financeiras, cabendo
ao órgão regulador e fiscalizador as funções atribuídas ao Banco Central
do Brasil.

C A PÍT U L O VII

I )Q R E G IM E D ISC IPLIN A R

Art. 63. Os administradores de entidade, os procuradores com poderes de


gestão, os membros de conselhos estatutários, o interventor e o liquidante
responderão civilmente pelos danos ou prejuízos que causarem, por ação
ou omissão, às entidades de previdência complementar.
Parágrafo único. São também responsáveis, na forma do caput, os adm i­
nistradores dos patrocinadores ou instituidores, os atuários, os auditores
independentes, os avaliadores de gestão e outros profissionais que prestem
serviços técnicos à entidade, diretamente ou por intermédio de pessoa ju ­
rídica contratada.

328
Art. 64. O órgão fiscalizador competente, o Banco Central do Brasil, a
Comissão de Valores Mobiliários ou a Secretaria da Receita Federal, cons­
tatando a existência de práticas irregulares ou indícios de crimes em enti­
dades de previdência complementar, noticiará ao M inistério Público, envi­
ando-lhe os documentos comprobatórios.
Parágrafo único. O sigilo de operações não poderá ser invocado como óbi­
ce à troca de informações entre os órgãos mencionados no caput, nem ao
fornecimento de informações requisitadas pelo M inistério Público.
A rt. 65. A infração dc qualquer disposição desta Lei Com plem entar ou de
seu regulamento, para a qual não haja penalidade expressamente cominada,
sujeita a pessoa física ou jurídica responsável, conforme o caso e a gravida­
de da infração, às seguintes penalidades administrativas, observado o dis­
posto em regulamento:
I - advertência;
II - suspensão do exercício de atividades em entidades de previdência com­
plementar pelo prazo de até cento e oitenta dias;
III - inabilitação, pelo prazo de dois a dez anos, para o exercício de cargo
ou função em entidades de previdência complementar, sociedades segura­
doras, instituições financeiras e no serviço público; e
IV - multa de dois mil reais a um milhão de reais, devendo esses valores, a
partir da publicação desta Lei Complementar, ser reajustados de forma a
preservar, em caráter permanente, seus valores reais.
§ 1" A penalidade prevista no inciso IV será imputada ao agente responsá­
vel, respondendo solidariamente a entidade de previdência complementar,
assegurado o direito de regresso, e poderá ser aplicada cumulativamente
com as constantes dos incisos I, II ou III deste artigo.
§ 2° Das decisões do órgão fiscalizador caberá recurso, no prazo de quinze
dias, com efeito suspensivo, ao órgão competente.
§ 3o O recurso a que se refere o parágrafo anterior, na hipótese do inciso IV
deste artigo, somente será conhecido se for comprovado pelo requerente o

329
| 'agaifrento antecipado, em favor do órgão fiscalizador, de trinta por cento
«Io valor da multa aplicada.
í I ’ Km caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro.
A rt. f>6. As infrações serão apuradas mediante processo administrativo, na
•<>i ma do regulamento, aplicando-se, no que couber, o disposto na Lei n°
ÍS4, de 29 de janeiro de 1999. (Vide Decreto n° 4.942, de 30.12.2003)
A rt. 67. O exercício de atividade de previdência complementar por qual­
quer jiessoa, física ou jurídica, sem a autorização devida do órgão compe-
lenie, inclusive a comercialização de planos de benefícios, bem como a
I nptação ou a administração de recursos de terceiros com o objetivo de,
direta ou indiretamente, adquirir ou conceder benefícios previdenciários
sob qualquer forma, submete o responsável à penalidade de inabilitação
| ’<•I<>| >razo de dois a dez anos para o exercício de cargo ou função em enti-
d.ule de previdência complementar, sociedades seguradoras, instituições
1 11 laneeiras e no serviço público, além de multa aplicável de acordo com o
II isposto no inciso IV do art. 65 desta Lei Complementar, bem como no-
l iciar ao M inistério Público.

C A P ÍT U L O VIII

I MS PO SIÇ Õ E S GERAIS

A rt. 68. As contribuições do empregador, os benefícios e as condições


contratuais previstos nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios
tf*s entidades de previdência complementar não integram o contrato de
11'imalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedi-
!' >s, não integram a remuneração dos participantes.
í> 1" Os benefícios serão considerados direito adquirido do participante
I1' ando implementadas todas as condições estabelecidas para elegibilidade
‘onsignadas no regulamento do respectivo plano.

