Você está na página 1de 29

1

OS EFEITOS DA PRÁTICA DE MEDITAÇÃO E MINDFULNESS COMO


MEDIADORES DA PERCEPÇÃO E REAÇÃO AO ESTRESSE

Iuri Crema1

RESUMO

Este artigo pretende explorar, de forma introdutória e simplificada, os efeitos da prática de


meditação e mindfulness como mediadores da percepção e reação ao estresse para trazer alguma
informação preliminar a quem se interesse pelo assunto. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica,
de abordagem qualitativa e caráter exploratório, que objetiva buscar referencial teórico para
familiarizar o leitor com os conceitos de estresse, meditação, normose e mindfulness; examinar
as reações, meios de controle e adaptação do indivíduo sobre situações estressantes e a
influência das práticas de mindfulness e meditação sobre esses processos; além de avaliar o
exercício regular de meditação e mindfulness como tecnologia leve, de baixo custo e efeito
profilático no campo da saúde física e mental, uma ferramenta capaz de trazer resultados
positivos na geração de bem-estar, qualidade de vida e prevenção de estados constantes e
adoecedores de hiperexcitabilidade fisiológica e psicológica, decorrentes de reações
inconscientes ou enfrentamentos mal adaptativos a situações de estresse pontual ou cotidiano,
que possam levar à perda de qualidade de vida e, em última instância, ao surgimento ou
agravamento de condições patológicas.

Palavras-chave: Mindfulness. Meditação. Estresse. Saúde mental. Profilaxia. Normose.

INTRODUÇÃO

É pouco provável que um ser humano passe pela vida sem enfrentar situações de
estresse. O mais plausível é que este tipo de evento seja uma constante no cotidiano de qualquer
pessoa, independente de sua situação financeira, localização geográfica, etnia ou estilo de vida.
A maneira com a qual um indivíduo enfrenta, reage e adapta-se ao estresse pode influenciar
significativamente o curso da sua vida, a sua saúde e os seus relacionamentos. Tais
enfrentamentos, reações e adaptações dependem em grande parte de como os eventos ou
estressores - os fatores causadores de estresse - tanto internos quanto externos, são percebidos

1
Pós-graduando em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Universidade Estácio. E-mail: icrema@gmail.com
2

por este indivíduo. Se algum fator é interpretado como ameaça em potencial à sua integridade
física, (social ou emocional), reações psicossomáticas2 quase imediatas podem ser
desencadeadas para resguardá-lo do risco percebido. A questão é que essa percepção pode ser
moldada por uma miríade de fatores individuais, culturais, sociais e ambientais, que definem
de forma pessoal e intrínseca o que é considerado um fator de risco. Portanto, a interpretação
do que representa ou não uma ameaça torna-se muito mais uma forma particular e subjetiva do
sujeito observar e assimilar suas vivências, do que um fator objetivo e evidente a qualquer outro
indivíduo.
Se não é possível viver sem estresse, aprender a conviver e adaptar-se a ele de maneira
saudável é uma questão de grande importância para a qualidade de vida. Uma reação impulsiva
e desatenta pode levar o indivíduo a correr riscos maiores do que os impostos pelo próprio fator
percebido como ameaça, ou a viver em estados mentais que podem tornar-se patológicos a
longo prazo. As respostas automáticas de enfrentamento são frutos de um longo processo
adaptativo que leva a pessoa a lidar com seus estressores da maneira que lhe foi possível
assimilar durante a vida, normalmente reações habituais e automáticas aos estímulos
percebidos, detendo-se para pensar a respeito das suas ações apenas posteriormente. Entretanto,
existem práticas que possibilitam ampliar o controle e introduzir mais atenção a estas reações,
aumentando a possibilidade de ações conscientes ao invés da simples reatividade a estímulos
que possam parecer ameaçadores.
Cuidar da saúde mental pode ser um hábito cotidiano de pessoas saudáveis. Afinal, por
que é tão comum, por exemplo, escovar os dentes após as refeições e procurar um dentista para
realizar uma limpeza ou outras práticas profiláticas da saúde bucal, sem esperar surgir uma dor
insuportável ou a necessidade drástica de extrair um dente, enquanto procurar cuidados mentais
parece ser algo tão cheio de tabus e estigmas que apenas torna-se uma necessidade quando já
se está em crise ou sofrimento em estágios avançados? Sem dúvida, hábitos preventivos de boa
higiene corporal são fundamentais para a manutenção da saúde e qualidade de vida, mas o que
impede de fazer o mesmo com a saúde psíquica? Neste trabalho serão apontados alguns
resultados considerados positivos do uso regular de técnicas de meditação e mindfulness no
cuidado preventivo em saúde mental.
O objetivo deste estudo é explorar, de forma introdutória e instigante, os efeitos de
utilizar técnicas de meditação e mindfulness como mediadoras da percepção dos fatores de
estresse e no enfrentamento de situações estressantes, para avaliar a hipótese de que é possível

2
Tanto orgânicas quanto psíquicas.
3

obter bons resultados ao empregar estas práticas, tanto como terapias preventivas (de efeito
profilático na saúde física e mental) quanto integradas ao tratamentos de patologias já
existentes. Visa-se, também, introduzir conceitos fundamentais como estresse e normose;
detalhes das reações usuais a situações estressantes; algumas consequências para a saúde de
viver sob influência constante do estresse; definições de meditação e mindfulness, suas
aplicações na adequação da percepção, atenção e controle das reações aos estressores,
sustentadas por pesquisas e estudos clássicos, pertinentes ao tema.
Pesquisar e validar metodologias simples, práticas e de baixo custo, capazes de auxiliar
pessoas a conviver com situações de estresse de forma mais saudável, pode ter um considerável
valor social e econômico. Ainda que existam avanços importantes na medicina e na
farmacologia dentro desse mesmo tema, as práticas de mindfulness e meditação não atuam de
forma antagônica ou substitutiva às soluções usuais da psiquiatria, psicologia ou farmacologia,
e sim de maneira integrativa e complementar, potencializando seus resultados. Pelo prisma
econômico, tecnologias leves de cuidado, que independem de recursos complexos e onerosos,
podem ajudar a reduzir custos sociais e administrativos dentro dos sistemas de saúde. Atuar na
prevenção, educação e implementação de hábitos saudáveis para a manutenção da saúde da
população pode custar menos do que tratar de alguém já adoecido, em crise, ou vitimado pelas
consequências das reações automáticas aos estressores. Por estes motivos, investigar técnicas
dentro deste contexto foi a escolha para o tema desta pesquisa.
Como caminho metodológico para realização do presente estudo, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica utilizando ferramentas de busca para encontrar artigos e pesquisas em
português, inglês ou espanhol, que contivessem as expressões exatas ou relacionadas a
mindfulness, meditação, yoga, normose e estresse, e pudessem contribuir com o tema abordado.
Trata-se de um artigo que busca introduzir o leitor ao tema, portanto o referencial teórico não
se limitou a pesquisas recentes; foram utilizados também livros e artigos clássicos, de autores
relevantes em suas áreas de conhecimento, que dialogassem com a temática em referência e
reunissem conceitos básicos sobre os elementos fundamentais desta pesquisa; explanados e
inter-relacionados no decorrer do texto.
Também pode ser interessante a possibilidade do leitor, seja ele pesquisador ou não, ter
a oportunidade de colocar este estudo à prova em seu próprio cotidiano. Afinal, tratam-se de
técnicas simples, isentas de efeitos colaterais danosos, que podem ser exercitadas em momentos
de ociosidade, praticamente em qualquer hora e lugar.
4

LUTA OU FUGA

O fisiologista norte-americano Walter Bradford Cannon adotou o termo reação de luta


ou fuga, (CANNON, 1915, p. 211), para referir-se às reações de alarme, automáticas e
praticamente imediatas, observadas tanto em seres humanos quanto em outras espécies de
animais, ocasionadas por sensações de dor, fome, medo ou raiva. Tratam-se de reações agudas,
coordenadas pelo cérebro e pelo sistema nervoso autônomo, ao perceber, identificar, antecipar
ou mesmo imaginar potenciais ameaças à integridade do indivíduo, que liberam
neurotransmissores responsáveis por mobilizar e otimizar recursos do organismo e deixá-lo
apto a enfrentar ou escapar do risco iminente. O resultado é um estado de hiperexcitabilidade
fisiológica e emocional generalizada. Nessa condição, dependendo do nível percebido da
ameaça, um grande espectro de emoções pode ser ativado, variando do receio ao pavor, do
descontentamento à fúria.
Como consequência, diversas reações fisiológicas são disparadas para ajudar o corpo a
lidar com a situação de risco, como aumento significativo das frequências cardíaca e respiratória
e da pressão sanguínea. As emoções, portanto, podem disparar reações físicas extremas que
dificilmente seriam alcançadas intencionalmente por alguém fora do contexto da
hiperexcitabilidade, como o possibilitado pelo efeito da reação de luta ou fuga. Um bom
exemplo citado por Cannon (1915, p. 216-217) é o de um garoto tomado pelo pânico ao fugir
de um animal feroz. Durante a fuga, ele saltou sobre um muro tão alto que, mais tarde, com seu
estado físico e emocional normalizado, não conseguiu repetir a façanha.
Outra questão a ser observada neste exemplo é que, em situações de risco extremo,
deixa-se o pensamento consciente em segundo plano para reagir de forma impensada e
imediata; afinal, se o garoto tivesse parado para medir o muro e ponderar consigo mesmo se
teria ou não capacidade de saltá-lo, certamente teria sido alcançado e ferido. Em determinados
casos, a reação aguda a situações de estresse provocadas pela interação corpo-e-mente é
fundamental para garantir a sobrevivência e, graças a evolução dessas reações, o ser humano
prevaleceu e prosperou como espécie.
Tanto lutar quanto fugir são atividades exaustivas; portanto, quando a situação de perigo
tem fim, um período de repouso com efeito reparador, é fundamental para voltar ao estado de
equilíbrio basal.
5

