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Metodologia Científica

Prof. Dr. João Candido Fernandes


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Universidade Estadual Paulista

Faculdade de Engenharia

UNESP - Câmpus de Bauru

1ª Edição: jan.de 1997. Revisões: fev./1998, fev./2000, ago./2005, ago./2010, abr./2014, ago./2016, ago/2018.

Apostila desenvolvida para a disciplina


“Metodologia do Ensino e da Pesquisa Científica”
dos Programas de Pós-graduação da Unesp
Campus de Bauru.

João Candido Fernandes


Engenheiro Mecânico Especialista em Eng. Segurança do Trabalho
Prof. Mestre e Doutor em Vibrações e Acústica
Prof. Livre-docente em Ruído em Máquinas
Prof. Titular do Departamento de Engenharia Mecânica da
Faculdade de Engenharia de Bauru (Unesp)

Unesp - Câmpus de Bauru - Faculdade de Engenharia


Departamento de Engenharia Mecânica
Av. Luiz E. Coube S/Nº - Bauru - CEP 17.033-360 – Fone: (14) 3103.6119 – SP
Site: wwwp.feb.unesp.br/jcandido - E-mail: jcandido@feb.unesp.br

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Figura da capa: Placa de alumínio folheada a ouro de 15 x 23 cm colocada a bordo das naves Pioneer 10
e 11 (lançada em 1974), os primeiros veículos da humanidade a se aventurarem no espaço interestelar.
Ela transmite, numa linguagem científica compreensível, algumas informações sobre o local de origem da
nave (o 3º planeta de um sistema de 9), a trajetória (foi lançada para o exterior do sistema, usando a
gravidade dos dois maiores planetas como motor), a época evolutiva da terra em relação ao big-bang, a
forma dos construtores da nave (homem e mulher), as dimensões dos construtores em relação ao tamanho
da antena da nave, etc.. É comparável a uma garrafa lançada no oceano cósmico.
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“Tempo virá em que uma pesquisa diligente e contínua


esclarecerá aspectos que agora permanecem escondidos.
O espaço de tempo de uma vida, mesmo se
integralmente devotada ao estudo do céu, não seria
suficiente para investigar um objetivo tão vasto ... este
conhecimento será conseguido somente através de
gerações sucessivas. Tempo virá em que nossos
descendentes ficarão admirados de que não
soubéssemos particularidades tão óbvias a eles ...
Muitas descobertas estão reservadas para os que virão,
quando a lembrança de nós estará apagada. O nosso
universo será um assunto sem importância, a menos
que haja alguma coisa nele a ser investigada a cada
geração ... A natureza não revela seus mistérios de uma
só vez.”
Sênega, Problemas Naturais, Livro 7, século I

Desde a concepção do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia e


Tecnologia da UNESP, Câmpus de Bauru, insistimos na necessidade de se introduzir em seus
programas um curso voltado à Metodologia da Pesquisa Científica. E fomos além: propusemos à
comissão encarregada de montar a proposta do curso, não apenas o projeto de mais uma
disciplina para o rol das disciplinas do curso, mas um programa obrigatório para todas as linhas
de pesquisa e a primeira a ser cursada pelo aluno.
A partir de 1997, com o início das atividades da Pós-Graduação na FET, começamos
também a ministrar as aulas da disciplina, nos moldes que havíamos idealizado.
A primeira dificuldade com que nos deparamos foi a bibliografia: não pela
disponibilidade de textos na área, pois o mercado editorial brasileiro é satisfatório, mas um
material que não fosse excessivamente filosófico (o que certamente causaria dificuldades ao
Engenheiro), nem os que estudam a metodologia científica pelo prisma meramente estatístico.
Por outro lado sabíamos da necessidade (ou obrigatoriedade) de incutir no pesquisador o hábito
da leitura de vários textos, buscando uma análise e posicionamento crítico.
Assim, utilizando a experiência adquirida em Cursos de Especialização e em orientações
onde sempre pautamos pela utilização dos princípios da metodologia científica, optamos por
redigir este texto como um material base de acompanhamento das aulas.
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Idealizamos um curso para ser ministrado de forma programada, onde cada capítulo desta
apostila corresponde a um módulo de aulas. É importante lembrar que o material contido aqui
não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas dar ao Engenheiro pesquisador, de uma forma
prática e objetiva, um guia para reflexão da investigação científica.
Lembramos que não existem regras fixas para “bem pesquisar”. Este guia, aliado ao bom
senso e criatividade, certamente poderá levar o pesquisador iniciante aos caminhos seguros e
precisos da pesquisa científica.

Prof. Dr. João Candido Fernandes (Eng.º)


Faculdade de Engenharia
Departamento de Engenharia Mecânica
UNESP - Câmpus de Bauru
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SUMÁRIO

CAP. 1. - A CIÊNCIA

1. - Introdução, 7
2. - Os quatro tipos de conhecimento, 8
3. - Conceito de ciência, 10
4. - Classificação da ciência, 10
5. - O Espírito Científico, 12
6. - Leituras Recomendadas, 12
7. - Referências bibliográficas, 13

CAP. 2. - O MÉTODO CIENTÍFICO

1. - Introdução, 14
2. - Desenvolvimento histórico do método, 14
3. - Conceito atual de método, 17
4. - Formas de raciocínio: Indução e Dedução, 18
5. - O método hipotético-dedutivo, 19
6. - Leituras Recomendadas, 21
7. - Referências bibliográficas, 21

CAP. 3. - NOÇÕES GERAIS SOBRE PESQUISA

1. - Conceito de pesquisa, 23
2. - Trabalho científico original, 24
3. - Tipos de pesquisa, 24
3.1. - Pesquisa bibliográfica, 24
3.2. - Pesquisa descritiva, 25
3.3. - Pesquisa experimental, 25
4. - Projeto de pesquisa, 25
5. - Leitura recomendada, 28
6. - Referências bibliográficas, 28

CAP. 4. - PROCEDIMENTOS PARA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

1. - Introdução, 29
2. - Escolha do assunto, 30
2.1. - Delimitação do assunto, 30
2.2. - Formulação de problemas, 30
6
2.3. - Revisão bibliográfica sobre o problema a ser resolvido, 31
2.4. - Descrição do objetivo da pesquisa , 31
3. - Hipóteses, 31
4. - Variáveis, 33
4.1. - Variáveis independentes e dependentes, 34
4.2. - Covariável, 35
5. - Definição da população da pesquisa (amostra ou corpus), 35
6. - Leituras recomendadas, 36
7. - Referências bibliográficas, 37

CAP. 5. - ANÁLISE DE DADOS NA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

1. - Introdução, 38
2. - Formas de coleta de dados em pesquisa experimental, 39
3. – Níveis de Mensuração, 39
4. - Leituras Recomendadas, 42
5. - Referências bibliográficas, 43

CAP. 6. - A DIVULGAÇÃO DA PESQUISA

1. - Introdução, 44
2. - Estrutura de uma monografia, 45
3. - Artigos para publicação em periódicos, 45
4. - Leituras recomendadas, 46
5. - Referências bibliográficas, 46

CAP. 7. - APRESENTAÇÃO DA PESQUISA EM CONGRESSOS

1. - Introdução, 48
2. - A participação em eventos científicos, 48
3. - A apresentação do trabalho, 49
4. - Os anais do evento, 50
7

A Ciência
“Nossos ancestrais ansiavam compreender o
mundo, mas não conseguiam encontrar um método.
Imaginaram um universo pequeno, fantástico,
arrumado, nos quais as forças dominantes eram deuses
como Anu, Ea e Shamash. ( ... ) Hoje em dia
descobrimos um modo mais abrangente e distinto para
entender o universo, um método chamado Ciência; ...”
Carl Sagan, Cosmos (1989)

1. - Introdução
Podemos definir a ciência como o conjunto organizado dos conhecimentos disponíveis
pela humanidade, ou de uma maneira mais particular, o conjunto de conhecimentos relativos a
um determinado objeto ou fenômeno. Portanto, existe uma estreita relação entre ciência e
conhecimento.
A ciência representa um grande patrimônio da humanidade obtido ao longo da evolução
numa trabalhosa conquista através do constante aperfeiçoamento do pensamento. Desde o início
dos tempos o homem procura interpretar os fenômenos que o rodeiam, busca conhecer o meio
em que se insere e tenta explicar os acontecimentos de seu dia a dia.
Mas o que é conhecer? É uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o
objeto ou fenômeno alvo da pesquisa. Os povos da antigüidade faziam “o conhecer” mediante a
catalogação de observações feitas, sem uma tentativa de inter-relacionamento dos fatos e sem
tentar predizer efeitos invocando as causas que o motivaram. Foram os gregos que deram o
próximo passo: foram além da catalogação dos fatos para chegar ao pensamento científico, ou
seja, o exercício de atividade intelectual no sentido de procurar conhecer as causas motivadoras
dos efeitos anotados. Esta história caracteriza bem a passagem do simples registro de fatos para
a determinação do porquê dos dados:
No século III a.C., a grande metrópole do Oriente Próximo
era a cidade egípcia de Alexandria. A maior riqueza da cidade era
a sua biblioteca, que deveria conter meio milhão de volumes de
pergaminho e papiro escritos a mão. Vivia nesta cidade um
8
homem chamado Heratótenes que, durante alguns anos foi
diretor da grande biblioteca.
Um dia, Heratóstenes, lendo um dos papiros depositados
na biblioteca, deparou-se com o seguinte registro: “na fronteira
avançada do sul de Siena, próximo à catarata do Nilo, ao meio-dia
de 21 de junho, as varetas retas e verticais não produziam
sombra.” Era um registro, como milhares que deveriam existir na
biblioteca, que qualquer outra pessoa facilmente ignoraria. Que
importância poderia ter a sombra de uma vareta nos
acontecimentos do dia-a-dia.
Mas Heratótenes era um cientista; repetiu a experiência
em Alexandria e constatou que ao meio-dia de 21 de abril existia
sombra. Perguntou a si mesmo: como uma vareta em Siena não
tinha sombra, e em Alexandria, mais ao norte, tinha uma sombra
pronunciada? E raciocinou: se admitirmos que as duas varetas
não produzam sombra para um mesmo instante, seria
perfeitamente compreensível, admitindo-se a Terra como plana. O
sol estaria na vertical. Se as duas varetas produzissem sombras
iguais, isto também faria sentido em uma terra plana: os raios do
sol estariam inclinados no mesmo ângulo. Mas o que fazia com
que, num mesmo momento, não houvesse sombra em Siena e sim
em Alexandria?
A única resposta possível, ele concluiu, era que a superfície
da Terra era curva. Calculou também que, pela diferença nos
comprimentos das sombras, o ângulo entre Alexandria e Siena
deveria ser de sete graus em relação ao centro da Terra.
Heratóstenes alugou um homem para medir a distância entre
Alexandria e Siena (em passos), resultando em 800 quilômetros, e
concluiu que a circunferência da terra era de 40.000 km.
Os únicos instrumentos de Heratóstenes eram varetas,
olhos, pés e cérebro, além de uma inclinação para experiências.
Com eles deduziu a circunferência da Terra com erro de poucos
por cento, um feito notável há 2.200 anos. Foi a primeira pessoa a
medir com precisão o tamanho do planeta.
Sagan, 1989.

2. - Os quatro tipos de conhecimento


Segundo Trujillo (1974), o conhecimento humano pode ser classificado em :

POPULAR CIENTIFICO FILOSÓFICO RELIGIOSO (TEOLÓGICO)


valorativo real (factual) valorativo Valorativo
reflexivo contingente racional Inspiracional
assistemático sistemático sistemático Sistemático
verificável verificável não verificável não verificável
falível falível infalível infalível
inexato aprox. exato exato exato
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O conhecimento popular, ou vulgar, é um conhecimento empírico, transmitido de uma
geração a outra de modo informal, baseado na experiência pessoal e na imitação de outros. É,
portanto, fruto de tentativas e erros e de processos casuais que se mostraram eficientes.
O conhecimento científico se baseia em conhecimentos contingentes, é obtido de maneira
racional, conduzido por processos que investigam a natureza dos fatos e seu inter-
relacionamento e que é transmitido seguindo uma certa sistemática por meio de treinamento
especializado.
Ao se falar em conhecimento científico cumpre diferenciá-lo de outros tipos de
conhecimentos existentes. LAKATOS e MARCONI (1995) apresentam um exemplo com base
em uma situação histórica.
"Desde a Antigüidade, até aos nossos dias, um
camponês, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros
conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época
da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as
providências a serem tomadas para a defesa das plantações de
ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as
diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo
do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. Já
no período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas
cultivadas e uma terceira em repouso, alternando-as de ano
para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos,
numa única faixa. O início da Revolução Agrícola não se
prende ao aparecimento, no Séc. XVIII, de melhores arados,
enxadas e outros tipos de maquinaria, mas à introdução, na
segunda metade do Séc. XVII, da cultura do nabo e do trevo,
pois seu plantio evitava o desperdício de se deixar a terra em
pousio: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo utilização
constante. Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes
selecionadas, de adubos químicos, de defensivos contra as
pragas e tenta-se, até, o controle biológico dos insetos
daninhos".

