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Iuri Crema1
RESUMO
INTRODUÇÃO
É pouco provável que um ser humano passe pela vida sem enfrentar situações de
estresse. O mais plausível é que este tipo de evento seja uma constante no cotidiano de qualquer
pessoa, independente de sua situação financeira, localização geográfica, etnia ou estilo de vida.
A maneira com a qual um indivíduo enfrenta, reage e adapta-se ao estresse pode influenciar
significativamente o curso da sua vida, a sua saúde e os seus relacionamentos. Tais
enfrentamentos, reações e adaptações dependem em grande parte de como os eventos ou
estressores - os fatores causadores de estresse - tanto internos quanto externos, são percebidos
1
Pós-graduando em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Universidade Estácio. E-mail: icrema@gmail.com
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por este indivíduo. Se algum fator é interpretado como ameaça em potencial à sua integridade
física, (social ou emocional), reações psicossomáticas2 quase imediatas podem ser
desencadeadas para resguardá-lo do risco percebido. A questão é que essa percepção pode ser
moldada por uma miríade de fatores individuais, culturais, sociais e ambientais, que definem
de forma pessoal e intrínseca o que é considerado um fator de risco. Portanto, a interpretação
do que representa ou não uma ameaça torna-se muito mais uma forma particular e subjetiva do
sujeito observar e assimilar suas vivências, do que um fator objetivo e evidente a qualquer outro
indivíduo.
Se não é possível viver sem estresse, aprender a conviver e adaptar-se a ele de maneira
saudável é uma questão de grande importância para a qualidade de vida. Uma reação impulsiva
e desatenta pode levar o indivíduo a correr riscos maiores do que os impostos pelo próprio fator
percebido como ameaça, ou a viver em estados mentais que podem tornar-se patológicos a
longo prazo. As respostas automáticas de enfrentamento são frutos de um longo processo
adaptativo que leva a pessoa a lidar com seus estressores da maneira que lhe foi possível
assimilar durante a vida, normalmente reações habituais e automáticas aos estímulos
percebidos, detendo-se para pensar a respeito das suas ações apenas posteriormente. Entretanto,
existem práticas que possibilitam ampliar o controle e introduzir mais atenção a estas reações,
aumentando a possibilidade de ações conscientes ao invés da simples reatividade a estímulos
que possam parecer ameaçadores.
Cuidar da saúde mental pode ser um hábito cotidiano de pessoas saudáveis. Afinal, por
que é tão comum, por exemplo, escovar os dentes após as refeições e procurar um dentista para
realizar uma limpeza ou outras práticas profiláticas da saúde bucal, sem esperar surgir uma dor
insuportável ou a necessidade drástica de extrair um dente, enquanto procurar cuidados mentais
parece ser algo tão cheio de tabus e estigmas que apenas torna-se uma necessidade quando já
se está em crise ou sofrimento em estágios avançados? Sem dúvida, hábitos preventivos de boa
higiene corporal são fundamentais para a manutenção da saúde e qualidade de vida, mas o que
impede de fazer o mesmo com a saúde psíquica? Neste trabalho serão apontados alguns
resultados considerados positivos do uso regular de técnicas de meditação e mindfulness no
cuidado preventivo em saúde mental.
O objetivo deste estudo é explorar, de forma introdutória e instigante, os efeitos de
utilizar técnicas de meditação e mindfulness como mediadoras da percepção dos fatores de
estresse e no enfrentamento de situações estressantes, para avaliar a hipótese de que é possível
2
Tanto orgânicas quanto psíquicas.
3
obter bons resultados ao empregar estas práticas, tanto como terapias preventivas (de efeito
profilático na saúde física e mental) quanto integradas ao tratamentos de patologias já
existentes. Visa-se, também, introduzir conceitos fundamentais como estresse e normose;
detalhes das reações usuais a situações estressantes; algumas consequências para a saúde de
viver sob influência constante do estresse; definições de meditação e mindfulness, suas
aplicações na adequação da percepção, atenção e controle das reações aos estressores,
sustentadas por pesquisas e estudos clássicos, pertinentes ao tema.
Pesquisar e validar metodologias simples, práticas e de baixo custo, capazes de auxiliar
pessoas a conviver com situações de estresse de forma mais saudável, pode ter um considerável
valor social e econômico. Ainda que existam avanços importantes na medicina e na
farmacologia dentro desse mesmo tema, as práticas de mindfulness e meditação não atuam de
forma antagônica ou substitutiva às soluções usuais da psiquiatria, psicologia ou farmacologia,
e sim de maneira integrativa e complementar, potencializando seus resultados. Pelo prisma
econômico, tecnologias leves de cuidado, que independem de recursos complexos e onerosos,
podem ajudar a reduzir custos sociais e administrativos dentro dos sistemas de saúde. Atuar na
prevenção, educação e implementação de hábitos saudáveis para a manutenção da saúde da
população pode custar menos do que tratar de alguém já adoecido, em crise, ou vitimado pelas
consequências das reações automáticas aos estressores. Por estes motivos, investigar técnicas
dentro deste contexto foi a escolha para o tema desta pesquisa.
Como caminho metodológico para realização do presente estudo, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica utilizando ferramentas de busca para encontrar artigos e pesquisas em
português, inglês ou espanhol, que contivessem as expressões exatas ou relacionadas a
mindfulness, meditação, yoga, normose e estresse, e pudessem contribuir com o tema abordado.