330
§ 2" A concessão de benefício pela previdência complementar não depen­
de da concessão de benefício pelo regime geral de previdência social.
Art. 69. As contribuições vertidas para as entidades de previdência com­
plementar, destinadas ao custeio dos planos de benefícios de natureza
previdenciária, são dedutíveis para fins de incidência de imposto sobre a
renda, nos limites e nas condições fixadas em lei.
§ I o Sobre as contribuições de que trata o caput não incidem tributação e
contribuições de qualquer natureza.
§ 2° Sobre a portabilidade de recursos de reservas técnicas, fundos e provi­
sões entre planos de benefícios de entidades de previdência complementar,
titulados pelo mesmo participante, não incidem tributação e contribuições
de qualquer natureza.
Art. 70. (V ETA D O )
Art. 71. E vedado às entidades de previdência complementar realizar quais­
quer operações comerciais e financeiras:
I - com seus administradores, membros dos conselhos estatutários e res­
pectivos cônjuges ou companheiros, e com seus parentes até o segundo
grau;
II - com empresa de que participem as pessoas a que se refere o inciso
anterior, exceto no caso de participação de até cinco por cento como acio­
nista de empresa de capital aberto; e
III - tendo como contraparte, mesmo que indiretamente, pessoas físicas e
jurídicas a elas ligadas, na forma definida pelo órgão regulador.
Parágrafo único. A vedação deste artigo não se aplica ao patrocinador, aos
participantes e aos assistidos, que, nessa condição, realizarem operações
com a entidade de previdência complementar.
Art. 72. Com pete privativamente ao órgão regulador e fiscalizador das en­
tidades fechadas zelar pelas sociedades civis e fundações, como definido
no art. 31 desta Lei Complementar, não se aplicando a estas o disposto nos
arts. 26 e 30 do Código Civil e 1.200 a 1.204 do Código de Processo Civil
e demais disposições em contrário.

331
Aj t. 73. As entidades abertas serão reguladas também, no que couber, pela
legislação aplicável ás sociedades seguradoras.
Art. 74. Até que seja publicada a lei de que trata o art. 5 o desta Lei Com -
jilementar, as funções do órgão regulador e do órgão fiscalizador serão
exercidas pelo M inistério da Previdência e Assistência Social, por inter­
médio, respectivamente, do Conselho de Gestão da Previdência Com ple­
mentar (C G PC ) e da Secretaria de Previdência Com plementar (SPC), re­
lativamente às entidades fechadas, e pelo M inistério da Fazenda, por in­
termédio do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Supe-
rin tendência de Seguros Privados (SUSEP), em relação, respectivamente,
a regulação e fiscalização das entidades abertas.
Aii. 75. Sem prejuízo do benefício, prescreve em cinco anos o direito às
prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguardados os
direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes, na for­
ma tio Código Civil.
A ri. 76. As entidades fechadas que, na data da publicação desta Lei Com -
I ilcmentar, prestarem a seus participantes e assistidos serviços assistenciais
a saúde poderão continuar a fazê-lo, desde que seja estabelecido um cus-
lcio específico para os planos assistenciais e que a sua contabilização e o
I seu patrim ônio sejam m antidos em separado em relação ao plano
jnevidenciário.
§ I" Os programas assistenciais de natureza financeira deverão ser extintos
a partir da data de publicação desta Lei Complementar, permanecendo em
vigência, até o seu termo, apenas os compromissos já firmados.
(í 2" Consideram-se programas assistenciais de natureza financeira, para
i >s efeitos desta Lei Complementar, aqueles em que o rendimento situa-se
abaixo da taxa mínima atuarial do respectivo plano de benefícios.
A rt. 77. As entidades abertas sem fins lucrativos e as sociedades segurado-
i as autorizadas a funcionar em conformidade com a Lei n° 6.435, de 15 de
julho de 1977, terão o prazo de dois anos para se adaptar ao disposto nesta
I ,ci Complementar.
L No caso das entidades abertas sem fins lucrativos já autorizadas a
imeionar, é permitida a manutenção de sua organização jurídica como