Segundo Ander-Egg (1978), o conhecimento popular caracteriza-se por:


► Superficial : conforma-se com a aparência, pois expressa-se por frases como “porque
o vi”, “porque o disseram”, “porque todo mundo diz”;
► Sensitivo : se refere a vivência, estados de ânimo e emoções da vida diária;
► Subjetivo : é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos, tanto
os que adquire por vivência própria quanto os “por ouvir dizer”;
► Assistemático : a organização das experiências não visa uma sistematização das
idéias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las;
► Acrítico : verdadeiros ou não, a pretensão de que estes conhecimentos o sejam não se
manifesta sempre de uma forma crítica.

O conhecimento científico não é habitual para o comum dos homens e é adquirido, em


geral, com o estudo e a aplicação de um método.
Suas características são:
● real ou factual: porque se refere a ocorrências ou fatos, e a toda forma manifesta de
existência;
● contingente: suas proposições ou hipóteses são postas à prova pela experiência e não
por interpretações subjetivas ou por inspiração ou apenas pela razão (razão + experiência);
10
● sistemático: é um conhecimento logicamente ordenado formando teorias (ou
sistemas de idéias) e não um corpo disperso e desconexo;
● verificável: em princípio, hipóteses que não podem ser verificadas não são hipóteses
científicas;
● falível: está sempre em permanente evolução, não havendo conhecimento científico
absoluto ou definitivo;
● aproximadamente exato: pelas razões anteriores. O conhecimento é provisoriamente
aceito até que novos fatos e ou técnicas venham a ampliá-lo ou modificá-lo ou substituí-lo (Ex.:
na época: átomo = menor partícula indivisível).

3. - Conceito de Ciência
Eis algumas definições de Ciência, por vários autores:
◘ acumulação de conhecimentos sistemáticos;
◘ caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, verificável e, portanto,
falível;
◘ conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem,
obtido através da investigação, pelo raciocínio e pela experimentação;
◘ conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros
enunciados;
◘ forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo;
◘ conceito de ANDER-EGG: é um conjunto de conhecimentos racionais, certos
ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que se referem a objetos da
natureza;
◘ conceito de TRUJILLO: sistematização de conhecimentos, conjunto de
proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos de
interesse. A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao
sistemático conhecimento, com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação.

4. - Classificação da Ciência
Vários autores já propuseram classificações para a Ciência. Augusto Comte dividiu em
matemáticas, físico-químicas, biológicas, morais e metafísicas. Outros autores como Carnap,
Bunge, Wundt optaram por classificar a Ciência em dois grupos: formal e factual.
z Ciências formais: aquelas cuja verdade se apoia em sua estrutura lógica.
Contém apenas enunciados analíticos, apoiados no significado de seus termos. Estudo das idéias.
z Ciências factuais: aquelas cuja verdade se apoia em sua estrutura lógica e,
também, no significado dos fatos inerentes ao problema. Contém enunciados analíticos e
sintéticos, apoiados no significado de seus termos e nos fatos a que se referem. Estudo dos fatos.

LAKATOS E MARCONI (1995) sugerem a classificação do diagrama a seguir:


As ciências formais estudam as idéias. Abordam entidades não encontradas na
realidade e, portanto, não podem se valer da experimentação ou do contato com a realidade para
a convalidação de suas propostas.
As ciências factuais estudam os fatos que supostamente ocorrem na realidade e
podem, por isso, recorrer à observação e à experimentação para o teste de suas hipóteses. Nas
ciências factuais faz-se uso da estrutura lógica, da manipulação de idéias, que são
complementados pela observação natural ou controlada dos fatos que ocorrem objetivamente na
realidade.
11

LÓGICA
FORMAIS
MATEMÁTICA

CIÊNCIAS
Física
NATURAIS Química
Biologia

FACTUAIS
Antropologia
Direito
Economia
Política
SOCIAIS Sociologia
Psicologia

Considerações:

ITEM FORMAL FACTUAL


Enunciados baseados em Objetos empíricos fenômenos
Objeto ou tema
entidades abstratas naturais, coisas e processos
Relações entre símbolos Relações entre entes, fenômenos,
Enunciados
fatos
Uso da lógica dedutiva para Necessita da observação e/ou da
Método de demonstrar seus teoremas experimentação. Manipulação
comprovar Dedução: coerência do enunciado deliberada dos fenômenos e objetos
enunciados com um sistema previamente para verificar os fatos. Usa a
aceito. Não usa Indução. Indução
Grau de suficiência Suficiente quanto ao conteúdo e Seu conteúdo depende de fatos.
em relação ao aos métodos de prova. Utiliza experimentação (ou
conteúdo e ao observação) para assegurar a
método de prova validade de suas hipóteses
Coerência do enunciado com um A coerência com um sistema
sistema prévio de idéias. A previamente aceito é necessária mas
verdade não é absoluta, mas não suficiente. A estrutura lógica
Grau de coerência
sim relativa ao sistema não é sufi ciente para garantir a
para alcançar a
previamente admiti do. Ex.: verdade. A experiência garante a
verdade
geometria euclidiana e não verdade sem excluir a possibilidade
euclidianas de que esta possa ser melhorada com
a evolução do conhecimento
Verificação de hipóteses
comprovando ou refutando-as. As
Resultado Demonstração ou prova, hipóteses, comprovadas são
alcançado completa e definitiva provisórias. A verificação é
incompleta e, portanto, não
definitiva.
12

5. - O Espírito Científico
O espírito científico nada mais é do que uma atitude do pesquisador em busca de
soluções, com métodos adequados, para o problema que enfrenta.
O espírito científico exige:
„ Consciência crítica: saber distinguir o essencial do acidental, o importante do
secundário;
„ Consciência objetiva: é o rompimento com todas as posições subjetivas,
pessoais e mal fundamentadas do conhecimento vulgar;
„ Objetividade: o trabalho científico é impessoal. Não aceita meias-soluções ou
soluções apenas pessoais.
„ Racionalidade: a razão deve ser “o único juiz” nas decisões da pesquisa. As
“razões” da arbitrariedade, do sentimento e do coração nada explicam nem justificam no campo
da ciência.

Estas condições exigem que o pesquisador seja dotado de inteligência, memória e


vontade. Impõe um domínio mínimo da lógica, para realizar corretamente as operações mentais e
uma formação escolar que assegure o conhecimento da matéria, objeto da investigação
pretendida. Portanto, são necessárias tanto qualidades inatas como adquiridas.
O conjunto inteligência, sensibilidade e vontade (qualidades inatas) constitui a essência
da personalidade do pesquisador. A aquisição, conservação, elaboração e inter-relacionamento
das informações, auxiliadas pela memória e pela imaginação compõe o que, genericamente, se
designa por inteligência.

6. - Leituras Recomendadas
Capítulo 1 de LAKATOS e MARCONI, 1995.
Capítulo 1 de CERVO e BERVIAN, 1993.
Capítulo 1 de JOHNSON e SOLSO, 1975.
Capítulo 1 de SEVERINO, 1996.
Capítulo 1 de CASTRO, 1977.
Capítulo 1 de FAZENDA, 1991.
Capítulo 4 e 6 de RUIZ, 1986.
Capítulo 1 de WEATHERALL, 1970.
Introdução e Capítulo 1 de SAGAN, 1989.
Introdução de SAGAN, 1987.
Capítulo 1 de HAWKING, 1988.
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7. - Referências Bibliográficas
ANDER-EGG, E. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores
sociales. 7ª edição. Buenos Aires: Humanitas, 1978.

ASTI-VERA, A. Metodologia da Pesquisa Científica. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.

CASTRO, M. C. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977

CERVO, A. L. e BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 3ª Edição. São Paulo: McGraw-


Hill do Brasil, 1993.

FAZENDA, I. (org.) Como fazer uma monografia. 2ª Edição. São Paulo: Editora Cortez, 1991.

HAWKING, S. W. Uma breve história do tempo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1988.

HEGENBERG, L. Etapas da Investigação Científica. São Paulo: EDUSP, 1976.

JOHNSON H. H. e SOLSO, R. L. Uma introdução ao planejamento experimental em


psicologia: Estudos de casos. São Paulo: EPU, 1975.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. São Paulo: Atlas,


1995.

POURCHET-CAMPOS, M. A. Metodologia da Investigação Científica. São Paulo:


mimeografado, 1980.

RUIZ, J. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1986.

SAGAN, C. Cosmos. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1989.

SAGAN, C. Os dragões do éden. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1987.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 20ª Edição. São Paulo: Editora Cortez,
1996.

TRUJILLO, F.A. Metodologia da Ciência. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Kennedy, 1974.

WEATHERALL, M. Método Científico. São Paulo: EDUSP-Polígono, 1970.


14

O Método Científico
“Uma publicação científica pode ser comparada a um
pequeno tijolo que depositamos na imensa parede da
Ciência. É a nossa pequena contribuição ao
conhecimento da humanidade. Mas para que este tijolo
se encaixe nos demais, seja assimilado por todos e passe
a fazer parte da parede, ele precisa ter uma forma
apropriada. A Metodologia Científica se encarrega de
dar à pesquisa todos os requisitos necessários para que
ela seja reconhecida como científica.”
Prof. Dr. Paulo C. Razuk
Depto Engenharia Mecânica

1. - Introdução
Muitos autores identificam a Ciência com o método, pois todas as ciências se utilizam da
metodologia científica. Portanto não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
Pode-se definir Método Científico como o modo sistemático de explicar um grande
número de ocorrências semelhantes.

2. - Desenvolvimento Histórico do Método


Paralelamente ao desenvolvimento do conhecimento, esta sistematização das atividades,
entendida como método, também passou a evoluir e se transformar. Galileu (1564-1642) foi um
precursor teórico do método experimental, quando contradizendo os ensinamentos de
Aristóteles, preconizou que o conhecimento íntimo das coisas deveria ser substituído pelo
conhecimento de leis gerais que condicionam as ocorrências.
O método proposto por Galileu Galilei pode ser rotulado de indução experimental pois é
a partir da observação de casos particulares que se propõe a chegar a uma lei geral. As etapas
propostas foram: observar os fenômenos, analisar seus elementos constitutivos visando
estabelecer relações quantitativas entre os mesmos, induzir hipóteses com base na análise
15
preliminar, verificar as hipóteses utilizando um procedimento experimental, generalizar o
resultado alcançado para situações similares, confirmar estas generalizações para se chegar a
uma lei geral.

Observação dos Fenômenos

Análise das partes, estabelecendo relações quantitativas

Indução de Hipóteses

Verificação das Hipóteses


(experimentação)

Generalização dos Resultados

Confirmação das Hipóteses

Estabelecimento de Leis Gerais

Portanto, Galileu sugeriu partir do particular para o geral (Indução) mas, com base na
experimentação (Indução Experimental).

Francis Bacon (1561-1626), contemporâneo de Galileu, destaca serem essenciais a


observação e a experimentação dos fenômenos reiterando que a verdade de uma afirmação só
poderá ser proporcionada pela experimentação.
Bacon propõe que sejam seguidos os passos:
Î realização de experimentos sobre o problema para que se possa observar e
registrar, de forma sistemática, as informações coletadas;
Î após a análise dos resultados experimentais devem ser formuladas as hipóteses
que sugiram explicações sobre as relações causais entre os fatos;
Î repetição dos experimentos em outros locais e ou por outros cientistas, com a
finalidade de acumular novos dados que servirão para a formulação de hipóteses (outras ou as
mesmas já formuladas);
Î teste das hipóteses com nova repetição experimental. O grau de confirmação
das hipóteses depende da quantidade de evidências favoráveis;
16
Î formulação de leis gerais para o fenômeno estudado fundamentadas nas
evidências experimentais obtidas com posterior generalização destas leis para os fenômenos
similares ao que foi estudado.
Nesta seqüência experimental é possível aumentar a intensidade daquilo que se
presume ser a causa do fenômeno para verificar se a resposta se dá de maneira correspondente. É
possível variar a experiência aplicando a mesma causa a diferentes objetos ou aplicando um fator
contrário à suposta causa com a finalidade de verificar se o efeito contrário acontece.