Trata-se de um artigo que busca introduzir o leitor ao tema, portanto o referencial teórico não
se limitou a pesquisas recentes; foram utilizados também livros e artigos clássicos, de autores
relevantes em suas áreas de conhecimento, que dialogassem com a temática em referência e
reunissem conceitos básicos sobre os elementos fundamentais desta pesquisa; explanados e
inter-relacionados no decorrer do texto.
Também pode ser interessante a possibilidade do leitor, seja ele pesquisador ou não, ter
a oportunidade de colocar este estudo à prova em seu próprio cotidiano. Afinal, tratam-se de
técnicas simples, isentas de efeitos colaterais danosos, que podem ser exercitadas em momentos
de ociosidade, praticamente em qualquer hora e lugar.
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LUTA OU FUGA
HOMEOSTASE E ALOSTASE
prevenção de problemas, minimizar custos para o organismo e promover uma adaptação mais
eficaz.
Sterling (2004, p. 5) propõe também que a alostase seria um conceito capaz de substituir
o da homeostase, pois conecta-se mais facilmente com os princípios modernos da fisiologia e
poderia auxiliar a compreender melhor o que a homeostase não conseguia explicar: as principais
doenças modernas como hipertensão, obesidade, diabetes e drogadição.
Dentro de uma visão sistêmica mais ampla, é possível perceber as funções da
homeostase e alostase como complementares e não suplentes ou antagônicas; afinal, a primeira
regula funções dentro de uma faixa bastante estreita de parâmetros para promover a
sobrevivência imediata do organismo, enquanto a segunda regula a manutenção da saúde e
bem-estar dentro de uma espectro bem mais amplo (KABAT-ZINN, 2017, p. 358).
Bruce McEwen, reconhecido pesquisador dos efeitos do estresse, descreveu que, através
da alostase, diversos sistemas do organismo - como o nervoso autônomo, o cardiovascular,
metabólico e imunológico - protegem o corpo respondendo aos estressores internos ou externos.
Ele observou que o núcleo de resposta do corpo a desafios, sejam eles uma situação perigosa,
uma infecção, viver em algum lugar insalubre ou fazer um discurso em público, é duplo:
primeiro dispara uma resposta alostática que inicia um caminho complexo de adaptação e, mais
tarde, desativa essa resposta quando a ameaça já passou. Entretanto, quando esta desativação
se torna ineficiente, o desgaste que o organismo pode sofrer durante semanas, meses ou anos
de esforço para lidar com os estressores e modular as reações fisiológicas e psíquicas disparadas
por eles, foi considerada por McEwen como carga alostática, fator que pode resultar em
diversas consequências fisiopatológicas (McEWEN, 1998).
ESTRESSE
O termo estresse surgiu alguns anos depois das pesquisas de Walter Cannon, cunhado
por Hans Selye, e definido como “resposta não específica do corpo a qualquer demanda, seja
ela causada por, ou resultando, em condições favoráveis ou não favoráveis” (1946 apud
SOUSA; SILVA; GALVÃO-COELHO, 2015, p. 3). Selye denominou essas respostas
fisiológicas generalizadas de Síndrome da Adaptação Geral (SAG): a forma com a qual os
organismos lidam com as ameaças, pressões e mudanças, denominadas por ele de estressores,
com o objetivo de manterem-se saudáveis e equilibradas.
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Entretanto, caso o ocorrido exerça uma carga emocional que extrapole o limite da
energia adaptativa do sujeito, sempre que ele voltar a cruzar o bosque poderá ativar os mesmos
mecanismos de enfrentamento, reações de alarme e hiperexcitabilidade, disparados durante a
tentativa de assalto, preparando-o antecipadamente para reagir a um assaltante imaginário que
o espreita na escuridão. Neste caso, o bosque, o ambiente e o frescor da noite continuam os
mesmos; o que mudou foi a percepção do indivíduo, que passou e relacionar o trajeto a
elementos que lhe causam terror. Caso seja impossível encontrar outro caminho de volta para
casa, talvez o percurso passe a ser um fator de estresse crônico. Pode ser que, ao acordar pela
manhã ele comece temer antecipadamente o trajeto noturno pelo bosque, e sofra de ansiedade
ainda em sua cama e na segurança do seu lar; ou que passe a perder o sono durante noites
consecutivas, revivendo a experiência terrível pela qual passou e receia voltar a passar na
próxima noite. Caso isso se torne algo habitual e insalubre, o estresse fica categorizado como
distresse. Assim, um padrão comportamental, capaz de reforçar os males derivados do distresse
e da carga alostática constante, pode começar a surgir; caso o indivíduo não consiga, com o
tempo e novas travessias tranquilas, superar ou adaptar-se ao fator estressor.