HOMEOSTASE E ALOSTASE

Claude Bernard, considerado o pai da fisiologia experimental contemporânea,


estabeleceu ainda no século XIX, o conceito de milieu interne, ou meio interno, para definir o
conjunto de condições fisiológicas internas que alguns seres vivos de organização complexa
conseguem estabelecer, regular e manter para sobreviver, apesar das diversas variações do
ambiente externo.
De acordo com Bernard (STERLING, 2004, p. 2), “Todos os mecanismos vitais...tem
apenas um objetivo - preservar as condições constantes...do seu meio interno.”. Este seu dizer
foi interpretado literalmente como o propósito das regulagens fisiológicas do organismo ao
definir cada parâmetro interno de acordo com padrões ideais, detectando inconformidades e
corrigindo-as através da ativação de reações, ou feedbacks, negativos.
Walter Cannon inspirou-se neste entendimento para moldar o termo homeostase
(CANNON, 1929, p. 399-400). Por definição, homeostase, seria o conjunto de esforços e
ajustes fisiológicos do organismo, ativados de forma autônoma, com a função de trazer de volta
e manter estáveis os padrões do seu meio interno dentro do espectro necessário para preservar
seu bem estar, ou mesmo sobrevivência, ao relacionar-se com as condições variáveis do
ambiente externo onde ele se encontra (CANNON, 1929, p. 400-401).
O processo de homeostase seria, portanto, um dos fatores responsáveis por regular os
padrões de pico disparados pelas reações agudas, como a de luta ou fuga, de volta aos
parâmetros ideais.
Embora o conceito de homeostase tenha trazido enormes contribuições à medicina,
algumas situações não se encaixavam em seus padrões, o que levou à necessidade de ampliar
seu conceito. De acordo com Peter Sterling (2004), estudos em fisiologia acumulavam
evidências de que os parâmetros do meio interno não seriam necessariamente constantes, e suas
variações poderiam não significar um erro em si, mas mudanças com o propósito de reduzir
algum erro. Ele compara então o modelo de homeostase, ou “estabilidade por meio da
constância” com o modelo de alostase, ou “estabilidade por meio da mudança” e explica que
dentro do conceito de alostase o objetivo das regulagens fisiológicas não seria o de alcançar
constância, mas sim a adaptação ao processo de seleção natural. Essa necessidade de adaptação
pressionaria os processos de regulagem e compensação a serem cada vez mais eficientes na
variação de parâmetros que pudessem chegar ao ponto de antecipar as demandas, possibilitar a
6

prevenção de problemas, minimizar custos para o organismo e promover uma adaptação mais
eficaz.
Sterling (2004, p. 5) propõe também que a alostase seria um conceito capaz de substituir
o da homeostase, pois conecta-se mais facilmente com os princípios modernos da fisiologia e
poderia auxiliar a compreender melhor o que a homeostase não conseguia explicar: as principais
doenças modernas como hipertensão, obesidade, diabetes e drogadição.
Dentro de uma visão sistêmica mais ampla, é possível perceber as funções da
homeostase e alostase como complementares e não suplentes ou antagônicas; afinal, a primeira
regula funções dentro de uma faixa bastante estreita de parâmetros para promover a
sobrevivência imediata do organismo, enquanto a segunda regula a manutenção da saúde e
bem-estar dentro de uma espectro bem mais amplo (KABAT-ZINN, 2017, p. 358).
Bruce McEwen, reconhecido pesquisador dos efeitos do estresse, descreveu que, através
da alostase, diversos sistemas do organismo - como o nervoso autônomo, o cardiovascular,
metabólico e imunológico - protegem o corpo respondendo aos estressores internos ou externos.
Ele observou que o núcleo de resposta do corpo a desafios, sejam eles uma situação perigosa,
uma infecção, viver em algum lugar insalubre ou fazer um discurso em público, é duplo:
primeiro dispara uma resposta alostática que inicia um caminho complexo de adaptação e, mais
tarde, desativa essa resposta quando a ameaça já passou. Entretanto, quando esta desativação
se torna ineficiente, o desgaste que o organismo pode sofrer durante semanas, meses ou anos
de esforço para lidar com os estressores e modular as reações fisiológicas e psíquicas disparadas
por eles, foi considerada por McEwen como carga alostática, fator que pode resultar em
diversas consequências fisiopatológicas (McEWEN, 1998).

ESTRESSE

O termo estresse surgiu alguns anos depois das pesquisas de Walter Cannon, cunhado
por Hans Selye, e definido como “resposta não específica do corpo a qualquer demanda, seja
ela causada por, ou resultando, em condições favoráveis ou não favoráveis” (1946 apud
SOUSA; SILVA; GALVÃO-COELHO, 2015, p. 3). Selye denominou essas respostas
fisiológicas generalizadas de Síndrome da Adaptação Geral (SAG): a forma com a qual os
organismos lidam com as ameaças, pressões e mudanças, denominadas por ele de estressores,
com o objetivo de manterem-se saudáveis e equilibradas.
7

A SAG possui três fases: a primeira, de Alerta, onde o estressor é percebido e o


organismo promove reações agudas de enfrentamento tanto comportamentais quanto
fisiológicas, como na reação de luta ou fuga, e sai do seu estado de equilíbrio para tentar
neutralizar a ameaça. A segunda, de Resistência, quando as reações de enfrentamento perdem
gradativamente seu efeito ou são revertidas com ações para tentar voltar ao seu estado
homeostático ou adaptar-se. E, por fim, a fase da Exaustão: caso o estressor persista, o
organismo reativa o estado de Alarme e as reações agudas são novamente disparadas. Em
situações crônicas, esse ciclo pode desregular o efeito benigno da primeira fase, exaurir os
recursos do organismo, e levar ao adoecimento ou mesmo à morte.
Com base nisso, Selye (1950, p.1383) sugere que o potencial adaptativo dos organismos
vivos às mudanças ao seu redor, definido por ele como energia adaptativa, teria uma quantidade
finita. Ele percebeu similaridades entre o estágio de exaustão, quando a capacidade de
adaptação é perdida, e o processo fisiológico do envelhecimento (SELYE, 1950, p.1390),
detalhe interessante que pode ser relacionado aos estudos posteriores da Dra. Elisabeth
Blackburn expostos adiante, e ponderou também como seria importante para a prática da
medicina a identificação da energia adaptativa, tarefa na qual reconheceu não ter avançado
muito.
Em suma, estresse seria uma resposta fisiológica ou comportamental a mudanças
internas ou externas percebidas como estressoras, com o objetivo inicial de neutralizá-las a
curto prazo ou, caso o desequilíbrio persista, adaptar-se gradativamente a elas. Em situações
crônicas ou extremas, onde não é possível eliminar ou adaptar-se às mudanças, os mecanismos
responsáveis por manter a estabilidade e vitalidade do organismo possivelmente sofrerão
sobrecarga e, nestas circunstâncias, sintomas e patologias poderão manifestar-se.
Selye denominou de doenças adaptativas as tentativas de resposta inadequadas ou
desreguladas do organismo a qualquer mudança ou pressão, que levem ao esgotamento ou
adoecimento do indivíduo (KABAT-ZINN, 2017, p. 347). Esta lógica pode sugerir que qualquer
mudança traria consigo um potencial adoecedor; entretanto, existem situações onde o estresse
não representa necessariamente algo negativo. Exemplos disso seriam o momento no qual se
descobre que o seu bilhete da loteria foi sorteado ou uma gravidez desejada pelo casal. São
momentos naturalmente considerados positivos, mas que também exigirão energia adaptativa,
pois podem representar grandes mudanças e possivelmente irão disparar os processos da SAG,
embora a natureza desses estressores sugiram que não haverá grandes entraves para a adaptação.
Ciente disso, Selye (1974) denominou de eustresse o estresse de consequência positiva
e distresse o de consequência negativa. A diferenciação estaria na dificuldade encontrada pelo
8

indivíduo em adaptar-se ao estressor e nos resultados dessa adaptação. O eustresse é