Experimentação

Formulação de Hipóteses

Repetição

Testagem das Hipóteses

Formulação de Generalizações e Leis

Portanto, na base do método proposto por Bacon referido como "método das
coincidências constantes", está a constatação de que um fenômeno depende, para sua ocorrência,
de uma causa necessária e suficiente, em cuja ausência o fenômeno não ocorrerá.

Descartes (1596-1650) propõe um processo que se afasta em essência dos anteriores. Em


vez de usar inferência indutiva, utiliza a inferência dedutiva (do geral para o particular). A
certeza somente poderá ser alcançada pela razão. As quatro regras clássicas de seu método são:
Ö não aceitar jamais como verdadeiro uma coisa que não se reconheça
evidentemente como verdadeira, abolindo a precipitação, o preconceito e os juízos subjetivos
(EVIDÊNCIA);
Ö dividir as dificuldades em tantas partes quantas for possível e necessário para
resolvê-las (ANÁLISE);
Ö conduzir ordenadamente o pensamento, começando pelos objetos mais simples
e mais fáceis de conhecer até culminar com os objetos mais complexos, em uma seqüência
natural de complexidade crescente (SÍNTESE);
Ö realizar sempre discriminações e enumerações as mais completas e revisões as
mais gerais, de forma a se ter certeza de nada haver sido omitido (ENUMERAÇÃO).

No caso das ciências factuais a análise e a síntese podem ser realizadas sobre os fatos e
sobre os seres ou coisas materiais ou espirituais. A análise pode ser entendida como o
procedimento que permite decompor o todo em suas partes constituintes, indo do mais para o
menos complicado. Já com a síntese é feita a reconstituição do todo, após a análise preliminar
17
(do simples para o complexo). Em ambos deve haver um procedimento gradual sem a omissão
de etapas intermediárias. Nas ciências naturais a análise sempre precede a síntese.

3. - Conceito Atual de Método


Eis como vários autores definiram o Método Científico:

“Método é o caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse
caminho não tenha sido fixado de antemão de modo refletido e deliberado.” (HEGENBERG,
1976).
“Método é uma forma de selecionar técnicas, uma forma de avaliar alternativas
para ação científica. Métodos são regras de escolha; técnicas são as próprias escolhas.”
(ACKOFF, 1976).

“Método é a forma de proceder ao longo de um caminho. Na ciência os métodos


constituem os instrumentos básicos que ordenam o pensamento em sistemas, traçam de modo
ordenado a maneira de proceder do cientista ao longo de um percurso para alcançar um
objetivo.” (TRUJILLO, 1974).

“Método é a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para
atingir um determinado fim. É o caminho a seguir para chegar à verdade nas ciências.”
(JOLIVET, 1979).

“Método, em sentido geral, é a ordem que se deve impor aos diferentes processos
necessários para atingir um dado fim ou um resultado desejado. Nas ciências, entende-se por
método o conjunto de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e
demonstração da verdade.” (CERVO e BERVIAN, 1978).

“Método é o conjunto coerente de procedimentos racionais ou prático - racionais


que orienta o pensamento para o alcance de conhecimentos válidos.” (NÉRICI, 1978).

“Método é um procedimento regular, explícito e passível de ser repetido para


conseguir algo material ou conceitual. Método científico é um conjunto de procedimentos por
meio dos quais são propostos os problemas científicos e, a seguir, são colocadas à prova as
hipóteses científicas.” (BUNGE, 1974).

Na verdade, não existe divergência entre os diversos conceitos apresentados. Do ponto de


vista científico o método engloba a execução de operações ordenadas, de natureza mental e
material, cuja finalidade é a obtenção da verdade ou do conhecimento de um fenômeno ou de um
objeto. Para se chegar a este fim é necessário propor e testar hipóteses. O conjunto dessas
atividades ordenadas constitui o método científico que, com maior segurança e economia
permite alcançar o conhecimento científico.
O método científico é o arcabouço teórico da investigação que, para ter forma científica
deve enfocar um determinado problema explicitando-o de forma precisa e objetiva (tema da
pesquisa), utilizar todos os conhecimentos válidos sobre o assunto (revisão da literatura) e todo o
instrumental disponível para a resolução do problema (material e técnicas), propor hipóteses que
sejam testáveis e que sejam relevantes, conduzir um experimento que permita refutar ou não a
hipótese proposta mediante a coleta minuciosa de dados e análise adequada, interrelacionar e
18
discutir os resultados obtidos em face do que a literatura apresenta e finalmente, apresentar ao
público o trabalho desenvolvido.

4. - Formas de raciocínio : Indução e Dedução


O raciocínio é algo ordenado, coerente e lógico, podendo ser dedutivo ou indutivo.
Portanto a indução e a dedução são, antes de mais nada, formas de raciocínio ou de
argumentação.
No raciocínio ou inferência indutivo o antecedente corresponde a dados e fatos
particulares e o conseqüente é uma afirmação mais geral. No raciocínio dedutivo o antecedente é
constituído por princípios universais a partir dos quais se chega a um conseqüente menos geral.
A dedução permanece em plano inteligível, em conformidade com os preceitos da lógica.
A indução utiliza a experiência e não tem a simplicidade lógica da operação dedutiva. A indução
também faz uso da analogia: de alguns fatos passa-se a outros similares ou, de fatos
característicos e representativos generaliza-se para o conjunto total de fatos da mesma espécie.
Assim, a indução implica em generalização, partindo de fatos particulares conhecidos e
chegando a conclusões gerais, até então, não conhecidas.
A indução é um processo mental por meio do qual, partindo-se de fatos particulares,
suficientemente aceitos e constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nos
fatos examinados. Portanto, o objetivo da inferência indutiva é levar a conclusões cujo conteúdo
é muito mais amplo do que as premissas nas quais foram baseadas.
Ambas as inferências, dedutiva e indutiva, fundamentam-se em premissas. No entanto,
no argumento dedutivo premissas verdadeiras levam invariavelmente a conclusões verdadeiras,
enquanto que no argumento indutivo conduzem a conclusões prováveis ou seja, as premissas
(antecedentes) de um argumento indutivo correto atribuem uma certa verossimilhança à sua
conclusão (conseqüente). Portanto, quando as premissas são verdadeiras, pela indução, o
máximo que se pode dizer é que a conclusão é, provavelmente, verdadeira.
A princípio, parece razoável raciocinar partindo de casos particulares para se chegar a
leis gerais universais. Não obstante, este processo de argumentar não é plenamente justificável
do ponto de vista estritamente lógico.
O processo inverso, o de argumentar do geral para o particular (dedução), é perfeitamente
aceitável pela lógica. Uma discussão mais detalhada pode ser encontrada em HEGENBERG
(1976) e KAPLAN (1975).
Um exemplo serve para ilustrar os 2 tipos de inferência.

INDUTIVA DEDUTIVA

João (homem) é mortal ANTECEDENTE Todos os homens são


José (homem) é mortal OU mortais
Pedro (homem) é mortal
------------- PREMISSA

Logo todo homem é CONSEQÜENTE Os homens desta ci-


mortal OU dade são mortais
CONCLUSÃO
19
Na indução se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provável mas não
necessariamente verdadeira. A conclusão engloba informação não contida nas premissas.
Na dedução se todas as premissas são verdadeiras a conclusão será verdadeira. Toda a
informação da conclusão já estava implícita ou, mesmo, explicitamente contida nas premissas.
A indução se processa em 3 etapas fundamentais: observação de fatos ou fenômenos
para, por meio da análise, descobrir as causas de sua manifestação; descoberta da relação entre
eles por meio de comparações; generalização da relação: a relação encontrada na etapa
precedente é generalizada para situações supostamente similares, não observadas.
Para tentar evitar a falácia do raciocínio indutivo alguns cuidados podem ser
considerados. É necessário certificar-se de que é verdadeiramente essencial a relação que se
pretende generalizar (distinção entre essencial e acidental). Os fenômenos, sobre os quais se
pretende generalizar uma relação, devem ser idênticos. Deve-se dar destaque ao aspecto
quantitativo dos fenômenos (sempre que possível) o que proporcionará um tratamento objetivo
com o uso da matemática e da estatística.
O indutivismo é baseado em leis determinísticas: "nas mesmas circunstâncias, as mesmas
causas produzem os mesmos efeitos" e "o que é verdade para muitas partes numeradas de um
todo é verdade para o todo". O determinismo exposto nestas duas leis funciona, por exemplo, na
física e na química. Resta perguntar se, também, funciona sempre nas ciências biológicas.
Os argumentos dedutivos somente serão incorretos no caso de partir de premissa falsa.
Não há gradações intermediárias: o raciocínio dedutivo é correto ou incorreto. Por outro lado, os
argumentos indutivos admitem graus de coerência, dependentes do grau de capacidade das
premissas sustentarem a conclusão. Assim, os argumentos indutivos aumentam o conteúdo das
premissas, com sacrifício da precisão, enquanto os argumentos dedutivos sacrificam a ampliação
do conteúdo para que seja alcançada a certeza.
Quando um pesquisador experimenta um tratamento em um conjunto de indivíduos e
conclui que este tratamento é benéfico, estará procedendo de maneira indutiva. Ou seja, a relação
entre a evidência observacional e a generalização científica é do tipo indutivo.

5. O Método Hipotético-Dedutivo
A proposta de Método Hipotético-Dedutivo coube a Popper, que o define um método que
procura uma solução, através de tentativas (conjecturas, hipóteses, teorias) e eliminação de erros.
Esse método pode ser chamado de “método de tentativas e eliminação de erros”.

Conjecturas ou
conhecimento Problema Hipóteses Falseamento
prévio

Este esquema denominado Hipotético-Dedutivo é admitido, pela maioria, como


logicamente válido e tem o grande mérito de simplificar muitos aspectos do método científico.
Portanto, a base da metodologia científica se assenta em reunir observações e hipóteses ou fatos
e idéias. O processo é cíclico e evolui por meio do aperfeiçoamento das técnicas usadas para
realizar observações e do reexame das hipóteses. O aperfeiçoamento das observações pode ser
conseguido com experimentos previamente planejados que utilizem os meios técnicos mais
20
modernos e eficientes. As hipóteses se aperfeiçoam quando se tornam mais simples,
quantitativas e gerais. No entanto, é preciso deixar claro que estes aperfeiçoamentos não levam a
verdade absoluta, mas a conhecimentos progressivamente melhor fundamentados das ciências
factuais, mais especialmente, das ciências biológicas.

Vamos analisar a seguinte descoberta (Curi, 1991):


No início do Séc. XX, W. M. Bayliss e E. H. Starling, descobriram que o pâncreas libera
enzimas digestivas no momento em que o alimento passa do estômago para o intestino delgado.
Mas, qual seria o mecanismo que estimularia esta liberação? Foram formuladas duas hipóteses
para a explicação:
I) o estímulo é transmitido das paredes do duodeno ao pâncreas por um agente químico
do sangue;
II) os alimentos que entram no duodeno estimulam nervos que transmitem o impulso ao
SNC que envia estímulos ao pâncreas para a liberação do suco digestivo.
Sendo verdadeira a primeira hipótese bastaria a presença do agente químico para
provocar secreção. Bayliss e Starling, abriram o abdome de um animal anestesiado, removeram
todos os nervos duodenais e cortaram as ligações nervosas com o pâncreas. Injetaram, a seguir,
ácido hidroclorídrico no duodeno e verificaram que o pâncreas liberava suco digestivo como na
condição normal. Concluíram, assim, pela validade de (I) e, conseqüentemente, pela negação de
(II).

Popper propõe 3 etapas para o método hipotético-dedutivo:

1 - Problema - formulação de uma ou mais hipóteses a partir das teorias existentes;


2 - Solução - dedução de conseqüências na forma de proposições;
3 - Testes de falseamento - tentativas de refutação ou aceitação das hipóteses.