Algumas pessoas podem ter sua saúde comprometida por um longo período de padrões
comportamentais de reatividade ao estresse, que irão retroalimentar fatores estressores
existentes apenas em sua memória ou em projeções futuras, quando no momento presente não
há ameaça alguma. Com o passar do tempo, alguns pensamentos e sentimentos podem tornar-
se estressores internos, capazes de representar tanto risco quanto animais selvagens ou
assaltantes sorrateiros reais, e sobrecarregar a capacidade de resposta do organismo de forma
ainda mais intensa; afinal não é sempre que se encontram ameaças concretas no momento
presente; já na mente, elas podem existir dia e noite, independente de onde se esteja, disparando
reações de estresse crônico no organismo, gerando uma enorme carga alostática e estimulação
constante do sistema nervoso simpático. A longo prazo isto pode resultar tanto em distúrbios
fisiológicos, como arritmia cardíaca, pressão alta, dores de cabeça, transtornos do sono e
problemas digestivos; quanto em problemas psicológicos, como ansiedade e depressão
crônicas; ou numa combinação de ambos. Quando o desgaste chega a este nível, é denominado
de sobrecarga alostática (KABAT-ZINN, 2017, p381). Encontrar uma forma eficiente de lidar
com as emoções, pensamentos e sentimentos, que traga uma percepção clara do que seria um
fator estressor, e auxilie a enfrenta-lo de forma mais consciente e hábil, pode ser um fator crucial
na manutenção da saúde.
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Figura 1
Para tornar possível lidar com os incontáveis estressores no decorrer da sua existência,
sejam eles crônicos ou únicos, evitáveis ou inexoráveis, o indivíduo desenvolverá estratégias
para enfrentar e adaptar-se às pressões da vida, mantendo algum equilíbrio. Estas estratégias
podem ser consideradas tão únicas quanto um projeto terapêutico singular; entretanto,
costumam ser desenvolvidas exclusivamente pelo indivíduo, sem o auxílio de uma escuta
profissional qualificada que o oriente, portanto podem variar de saudáveis a prejudiciais, de
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acordo com as ferramentas e informações que a pessoa pôde obter e aprender com suas
experiências.
Assim como alguns descobrem que é possível ajustar-se ao estresse cotidiano
caminhando todos os dias, dedicando-se a algum hobby ou exercitando-se regularmente, outros
poderão começar a beber, fumar ou comer exageradamente como forma de compensar o
sofrimento que enfrentam. No fim, o resultado dos processos adaptativos ao estresse, sejam
quais forem, costumam ter um desfecho semelhante: mudanças de hábitos que podem ajudar a
melhorar a saúde e qualidade de vida ou a somar sofrimento ao sofrimento e, em última
instância, levar ao adoecimento. É interessante notar que hábitos, saudáveis ou prejudiciais, não
estão limitados a indivíduos, mas podem acometer também sistemas sociais. Sobre esta questão,
Pierre Weill (2003, p.17) observa:
Normose foi o termo trabalhado por Pierre Weil, Jean-Yves Leloup e Roberto Crema
(2003) para definir o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos e hábitos de pensar
ou de agir, aprovados por um consenso ou pela maioria de pessoas de uma determinada
sociedade, que levam ao sofrimento, doenças ou mortes e produzem, como característica
comportamental, algum hábito de pensar, sentir e agir de natureza patogênica ou letal, embora
seja considerado, dentro de um certo consenso social, como normal. Ou seja, a Normose ocorre
quando a normalidade se torna patológica; uma adaptação adoecedora a uma situação
desequilibrada.
Em caso de desatenção, essa normalidade adoecedora poderá ditar, de maneira
impositiva e distorcida, o que é ou não um estressor, e maneiras deturpadas de como lidar e
ajustar-se a eles, levando muitas vezes ao distresse. À vista disso, é possível entender o quanto
pode ser difícil para alguém conseguir, por exemplo, adaptar-se saudavelmente a uma situação
de traição conjugal quando a reação habitual da sociedade à qual pertence reconhece como
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normal ir para o bar e beber até perder a consciência, ou tomar atitudes agressivas e vingativas
para com quem o traiu. Neste contexto, alguém que nunca utilizou drogas ou usou de violência
para resolver um conflito dentro do relacionamento, pode ser convencido a fazê-lo; afinal, o
consenso social no qual se sente incluído sugere que isso é algo bastante normal. Entretanto,
se alguém se aproxima e diz que existem outras formas, talvez mais saudáveis e eficientes, de
encarar a dor desta situação, possivelmente será rechaçado, ridicularizado ou mesmo excluído
por representar algo diferente do que a maioria das pessoas ao seu redor afirmam e acreditam,
e pode ser interpretado como uma transgressão aos costumes sociais consolidados. Desta forma,
além do indivíduo ter a necessidade de enfrentar e adaptar-se aos seus estresses pessoais,
também deverá equipar-se de muito discernimento para escapar de fatores sociais que podem
tornar-se novos estressores ou retroalimentar os já existentes e colaborar com o
desenvolvimento de enfrentamentos adaptativos prejudiciais que reforcem ainda mais a
normose na sociedade, configurando um ciclo de reações que favorece o adoecimento.
Para compreender melhor o que é ou não um estressor e distinguir um processo de
adaptação adoecedor de um saudável - mesmo participando de contextos sociais normóticos -,
pode ser muito valioso praticar a plena atenção e meditação.