considerado quando o processo adaptativo ocorre de forma relativamente fácil e os seus efeitos
variam de inócuos a benignos, capazes de promover efeitos de potencial positivo, tanto
psicológicos quanto físicos. Um exemplo de eustresse seria quando alguém, ao transpor uma
situação desafiadora e inusitada, descobre um novo talento e segue adiante agregando mais uma
habilidade ao seu leque de reações adaptativas. Já o distresse ocorre quando a adaptação traz
grandes dificuldades ou mesmo a impossibilidade de superar o estressor e, com isso,
consequências potencialmente negativas à saúde, como as doenças adaptativas.
O potencial adoecedor estaria, portanto, mais ligado à forma como o sujeito percebe e
lida com a situação estressante do que à própria situação em si; e a origem das doenças
adaptativas poderia estar, em grande parte, ligada particularmente ao distresse e não a todo e
qualquer evento estressor.
Experiências geradoras de distresse podem incluir abusos e esgotamentos, muitas vezes
relacionados ao ambiente doméstico, de trabalho ou da vizinhança, mas também traumas e
eventos importantes de natureza positiva que enfrentamos durante a vida. Tanto o estresse
agudo (na forma de luta ou fuga ou de eventos importantes da vida) quanto o estresse crônico
(a carga cumulativa dos pequenos estresses cotidianos considerados normais, portanto difíceis
de perceber no dia-a-dia) podem trazer consequências de longo prazo para o indivíduo na forma
de carga alostática, principalmente quando ela vai além da capacidade defensiva e responsiva
do organismo, causando o esgotamento dos seus recursos. Entretanto, a habilidade de ajustar-
se ou habituar-se ao estresse repetitivo também é bastante influenciada pela forma como as
situações são percebidas por quem as enfrenta (McEWEN, 1998).
Um bom exemplo hipotético seria uma pessoa que volta à noite do trabalho passando
por um bosque mal iluminado. Há muito tempo o sujeito faz este trajeto sem enfrentar
problemas, apreciando a beleza das estrelas que ficam mais nítidas com pouca iluminação,
sentindo o frescor e a fragrância noturna do bosque, numa experiência agradável e relaxante.
Em uma dessas travessias, porém, um ladrão o ataca e tenta assaltá-lo, mas, graças a sua reação
de luta ou fuga, ele consegue escapar. A partir desse momento, quando for necessário atravessar
novamente a região, ele se recordará da experiência estressante e várias reações específicas
podem ocorrer. Caso o evento tenha sido assimilado como algo pontual, que nunca mais irá se
repetir, a reação pode limitar-se ao estresse agudo do susto passado; posteriormente, o sujeito
volta a encarar o trajeto, talvez de forma desconfiada por algum tempo, até retomar uma postura
relaxada, contudo mais atenta do que antes, o que configuraria um episódio de eustresse.
9

Entretanto, caso o ocorrido exerça uma carga emocional que extrapole o limite da
energia adaptativa do sujeito, sempre que ele voltar a cruzar o bosque poderá ativar os mesmos
mecanismos de enfrentamento, reações de alarme e hiperexcitabilidade, disparados durante a
tentativa de assalto, preparando-o antecipadamente para reagir a um assaltante imaginário que
o espreita na escuridão. Neste caso, o bosque, o ambiente e o frescor da noite continuam os
mesmos; o que mudou foi a percepção do indivíduo, que passou e relacionar o trajeto a
elementos que lhe causam terror. Caso seja impossível encontrar outro caminho de volta para
casa, talvez o percurso passe a ser um fator de estresse crônico. Pode ser que, ao acordar pela
manhã ele comece temer antecipadamente o trajeto noturno pelo bosque, e sofra de ansiedade
ainda em sua cama e na segurança do seu lar; ou que passe a perder o sono durante noites
consecutivas, revivendo a experiência terrível pela qual passou e receia voltar a passar na
próxima noite. Caso isso se torne algo habitual e insalubre, o estresse fica categorizado como
distresse. Assim, um padrão comportamental, capaz de reforçar os males derivados do distresse
e da carga alostática constante, pode começar a surgir; caso o indivíduo não consiga, com o
tempo e novas travessias tranquilas, superar ou adaptar-se ao fator estressor.
Algumas pessoas podem ter sua saúde comprometida por um longo período de padrões
comportamentais de reatividade ao estresse, que irão retroalimentar fatores estressores
existentes apenas em sua memória ou em projeções futuras, quando no momento presente não
há ameaça alguma. Com o passar do tempo, alguns pensamentos e sentimentos podem tornar-
se estressores internos, capazes de representar tanto risco quanto animais selvagens ou
assaltantes sorrateiros reais, e sobrecarregar a capacidade de resposta do organismo de forma
ainda mais intensa; afinal não é sempre que se encontram ameaças concretas no momento
presente; já na mente, elas podem existir dia e noite, independente de onde se esteja, disparando
reações de estresse crônico no organismo, gerando uma enorme carga alostática e estimulação
constante do sistema nervoso simpático. A longo prazo isto pode resultar tanto em distúrbios
fisiológicos, como arritmia cardíaca, pressão alta, dores de cabeça, transtornos do sono e
problemas digestivos; quanto em problemas psicológicos, como ansiedade e depressão
crônicas; ou numa combinação de ambos. Quando o desgaste chega a este nível, é denominado
de sobrecarga alostática (KABAT-ZINN, 2017, p381). Encontrar uma forma eficiente de lidar
com as emoções, pensamentos e sentimentos, que traga uma percepção clara do que seria um
fator estressor, e auxilie a enfrenta-lo de forma mais consciente e hábil, pode ser um fator crucial
na manutenção da saúde.
10

REAÇÃO E ADAPTAÇÃO AO ESTRESSE

Kabat-Zinn ilustrou de forma didática o ciclo de reação automático e/ou habitual ao


estresse, que resume muito do que foi visto até agora neste trabalho:

Figura 1

Fonte: KABAT-ZINN, 2017, figura 9, p.366

Para tornar possível lidar com os incontáveis estressores no decorrer da sua existência,
sejam eles crônicos ou únicos, evitáveis ou inexoráveis, o indivíduo desenvolverá estratégias
para enfrentar e adaptar-se às pressões da vida, mantendo algum equilíbrio. Estas estratégias
podem ser consideradas tão únicas quanto um projeto terapêutico singular; entretanto,
costumam ser desenvolvidas exclusivamente pelo indivíduo, sem o auxílio de uma escuta
profissional qualificada que o oriente, portanto podem variar de saudáveis a prejudiciais, de
11

acordo com as ferramentas e informações que a pessoa pôde obter e aprender com suas
experiências.
Assim como alguns descobrem que é possível ajustar-se ao estresse cotidiano
caminhando todos os dias, dedicando-se a algum hobby ou exercitando-se regularmente, outros
poderão começar a beber, fumar ou comer exageradamente como forma de compensar o
sofrimento que enfrentam. No fim, o resultado dos processos adaptativos ao estresse, sejam
quais forem, costumam ter um desfecho semelhante: mudanças de hábitos que podem ajudar a
melhorar a saúde e qualidade de vida ou a somar sofrimento ao sofrimento e, em última
instância, levar ao adoecimento. É interessante notar que hábitos, saudáveis ou prejudiciais, não
estão limitados a indivíduos, mas podem acometer também sistemas sociais. Sobre esta questão,
Pierre Weill (2003, p.17) observa:

Quando todas as pessoas se colocam de acordo a respeito de uma opinião ou uma


atitude e maneira de atuar, manifesta-se um consenso, que dita uma norma. Quando
uma norma é adotada por muitos, cria-se um hábito. A maior parte de nossos costumes
são resultado de normas que adotamos, mais ou menos conscientemente, mediante a
imitação de nossos pais e educadores. Como diria Freud, pelo mecanismo de
introjeção. Essas normas deveriam ter a função de preservar nosso equilíbrio físico,
emocional ou mental, assim com a harmonia e qualidade de vida. Nesse sentido, há
uma crença bastante enraizada segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas sente,
acredita ou faz deve ser considerado normal. E, por conseguinte, servir de guia para o
comportamento geral, um roteiro para a educação. Lamentavelmente, nem todas as
normas são benevolentes. Ao contrário, algumas são geradoras de sofrimentos e
enfermidades, podendo conduzir até mesmo à morte. Como são dotadas de um
consenso social, as pessoas não percebem o caráter patogênico.

Normose foi o termo trabalhado por Pierre Weil, Jean-Yves Leloup e Roberto Crema
(2003) para definir o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos e hábitos de pensar
ou de agir, aprovados por um consenso ou pela maioria de pessoas de uma determinada
sociedade, que levam ao sofrimento, doenças ou mortes e produzem, como característica
comportamental, algum hábito de pensar, sentir e agir de natureza patogênica ou letal, embora
seja considerado, dentro de um certo consenso social, como normal. Ou seja, a Normose ocorre
quando a normalidade se torna patológica; uma adaptação adoecedora a uma situação
desequilibrada.
Em caso de desatenção, essa normalidade adoecedora poderá ditar, de maneira
impositiva e distorcida, o que é ou não um estressor, e maneiras deturpadas de como lidar e
ajustar-se a eles, levando muitas vezes ao distresse. À vista disso, é possível entender o quanto
pode ser difícil para alguém conseguir, por exemplo, adaptar-se saudavelmente a uma situação
de traição conjugal quando a reação habitual da sociedade à qual pertence reconhece como
12

normal ir para o bar e beber até perder a consciência, ou tomar atitudes agressivas e vingativas
para com quem o traiu. Neste contexto, alguém que nunca utilizou drogas ou usou de violência
para resolver um conflito dentro do relacionamento, pode ser convencido a fazê-lo; afinal, o
consenso social no qual se sente incluído sugere que isso é algo bastante normal. Entretanto,
se alguém se aproxima e diz que existem outras formas, talvez mais saudáveis e eficientes, de
encarar a dor desta situação, possivelmente será rechaçado, ridicularizado ou mesmo excluído
por representar algo diferente do que a maioria das pessoas ao seu redor afirmam e acreditam,
e pode ser interpretado como uma transgressão aos costumes sociais consolidados. Desta forma,
além do indivíduo ter a necessidade de enfrentar e adaptar-se aos seus estresses pessoais,
também deverá equipar-se de muito discernimento para escapar de fatores sociais que podem
tornar-se novos estressores ou retroalimentar os já existentes e colaborar com o
desenvolvimento de enfrentamentos adaptativos prejudiciais que reforcem ainda mais a
normose na sociedade, configurando um ciclo de reações que favorece o adoecimento.
Para compreender melhor o que é ou não um estressor e distinguir um processo de
adaptação adoecedor de um saudável - mesmo participando de contextos sociais normóticos -,
pode ser muito valioso praticar a plena atenção e meditação.