Portanto, o método hipotético dedutivo consiste na construção de conjecturas (hipóteses)


que devem ser submetidas a testes, os mais diversos possíveis, à crítica intersubjetiva, ao
controle mútuo pela discussão crítica, à publicidade (sujeitando o assunto a novas críticas) e ao
confronto com os fatos, para verificar quais são as hipóteses que persistem como válidas
resistindo as tentativas de falseamento, sem o que seriam refutadas. É um método de tentativas e
eliminação de erros, que não leva à certeza, pois o conhecimento absolutamente certo e
demonstrável não é alcançado.
É plenamente aceito pelos pesquisadores que não se pode postular o conhecimento como
pronto e acabado, pois isto contraria a característica básica da ciência que é a de contínuo
aperfeiçoamento por meio de alterações na teoria e na área de métodos e técnicas de
investigação. O método hipotético-dedutivo propõe inferir conseqüências preditivas das
hipóteses, com o teste, a seguir, dessas inferências preditivas, com base em experimentos. É dada
ênfase para a tentativa de falseamento das hipóteses, para a descoberta de erros, com vistas a
progressiva tentativa de aproximação da verdade.

6. - Leituras Recomendadas
21

Capítulo 2 de LAKATOS e MARCONI, 1995.


Capítulo 2 de CERVO e BERVIAN, 1993.
1ª Parte de ASTI-VERA, 1976.
Capítulo 2 de CASTRO, 1977.
Capítulo 1 de ECO, 1977.
Capítulo 1 de LEITE, 1978.
Capítulo 2, 3 e 4 de FAZENDA, 1991.
2ª Parte de SALOMON, 1972.
Capítulo 3.1 de RUIZ, 1986.

7. - Referências Bibliográficas
ACKOFF, R.L. Planejamento de pesquisa social. São Paulo: Herder/EDUSP, 1967.

ASTI-VERA, A. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre: Editora Globo, 1976.

CASTRO, M. C. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977

CERVO, A.L. e BERVIAN, P.A. Metodologia Científica: para uso dos estudantes
universitários. 3ª Edição. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1983.

CONAN, C. A. História Ilustrada da Ciência (III). Rio de Janeiro: J. Zahar Editores, 1987.

CURI, P.R. Metodologia Científica. Apostila do Curso de pós-graduação da UNESP, Câmpus


de Botucatu, 1981.

BUNGE, M. Epistemologia: curso de atualização. São Paulo: T. A. Queiroz/EDUSP, 1980.

ECO, U. Como se faz uma pesquisa. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

FAZENDA, I. (org.) Como fazer uma monografia. 2ª Edição. São Paulo: Editora Cortez, 1991.

HEGENBERG, L. Etapas da investigação científica. São Paulo: EPU-EDUSP, 1976.

JOLIVET, R. Curso de Filosofia. 13ª Edição. Rio de Janeiro: Agir. 1979.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. S. Paulo: Ed. Atlas,


1995.

LEITE, J. A. A. Metodologia de elaboração de teses. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978.

KAPLAN, A. A conduta na pesquisa. S. Paulo: EDUSP, 1980.

NÉRICI, I.G. Introdução à lógica. 5ª Edição. São Paulo: Nobel, 1978.

POPPER, K.S. A lógica da pesquisa científica. 2ª Edição. São Paulo: Cultrix, 1975
22

POPPER, K.S. Conhecimento objetivo: uma abordagem evoluvionária. São Paulo:


Itatiaia/EDUSP, 1975.

POPPER, K.S. A lógica das ciências sociais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978.

RUIZ, J. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1986.

SALOMON, D.V. Como fazer uma monografia. 2ª Edição. Belo Horizonte: Editora interlivros
de Minas Gerais, 1972.

TRUJILLO, F.A. Metodologia da Ciência. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.

WEATHERALL, M. Método Científico. S. Paulo: EDUSP - Polígono, 1970.


23

Noções Gerais Sobre


Pesquisa
“Nossas possibilidades de conhecimento são muito, e até
tragicamente, pequenas. Sabemos pouquíssimo, e
aquilo que sabemos, sabemo-lo muitas vezes
superficialmente, sem grande certeza. A maior parte de
nosso conhecimento é apenas provável. Existem
certezas absolutas, incondicionais, mas estas são raras.”
BOCHENSKI (1961)

1. - Conceito de Pesquisa
A pesquisa é a base de todo desenvolvimento tecnológico. Utilizando-se de métodos
científicos, tem como objetivo a solução de problemas. Portanto, são três os elementos básicos
de uma pesquisa:
¼ a dúvida ou problema;
¼ o método científico;
¼ a resposta ou solução.

Além do desenvolvimento destas partes, é importante que o pesquisador faça uma


consulta bibliográfica sobre o assunto pesquisado. Este levantamento bibliográfico vai mostrar o
histórico do problema, as diversas tentativas de solucioná-lo, os pesquisadores envolvidos nessas
pesquisas, as metodologias empregadas e a situação atual do problema. Também vai esclarecer,
como a pesquisa se insere no contexto científico atual, podendo-se aquilatar a sua contribuição
para a ciência.
24
2. - Trabalho Científico Original
É considerado um trabalho científico original todo aquele que representa uma
contribuição para a ciência. Deve ser original o trabalho como um todo, ou parte dele, ou a
metodologia empregada, ou mesmo algum detalhe na forma de solucionar o problema.
Todo trabalho científico deve ser apresentado (redigido) de tal forma que um pesquisador
qualificado possa:
» reproduzir as experiências e obter os resultados descritos no trabalho com igual
ou menor número de erros;
» repetir as observações e formar opinião sobre as conclusões do autor;
» verificar a exatidão das análises, induções e deduções, nas quais estão baseadas
as descobertas do autor, usando como fonte as informações do trabalho.

3. - Tipos de Pesquisa
A diversidade da Ciência leva o homem a abordar os problemas da natureza em vários
enfoques e graus de aprofundamento. Assim, admite-se diversos tipos de pesquisa, com
particularidades próprias, sem excluir os três elementos básicos.
Alguns autores preferem a divisão das pesquisas em dois grandes grupos:
« pesquisa pura : o pesquisador tem como meta o saber, buscando satisfazer uma
necessidade intelectual pelo conhecimento.
« pesquisa aplicada : o investigador é movido pela necessidade de contribuir
para fins práticos, mais ou menos imediatos, buscando soluções para problemas concretos.

Os dois grupos não se excluem nem se opõem. Ambas são indispensáveis para o
progresso das ciências e do homem.

A classificação mais utilizada para as pesquisas, é a divisão em função do procedimento


adotado. Assim, classifica-se em três grupos:
¬ Pesquisa bibliográfica;
¬ Pesquisa descritiva;
¬ Pesquisa experimental.

Cabe lembrar que, em qualquer área ou qualquer modalidade de pesquisa, exige-se uma
pesquisa bibliográfica prévia, para levantamento da situação da questão, ou para uma
fundamentação teórica, ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria pesquisa.

3.1. - Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica procura analisar e conhecer as contribuições culturais ou


científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, explicando um problema a
partir desse levantamento.
Quando é realizada como o todo da pesquisa, a pesquisa bibliográfica deve conter todos
as etapas formais de um trabalho científico. É muito comum encontrar-se este tipo de pesquisa
em Ciências Humanas, nas áreas lingüistica, história, literatura, teologia, etc.
25
Na área das Ciências Exatas, a pesquisa bibliográfica geralmente faz parte da pesquisa
descritiva ou experimental, com o intuito de recolher informações e conhecimento prévios sobre
o problema pesquisado.

3.2. - Pesquisa Descritiva

A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos


(variáveis) sem manipulá-los. Pesquisa a freqüência com que um fenômeno ocorre, as suas
dependências e características no mundo físico ou humano, sem a interferência do pesquisador.
É utilizada em todos os ramos da Ciência, mas principalmente em Ciências Sociais e
Humanas, analisando relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos
do comportamento humano.
Pode ser classificada em:
Š Estudos exploratórios - é a pré-pesquisa ou o levantamento de hipóteses para
posterior pesquisa;
Š Estudos descritivos - é a descrição das características, propriedades ou relações
existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada.
Š Pesquisa de opinião - Abrange uma faixa muito grande de investigações e visa
conhecer as atitudes, pontos de vista e preferências que as pessoas têm a respeito de algum
assunto, com o objetivo de tomar decisões.
Š Estudo de caso - É a pesquisa sobre determinado indivíduo, família ou grupo. É
muito utilizada em pesquisas médicas e psicológicas.
Š Pesquisa documental - Estuda-se documentos atuais (da própria realidade) a
fim de se poder comparar usos e costumes.

3.3. - Pesquisa Experimental

Procura explicar de que modo ou por que causas o fenômeno é produzido. Caracteriza-se
por manipular diretamente as variáveis relacionadas com o objeto de estudo, através de situações
controladas. Interfere diretamente na realidade, manipulando-se a variável independente a fim
de observar o que acontece com a variável dependente.
Utiliza-se de equipamentos de medida e técnicas modernas de análise para a mensuração
das variáveis envolvidas no objeto de estudo (Cap. 5). São usados os termos “pesquisa de
campo” ou “pesquisa de laboratório”, como indicativo que se tratam de pesquisas práticas.

4. - Projeto de Pesquisa
Toda pesquisa precisa ser planejada. O projeto de uma pesquisa visa garantir a sua
viabilidade. Faz-se a previsão de recursos e equipamentos, a ordem das tarefas, o
estabelecimento dos objetivos, hipótese e variáveis, a metodologia, as ferramentas de análise dos
dados, o cronograma das atividades, etc.
Cervo e Bervian (1983) indicam que um projeto de pesquisa deve conter os seguintes
aspectos:
„ Título da Pesquisa - um título que mostre, de maneira significativa e adequada
o assunto a ser pesquisado.
„ Delimitação do assunto - selecionar um tópico a ser estudado e analisado em
profundidade. Evitar temas amplos que resultem em trabalhos superficiais.
26
„ Objetivos - Fins que se pretende obter com a pesquisa.
„ Justificativa da Escolha - Mostrar as razões da preferência pelo assunto
escolhido e sua importância face a outros temas.
„ Revisão da Literatura referente à questão - É a realização de uma pesquisa
bibliográfica resumo de assunto sobre a questão delimitada. Tal estudo preliminar e sintético
trará informações sobre a situação atual do problema, sobre os trabalhos já realizados a respeito
e sobre as opiniões existentes.
„ Formulação do Problema - Redigir, de forma interrogativa, clara, precisa e
objetiva a questão cuja solução viável possa ser alcançada pela pesquisa. O problema levantado
deve expressar uma relação entre duas ou mais variáveis. A elaboração clara do problema é
fruto de revisão da literatura e da reflexão pessoal.
„ Hipótese - A hipótese é a resposta ou explicação provisória do problema. Deve
ser testável e responder ao problema.
„ Definição das variáveis - Indica as operações a serem realizadas e os
mecanismos a serem usados para verificar a conexão existente entre a variável independente e
dependente.
„ População ou Amostragem - É um conjunto de pessoas, de animais ou objetos
que representam a totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para
o estudo.
„ Instrumentos da Pesquisa - São as técnicas a serem usadas para a coleta de
dados, como entrevista, o questionário e o formulário. Quando se trata de pesquisa
experimental, são descritos os instrumentos e materiais ou as técnicas a serem usadas.
„ Procedimentos - É o detalhamento da forma usada para fazer a observação, a
manipulação da variável independente, o tipo de experimento, o uso ou não de grupo de controle
e a maneira do registro dos resultados.
„ Análise de Dados - É o tratamento estatístico usado nos dados obtidos, que
resultará na comprovação ou não da hipóteses de estudo.
„ Discussão dos Resultados - É a generalização dos resultados obtidos pela
análise dos dados. Cabe também a comparação dos resultados com afirmações e posições de
outros autores.
„ Orçamento - provisão das despesas com pessoal, materiais e serviços.
„ Cronograma de Execução - escalonamento no tempo de todas as fases e
tarefas da pesquisa.
„ Conclusão final e Observações - É o resumo dos resultados mais
significativos que conduziram à comprovação ou rejeição da hipótese.
„ Bibliografia - São as referência bibliográficas que serviram de embasamento
teórico. Devem sempre ser apresentadas de acordo com a Norma da ABNT (NBR 6023).
„ Anexos - São os elementos complementares, como questionários, fichas de
observação e registro e listagens intermediárias de dados que podem auxiliar o leitor da pesquisa.