MEDITAÇÃO
Adianto-me para esclarecer que não estou usando esta palavra no seu sentido
ocidental, de reflexão, intelectualização e busca mental de soluções. Estou me
referindo ao significado oriental de meditação, que extrapola a mente e o intelecto: o
olhar para dentro de si mesmo plenamente atento, numa atitude de não fazer, de
receptividade e passividade consciente; o que os taoistas chamam de wu-wei, agir pelo
não-agir; o que Krishnamurti denomina percebimento sem escolha e vigilante
passividade;[...] Há centenas de métodos que conduzem à meditação, desde o mais
simples testemunhar da própria respiração a sofisticadíssimos exercícios e disciplinas
internas que exigem complicadas asanas (posturas), elaborados mudras e dificílimos
bandas. Desde os iogas clássicos ensinadas a Arjuna pelo Senhor Krishna na
“Sublime Canção” do Bhagavad Gita e dos “Aforismas” de Pantajali, e mantras e
mandalas do Budismo Tibetano, ao Tantra, za-zen e danças sufis, cada pessoa pode
optar por um método de meditação que seja mais adequado às suas particularidades,
até encontrar seu próprio e único caminho.
3
Prática tradicional da filosofia hindu de exercícios físicos com base em movimentos e posturas que visam
facilitar o estado de meditação. Parte de sua teoria e prática foi codificadas no Yoga Sutra, cuja autoria é
atribuída ao mestre Pantajali que viveu entre o século II e III d.C.
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antigas, onde passou por inúmeras ligações com sistemas religiosos e filosóficos, tornando
muitas vezes indistinta a separação entre uma coisa e outra.
A prática meditativa pode ganhar diversos formatos, propósitos e contextos; para
efeitos práticos, o que será abordado neste trabalho estará restrito à compreensão budista da
Anapanasati Sutta que baseia-se na noção de respirar conscientemente, ou seja, com o foco da
atenção voltado para o que são consideradas as quatro estruturas de referência da consciência
plena: o corpo, as sensações, a mente e as qualidades mentais (BROWN, GELBARG, 2009, p.
55). Este exercício consiste em sentar-se no chão, sobre alguma pequena almofada ou mesmo
em uma cadeira, de maneira confortável, mantendo a coluna ereta; fechar os olhos e procurar
manter a atenção focada, inicialmente, na respiração: inspirar pelas narinas, dar uma pequena
pausa e expirar pela boca, apenas observando os movimentos e sensações de respirar por alguns
minutos, para então levar o foco da atenção às quatro estruturas mencionadas, seja
alternadamente ou enfatizando apenas uma por sessão, conforme a prática escolhida.
Não há uma meta ou objetivo ao meditar. Não se medita para fazer alguma dor
desaparecer ou para alcançar a iluminação, embora tudo isso possa ocorrer como consequência
desta prática: conectar-se conscientemente com o instante presente e com o corpo, perceber -
evitando interferir - como está a respiração, as sensações corporais, emoções, ruídos e odores,
presentes internamente e ao redor e procurar aceitar o que se percebe da forma como aquilo se
manifesta. De maneira simplificada: ser quem se é, enquanto se está aonde se está,
intencionalmente. Quando a mente divagar do foco, busca-se apenas notar quais pensamentos
se revelam e de onde surgem, sem lutar contra seu aparecimento, nem se apegar ou se deixar
levar por eles; simplesmente permitir que venham e que passem, observando o seu fluxo e
trazendo, assim que possível e de maneira paciente, a atenção de volta para as estruturas
supracitadas. Esta prática é justamente o oposto de como a mente pode estar habituada a
funcionar, portanto sua tendência será de divagar, e o exercício será de trazê-la de volta ao foco
desejado, tantas vezes quantas forem necessárias. Apenas praticando pode-se descobrir como
meditar é algo inicialmente trabalhoso, complexo e, caso não se tenha entendido o sentido mais
profundo do exercício, bastante frustrante. Ao praticar, é possível perceber, com base empírica,
que a frustração pode advir da ilusão da separatividade4 (WEIL, 1993, p.53) e do senso de
imediatismo.
Outro conceito adulterado, mas bastante difundido, é de que a meditação “tira você da
realidade”; com alguma prática entende-se que é justamente o oposto: na meditação é possível
4
Um conceito bastante amplo, mas aplicado neste estudo como a ideia de que corpo e mente são objetos
distintos, domínios apartados e dissociados, cujo paradigma e origem serão abordados mais adiante.
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estar completamente imerso e entregue à realidade nua e crua, de forma consciente, o que,
quando alcançado, pode trazer uma enorme sensação de paz. Como qualquer outro exercício, é
necessário praticar meditação cotidiana e sistematicamente, por um período razoável de tempo,
antes de experimentar com profundidade o que é meditar e desfrutar dos seus benefícios.
Numa breve e superficial elucidação, meditar seria acolher o instante presente, assim
como ele se apresenta, com todas as sensações físicas e percepções sensoriais que nele surgirem,
evitando julgar, selecionar, excluir ou apegar-se ao que se passa dentro ou fora mente. Desta
forma aprende-se gradualmente como adquirir algum controle sobre o que ou como se pensa;
por que se faz o que se faz tão repetida e automaticamente. Torna-se possível perceber que
corpo e mente estão separados apenas conceitualmente, no arraigado senso comum oriundo do
paradigma ocidental, cartesiano e mecanicista, ao qual se pode estar apegado. Na prática ambos
são partes interconectadas e inseparáveis de um todo, relacionando-se ininterruptamente para
produzir, neste exato instante, o que e quem se está sendo.