MEDITAÇÃO

Ao buscar o significado do termo meditação, é provável que sejam encontrados dois


conceitos comuns, que parecerão incongruentes, caso comparados. O conceito ocidental de
meditação é o de refletir ou ponderar profundamente sobre algo. Neste prisma, meditar seria
um exercício do intelecto, de selecionar determinado assunto e escrutiná-lo mentalmente, talvez
para entender melhor sobre aquilo ou auxiliar na tomada de alguma decisão. Visto assim,
meditar seria um ato relacionado ao pensar.
É possível que um indivíduo passe boa parte da sua vida exercitando justamente este
processo: buscar e selecionar um tema ou objeto externo, trazê-lo para dentro do seu
pensamento, contrapô-lo às suas ideias e valores já consolidados, e então emitir um parecer ou
tomar uma ação. Tudo isso pode ocorrer de forma automática e quase instantânea. É dessa
forma que se costuma decidir o que é ou não uma ameaça, uma vantagem ou algo que carregue
dor ou prazer em potencial.
13

A mente tende a preencher, recorrentemente, lacunas de informações sensoriais


incompletas no presente utilizando experiências do passado ou previsões do futuro que foram
incorporadas a padrões mentais e comportamentais, fazendo com que seja possível temer algo
que não existe mais, ou desenvolver expectativas imperativas sobre algo que ainda não ocorreu.
É como se o pensamento estivesse habituado a repetir o passado e simular o futuro para auxiliar
a tomar decisões no único momento onde existe possibilidade de agir concretamente: o instante
presente. Afinal, até onde se sabe, não é possível agir no passado ou no futuro, apenas no
agora. Paradoxalmente, é interessante perceber como a atenção raramente está focada no
presente ao elaborar um julgamento ou decidir uma ação. Compreender e introjetar essa
informação pode fazer com que muitas das preocupações advindas do passado ou do futuro,
transformem-se em elucubrações ou ficções inócuas, um desperdício de energia vital.
Para desenvolver a capacidade de focar intencionalmente a atenção no instante presente,
torna-se essencial compreender o sentido oriental da expressão meditar. Sobre o conceito de
meditação, Roberto Crema (1985, p. 154-155, grifo do autor) diz:

Adianto-me para esclarecer que não estou usando esta palavra no seu sentido
ocidental, de reflexão, intelectualização e busca mental de soluções. Estou me
referindo ao significado oriental de meditação, que extrapola a mente e o intelecto: o
olhar para dentro de si mesmo plenamente atento, numa atitude de não fazer, de
receptividade e passividade consciente; o que os taoistas chamam de wu-wei, agir pelo
não-agir; o que Krishnamurti denomina percebimento sem escolha e vigilante
passividade;[...] Há centenas de métodos que conduzem à meditação, desde o mais
simples testemunhar da própria respiração a sofisticadíssimos exercícios e disciplinas
internas que exigem complicadas asanas (posturas), elaborados mudras e dificílimos
bandas. Desde os iogas clássicos ensinadas a Arjuna pelo Senhor Krishna na
“Sublime Canção” do Bhagavad Gita e dos “Aforismas” de Pantajali, e mantras e
mandalas do Budismo Tibetano, ao Tantra, za-zen e danças sufis, cada pessoa pode
optar por um método de meditação que seja mais adequado às suas particularidades,
até encontrar seu próprio e único caminho.

No Oriente, a meditação é aliada a técnicas de respiração advindas do Yoga3 e, juntas,


tem sido parte integral de práticas espirituais exercitadas há milênios em culturas orientais, para
obter melhoras nas funções mentais, perda de energia ou capacidade sexual e na habilidade em
lidar com o estresse físico e emocional (BROWN, GELBARG, 2009, p. 54). Treinar a
consciência e respiração é um elemento fundamental na meditação e yoga de origem indo-
tibetana, tida como prática cotidiana que leva o praticante a ampliar sua percepção a respeito
do que se passa fora e dentro dele próprio. Sua origem é milenar, com raízes na Índia e China

3
Prática tradicional da filosofia hindu de exercícios físicos com base em movimentos e posturas que visam
facilitar o estado de meditação. Parte de sua teoria e prática foi codificadas no Yoga Sutra, cuja autoria é
atribuída ao mestre Pantajali que viveu entre o século II e III d.C.
14

antigas, onde passou por inúmeras ligações com sistemas religiosos e filosóficos, tornando
muitas vezes indistinta a separação entre uma coisa e outra.
A prática meditativa pode ganhar diversos formatos, propósitos e contextos; para
efeitos práticos, o que será abordado neste trabalho estará restrito à compreensão budista da
Anapanasati Sutta que baseia-se na noção de respirar conscientemente, ou seja, com o foco da
atenção voltado para o que são consideradas as quatro estruturas de referência da consciência
plena: o corpo, as sensações, a mente e as qualidades mentais (BROWN, GELBARG, 2009, p.
55). Este exercício consiste em sentar-se no chão, sobre alguma pequena almofada ou mesmo
em uma cadeira, de maneira confortável, mantendo a coluna ereta; fechar os olhos e procurar
manter a atenção focada, inicialmente, na respiração: inspirar pelas narinas, dar uma pequena
pausa e expirar pela boca, apenas observando os movimentos e sensações de respirar por alguns
minutos, para então levar o foco da atenção às quatro estruturas mencionadas, seja
alternadamente ou enfatizando apenas uma por sessão, conforme a prática escolhida.
Não há uma meta ou objetivo ao meditar. Não se medita para fazer alguma dor
desaparecer ou para alcançar a iluminação, embora tudo isso possa ocorrer como consequência
desta prática: conectar-se conscientemente com o instante presente e com o corpo, perceber -
evitando interferir - como está a respiração, as sensações corporais, emoções, ruídos e odores,
presentes internamente e ao redor e procurar aceitar o que se percebe da forma como aquilo se
manifesta. De maneira simplificada: ser quem se é, enquanto se está aonde se está,
intencionalmente. Quando a mente divagar do foco, busca-se apenas notar quais pensamentos
se revelam e de onde surgem, sem lutar contra seu aparecimento, nem se apegar ou se deixar
levar por eles; simplesmente permitir que venham e que passem, observando o seu fluxo e
trazendo, assim que possível e de maneira paciente, a atenção de volta para as estruturas
supracitadas. Esta prática é justamente o oposto de como a mente pode estar habituada a
funcionar, portanto sua tendência será de divagar, e o exercício será de trazê-la de volta ao foco
desejado, tantas vezes quantas forem necessárias. Apenas praticando pode-se descobrir como
meditar é algo inicialmente trabalhoso, complexo e, caso não se tenha entendido o sentido mais
profundo do exercício, bastante frustrante. Ao praticar, é possível perceber, com base empírica,
que a frustração pode advir da ilusão da separatividade4 (WEIL, 1993, p.53) e do senso de
imediatismo.
Outro conceito adulterado, mas bastante difundido, é de que a meditação “tira você da
realidade”; com alguma prática entende-se que é justamente o oposto: na meditação é possível

4
Um conceito bastante amplo, mas aplicado neste estudo como a ideia de que corpo e mente são objetos
distintos, domínios apartados e dissociados, cujo paradigma e origem serão abordados mais adiante.
15

estar completamente imerso e entregue à realidade nua e crua, de forma consciente, o que,
quando alcançado, pode trazer uma enorme sensação de paz. Como qualquer outro exercício, é
necessário praticar meditação cotidiana e sistematicamente, por um período razoável de tempo,
antes de experimentar com profundidade o que é meditar e desfrutar dos seus benefícios.
Numa breve e superficial elucidação, meditar seria acolher o instante presente, assim
como ele se apresenta, com todas as sensações físicas e percepções sensoriais que nele surgirem,
evitando julgar, selecionar, excluir ou apegar-se ao que se passa dentro ou fora mente. Desta
forma aprende-se gradualmente como adquirir algum controle sobre o que ou como se pensa;
por que se faz o que se faz tão repetida e automaticamente. Torna-se possível perceber que
corpo e mente estão separados apenas conceitualmente, no arraigado senso comum oriundo do
paradigma ocidental, cartesiano e mecanicista, ao qual se pode estar apegado. Na prática ambos
são partes interconectadas e inseparáveis de um todo, relacionando-se ininterruptamente para
produzir, neste exato instante, o que e quem se está sendo.
Meditar é um exercício que auxilia a desenvolver a consciência de momento a
momento, sem julgamento, cultivada ao focar a atenção, de maneira intencional, a detalhes
comuns, habitualmente desconsiderados pelo julgamento de que, aparentemente, eles sempre
estiveram e sempre estarão ali. Esta é precisamente a definição de Jon Kabat-Zinn (2017, p.41)
para mindfulness.
Elementos geradores de estresse podem estar contidos nos modelos ou padrões adotados
por determinado agrupamento social como uma visão de mundo, denominada de paradigma.
Um dos mais fortes paradigmas ainda vigentes é o Newton-Cartesiano. Tanto Descartes quanto
Newton, em meados do século XVII, tiveram papel fundamental na Revolução Científica, um
dos pilares da ciência moderna cuja colossal importância na evolução da metodologia científica
e para a maioria dos campos de conhecimento, é amplamente reconhecida. Um dos legados
desse paradigma foi o entendimento de Descartes de que mente e corpo são coisas
completamente distintas (DESCARTES, 1973, p. 23).
Embora séculos tenham se passado e inúmeros estudos e descobertas sobre este tema
tenham sido feitos, este parecer é repetido até hoje como verdade incontestável no senso
comum. Sobre o tema, numa abordagem holística5, Jon Kabat-Zinn (2017, p. 226, grifo do
autor) menciona:

Talvez o avanço mais fundamental na medicina das últimas décadas seja o


reconhecimento de que não podemos mais pensar em saúde como apenas uma

5
A perspectiva, ou abordagem holística é a que busca um entendimento dos fenômenos na sua totalidade,
incluindo o todo e suas partes (CREMA, 1989).
16

característica do corpo ou da mente, porque corpo e mente não são dois domínios
separados - estão interligados de modo muito íntimo e totalmente integrados. A nova
perspectiva reconhece a importância central de se pensar em termos de inteireza e
interconexão, e a necessidade de prestar atenção às interações entre mente, corpo e
comportamento em qualquer esforço abrangente para compreender e tratar as doenças.
[...] Essa transformação é o que se chama de mudança de paradigma: a passagem de
uma visão de mundo para outra completamente diferente.