332
sociedade civil, sendo lhes vedado participar, direta ou indiretamente, dc
pessoas jurídicas, exceto quando tiverem participação acionária:
I - minoritária, em sociedades anônimas de capital aberto, na forma regu­
lamentada pelo Conselho M onetário Nacional, para aplicação de recursos
de reservas técnicas, fundos e provisões;
II - em sociedade seguradora elou de capitalização.
§ 2o E vedado à sociedade seguradora elou de capitalização referida no
inciso II do parágrafo anterior participar majoritariamente de pessoas jurí­
dicas, ressalvadas as empresas de suporte ao seu funcionamento e as socie­
dades anônimas de capital aberto, nas condições previstas no inciso I do
parágrafo anterior.
§ 3” A entidade aberta sem fins lucrativos e a sociedade seguradora elou de
capitalização por ela controlada devem adaptar-se às condições estabelecidas
nos §§ I o e 2o, no mesmo prazo previsto no caput deste artigo.
§ 4o As reservas técnicas de planos já operados por entidades abertas de
previdência privada sem fins lucrativos, anteriormente à data de publica­
ção da Lei n° 6.435, de 15 de julho dc 1977, poderão permanecer garanti­
das por ativos de propriedade da entidade, existentes à época, dentro de
programa gradual de ajuste às normas estabelecidas pelo órgão regulador
sobre a matéria, a ser submetido pela entidade ao órgão fiscalizador no
prazo máximo de doze meses a contar da data de publicação desta Lei
Complementar.
§ 5o O prazo máximo para o término para o programa gradual de ajuste a
que se refere o parágrafo anterior não poderá superar cento e vinte meses,
contados da data de aprovação do respectivo program a pelo órgão
fiscalizador.
§ 6o As entidades abertas sem fins lucrativos que, na data de publicação
desta Lei Complementar, já vinham mantendo programas de assistência
filantrópica, prévia e expressamente autorizados, poderão, para efeito de
cobrança, adicionar às contribuições de seus planos de benefícios valor des­
tinado àqueles programas, observadas as normas estabelecidas pelo órgão
regulador.
§ 7" A aplicabilidade do disposto no parágrafo anterior lica sujeita, sob
pena de cancelamento da autorização previamente concedida, à prestação
anual de contas dos programas filantrópicos e à aprovação pelo órgão com­
petente.
§ 8o O descumprimento de qualquer das obrigações contidas neste artigo
sujeita os administradores das entidades abertas sem fins lucrativos e das
sociedades seguradora elou de capitalização por elas controladas ao Regi­
me Disciplinar previsto nesta Lei Complementar, sem prejuízo da respon­
sabilidade civil por danos ou prejuízos causados, por ação ou omissão, à
entidade.
Art. 78. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 79. Revogam-se as Leis n° 6.435, de 15 de julho de 1977, e n" 6.462,
de 9 de novembro de 1977.

Brasília, 29 dc maio de 2001; 180° da Independência e 113° da República.


FERNANDO HEN RIQ U E CARDOSO

334
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Regime Jurídico do
Servidor Público Civil da
União Comentado
Marcos Antônio Fernandes
Auxilio-Reclusão
Miriarn V.Fiaiix Horvath
Legislação Previdenciária
Legislação Quartier
O Financiamento da Seguridade Social na
União Européia e no Brasil
Pierre More.au
Manual de Aposentadoria Especial
Arthur Bragança de Vasconcellos Weintrauh
[Fàbíaíapéí:yikla:Bèiri>el'
Lei Previdenciária Comentada
Miguel Horvath Júnior
ISS - do texto à norma
Doutrina e Jurisprudência
Marcelo Caron Baptista,
Lógica: Pensamento Formal e
Argumentação - 4a edição
Alaôr Caffé'Alves
Direito da Saúde
Ana Paula Oriola de Raeffray
Previdência Privada A berta
Léo do Amaral Filho
Salário-Maternidade
Miguel I loniath Júnior
t
Arthur Bragança de Vasconcellos Weintrauh

_ _ ■ I J/rs. m • I

P r e v id e n c ia P r iv a d a
Francesco Guardi D o u tr in a e J u r is p r u d ê n c ia
Campo Santi Giovanni e Paolo
. 1762-63

“O que diferencia um plano de Previdência Complementar Privada de


um mero plano de seguro privado? Esta é uma pergunta freqüente entre
leigos e até mesmo entre conhecedores do Direito. Por ser uma área pouco
estudada (há poucos anos estava completamente fora do conteúdo
programático das faculdades de direito), a Previdência Privada, apesar de
seu crescimento fremente no Brasil e no mundo, continua uma matéria um
I tanto incógnita. Em outros países, como EUA e Chile, a difusão da cultura
i previdenciária é abrangente.
O escopo deste livro é didático e ao mesmo tempo pragmático. O
trabalho científico permite que haja uma linha pedagógica visando difundir
o conhecimento, quanto mais numa área pouco estudada, como a do Direito
Previdenciário Privado. Mas pontos de discussão jurisprudencial e elemen­
tos do cotidiano dos profissionais do Direito permeiam a obra. Dúvidas
triviais de estudantes, advogados, juizes e promotores são facilmente
respondidas compulsando-a”.
A rth u r B ragan ça d e V asconcellos W e in tra u h
Bacharel, Mestre e Doutor em Direito Previdenciário pela
Faculdade de Direito da USP
Pesquisador Convidado pela
Faculdade de Direito de Harvard
Professor e Advogada

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