Meditar é um exercício que auxilia a desenvolver a consciência de momento a
momento, sem julgamento, cultivada ao focar a atenção, de maneira intencional, a detalhes
comuns, habitualmente desconsiderados pelo julgamento de que, aparentemente, eles sempre
estiveram e sempre estarão ali. Esta é precisamente a definição de Jon Kabat-Zinn (2017, p.41)
para mindfulness.
Elementos geradores de estresse podem estar contidos nos modelos ou padrões adotados
por determinado agrupamento social como uma visão de mundo, denominada de paradigma.
Um dos mais fortes paradigmas ainda vigentes é o Newton-Cartesiano. Tanto Descartes quanto
Newton, em meados do século XVII, tiveram papel fundamental na Revolução Científica, um
dos pilares da ciência moderna cuja colossal importância na evolução da metodologia científica
e para a maioria dos campos de conhecimento, é amplamente reconhecida. Um dos legados
desse paradigma foi o entendimento de Descartes de que mente e corpo são coisas
completamente distintas (DESCARTES, 1973, p. 23).
Embora séculos tenham se passado e inúmeros estudos e descobertas sobre este tema
tenham sido feitos, este parecer é repetido até hoje como verdade incontestável no senso
comum. Sobre o tema, numa abordagem holística5, Jon Kabat-Zinn (2017, p. 226, grifo do
autor) menciona:
5
A perspectiva, ou abordagem holística é a que busca um entendimento dos fenômenos na sua totalidade,
incluindo o todo e suas partes (CREMA, 1989).
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característica do corpo ou da mente, porque corpo e mente não são dois domínios
separados - estão interligados de modo muito íntimo e totalmente integrados. A nova
perspectiva reconhece a importância central de se pensar em termos de inteireza e
interconexão, e a necessidade de prestar atenção às interações entre mente, corpo e
comportamento em qualquer esforço abrangente para compreender e tratar as doenças.
[...] Essa transformação é o que se chama de mudança de paradigma: a passagem de
uma visão de mundo para outra completamente diferente.
Esta visão fragmentada, tende a separar o que está dentro do que está fora do indivíduo
em universos independentes e conflituosos, onde as soluções e responsabilidades costumam ser
apontadas no meio externo. Tal fragmentação promove um ciclo destrutivo que mina sua paz
interior, e atesta como a visão de mundo à qual ele está apegado pode gerar estados mentais
capazes de favorecer o adoecimento do corpo e da mente.
Portanto, o desafio consiste em recuperar uma visão de mundo capaz de integrar o que
se habituou a separar; em construir cotidianamente, no instante presente e dentro de cada um,
o equilíbrio que pode levar à paz no âmbito individual, social e ambiental. Esta visão de mundo
mais moderna, denominada de paradigma holístico (CREMA, 1989), busca uma consciência
integrativa com o foco da atenção no momento presente, uma compreensão bastante
convergente com a perspectiva das tradições orientais, da física quântica (CAPRA, 1985), com
o conceito de meditação, e em consonância com a concepção de atenção plena.
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mente de julgar, o que seria tão insensato quanto querer impedir pensamentos de surgirem
durante a meditação. O não julgar é exercitado ao levar a atenção aos julgamentos, reconhecê-
los, captar deles o que possa ser benéfico e deixá-los ir, sem apego ou reatividade compulsiva
e inconsciente. É interessante notar que o julgamento imediato pode ser a raiz de muitos dos
atos de preconceito, discriminação e agressividade, às vezes reforçados por traços normóticos
da sociedade. Portanto, o exercício de observar e suspender os julgamentos pode ter um efeito
positivo sobre essas questões.
2-Paciência é uma atitude que ajuda a desenvolver uma habilidade bastante útil em
momentos de agitação mental: conseguir pausar o ritmo do cotidiano por alguns instantes. Algo
terapêutico quando a rotina ganha uma cadência vertiginosa ou caso surjam impulsos
incontroláveis de preencher cada instante com pensamentos, ações e informações. Também
ajuda a aceitar a tendência da mente a divagar e dispersar-se, mesmo quando deseja-se o oposto;
a compreender que não é necessário deixar-se levar por todos os devaneios que surjam; que é
possível aceitar plenamente cada momento assim como ele se apresenta e que cada coisa tem
seu tempo, ao contrário do que possa ditar o imediatismo. Assim, o não-fazer das práticas
meditativas - sentar-se por alguns instantes consigo mesmo e ser quem se é, mantendo a
consciência no instante presente - torna-se o bastante para se estar vivo e satisfeito. Uma pausa
saudável é necessária quando o cotidiano parece ganhar ritmo e pressão esmagadores.
3-Mente de Principiante, ou a postura de contemplar o que se passa dentro e fora da
mente com uma atitude aberta e receptiva, como se fosse pela primeira vez. Uma prática que
ajuda a compreender a natureza impermanente do universo. Torna-se algo poderoso contra o
nocivo costume de acreditar que já se sabe de tudo sobre algo ou alguém; que determinados
conceitos tidos como consolidados são imutáveis, o que parece improvável quando se
compreende que tudo está em constante mudança, inevitavelmente, quer se goste ou não;
mesmo que algumas vezes algo mude tão lentamente que possa causar a ilusão de ser
permanente. A mente de principiante traz uma qualidade mais fluida à percepção, menos
contaminada por expectativas baseadas no empirismo, no senso comum ou nas rotinas
enclausurantes; abre um espaço receptivo a novas ideias e visões e facilita o desapego de formas
potencialmente prejudiciais de se pensar e agir que estejam arraigadas.