Fundamentado no antigo modelo ocidental de um todo fragmentado em partes


dissociadas e delimitadas, para que sejam mais facilmente estudadas e entendidas isoladamente,
Pierre Weil (1993, p. 52-53) desvela a Fantasia da Separatividade e seu ciclo destrutivo:

O problema da “fantasia da separatividade” é que, a partir do momento em que vemos


o mundo exterior como algo apartado de nossa própria natureza, começamos a
levantar fronteiras imaginárias, a criar limites. Todos os conflitos nascem sobre esses
limites fantasiosos do universo. As conseqüências negativas da “fantasia da
separatividade” aparecem também ao buscarmos o prazer, a alegria e a felicidade. De
fato, tudo fazemos para viver bem. O problema é que nossa procura sempre começa e
termina fora de nós mesmos. É o que podemos denominar de “neurose do paraíso
perdido”. Poucos são os que sabem que esse paraíso se encontra dentro do próprio ser.
A paz faz parte dele e caracteriza-se pela leveza do estado de humor ou de consciência.
Por buscarmos no lugar errado, jamais encontramos a verdadeira felicidade, e
acabamos nos contentando com arremedos de prazer. Assim, apegamo-nos com unhas
e dentes a objetos, pessoas ou idéias que nos dão a sensação de prazer. E, por
dependermos dessas coisas, sempre externas, tememos que alguém as roube de nós.
Tornamo-nos possessivos, egoístas e medrosos. O medo da perda cria emoções
destrutivas, como a desconfiança, a inveja, a agressão, o orgulho ferido e a depressão.
Caímos em estresse. Sofremos moralmente. Especialistas de várias áreas já
demonstraram os efeitos terríveis do estresse sobre o organismo. Doenças
cardiovasculares, estomacais e neurológicas são alguns dos males físicos causados por
um espírito doente. Em busca de alívio para suas dores físicas e psíquicas, o paciente
corre atrás de remédios exteriores a si mesmo. O círculo vicioso se fecha e leva à
perda da paz interior, interpessoal e social

Esta visão fragmentada, tende a separar o que está dentro do que está fora do indivíduo
em universos independentes e conflituosos, onde as soluções e responsabilidades costumam ser
apontadas no meio externo. Tal fragmentação promove um ciclo destrutivo que mina sua paz
interior, e atesta como a visão de mundo à qual ele está apegado pode gerar estados mentais
capazes de favorecer o adoecimento do corpo e da mente.
Portanto, o desafio consiste em recuperar uma visão de mundo capaz de integrar o que
se habituou a separar; em construir cotidianamente, no instante presente e dentro de cada um,
o equilíbrio que pode levar à paz no âmbito individual, social e ambiental. Esta visão de mundo
mais moderna, denominada de paradigma holístico (CREMA, 1989), busca uma consciência
integrativa com o foco da atenção no momento presente, uma compreensão bastante
convergente com a perspectiva das tradições orientais, da física quântica (CAPRA, 1985), com
o conceito de meditação, e em consonância com a concepção de atenção plena.
17

MINDFULNESS: A PLENA ATENÇÃO

Para compreender melhor o conceito de mindfulness - ou atenção plena -, é importante


considerar que, em grande parte, suas raízes são as mesmas da meditação e do yoga; fazem
parte de outros paradigmas milenares, de âmbito preponderantemente monástico ou secular,
alusivos ao Oriente. Tradições orientais têm conquistado interesse e reconhecimento no
Ocidente há algumas décadas, principalmente entre 60 e 70, quando a cultura budista tibetana
esteve em evidência, dada a invasão do Tibete pela China e diversos outros conflitos ocorridos
no sudeste asiático. Fugindo dos conflitos, muitos monges budistas buscaram exílio no
Ocidente e lá tornaram-se mestres de suas próprias tradições, enquanto jovens, movidos pelo
interesse dos países ocidentais neste assunto, viajaram até a Ásia para aprender práticas
meditativas e, ao retornar, passaram a ensinar o que aprenderam (KABAT-ZINN, 2017, p. 54).
Este panorama favoreceu um aumento na quantidade e qualidade das pesquisas científicas sobre
meditação, mindfulness e os seus efeitos na saúde dos praticantes.
Embora a meditação seja um elemento fundamental dentro do conceito mindfulness, o
background monástico e religioso, proveniente do Oriente, tornou-se um fator secundário
quando migrou para o Ocidente. Em seu lugar, passaram a figurar as sete atitudes fundamentais
do mindfulness, cultivadas de maneira consciente e intencional durante as práticas (KABAT-
ZINN, 2017, p. 78-87):
1-Não julgar, ou a suspensão consciente dos julgamentos, é essencial para permitir que
o indivíduo possa enxergar o que o cerca de forma nítida, fidedigna aos fatos, sem a distorção
das lentes criadas pelas suas experiências anteriores, valores e conceitos. Cultivar
inconscientemente uma atitude julgadora tende a ser algo usual, devido à propensão da mente
em captar, categorizar e rotular, de forma praticamente imediata, elementos ou acontecimentos;
preencher possíveis lacunas e induzir reações automáticas ao que é percebido, possivelmente
sem uma base objetiva, apenas conforme o valor que lhe foi atribuído. A orientação para lograr
a postura do não-julgamento é de, num primeiro momento, reconhecer conscientemente a
qualidade julgadora da mente; em seguida, aprender a manter algum distanciamento dos
julgamentos e reações assim que surgirem, ou o mais rapidamente possível. Esta atitude
possibilita adotar uma perspectiva mais ampla da realidade e assumir uma postura mais próxima
da observação imparcial do que se passa dentro e fora da mente. Não se trata de impedir a
18

mente de julgar, o que seria tão insensato quanto querer impedir pensamentos de surgirem
durante a meditação. O não julgar é exercitado ao levar a atenção aos julgamentos, reconhecê-
los, captar deles o que possa ser benéfico e deixá-los ir, sem apego ou reatividade compulsiva
e inconsciente. É interessante notar que o julgamento imediato pode ser a raiz de muitos dos
atos de preconceito, discriminação e agressividade, às vezes reforçados por traços normóticos
da sociedade. Portanto, o exercício de observar e suspender os julgamentos pode ter um efeito
positivo sobre essas questões.
2-Paciência é uma atitude que ajuda a desenvolver uma habilidade bastante útil em
momentos de agitação mental: conseguir pausar o ritmo do cotidiano por alguns instantes. Algo
terapêutico quando a rotina ganha uma cadência vertiginosa ou caso surjam impulsos
incontroláveis de preencher cada instante com pensamentos, ações e informações. Também
ajuda a aceitar a tendência da mente a divagar e dispersar-se, mesmo quando deseja-se o oposto;
a compreender que não é necessário deixar-se levar por todos os devaneios que surjam; que é
possível aceitar plenamente cada momento assim como ele se apresenta e que cada coisa tem
seu tempo, ao contrário do que possa ditar o imediatismo. Assim, o não-fazer das práticas
meditativas - sentar-se por alguns instantes consigo mesmo e ser quem se é, mantendo a
consciência no instante presente - torna-se o bastante para se estar vivo e satisfeito. Uma pausa
saudável é necessária quando o cotidiano parece ganhar ritmo e pressão esmagadores.
3-Mente de Principiante, ou a postura de contemplar o que se passa dentro e fora da
mente com uma atitude aberta e receptiva, como se fosse pela primeira vez. Uma prática que
ajuda a compreender a natureza impermanente do universo. Torna-se algo poderoso contra o
nocivo costume de acreditar que já se sabe de tudo sobre algo ou alguém; que determinados
conceitos tidos como consolidados são imutáveis, o que parece improvável quando se
compreende que tudo está em constante mudança, inevitavelmente, quer se goste ou não;
mesmo que algumas vezes algo mude tão lentamente que possa causar a ilusão de ser
permanente. A mente de principiante traz uma qualidade mais fluida à percepção, menos
contaminada por expectativas baseadas no empirismo, no senso comum ou nas rotinas
enclausurantes; abre um espaço receptivo a novas ideias e visões e facilita o desapego de formas
potencialmente prejudiciais de se pensar e agir que estejam arraigadas.
4-Confiança é uma atitude importante no aprendizado de valorizar as próprias
percepções e levá-las em conta ao tomar decisões, mesmo que alguma autoridade ou grupo diga
o contrário. É útil principalmente quando as três atitudes anteriores já estão desenvolvidas; sem
elas, corre-se o risco de confundir confiança com teimosia, arrogância ou competição, movidas
pela percepção contaminada por insatisfação, inveja ou outros sentimentos negativos. Sempre
19