Deve ficar bem claro que os aspectos mencionados acima não são obrigatórios para todas
as pesquisas. Também não se deve imaginar que, ao redigir o projeto de pesquisa, se utilize um
capítulo ou um item para cada aspecto citado.
A título de exemplo, são sugeridas duas formas de redigir o Projeto de Pesquisa,
compactando os diversos aspectos já mencionados em itens.
27
1º Exemplo:

Passos da Pesquisa Projeto de Pesquisa


Capa
Título
Índice
Resumo
Escolha do assunto
Delimitação do Assunto Introdução
Justificativa
Revisão da literatura Fundamentação Teórica
Formulação do problema
Enunciado da hipótese Hipótese
Definição das variáveis
Amostragem
Instrumentos Metodologia
Procedimentos
Análise de dados
Orçamento Orçamento
Cronograma Cronograma
Bibliografia Bibliografia
Anexos Anexos

2º Exemplo

Passos da Pesquisa Projeto de Pesquisa


Capa
Título
Índice
Resumo
Escolha do assunto
Revisão da literatura Introdução
Formulação do problema
Justificativa Justificativa
Objetivos Objetivos
Delimitação do Assunto
Enunciado da hipótese
Definição das variáveis
Amostragem Materiais e Métodos
Instrumentos
Procedimentos
Análise de dados
Cronograma Cronograma
Bibliografia Bibliografia
Orçamento Orçamento
Anexos Anexos
28

5. - Leitura Recomendada
Capítulo 3 de CERVO e BERVIAN, 1993.
Capítulo VI, itens 1, 2 e 3 de SEVERINO, 1996.
Parte 3 de ASTI-VERA, 1976.
Capítulos 3 e 4 de ECO, 1977.
Capítulo 3 de LEITE, 1978.
Capítulo 3.4 de RUIZ, 1986.

6. - Bibliografia

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT - Referências


Bibliográficas: NBR 6023. São Paulo: ABNT, agosto de 1989.

ASTI-VERA, A. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre: Editora Globo, 1976.

CERVO, A. L. e BERVIAN, P. A. Metodologia Científica: para uso dos estudantes


universitários. 3ª Edição. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1983.

ECO, U. Como se faz uma pesquisa. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. S. Paulo: Ed. Atlas,


1995.

LEITE, J. A. A. Metodologia de elaboração de teses. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978.

RUIZ, J. A. Metodologia Científica. 2ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1986.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 20ª Edição. São Paulo: Editora Cortez,
1996.
29

Procedimentos para
Investigação Científica
“Em três notáveis experiências - a deflexão da luz das
estrelas ao passar perto do sol, o movimento da órbita de
Mercúrio, e a mudança para o vermelho das linhas
espectrais de um forte campo gravitacional estelar - a
Natureza votou em Einstein. Contudo, sem essas
verificações experimentais, muitos poucos físicos teriam
aceito a relatividade geral. Existem muitas hipóteses na
física de brilho e elegância comparáveis, mas que foram
rejeitadas um vez que não resistiram a um confronto
experimental. No meu ponto de vista, a condição do
homem seria grandemente beneficiada se tais
confrontações e a disposição em rejeitar hipóteses
fizessem parte de nossas vidas social, política,
econômica, religiosa e cultural.”
Carl Sagan, Os Dragões do Eden, 1987.

1. - Introdução
Pode-se dividir os procedimentos para uma investigação científica em 4 partes:

Escolha do Assunto
Organização da Pesquisa
Execução da Pesquisa de Campo
Redação do relatório (tese, dissertação, monografia, etc.)

O planejamento da pesquisa, passando-se pelos cinco itens na ordem em que eles se


apresentam, é certeza de uma pesquisa sem grandes dificuldades.
30
2. - Escolha do Assunto
Não faltam assuntos para serem pesquisados. Na maioria das vezes o pesquisador tem
vários assuntos a escolher, podendo a escolha ser decisiva para sua carreira. Eis alguns pontos
de reflexão que podem ajudar na escolha:
O assunto deve corresponder ao gosto pessoal do pesquisador;
O assunto deve ser adequado à capacidade e à formação do pesquisador;
O assunto pode ser indicado pelo aluno ou professor (orientador);
Levar em consideração a disponibilidade de orientador para o assunto;
Levar em conta o material bibliográfico disponível;
Considerar os equipamentos de laboratório disponíveis;
Considerar o custo da pesquisa;
Sempre ter em mente que a pesquisa será uma contribuição Ciência, devendo-
se optar por assuntos novos, e não pela duplicação de estudos.

2.1. - Delimitação do Assunto

Delimitar o assunto é escolher um tópico ou parte a ser focalizada. Essa delimitação vai
permitir uma maior profundidade no estudo. Temas amplos e complexos geram estudos
superficiais.
Existem duas formas de delimitar o assunto: divisão do assunto em partes (estudando-se
apenas uma delas), ou fixar-se circunstâncias de tempo e espaço limitados para o estudo. Eis
alguns exemplos:

Tema amplo Tema delimitado


Motores elétricos lineares monofásicos -
Motores elétricos lineares
um estudo teórico.
Estudo de óleos lubrificantes para Estudo da vida útil de óleos lubrificantes
motores para motores Diesel de tratores agrícolas.
Avaliação do desmatamento na região Avaliação do desmatamento na região de
de Bauru. Bauru nos últimos 10 anos.
Avaliação da perda de audição em
Avaliação da perda de audição em
caminhoneiros de transporte de
caminhoneiros.
combustível na região de Bauru.

2.2. - Formulação de problemas

É a transformação do tema escolhido em problemas, ou seja, a dificuldade teórica ou


prática que se deve encontra uma solução.
São inúmeras as vantagens da formulação de questões à pesquisa: passa-se a saber com
exatidão o tipo de resposta que se procura; dá ao pesquisador um reflexão sobre o assunto; fixa
roteiros mais claros para a levantamento bibliográfico e coleta de dados; dá mais objetividade
aos apontamentos que serão tomados.
31
2.3. - Revisão Bibliográfica sobre o problema a ser
resolvido

A pesquisa bibliográfica tem como objetivo encontrar respostas aos problemas


formulados através dos documentos bibliográficos. Deve-se lembrar que todo o conhecimento
humano está nos livros.
Ao se pesquisar numa biblioteca, pode-se encontrar 5 tipos de documentos:
Manuscritos;
Impressos sem periodicidade: livros, folhetos, normas, catálogos, processos,
pareceres, textos legais, etc.
Periódicos : revistas, boletins, jornais, anuários, etc.
microfilmes que reproduzem outros documentos;
diversos: mapas, planos, desenhos, fotografias, etc.
É estritamente necessário ao pesquisador a compreensão de como são organizadas as
bibliotecas, como fazer a pesquisa bibliográfica, como também a forma de obter documento de
outras bibliotecas.
Recomenda-se ao pesquisador, o seguinte procedimento na pesquisa bibliográfica:
Identificação do material - é a indicação de um material sobre o assunto da
pesquisa, obtida por outro pesquisador, ou pelas referência bibliográficas de algum trabalho, ou
no catálogo da biblioteca, etc.
Localização - localizar o material na própria biblioteca, ou em bibliotecas
conveniadas. Solicitar o empréstimo (em caso de livros, catálogos, etc.) ou cópia (no caso de
trabalhos científicos publicados em periódicos).
Compilação - fazer a leitura crítica do documento encontrado, verificando se
ele responde às perguntas formuladas para sua pesquisa.
Fichamento - é a transcrição dos principais dados do documento em fichas,
caso ele seja considerado útil para a pesquisa. Assim o pesquisador cria um cadastro dos
documento importantes para aquele assunto. Hoje já existem programas para computador que
substituem as fichas com grandes vantagens.

2.4. - Descrição do objetivo da pesquisa

Com a formulação dos problemas (perguntas) e com o levantamento bibliográfico é


possível ao pesquisador estabelecer, de forma rígida e imutável, os objetivos da pesquisa. É uma
etapa importante, pois a metodologia, os resultados e, principalmente, as conclusões estarão
intimamente relacionados com os objetivos.
O pesquisador pode estabelecer um objetivo geral e vários objetivos específicos.

3. - Hipóteses
Uma vez formulado o problema, com certeza de ser cientificamente válido, supõe-se uma
resposta (hipótese) “suposta, provável, provisória”.
Exemplos:
Problema : Quais as principais causas do desgaste de discos de corte de madeira?
Hipótese : A principal causa é o desgaste químico (corrosão), acompanhado do desgaste
por atrito mecânico.
Existem várias formas de se formular uma hipótese, mas a mais comum é “Se x, então y”,
ou então “Se x, então y, sob as condições r e s”.
32
Curi (1981) cita algumas hipóteses históricas que se tornaram famosas:
“Em 1628, W. Harvey enunciou a hipótese da circulação do sangue sem levar em conta a
diferença entre os sangues arterial e venoso. Este avanço, para a época, ficou incompleto até que
o mesmo autor formulou a hipótese complementar: "o circuito artéria - veia é efetuado por vasos
capilares invisíveis", comprovação conseguida em pesquisas ulteriores.”
“Mendeleiev (1834 - 1907) propôs a classificação dos elementos, em química, com base
em seus pesos atômicos. A hipótese proposta foi tão coerente que permitiu prever a existência de
alguns elementos desconhecidos, na época, que tiveram suas existências confirmadas depois.
Conhecimentos posteriores formulados com base no número atômico, e não mais no peso
atômico, permitiram a elaboração de novas hipóteses e o conseqüente avanço na área,
confirmando de maneira ampla a classificação proposta por Mendeleiev.”
“A hipótese do átomo indivisível, proposta por Dalton (1766-1844), foi suficiente para
explicar os fatos até uma certa época. Novos conhecimentos, novas técnicas e novos fatos que
não se enquadravam na teoria anterior sugeriram a formulação de novas hipóteses que
confirmaram de forma direta ou indireta a divisibilidade do átomo.”

As hipóteses devem facilitar o ensaio experimental. Não podem se apresentar com falhas
como indefinidas, restritas, semanticamente defeituosas, logicamente defeituosas e alusivas a
condições irrealizáveis.
Para exemplificação (Curi, 1981) imagine-se o uso de aspirina no tratamento de "dor de
cabeça".
Hipótese 1: "A aspirina é eficaz no combate à dor de cabeça". É uma hipótese vaga e
indefinida, pois não identifica os tipos de dores de cabeça nos quais se está interessado. Sua
negação não aumenta o conhecimento científico sobre o assunto.
Hipótese 2: "A aspirina combate todos os tipos de dores de cabeça". É uma hipótese
definida mas, devido ao seu excesso de abrangência, sua negação não é importante, podendo até
mascarar seu uso benéfico em certas situações.
Hipótese 3: "A aspirina é eficiente no combate a dores de cabeça decorrentes de má -
digestão".
Hipótese 4: "A aspirina não é eficiente no combate a dores de cabeça cuja origem se deva
a processos traumáticos".
As hipóteses 3 e 4 são definidas e sua comprovação ou negação acrescentará
informação científica válida. Ambas são suscetíveis de comprovação experimental. Aceitando-se
que o termo "dor de cabeça" tenha sido previamente definido, de modo a não gerar confusão,
ambas são semântica e logicamente coerentes.

Quando trabalha-se com amostras, tem-se as hipóteses estatísticas. Pretende-se uma


generalização a propósito de uma classe de casos com base na observação de alguns casos.
Portanto, é a partir de uma amostra que se infere para uma população.
A aceitação ou rejeição da hipótese estatística depende dos dados observados quando da
montagem do caso - modelo. A teoria e a prática estatística moderna procuram substituir
expressões ambíguas na redação da hipótese por outras que indiquem valores numéricos ou
relações matemáticas entre variáveis. A forma de se concluir pela rejeição ou não da hipótese
estatística formulada é denominada teste estatístico.
O teste estatístico consiste em uma regra que prescreve a adoção de um caminho A
quando o ponto da amostra, determinado pela observação dos dados, se coloca dentro de uma
especificada categoria de pontos e que se adote o caminho B, em caso contrário.
Em outras palavras: o espaço é separado em duas regiões complementares: a região de
rejeição e a região de aceitação da hipótese. A hipótese será rejeitada ou não dependendo do
valor amostral calculado (a estatística) se situar em uma ou outra das duas regiões.
33
A hipótese estatística é sempre duplamente formulada como hipótese de nulidade (H0)
e hipótese alternativa (H1). É partindo-se da hipótese de nulidade que se constrói o teste, ou seja,
a regra que leva a aceitação ou rejeição da hipótese de nulidade.
Exemplos de hipótese estatística:
Ex. 1: em um estudo para a comparação de duas dietas
H0: não existe diferença entre as dietas
H1: as dietas diferem.
Estas hipóteses podem ser formuladas matematicamente:
H0: U1 = U2; Ha: U1 diferente de U2
onde U1 e U2 são as médias populacionais de ganho de peso com as dietas 1 e 2 que são
desconhecidas e cuja estimativa são as respectivas médias amostrais do ganho de peso, X1 e X2.
Assim, é com base em uma amostra, que se espera seja representativa da população,
que se tomará a decisão pela aceitação ou pela rejeição da hipótese de nulidade (aceitação da
hipótese alternativa).