4-Confiança é uma atitude importante no aprendizado de valorizar as próprias
percepções e levá-las em conta ao tomar decisões, mesmo que alguma autoridade ou grupo diga
o contrário. É útil principalmente quando as três atitudes anteriores já estão desenvolvidas; sem
elas, corre-se o risco de confundir confiança com teimosia, arrogância ou competição, movidas
pela percepção contaminada por insatisfação, inveja ou outros sentimentos negativos. Sempre
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haverá o risco de errar, seja confiando nas próprias impressões ou nas dos outros. Entretanto,
ao confiar na sabedoria e discernimento pessoais, haverá maior probabilidade de aprender com
os próprios erros, pois amplia-se a capacidade de entender o que os induziu. O exercício é
procurar estar atento ao que leva à tomada de decisões e assumir a responsabilidade pelos
próprios atos, para assim conquistar liberdade e autenticidade. Quanto mais se conquista a
confiança em si mesmo, mais fácil será confiar nos outros, o que pode ajudar a moderar, por
exemplo, ciúmes, insegurança e possessividade que, quando desmedidos, são grande fonte de
sofrimento.
5-Não lutar é uma atitude que desafia a forma como a mente costuma comportar-se
durante outras atividades. Normalmente um fazer carrega consigo algum objetivo específico e
motivador da ação. Atingir ou não este objetivo geralmente indica o grau de sucesso e pode,
dependendo do resultado, gerar satisfação ou frustração. Ocorre que a prática meditativa, cerne
do mindfulness, possui outra natureza. Trata-se de um exercício de não fazer, onde não existe
um resultado específico para medir o sucesso. Caso inicie-se a prática meditativa buscando, por
exemplo, esvaziar a mente dos pensamentos, é possível que se ative um processo exaustivo de
luta contra o pensar, o que pode gerar frustração, bloqueio e abandono da prática. Pode ser algo
realmente árduo e infrutífero decidir lutar contra o ato de pensar ou de julgar, pois são
características da mente. Porém, tudo o que se necessita para a prática do mindfulness é deixar
que os pensamentos e julgamentos sigam seu rumo, enquanto se adota uma postura de
observação: testemunhar os pensamentos, fantasias e julgamentos, como se fossem nuvens
passageiras. Com alguma prática, compreende-se que o indivíduo não é os seus próprios
pensamentos e julgamentos, embora façam parte dele; que é possível permitir sua manifestação
e dar lugar a eles enquanto se mantém certo distanciamento para impedir que dominem; prestar
atenção ao seu fluxo e deixar que passem, da mesma forma que se observa um rio que corre
sem a necessidade mergulhar e se deixar levar pela correnteza. A atitude do não fazer, implica
em contemplar e acolher o que se passa dentro e fora da mente, ampliar o autoconhecimento,
ganhar consciência sobre o que e como se pensa, e perceber o impacto disso nas ações e reações.
Pode ser fácil confundir o não lutar com passividade, omissão, submissão ou comodismo; no
entanto, é algo diferente disso em sua essência, pois remete à prática do desapego, que implica
em aceitação e na atitude de soltar; em compreender a inexorável realidade da impermanência:
tudo está em constante mudança e lutar contra isso pode levar a uma enorme carga alostática,
com todas suas consequências disfuncionais .
6-Aceitação é a atitude de enxergar as coisas como elas são e acolhê-las assim como
elas se manifestam dentro do momento presente. Em primeira instância, é praticada de forma
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intencional, por mais difícil que possa ser, mesmo quando algo parece inaceitável. Isso vale
especialmente para fatos injustos ou irremediáveis, como o falecimento de um ente querido,
uma amputação ou o diagnóstico de uma doença grave. Dentro do paradigma de mindfulness,
concebe-se uma qualidade curativa em aceitar a realidade da forma como ela se apresenta, ao
invés de desperdiçar energia preciosa no processo de negar e resistir a algo que já é um fato
consumado. Há uma dinâmica energética envolvida: quando se aceita algo, a energia
dispensada entre a tensão do que é, e do que deveria ser, passa a ser preservada para o processo
de cura e superação. É importante ressaltar que a cura, neste caso, não está sendo vinculada ao
desaparecimento de determinada patologia, fator de sofrimento ou sintoma, pois isso muitas
vezes não é algo viável; trata-se de aceitar e fazer as pazes com o agora. Por mais terrível e
injusto que o destino possa parecer, vive-se a tristeza por um tempo justo, em seguida dá-se o
primeiro passo para seguir adiante, adaptar-se, superar o ocorrido e abrir-se novamente para
encontrar momentos de sossego e felicidade. Entra em ação, novamente, o conceito da
impermanência de tudo: se a saúde e felicidade são transitórias, a tristeza e o luto também serão,
contanto que se exercite a aceitação do momento presente, em uma atitude de não dualidade
com a realidade.