haverá o risco de errar, seja confiando nas próprias impressões ou nas dos outros. Entretanto,
ao confiar na sabedoria e discernimento pessoais, haverá maior probabilidade de aprender com
os próprios erros, pois amplia-se a capacidade de entender o que os induziu. O exercício é
procurar estar atento ao que leva à tomada de decisões e assumir a responsabilidade pelos
próprios atos, para assim conquistar liberdade e autenticidade. Quanto mais se conquista a
confiança em si mesmo, mais fácil será confiar nos outros, o que pode ajudar a moderar, por
exemplo, ciúmes, insegurança e possessividade que, quando desmedidos, são grande fonte de
sofrimento.
5-Não lutar é uma atitude que desafia a forma como a mente costuma comportar-se
durante outras atividades. Normalmente um fazer carrega consigo algum objetivo específico e
motivador da ação. Atingir ou não este objetivo geralmente indica o grau de sucesso e pode,
dependendo do resultado, gerar satisfação ou frustração. Ocorre que a prática meditativa, cerne
do mindfulness, possui outra natureza. Trata-se de um exercício de não fazer, onde não existe
um resultado específico para medir o sucesso. Caso inicie-se a prática meditativa buscando, por
exemplo, esvaziar a mente dos pensamentos, é possível que se ative um processo exaustivo de
luta contra o pensar, o que pode gerar frustração, bloqueio e abandono da prática. Pode ser algo
realmente árduo e infrutífero decidir lutar contra o ato de pensar ou de julgar, pois são
características da mente. Porém, tudo o que se necessita para a prática do mindfulness é deixar
que os pensamentos e julgamentos sigam seu rumo, enquanto se adota uma postura de
observação: testemunhar os pensamentos, fantasias e julgamentos, como se fossem nuvens
passageiras. Com alguma prática, compreende-se que o indivíduo não é os seus próprios
pensamentos e julgamentos, embora façam parte dele; que é possível permitir sua manifestação
e dar lugar a eles enquanto se mantém certo distanciamento para impedir que dominem; prestar
atenção ao seu fluxo e deixar que passem, da mesma forma que se observa um rio que corre
sem a necessidade mergulhar e se deixar levar pela correnteza. A atitude do não fazer, implica
em contemplar e acolher o que se passa dentro e fora da mente, ampliar o autoconhecimento,
ganhar consciência sobre o que e como se pensa, e perceber o impacto disso nas ações e reações.
Pode ser fácil confundir o não lutar com passividade, omissão, submissão ou comodismo; no
entanto, é algo diferente disso em sua essência, pois remete à prática do desapego, que implica
em aceitação e na atitude de soltar; em compreender a inexorável realidade da impermanência:
tudo está em constante mudança e lutar contra isso pode levar a uma enorme carga alostática,
com todas suas consequências disfuncionais .
6-Aceitação é a atitude de enxergar as coisas como elas são e acolhê-las assim como
elas se manifestam dentro do momento presente. Em primeira instância, é praticada de forma
20

intencional, por mais difícil que possa ser, mesmo quando algo parece inaceitável. Isso vale
especialmente para fatos injustos ou irremediáveis, como o falecimento de um ente querido,
uma amputação ou o diagnóstico de uma doença grave. Dentro do paradigma de mindfulness,
concebe-se uma qualidade curativa em aceitar a realidade da forma como ela se apresenta, ao
invés de desperdiçar energia preciosa no processo de negar e resistir a algo que já é um fato
consumado. Há uma dinâmica energética envolvida: quando se aceita algo, a energia
dispensada entre a tensão do que é, e do que deveria ser, passa a ser preservada para o processo
de cura e superação. É importante ressaltar que a cura, neste caso, não está sendo vinculada ao
desaparecimento de determinada patologia, fator de sofrimento ou sintoma, pois isso muitas
vezes não é algo viável; trata-se de aceitar e fazer as pazes com o agora. Por mais terrível e
injusto que o destino possa parecer, vive-se a tristeza por um tempo justo, em seguida dá-se o
primeiro passo para seguir adiante, adaptar-se, superar o ocorrido e abrir-se novamente para
encontrar momentos de sossego e felicidade. Entra em ação, novamente, o conceito da
impermanência de tudo: se a saúde e felicidade são transitórias, a tristeza e o luto também serão,
contanto que se exercite a aceitação do momento presente, em uma atitude de não dualidade
com a realidade.
7-Soltar, por meio do não apego, também é uma atitude relacionada a deixar com que
a realidade seja o que ela é. Trata-se de algo natural a tendência de buscar manter o que é
agradável. Porém, ao entregar-se cegamente a essa predisposição, corre-se o risco de ficar
apegado; de que manter o objeto de apego exerça uma força geradora de estresse capaz de
dominar pensamentos, sentimentos e ações de forma que se passa a existir em função disso. O
soltar é uma prevenção essencial aos sofrimentos e desequilíbrios inerentes às identificações,
um exercício para superar a fantasia da separatividade - fonte de grande parte dos apegos.
Distingue-se da indiferença ou da passividade, pois o indivíduo não deixa de valorizar ou cuidar
de algo, ou de alguém, por não estar apegado; ao contrário, torna-se mais competente nesta
tarefa pela leveza e serenidade diante de tudo o que naturalmente passa, o que possibilita
desfrutar ao máximo das pessoas e coisas com as quais ele convive enquanto existirem e,
quando chegar o momento justo, estará pronto para deixá-los ir. Para praticar o soltar, basta
relaxar, levar a atenção a algum objeto de apego, gerar um distanciamento para transcender a
identificação e em seguida abrir mão daquilo intencionalmente e observar o que acontece. Pode
ser uma atividade extremamente triste e difícil se tocar em algo ao que se está fortemente
apegado, como um pai, uma mãe ou um filho muito amados - talvez a prática de soltar-se deles
em paz seja uma das tarefas mais árduas da existência humana -, entretanto, este exercício pode
levar à compreensão de que ninguém existe para sempre e que cada minuto na presença de
21

quem se estima pode ganhar uma nova dimensão de valorização e deleite. Evitar pensar na
própria transitoriedade o na de quem se ama, não mudará o fato de que um dia a separação
ocorrerá; o mais sensato é trabalhar para que se esteja preparado quando chegar o momento.
Em suma, as práticas de mindfulness e meditação trabalham a percepção do praticante
para captar o que ocorre no meio externo de forma mais abrangente e fidedigna. Ajudam
constatar como as percepções alteram o seu meio interno; utilizar o foco da atenção para
observar o que muda em seus pensamentos, emoções e julgamentos, antes de agir para trazê-lo
de volta ao seu estado de equilíbrio. A prática regular de meditação e mindfulness permite que
a consciência e a atenção do praticante ajam como mediadoras na percepção e nas respostas
ao estresse, para que o processo de adaptação aos estressores também seja trabalhado dentro do
campo da consciência e das atitudes fundamentais vistas acima, no sentido de reduzir a carga
alostática e, com isso, reduzir a possibilidade de surgimento das doenças adaptativas e reações
desproporcionais, com suas consequências negativas para a saúde.
Pierre Weil (1993, p. 74) emprega o termo consciência imediata para definir a técnica
de adquirir consciência dos sentimentos destrutivos quando ainda estão germinando, o que
facilita transformá-los em energia construtiva antes de tornarem-se atitudes prejudiciais. Pode-
se encontrar nesta prática um potencial profilático no campo da saúde física e mental. Quanto
mais alguém exercita a sua a consciência e atenção para perceber a formação de pensamentos,
sentimentos e impulsos destrutivos na mente, antes que se convertam em ações; maiores serão
as chances de reeducar os seus padrões de percepção, reação e adaptação, enquanto ainda se
está saudável, para adotar processos positivos quando os estressores aparecerem. E se há algo
que se pode ter como certo é que, cedo ou tarde, eles aparecerão.

RESPOSTA AO ESTRESSE

A resposta ao estresse mediada por mindfulness possibilita adquirir alguma consciência


de como corpo e mente comportam-se de forma plenamente integrada mediante seus estressores
- que também passam a ser percebidos de forma mais nítida e consciente -, facilita a criação de
estratégias mais lúcidas de enfrentamento ao estresse e a preservação de energia adaptativa
para lidar com situações que realmente ameacem a saúde e integridade do indivíduo.
Kabat-Zinn ilustrou o que muda ao utilizar técnicas de mindfulness como mediadoras
da resposta ao estresse:
22

Figura 2

Fonte: KABAT-ZINN, 2017, Figura 10, p. 396

Estudos conduzidos nos Estados Unidos, ainda na década de 70, por Robert Ader e
Nicholas Cohen, ajudaram a constatar o forte vínculo entre cérebro e sistema imunológico ao
demonstrar que a imunossupressão6 em ratos poderia ser psicologicamente condicionada. Suas
descobertas geraram grande interesse da comunidade científica pelo tema e motivaram a
elaboração de diversas pesquisas para estudar até que ponto a mente e as mudanças de
comportamento podem influenciar no surgimento, evolução e tratamento de doenças
específicas, e culminaram no surgimento da psiconeuroimunologia (PNI), ramo da ciência que
estuda a relação entre o comportamento e os sistemas nervoso e imunológico (KABAT-ZINN,
2017, p. 258-259).