4. - Variáveis
LAKATOS e MARCONI (1983) citam diversos conceitos de variáveis, alguns dos quais
são aqui reproduzidos.
- Variável é qualquer quantidade ou característica que pode possuir diferentes
valores numéricos (YOUNG, 1960).
- Variável é um valor que pode ser dado por uma quantidade, qualidade,
magnitude, traço, etc., que pode variar em cada caso individual (TRUJILLO, 1974).
- Uma variável é um conjunto de valores que forma uma classificação
(GALTUNG, 1978).
- Variáveis são aspectos, propriedades ou fatores, mensuráveis ou potencialmente
mensuráveis, através dos valores que assumem, discerníveis em um objeto de estudo (KOCHE,
1979).
- Variável, ou classificação, ou medida, é uma ordenação dos casos em duas ou
mais categorias totalmente inclusivas e que se excluem mutuamente (DAVIS, 1976).

Em sentido formal as relações entre variáveis podem ser: simétrica, recíproca e


assimétrica.
Relação simétrica é aquela em que nenhuma das variáveis exerce ação sobre a outra.
Como exemplo pode ser imaginada uma situação em que alunos com bom aproveitamento em
matemática, também, apresentam bom desempenho em literatura.
Relação recíproca é aquela em que não é possível determinar qual a variável causal e
qual a que corresponde ao efeito, embora seja claro que estão em ação forças causais. Isto ocorre
quando as variáveis interagem e reforçam-se mutuamente. Como exemplo, considere o consumo
elevado de álcool que provoca problemas familiares e falta de motivação no homem. A falta de
motivação para enfrentar os problemas que vão se acumulando é situação propiciatória à
desagregação social com conseqüente fuga das responsabilidades e aumento do consumo de
álcool.
Relação assimétrica é aquela que se verifica quando uma variável (denominada
independente) é responsável pela ocorrência de outra variável (denominada dependente). O
principal tipo de relação assimétrica em ciências biológicas é a associação entre um estímulo e
uma resposta. É uma relação diretamente causal, imediata ou quase imediata referente a um dado
estímulo sobre uma particular resposta. Exemplos: o aumento de calorias em uma dieta provoca
maior ganho de peso. Doses crescentes de anestésico produzem tempo de sono mais prolongado.
34

4.1. - Variáveis independentes e dependentes

Variável independente é aquela que influencia, determina ou afeta uma outra variável.
Será indicada pela letra X, sendo referida como fator determinante, condição ou causa para a
ocorrência de determinada resposta. De maneira geral é o fator, manipulado pelo pesquisador,
com vistas a estudar uma certa resposta de interesse.
Variável dependente consiste na resposta que ocorre em virtude dos diferentes valores
que a variável independente pode assumir. Será indicada pela letra Y. Assim sendo, Y é função
de X, ou seja, os valores que Y assume dependem dos valores atribuídos a X. A variável
dependente é a resposta que aparece à medida que o investigador modifica a variável
independente; é o resultado, conseqüência ou resposta a algo que foi manipulado.
Em uma pesquisa, a variável independente, que será indiferentemente referida como
fator, é o antecedente e a variável dependente (referida como resposta) é o conseqüente. São
feitas estimativas (previsões) dos valores da variável dependente a partir dos valores que a
variável independente assume (isto será discutido com mais detalhe quando do estudo de
Regressão).
Exemplos: o comprimento e o peso dos animais dependem da idade (X = idade;
Y= comprimento ou peso); a deficiência alimentar na infância (X) provoca dificuldades no
aprendizado escolar (Y); a maior pigmentação na pelagem dos animais (X) pode proporcionar
uma menor adaptação (Y) em climas quentes.
Em muitas situações práticas existe uma certa dificuldade em saber qual é a variável
independente e qual a dependente. A maneira lógica de raciocinar é relacionada com o critério
de suscetibilidade à influência, ou seja, a variável dependente (conseqüente) é aquela capaz de
ser alterada ou influenciada ou determinada pela outra, que passa a ser considerada, então, a
variável independente ou causal (determinante).
Exemplo: existindo uma relação entre predisposição a problemas cardíacos e sexo
é evidente que o sexo influencia a ocorrência de problemas cardíacos e não é a ocorrência de
problemas cardíacos que determina o sexo.
Dois critérios podem ser enumerados para se decidir a respeito do sentido da influência
entre variáveis: a ordem no tempo (precedente e conseqüente) e a fixidez ou a capacidade de se
alterar apresentada pelas variáveis. O critério de ordem temporal é baseado no princípio lógico
de que o acontecido depois não pode ser capaz de influenciar o que veio antes. Portanto, sempre
que possa ser usada, a ordem temporal estabelece como variável independente a anterior no
tempo e como dependente a que se segue.
Exemplo: amamentação materna do recém-nascido leva a uma conseqüente maior
resistência a infecções na infância; hábito de fumar da mãe durante a gestação influencia no peso
do recém-nascido.

Existem diferentes tipos de relações causais entre as variáveis independentes e


dependentes, entre as quais podem ser citadas as relações: determinista, suficiente, necessária,
substituível, seqüencial e probabilística.
A relação causal determinista é do tipo: "se X ocorre, Y sempre ocorrerá". Exemplo: a
privação de sangue a uma certa região do cérebro provoca lesão irreversível. A relação causal
suficiente é do tipo "X causa Y ou a ocorrência de X é suficiente para causar Y, independente de
qualquer outra ocorrência". Exemplo: a destruição do nervo óptico é suficiente para causar a
cegueira. Os dois tipos de relações vistos se confundem. A relação causal necessária é do tipo:
"se ocorre X e somente X, então ocorrerá Y". Exemplo: se, e somente se, houver experiência
anterior com cocaína, o indivíduo se tornará viciado. Embora necessária esta experiência anterior
35
com o uso da droga não é suficiente para que o indivíduo se torne viciado, pois muitas
pessoas com a experiência anterior não adquiriram o vício.
A relação causal substituível é do tipo: "se ocorre X, então ocorre Y, mas ocorrendo Z,
também ocorre Y". Exemplo: se um animal não receber alimentação (X) suficiente perderá peso
(Y). Mas, também ocorrerá perda de peso (Y) se o animal for submetido a situações
"estressantes" (Z).
A relação causal seqüencial é do tipo: "se X ocorre, então Y ocorrerá mais tarde".
Exemplo: a deficiência alimentar na infância produzirá adultos com menor capacidade mental.
A relação causal probabilística ou estocástica é do tipo "se X ocorrer, então Y,
provavelmente, ocorrerá". Este é o tipo de relação mais comum nas Ciências Biológicas.
Em geral, nestas ciências, as afirmativas de relações causais entre variáveis são
probabilísticas pois, os experimentos são realizados utilizando-se amostras e visando concluir
para a população. É a base da inferência estatística. Ex: maiores cuidados com a utilização de
normas mínimas de higiene na ordenha aumentam a chance de não ocorrência de mastite nas
vacas.
As medidas realizadas nas unidades experimentais após terem sido submetidas a
diferentes tratamentos (fator ou variável independente) constituem os valores da variável
dependente. Os valores da variável independente em geral, são pré-determinados pelo
pesquisador. A maneira como a variável dependente é medida está diretamente relacionada com
a precisão das observações e com o tipo de distribuição da variável que é condição básica para a
escolha da análise estatística.

4.2. - Covariável

A covariável é um fator que o pesquisador procura neutralizar intencionalmente em uma


investigação, com a finalidade de impedir que interfira na análise da relação entre as variáveis
independente e dependente. Esta neutralização é conseguida utilizando-se processos estatísticos
adequados. Sua importância fica evidente na investigação de situações complexas quando se
sabe, ou se presume, que uma resposta não é, apenas, influenciada por um fator. Não
interessando ao pesquisador, ou não sendo possível analisar todos os fatores em um dado
experimento, torna-se necessário neutralizar o efeito de fatores indesejáveis (covariáveis) para
que não interfiram na resposta de interesse.

5. - Definição da população da pesquisa (amostra


ou corpus).
Qualquer pesquisa é baseada em levantamento ou coleta de dados, isto é, na operação de
coleta do material básico para descrever e analisar o problema. O tipo de variável e a forma de
mensurá-la vão depender de cada investigação e deverão estar previamente discutidos e
planejados quando do delineamento proposto.
A amostragem é o ato de obter uma amostra de uma população. A população pode ser
entendida como um conjunto de elementos, com características comuns. A amostra é, então, uma
parte da população que se espera seja representativa da mesma. Existem situações em que a
amostragem é imperativa quando da realização da pesquisa (quando a população é muito grande,
quando há destruição da unidade para a coleta da informação, entre outras). Há também os
problemas de ordem ética que obrigam ao uso de amostras (teste de novas drogas, vacinas,
técnicas cirúrgicas, e outras). Uma situação mais ampla é aquela, típica da experimentação, em
que a população de estudo é hipotética e a amostra é parte real desta população.
36
As etapas de um levantamento por amostragem serão discutidas no planejamento de
experimentos e, em resumo, podem ser referidas como: definição clara dos objetivos da
pesquisa, definição da população de interesse e da unidade amostral, escolha das variáveis e
especificação da maneira de coletá-las e mensurá-las, determinação do grau de precisão do
estudo (dimensionamento amostral).
A amostra pode ou não ser probabilística. Será probabilística quando cada unidade da
população tiver a mesma chance de fazer parte da amostra. Em um levantamento de 100
propriedades rurais produtoras de leite tipo B de uma região, para se selecionar uma amostra de
10 propriedades que entrarão no estudo, o pesquisador pode optar por:
I - amostra probabilística: enumera as propriedades de 1 a 100 e sorteia 10 delas;
II - amostra não probabilística: opta por 10 propriedades cujos donos se
mostraram propensos a permitir o estudo (voluntários) ou escolhe as 10 propriedades de mais
fácil acesso (intencional).
Sempre que possível a amostragem deve ser probabilística, pois este é um requisito para
os testes estatísticos. Na prática, dificilmente se consegue delimitar a população e as unidades
amostrais são sorteadas dentre as disponíveis. Assim, para a comparação do ganho de peso
proporcionado por duas ou mais dietas, o experimentador dispõe de um lote de animais e, dentro
deste lote, sorteia cada um dos elementos para receber um dos tratamentos.
Existem 3 métodos básicos de amostragem: naturalístico, intencional, aleatório.
Método naturalístico: o primeiro método de amostrar, denominado de
naturalístico ou "cross-sectional sampling" procede à seleção de um total de n indivíduos a partir
de uma grande população e, então, verifica a presença ou a ausência das características A e B em
cada indivíduo. Somente o tamanho amostral total (n) é determinado à priori para a coleta dos
dados. Muitos trabalhos de pesquisa são conduzidos desta forma.
Método intencional: o segundo método de amostrar, as vezes denominado
amostragem intencional, propõe a seleção e o estudo de um número predeterminado, n1 de
unidades com a característica A1 e n2 unidades com a característica A2. O interesse da
amostragem intencional é verificar se as duas populações amostradas (A1 e A2) diferem com
relação à uma variável B (B1 e B2).
Método aleatório: o terceiro método de amostrar, indicado como aleatório, é semelhante
ao método intencional, em que duas amostras (A1 e A2) de tamanho predeterminado (n1 e n2) são
comparadas. No entanto, o método aleatório exige que estas amostras sejam constituídas
casualmente, o que não ocorre no método intencional.
O método aleatório é a base dos ensaios comparativos controlados: de um total de
n indivíduos são sorteados n1 para receber aleatoriamente um tratamento controle (A1) e os
remanescentes (n - n1 = n2) recebem o tratamento experimental (A2).

6. - Leituras Recomendadas
Capítulos 4, 5 e 6 de LAKATOS e MARCONI, 1995.
Capítulo IV de CERVO e BERVIAN, 1993.
Capítulo 2 de JOHNSON e SOLSO, 1975.
Capítulos de 1 a 10 de MEDEIROS, 1996.
Capítulo 3 de CASTRO, 1977.
Capítulo 2 de ECO, 1977.
Capítulo 2 de LEITE, 1978.
Capítulos 3, 5 e 8 de WEATHERALL, 1970.
37

7. - Referências Bibliográficas

CASTRO, M. C. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977

CERVO, A. L. e BERVIAN, P. A. Metodologia Científica: para uso dos estudantes


universitários. 3ª Edição. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1983.