7-Soltar, por meio do não apego, também é uma atitude relacionada a deixar com que
a realidade seja o que ela é. Trata-se de algo natural a tendência de buscar manter o que é
agradável. Porém, ao entregar-se cegamente a essa predisposição, corre-se o risco de ficar
apegado; de que manter o objeto de apego exerça uma força geradora de estresse capaz de
dominar pensamentos, sentimentos e ações de forma que se passa a existir em função disso. O
soltar é uma prevenção essencial aos sofrimentos e desequilíbrios inerentes às identificações,
um exercício para superar a fantasia da separatividade - fonte de grande parte dos apegos.
Distingue-se da indiferença ou da passividade, pois o indivíduo não deixa de valorizar ou cuidar
de algo, ou de alguém, por não estar apegado; ao contrário, torna-se mais competente nesta
tarefa pela leveza e serenidade diante de tudo o que naturalmente passa, o que possibilita
desfrutar ao máximo das pessoas e coisas com as quais ele convive enquanto existirem e,
quando chegar o momento justo, estará pronto para deixá-los ir. Para praticar o soltar, basta
relaxar, levar a atenção a algum objeto de apego, gerar um distanciamento para transcender a
identificação e em seguida abrir mão daquilo intencionalmente e observar o que acontece. Pode
ser uma atividade extremamente triste e difícil se tocar em algo ao que se está fortemente
apegado, como um pai, uma mãe ou um filho muito amados - talvez a prática de soltar-se deles
em paz seja uma das tarefas mais árduas da existência humana -, entretanto, este exercício pode
levar à compreensão de que ninguém existe para sempre e que cada minuto na presença de
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quem se estima pode ganhar uma nova dimensão de valorização e deleite. Evitar pensar na
própria transitoriedade o na de quem se ama, não mudará o fato de que um dia a separação
ocorrerá; o mais sensato é trabalhar para que se esteja preparado quando chegar o momento.
Em suma, as práticas de mindfulness e meditação trabalham a percepção do praticante
para captar o que ocorre no meio externo de forma mais abrangente e fidedigna. Ajudam
constatar como as percepções alteram o seu meio interno; utilizar o foco da atenção para
observar o que muda em seus pensamentos, emoções e julgamentos, antes de agir para trazê-lo
de volta ao seu estado de equilíbrio. A prática regular de meditação e mindfulness permite que
a consciência e a atenção do praticante ajam como mediadoras na percepção e nas respostas
ao estresse, para que o processo de adaptação aos estressores também seja trabalhado dentro do
campo da consciência e das atitudes fundamentais vistas acima, no sentido de reduzir a carga
alostática e, com isso, reduzir a possibilidade de surgimento das doenças adaptativas e reações
desproporcionais, com suas consequências negativas para a saúde.
Pierre Weil (1993, p. 74) emprega o termo consciência imediata para definir a técnica
de adquirir consciência dos sentimentos destrutivos quando ainda estão germinando, o que
facilita transformá-los em energia construtiva antes de tornarem-se atitudes prejudiciais. Pode-
se encontrar nesta prática um potencial profilático no campo da saúde física e mental. Quanto
mais alguém exercita a sua a consciência e atenção para perceber a formação de pensamentos,
sentimentos e impulsos destrutivos na mente, antes que se convertam em ações; maiores serão
as chances de reeducar os seus padrões de percepção, reação e adaptação, enquanto ainda se
está saudável, para adotar processos positivos quando os estressores aparecerem. E se há algo
que se pode ter como certo é que, cedo ou tarde, eles aparecerão.
RESPOSTA AO ESTRESSE
Figura 2
Estudos conduzidos nos Estados Unidos, ainda na década de 70, por Robert Ader e
Nicholas Cohen, ajudaram a constatar o forte vínculo entre cérebro e sistema imunológico ao
demonstrar que a imunossupressão6 em ratos poderia ser psicologicamente condicionada. Suas
descobertas geraram grande interesse da comunidade científica pelo tema e motivaram a
elaboração de diversas pesquisas para estudar até que ponto a mente e as mudanças de
comportamento podem influenciar no surgimento, evolução e tratamento de doenças
específicas, e culminaram no surgimento da psiconeuroimunologia (PNI), ramo da ciência que
estuda a relação entre o comportamento e os sistemas nervoso e imunológico (KABAT-ZINN,
2017, p. 258-259).
6
A redução da resposta imune do organismo.
23
7
De acordo com o estudo mencionado, as MBIs de 1ª geração – estudadas neste trabalho - desvincularam-se
demasiadamente das origens espirituais e seculares do mindfulness, enquanto as MBIs de 2ª geração passaram a
aceitá-las e fazê-las mais presentes em suas práticas, o que apontou, segundo os autores, resultados ainda mais
positivos.
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A hipótese era a de que as lesões causadas pela psoríase poderiam ser amenizadas ao
incluir técnicas de MBI durante o tratamento padrão, que consiste em sessões de fototerapia
(UVB) ou fotoquimioterapia (PUVA) para minimizar o processo inflamatório que origina as
lesões. As sessões de UVB e PUVA tem cunho basicamente paliativo. Requerem que o paciente
permaneça nu, de pé e com os olhos protegidos dentro de uma cabine de luz bastante estreita,
enquanto sua pele é bombardeada por luz ultravioleta. Ocorriam três sessões por semana e o
tempo dentro da cabine aumentava gradativamente em cada uma das cerca de 40 sessões,
partindo de 30 segundos até o máximo de 13 minutos.