6
A redução da resposta imune do organismo.
23

Atualmente, Intervenções Baseadas em Mindfulness (MBIs) já figuram entre as


orientações da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e do Instituto Nacional de
Excelência em Saúde e Cuidados do Reino Unido (NICE) como parte do tratamento para
depressão recorrente em adultos. Cada vez mais evidências de que as MBIs podem ter
aplicações positivas nos tratamentos de diversas psicopatologias, transtornos e disfunções
mentais são reunidas por meio de estudos para entender melhor a relação entre a prática da
meditação e mindfulness e seus resultados positivos na saúde e qualidade de vida dos pacientes
(VAN GORDON, SHONIN, GRIFFITHS, 2015).
Em um deles (VAN GORDON et al., 2017), estudou homens e mulheres entre 18 e 65
anos de idade com diagnóstico de fibromialgia, uma síndrome de diagnóstico diferencial e
complexo que tem como principais sintomas dores crônicas em diversas partes do corpo. O
grupo foi submetido a um ensaio clínico aleatorizado de oito semanas, mais 6 meses de
acompanhamento e avaliação posteriores. Uma parte recebeu oito treinamentos semanais de
duas horas em MBI de segunda geração7, com base em práticas meditativas focadas na
consciência de momento a momento, e um CD com meditações guiadas para práticas
individuais diárias. O grupo de controle recebeu uma espécie de treinamento-placebo: sessões
de Teoria Cognitiva Comportamental para Grupos (CBTG), uma intervenção exatamente no
mesmo formato da MBI, porém desenvolvida especificamente para grupos de controle em
estudos de MBIs.
O resultado mostrou que os indivíduos que participaram do MBI, e praticaram
meditação e mindfulness cotidianamente, demonstraram melhora nos níveis de sintomatologia,
percepção da dor, qualidade do sono e sofrimento psicológico acima dos encontrados no grupo
de controle. Os benefícios foram mantidos durante o acompanhamento posterior de seis meses,
indicando um bom potencial destas práticas como complemento terapêutico aos tratamentos
convencionais da síndrome de fibromialgia e seus sintomas.
Kabat-Zinn (et al., 1998), conduziu na divisão de dermatologia do Centro Médico da
Universidade de Massachusetts, um estudo com 37 pacientes portadores de Psoríasis Vulgaris.
Psoríase é uma doença sem cura e de causa indefinida, caracterizada por uma resposta
imunológica e inflamatória manifestada na proliferação descontrolada de células da pele, que
produz manchas escamosas e grande desconforto físico devido às coceiras que as acompanham.

7
De acordo com o estudo mencionado, as MBIs de 1ª geração – estudadas neste trabalho - desvincularam-se
demasiadamente das origens espirituais e seculares do mindfulness, enquanto as MBIs de 2ª geração passaram a
aceitá-las e fazê-las mais presentes em suas práticas, o que apontou, segundo os autores, resultados ainda mais
positivos.
24

A hipótese era a de que as lesões causadas pela psoríase poderiam ser amenizadas ao
incluir técnicas de MBI durante o tratamento padrão, que consiste em sessões de fototerapia
(UVB) ou fotoquimioterapia (PUVA) para minimizar o processo inflamatório que origina as
lesões. As sessões de UVB e PUVA tem cunho basicamente paliativo. Requerem que o paciente
permaneça nu, de pé e com os olhos protegidos dentro de uma cabine de luz bastante estreita,
enquanto sua pele é bombardeada por luz ultravioleta. Ocorriam três sessões por semana e o
tempo dentro da cabine aumentava gradativamente em cada uma das cerca de 40 sessões,
partindo de 30 segundos até o máximo de 13 minutos.
Os pacientes foram separados randomicamente em dois grupos. O de controle recebeu
apenas o tratamento padrão e o outro recebeu o tratamento padrão com a adição da MBI.
Durante as sessões de UVB e PUVA, foram reproduzidos, dentro da cabine de luz, áudios de
meditação guiada para a prática de plena atenção. Os áudios, elaborados especificamente para
aquela situação de incômodo e enclausuramento, exercitavam a consciência de momento a
momento e o não julgamento. Os pacientes que receberam a adição do MBI ao tratamento
também foram orientados a não meditar em outros momentos além das sessões, enquanto
durasse tratamento. Uma das justificativas que levou os pesquisadores a optar por este método
de intervenção foram os resultados positivos na redução de dores crônicas e ansiedade, obtidos
em pesquisas anteriores e referenciadas no estudo (KABAT-ZINN et al., 1998, p. 626).
Os resultados mostraram uma recuperação expressivamente mais rápida nos pacientes
que receberam meditação guiada, em comparação ao grupo de controle. Indicaram também a
influência relevante da mente na regeneração da pele, a ponto de reduzir o número de sessões
necessárias para alcançar o mesmo resultado do grupo de controle.
Outro elemento relevante foi a descoberta dos telômeros: segmentos repetitivos de DNA
não codificante localizados nas extremidades dos cromossomos, que encurtam a cada divisão
celular, determinando a velocidade do envelhecimento das células. Quando os telômeros se
desgastam por completo, as células perdem a capacidade de se replicar e morrem
(BLACKBURN, 2017, p. 12). Desdobramentos desta pesquisa permitiram encontrar também a
telomerase, uma enzima que auxilia a regenerar e manter as camadas dos telômeros
(BLACKBURN, 2017, p. 36). A enorme importância destes achados foi reconhecida com um
prêmio Nobel de medicina em 2009, concedido aos responsáveis pelas descobertas: a bióloga
molecular Elisabeth Blackburn e seus colegas. O avanço nas pesquisas com telômeros e
telomerase revelou questões pertinentes aos processos de envelhecimento celular, surgimento
e evolução de diversas patologias.
25

Outra grande descoberta (BLACKBURN, 2017, p. 40) foi feita durante uma pesquisa
que relacionou mães cuidadoras de filhos portadores de doenças crônicas ao comprimento dos
telômeros e a quantidade de telomerase. O objetivo era de estudar o comprimento dos telômeros
e a quantidade de telomerase em um grupo de indivíduos sob enorme carga de tensão emocional
e estresse. A hipótese elaborada foi: o modo de vida pode alterar os telômeros e a telomerase?
e a confirmação veio com a constatação de que as mães que se consideravam estar sob maior
estresse apresentaram um nível de telomerase mais baixo e maior encurtamento dos telômeros.
Além disso, mães que haviam cuidado de filhos doentes por mais tempo, apresentavam
telômeros mais curtos. A conclusão foi a de que as experiências de vida e o modo como se
reage a esses acontecimentos podem alterar o comprimento dos telômeros.
Um estudo posterior (JACOBS et al. 2010), investigou até onde a prática de meditação
e mindfulness poderia influenciar na atividade da telomerase, e o quanto dessa associação
poderia ser explicada por mudanças em duas variáveis: a percepção de controle (sobre
pensamentos e sentimentos relacionados a experiências da vida) e o neuroticismo8. Ambas são
consideradas fortes fatores de contribuição para a experiência de estresse.
Para o experimento, um grupo de 60 homens e mulheres saudáveis, entre 21 e 69 anos
de idade, foi randomicamente separado em dois grupos. O de teste participou de um retiro
imersivo de meditação de três meses. O de controle permaneceu pelo mesmo período em uma
lista de espera, indo periodicamente até o centro de testes apenas para coletar amostras,
voltando pra casa e vivendo suas rotinas normalmente. O retiro de imersão ocorreu em um local
isolado onde os participantes puderam dedicaram-se, por três meses consecutivos, a exercitar
rotineiramente técnicas de meditação e mindfulness em um ambiente de paz e tranquilidade. O
grupo foi instruído por um Ph.D. membro da equipe de pesquisadores e com larga experiência
e conhecimento nas tradições e práxis budistas.
As práticas, tanto em grupo quanto individuais, foram divididas em dois segmentos
maiores: o cultivo de habilidades sobre a atenção e a geração de estados mentais benevolentes.
No primeiro segmento, focado em desenvolver a percepção de controle sobre sentimentos e
pensamentos, foram utilizados exercícios de plena atenção na respiração para acalmar a mente
e reduzir as distrações; em seguida, eram aplicados treinamentos de atenção momento-a-
momento e de não-reatividade. O segundo segmento, focado na redução do neuroticismo,

8
Ou afetividade negativa, conforme o DSM-5 (p. 770): um domínio de traço da personalidade com tendência a
experiências frequentes e intensas de altos níveis de emoções negativas e suas manifestações comportamentais e
interpessoais.
26

consistia em despertar sentimentos de profundo bem-estar e felicidade através de práticas


meditativas com foco em bondade/amorosidade, compaixão e equanimidade.
A conclusão do estudo sugere que, após o treinamento intensivo de meditação e
mindfulness, os participantes tiveram um aumento significativo na atividade de telomerase, e
por consequência, melhor preservação dos telômeros, em comparação ao grupo de controle
(JACOBS et al., 2010, p. 12).