CURI, P.R. Metodologia Científica. Apostila do Curso de pós-graduação da UNESP, Câmpus


de Botucatu, 1981.

CURI, P. R. Alguns aspectos do planejamento experimental. Rev. Bras. Anest. 37(5): 341-5,
1987.

ECO, U. Como se faz uma pesquisa. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

JOHNSON H. H. e SOLSO, R. L. Uma introdução ao planejamento experimental em


psicologia: Estudos de casos. São Paulo: EPU, 1975.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Metodologia científica. 2ª Edição. São Paulo, Editora


Atlas, 1995.

LEITE, J. A. A. Metodologia de elaboração de teses. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978.

MEDEIROS, J. B. Redação Científica: A prática de fichamentos, resumos e resenhas. 2ª


Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1996.

PERES, C. A. e SALDIVA, C. D. Planejamento de experimentos. S. Paulo, EDUSP, 1980.

SAGAN, C. Os Dragões do Eden. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1987.

TRUJILLO, A. F. Metodologia da Ciência. Rio de Janeiro: Ed. Kennedy, 1974.

WEATHERALL, M. Método Científico. S. Paulo: EDUSP - Polígono, 1970.


38

Análise de Dados na
Investigação Científica
“Nossas idéias não são mais do que instrumentos
intelectuais que nos servem para penetrar nos
fenômenos. Devemos modificá-las depois de terem
desempenhado seu papel, assim como mudamos de
bisturi quando ele já nos serviu muito tempo.”
Caude Bernard

1. - Introdução
Os dados obtidos no conjunto de medições não oferecem uma visualização completa
sobre o comportamento das variáveis e muito menos sobre o fenômeno estudado. Para
apresentar os dados de uma forma mais inteligível, o pesquisador precisa trabalhar os dados,
utilizando-se das ferramentas da matemática e da estatística. Isto é realizado através da
elaboração de tabelas de freqüências, de figuras e o cálculo de medidas de posição e de
variabilidade são importantes para o melhor conhecimento da variável.
Não pretende-se aqui ensinar matemática (seja estatística, séries, cálculo integral,
geometria, etc.), pois este não é o objetivo da Metodologia Científica. O pesquisador necessita
apenas conhecer as ferramentas que a matemática oferece para que ele possa analisar os seus
dados levantados experimentalmente. A escolha do tipo de tratamento é de extrema importância;
a aplicação aos dados é feita facilmente por programas de computador.
A seguir é apresentado um resumo dos principais parâmetros e tratamentos estatísticos
usados em experimentos. Inicialmente alguns conceitos básicos.

ƒ Universo: é o conjunto de elementos, seres ou objetos;


ƒ População: é o conjunto de valores obtidos classificando, contando ou medindo certas
características dos elementos do Universo. Na prática, os conceitos de Universo e de População
se confundem;
39
ƒ Censo: é a enumeração e anotação de características de todos os elementos do
Universo ou da População;
ƒ Amostra: é uma parte da população ou um subconjunto de unidades obtida com a
finalidade de investigar as propriedades da população. A amostra deve ser representativa da
população;
ƒ Amostragem: é o procedimento mediante o qual são selecionadas as amostras. Quanto
mais homogêneo for o material experimental menos problemas ocorrem na amostragem.

2. – Formas de Coleta de Dados em Pesquisas


Experimentais
A coleta de dados em pesquisa experimental depende do tipo de metodologia empregada.
Existem 3 formas de se obter os dados:

z Estudo de caso – O objeto da pesquisa se resume a um determinado indivíduo,


família, grupo, comunidade, máquina, equipamento, obra, elemento de máquina, etc. Todos os
ensaios, testes, análises e mensurações são realizados sobre o elemento a ser estudado. Eis
alguns exemplos: projeto (ou reprojeto) de uma máquina, estudo sobre uma patologia de um
paciente, desenvolvimento de um software, etc.

z Análise de uma população – O objeto da pesquisa é toda a população (ou


universo). Pode se referir a um conjunto de pessoas, ou animais, ou objetos que representam a
totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para o estudo. Eis
alguns exemplos: avaliação da perda auditiva de todos os trabalhadores de uma indústria,
ocorrência de LER entre todos os funcionários de uma banco, estimativa do local de origem dos
pacientes de uma hospital, etc.

z Análise por amostragem – O objeto da pesquisa é uma parte representativa da


população, e não com a totalidade dos indivíduos. A amostra é uma parte da população,
devendo ser selecionada segundo critérios que garantam sua representatividade. Eis alguns
exemplos: pesquisa eleitoral para governador do Estado de São Paulo, análise da perda de
audição de tratoristas brasileiros, censo demográfico brasileiro, etc.

3. – Níveis de Mensuração
Uma das grandes preocupações do homem sempre foi a MEDIÇÃO. Medir terras,
quantidade de gado, a riqueza, porções de medicamentos, etc.
Supõe-se que, na antiguidade, o homem do campo usasse coleções de pedrinhas para
avaliar o tamanho de seu rebanho. Sem saber, ele já estava medindo. Assim, a informação sobre
o tamanho do rebanho poderia ser guardada num compartimento onde coubessem as pedras.
Este processo de guardar as informações era trabalhosa e volumosa.
A invenção dos números (palavras capazes de expressar quantidades) permitiu que o
homem deixasse de guardar as informações num lugar físico, e passar a guardá-las na memória.
Para evitar o esquecimento, o homem criou a escrita. O algarismo (representação gráfica do
número) possibilitou anotar as informações.
40
MEDIR uma magnitude (grandeza) significa associar a essa magnitude um número
real. Numa medição realizamos 4 operações: definição do que vai ser medido, definição do
critério ou padrão, leitura, e interpretação. A MEDIDA é uma relação entre magnitude e critério
(padrão).
O processo de medição depende da classe que pertence a magnitude. Existem 4 níveis de
mensuração:

§ 1º NÍVEL – Nominal – A medição é realizada apenas no plano qualitativo, ou


seja, os objetos, números ou símbolos são usados simplesmente para classificar um objeto,
pessoa ou característica. Não existe qualquer relação entre os dados, nem mesmo a classificação
de maior ou menor. Por exemplo: os números de telefones, as placas de automóveis, o número
da camisa de jogadores de futebol, etc. A classificação dos pacientes de um hospital psiquiátrico
como ‘esquizofrênica’, ou ‘paranóica’, ou maníaco-depressiva’, ou ‘psiconeurótica’ é uma
classificação nominal.
Não existem operações matemáticas nesta classe; em estatística pode-se calcular a moda
e as distribuições de freqüências.

§ 2º NÍVEL – Ordinal – É um nível mais elaborado que o anterior, pois


designa ordenação, ou seja existe uma certa relação entre os elementos. As grandezas deste
nível podem ser classificadas numa escala maior ou menor, embora não seja possível uma
quantificação precisa. Por exemplo: notas escolares A, B, C e D; classificação entre péssimo,
ruim, regular, bom e ótimo; classificação entre sargento, cabo e soldado; dar notas de 0 a 10 para
o sabor de um café; dar notas de 0 a 5 para o atendimento de uma loja; classificar o volume de
uma ruído em baixo, médio, alto ou muito alto.
Nesta classe não existem operações matemáticas (dobro, metade, média); em estatística
pode-se calcular a distribuição de freqüências, a moda e a mediana.

§ 3º NÍVEL – Intervalar – É onde aparece a escala (padrão) de medida, com


valor arbitrário e fixo, e um zero relativo (convencional). A característica principal é a
existência de uma escala, com valores constantes e conhecidos. Por exemplo, as escalas
termométricas, onde o zero e o valor de um grau são convencionais.
As únicas operações permitidas são a adição e subtração, sendo proibidas a multiplicação
e divisão. Assim, se o corpo A está a 40 ºC e o corpo B está a 10 ºC, não tem sentido dizer que
A é quatro vezes mais quente que B só porque 40/10=4. Notar que para a escala em ºF a relação
é diferente: o corpo A está a 104 ºF e o B a 50 ºF; nesta escala a temperatura de um não é 4 vezes
a do outro. É possível se trabalhar com média e desvio padrão.

§ 4º NÍVEL – Racional – São as medições onde aparecem a escala e o zero


absoluto. Por exemplo: medições de comprimento, volume, área, massa, tempo, etc.
Neste nível todas as operações aritméticas passam a ter sentido (com exceção da
multiplicação por uma número negativo). Todas as operações ou provas estatísticas são válidas.

A Tabela 5.1 apresenta as estatísticas adequadas para os níveis de mensuração.


A Tabela 5.2 apresenta as provas estatísticas adequadas para os níveis nominal, ordinal e
intervalar.
41

Tabela 5.1 – Os 4 níveis de mensuração e as estatísticas adequadas a cada nível.


Exemplos de Provas
Relações
Escala estatísticas estatísticas
delimitadoras
adequadas adequadas
Moda
Nominal Equivalência Distr. de Freqüências
Coef. de Contingência
Anteriores mais : Mediana
Provas estatísticas
Percentis
não-paramétricas
Equivalência Coef. Correl. de Spearman
Ordinal Maior do que Coef. de Correl. de Kendall
Coef. de concordância de
Kendall
Anteriores mais: Média
Equivalência Desvio Padrão
Maior do que Correlação Momento-produto
Intervalar Razão conhecida de Pearson
entre dois intervalos Correlação Momento-produto
Provas estatísticas
múltipla
paramétricas e não-
Equivalência
paramétricas
Maior do que
Anteriores mais:
Razão conhecida
Racional entre dois intervalos
Média geométrica
Coeficiente de Variação
Razão conhecida
entre dois valores
Cada coluna relaciona, cumulativamente para baixo, as estatísticas aplicáveis.
42

Tabela 5.2 - Provas estatísticas adequadas para os níveis nominal, ordinal e intervalar.
Nível de Mensuração Nominal Ordinal Intervalar
Prova binominal Prova de Kolmogorov-
Uma amostra Prova qsi2 de 1 Smirnov
amostra Prova de iterações
Prova de Prova de Walsh
Prova dos sinais
Relacionadas McNemar para Prova de
Prova de Wilcoxon
significância Aleatoridade
Prova da Mediana
Duas Prova de Mann-Withney
Prova de
amostras Prova de Fisher Prova de Kolmogorov-
Aleatoridade
Independentes Prova qsi2 de 2 Smirnov
para duas
amostras Prova de iterações de
amostras.
Wald-Wolfowitz
Prova de Moses
Prova Q de
Relacionadas Prova de Friedman
Cochran
K
Prova da extensão da
amostras independentes Prova qsi2 de K mediana
amostras
Prova de Kruskal-Wallis
Coef. de correlação de
Medida não Spearmann
Coeficiente de Coef. de correlação de
paramétrica de contingência Kendall
correlação Coef. de concordância de
Kendall
Cada linha relaciona, cumulativamente para a direita, as estatísticas aplicáveis.

4. - Leitura Recomendada
Capítulo 3 de Siegel, 1975
Capítulo 2 de Costa, 1992.
Capítulos 1, 2, 3, 4 e 5 de GOMES, 1987.
Capítulos 6 e 7 de WEATHERALL, 1970
43

5. - Referências Bibliográficas

BERQUÓ, E. S. e cols. Bioestatística. S. Paulo: EDUSP, 1980.

COSTA, S.F. Introdução Ilustrada à Estatística. 2ª Ed. São Paulo: Harbra Ltda, 1992.

GOMES, F.P. Curso de Estatística Experimental. 12ª Edição. São Paulo: Ed. Nobel, 1987.

ROSNER, B. Fundamentals of Biostatistics. Boston: Duxbury Press, 1986.

SIEGEL, S. Estatística Não-paramétrica. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1975.

SNEDECOR, G. W. e COCHRAN, W. S. Statistical Methods. Ames: Iowa Univ. Press, 1980.

TUKEY, J.W. Exploratory data analysis. Massachusetts: Addison-Wesley Publishing, 1977.

WEATHERALL, M. Método Científico. S. Paulo: EDUSP - Polígono, 1970.