Os pacientes foram separados randomicamente em dois grupos. O de controle recebeu
apenas o tratamento padrão e o outro recebeu o tratamento padrão com a adição da MBI.
Durante as sessões de UVB e PUVA, foram reproduzidos, dentro da cabine de luz, áudios de
meditação guiada para a prática de plena atenção. Os áudios, elaborados especificamente para
aquela situação de incômodo e enclausuramento, exercitavam a consciência de momento a
momento e o não julgamento. Os pacientes que receberam a adição do MBI ao tratamento
também foram orientados a não meditar em outros momentos além das sessões, enquanto
durasse tratamento. Uma das justificativas que levou os pesquisadores a optar por este método
de intervenção foram os resultados positivos na redução de dores crônicas e ansiedade, obtidos
em pesquisas anteriores e referenciadas no estudo (KABAT-ZINN et al., 1998, p. 626).
Os resultados mostraram uma recuperação expressivamente mais rápida nos pacientes
que receberam meditação guiada, em comparação ao grupo de controle. Indicaram também a
influência relevante da mente na regeneração da pele, a ponto de reduzir o número de sessões
necessárias para alcançar o mesmo resultado do grupo de controle.
Outro elemento relevante foi a descoberta dos telômeros: segmentos repetitivos de DNA
não codificante localizados nas extremidades dos cromossomos, que encurtam a cada divisão
celular, determinando a velocidade do envelhecimento das células. Quando os telômeros se
desgastam por completo, as células perdem a capacidade de se replicar e morrem
(BLACKBURN, 2017, p. 12). Desdobramentos desta pesquisa permitiram encontrar também a
telomerase, uma enzima que auxilia a regenerar e manter as camadas dos telômeros
(BLACKBURN, 2017, p. 36). A enorme importância destes achados foi reconhecida com um
prêmio Nobel de medicina em 2009, concedido aos responsáveis pelas descobertas: a bióloga
molecular Elisabeth Blackburn e seus colegas. O avanço nas pesquisas com telômeros e
telomerase revelou questões pertinentes aos processos de envelhecimento celular, surgimento
e evolução de diversas patologias.
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Outra grande descoberta (BLACKBURN, 2017, p. 40) foi feita durante uma pesquisa
que relacionou mães cuidadoras de filhos portadores de doenças crônicas ao comprimento dos
telômeros e a quantidade de telomerase. O objetivo era de estudar o comprimento dos telômeros
e a quantidade de telomerase em um grupo de indivíduos sob enorme carga de tensão emocional
e estresse. A hipótese elaborada foi: o modo de vida pode alterar os telômeros e a telomerase?
e a confirmação veio com a constatação de que as mães que se consideravam estar sob maior
estresse apresentaram um nível de telomerase mais baixo e maior encurtamento dos telômeros.
Além disso, mães que haviam cuidado de filhos doentes por mais tempo, apresentavam
telômeros mais curtos. A conclusão foi a de que as experiências de vida e o modo como se
reage a esses acontecimentos podem alterar o comprimento dos telômeros.
Um estudo posterior (JACOBS et al. 2010), investigou até onde a prática de meditação
e mindfulness poderia influenciar na atividade da telomerase, e o quanto dessa associação
poderia ser explicada por mudanças em duas variáveis: a percepção de controle (sobre
pensamentos e sentimentos relacionados a experiências da vida) e o neuroticismo8. Ambas são
consideradas fortes fatores de contribuição para a experiência de estresse.
Para o experimento, um grupo de 60 homens e mulheres saudáveis, entre 21 e 69 anos
de idade, foi randomicamente separado em dois grupos. O de teste participou de um retiro
imersivo de meditação de três meses. O de controle permaneceu pelo mesmo período em uma
lista de espera, indo periodicamente até o centro de testes apenas para coletar amostras,
voltando pra casa e vivendo suas rotinas normalmente. O retiro de imersão ocorreu em um local
isolado onde os participantes puderam dedicaram-se, por três meses consecutivos, a exercitar
rotineiramente técnicas de meditação e mindfulness em um ambiente de paz e tranquilidade. O
grupo foi instruído por um Ph.D. membro da equipe de pesquisadores e com larga experiência
e conhecimento nas tradições e práxis budistas.
As práticas, tanto em grupo quanto individuais, foram divididas em dois segmentos
maiores: o cultivo de habilidades sobre a atenção e a geração de estados mentais benevolentes.
No primeiro segmento, focado em desenvolver a percepção de controle sobre sentimentos e
pensamentos, foram utilizados exercícios de plena atenção na respiração para acalmar a mente
e reduzir as distrações; em seguida, eram aplicados treinamentos de atenção momento-a-
momento e de não-reatividade. O segundo segmento, focado na redução do neuroticismo,
8
Ou afetividade negativa, conforme o DSM-5 (p. 770): um domínio de traço da personalidade com tendência a
experiências frequentes e intensas de altos níveis de emoções negativas e suas manifestações comportamentais e
interpessoais.
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CONCLUSÃO
acessíveis; cultivadas gradativamente até atingirem força e consistência para frutificarem nos
campos individual, social e ambiental, na forma de efeitos positivos e multiplicadores, desde
que exercitadas com constância, disciplina e resiliência.
REFERÊNCIAS
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