CONCLUSÃO

Ao estudar os processos de reação e adaptação automática do corpo ao estresse,


representados pela luta e fuga, homeostase e alostase, foi possível compreender sua natureza
em grande parte autônoma. Aprender sobre a importância destes processos na sobrevivência do
indivíduo e na preservação de parâmetros, tanto físicos quanto mentais, dentro do espectro
responsável pela sua saúde e bem-estar. Entretanto, também foi possível entender que, em
determinadas circunstâncias, estes mesmos processos podem levar a estados de
hiperexcitabilidade potencialmente patogênicos.
Ao profundar-se no conceito de estresse e seus efeitos, o estudo revela que a forma de
perceber e reagir aos estressores não é algo totalmente automático e inconsciente. Existe a
possibilidade de exercitar a consciência e a atenção para moldar a forma como a realidade e
os acontecimentos potencialmente estressante são percebidos. O exercício consiste em levar o
foco da atenção ao estágio incipiente dos sentimentos e pensamentos originários dos
estressores, e percebê-los antes que disparem ações de forma impensada e inconsequente. Esta
prática aumenta as chances de responder - e não apenas reagir automaticamente – ao estresse,
e agrega um nível cada vez maior de consciência a essas respostas.
Verificaram-se, por meio da pesquisa com psoríase, resultados que colaboram com a
hipótese de uma profunda relação entre corpo e mente, do impacto significativo da mente na
saúde física, e de como a prática de meditação e mindfulness pode exercer um papel proficiente
como mediadora da percepção e das respostas aos estressores. Outras vertentes interessantes
sugeridas pelos estudos com psoríase: menos sessões de UVB ou PUVA significam redução na
possibilidade de os pacientes desenvolverem efeitos colaterais relacionados a estas
intervenções, como câncer de pele; além da economia de recursos clínicos, que aumenta o
custo-benefício do tratamento.
27

O estudo com portadores de fibromialgia lista os recursos necessários para a aplicação


da MBI naquele contexto: apenas uma sala que comporte adequadamente as atividades dos
pacientes e instrutores de cada grupo. Foi utilizado um singing bowl, uma pequena tigela
metálica, tradicional do budismo, usada como sino para marcar intervalos, início e fim dos
exercícios meditativos, mas é apenas um instrumento opcional. Colchonetes ou tapetes para
yoga também podem ser equipamentos úteis, mas caso não estejam disponíveis podem ser
substituídos por toalhas ou cobertores. A exigência de recursos mínimos evidencia as
características simples e de baixo custo, além de não invasivas, não medicamentosas e isentas
de efeitos colaterais, destas práticas. Elementos que corroboram com a hipótese de tratar-se de
uma tecnologia leve e de baixo custo em saúde psicossomática.
O resultado da pesquisa com os telômeros, telomerase e meditação, colabora com a
hipótese de que a prática habitual e sistemática de meditação e mindfulness por pessoas
saudáveis pode ter influência positiva na prevenção de doenças e na longevidade dos
praticantes. Constata-se o caráter profilático destas práticas, que poderia ser estudado e
explorado em campanhas educativas e políticas públicas para contribuir com a manutenção da
saúde e bem-estar da população, para além do sistema de saúde.
Ao percorrer os estudos que conduziram este trabalho, fica evidente a necessidade de
realizar mais pesquisas sobre o tema, posto que muitas descobertas nesta área são ainda bastante
recentes e incipientes, se comparados a outros campos do conhecimento. Existe um número
crescente de pesquisadores dedicados a compreender melhor como funciona a consciência e
seu potencial na participação nos processos de adoecimento ou manutenção de saúde. Porém,
alguns dos resultados são preliminares, carecem de repetições e de experimentos
complementares para alcançarem resultados mais conclusivos dentro da comunidade científica.
Por vezes, conclusões submetidas a várias comprovações científicas convergem com as
já encontradas nas tradições sapienciais, tanto orientais quanto ocidentais, o que pode indicar
um potencial complementar, integrativo e não excludente entre ciência e sabedoria tradicional.
Dimensões que, assim como corpo e mente, podem estar dissociadas apenas na fantasia da
separatividade. Juntas, elas representam uma construtiva aliança entre ciência e consciência,
capaz de desvelar uma realidade verificável, denotada em elementos citados neste estudo: a
impermanência do que se é e do que se presencia; a importância de se estar atento e consciente
no aqui e agora, pois apenas se pode agir no instante presente; e, principalmente, a conclusão
de que a saúde, a paz e o bem-estar não dependem apenas de fatores externos, às vezes
intangíveis, para florescerem no mundo; pois podem ser semeadas, inicialmente, no interior de
cada indivíduo, em suas mentes; nutridas por atitudes e práticas cotidianas, simples e
28

acessíveis; cultivadas gradativamente até atingirem força e consistência para frutificarem nos
campos individual, social e ambiental, na forma de efeitos positivos e multiplicadores, desde
que exercitadas com constância, disciplina e resiliência.

REFERÊNCIAS

BLACKBURN, E; EPEL, E. O segredo está nos telômeros: receita revolucionária para


manter a juventude e viver mais e melhor. Tradução Solange Pinheiro. São Paulo: Planeta,
2017. 448p.

BROWN, R. P.; GERBARG, P.L. Yoga Breathing, Meditation, and Longevity. Longevity,
regeneration, and optimal health. New York Academy of Sciences, p. 55-62. 2009.

CANNON, W. B. Bodily Changes in Pain, Hunger, Fear and Rage: An Account of Recent
Researches into the Function of Emotional Excitement. Nova Iorque: D. New Appleton and
Company, 1915.

CANNON, W. B. Organization for Physiological Homeostasis. Physiological Reviews.


Cambridge, v. 9, n. 3, p. 399-431, jul. 1929.

CAPRA, F. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 1985.

CREMA, R. Análise transacional centrada na pessoa...e mais além. São Paulo: Ágora, 1985.

CREMA, R. Introdução à visão holística: breve relato de viagem do velho ao novo


paradigma. São Paulo: Summus, 1989.

DESCARTES, R. Discurso do método para bem conduzir a própria razão e procurar a


verdade nas ciências. In: Obras escolhidas. Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e
notas de Gérard Lebrun; tradução de Jacob Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Difel –
Difusão Européia do Livro, col. Clássicos Garnier, 2 ed. p. 39-103, 1973.

GORDON,W.V.; et al. Meditation awareness training for the treatment of fibromyalgia


syndrome: A randomized controlled trial. British Journal of Health Psychology, Londres: v.
22, p. 186–206, 2017. DOI:10.1111/bjhp.12224.

GORDON, W.V.; SHONIN, E.; GRIFFITHS, M. D. Towards a second generation of


mindfulness-based interventions. Australian & New Zealand Journal of Psychiatry, Sydney:
v. 49, n. 7, p. 591–592. 2015. DOI: 10.1177/0004867415577437.

JACOBS, T.L.; et al. Intensive meditation training, immune cell telomerase activity, and
psychological mediators. Psychoneuroendocrinology, EUA: Elsevier, v. 36, n. 5, p. 664-681
jun. 2011. DOI:10.1016/j.psyneuen.2010.09.010.
29

JOHNSON, W. Do Xamanismo à Ciência. Uma história da meditação. São Paulo: Editora


Cultrix, 1990.

JUSTER, R.P; MCEWEN, B.S; LUPIEN, S.J. Allostatic load biomarkers of chronic stress
and impact on health and cognition. Neuroscience and Biobehavioral Reviews. Roma:
Elsevier, v.35, p. 2-16. 2010.

KABAT-ZINN, J. Viver a Catástrofe Total: como utilizar a sabedoria do corpo e da mente


para enfrentar o estresse, a dor e a doença. São Paulo: Palas Athena, 2017.

KABAT-ZINN, J; et al. Influence of mindfulness meditation-based stress reduction


intervention on rates of skin clearing in patients with moderate to severe psoriasis undergoing
phototherapy (UVB) and photochemotherapy (PUVA). Psychosomatic Medicine.
Massachusetts: v.60, p. 625-632., 1998.

MARTINS, R. A. O Yoga tradicional de Patañjali: o Rāja-Yoga segundo o Yoga-Sūtra e


outros textos indianos clássicos. São Paulo: Shri Yoga Devi. 2012.

McEWEN, B. S. Protective and damaging effects of stress mediators.In: Seminars In


Medicine of the Beth Israel Deaconess Medical Center. The New England Journal of
Medicine. Massachusetts v. 338, n. 3, 15 jan, 1998. p. 171-179

SELYE, H. Stress, a tensão da vida. São Paulo: Ibrasa - Instituição Brasileira de Difusão
Cultural. 1959.

SELYE, H. Stress and the general adaptation syndrome. British Medical Journal. Londres:
p.1384-1392, 17 jun. 1950.

SELYE, H. Stress without distress. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. 1974

SELYE, H. The general adaptation syndrome and the diseases of adaptation. Journal of
Clinical Endocrinology & Metabolism. Washington: The Endocrine Society, v.6, n.2, p. 117-
230. 1946. DOI: 10.1210/jcem-6-2-117.

SOUSA, M. B. C.; SILVA, H.P.A.; GALVÃO-COELHO, N.L. Resposta ao estresse: I.


Homeostase e teoria da alostase. Estudos de Psicologia. Natal. v. 20, n. 1, p. 2-11, jan-mar
2015. DOI: 10.5935/1678-4669.20150002. ISSN (versão eletrônica): 1678-4669

STERLING, P.; SCHULKIN, J. Principles of allostasis: optimal design, predictive


regulation, pathophysiology and rational therapeutics. IN: Allostasis, Homeostasis, and the
Costs of Adaptation Cambridge University Press. 2004. p. 1-36

WEIL, P. A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação. São
Paulo: Editora Gente, 1993.

WEIL, P; LELOUP, J-Y; CREMA, R. Normose, a patologia da normalidade. Campinas:


Verus, 2003
_____._____2.ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

Você também pode gostar