44

A Divulgação da Pesquisa
“Nossas possibilidades de conhecimento são muito, e até
tragicamente, pequenas. Sabemos pouquíssimo, e
aquilo que sabemos, sabemo-lo muitas vezes
superficialmente, sem grande certeza. A maior parte de
nosso conhecimento é apenas provável. Existem
certezas absolutas, incondicionais, mas estas são raras.”
BOCHENSKI (1961)

1. - Introdução
Um dos objetivos da ciência é o de desvendar os fenômenos, conhecer e dominar a
natureza, com a finalidade de promover o bem estar da humanidade. Compete ao pesquisador,
externar os resultados de suas pesquisas, sem o que estas permanecerão inaproveitadas e não
passarão a fazer parte do acervo de conhecimentos disponíveis.
Esta divulgação é feita de vários modos:
‹ em monografias (teses, dissertações, relatórios, etc.), que representam o
tratamento escrito de um tema específico que resulte da investigação científica, com a finalidade
de apresentar uma contribuição relevante ou original e pessoal à ciência.
‹ em artigos para publicação em periódicos especializados.
‹ oralmente em congressos, simpósios e outros eventos científicos.

A divulgação da pesquisa deve obedecer todas as regras gramaticais e ortográficas da


Língua Portuguesa. A redação deve ter uma construção lógica e concatenada, com um texto
dissertativo e impessoal, com os fatos relatados no passado (trata-se da apresentação por escrito
de uma pesquisa já realizada), na 3ª pessoa (do singular ou plural, conforme o caso) do pretérito
perfeito. Como toda publicação científica, as unidades e simbologia devem, obrigatoriamente,
obedecer o Sistema Internacional de Medidas (SI), assim como toda as Normas Brasileiras da
ABNT (desde o formato do papel - A4 conforme a PB-4R - até a elaboração das referências
bibliográficas, conforme a NBR 6023/89). Deve lembrar também das normas para publicação
da UNESP (em 4 volumes), confeccionadas dentro dos preceitos da Normas Brasileiras.
45

2. - Estrutura de uma monografia


Basicamente, uma monografia (tese, dissertação, relatório, etc.) deve ser estruturada
conforme a tabela abaixo:

Capa
Folha de rosto (verso: ficha catalográfica)
E Termo de aprovação
Dados curriculares do autor
S Dedicatória
Pré-texto Agradecimentos
T Sumário
Lista de figuras
R Lista de tabelas
Lista de abreviaturas (glossário)
U Resumo

T Introdução
Revisão da Literatura
U Proposição
Texto Material e Métodos
R Resultados
Discussão
A Conclusões

Referências Bibliográficas
Pós-texto Resumo em outro idioma (abstract)
Anexos

O conteúdo de cada parte do trabalho é apresentado detalhadamente em “Normas para


publicação da UNESP: Dissertações e Teses - Vol. 4”.

3. - Artigos para publicação em periódicos


A publicação de trabalhos científicos em revistas segue estritamente as normas próprias
de cada revista. Informações de carácter geral podem ser obtidas em “Normas para publicação
da UNESP: Artigos de publicações periódicas - vol. 1”.
46
4. - Leitura Recomendada
As 4 publicações da UNESP, 1994.
Capítulo V de CERVO e BERVIAN, 1993.
Capítulos 11 e12 de MEDEIROS, 1996.
Capítulos VI e VII de SEVERINO, 1996.
Capítulos 12 e 13 de BARRASS, 1986.
3ª Parte de ASTI-VERA, 1976.
Capítulos 5 e 6 de ECO, 1977.
Capítulos 5, 6 e 7 de LEITE, 1978.
3ª Parte de SALOMON, 1972

5. - Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Apresentação de
dissertações e teses: projeto 14:02.02.002. Rio de Janeiro, 1984. 18p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Revisão Tipográfica: NBR


6025. Rio de Janeiro, 1980. 11p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Referências


Bibliográficas: NBR 6023. Rio de Janeiro, 1989. 19p.

ASTI-VERA, A. Metodologia da pesquisa científica. Porto Alegre: Editora Globo, 1976.

BARRASS, R. Os cientistas precisam escrever. 2ª Edição. São Paulo: Ed. T. A. Queiroz, 1986.

ECO, U. Como se faz uma pesquisa. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977.

LEITE, J. A. A. Metodologia de elaboração de teses. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978.

MEDEIROS, J. B. Redação Científica: A prática de fichamentos, resumos e resenhas. 2ª


Edição. São Paulo: Editora Atlas, 1996.

POURCHET CAMPOS, M. A. Metodologia da Investigação Científica. S. Paulo, 1981.

SALOMON, D.V. Como fazer uma monografia. 2ª Edição. Belo Horizonte: Editora interlivros
de Minas Gerais, 1972.

SEVERINO, A. F. Metodologia do Trabalho Científico. S. Paulo: Cortez Editora, 1996.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Coordenadoria Geral de Bibliotecas, Editora


UNESP. Normas para publicações da UNESP. São Paulo: Editora UNESP, 1994. 4 v.
Vol. 1: Artigos de publicações periódicas.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Coordenadoria Geral de Bibliotecas, Editora


UNESP. Normas para publicações da UNESP. São Paulo: Editora UNESP, 1994. 4 v.
Vol. 2: Referências bibliográficas.
47

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Coordenadoria Geral de Bibliotecas, Editora


UNESP. Normas para publicações da UNESP. São Paulo: Editora UNESP, 1994. 4 v.
Vol. 3: Preparação e revisão de textos.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Coordenadoria Geral de Bibliotecas, Editora


UNESP. Normas para publicações da UNESP. São Paulo: Editora UNESP, 1994. 4 v.
Vol. 4: Dissertações e teses.
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Apresentação da Pesquisa
em Eventos Científicos

1. - INTRODUÇÃO
Se considerarmos a pesquisa como uma contribuição à Ciência, então a divulgação dessa
pesquisa à comunidade científica se torna obrigatória. Não existe qualquer razão para restringir
os resultados e conclusões de uma pesquisa apenas aos seus participantes.
Mesmo uma monografia (tese, dissertação, relatório, etc.), quando defendida
publicamente, tem a sua divulgação restrita a aquela universidade ou câmpus universitário,
tornando-se necessário levar os seus dados e conclusões a uma comunidade maior.
Os principais fóruns de divulgação de trabalhos científicos são os simpósios, congressos,
encontros, etc.. Neste ambiente há o debate, a troca de informações, o contato com outros
pesquisadores, a observação das principais tendências, ( ... ), enfim, há a total atualização do
pesquisador com o mundo científico.

2. - A PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS


A participação do pesquisador em eventos científicos pode se dar de várias maneiras, de
acordo com as normas do congresso.
Normalmente, o evento exige um resumo da pesquisa, que pode ter um limite de palavras
(é bastante comum os congressos aceitarem resumos com até 200 ou 300 palavras), ou uma área
delimitada em uma folha padrão do congresso. O resumo deve conter os principais aspectos da
pesquisa sendo avaliado se o conteúdo da pesquisa se enquadra no enfoque do congresso. Um
bom esquema para resumo seria: um primeiro parágrafo introdutório, destacando a importância
da pesquisa, justificativas e objetivos; um segundo parágrafo destacando a metodologia
empregada, com o método principal, amostras, delineamento experimental, principais
equipamentos usados e forma de tratamento dos dados; um terceiro parágrafo com a síntese dos
resultados; e um quarto parágrafo com as conclusões (que devem responder aos objetivos da
pesquisa). É comum também os congressos solicitarem algumas (3 ou 4) palavras-chave para
49
um melhor enquadramento da pesquisa. Nos resumos não é comum apresentar-se citações de
outros autores, pois não há espaço para as referências bibliográficas.
O resumo da pesquisa sendo considerado aprovado pela Comissão Científica do
congresso, então será necessário enviar o trabalho completo. Este deverá ser redigido
rigidamente de acordo com as normas do evento (tamanho, posição, forma da letra; tamanho do
papel, dimensões das margens, espaço entre linhas, etc.). O número de páginas também é
variável: alguns eventos pedem um “resumo expandido” com até 3 páginas, outros com até 6
páginas, havendo congressos que aceitam até dez páginas. No trabalho completo é possível
descrever com mais detalhes as diversas etapas da pesquisa.

3. - A APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
Durante o congresso será reservado um tempo para que o pesquisador exponha para a
comunidade científica a sua pesquisa. Atualmente as duas formas mais utilizadas para
apresentação são:
§ apresentação oral;
§ apresentação através de pôster.

As duas formas têm suas vantagens e desvantagens: na apresentação oral o pesquisador


pode expor suas idéias para um grande número de pessoas (auditórios de até 500 pessoas), tendo
a oportunidade de apresentar uma maior quantidade de dados em transparências, slides e filmes;
por outro lado, devido ao grande número de trabalhos, os congressos têm reduzido o tempo de
apresentação (atualmente o mais comum é dispormos de 10 minutos de exposição e 5 minutos
para perguntas). Outra desvantagem da exposição oral é a dificuldade das línguas em congressos
internacionais.
Na apresentação através de pôster, o pesquisador deve confeccionar um pôster em
tamanho normalizado que ficará exposto durante um determinado intervalo de tempo (pode ser
uma ou duas horas ou até um dia todo, dependendo do espaço disponível). O autor da pesquisa
deverá permanecer ao lado pôster em momentos determinados pelo congresso. Nesta forma de
apresentação o contato entre os pesquisadores é maior, havendo um maior diálogo e discussão
sobre a pesquisa, mas apresenta as desvantagens de não se conseguir colocar num pôster
(normalmente de 80 x 80 cm) todas as informações sobre a pesquisa (tabelas, gráficos,
fotografias), além de tirar o formalismo da apresentação oral.
Na apresentação oral devemos usar algum tipo de projeção dos dados da pesquisa para
podermos cumprir o tempo de 10 minutos. É importante lembrar que, nos eventos mais
importantes, o tempo de apresentação é controlado rigidamente. Isto ocorre porque são
apresentados trabalhos concomitantemente em várias salas, devendo haver o sincronismo entre
elas. Podemos usar o retroprojetor, o projetor de slides, ou o data-show. Como sugestão, eis
uma proposta de quadros que pode ser apresentada:
‹ 1º Quadro - Título da pesquisa, autor (ou autores), universidade (ou escola)
onde foi desenvolvida a pesquisa, departamento de ensino ou laboratório a que está ligada a
pesquisa, órgão financiador, data (usar uma folha inteira da transparência ou slide).
‹ 2º Quadro - Escrever em forma de itens a importância (se possível citar algum
dado), a justificativa e os objetivos da pesquisa (usar também uma folha inteira da transparência
ou slide).
‹ 3º Quadro - Expor a metodologia empregada: métodos, técnicas, teorias,
equipamentos usados. A apresentação de alguma fotografia (slide) dos ensaios é importante.
‹ Resultados: deve ser apresentado em duas ou três transparências (ou slides),
com a compilação final dos dados em tabelas e gráficos. Os dados devem ser finais para que se
50
tenha uma visão do resultado final da pesquisa (dados intermediários não interessam). Caso o
tempo permita, também é interessante apresentar um quadro comparativo dos resultados da
pesquisa em relação aos resultados de outros pesquisadores.
‹ Último quadro: apresentar as conclusões em forma de itens. Lembrar que as
conclusões devem responder aos objetivos da pesquisa.
Deve-se sempre lembrar que do tamanho da letra a ser projetada: ela depende do tamanho
do auditório e do tamanho da imagem do projetor. Como estes dados são difíceis de se avaliar,
deve-se sempre usar letra maior que 18 pontos (word for windows) de traço grosso.
Para a apresentação do trabalho na forma de pôster não existem regras. Deve-se lembrar
que o pôster será observado de uma distância entre 1 a 2,5 metros, portanto as letras, gráficos,
fotografias, etc. devem levar em consideração esta distância. Como a quantidade de pôsteres
apresentada ao mesmo tempo é grande, o trabalho deve chamar a atenção em poucos segundos
de observação. Deve-se evitar longos textos, mas optar por dados de fácil compreensão. Caso
haja interesse por detalhes do trabalho, o autor esclarecerá.

4. - OS ANAIS DO EVENTO
Todos as pesquisas publicadas no evento são publicadas no livro do congresso (anais),
que são distribuídos a todos os participantes do congresso. Esta publicação torna a pesquisa
conhecida no mundo todo, pois passa a fazer parte de grande número de bibliotecas, podendo o
resumo ser acessado por rede de computadores. Existem 2 tipos anais: os anais de resumos dos
trabalhos (que contém apenas a página de resumo do trabalho), ou os anais de trabalhos
completos.
A tendência mundial é a publicação apenas dos anais de resumos, ou a publicação dos
anais de trabalhos completos em CD-ROM. A publicação dos anais de trabalhos completos em
forma de livro é inviável para qualquer congresso.

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